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Processo de consumo como resultado de uma aprendizagem Renata Mateus Introdução Saiba, desde já, que o processo de consumo é resultado de um aprendizado. Esse processo de aprendizagem foi estudado por diversos psicólogos, que desenvolveram teorias para explica-lo. Nesta aula, conheceremos a teoria behaviorista, que explica as conexões entre estímulo e resposta e a teoria cognitiva, que defende que os indivíduos têm capacidade para resolver problemas complexos. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • conhecer algumas teorias de aprendizagem; • compreender como a aprendizagem influencia no processo e no comportamento do consumidor; • entender o que é memória e sua estrutura. 1 Teoria behaviorista Uma das primeiras teorias sobre o comportamento do consumidor é o Behaviorismo. Mas o que ele diz? Bem, ele afirma que o comportamento dos indivíduos pode ser condicionado por meio de estra- tégias que manipulem os estímulos externos. Segundo essa teoria, o indivíduo é como uma página em branco, que será preenchida ao passar do tempo por meio de sua interação com o ambiente. FIQUE ATENTO! A teoria behaviorista de aprendizagem supõe que o aprendizado acontece como resultado de respostas a estímulos do ambiente externo. Para Solomon (2016), os psicólogos que acreditavam que a aprendizagem decorria de res- postas a eventos externos não se atentaram aos processos internos do pensamento humano. Pelo contrário, eles perceberam a mente como uma “caixa preta” e deram ênfase apenas aos estímulos externos percebidos e as respostas ou reações a esses estímulos (SOLOMON, 2016). A teoria ainda defende que as experiências de cada um são moldadas pelas respostas que recebemos na vida. Figura 1 – Estímulos externos Fonte: Allen.G/Shutterstock.com Para as empresas, é importante refletir sobre como seus consumidores respondem à marca, à comunicação, e aos produtos e estímulos que o marketing desenvolve, por meio das conexões aprendidas ao longo do tempo, únicas para cada consumidor. 2 Estímulo e resposta (comportamento reflexo ou respondente) Segundo o Behaviorismo, aprendemos que nossas ações são resultados de recompensas e punições. EXEMPLO Pense no consumidor que recebe um elogio pela escolha de determinado produto da marca X. Ele ficará mais propício a efetuar uma nova compra daquela marca, certo? Agora, imagine que esse mesmo consumidor passou mal ao ingerir uma be- bida isotônica. Provavelmente, ele não voltará a comprar o produto, pois ele causou uma impressão negativa. A teoria afirma, portanto, que os estímulos sofridos pelo indivíduo acarretarão em respostas (estímulo-resposta), as quais, por sua vez, serão recompensadas ou punidas e reforçarão ou eli- minarão determinados comportamentos. Dessa forma, aprendemos a repetir determinados atos e a repelir outros. Assim, construímos, ao longo do tempo, um conjunto de comportamentos que compõem uma espécie de repertório da conduta dos seres humanos frente ao ambiente externo. Figura 2 – Estímulo-resposta Fonte: Bakhtiar Zein/Shutterstock.com Para as empresas, essa visão de estímulo-resposta resulta em uma concepção de satisfação, ou seja, ao comprar determinado produto, o consumidor pode ser recompensado positivamente, o que gerará satisfação. Esse reforço (estímulo) o levará à repetição do comportamento e poderá resultar em lealdade, fator tão buscado pelas empresas. Entenda que um consumidor leal também pode deixar de sê-lo, a partir do momento que a resposta aprendida não for reforçada. 3 Comportamento operante Entenda que a teoria behaviorista é caracterizada por duas abordagens de aprendizagem: o condicionamento clássico e o instrumental. Focaremos, aqui, apenas no condicionamento ins- trumental, conhecido também como operante. Esse tipo de condicionamento funciona quando o consumidor é compensado ou punido por uma decisão de compra. Isso o leva a nutrir um padrão de comportamento que dê resultados positivos e a suprimir os que causam efeitos negativos. Entenda, portanto, que o sujeito é ativo! SAIBA MAIS! O psicólogo Skinner estudou este tipo de condicionamento e o artigo de Lideli Crepaldi, publicado pela INTERCOM, trata desse tema: <http://www.intercom.org. br/papers/nacionais/2001/papers/np3crepaldi.pdf>. Perceba que os profissionais da área de marketing podem explorar esse tipo de condicio- namento por meio de estímulos, como a entrega de brindes apenas pelo fato de o indivíduo ter entrado na loja, aumentando suas chances de consumir. FIQUE ATENTO! Os consumidores procuram recompensas, e escolhem produtos que tragam uma sensação de bem-estar ou que satisfaçam alguma necessidade. Nesse sentido, há três formas de condicionamento operante. Acompanhe! 1. Reforço positivo: ocorre por meio de uma recompensa, em que a resposta é fortale- cida e o comportamento é aprendido, aumentando a probabilidade de repetição. Por exemplo: uma consumidora que recebe elogios por usar determinada roupa terá maior probabilidade de continuar comprando no mesmo local. 2. Reforço negativo: assim como o reforço positivo, esse também fortalece as respostas e é aprendido. A mensagem transmitida diz que o indivíduo evitaria o resultado nega- tivo consumindo determinado produto. Por exemplo, uma marca que mostra, em seu comercial, alguém que o sabão em pó de sua concorrente não tira manchas como deveria. No Brasil, esta prática é pouco adotada, pois o comportamento médio de bra- sileiro vai tender para a marca “atacada”. 3. Punição: ocorre quando uma resposta vem junto com consequências desagradá- veis, fazendo com que o consumidor evite o comportamento prejudicial. Por exemplo, quando o consumidor é excluído de um grupo por estar usando determinado produto. Figura 3 – Punição Fonte: Marina BH/Shutterstock.com As empresas buscam diversas maneiras de reforçar suas marcas, desde um simples “Muito obrigado!” após uma compra até a realização de descontos e e-mails promocionais. 4 Teoria cognitiva: aprendizagem e memória Agora, vamos falar sobre a teoria cognitiva da aprendizagem, que se contrapõe à behavio- rista, pois acredita que entre o estímulo e a resposta existem outros elementos característicos do indivíduo, que o orientarão. Sabemos que a aprendizagem do ser humano é resultado de sua bagagem, isto é, experiên- cias que ele teve ao longo do tempo. Atualmente, essa é a teoria mais utilizada na área de compor- tamento do consumidor, por integrar produto, consumidor e ambiente no processo de consumo. Pinheiro et al (2006) afirma que a aprendizagem possui a influência de alguns fatores. Confira quais são eles! • Fatores cognitivos: percepção; motivação; aprendizagem; memória; atitudes; valores; e personalidade. • Fatores socioculturais: influência de grupo; família; cultura; e classe social. • Fatores situacionais: influência que o meio ambiente proporciona na hora da compra. SAIBA MAIS! No livro “Comportamento do Consumidor” (2016), de Michael Solomon, você encontrará um capítulo inteiro (6) dedicado à aprendizagem e à memória. Não aprendemos unicamente pela experiência, mas também de forma indireta, por meio da observação de exemplos de outras pessoas. Lembre-se ainda de que a aprendizagem também pode ser considerada incidental, isto é, pode ser adquirida por acaso ou sem qualquer esforço. FIQUE ATENTO! Enquanto o indivíduo se adapta ao meio em que vive, ele se aperfeiçoa e muda seu comportamento. Entenda a aprendizagem como um processo constante, que será transformado conforme o consumidor adquire conhecimentos e experiências. Ambos servirão de referencial para um pró- ximo comportamento com situações similares. As relações aprendidas entre produtos e lembran- ças são uma importante ferramenta para construir a lealdade a uma marca. EXEMPLO Quando há uma propagandaem meio a um artigo de uma revista, mesmo que o consumidor não esteja atento, ele é induzido a um aprendizado. Por fi m, a aprendizagem é uma mudança no conteúdo da memória de longa duração. Nós aprendemos e isso nos ajudará a responder melhor ao ambiente. O comportamento de compra pode ser aprendido, posto que é comum recorrermos a experiências passadas e outras fontes de infor- mações antes de tomarmos uma decisão. Uma empresa pode educar seus consumidores a serem fi éis à marca, simplesmente reagindo aos impulsos que o levarão à mudança de comportamento. Sabemos que nossas experiências fi cam arquivadas na memória, podendo ser revigoradas quando estimuladas. Para Solomon (2016), a memória envolve a aquisição de informações e sua disponibilização quando necessário. É aqui que os profi ssionais de marketing apostam, para que os consumidores retenham informações aprendidas sobre um produto ou marca, aplicando-as em situações de decisão. Confi ra, agora, os três sistemas distintos de memória. 1. Memória sensorial: recebemos diversas informações por meio de nossos sentidos, e a memória possibilita a retenção dessas informações, porém trata-se de um armazena- mento provisório, de poucos segundos. Por exemplo, quando sentimos rapidamente o perfume característico de uma loja, a sensação será curta, mas determinante. A infor- mação retida poderá ser acessada, passando por uma entrada de atenção e sendo transferida para a memória de curto prazo. 2. Memória de curto prazo: retém informações por um tempo limitado e sua capacidade é restrita. 3. Memória de longo prazo: conserva informações por um longo tempo e acontece quando pensamos sobre o signifi cado de um estímulo. Assim, ele se relacionará com outras informações já memorizadas e outros estímulos. Figura 4 – Memória e aprendizagem Fonte: stockshoppe/Shutterstock.com As estratégias de comunicação, inseridas nas estratégias de marketing (4 P´s, cujo “P” de Promoção - do inglês Promotion, que significa Comunicação), servem para fazer com que o consu- midor aprenda informações e as memorize, sentindo-se familiarizado com determinado produto ou marca. Afinal, as empresas desejam que seus produtos sejam lembrados. Fechamento Chegamos ao final do conteúdo, que abordou o processo de consumo como resultado da aprendizagem. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer as teorias behaviorista e cognitiva; • compreender como a aprendizagem influencia no processo de compra e no comporta- mento do consumidor; • entender o que é memória e sua estrutura. Referências CREPALDI, Lideli. Comportamento - consumidor - produto: uma relação inseparável. In: XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO - Campo Grande, MS, 2001. INTER- COM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2001/papers/np3crepaldi.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2016. KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. PINHEIRO, Roberto Meireles, et al. Comportamento do consumidor e pesquisa de mercado. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. SOLOMON, Michael R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 11 ed. Porto Alegre: Bookman, 2016.