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cap 17 feist e feist Bandura

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C​APÍTULO ​17 
Bandura: Teoria Social Cognitiva 
♦ ​Panorama da teoria social cognitiva ​♦ ​Biografia de Albert 
Bandura 
♦ ​Aprendizagem 
Aprendizagem por observação 
Aprendizagem enativa 
♦ ​Causação recíproca triádica 
Um exemplo de causação reciproca triádica Encontros casuais e 
eventos fortuitos 
♦ ​Agência humana 
Características fundamentais da agência humana Autoeficácia 
Agência por procuração 
Eficácia coletiva 
♦ ​Autorregulação 
Fatores externos na autorregulação 
Fatores internos na autorregulação 
Autorregulação por meio da agência moral 
♦ ​Comportamento desadaptado 
Depressão 
Fobias 
Agressividade 
Bandura 
♦ ​Terapia 
♦ ​Pesquisa relacionada ​Autoeficácia e terrorismo 
Autoeficácia e diabetes 
A teoria social cognitiva “se torna global” 
♦ ​Críticas a Bandura 
♦ ​Conceito de humanidade ​♦ ​Termos-chave e conceitos 
A​s pessoas, com frequência, têm sua trajetória de 
vida alterada por encontros inesperados ou por 
acontecimentos não planejados. Esses encontros 
T​EORIAS DA ​P​ERSONALIDADE ​329 
Segundo, por meio de um ​modelo de causação 
recíproca 
triádica​, que inclui fatores comportamentais, ambientais e 
pessoais, as pessoas têm a capacidade de regular suas vi- 
casuais e eventos fortuitos muitas vezes determinam com 
das. Os humanos podem transformar eventos transitórios 
quem as pessoas se casam, que carreira seguem, onde mo- 
em formas relativamente habituais deavaliareregular seu 
ram ecomo vivem. 
ambientesocialecultural. Sem essacapacidade,as 
pessoas 
Muitos anos atrás, um jovem estudante de pós-gra- 
meramente reagiriam às experiências sensoriais e não te- 
duação chamado Al teve um encontro casual que alterou o 
riam a capacidade de antecipar eventos, criar ideias novas 
curso desua vida. Em um domingo, Al, que geralmenteera 
ou usar padrões internos para avaliar experiências atuais. 
um estudanteconsciencioso,sentiu-seentediado com uma 
Duas forças ambientais importantes no modelo triádico 
tarefa deleitura desinteressantee decidiu que uma partida 
são os ​encontroscasuais​e os ​eventosfortuitos​. 
de golfe seria preferível a enfrentar o trabalho escolar. Al ​se encontrou com um amigo, e os dois jovens foram até 
Terceiro, a teoria social cognitiva assume uma ​perspec- 
tiva de agência ​, ou seja, os humanos têm a capacidade de 
o campo de golfe. No entanto, eles chegaram muito tarde 
exercer controle sobre a natureza e sobre a qualidade de 
para o tempo final de jogo e, então, foram para um buraco 
suas vidas. As pessoas são tanto as produtoras quanto os 
mais adiantado. Por acaso, esses dois rapazes se encontra- 
produtos dos sistemas sociais. Um componente importan- 
vam jogando atrás de duas garotas dejogo muito lento. Em 
te do modelo de causação recíproca triádica é a ​autoeficácia​. 
vez de continuar jogando, os dois homens se juntaram às 
O desempenho tendeaser melhorado quando háautoeficá- 
duas mulheres e os dois se tornaram quatro. Assim, um 
cia, ou seja, a confiança de que as pessoas podem executar 
trabalho deleituraenfadonhae um tempo dejogo atrasado 
aqueles comportamentos que produzirão comportamentos 
reuniu duas pessoas que, de outra forma, nunca teriam se 
desejadosem uma situação particular. Além daautoeficá- 
encontrado. Por essa série de eventos casuais, Albert Ban- 
cia, a agência por procuração e a eficácia coletiva podem 
dura e Ginny (Virginia) Varns se conheceram em uma ar- 
predizer o desempenho. Com a ​agência ​procuração, as pes- 
madilha de areia de um campo de golfe. Eles acabaram se 
soas podem depender de outros para bens e serviços, en- 
casando e tiveram duas filhas, Mary e Carol, que, como a 
maioria de nós, foram fruto de um encontro casual. 
quanto ​eficácia coletiva ​refere-se às crenças 
compartilhadas dos indivíduos de quesão capazes 
de promover mudança. 
Os encontros casuais e os eventos fortuitos foram 
Quarto,as pessoas regulam suaconduta por meio de 
ignorados,em grande parte, pela maioria dos teóricos da 
fatores externos e internos. Os ​fatores externos ​incluem o 
personalidade, muito embora muitos de nós reconheçam 
ter tido experiências não planejadas que modificaram de 
forma significativa nossas vidas. 
P​ANORAMA DA TEORIA SOCIAL 
COGNITIVA 
 
a​
v​mbiente físico e social, e os ​
fatores internos​, a 
auto-obser- ​ação, o processo dejulgamento 
eaautorreação. Quinto, quando as pessoas se 
encontram em situa- ções moralmente ambíguas, em 
geral tentam regular seu comportamento por meio d a 
agência moral,a qual inclui redefinir o comportamento, 
desconsiderar ou distorcer as consequências do 
comportamento, desumanizar ou acusar as vítimas do 
comportamento e deslocar ou pulverizar a 
A ​teoria social cognitiva ​de Albert Bandura leva a sério 
responsabilidades por suas ações. 
os encontros casuais e os eventos fortuitos, muito embora 
reconheça que tais encontros e eventos não alteram inva- 
B​IOGRAFIA DE ​A​LBERT ​B​ANDURA 
riavelmente a trajetória da vida de alguém. A forma como 
reagimosa um encontro ou evento inesperado costumaser 
mais poderosa do que o evento em si. 
Albert Bandura nasceu em 4 de dezembro de 1925, em 
Mundare, uma pequena cidade nas planícies do norte de 
A teoria social cognitiva se apoia emvários pressupos- 
Alberta. Ele cresceu como o único menino em uma família 
tos básicos. Primeiro, a característica excepcional dos hu- 
de cinco irmãs mais velhas. Ambos os pais emigraram de 
manoséa ​plasticidade​; ou seja,eles têm a flexibilidade para 
países do Leste Europeu quando aindaeram adolescentes – 
aprender uma variedade de comportamentos em diversas 
seu pai da Polôniaesua mãe da Ucrânia. Bandurafoienco- 
situações. Bandura concorda com Skinner (Cap. 16) que 
as pessoas podem aprender, e aprendem, pela experiência 
rajado por suas irmãs a ser independente e autoconfiante. 
Ele também aprendeu a se autodirecionar na pequena es- 
direta, ainda que dê muito mais ênfase à aprendizagem 
vicariante, ou seja, aprender pela observação dos 
outros. 
cola da cidade, que tinha poucos professores e 
recursos es- cassos. No ensino médio,ele tinha 
apenas dois instrutores 
Banduratambém enfatizaaideia de que o reforço podeser 
para ensinar todo o currículo. Nesse ambiente, a aprendi- 
vicariante; as pessoas podem ser reforçadas observando 
zagem era deixada para a iniciativa dos alunos, uma situa- 
outro indivíduo receber uma recompensa. Esse reforço in- 
direto explica boa parte da aprendizagem humana. 
ção que se adequava bem a um estudante 
brilhante como 
330 ​F​EIST​, F​EIST ​& R​OBERTS 
Bandura. Outros alunos também pareciam 
desabrochar 
Bandura ocupou mais de uma dezena de cargos 
em 
sob essa atmosfera; praticamente todos os colegas de aula 
prestigiosas sociedades científicas, incluindo presidente 
de Bandura frequentaram a universidade, uma situação 
da American Psychological Association (APA) em 1974, 
muito incomum no início da década de 1940. 
presidente da Western Psychological Association em 
1980 
Depois de se formar no ensino médio, Bandura pas- 
e presidente honorário da Canadian Psychological Associa- 
sou um verão em Yukon, trabalhando narodovia do Alasca. 
tion em 1999. Além disso, recebeu mais de uma dúzia de 
Essa experiência o colocou em contato com uma variedade 
títulos honorários de universidades renomadas por todo o 
de trabalhadores, muitos dos quais estavam fugindo dos 
mundo.Outras honrariase prêmiosincluem o Guggehheim 
credores, de pensão alimentícia ou do serviço militar. Além 
Fellowship, em 1972, o Distinguished Scientific Contribu- 
disso, diversos companheiros de trabalho manifestavam 
tion Award da Divisão 12 (Clínica) da APA no mesmo ano, 
vários graus de psicopatologia. Ainda quesuas observações 
o Distinguished Scientific Contribution Award da APA em 
desses trabalhadores tenham acendido nele um interesse ​pela psicologia clínica, ele sódecidiu se tornar psicólogo 
1980 e o Distinguished Scientist Award da Society of Beha- ​vior Medicine. Ele foi eleito membro da 
American Acade- 
depois de ter se matriculado na Universidade de British 
my of Arts and Sciences em 1980. Além disso, recebeu o 
Columbia,em Vancouver. 
Distinguished Contribution Award daInternational 
Society 
Bandura disse a Richard Evans (Evans, 1989) que sua 
for Research on Aggression; o William James Award of the 
decisão desetornar psicólogo foiacidental; isto é, foi resul- 
American Psychological Science, por realizações excepcio- 
tado de um evento fortuito. Na faculdade, Bandura viaja- 
nais na ciência psicológica; o Robert Thorndike Award for 
va até a escola com alunos de medicina e engenharia, que 
Distinguished Contribution of Psychology to Education, da 
eram madrugadores. Em vez de não fazer nada durante o 
APA;e o James McKeen Cattell Fellow Award da American 
primeiro horário, Bandura decidiu se inscrever em uma 
Psychological Society. Também foi eleito para a American 
turma de psicologia oferecida naquele período de tempo. 
Academy of Arts and Sciences e para o Institute of Medi- 
Ele achou a aula fascinante e acabou decidindo focar a 
cine da National Academy of Sciences. Iniciando em 2004, 
psicologia. Posteriormente, Bandura veio a considerar os 
a American Psychology Society, em parceria com a Psy Chi 
eventosfortuitos(como o fato deir paraaescolacom estu- 
– TheNationalHonor Society in Psychology – passou a pre- 
dantes que eram madrugadores) como influências impor- 
miar um aluno excepcional de pós-graduação em psicologia 
tantes na vida das pessoas. 
com o Albert Bandura Graduate Research Award. 
Bandura atualmente detém a cátedra David Starr 
Jordan de Ciência 
Depois de se formar na British Columbia em apenas 
Socialem Psicologia na Universidade Stanford. 
três anos, Bandura procurou um programa de pós-gradua- 
ção em psicologia clínica que tivesse uma base forte na 
teoria da aprendizagem. Seu conselheiro recomendou a 
A​PRENDIZAGEM 
Universidade de Iowa, e, então, Bandura deixou o Cana- 
dá e foi para os Estados Unidos. Ele concluiu o mestrado ​Um 
dos primeiros e mais básicos pressupostos da teoria 
em 1951 e o doutorado em psicologia clínica no ano se- 
social cognitiva de Bandura é que os humanos são muito 
guinte. Então, passou um ano em Wichita, fazendo uma 
flexíveisecapazes deaprenderinúmerasatitudes, habilida- 
residência pós-doutorado, no Wichita Guidance Center. 
des e comportamentos e que boa parte dessas aprendiza- 
Em 1953, associou-se ao corpo docente da Universidade 
gens são resultado de experiências vicariantes. Ainda que 
Stanford, onde permaneceu, exceto por um ano, como 
as pessoas possam aprendereaprendam com aexperiência 
membro do Centro para Estudos Avançados em Ciências 
Comportamentais. 
direta, muito do que elas aprendem é adquirido por 
meio da observação dos outros. 
Bandura(19986)afirmou que, 
A maior parte das publicações iniciais de Bandura foi 
“se o conhecimento só pudesse ser adquirido por meio dos 
em psicologia clínica, abordando, principalmente, psicote- 
efeitos das próprias ações, o processo do desenvolvimento 
rapiae o teste de Rorschach. Então,em 1958,elecolaborou 
cognitivo e social seria enormemente retardado, para não 
com Richard H. Walters, seu primeiro aluno de doutorado, 
dizerexcessivamenteentediante” (p. 47). 
para publicar um trabalho sobre delinquentes agressivos. 
No ano seguinte, publicou seu livro ​Agressividade adoles- 
Aprendizagem por observação 
cente ​(​Adolescent Aggression​, 1959). Desde então, Bandura 
continuou aescreversobre umaampla variedade detemas, ​muitas vezes em colaboração com seus alunos da 
pós-gra- 
Conforme Bandura, a ​observação ​permite que as pessoas ​aprendam sem realizar qualquer comportamento. 
As pes- 
soas observam fenômenos naturais, plantas,animais, ca- 
duação. Seus livros mais influentes são: ​Teoria da aprendi- 
choeiras, o movimento da lua e das estrelas, e assim por 
zagem social ​(​Social Learning Theory ​, 1977), ​Fundamentos 
sociais do pensamento e da ação ​(​Social Foundations of Thou- 
diante, mas especialmente importante para a teoria so- 
ght and Action​, 1986) e ​Autoeficácia: o exercício do controle 
cial cognitiva é o pressuposto de que elas aprendem pela 
(​Self-efficacy: the exercise of control​, 1997). 
observação do comportamento de outras pessoas. 
A esse 
T​EORIAS DA ​P​ERSONALIDADE ​331 
respeito, Bandura difere de Skinner, para quem o compor- 
Atenção. ​Antes que possamos modelar outra pessoa, pre- 
tamento enativo é o dado básico da ciência psicológica. Ele 
cisamos prestar atenção nela. Que fatores regulam a aten- 
também discorda de Skinner por acreditar que o reforço 
ção? Primeiro, como temos mais oportunidades de obser- 
não é essencial para a aprendizagem. Ainda que o refor- 
var indivíduoscom quem frequentemente nosassociamos, 
ço facilite a aprendizagem, Bandura afirma que ele não é 
temos mais probabilidade de prestar atenção nessas pes- 
uma condição necessária. As pessoas podem aprender, por 
soas. Segundo, modelosatraentestêm maior probabilidade 
exemplo, observando modelos sendo reforçados. 
deserem observados dos que os não tão atraentes – 
figuras 
Para Bandura (1986, 2003) a aprendizagem por obser- 
populares natelevisão,em esportes ou em filmestendem a 
vação é muito mais eficiente do que a aprendizagem pela 
ser observadas de modo atento. Além disso, a natureza do 
experiência direta.Observando outras pessoas, os humanos 
comportamento a ser moldado afeta nossa atenção: obser- 
poupam incontáveis respostas que poderiam ser seguidas 
vamos o comportamento queconsideramosimportante ou 
por punição ou por nenhum reforço. As crianças observam 
valioso para nós. 
as personagens natelevisão, porexemplo,repetemo que ou- 
Representação. ​Para que a observação conduza a novos 
vem ou veem;elas não precisam executar comportamentos 
aleatórios,esperando quealgum 
delessejarecompensado. ​Modelagem 
padrões de resposta, esses padrões devem ser 
simbolica- menterepresentados na memória. A 
representação simbó lica não precisaser verbal, 
porquealgumas observaçõessão retidas em imagens 
e podem ser evocadas na ausência do 
A essência da aprendizagem por observação éa ​modelagem​. 
modelo físico. Esse processo é especialmente importante 
Aprender por modelagem envolve somare subtraira partir 
nainfância, quando as habilidades verbaisainda não se de- 
do comportamento observado e generalizar de uma observa- 
senvolveram. 
ção para outra. Em outras palavras, modelagem envolve pro- 
A codificação verbal, no entanto, acelera muito o pro- 
cessos cognitivos e não simplesmente mimetismo ou imita- 
cesso da aprendizagem por observação. Com linguagem, 
ção. É mais do quecombinarasações de outra pessoa; implica 
podemos avaliar verbalmente nossos comportamentos e 
representar simbolicamenteas informaçõesearmazená-las 
para uso em um momento futuro (Bandura, 1986, 
1994). 
decidir quais deles desejamos descartar e quais 
desejamos experimentar. A codificação verbal 
também nosajudaaen- 
Vários fatoresdeterminam se uma pessoa iráaprender 
saiar o comportamento simbolicamente, ou seja, diz repe- 
com um modelo em uma situação particular. Primeiro, as 
tidas vezes a nós mesmos como iremos realizar o compor- 
características do modelo são importantes. As pessoas têm 
tamento quando surgir a oportunidade. O ensaio também 
maior probabilidade de usar como modelo indivíduos de ​alto ​status ​do que aqueles de baixo ​status​, competentesem 
podeenvolverarealização real daresposta modelada,esua ​práticaauxilia o processo deretenção. 
vez de sem habilidades ou incompetentes, e poderosos em 
vez deimpotentes. 
Produção do comportamento. ​Depois de prestaratenção a 
um modelo e reter o que observamos, então 
produzimos 
Segundo, as característicasdo observador afetam 
o comportamento. Ao converterasrepresentaçõescogniti- 
a probabilidade da modelagem. As pessoas que não pos- 
vasem açõesapropriadas, precisamos nos fazer várias per- 
suem ​status​, habilidade ou poder têm maior probabilidade 
guntasacerca do comportamento aser modelado. Primeiro 
de modelar. As crianças modelam mais do que as pessoas 
mais velhas,e os novatostêm mais probabilidade 
de mode lar do que os ​experts​. 
perguntamos: “Como posso fazer isto?”. Depois de 
ensaiar simbolicamente as respostas relevantes, 
experimentamos o novo comportamento. Enquanto 
o executamos, monito- 
Terceiro, as consequências do comportamento a ser 
ramos a nós mesmos com a pergunta: “O que estou fazen- 
modelado podem ter um efeito no observador. Quanto 
do?”. Por fim, avaliamos nosso desempenho perguntando: 
maior o valor que um observador atribui a determinado 
comportamento, mais provavelmente ele irá adquirir tal 
“Estou fazendo isto certo?”. Esta última pergunta nem 
sempre é fácil de responder, em especial se ela se 
refere a 
comportamento. Além disso, a aprendizagem pode ser 
uma habilidade motora, como dançar balé ou pular de um 
facilitada quando o observador vê um modelo recebendo 
trampolim,em que não podemos nos verrealmente. Portal 
punição severa; por exemplo, ver outra pessoa receber um 
choqueforteao tocarem um fio elétrico ensinaao observa- 
razão,algunsatletas usam câmeras de vídeo para ajudá-los 
dor uma lição valiosa. 
a adquirir ou a melhorar habilidades motoras. 
Motivação. ​A aprendizagem por observação é mais 
efe- 
Processos que governam a aprendizagem por 
observação 
tiva quando os aprendizes estão motivados para 
realizar o comportamento modelado. Atenção e 
representação po- dem levar à aquisição da 
aprendizagem, mas o desempe- 
Bandura(1986)reconhece quatro processos que governam 
a aprendizagem por observação: atenção, 
representação, produção do comportamento e 
motivação. 
nho é facilitado pela motivação para executar 
aquele com- portamento em particular. Mesmo que 
a observação dos 
332 ​F​EIST​, F​EIST ​& R​OBERTS 
outros possa nos ensinar ​como ​fazer algo, podemos não ter 
grau de controle sobre os eventos que moldam o curso de 
o desejo derealizaraação necessária. Uma pessoa pode ob- 
suas vidas. O controle, entretanto, depende da interação 
servar outra usando uma serra elétrica ou um aspirador de 
recíproca de variáveis pessoais, do comportamento e do 
pó e não estar motivada para experimentar qualquer uma 
ambiente. 
dessasatividades. A maioria dos pedestres que observam 
uma obra em construção não tem o desejo de imitar o tra- 
balhador da construção. 
Aprendizagem enativa 
C​AUSAÇÃO RECÍPROCA TRIÁDICA 
No 
Capítulo 16, vimos que, para Skinner, o 
comportamen- to é uma função do ambiente; ou 
seja, o comportamento, 
Cadaresposta dadaéseguida por umaconsequência. Algu- 
em última análise, pode ser rastreado até forças externas 
mas dessas consequências são satisfatórias, outras insatis- ​fatórias ou simplesmente não são captadas de modo 
cog- 
à pessoa. À medida que as contingênciasambientais mu- ​dam, o comportamento se modifica também. Mas 
que 
nitivo e, portanto, têm pouco efeito. Bandura acredita que 
impulso muda o ambiente? Skinner reconhecia que o com- 
o comportamento humano complexo pode ser aprendido 
portamento humano pode exercer alguma medida de con- 
quando as pessoas pensam a respeito e avaliam as conse- 
quências de seus comportamentos. 
tracontrole sobre o ambiente, porém insistia em que, 
na análise final, o comportamento é ambientalmente 
deter- minado. Outros teóricos, como Gordon Allport 
(Cap. 12) 
As consequências de uma resposta servem a, pelo me- 
e Hans Eysenck (Cap. 14) enfatizaram a importância dos 
nos, três funções. Primeiro, as consequências da resposta 
traços ou da disposição pessoal para moldar o comporta- 
nos informa dos efeitos de nossas ações. Podemos reter 
mento. Em geral, esses teóricos sustentavam que fatores 
essa informação e usá-la como um guia para ações futu- 
pessoais interagem com as condiçõesambientais para pro- 
ras. Segundo, as consequências de nossas respostas mo- 
duzir o comportamento. 
tivam nosso comportamento antecipatório; isto é, somos 
Albert Bandura (1986, 1999b, 2001, 2002b) adota 
capazes de representar simbolicamente resultados futuros 
uma posição um pouco diferente. Sua teoria social cogni- 
e agir em conformidade. Não só possuímos insight, como 
tiva explica o funcionamento psicológico em termos de 
também somos capazes de previsão. Não temos que sofrer 
causação recíproca triádica ​. Esse sistema pressupõe que a 
o desconforto das temperaturas frias antes de decidirmos 
ação humana é resultado de uma interação entre três va- 
vestir um casaco quando saímos em um clima gélido. Em 
riáveis: ambiente, comportamento e pessoa. Por “pessoa” 
vez disso, antecipamos os efeitos do clima frio e úmido e 
Bandura queria dizer, em grande parte, mas não exclusi- ​vamente, fatores cognitivos como memória, 
antecipação, 
nos vestimos de acordo. Terceiro, as consequências das 
respostas servem para reforçar o comportamento, uma 
planejamento e julgamento. Como as pessoas possuem e 
função que foi solidamente documentada por Skinner 
usam essas capacidades cognitivas,elas possuem alguma 
(Cap. 16) e por outros teóricos do reforço. Bandura (1986), 
capacidade de selecionar ou reestruturar seu ambiente, ou 
no entanto, discute que, embora o reforço possa ser in- 
seja,a cognição determina, pelo menosem parte,a quais 
consciente e automático às vezes, os padrões comporta- 
eventos ambientais as pessoas atentam, que valor elas 
mentais complexos são bastante facilitados pela interven- 
atribuem a esses eventos e como elas os organizam para 
ção cognitiva. Ele defendia que a aprendizagem ocorre 
uso futuro. Ainda que a cognição possa ter um forte efeito 
de forma muito mais eficiente quando o aprendiz está 
causalsobre o ambientee o comportamento,ela não é uma 
envolvido cognitivamente na situação de aprendizagem e 
entidadeautônoma, independente dessas duas variáveis. 
compreende quais comportamentos precedem respostas 
de sucesso. 
Bandura (1986) criticava os teóricos que atribuem a 
causa do comportamento humano 
aforçasinternascomo instin- 
Em resumo, conforme Bandura, novos comporta- 
tos, impulsos, necessidadeseintenções. A própriacognição 
mentos são adquiridos por meio de dois tipos principais 
é determinada,sendo formada pelo comportamento e pelo 
de aprendizagem: aprendizagem por observação e apren- 
ambiente. 
dizagem enativa. O elemento central da aprendizagem por 
observação é a modelagem, que é facilitada pela observa- 
A causação recíproca triádica é representada de 
forma 
esquemática na Figura 17.1, em que B significa comporta- 
ção de atividades apropriadas, pela codificação apropriada 
mento (​behavior​); E é o ambienteexterno (​environment​);e P 
desses eventos para representação na memória, pela real 
representa a pessoa (​person​), incluindo o gênero, a posição 
execução do comportamento e por estar motivado o su- 
social, o tamanho e a atratividade física, mas especialmen- 
ficiente. A aprendizagem enativa permite que as pessoas 
te fatores cognitivos como pensamento, memória, julga- 
adquiram novos padrões de comportamento complexo 
mento e previsão. 
pela experiência direta, pensando a respeito e avaliando 
as consequências de seus comportamentos. O processo 
Bandura usa o termo “recíproca” para indicar uma 
de aprendizagem permite que as pessoas tenham algum 
interação triádica de forças, não uma ação contrária. Os 
B 
T​EORIAS DA ​P​ERSONALIDADE ​333 
vai parar de chorar por um tempo, mas, em casos futuros, ele 
terá maior probabilidade de persistir até que eu ceda. Portanto, 
não vou permitir que ele ganhe outro​brownie​.” Dessa forma, o 
pai tem um efeito sobre o ambiente(a criança) e sobre o próprio 
comportamento (rejeitando o pedido do filho). O comportamento 
posterior da criança (ambiente do pai) ajuda a moldar a 
cognição e o compor- tamento do pai. Se a criança para de 
insistir, o pai pode, então, ter outros pensamentos. Por 
exemplo, ele pode avaliar seu comportamento pensando: “Sou 
um bom pai porque fiz a coisa certa”. A mudança no ambiente 
também permite ao pai buscar comportamentos diferentes. 
Assim, seu comportamento posterior é parcialmente determina- 
do pela interação recíproca do ambiente, da cognição e do 
P E ​comportamento. 
F​IGURA​17.1 ​Conceito de Bandura de causação recíproc.aO funciona- Esse exemplo ilustra a interação recíproca dos fatores 
comportamentais, ambientais e pessoais segundo o pon- 
mento humano é produto da interação de (B) comportamento, (P) variá- 
veis da pessoa e (E) ambiente. 
to de vista do pai. Primeiro, os apelos do filho afetaram 
De Albert Bandura, 1994. Social cognitive theory and mass communication. In J. 
Bryant & D. Zillmann (Eds.), ​Media Effects: Advances in Theory and Research ​(p. 
62). Hillsdale,NJ: Erlbaum. Reproduzida com permissão. 
o comportamento do pai (E ​⇒ ​B); eles também determi- naram, 
em parte, a cognição do pai (E ​⇒ ​P); o comporta- mento do pai 
ajudou a moldar o comportamento do filho, ou seja, o 
ambiente dele (B ​⇒ ​E); o comportamento dele também 
interferiu em seus pensamentos (B ​⇒ ​P); e sua 
três fatores recíprocos não precisam ser de mesma força 
cognição determinou parcialmente seu comportamento 
ou fazer contribuições iguais. A potência relativa dos três 
(B ​⇒ ​P). Para completar o ciclo, P (pessoa) deve influen- 
varia conforme o indivíduo e a situação. Por vezes, o com- 
ciar E (ambiente). Como a cognição do pai pode moldar 
portamento pode ser mais potente, como quando a pessoa 
diretamente o ambiente sem antes ser transformada em 
toca piano para o próprio prazer. Outras vezes, o ambiente 
comportamento? Não pode. No entanto, P não significa 
exerce a maior influência, como quando um barco vira e 
todos os sobreviventes começam a pensar e a agir de uma 
cognição apenas; representa pessoa. Bandura (1999b) le- ​vantou a hipótese de que “as pessoas evocam diferentes 
forma muito semelhante. Mesmo que comportamento e 
reações de seu ambiente social, devido a suas caracterís- 
ambiente possam, por vezes, ser os contribuintes mais 
ticas físicas – como idade, altura, raça, sexo e atratividade 
fortes para o desempenho, a cognição (pessoa), em geral, 
física – mesmo antes de dizerem ou fazerem algo”(p. 158). 
é o contribuinte mais significativo para o desempenho. 
O pai, então, devido a seu papel e status como pai e talvez 
A cognição provavelmente seria ativada nos exemplos da 
em conjunção com o seu tamanho e força, tem um efeito 
pessoa tocando piano para o próprio prazer e nos sobrevi- 
decisivo sobre o filho. Assim, a ligação causal é completa 
ventes de um barco virado. A influência relativa do com- 
(P ​⇒ ​E). 
portamento, do ambiente e da pessoa depende de qual dos 
fatores triádicos é mais forte em um momento específico 
(Bandura, 1997). 
Encontros casuais e eventos fortuitos ​Ainda que as 
pessoas possam exercitar, e exercitem, uma 
Um exemplo de causação recíproca triádica 
dose significativa de controle sobre suas vidas, elas não 
podem predizer ou antecipar todas as mudanças ambien- 
Considere o seguinte exemplo de causação recíproca 
tais possíveis. Bandura é o único teórico da personalidade 
triádica. Uma criança implorando ao pai por um segundo 
a considerar com seriedade a possível importância dos ​en- 
brownie ​é, do ponto de vista do pai, um evento ambien- 
controscasuais e dos eventosfortuitos​. 
tal. Se o pai automaticamente (sem pensamento) desse 
Bandura (1998a) definiu um ​encontro casual ​como 
ao filho o que foi solicitado, então os dois estariam con- 
“um encontro não intencional de pessoas que não são fa- ​miliarizadas entre si” (p. 95). Um ​evento fortuito ​é 
uma 
dicionando o comportamento um do outro no sentido 
skinneriano. O comportamento do pai seria controlado 
experiênciaambiental inesperadae não intencional. A vida 
pelo ambiente, mas também teria um efeito de contra- 
diária é afetada em maior ou menor grau por indivíduos 
controle em seu ambiente, ou seja, o filho. Na teoria de 
que as pessoas acabam encontrando por acaso e por even- 
Bandura, no entanto, o pai é capaz de pensar sobre as con- 
tos aleatórios que elas não poderiam prever. O parceiro 
sequências de recompensar ou ignorar o comportamento 
conjugal de uma pessoa, sua ocupação e local de residên 
do filho. Ele pode pensar: “Se eu lhe der outro ​brownie​, ele 
334 ​F​EIST​, F​EIST ​& R​OBERTS 
cia podem,em grande parte, ser resultado de um encontro 
um clube de solteiros, indo a lugares onde é provável que 
fortuito. 
encontre mulheres solteiras ou pedindo que um 
amigo lhe 
Assim como a fortuidade influenciou as vidas de to- 
apresente uma parceira potencial elegível. Se ele conhece 
dos nós,ela também moldou a vida e a carreira de teóricos 
uma mulher elegível e desejável, aumentam as chances de 
famosos da personalidade. Doisexemplos são Abraham H. 
umarelação duradouraseele se preparou paraseratraente 
Maslow (Cap. 9) e Hans J. Eysenck (Capítulo 14). Quando 
ou interessante para as mulheres. Bandura (2001) cita 
jovem, Maslowera extremamentetímido comas mulheres. 
Louis Pasteur: “O acaso favorece apenas a mente prepara- 
Ao mesmo tempo, ele estava muitoapaixonado porsua pri- 
da” (p. 12). Todavia, a pessoa preparada é capaz de escapar 
ma Bertha Goodman, mas era muito tímido para expres- 
de encontros casuais desagradáveis e infortúnios do acaso 
sar seu amor. Um dia, enquanto estava visitando a prima, 
antecipando a possibilidade de acontecerem e tomando 
a irmã mais velha de Berta o empurrou na direção de sua 
providências para minimizar algum impacto negativo que 
amada prima, dizendo: “Pelo amor de Deus, beije-a, vamos 
possam ter no desenvolvimento futuro. 
lá!” (Hoffman, 1988, p. 29). Maslow a beijou e, para sua 
surpresa, Bertha não ofereceu resistência. Ela o beijou, e, 
A​GÊNCIA HUMANA 
a partir daquele momento, a vida antes sem propósito de 
Maslow foi transformada. 
A 
teoria socialcognitiva assume uma visão agêntica 
da per- 
Além disso, Hans Eysenck, o conhecido psicólogo bri- 
sonalidade, significando que os humanos têm acapacidade 
tânico, aproximou-se da psicologia completamente por 
deexercercontrolesobrea própria vida(2002b). Na verda- 
acaso. Ele pretendiaestudar física na Universidade de Lon- 
de, a ​agência humana ​é a essência da humanidade. Ban- 
dres, mas primeiro teria que passar no exame de ingres- 
dura (2001) acredita que as pessoas são autorreguladas, 
so. Depois de esperar um ano para fazer o exame, foi dito 
proativas, autorreflexivas e auto-organizadas e que elas 
que ele havia se preparado para o teste errado e que teria 
têm o poder de influenciar as próprias ações para produzir 
de esperar mais um ano para fazer o teste correto. Em vez 
as consequências desejadas. Agência humana não signi- 
de retardar ainda mais sua educação, ele perguntou se ha- 
fica que as pessoas possuem um homúnculo – isto é, um 
via algum tema científico que pudesse seguir. Quando lhe 
agente autônomo – tomando decisões que são coerentes 
disseram que ele poderia se matricular em um programa 
com sua visão do ​self​. Nem significa que reajam de forma 
de psicologia, Eysenck perguntou: “Mas o que vem a ser 
automáticaaeventosexternoseinternos. A agência huma- 
psicologia?” (Eysenck, 1982, p. 290). Eysenck, é claro, for- 
na não é uma coisa, mas um processo ativo de exploração, 
mou-se em psicologia e se tornou um dos psicólogos mais 
famosos do mundo. 
manipulação e influência do ambiente para atingir 
os re- ​sultados desejados. 
A fortuidade acrescenta uma dimensão específicaa 
qualquer esquema usado para predizer o comportamen- 
Características fundamentais da 
to humano e torna predições exatas praticamente im- 
agência humana 
possíveis. Contudo, os encontros casuais influenciam as 
Bandura (2001, 2004) refere quatro características funda- 
pessoas somente pela entrada no paradigma da causação 
mentais da agência humana: intencionalidade, antecipa- 
recíproca triádica no ponto E (ambiente), somando-se à 
ção,autorreatividade e autorreflexão. 
interação mútua de pessoa, comportamento e ambiente. 
Intencionalidade ​refere-se a atos realizados de forma 
Nesse sentido, os encontros casuais influenciam as pes- 
intencional. Uma intenção inclui planejamento, mas tam- 
soas da mesma maneira que os eventos planejados. Depois 
bém envolve ações. “Não é simplesmente uma expectativa 
que ocorre um encontro casual, as pessoas se comportam 
ou predição de ações futuras, mas um comprometimento 
em relação ao novo relacionamento de acordo com suas 
proativo de provocá-las” (2001, p. 6). Intencionalidade 
atitudes, seus sistemas de crenças e seu interesse, como 
não significa que todos os planos de uma pessoa serão 
também de acordo com a reação da outra pessoa a elas. 
concretizados. As pessoas continuamente alteram seus 
Assim, enquanto muitos encontros casuais e eventos não 
planos conforme se conscientizam das consequências de 
planejados têm pouca ou nenhuma influência no compor- 
tamento, “outros têm efeitos mais duradouros, e outros 
suas ações. 
As pessoas também possuem ​antecipação ​para estabe 
ainda impulsionam as pessoas para novas trajetórias na 
vida” (Bandura, 2001, p.12). 
lecer objetivos, para antecipar os prováveis 
resultados de 
Os encontros casuais e os eventos fortuitos não são 
suas ações e escolher comportamentos que irão produzir 
incontroláveis.Defato,as pessoas podem fazera oportuni- 
os resultados desejados e evitar os indesejados. A anteci- 
dadeacontecer. Um homem divorciado queestá procuran- 
pação possibilitaàs pessoas libertarem-se das restrições do 
do uma oportunidade para se casar novamente aumentará 
ambiente. Se o comportamento fossecompletamente uma 
sua chance de encontrar uma esposa potencial seguindo 
função do ambiente, então ele seria mais variável e menos 
um curso de ação proativo, por exemplo,associando-se a 
consistente, porque estaríamos constantemente reagindo 
T​EORIAS DA ​P​ERSONALIDADE ​335 
à grande diversidade de estímulosambientais. “Se asações 
O que é autoeficácia? 
fossem determinadas unicamente por recompensas e pu- 
Bandura (2001) definiu autoeficácia como “crenças das 
nições externas, as pessoas se comportariam como cata- 
pessoas em sua capacidade de exercer alguma medida de 
ventos” (Bandura, 1986, p. 335). Mas as pessoas não se 
controle sobre o próprio funcionamento e sobre eventos 
comportam como cataventos, “constantemente mudando 
ambientais” (p. 10). Ele refere que “as crenças na eficácia 
de direção para se adequarem às influências que as afetam 
no momento” (Bandura, 2001, p. 7). 
são o fundamento da agência humana” (p. 10). As pes- soas 
que acreditam que podem fazer algo que tenha o 
Elas fazem mais do que planejar e contemplar com- 
potencial de alterar eventos ambientais têm maior pro- 
portamentos futuros. Elas também são capazes de autor- 
babilidade de agir e ter sucesso do que aquelas com baixa 
reatividade no processo de motivação e regulação de suas 
autoeficácia. 
ações. As pessoas não só fazem escolhas, mas também 
Autoeficácia não é a expectativa pelos ​resultados ​de ​nossas ações. Bandura (1986, 1997) distinguiu entre 
ex- 
monitoram seu progresso para cumprirem tais escolhas. 
Bandura (2001) reconhece que o estabelecimento de ob 
pectativas de eficácia e ​expectativas de resultados​. Eficácia 
jetivos não é suficiente para atingir as consequências de- 
refere-se à confiança das pessoas de que elas têm a capaci- 
sejadas. Os objetivos devem ser específicos, estar dentro 
dade de realizar certos comportamentos, enquanto expec- 
da capacidade da pessoa de atingi-los e refletir as realiza- 
tativa de resultados refere-se à predição que a pessoa faz 
ções potenciais que não estão muito distantes no futuro. 
sobreasconsequências prováveis daquelecomportamento. 
(Discutimos a autorreguação em mais detalhes na seção 
Autorregulação.) 
Resultado não deve ser confundido com realização 
bem- -sucedida de um 
ato;eleserefereàsconsequências do com- 
Por fim, as pessoas têm ​autorreflexão​. Elas são avalia- 
portamento, não à realização do ato em si. Por exemplo, 
doras do próprio funcionamento; podem pensar a respeito 
umacandidataa um emprego podeter confiança de quese 
eanalisarsuas motivações,seus valorese ossignificados de 
sairá bem duranteaentrevista deseleção, teráacapacidade 
seus objetivos de vida,erefletir quanto àadequação deseu 
deresponderas perguntas possíveis, permanecerárelaxada 
pensamento. Elas também podem avaliar o efeito que as 
e controlada e exibirá um nível apropriado de comporta- 
ações das outras pessoas tem sobre elas. O mecanismo au- 
mento amistoso. Portanto, ela tem alta autoeficácia com 
torreflexivo mais crucialé a ​autoeficácia​, ou seja,as crenças 
relação à entrevista de emprego. Contudo, apesar dessas 
pessoais de ser capaz de executar ações que irão produzir 
um efeito desejado. ​Autoeficácia 
expectativas de alta eficácia, ela pode ter baixas 
expecta- tivas de resultados. Existiria uma baixa 
expectativa de re- 
sultado seela acreditasseter poucaschances dereceber 
um cargo. Esse julgamento pode se dever a condições 
ambien- tais não promissoras, como alta taxa de 
desemprego, de- 
A forma como as pessoas agem em uma situação em par- 
pressão na economia ou competição superior. Além disso, 
ticular depende da reciprocidade das condições compor- 
outros fatores pessoais, como idade, gênero, altura, peso 
tamentais, ambientais e cognitivas, em especial aqueles 
ou saúde física, podem afetar negativamente as expectati- 
fatores cognitivos relacionados às crenças de que elas 
vas de resultados. 
podem ou não executar o comportamento necessário 
Além de ser diferente das expectativas de resultados, 
para produzir os resultados desejados em uma situação 
a autoeficácia deve ser distinguida de vários outros concei- 
específica. Bandura (1997) chama essas expectativas de 
tos. Primeiro, eficácia não se refere à capacidade de execu- 
autoeficácia​. De acordo com Bandura (1994), “as cren- 
tar habilidades motoras básicas como caminhar, alcançar 
ças das pessoas em sua eficácia pessoal influenciam o 
ou agarrar. Eficáciatambém não implica que podemosexe- 
curso de ação que escolhem seguir, o quanto de esforço 
cutar comportamentos designados sem ansiedade, estres- 
irão investir nas atividades, por quanto tempo irão per- 
se ou medo;elaé meramente nosso julgamento, preciso ou 
severar em face de obstáculos e experiências de fracasso 
falho, sobre podermos ou não executar as ações necessá- 
e sua resiliência após contratempos” (p. 65). Apesar de a 
rias. Por fim, os julgamentos de eficácia não são a mesma 
autoeficácia ter uma influência causal poderosa sobre as 
coisa que os níveis de aspiração. Osaditosem heroína, por 
ações das pessoas, ela não é o único determinante. Em 
exemplo, muitas vezes, desejam estar livres da droga, mas 
vez disso, a autoeficácia se combina com o ambiente, o 
podem ter poucaconfiançaem suacapacidade deromper o 
comportamento prévio e outras variáveis pessoais, prin- 
vício com sucesso (Bandura, 1997). 
cipalmente as expectativas de resultado, para produzir o 
comportamento. 
Auteficácia não é um conceito global ou generali- zado, 
como autoestima ou autoconfiança. As pessoas 
No modelo causal triádico recíproco, que postula que 
o ambiente, o comportamento e a pessoa têm uma in- 
podem ter alta autoeficácia em uma situação e baixa 
fluênciainterativa entre si, autoeficácia refere-se ao fator 
autoeficácia em outra. Ela varia conforme a situação, de- 
P (pessoa). 
pendendo das competências necessárias para 
diferentes 
336 ​F​EIST​, F​EIST ​& R​OBERTS 
de outros. Nos esportes, as realizações em 
equipe não 
atividades, da presença ou ausência de outras pessoas, da 
aumentam a eficácia pessoal tanto quanto as realizações 
competência percebida dessas outras pessoas, especial- 
individuais. Terceiro, o fracasso é mais provável de redu- 
mente se elas são competidoras, da predisposição da pes- 
zir a eficácia quando sabemos que empreendemos nossos 
soa a prestar atenção no fracasso do desempenho, em vez 
melhoresesforços. Fracassar quanto setentou apenas pela 
de no sucesso, e dos estados fisiológicos concomitantes, 
metade não é tão ineficaz quanto ficar aquém apesar dos 
particularmente a presença de fadiga, ansiedade, apatia 
ou prostração. 
melhoresesforços.Quarto, o fracasso sob condições 
dealta 
Alta e baixa eficácia combinam com ambientes res- 
excitação emocional ou angústia não é tão autodebilitante 
ponsivos e não responsivos para produzir quatro variáveis 
quanto o fracasso sob condições máximas. Quinto, o fra- 
preditivas possíveis(Bandura, 1997). Quando aeficáciaé 
casso antes de estabelecer um sentimento de domínio é 
alta e o ambiente é responsivo, é mais provável que os re- 
mais prejudicial para os sentimentos de eficácia pessoal do 
sultadossejam desucesso.Quando a baixaeficáciaécom- ​binada com um ambiente responsivo, as pessoas podem 
que o fracasso posterior. Um sexto corolário relacionado é 
que o fracasso ocasional tem pouco efeito sobre a eficácia, 
ficar deprimidasao observarem que os outros têm sucesso 
em especial para pessoas com uma expectativa em geral 
em tarefas que parecem muito difíceis paraelas. Quando 
alta de sucesso. 
pessoas com alta eficácia encontram situações ambientais 
Modelagem social. ​Uma segunda fonte de eficácia é a 
não responsivas, elas, em geral, intensificam seus esfor- 
modelagem social, ou seja, as ​experiências vicariantes 
ços para mudar o ambiente. Elas podem usar o protesto, o 
ativismo social ou mesmo a força para instigar 
mudança; 
proporcionadas por outras pessoas. Nossa 
autoeficácia é aumentada quando observamos as 
realizações de outras 
mas,setodos osesforçosfalham, Banduralevantaa hipó- 
pessoas deigual competência, masé diminuída quando ve- 
tese de que ou elas desistem daquele curso e assumem um 
mos um par fracassar. Quando a outra pessoa é diferente 
novo ou procuram um ambiente mais responsivo. Por fim, 
de nós, a modelagem social terá pouco efeito sobre nossa 
quando a baixa autoeficácia se combina com um ambiente 
autoeficácia. Um velho e covarde sedentário observando 
não responsivo, as pessoas provavelmente sentem apa- 
um jovem ativo e corajoso artista de circo andar sobre um 
tia, resignação e desamparo. Por exemplo, um executivo 
arame sem dúvida terá pouca melhora nas expectativas de 
júnior com baixa autoeficácia que percebe as dificuldades 
eficácia para duplicar o feito. 
de se tornar presidente da empresa irá desenvolver 
senti- mentos de desencorajamento, desistirá e não 
conseguirá 
Em geral, os efeitos da modelagem social não são tão 
fortes quanto os do desempenho pessoal em elevar os 
transferir esforços produtivos para um objetivo semelhan- 
te, porém menor. 
O que contribui para a autoeficácia? 
níveis de eficácia, mas eles podem ter efeitos 
poderosos ​quando se refere à ineficácia. Observar 
um nadador de igual habilidade fracassar em 
atravessar um rio agitado provavelmente irá 
dissuadir o observador de tentar a mes- 
A eficácia pessoal é adquirida, melhorada ou diminuída por 
mafaçanha. Osefeitos dessaexperiência vicariante podem 
meio de umafonte ou da combinação de quatro fontes: (1) 
duraraté mesmo a vidainteira. 
experiências de domínio, (2) modelagem social, (3) per- 
suasão social e (4) estados físicos e emocionais (Bandura, 
1997). Com cada método, as informações sobre si 
mesmo 
esobre o ambientesão processadas cognitivamentee, com 
aslembranças deexperiências prévias,alteram aautoeficá- 
cia percebida. 
Experiências de domínio. ​As fontes mais influentes de 
autoeficáciasão as ​experiências de domínio​, ou seja, os de- 
sempenhos passados (Bandura, 1997). Em geral, o desem- 
penho de sucesso aumenta as expectativas de eficácia; o 
fracasso tendeareduzi-las. Essaafirmação geral possui seis 
corolários. 
Primeiro, o desempenho de sucesso eleva a autoeficá- ​cia 
proporcionalmente à dificuldade da tarefa. Jogadores 
de tênis muito habilidosos adquirem pouca autoeficácia 
derrotando oponentes inferiores, porém ganham muito 
ao terem bom desempenho contra oponentes superio- 
res. Segundo, as tarefas realizadas com sucesso, por si só, 
são mais eficazes do que aquelas concluídas com a ajuda 
A fonte mais influente de autoeficácia é o desempenho. 
T​EORIAS DA ​P​ERSONALIDADE ​337 
Persuasão social. ​A autoeficácia também pode seradqui- 
o nível de excitação – em geral, quanto maior a excitação, 
mais baixa a autoeficácia. A segunda variável é o realismo 
rida ou enfraquecida pela persuasão social (Bandura, 1997). 
Os efeitos dessa fonte são limitados, mas, sob as condições 
percebido daexcitação. Sea pessoasabe que o medo érealis- 
ta, como quando dirige na estrada congelada de uma mon- 
adequadas,a persuasão dos outros podeaumentar ou redu- 
tanha, a eficácia pessoal pode ser aumentada. Entretanto, 
zir a autoeficácia. Exortações ou críticas de uma fonte con- 
quando a pessoa percebe o absurdo dafobia – por exemplo, 
fiável têm maior poder de eficácia do que aquelas de uma 
medo delugaresabertos – então a excitação emocional ten- 
pessoa não confiável. Incentivar a autoeficácia por meio da 
de a baixar a eficácia. Por fim, a natureza da tarefa é uma 
persuasão social será efetivo somente se a atividade que a 
variáveladicional.Aexcitação emocional pode facilitararea 
pessoa estiver sendo encorajada a experimentar encontrar- 
-se dentro de seu próprio repertório de 
comportamento. 
lização bem-sucedida detarefassimples, mas é 
provável que interfira no desempenho 
deatividadescomplexas. 
Nenhuma quantidade de persuasão verbal pode alterar 
o julgamento de eficácia de uma pessoa quanto à 
capacidade 
de correr 100 metros em menos de 8 segundos. 
Ainda que a autoeficácia seja “o fundamento da agên- 
cia humana” (Bandura, 2001, p. 10), ela não é o único 
modo de agência humana. As pessoas também podem 
Bandura(1986) levantaa hipótese de quea eficácia da 
exercer controle sobre suas vidas por meio da agência por 
sugestão está diretamente relacionada ao ​status​e à autori- 
procuração e da eficácia coletiva. 
dade percebida do persuasor. ​Status ​e autoridade, é claro, 
não são idênticos. Por exemplo, a sugestão de um psico- 
Agência por procuração 
terapeuta para pacientes fóbicos de que eles conseguem 
andar em um elevador lotado tem maior probabilidade 
Procuração​envolve o controleindireto sobreascondições 
de aumentar a autoeficácia do que o encorajamento por 
sociais que afetam a vida diária. Bandura (2001) observou 
parte do cônjuge ou dos filhos dessas pessoas. Porém, se 
que “ninguém possui o tempo,a energia e os recursos para 
esse mesmo terapeuta disser aos pacientes que eles têm a 
ter domínio em todos os terrenos da vida diária. O fun- 
capacidade de trocar um interruptor de luz estragado, os 
cionamento de sucesso, necessariamente, envolve uma 
pacientes provavelmente não irão melhorar sua autoefi- 
combinação de confiança na agência por procuração em 
cácia para essa atividade. Além disso, a persuasão social é 
algumas áreas de funcionamento” (p. 13). Na sociedade 
mais efetiva quando combinada com o desempenho bem- 
americana moderna, porexemplo,as pessoas seriam quase 
-sucedido. A persuasão pode convencer alguém a tentarimpotentes se dependessem unicamente das realizações 
umaatividadee,se o desempenho for bem-sucedido, tanto 
pessoais pararegular suas vidas. A maioria não tem acapa- 
a​
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.​mpensas verbais posterioresau- 
cidade pessoal de consertar um condicionador de ar, uma 
câmera ou um automóvel. Por meio da agência por pro- 
curação, no entanto, elas podem realizar seu objetivo de- 
Estados físicos e emocionais ​A fonte final de eficácia 
pendendo de outras pessoas para consertar esses objetos. 
são os estados físicos e emocionais (Bandura, 1997). Uma 
As pessoas tentam mudar sua vida diária fazendo contato 
emoção forte tende a reduzir o desempenho; quando as 
com seu representante no congresso ou com outra pessoa 
pessoas experimentam medo intenso, ansiedade aguda ou 
potencialmente influente; elas buscam mentores para aju- 
altos níveis de estresse, é provável que elas tenham expec- 
dá-lasaaprender habilidades úteis;elascontratam um me- 
tativas de eficácia mais baixas. Um ator em uma peça da 
nino da vizinhança para cortar sua grama; elas se baseiam 
escola sabe seu texto durante o ensaio, mas percebe que o 
nos serviços de notícias internacionais para saberem de 
medo queelesente na noite deestreia pode bloquear sua 
eventos recentes; elas contratam advogados para resolver 
memória. A propósito, para algumas situações, a excitação 
problemas legais;eassim por diante. 
emocional, se não for muito intensa,estáassociadaa um 
desempenho aumentado, de modo que a 
ansiedade mode- 
Procuração​, no entanto, possui um aspecto 
negativo. 
Ao dependerem muito da competência e do poder dos ou- 
radasentida poraqueleator na noite deestreiatem poten- 
tros, as pessoas podem enfraquecer seu senso de eficácia 
cial para aumentar suasexpectativas de eficácia. A maioria 
pessoal e coletiva. Um cônjuge pode se tornar dependente 
das pessoas, quando não está com medo, tem a capacidade 
do outro paracuidar dosafazeres domésticos; filhos no fim 
de segurar cobras venenosas. Elas apenas devem pegar a 
da adolescência ou jovens adultos podem esperar que os 
cobra com firmeza por trás da cabeça; mas, para muitas 
pessoas, o medo que acompanha o contato com a cobra 
pais cuidem deles; e os cidadãos podem aprender a depen- ​der do governo para sanar suas 
necessidades da vida. 
é debilitante e reduz sobremaneira sua expectativa de 
desempenho. 
Eficácia coletiva 
Os psicoterapeutasjáreconheceram hátempo que uma 
redução naansiedade ou umaumento no relaxamento físico 
O terceiro modo de agência humana é a eficácia coletiva. 
podem facilitar o desempenho. A informação da excitação 
Bandura (2000) definiu ​eficácia coletiva​como “as cren- 
estárelacionadaainúmeras variáveis. Primeiro,éclaro,está 
ças compartilhadas das pessoas em seu poder coletivo de 
338 ​F​EIST​, F​EIST ​& R​OBERTS 
funcionamento. Com o advento dos controles 
computa- 
produzir os resultados desejados” (p. 75). Em outras pa 
dorizados em automóveis modernos, muitos mecânicos 
lavras, eficácia coletiva é a confiança que as pessoas têm 
moderadamente habilidosos não só perderam a eficácia 
de que seus esforços combinados ocasionarão realizações 
pessoal para consertar seu veículo como também apresen- 
para o grupo. Bandura (2000) sugeriu duas técnicas para 
medir a eficácia coletiva. A primeira é combinar as ava 
taram baixa eficácia coletiva para inverter a 
tendência dos automóveis cada vez mais 
complicados. 
liações dos membros individuais sobre suas capacidades 
de exercer comportamentos que beneficiem o grupo. Por 
Uma terceira condição que mina a eficácia coletiva é 
a complexa máquina social, com níveis de burocracia que 
exemplo, os atores em uma peça teriam alta eficácia co 
impedem a mudança social. As pessoas que tentam mudar 
letiva se todos tivessem a confiança em sua capacidade 
as estruturas burocráticas com frequência são desenco- 
pessoal de realizar seu papel de modo adequado. A segun- 
rajadas pelo fracasso ou pelo longo lapso de tempo entre 
da abordagem proposta por Bandura é medir a confiança 
que cada pessoa tem na capacidade do grupo de produzir 
suas ações e alguma alteração perceptível. Ao ficarem de- 
um resultado desejado. Por exemplo, jogadores de beisebol 
sencorajadas, muitas pessoas, “em vez de desenvolverem 
podem ter pouca confiança em cada um de seus compa- 
os meios para moldar seu futuro... com relutânciaabdicam 
nheiros de time, mas possuem alta confiança de que o time 
do controle, deixando-o para especialistas técnicos e fun- 
terá um ótimo desempenho. Essas duas abordagens um 
cionários públicos” (Bandura, 1995, p. 37). 
pouco diferentes da eficácia coletiva requerem técnicas de 
Quarto, o grande âmbito e a magnitude dos proble- 
medida distintas. 
A eficácia coletiva não se srcina de uma “mente” co 
letiva, mas da eficácia pessoal de muitos indivíduos 
traba 
mas humanos podem prejudicar a eficácia coletiva. Guer- ras, 
fome, superpopulação, crime e desastres naturais são 
apenas alguns dos problemas globais que podem deixar 
lhando em conjunto. A eficácia coletiva de um grupo, no 
as pessoas com um sentimento de impotência. Apesar 
entanto, depende não só do conhecimento e das habilida- 
desses enormes problemas transnacionais, Bandura acre- 
des de seus membros individuais, mas também das cren- 
dita que mudanças positivas são possíveis se as pessoas 
ças de que eles podem trabalharjuntos de maneira coorde- 
perseverarem com seus esforços coletivos e não ficarem 
nada e interativa (Bandura, 2000). As pessoas podem ter 
desencorajadas. 
alta autoeficácia, mas baixa eficácia coletiva. Por exemplo, 
uma mulher pode ter alta eficácia pessoal para perseguir 
Segundo uma ótica mundial, Bandura (2000) concluiu 
que, “conforme a globalização atinge mais profundamen- 
um estilo de vida saudável, mas ela pode ter baixa eficácia 
te a vida das pessoas, um sentimento resiliente de eficácia 
coletiva para ser capaz de reduzir a poluição ambiental, as 
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. ​essencial para promover seus inte- 
condições de trabalho perigosas ou a ameaça de doença 
infecciosa. 
Bandura (1998b) assinalou que diferentes culturas 
A​UTORREGULAÇÃO 
possuem níveis distintos de eficácia coletiva e trabalham 
de forma mais produtiva sob sistemas diferentes. Por 
Quando as pessoas possuem altos níveis de 
autoeficácia, 
exemplo,as pessoas nos Estados Unidos, umaculturaindi- 
são confiantes em relação a suas procurações e possuem 
vidualista, sentem maior autoeficácia e trabalham melhor 
eficáciacoletivasólida, elastêm capacidadeconsiderável de 
sob um sistema orientado individualmente, enquanto as 
regular o próprio comportamento. Bandura (1994) acredi- 
pessoas na China, uma cultura coletivista, sentem maior 
ta queas pessoas usam estratégiasreativase proativas para 
eficáciacoletivaetrabalham melhorsob um sistema orien- 
tado para o grupo. 
autorregulação. Ou seja, elas ​reativamente ​tentam 
reduzir as discrepâncias entre suas realizações e seu 
objetivo; mas 
Bandura (1997, 1998b, 2001) lista vários fatores que 
depois que acabam com essas discrepâncias, elas ​proativa- 
podem minar a eficácia coletiva. Primeiro, os humanos 
mente ​estabelecem novos objetivose maisaltos parasi. “As 
vivem em um mundo transnacional; o que acontece em 
pessoas se motivam e guiam suas ações por meio do con- 
uma parte do globo pode afetar pessoas em outros países, 
trole proativo, estabelecendo para si objetivos valorizados 
dando-lhes um sentimento de desamparo. A destruição da 
que criam um estado de desequilíbrio e mobilizando suas 
floresta amazônica, as políticas de comércio internacional 
capacidades e esforçoscom base na estimativa antecipató- 
ou a destruição da camada de ozônio, por exemplo, podem 
afetara vida de pessoas em qualquer lugare minarsuacon- ​fiança para moldar um mundo melhor paraelas. 
ria do que é necessário para alcançar os objetivos” (p. 63). ​A noção deque as pessoas procuramum 
estado de desequi 
líbrio é semelhante à crença de Gordon Allport de que os 
Segundo, tecnologias recentes que as pessoas não en- 
indivíduos são motivados para criar tensão tanto quanto 
tendem nem acreditam que conseguem controlar podem 
parareduzi-la(ver Cap. 12). 
diminuir seu sentimento deeficáciacoletiva. Em anos pas- 
Que processos contribuem para essa autorregulação? 
sados, muitos motoristas, por exemplo, tinham confiança 
em sua capacidade de manter seu carro em condições de 
Primeiro, as pessoas possuem capacidade limitada para 
T​EORIAS DA ​P​ERSONALIDADE ​339 
manipular os fatoresexternos que se integram ao paradig- 
Auto-observação 
ma interativo recríproco. Segundo, as pessoas são capazes 
O primeiro fator interno na autorregulação é a ​auto-ob- 
de monitorar o próprio comportamento e avaliá-lo em ter- 
servação ​do desempenho. Precisamos ser capazes de mo- 
mos de objetivos próximose distantes. O comportamento, 
nitorar nosso próprio desempenho, embora a atenção que 
então, srcina-se de uma influência recíproca de fatores 
externose internos. 
Fatores externos na autorregulação 
damos a isso não precise ser completa ou mesmo 
acurada. Atentamos de forma seletiva a alguns 
aspectos de nosso comportamento e ignoramos 
outros por completo. O que observamos depende dos 
interesses e de outras autocon- cepções 
preexistentes. Em situações de realização, como 
Os fatores externos afetam a autorregulação pelo menos 
pintar quadros, praticar jogos ou fazer exames, prestamos 
de duas formas. Primeiro, eles fornecem um padrão para 
a avaliação de nosso comportamento. Os padrões não pro- ​vêm unicamente de forças internas. Fatores ambientais, 
atenção à qualidade, à quantidade, à velocidade ou à ori- ​ginalidade de nosso trabalho. Em situações 
interpessoais, 
como conhecer novos indivíduos ou relatareventos, moni- 
interagindo com influências pessoais, moldam os padrões 
toramosasociabilidade ou a moralidade de nossaconduta. 
individuais para avaliação. Mediante princípios, aprende- 
mos com pais e professores o valor do comportamento 
Processo de julgamento 
honesto e amistoso; pela experiência direta, aprendemos 
A auto-observação, sozinha, não fornece uma base sufi- 
a atribuir mais valor a sermos afetuosos do que frios; e 
ciente paraaregulação do comportamento. Também preci- 
por meio da observação de outros, desenvolvemos inúme- 
samos avaliar nosso desempenho. Esse segundo processo, 
ros padrões para avaliar nosso desempenho. Em cada um 
o ​processo de julgamento​, ajuda a regular nosso comporta- 
desses exemplos, fatores pessoais afetam quais padrões 
mento por meio do processo de mediação cognitiva. Somos 
aprendemos, porém as forças ambientais também desem- 
penham um papel. 
capazes não só de autoconsciência reflexiva como 
também dejulgamento do valor de nossas ações com 
base nos obje- 
Segundo, fatores externos influenciam a autorregula- 
tivos que estabelecemos para nós mesmos. De forma mais 
ção, fornecendo os meios para o reforço. As recompensas 
específica, o processo de julgamento depende de padrões 
intrínsecas nem sempre são suficientes; também precisa- 
pessoais, desempenhosreferenciais, valorização daativida- 
mos de incentivos que emanem de fatores externos. Um 
deeatribuição de desempenho. 
artista, por exemplo, pode precisar de mais reforço do que 
Os ​padrões pessoais ​nos permitem avaliar nosso desem- 
autossatisfação para concluir um grande mural. O apoio 
ambiental, em forma de um adiantamento financeiro ou 
penho sem compará-lo à conduta dos outros. Para uma 
criança de 10 anos profundamente incapacitada, o ato de 
de um elogio e encorajamento dos outros, também pode 
ser necessário. 
dar um laço em seu calçado pode ser muito 
valorizado. Ela não precisa desvalorizar sua 
conquista simplesmente 
Os incentivos para concluir um projeto moroso geral- 
porque outras crianças podem realizar o mesmo ato com 
mente provêm do ambiente e, com frequência, assumem 
menos idade. 
a forma de pequenas recompensas contingentes à conclu- 
Os padrões pessoais, no entanto,são umafontelimita- 
são de subobjetivos. O artista pode ter prazer com uma 
da deavaliação. Paraa maioria de nossasatividades, avalia- 
xícara de café depois de ter pintado a mão de um dos su 
mos nosso desempenho comparando-o com um ​padrão de 
jeitos ou fazer uma pausa para o almoço depois de termi- 
referência​. Os estudantes comparam suas notas nos testes 
nar outra pequena parte do mural. No entanto, a autorre- 
com as de seus colegas, e jogadores de tênis julgam suas 
compensa pelo desempenho inadequado provavelmente 
habilidades pessoais comparando-as com as dos outros jo- 
resulta em sanções ambientais. Os amigos podem criticar 
gadores. Além disso, usamos nossos níveis prévios de rea 
o trabalho do artista ou zombar dele, os patrocinadores 
lizaçõescomo umareferência paraaavaliação do desempe- 
podem retirar o apoio financeiro ou o artista pode ser 
nho presente: “Minha vozao cantar melhorou ao longo dos 
autocrítico. Quando o desempenho não satisfaz nossos 
anos?”, “Minha habilidade para ensinar agora está melhor 
próprios padrões, tendemos a retirar as recompensas de 
nós mesmos. 
Fatores internos na autorregulação 
do que nunca?”. Além disso, podemos julgar nosso 
desem- penho comparando-o com o de outro indivíduo 
– um ir- ​mão, uma irmã, um genitor ou até mesmo um 
rival odiado ​– ou podemos compará-lo a uma 
norma-padrão, como o 
Fatores externos interagem com fatores internos ou pes- 
par no golfe ou um escore perfeito no boliche. 
soais na autorregulação. Bandura (1986, 1996) reconhece 
Além dos padrões pessoais e de referência, o proces- 
três requisitos internos no exercício constante da autoin- 
so de julgamento também depende do ​valor ​global que 
fluência: (1) auto-observação, (2) processos de julgamento 
atribuímos a uma atividade. Se atribuirmos valor menor à 
e(3)autorreação. 
habilidade de lavar pratos ou tirar o pó da 
mobília, então 
340 ​F​EIST​, F​EIST ​& R​OBERTS 
empregaremos pouco tempo ou esforço paratentar melho- 
Autorregulação por meio da agência moral 
rar tais habilidades. Entretanto, se atribuímos valor alto a 
As pessoas também regulam suas ações por meio de pa- 
estar à frente no mundo dos negócios ou a obter um di- 
drões morais de conduta. Bandura (1999a) considera a 
ploma profissional ou um mestrado, então empregaremos 
muito esforço paraatingir o sucesso nessasáreas. 
agência moral composta por dois aspectos: (1) não 
causar danos às pessoas e (2) ajudar as pessoas 
proativamente. 
Por fim, a autorregulação também depende de como 
Nossos mecanismos autorregulatórios, no entanto, não 
julgamos as causas de nosso comportamento, ou seja, a 
afetam outras pessoas até que atuemos sobre eles. Não 
atribuição de desempenho​. Se acreditarmos que nosso su- 
temos um agente controlador automático interno, como 
cesso resulta dos próprios esforços, iremos nos orgulhar 
uma consciência ou um superego, que invariavelmente di- 
de nossas conquistas e tenderemos a trabalhar mais ar- 
recione nosso comportamento para valores correntes no 
duamente para atingir nossos objetivos. No entanto, se 
atribuirmos nosso desempenho a fatores externos, não 
â​
m​
mbito moral. Bandura(2002a) insisteem que os preceitos ​orais predizem o comportamento moral 
somente quan- 
sentiremos muita autossatisfação e, provavelmente, não 
do convertidos em ação. Em outras palavras, as influên- 
empregaremos esforços árduos para atingir nossos obje- 
cias autorregulatórias não são automáticas, mas operamtivos. Contudo, se acreditarmos que somos responsáveis 
por nossos fracassos ou desempenho inadequado, 
traba 
somente se ativadas, um conceito que Bandura 
chama de ​ativaçãoseletiva​. 
lharemos mais prontamente na direção da autorregulação 
Como as pessoas com fortescrenças moraisreferentes 
do que se estivermos convencidos de que nossas falhas e 
a valore dignidade da humanidade podem secomportar de 
nossos medos se devem a fatores que estão além de nosso 
controle (Bandura, 1986, 1996). ​Autorreação 
forma desumana? A resposta de Banduraé que“as 
pessoas normalmente não se engajam em conduta 
repreensível até que elas tenham se justificado da 
moralidade de suas ações” (p. 72). Justificando a 
moralidade desuas ações,elas podem se separar ou 
se desengajar das consequências de 
O terceiro fator interno na autorregulação é a ​autorreação​. 
seu comportamento, um conceito que Bandura denomina 
As pessoas respondem de forma positiva ou negativa a 
desengajamento do controle interno​. 
seus comportamentos, dependendo do quanto elesestão à 
As técnicas de desengajamento permitem que as pes- 
altura de seus padrões pessoais. Ou seja, as pessoas criam 
soas, individualmente ou em conjunto com outras, enga 
incentivos paraas própriasações por meio do autorreforço 
jem-se em comportamentos desumanos ao mesmo tempo 
ou da autopunição. Por exemplo, uma estudante aplicada 
queconcluiu umatarefa deleitura podeserecompensaras- ​sistindo aseu programa de televisão favorito. 
em que mantêm seus padrões morais (Bandura, 2002a). ​Porexemplo, os políticos,com frequência, convencem 
seus 
eleitores da moralidade da guerra. Assim, as guerras são 
O autorreforço não se baseia no fato de que ele se 
empreendidas contra pessoas “más”, indivíduos que mere- 
segue imediatamente a uma resposta. Ao contrário, ele se 
cem ser derrotados ou até mesmo aniquilados. 
baseia,em grande parte, no uso de nossa 
habilidade cogni- 
A ativação seletiva e o desengajamento do controle 
in- 
tiva para mediar as consequências do comportamento. As 
terno permitem que pessoas com os mesmos padrões mo- 
pessoas estabelecem padrões de desempenho que, quando 
raissecomportem deformas muito diferentes,assim como 
satisfeitos, tendem a regular o comportamento por meio 
possibilitam que a mesma pessoa se comporte de forma 
de recompensas autoproduzidas, tais como orgulho e au- 
diferente em situações distintas. A Figura 17.2 ilustra os 
tossatisfação. Quando as pessoas não conseguem corres- 
vários mecanismos por meio dos quais o autocontroleé de- 
ponder a seus padrões, seu comportamento é seguido de 
autoinsatisfação ou autocrítica. 
sengajado ou ativado seletivamente. Primeiro, as 
pessoas podem ​redefinir ​ou ​reconstruir a natureza do 
comportamento 
Esse conceito de consequências automediadas é um 
em si ​por meio de técnicas como justificá-lo moralmente, 
grande contraste com a noção de Skinner de que as con- 
fazer comparações vantajosas ou rotular suas ações de 
sequências do comportamento são determinadas pelo 
modo eufemístico. Segundo,elas podem ​minimizar, ignorar 
ambiente. Bandura levanta a hipótese de que as pessoas 
ou ​distorcer as consequências nocivas de seu comportamento​. 
trabalham para obter recompensas e para evitar punições 
Terceiro,elas podem ​acusar ​ou ​desumanizar a vítima​. Quar- 
de acordo com padrões autoimpostos. Mesmo quando as 
recompensas sejam tangíveis, elas costumam ser acompa- ​nhadas por incentivosintangíveisautomediados,como 
um 
to, elas podem ​deslocar ​ou ​diluir a responsabilidade ​por seu 
comportamento obscurecendo a relação entre suasaçõese 
osefeitos destas. 
sentimento de realização. O Prêmio Nobel, por exemplo, 
implica uma recompensa substancial em dinheiro, porém 
Redefinir o comportamento 
seu valor maior para a maioria dos ganhadores é o senti- 
mento de orgulho ou autossatisfação por realizarem tare- 
Com a ​redefinição do comportamento ​, as pessoas justifi- 
fas queconduziram à premiação. cam ações de outra forma repreensíveis por meio de uma 
Justificativa moral 
Minimizar, ignorar ou 
T​EORIAS DA ​P​ERSONALIDADE ​341 
Desumanização 
Comparaçãopaliativa Rotulação 
eufemística 
Conduta 
interpretar mal 
as consequências Efeitos 
Atribuição de culpa 
repreensível 
nocivos ​Vítima 
Deslocamento da responsabilidade 
Diluição da responsabilidade 
F​IGURA​17.2 ​Mecanismos por meio dos quais o controle interno é ativado de forma seletiva ou desenga 
jado de conduta repreensível em diferentes pontos no processo regulatório. 
três técnicas de distorção ou obscurecimento das conse- 
reestruturação cognitiva, capaz de minimizar ou elimi- 
quências nocivas das ações de um indivíduo. Primeiro, as 
nar a responsabilidade. Elas podem se aliviar da respon- 
pessoas podem ​minimizar as consequências de seu compor- 
sabilidade por seu comportamento por meio de, pelo 
tamento​. Por exemplo, um motorista ultrapassa um sinal 
menos, três técnicas (ver quadro superior à esquerda na 
Fig. 17.2). 
vermelho e atropela um pedestre. Enquanto a vítima 
está sangrando e inconsciente no chão, o motorista 
diz: “Ela 
A primeira é a justificativa moral, em que um compor- 
não está muito machucada. Ela vai ficar bem”. 
tamento de outra forma culpável tende a parecer defen- 
sável ou até mesmo nobre. Bandura (1986) citou o exem- 
Segundo, as pessoas podem ​desconsiderar ou ignorar 
as consequências de suas ações​, como quando elas não veem 
plo do herói da I Guerra Mundial, o sargento Alvin York, 
inicialmente osefeitos prejudiciais deseu comportamento. 
o qual, como um objetor consciencioso, acreditava que 
Em tempos de guerra, os chefes de Estado e os generais 
matar era moralmente errado. Depois que o comandante 
do exército raramente veem a destruição total e as mortes 
de seu batalhão citou da Bíblia as condições sob as quais 
resultantes de suas decisões. 
era moralmente justificado matar e após uma longa vigília 
Finalmente,as pessoas podem ​distorcer ou interpretar ​mal as consequências de suas ações ​, como quando um pai 
de orações, York se convenceu de que matar soldados ini- ​migos era defensável sob o âmbito moral. Depois de sua 
bate muito no filho, causando hematomas graves, mas ex- 
redefinição de matar, York prosseguiu matando e captu- 
plica queacriança precisa de disciplina paraamadurecer de 
rando mais de cem soldados alemães e, como consequên- 
forma adequada. 
cia, tornou-se um dos maiores heróis de guerra na história 
americana. 
Um segundo método deredução da responsabilidade 
Desumanizar ou culpar as vítimas 
pela redefinição do comportamento ilícito é fazer ​compa- 
Terceiro, as pessoas podem obscurecer a responsabilidade 
rações vantajosas ou paliativas ​entre aquele comportamen- 
to e as atrocidades ainda maiores cometidas por outros. 
por 
suas 
ações 
desum
anizan
do 
suas 
vítima
s ou 
atribui
ndo a 
culpa 
a elas 
(ver 
quadr
o 
super
ior à 
direit
a na 
Fig. 
17.2). 
Em 
A criança que vandaliza o prédio de uma escola usa a des- 
culpa de que os outros quebraram mais janelas. 
tempos de guerra, as pessoas, muitas vezes, 
consideram o inimigo como sub-humano; portanto, não 
precisam sesen- 
Uma terceira técnica na redefinição do comportamen- 
tir culpadas por matarem soldados rivais. Em vários mo- 
to é o uso de ​rótulos eufemísticos​. Os políticos que promete- 
mentos na história americana, judeus, afro-americanos, 
ram não elevar os impostos falam de “aumento dareceita”, 
hispano-americanos, americanos nativos, asiático-ame- 
em vez detaxas;algunslíderes nazistaschamavam o assas- 
ricanos, homossexuais e moradores de rua se tornaram 
sinato de milhões de judeus de “purificação da Europa” ou 
“a solução final”. 
vítimas desumanizadas ​. Pessoas de outra forma 
amáveis, atenciosas e gentis perpetraram atos de 
violência, insulto ​ou outras formas de maus-tratos 
contra essesgrupos ao ​mesmo tempo em 
queevitavam aresponsabilidade porseu 
Desconsiderar ou distorcer as consequências do 
comportamento 
comportamento. 
Um segundo método para evitar a 
responsabilidade envol- 
Quando as vítimas não são desumanizadas, elas 
são, 
às vezes, ​acusadas ​pela conduta culpável do perpetrador. 
ve ​distorcer ou obscurecer a relação entre o comportamento e 
suas consequências nocivas ​(ver quadro superior central da 
Um estuprador podeacusara vítima por seu crimecitando 
Fig. 17.2). Bandura (1986, 1999a) reconheceu pelo menos 
seu vestido ou comportamento provocativo. 
342 ​F​EIST​, F​EIST ​& R​OBERTS 
Deslocar ou diluir a responsabilidade 
cesso aos olhos dos outros, elas continuam a criticar 
com severidade o próprio desempenho. A depressão é 
especial- 
O quarto método para dissociarasações dasconsequências 
mente provável quando as pessoas estabelecem objetivose 
é ​deslocar ou diluir a responsabilidade ​(ver quadro inferior na 
padrões pessoais muito mais altos do que sua eficácia per- 
Fig. 17.2). Com o ​deslocamento​, as pessoas minimizam as 
cebida para atingi-los. 
consequências de suas ações, atribuindo a 
responsabilida- de a uma fonte externa. Exemplos 
incluem uma emprega- 
Por fim,asreações dosindivíduos deprimidossão 
mui- 
to diferentes daquelas das pessoas não deprimidas. As pes- 
da que alega que seu chefe é responsável por sua ineficiên- 
soas deprimidas não só sejulgam duramente, mastambém 
ciae um universitário queculpa o professor por suas notas 
baixas. 
são inclinadasa setratarem mal devido aseus 
defeitos. 
Um procedimento relacionado é ​diluir a responsabilida- 
Fobias 
de ​– espalhá-la tanto que ninguém seja responsável. Uma 
Fobias são medos fortes e disseminados o suficiente para 
funcionária pública pode diluiraresponsabilidade por suas 
terem efeitos debilitantes graves na vida diária da pessoa. 
ações por toda a burocracia, com comentários como: “É as- 
Porexemplo, fobiasacobrasimpedem as pessoas deterem 
sim que as coisas são feitas por aqui” ou “Isto é simples- 
mente política”. 
uma variedade deempregose desfrutarem de muitos 
tipos de atividades recreativas. As fobias e os medos 
são apren- didos por contato direto, generalização 
inadequada e, es- 
C​OMPORTAMENTO DESADAPTADO 
pecialmente, experiências de observação (Bandura, 1986). 
Eles são difíceis de extinguir, porque a pessoa fóbica 
sim- ​O conceito de Bandura de causação recíproca triádica 
plesmenteevita o objeto ameaçador. A menos que o objeto 
presume que o comportamento é aprendido como conse- 
temido seja encontrado de alguma maneira, a fobia irá du- 
quência de uma interação mútua (1) da pessoa, incluindo 
rar de modo indefinido. 
cognição e processos neurofisiológicos; (2) do ambiente, 
incluindo relações interpessoais e condições socioeco- 
Bandura(1986)creditaàtelevisão ea outras mídias de 
notícias a geração de muitos de nossos medos. Estupros, 
nômicas; e (3) de fatores comportamentais, incluindo 
assaltos à mão armada ou assassinatos divulgados pela 
experiências prévias com reforço. O comportamento 
mídia aterrorizam uma comunidade, fazendo as pessoas 
desadaptado não é exceção. O conceito de Bandura de 
terem as vidas confinadas por portas trancadas. A maioria 
comportamento desadaptado se presta mais pronta- 
das pessoas nunca foi estuprada, roubada ou machucada 
mente a reações depressivas, fobias e comportamentos ​agressivos. 
de modo intencional; no entanto, muitas vivem com medo ​de serem agredidas por criminosos. Os atos 
criminais vio 
Depressão 
lentos que parecem aleatórioseimprevisíveissão 
mais pro- váveis deinstigar reaçõesfóbicas. 
Padrões e objetivos pessoais altos podem levar a 
realiza- 
Depois de estabelecidas, as fobias são mantidas por 
determinantes consequentes, ou seja, o reforço negativo 
ções e satisfação consigo próprio. No entanto, quando as 
quea pessoafóbicarecebe porevitarasituação que produz 
pessoas estabelecem objetivos muito altos, é provável que 
medo. Porexemplo,sea pessoaespera passar porexperiên- 
fracassem. O fracasso, em geral, conduz a depressão, e as 
cias aversivas (ser assaltada) enquanto atravessa o parque 
pessoas deprimidas amiúde subestimam suas realizações. 
O resultado é infelicidade crônica, sentimento de 
desva 
da cidade, ela reduz seu sentimento de ameaça 
não en- trando no parque ou até mesmo não 
chegando perto dele. 
lia, falta de propósito e depressão generalizada. Bandura 
Nesseexemplo, o comportamento desadaptado (esquiva)é 
(1986, 1997) acredita que pode ocorrer depressão desa- 
daptada em qualquer uma das três subfunções 
autorregu 
produzido e mantido pela interação mútua das 
expectati- vas da pessoa(crença de 
queseráassaltada), pelo ambiente 
latórias: (1) auto-observção, (2) processos de julgamento e 
(3)autorreações. 
externo (o parque da cidade) e por fatores 
comportamen- tais (suasexperiências prévias com o 
medo). 
Primeiro, durante a auto-observação, as pessoas po- 
dem julgar erroneamente o próprio desempenho ou dis- 
Agressividade 
torcer sua lembrança de realizações passadas. As pessoas 
deprimidas tendem a exagerar seus erros passados e a ​minimizar suas realizações anteriores, uma tendência que 
Comportamentos agressivos, quando levados a extremos, ​também são desadaptados. Para Bandura 
(1986), o com- 
perpetua sua depressão. 
portamento agressivo é adquirido por meio de 
observação 
Segundo, as pessoas deprimidas tendem a fazer jul- 
de outros,experiências diretascom reforços positivose ne- 
gamentos equivocados. Elas estabelecem seus padrões 
gativos, treinamento ou instrução ecrenças bizarras. 
irrealisticamente tão altos que qualquer realização 
pessoal 
Depois deestabelecido o comportamento 
agressivo,as 
é julgada como um fracasso. Mesmo quando atingem o su 
pessoascontinuam aagredir por, pelo menos,cinco razões: 
T​EORIAS DA ​P​ERSONALIDADE ​343 
(1) elas gostam de infligir danos à vítima (reforço positi- 
de resposta agressiva foi extremamente semelhante ao 
vo); (2) elas evitam ou contrariam as consequências aver- 
exibido pelos modelos adultos. As crianças repreende- 
sivas da agressão pelos outros (reforço negativo); (3) elas 
ram, chutaram, soquearam e bateram no boneco com um 
recebem lesões ou danos por não se comportarem agres- 
taco, em uma imitação muito próxima do que havia sido 
sivamente (punição); (4) elas correspondem aos padrões 
modelado. 
pessoais deconduta porseu comportamento 
agressivo (au- torreforço); e (5) elas observam outros 
recebendo recom- 
Esseestudo,agoracom mais de 40 anos, foiconduzido 
em uma época em que as pessoas ainda debatiam os efei- 
pensas poratosagressivos ou punição porcomportamento 
tos da violência na televisão sobre as crianças e os adultos. 
não agressivo. 
Algumas pessoas argumentavam que assistir a 
comporta- 
Bandura acredita que as ações agressivas conduzam 
mentos agressivos na televisão teria um efeito catártico 
a mais agressividade. Essa crença está baseada no clássi- 
sobre as crianças, ou seja, as que experimentavam agres- 
co estudo de Bandura, Dorrie Ross e Sheila Ross (1963), ​o qual constatou que as crianças que observavam outros 
sividade vicariamente teriam pouca motivação para agir 
de maneira agressiva. O estudo de Bandura, Ross e Ross 
comportarem-se com agressividade exibiam mais agressi- 
(1963) ofereceu algumas das primeiras evidências experi- 
vidade do que um grupo-controle decrianças que não viam 
mentais de que a violência na TV não refreia a agressivi- 
atos agressivos. Nesse estudo, os pesquisadores dividiram 
dade;ao contrário,ela produz comportamentosagressivos 
os meninos e as meninas da creche em três grupos experi- 
mentais combinadose um 
grupo-controle. 
adicionais. 
As crianças no primeiro grupo experimental observa- 
T​ERAPIA 
ram um modelo ao vivo se comportando com agressivida- 
de física

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