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24/09/2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 19 – Prof.Bruno Tavares Patologia Hepática Peritoneal, estabelece limites anatômicos com o diafragma, estômago, duodeno, cólon e rim direito. Funções: regulação metabólica, processamento de aminoácidos, carboidratos, lipídeos e vitaminas, síntese proteica, detoxificação e excreção para bile e eliminação de xenobióticos endógenos. Distúrbios metabólicos, tóxicos, microbianos e circulatórios (agudos e crônicos) e neoplasias. Doenças Hepáticas Crônicas – Processo Diagnóstico A definição do diagnóstico de doenças hepáticas crônicas é complexo e depende: o Clínica Anamnese, exame físico detalhado, identificação de síndromes clínicas (insuficiência hepática, cirrose, hipertensão portal e colestase). o Laboratório Dosagem de marcadores hepatobiliares (AST, ALT, bilirrubinas, fosfatase alcalina, alfa- fetoproteína), sorologias (HAV, HBV, HCV), albumina sérica. – o Biópsia hepática Estabelecer o tipo de doença crônica e estadiamento (grau de lesão necro-inflamatória e fibrose), diagnóstico de neoplasias. Padrões Patológicos de Lesão Hepática Divididos pelo tipo de lesão e região patologicamente afetada, mas frequentemente estão combinados em uma mesma amostra. o Lesão hepatocelular morte celular (necrose/apoptose), degenerações e outros acúmulos intracelulares (degeneração hidrópica, esteatose, degeneração hialina, depósito de ferro, cobre, inclusões virais...). o Inflamação portal, lobular, de interface. o Lesão biliar lesão e proliferação canalicular, colestase (hepatocítica ou canalicular). o Anormalidades vasculares pode resultar em lesão hepatocítica ou biliar o Regeneração e fibrose Lesão Hepatocelular – Necrose e Apoptose Lesão Hepatocelular – Degenerações Lesão Hepatocelular – Inclusões Virais 2 Lesão Hepatocelular – Lobular Inflamação – Portal Inflamação Portal – Presença ou não de atividade de Interface Lesão Biliar – Proliferação Canalicular Lesão Biliar – Colestase Anormalidades Vasculares Regeneração e Fibrose (tricômico de Masson) 3 Entenda o Laudo de Biópsia Hepática Descrição microscópica e linha diagnóstica afirmando: o Se o quadro histopatológico é diagnóstico de hepatite crônica; o Presença e grau das alterações de natureza necro-inflamatória* - Inflamação portal, de interface; distribuição de necrose de hepatócitos (focal, confluente) o Presença e grau de fibrose* o Diagnóstico etiológico (ou provável) *Sistemas de graduação: METAVIR, Brunt, Ishak, Batts-Ludwig, Scheuer Exemplo: Diagnóstico: hepatite crônica, atividade necro- inflamatória moderada com progressão para cirrose (Ishak 2/6). Quadro compatível com hepatite C. Caso Clínico 1 Homem, 58 anos, procurou atendimento médico com a queixa de fadiga progressiva e perda ponderal não intencional. Laboratório: AST= 40 U/L (até 37 U/L), ALT= 45 U/L (até 41 U/L), fosfatase alcalina= 135 U/L (até 40-129 U/L). Encaminhado para biópsia hepática. Diagnóstico anatomopatológico: Hepatite crônica, atividade necro-inflamatória moderada com progressão para fibrose portal (Ishak 3/6). Quadro compatível com hepatite B crônica. Confirmação sorológica e por PCR. Hepatite B 400 milhões de portadores assintomáticos da doença no mundo. Desses, 25% desenvolvem hepatite crônica ativa. No Brasil, 15% da população já foi contaminada e 1% é portadora crônica. 4 Vias de transmissão: sexual, fluidos, sangue, vertical. Partículas virais: HBsAg (proteína S): marcador de infecção crônica (+ de 6 meses). o HBcAg: marcador de replicação viral (ag do core viral). o HBeAg: marcador de DNA viral; indica replicação. o Anti-HBsAg: imunidade adquirida ao VHB. Patogênese VHB → Hepadnaviridae (DNA). o Lesão imunomediada: o vírus não lesa o hepatócito diretamente. resposta citotóxica por células TCD8+. o co-infecção com VHD em 8-40% dos casos. Na infecção crônica: o partículas do DNA viral se integram ao genoma do hepatócito, predispondo ao desenvolvimento de carcinoma hepatocelular (0,02% ao ano para hepatite crônica e 2,5% ao ano para os casos associados à cirrose). IMAGEM: imuno-histoquímica: anti-HBsAg Evoluções Clínica Resultados possíveis de uma infecção por hepatite B em adultos, com a frequência estimada nos Estados Unidos. A resolução espontânea do HBsAg ocorre durante infecções crônicas por HBV com incidência anual estimada entre 1% e 2% em países ocidentais. Conforme mencionado no texto, os termos hepatite fulminantes e insuficiência hepática aguda são equivalentes. Caso Clínico 2 Homem, 45 anos, previamente hígido. Apresentou exames de rotina com alterações de transaminases (AST= 85 U/L e ALT= 103 U/L). Exame repetido e confirmado. Encaminhado para biópsia hepática. Diagnóstico anatomopatológico: Hepatite crônica, atividade necro-inflamatória moderada (METAVIR A2) com progressão para fibrose portal com presença de septos fibrosos (METAVIR F3). Confirmação sorológica e por PCR. Hepatite C 175 milhões de portadores no mundo, média estimada no Brasil: 1,2%. 75- 80% são assintomáticos. Via de transmissão: parenteral. Risco elevado para infecção crônica persistente e hepatite crônica (60-85%) - taxa de progressão muito mais elevada que a infecção pelo HBV. Infecção persistente: o RNA circulante do HCV pode ser detectado. Ocorrem elevações flutuantes das aminotransferases. Diagnóstico: sorologia anti-VHC e PCR. Biópsia hepática: estadiamento de doença e avaliação da resposta terapêutica. Patogênese VHC → Flaviviridae (RNA). 5 6 genótipos, 50 subtipos (genótipos 1 e 4 mais resistentes ao tratamento com interferon). Lesão imunomediada com resposta citotóxica (LTCD4+ e LTCD8+). Na infecção crônica: lesão imune associada à inflamação crônica predispõe ao desenvolvimento de de carcinoma hepatocelular (risco de 1-4% ao ano). Caso Clínico 3 Mulher, 28 anos. Há cerca de 20 dias apresentou quadro de febre, mialgia, artralgia e inapetência associadas à icterícia e desconforto em hipocôndrio direito. Procurou atendimento médico em pronto-socorro, sendo diagnosticada com hepatite aguda. Foi encaminhada para a UBS para realizar sorologias. Exames atuais: AST= 210 U/L, ALT= 200 U/L, bilirrubinas totais= 2,0 mg/dL. Sorologias para VHA, VHB e VHC não reagentes. Encaminhada para biópsia hepática. Diagnóstico anatomopatológico: Hepatite crônica, atividade necro-inflamatória intensa com progressão para fibrose (Ishak 4/6). Quadro compatível com hepatite crônica autoimune. Hepatite Autoimune Hepatite crônica e progressiva de etiologia desconhecida. Lesão imunomediada associada a potenciais gatilhos (infecções virais, fármacos ou outros distúrbios autoimunes como artrite reumatoide, síndrome de Sjögren, retocolite ulcerativa) Pacientes mulheres com altos níveis séricos de IgG, mas sem marcadores séricos para infecções virais. Classificação: baseada nos padrões de autoanticorpos ¨ HAI tipo 1: autoanticorpos para anticorpos nucleares (ANA), musculatura lisa (SMA), actina (AAA) e antígeno hepático solúvel/fígado- pâncreas (SLA-LP); associada ao haplótipo HLA- DR3. 6 ¨ HAI tipo 2: autoanticorpos contra os antígenos microssomo fígado/rim (ALKM-1) e citosol hepático (ACL-1). Evolução Início agudo dos sintomas de insuficiência hepática em 40% dos pacientes. 40% dos pacientes desenvolvem cirrose. Morte em até 6 meses se não tratada. HAI recorre em 20% dos transplantes. Tratamento: imunossupressão, transplante. Caso Clínico 4 Homem, 58 anos, procurou atendimento médico com a queixa de "cansaço e pernas inchadas". Etilismo crônico relatado na anamnese. Apresentava icterícia, edema simétrico em membros inferiores, ascite e telangiectasias vasculares em pele abdominal ao exame físico. Laboratório: AST= 240 U/L,ALT= 96 U/L, bilirrubinas 1,9 mg/dL, albumina sérica= 2,4 g/dL. Sorologias para VHA, VHB e VHC negativas. Encaminhado para realização de biópsia hepática. Diagnóstico anatomopatológico: Esteato-hepatite apresentando atividade necro-inflamatória intensa com pregressão para cirrose (Brunt 4/4). Esteato-Hepatites Definição: lesões representadas pelo acúmulo de triglicerídeo nos hepatócitos e por graus variados inflamação, necrose hepatocelular e distúrbios arquiteturais que podem levar à cirrose. Classificação: ¨ Alcoólica ¨ Não alcoólica (NASH) A esteatohepat ite é uma das m anifestações do alcoolismo crôn ico e, geralmen te, ocorre após um episódio de inge sta excessiva de álcool. O termo hepatite alcoóli co é empregado em parte por motivos clínicos , pois o quadro lembra uma hep atite viral, com icterí cia, mas também porque costum a haver reação in flamatória no p arênquima hepá tico. O mecanismo seri a a toxicidade ag uda do etanol, q ue lesa diretament e as células hep áticas, provocan do a alteração balon izante e a altera ção hialina de Mallory. A mort e de hepatócito s induz reação inflamatória foc al com neutrófi los. Surtos repe tidos de hepatite alco ólica terminam por evoluir à ci rrose em cerca de um terço dos casos . 7 Doença Hepática Alcoólica Consumo crônico de álcool – causa mais de 60% dos casos de doença hepática crônica em países ocidentais e se associa com 45-50% das mortes devido à cirrose. Espectro morfológico de lesão hepática → esteatose (90-100%), hepatite (10-35%) e cirrose (8-20%) – doença hepática alcoólica. Manifestações clínicas variáveis → de inócua à cirrose/insuficiência. Patogênese Esteatose → resulta de múltiplos mecanismos complexos, incluindo: o metabolismo do etanol com aumento da esterificação de ácidos graxos o diminuição da síntese de lipoproteínas (estresse oxidativo e desnutrição) Hepatite → lobular e portal, mononuclear e polimorfonuclear. Resulta de subprodutos do metabolismo do etanol: o dano direto pelo etanol o estresse oxidativo o citocinas inflamatórias - secundárias ao estresse oxidativo Cirrose → alteração da deposição de tecido conjuntivo que resulta de: o morte de hepatócitos o deposição de MEC o reorganização vascular Outras alterações → balonização de hepatócitos e degeneração hialina (corpúsculos de Mallory). Ambos resultam de: o estresse oxidativo o dano inflamatório Evolução e Consequência o Sobrevida de 90% em 5 anos (se cessar o etilismo). A sobrevida cai para 50-60% se continuar o etilismo. o Insuficiência hepática. o Hemorragia gastrointestinal maciça. o Infecções. o Síndrome hepatorrenal e/ou hepatopulmonar. o Desenvolvimento de carcinoma hepatocelular - 3-6%. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica Condição comum associada com síndrome metabólica (resistência à insulina, obesidade, dislipidemia e hipertensão) e diabetes mellitus do tipo 2. Não há associação com consumo de álcool. Espectro clinicopatológico variável: de esteatose, à esteato-hepatite. Esteatose, inflamação e fibrose na lâmina – pode evoluir para cirrose e insuficiência hepática. Patogênese complexa: a resistência à insulina resulta em esteatose por prejuízos à oxidação de ácidos graxos, aumento da síntese e captura de ácidos graxos e diminuição da secreção hepatocítica de VLDL. A esteatose leva ao estresse 8 oxidativo com inflamação sobreposta, mediada por citocinas como TNF e IL-6. DHGNA pediátrica → problema crescente de saúde pública mundial relacionado à obesidade infantil. Evolução e Consequência Depende do estágio da doença. o resolução completa (esteatose apenas). o Esteato-hepatite → possível evolução para cirrose e insuficiência hepática. Cirrose Definição: processo difuso de fibrose hepática com formação de nódulos regenerativos e necrose de hepatócitos. Uma das 10 maiores causas de morto no mundo. Principais características morfológicas: o Comprometimento da maior parte ou da totalidade do fígado o Formação de septos fibrosos o Presença de nódulos parênquima regenerativos contendo hepatócitos proliferativos e necróticos. Etiologias Lesões vasculares o Síndrome de Budd-Chiari, doença veno-oclusiva, ICC direita. Doenças Congênitas o Doença de Wilson(acúmulo de cobre), hemocromatose, deficiência de alfa-1- AT, glicogenoses, tirosinemia, galactosemia, porfirias, abetalipoproteinemia. Doenças tóxico-metabólicas o Esteato-hepatites Doenças Infecciosas e Inflamatórias o Infecção pelo VHB (VHD), VHC, auto- imunidade. Criptogênicas Patogênese Três processos são essenciais: morte de hepatócitos, deposição de matriz extracelular e reorganização vascular. Principal fonte de colágeno: células estrelárias perissinusoidais. Processo mediado por citocinas inflamatórias (TNF, IL-1, TGF beta) secretadas por hepatócitos lesados e células de Kupffer ativadas. IMAGEM: Ativação da célula estrelada e fibrose hepática. A ativação da célula de Kupffer leva à secreção de diversas citocinas. O fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e o fator de necrose tumoral (TNF) ativam as células estreladas, e a contração das células estreladas ativadas é estimulada pela endotelina-1 (ET-1). A fibrose é estimulada pelo fator transformante do crescimento-β (TGF- β). A quimiotaxia das células estreladas ativadas até as áreas lesadas é promovida pelo PDGF e pela proteína-1 quimiotática de monócitos (MCP-1). Patogênese Reorganização vascular: o Perda das fenestrações das células endoteliais sinusoidais + 9 espessamento de membrana basal (alta pressão e sem trocas). o Formação de shunts veia porta-veia hepática e artéria hepática- veia porta. Consequências: hipertensão portal, ascite, hepatoesplenomegalia, varizes esofágicas, hemorróidas, "cabeça de medusa", angiomas cutâneos (spider). *o quadro inflamatório (citocinas) estimula a diferenciação das células de Itto ou estrelária perisinusoidais em miofibroblastos, que produzem MEC, substituindo o parênquima hepático funcionante por tecido conjuntivo. *reorganização vascular: a lentificação do fluxo pela fibrose aumenta a pressão no sistema porta e dificulta as trocas gasosas em níveis tecidual, isso estimula fatores angiogênicos, que formam shunts ou desvios porto-sistêmicos, que são proliferações vasculares - por isso o indivíduo apresenta as varizes esofágicas, cabeça de medusa Evolução e Consequência Insuficiência hepática crônica. Hipertensão portal e complicações. Risco aumentado para desenvolvimento de carcinoma hepatocelular. Referencias http://anatpat.unicamp.br/lamfig6.html Robbins & Cotran Patologia — Bases Patológicas das Doenças, | Vinay Kumar, MBBS, MD, FRCPath, Abul K. Abbas, MBBS and Jon C. Aster, MD, PhD,https://www.evolution.com.br/epubreader/9 788535255775