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família e cuidado - familismo

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Prévia do material em texto

Bruno Grah 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PROGRAMA MELHOR EM CASA ENQUANTO ARQUÉTIPO 
DO FAMILISMO NA POLÍTICA DE SAÚDE E SUAS NUANCES 
NO ESTADO DESANTA CATARINA 
 
 
 
Dissertação submetida ao 
Programa de Pós-graduação em 
Serviço Social (curso de 
mestrado) da Universidade 
Federal de Santa Catarina para 
a obtenção do Grau de Mestre 
em Serviço Social. 
Orientadora: ProfªDrª Keli 
Regina Dal Prá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRUNO GRAH 
 
O PROGRAMA MELHOR EM CASA ENQUANTO ARQUÉTIPO 
DO FAMILIMSO NA POLÍTICA DE SAÚDE E SUAS NUANCES 
NO ESTADO DE SANTA CATARINA 
 
 
Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de 
―Mestre em Serviço Social‖, e aprovada em sua forma final pelo 
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal 
de Santa Catarina. 
 
 
Florianópolis, 23 de fevereiro de 2018. 
 
___________________________________ 
Profª. Drª Beatriz Augusto de Paiva 
Coordenadora do Curso 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
___________________________________ 
Profª. Drª. Keli Regina Dal Prá 
Orientadora 
Universidade Federal de Santa Catarina 
 
___________________________________ 
Profª. Drª. Vilma Margarete Simão 
Universidade Regional de Blumenau 
 
___________________________________ 
Profª. Drª. Michelly Laurita Wiese 
Universidade Federal de Santa Catarina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Minha mãe, a ti dedico este trabalho e agradeço. Meu exemplo 
de força, de garra, persistência, que tem me ajudado a sempre ser um 
humano melhor. 2017 foi um ano difícil, muito difícil, uma das maiores 
batalhas enfrentaste, que começou com um incidente banal à dura 
possibilidade de perda da visão. Internação, cirurgia, transplante, lutas. 
Foi complexo e doído. Veio à tona a angustia e o sofrimento de 
vivermos isso e sentir na pele o que é cuidado. E apesar de todas as 
adversidades, segues com toda força e persistência, mostrando-me 
grandes ensinamentos. Como diria aquela música que ouvimos no dia 
das mães, 
 
Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu 
É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu 
É sobre ser abrigo e também ter morada em outros corações 
E assim ter amigos contigo em todas as situações 
A gente não pode ter tudo, qual seria a graça do mundo se fosse assim? 
Por isso eu prefiro sorrisos e os presentes que a vida trouxe pra perto 
de mimNão é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar 
e sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar. 
Também não é sobre correr contra o tempo pra ter sempre mais 
Porque quando menos se espera a vida já ficou pra trás. 
 
Obrigado, mãe. Te amo por quem tu és e pelo que me 
possibilitasses ser. 
Agradeço ao meu pai, por todo apoio que tem prestado, por 
todo zelo e atenção. Talvez não dimensiones o que representa para mim. 
Obrigado a minha irmã, a pioneira da família, primeira doutora, que 
mesmo lá no centro do Brasil torce por mim. És meu exemplo. Meu 
irmão, também te agradeço, às vezes teus conselhos duros fazem 
sentido. Também à família extensa, aos mais próximos, por todo 
incentivo e apoio. Amo todos. 
Ao Nando, parceiro, companheiro. Presente que a vida me 
proporcionou, que tem me possibilitado entender o valor da 
reciprocidade e de um sentimento puro e verdadeiro, que topou seguir 
junto e (re)escrever uma história. Eu diria que tu coube tão direitinho 
dentro do meu coração que talvez tu não tenha formato de gente, mas de 
amor. Obrigado por estar na minha vida. Te amo. 
À professora Keli, que em 2013 me acolheu prontamente como 
orientadora do trabalho de conclusão da residência hospitalar e tem me 
auxiliado com maestria na continuidade dessas venturas acadêmicas. 
Minuciosa, perfeccionista, acho que chegamos a um número de três 
cifras em versões de dissertação (risos). Hipérboles à parte, obrigado por 
partilhar seu conhecimento de forma tão horizontal e proporcionar que 
essa trajetória tenha sido mais leve com seu carisma. 
Às integrantes da banca, professoras Michelly, Regina e Vilma, 
obrigado por aceitarem o convite para tecer contribuições acerca deste 
trabalho. Seus contributos, tenho certeza, serão valiosos. Agradeço à 
professora Liliane, que contribuiu e vem contribuindo, indiretamente, no 
processo de imersão na discussão sobre famílias. Obrigado por 
proporcionar, também, a experiência do estágio docência. Estendo o 
agradecimento aos integrantes do NISFAPS, pelas reflexões 
proporcionadas. 
 Às amigas tão especiais, agradeço. À May, exemplo de mulher 
e de profissional, presença que traz conforto e leveza. À PriMathes, que 
pessoa de luz! Sempre brilhante, com boas energias, boas vibrações e 
com sábios conselhos. À Ju, presente do mestrado, amiga, parceira dos 
cappuccinos no elefante branco e de boas risadas em meio às rotinas de 
estudo. À Vi, prima e amiga, mestre nos ensinamentos e lições sobre 
fotografia, as oportunidades oferecidas são importantes pra mim. À 
Carol, parceira e amiga de graduação e de saídas fotográficas. Todas. 
Guardo-as no coração. 
Às colegas da sala 43, do PAEFI de São José: Mari, May e 
Marina. Obrigado pelos bons momentos e reflexões. Notiseasy, mas 
vocês fazem o cotidiano de trabalho ser mais leve! Às colegas da sala 
38: à Ane, dupla de trabalho, amiga, tem proporcionado reflexões e 
contribuído com seu saber psi e à Flávia, mestre da organização, colega 
de profissão. Obrigado pelos momentos do dia a dia. 
 À Universidade Federal de Santa Catarina, são nove anos de 
trajetória por essa universidade! Aos professores e equipe do Programa 
de Pós-graduação em Serviço Social pelas contribuições teóricas, ao 
CNPq e CAPES pelo apoio financeiro e apoio científico a realização do 
mestrado e da pesquisa de campo. 
Enfim, a todos os nomes citados e àqueles que porventura não 
tenham sido lembrados e que contribuíram direta e indiretamente nessa 
trajetória, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Viajar! Perder países! 
Ser outro constantemente, 
Por a alma não ter raízes 
De viver de ver somente! 
Não pertencer nem a mim! 
Ir em frente, ir a seguir 
A ausência de ter um fim, 
E da ânsia de o conseguir! 
Viajar assim é viagem. 
Mas faço-o sem ter de meu 
Mais que o sonho da passagem. 
O resto é só terra e céu. 
 
Fernando Pessoa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Promover desvelamentos no tocante à responsabilização das famílias 
pelas políticas sociais brasileiras, especialmente na área da saúde, se 
constitui o norte da presente dissertação. Para tal, problematiza-se que 
hodiernamente os cuidados prestados às pessoas com problemas de 
saúde são cada vez mais realizados pelas famílias que, no seu caráter 
informal, assume funções que ultrapassam a fronteira do trabalho 
doméstico e familiar para se caracterizar como um cuidado tecnificado, 
com a transferência dos custos desse cuidado para as famílias. Este 
fenômeno, denominado familismo, tem caracterizado as políticas 
sociais, por meio do qual a família é cada vez mais requisitada para a 
provisão do cuidado de seus familiares, contrariamente à lógica do 
cuidado como direito social a ser prestado pelo Estado. Exemplo 
máximo no âmbito da Política de Saúde é o Programa Melhor em Casa, 
cuja proposta objetiva reestruturar a atenção domiciliar no Brasil, 
direcionando o atendimento para a desospitalização de pacientes 
estáveis, em que os cuidados são realizados no lar, contando com o 
apoio de equipes de referência, sob a prerrogativa de redução dos custos 
de saúde. Ou seja, há a transferência de cuidados em saúde outrora 
realizados no âmbito hospitalar para as famílias,geralmente para a 
mulher, principal mantenedora do trabalho familiar não remunerado. 
Objetiva-se com esse estudo analisar as repercussões e particularidades 
do cuidado nas famílias incluídas no programa de atenção domiciliar 
Melhor em Casa no Estado de Santa Catarina. Os objetivos específicos 
são: caracterizar o Programa Melhor em Casa nos municípios de Santa 
Catarina; identificar as demandas dos usuários inseridos no Programa 
Melhor em Casa; identificar as formas de acesso às necessidades 
advindas do cuidado domiciliar; caracterizar as famílias incluídas no 
Programa Melhor em Casa e a estrutura de cuidado para atender às 
demandas do cuidado domiciliar.Para a realização da investigação 
lançou-se mão do enfoque qualitativo com a realização de entrevistas 
semiestruturadas como instrumento metodológico. Os sujeitos 
participantes do estudo foram membros das equipes de atenção 
domiciliar e usuários do Programa Melhor em Casa nos municípios 
catarinenses de Araranguá, Biguaçu, Blumenau, Chapecó, Jaraguá do 
Sul, Joinville, Capivari de Baixo e Maravilha. Como principais 
resultados , observou-se a prevalência de cuidadores familiares do sexo 
feminino, onde as demandas por cuidado e as requisições ao cuidador 
são mais intensas quanto maior o grau de adoecimento do dependente de 
cuidados. Viu-se que para o desenvolvimento do cuidado domiciliar, 
uma série de insumos e materiais são necessários, sendo que o acesso a 
essas necessidades são vislumbradas principalmente por meio do 
mercado e por redes informais, como a família e pessoas próximas, por 
meio de doações, principalmente pelo Estado não suprir integralmente 
as demandas do cuidado. O cuidado domiciliar congrega custos 
financeiros e emocionais para os cuidadores. Os usuários, em sua 
maioria, observam positivamente o cuidado domiciliar, mas destacam 
como pontos negativos da hospitalização a falta de suporte para o 
acolhimento dos familiares. 
 
Palavras-chave: Política Social, Sistema Único de Saúde, Familismo, 
Cuidado, Programa Melhor em Casa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Promote clarification regarding the responsibility of families for 
Brazilian social policies, especially in the area of health, it constituted 
the north of this dissertation. For this, it is problematized that the care 
given to people with health problems today is increasingly performed by 
families that, informally, assume tasks that transcend the border of 
family end domestic work, to be characterized as a technified care, with 
the transfer of the costs of this care for the families. This phenomenon, 
called familism, has characterized social policies, whereby the family is 
increasingly required for the provision of care of their families, contrary 
to the logic of care as a social right to be provided by the State. 
Maximum example in the scope of Health Policy is the ―Better at home 
Program‖, whose proposal aims to restructure home care in Brazil. This 
Program directs care for the de-hospitalization of stable patients, where 
cares are performed at home, depending with the support of reference 
teams, under the prerogative of reducing healthcare costs. That is, there 
is the transfer of healthcare once performed in the hospital to the 
families, usually by woman, who is the main maintainer of unpaid 
family work. The aim of this study is to analyze the repercussions e 
particularities of care in the families included in the home care program 
called ―Better at home‖ in the Santa Catarina State. The specific aims 
are: characterize the ―Better at home Program‖ in the Santa Catarina 
counties; identify the users request who are insert in the ―Better at home 
Program‖; identify ways of accessing the needs of home care; 
characterize the families insert in the ―Better at home Program‖ and the 
care structure to attend the requests of home care. In order to carry out 
the investigation, a qualitative approach was taken with semi-structured 
interviews as a methodological instrument. The subjects participating in 
the study were members of the home care teams and users of the ― 
Better at home Program‖ in the Santa Catarina counties such as 
Araranguá, Biguaçu, Blumenau, Chapecó, Jaraguá do Sul, Joinville, 
Capivari de Baixo e Maravilha. As main results, it was observed a 
prevalence of female family caregivers, where the request for care and 
the requisitions to the caregiver are more intense the greater the degree 
of illness of the care dependent.It has been seen that for the development 
of home care, a lot of inputs and materials are necessary, being that the 
access to this needs are achieved by market and informal nets, such as 
the relatives and close person through donations, because the State 
cannot supply fully the care demand. Home care brings financial and 
emotional costs to caregivers. The majority of users are positive about 
home care, but the negative aspect of hospitalization is the lack of 
support for the reception of relatives. 
 
Keywords: Social Policy, Unique Health System,Familism, Care, Better 
at Home Program. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1: Distribuição percentual de arranjos familiares e unipessoais 
residentes em domicílios particulares, por tipo - Brasil - 2004/ 2014. .. 65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
 
Gráfico 1: Número de internações domiciliares em Santa Catarina 
(abril/2012 a outubro/ 2015) ............................................................... 109 
 
Gráfico 2: Tipo e natureza da aquisição do domicílio - usuários 
Programa Melhor em Casa - Santa Catarina ....................................... 142 
 
Gráfico 3: Número de cômodos e dormitórios dos domicílios - usuários 
Programa Melhor em Casa - Santa Catarina ....................................... 143 
 
Gráfico 4: Número de moradores por domicílio - usuários Programa 
Melhor em Casa - Santa Catarina ........................................................ 144 
 
Gráfico 5: Componentes disponíveis no domicílio dos entrevistados- 
usuários Programa Melhor em Casa - Santa Catarina ......................... 146 
 
Gráfico 6: Insumos necessários para o cuidado e forma de acesso – 
usuários do Programa Melhor em Casa – Santa Catarina ................... 181 
 
Gráfico 7: Equipamentos necessários para o cuidado e forma de acesso – 
usuários do Programa Melhor em Casa – Santa Catarina ................... 182 
 
Gráfico 8: Meio de transporte para consultas e práticas administrativas – 
usuários do Programa Melhor em Casa – Santa Catarina. .................. 183 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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file:///C:/Users/bruno/Desktop/Pós-graduação/DISSERTAÇÃO/Dissertação%20entregue%20banca/Dissertação%20A5.docx%23_Toc508639370
file:///C:/Users/bruno/Desktop/Pós-graduação/DISSERTAÇÃO/Dissertação%20entregue%20banca/Dissertação%20A5.docx%23_Toc508639371
file:///C:/Users/bruno/Desktop/Pós-graduação/DISSERTAÇÃO/Dissertação%20entregue%20banca/Dissertação%20A5.docx%23_Toc508639371
file:///C:/Users/bruno/Desktop/Pós-graduação/DISSERTAÇÃO/Dissertação%20entregue%20banca/Dissertação%20A5.docx%23_Toc508639373
file:///C:/Users/bruno/Desktop/Pós-graduação/DISSERTAÇÃO/Dissertação%20entregue%20banca/Dissertação%20A5.docx%23_Toc508639373
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 1: Modalidades de atenção domiciliar ....................................106 
 
Quadro 2: Equipes de atenção domiciliar habilitadas/implantadas em 
Santa Catarina (2015) .......................................................................... 109 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
file:///C:/Users/bruno/Desktop/Pós-graduação/DISSERTAÇÃO/Dissertação%20entregue%20banca/Dissertação%20A5.docx%23_Toc508639521
file:///C:/Users/bruno/Desktop/Pós-graduação/DISSERTAÇÃO/Dissertação%20entregue%20banca/Dissertação%20A5.docx%23_Toc508639521
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1: Configuração do Programa Melhor em Casa em Santa 
Catarina – estrutura ............................................................................. 116 
 
Tabela 2: Configuração do Programa Melhor em Casa em Santa 
Catarina – acesso e perfil dos usuários ................................................ 126 
 
Tabela 3: Perfil dos usuários referentes à amostra do estudo .............. 134 
 
Tabela 4: Perfil dos cuidadores referentes à amostra da pesquisa ....... 137 
 
Tabela 5: Configuração familiar e renda aproximada dos usuários 
referentes à amostra do estudo ............................................................ 145 
 
Tabela 6: Processo de adoecimento dos usuários entrevistados referentes 
à amostra do estudo ............................................................................. 148 
 
Tabela 7: Rotinas de cuidado, atividades do cuidador e relação com a 
equipe do SAD referentes à amostra do estudo. .................................. 158 
 
Tabela 8: Pontos positivos e negativos no dia a dia de cuidados. ....... 168 
 
Tabela 9: Escolha do cuidador, acesso ao mercado de trabalho e 
dificuldades no dia a dia de cuidados. ................................................. 176 
 
Tabela 10: Valor aproximado dos itens necessários ao cuidado em reais
 ............................................................................................................. 186 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
AD - Atenção Domiciliar 
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
AVC - Acidente Vascular Cerebral 
AVE - Acidente Vascular Encefálico 
BPC - Benefício de Prestação Continuada 
EC - Emenda Constitucional 
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente 
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial 
CIB - Comissão IntergestoresBipartite 
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social 
DPOC - Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica 
EMAD - Equipe Multiprofissional em Atenção Domiciliar 
EMAP - Equipe Multiprofissional de Apoio 
ESF - Equipe de Saúde da Família 
EUA - Estados Unidos da América 
FMI - Fundo Monetário Internacional 
HU/UFSC - Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa 
Catarina 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INPS - Instituto Nacional de Previdência Social 
IESEV - Instituto Saúde, Educação e Vida 
KPC - KlebsiellaPneumoniaeCarbapenemase 
NASF - Núcleos de Apoio à Saúde da Família 
NISFAPS - Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Sociedade, Família e 
Política Social. 
OS - Organização Social 
OSCIP - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público 
PNAS - Política Nacional de Assistência Social 
PNS - Pesquisa Nacional de Saúde 
RIMS - Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde 
SAD - Serviço de Atenção Domiciliar 
SAMDU - Assistência Médica Domiciliar de Urgência 
SUAS - Sistema Único de Assistência Social 
SUS - Sistema Único de Saúde 
UPA - Unidade de Pronto Atendimento 
UTI- Unidade de Terapia Intensiva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................ 24 
1.1 Notas introdutórias .................................................................. 24 
1.2 O caminho metodológico do estudo e pesquisa de campo ...... 30 
1.3 Estrutura da dissertação........................................................... 41 
2 FAMÍLIA, SOCIEDADE E POLÍTICAS SOCIAIS ................ 44 
2.1 Serviço Social e os estudos sobre famílias .............................. 44 
2.2 Famílias: diversidade de discursos, imagens contraditórias .... 51 
2.3 Políticas Sociais: conformações e orientações na atualidade .. 67 
2.4 Políticas Sociais e suas interfaces com as famílias ................. 75 
3 PROGRAMAS DE ATENÇÃO DOMICILIAR E O CUIDADO 
ENQUANTO EXPRESSÕES DO FAMILISMO NA POLÍTICA DE 
SAÚDE ............................................................................................. 82 
3.1 Aproximações teóricas sobre o conceito de cuidado ............... 82 
3.2 Programas de atenção domiciliar no Brasil e a realidade de Santa 
Catarina ......................................................................................... 95 
4 REPERCUSSÕES DO CUIDADO EM SAÚDE PARA AS 
FAMÍLIAS USUÁRIAS DO PROGRAMA MELHOR EM CASA 
EM SANTA CATARINA ............................................................... 133 
4.1 Contexto dos usuários internados e de seus domicílios .......... 133 
4.1 O processo de adoecimento, as rotinas e o impacto do cuidado na 
família ........................................................................................... 147 
4.3 As formas de acesso às necessidades em saúde: a relação entre 
Estado, família e sociedade. .......................................................... 179 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... 192 
REFERÊNCIAS .............................................................................. 198 
APÊNDICE A - Roteiro de entrevista com informante-chave 
relacionado ao Programa Melhor em Casa .................................. 213 
APÊNDICE B - Roteiro de entrevista com usuários, familiares e 
familiares cuidadores. ..................................................................... 214 
APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido..... 224 
ANEXO A – Parecer consubstanciado do CEPSH ...................... 226 
 
 
 
 
 
24 
1 INTRODUÇÃO 
 
1.1 Notas introdutórias 
 
No dia 5 de outubro de 1988, no bojo de uma conjuntura 
política marcada pela correlação de forças e luta do povo brasileiro pelas 
liberdades democráticas, viu-se promulgar, no Brasil, a 7ª Constituição 
Federal, cujo texto apresentou notórios avanços no que se refere aos 
direitos individuais e coletivos. Referente à proteção social, destacou-se 
a tríade que compreende a Seguridade Social, por meio das políticas de 
Saúde, Previdência e Assistência Social, que tão logo tiveram seus 
preceitos colocados em xeque com a contrarreforma do Estado, em 
1990. Foi dado início à era de assalto às conquistas providas pela Carta 
Magna, expressadas na retração de direitos e a intensificação da família 
como instância principal na provisão do bem-estar social 
As mais diversas manifestações do ideário neoliberal tornaram-
se visíveis: reformas na Previdência Social que vieram a restringir e 
extinguir direitos; focalização, seletividade e a perspectiva minimalista 
que caracterizaram a Assistência Social. Em particular, na política de 
Saúde, foram e são vislumbradas privatizações e sucateamento dos 
equipamentos, como também a transferência de custos de cuidado em 
saúde para as famílias daqueles que necessitam de assistência. 
Desta forma, o interesse pelo presente estudo surge em discutir 
a incorporação da família pela política social brasileira através dos 
serviços, sobretudo na área da saúde, em que a família aparece como um 
elemento importante no processo saúde-doença-cuidado. Nesta seara é 
que se traz para a roda de discussão o Programa Melhor em Casa,que 
teve seu engendramento no bojo da reestruturação da atenção domiciliar 
no Brasil, corroborando para a desospitalização de pacientes estáveis e 
que necessitam de cuidados, sendo agora esses cuidados realizados no 
lar/domicílio com o apoio de equipes de referência. Ou seja, há a 
transferência dos cuidados em saúde, outrora realizados no âmbito 
hospitalar, para as famílias, ou para um membro da família (geralmente 
uma mulher) que a partir desse momento passa a ser chamado/a de 
cuidador/a. Apesar da grande veiculação do programa como um 
benefício para os usuários, não esconde a intencionalidade de 
diminuição de custos em saúde e de leitos hospitalares, sendo as 
famílias agora encorajadas a realizar a manutenção do cuidado às 
pessoas doentes ou dependentes no domicílio, acarretando em 
transferências de uma parte econômica dos cuidados para a esfera 
privada (LEANDRO, 2009). 
25 
Com a realização da pesquisa proposta para essa dissertação, 
objetivou-se analisar as repercussões e particularidades do cuidado em 
saúde nas famílias incluídas no programa de atenção domiciliar Melhor 
em Casa no estado de Santa Catarina, especificamente nos municípios 
de Araranguá, Biguaçu, Blumenau, Chapecó, Jaraguá do Sul, Joinville, 
Capivari de Baixo e Maravilha. O desenvolvimento do cuidado 
domiciliar coloca necessidades de atenção que exigem do cuidador 
disponibilidade de tempo, ocasionando reorganizações na rotina 
familiar, impactos no mercado de trabalho para aquele que cuida 
(quando o cuidador é um familiar não remunerado) e dispêndio de 
gastos com mantimentos. Os objetivos específicos concentram-se em 
caracterizar o Programa Melhor em Casa nos municípios de Santa 
Catarina; identificar as demandas dos usuários inseridos no Programa 
Melhor em Casa; verificar as formas de acesso às necessidades advindas 
do cuidado domiciliar; e caracterizar as famílias incluídas no Programa 
Melhor em Casa e a estrutura de cuidado para atender às demandas do 
cuidado domiciliar. 
A relevância na abordagem da temática apresenta novidade não 
somente pelo caráter recente do Programa Melhor em Casa no Brasil, 
como também pela escassez de estudos sobre o citado programa no 
Estado de Santa Catarina. Quando se pesquisa artigos referentes à 
atenção domiciliar, é recorrente a discussão que ovaciona os pontos 
positivos do cuidado ser realizado no lar, mas poucos deles que 
demonstrem as repercussões para as famílias, os impactos na vida dos 
cuidadores e a problematização dos gastos. Plausivelmente, cita-se 
Oliveira e Krause (2017, p.2) ao referirem o porquê do estudo sobre os 
Programas de Atenção Domiciliar: 
 
[...] entender como foram se constituindo as 
políticas que inventam o cuidado de pessoas em 
sua casa, e como tais discursos oficiais constituem 
a saúde e a doença no domicílio de pessoas que 
necessitam de cuidados, implica seguir na 
contramão do discurso e olhá-lo de fora, de modo 
a ver seu funcionamento, suas finalidades, 
duvidando de suas obviedades. Justificamos o 
termo ‗contramão‘, pois entendemos que, como 
profissionais de saúde, somos considerados 
agentes estatais para realizar intervenções 
biopolíticas que garantam a vida das pessoas. No 
lugar de dizer que é ‗melhor em casa‘, como 
dizem os estudos, este estudo de inspiração 
26 
genealógica colocou sob suspensão a questão da 
gênese, das continuidades, não se tratando de 
recusá-las definitivamente, mas de sacudir a 
quietude a partir da qual as aceitamos, além de 
mostrar que elas não se justificam por si mesmas, 
mas que são o efeito de uma construção cujas 
regras devem ser conhecidas e as justificativas 
controladas. 
 
Reconhece-se que o estudo apresenta aspiração Foucaultiana, 
cujo matiz de análise não foi a escolha para as reflexões deste trabalho, 
mas a citação em sua generalidade expressa o cerne sob o qual a 
presente dissertação se constrói, ou seja, na contramão dos discursos 
oficiais, dos discursos naturalizados acerca das responsabilidades 
familiares, entrando em suas nuances e mostrando a outra face da 
atenção domiciliar. O viés da dissertação volta-se para a proposição de 
reflexões que alterem intervenções no sentido da desnaturalização do o 
cuidado como algo inerente à família e de ampliação da concepção de 
cuidado como um direito, cuja ressonância pretende-se que alcance os 
serviços e aos profissionais de modo a permitir a relativizaçãodas 
responsabilidades familiares como algo natural. Ademais, reforça-se que 
a pesquisa possuiu amplitude estadual, pois foirealizada em todos os 
municípios que possuem o programa, o que confere informações que 
contemplam as diferentes realidades e permitem visualizar as distintas 
estruturas em cada município. 
Levando-se em conta a distribuição geográfica dos municípios, 
localizados no norte, sul e oeste catarinense, com distâncias de até 500 
km de Florianópolis, a realização da pesquisa foi possível com o 
financiamento obtido com o projeto de pesquisa ―Política Social e 
acesso à justiça: um estudo sobre a judicialização das demandas sociais 
de saúde e assistência social‖, aprovado na chamada CNPq/ MCTI Nº 
25/2015 Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas. Tal projeto é 
coordenado pela orientadora Professora Doutora Keli Regina Dal Prá, e 
por meio dele se viabilizou o deslocamento e a estadia nos municípios. 
Não menos importante, destaca-se que a presente dissertação se vincula 
ao ensejo coletivo e discussão acerca da temática política social e 
família, por meio do NISFAPS, em que este núcleo de pesquisa reúne 
professores, alunos de graduação e pós-graduação e profissionais de 
diferentes áreas, que buscam produzir conhecimento e torná-lo acessível 
aos interessados na temática proposta. 
27 
O ensejo para a realização da presente dissertação tem seus 
motivadores na construção de uma trajetória profissional, 
hodiernamente ainda incipiente, iniciando durante a formação 
acadêmica com a aproximação com as discussões sobre Família e 
Política Social. Tais discussões tiveram assento no sexto período, com a 
disciplina Serviço Social: Famílias e Segmentos Sociais Vulneráveis. Os 
seus conteúdos trouxeram aproximações com conceitos e categorias 
circundantes ao tema, que alargavam os horizontes para discussões 
teóricas em outras disciplinas além da fronteira do comumente 
observado na formação em Serviço Social. Posteriormente, com a 
primeira aproximação enquanto assistente social numa instituição 
hospitalar, aqueles conteúdos, antes despercebidos, dimensionaram 
ressonância e materializaram sentido nas minucias da intervenção 
profissional. 
 Não obstante, desde a graduação, com o contato com debates 
referentes à formação e exercício profissional em Serviço Social, tem-se 
atentado para a dimensão interventiva e assumindo o compromisso 
acadêmico e profissional relativo aos temas, mormente relegados a 
segundo plano, tratados de forma residual e pouco valorizados no 
mundo acadêmico, embora uivantes e latentes nos campos de trabalho. 
Em 1992, Iamamoto (1992, p.123) já sinalizava que o ensino da prática, 
muitas vezes considerado o ―patinho feiro‖, ―tem sido tratado como um 
problema de segunda categoria, decorrente dos estigmas praticistas com 
que vem sendo analisado‖. Arrisca-se dizer que não somente o ensino da 
prática carrega este estigma, mas temas específicos que o integram e que 
têm efervescência na ação profissional, como aspectos de gênero, 
sexualidade, subjetividade, sofrimento, relações familiares, dentre 
outros. 
 Importa destacar que o que se tem visto nas produções 
contemporâneas no Serviço Social é a valorização de conhecimentos no 
plano da abstração da Economia Política em detrimento de 
sistematizações que contemplem aspectos referentes ―[...] à contradição 
ou o movimento de continuidades e rupturas que tem alimentado a 
dimensão interventiva da profissão [...]‖ (SARMENTO, 2014, p.162).Os assistentes sociais, diante da diversidade de demandas do cotidiano 
profissional, no anseio de respostas a estas demandas e por falta de 
elementos teóricos que abarquem o tempo miúdo da profissão, tendem a 
recorrer ao senso comum, às experiências culturais e de vida (SOUZA, 
2010). O propósito da discussão que aqui se coloca e que incita a crítica 
pauta-se na necessidade de trabalhar a unidade entre as dimensões da 
profissão, materializadas em produções teóricas que embasem os 
28 
profissionais para uma intervenção crítica e com competência. 
Entendendo a ação profissional como um conjunto de atos e atividades 
pertinentes a determinada profissão, que contém uma dimensão 
operativa e que se expressa no momento em que se realiza os 
fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos da profissão em 
um determinado momento histórico (MIOTO, 2001), é que se traz à 
baila o tema Família e Política Social. Temas como estes expressam 
latência nos espaços sócio-ocupacionais, apesar de tratados de forma 
residual na formação profissional, e cobram apreensão crítica dos 
profissionais para o desenrolar de uma ação profissional ética e política 
comprometida com as demandas dos usuários. Portanto, ainda que não 
seja objetivo problematizar a ação profissional com famílias, entende-se 
que discutir a temática poderá contribuir para engrossar o caldo de 
discussões referentes a essa asserção e, deste modo, contribuir para a 
produção de conhecimento que norteie teórica e metodologicamente a 
ação profissional dos assistentes sociais. 
 Ipso facto, discutir a responsabilização das famílias pode 
fornecer elementos para a reflexão das práticas dos assistentes sociais. 
Os serviços sociais são espaços privilegiados de atuação profissional e 
conhecer os processos de responsabilização das famílias lança luz ao 
entendimento desses processos, permitindo o tensionamento quanto a 
naturalização das responsabilidades familiares, tão presente na política 
social e na intervenção dos profissionais (MIOTO; DAL PRÁ, 2015). 
 Retoma-se que a experiência profissional no âmbito hospitalar, 
consubstanciada na atuação enquanto assistente social junto ao 
Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (RIMS) 
do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina 
(HU/UFSC) no período entre 2013 e 2014
1
, trouxe marcadamente os 
 
1
O programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde se constitui 
em pós-graduação lato sensu e tem como peculiaridade a formação em serviço. 
Desta forma, são desenvolvidas atividades práticas (40 horas semanais) e 
teóricas (20 horas semanais), totalizando 60 horas semanais de atividades 
teórico/práticas. Neste processo, o estudante/ profissional é acompanhado por 
profissionais (preceptores) e professores (tutores). Na particularidade do 
HU/UFSC, a residência se divide em três áreas de concentração: Alta 
Complexidade, Saúde da Mulher e da Criança e Urgência e Emergência. A 
experiência profissional enquanto residente foi realizada na área de Alta 
Complexidade, que abrangia as Clínicas Cirúrgicas (com as políticas de alta 
complexidade cardiovascular e para o paciente com obesidade grave), Clínicas 
Médicas (com a política de oncologia e hematologia), Unidade de Terapia 
Intensiva, Unidade de Tratamento Dialítico e Transplante Hepático. 
29 
espectros da responsabilização das famílias pelas políticas sociais, 
reavivando aquela discussão da proteção social estatal e a relativização 
da naturalização das responsabilidades familiares, muitas vezes sendo 
uma discussão solitária no circuito multiprofissional e não raramente, 
junto à própria categoria profissional do Serviço Social. No solo dessa 
trajetória, materializou-se o Trabalho de Conclusão de Residência 
intitulado ―Repercussões da atenção em saúde para a família: um estudo 
com pacientes crônicos em pós-operatório de amputação de membros 
inferiores‖ (GRAH, 2015), à mesma época em se iniciou o 
aprofundamento teórico da discussão sobre Família e Política Social 
com a inserção no Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Sociedade, 
Família e Política Social (NISFAPS). Em 2015, com a vinculação ao 
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, prosseguiu-se com as 
discussões, desta vez tendo como norte de estudo o Programa Melhor 
em Casa, com o intuito de promover desvelamentos no tocante à 
responsabilização das famílias no âmbito dos cuidados em saúde. 
 Ainda com relação ao estudo, introduzem-se brevemente as 
ideias norteadoras das discussões, as quais o mote de análise norteia-se 
para o entendimento de que na cena contemporânea é observado o 
aumento da longevidade da população e com ela também o aumento das 
doenças crônicas e degenerativas. Neste cenário, a família é cada vez 
mais incentivada a fazer a gestão do cuidado em saúde dos seus 
membros. De acordo com Leandro (2009, p.15) ―a explosão dos gastos 
estatais com saúde conduz, desta maneira, a encorajar a manutenção das 
pessoas doentes ou dependentes no domicílio, transferindo uma parte 
econômica dos cuidados para a esfera privada‖. Desta forma, os 
cuidados prestados às pessoas com dependência para o autocuidado são 
cada vez mais realizados pelas famílias que, no seu caráter informal, 
vem assumindo funções que caracterizarem cada vez mais como um 
cuidado tecnificado. Esse fenômeno que corresponde à transferência de 
responsabilidades às famílias se poderia denominar de familismo 
(ESPING-ANDERSEN, 1991) e vêm caracterizando as políticas sociais, 
por meio do qual a família vem sendo cada vez mais requisitada para a 
provisão do cuidado de seus familiares, contrariamente à lógica de um 
cuidado na ordem do direito que deveria ser prestado pelo Estado. 
 Acerca da materialização dos processos de responsabilização no 
interior das famílias, lança-se mão da discussão teórica que compreende 
a realização de cuidados por meio do trabalho familiar não remunerado, 
essencialmente feminino. No âmbito das políticas sociais vai se observar 
que a família se caracteriza enquanto um dos pilares do bem-estar 
social, sendo o cuidado prestado pelas mulheres no interior das famílias 
30 
um dispositivo recorrente nas políticas sociais. Carloto (2015) aborda a 
diferença entre os conceitos referentes a trabalho doméstico e trabalho 
familiar, referindo o último como abrangente e que contempla também o 
trabalho doméstico, abarcando também todos os trabalhos necessários à 
reprodução da vida cotidiana das famílias e dos seus membros. Aqui, se 
destacaria também o trabalho necessário à interlocução com políticas 
públicas e programas, que se refere aos burocrático-administrativos que 
são necessários para o uso dos serviços, como por exemplo, os tempos 
de espera, a organização e busca de documentos e o cumprimento de 
condicionalidades dos programas. 
 Neste sentido, nas situações de internação domiciliar, são 
vislumbradas necessidades que tendem a gerar sobrecarga na pessoa que 
o presta, como também gastos com materiais e insumos quando os 
serviços públicos não alcançam essas necessidades demandadas.Os 
serviços de atenção domiciliar ―são veiculados como grande alternativa 
para o bem-estar do paciente, mas não escondem o seu objetivo que é a 
diminuição de custos. [...] A produção de cuidado passa a ser 
‗tecnificada‘, com a transferência de tecnologia de cuidados à família 
[...]‖ (MIOTO, 2012, p.133). 
 
1.2 O caminho metodológico do estudo e pesquisa de campo 
 
[...] o objeto das ciências sociais é essencialmente 
qualitativo. Se falamos de Saúde ou Doença, essas 
categorias trazem uma carga histórica, cultural, 
política e ideológica que não pode ser contida 
apenas numa fórmula numérica ou num dado 
estatístico [...] (MINAYO, 1998, p.21). 
 
Para a realização da investigação lançou-se mão do enfoque 
qualitativo que, segundo Minayo (1998, p.10)é entendido como aquele 
capaz ―[...] de incorporar a questão do significado e da intencionalidade 
como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas 
últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, 
como construções humanas significativas‖. Neste sentido, entende-se 
que a pesquisa qualitativa, no âmbito das Ciências Sociais, oferece 
subsídios para a busca de respostas para questões muito particulares, 
preocupando-se com um nível de realidade que não pode ser 
quantificado. Interessa-se pelos espaços mais profundos das relações, 
ultrapassando o aparente e a quantificação de fenômenos e processos 
31 
que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis 
(MINAYO, 2002). 
Outra característica que diferencia as pesquisas qualitativas das 
experimentais está nas formas de validade e na legitimidade do 
conhecimento produzidos por aquelas. Segundo Chizzotti (1991), a 
abordagem qualitativa parte do pressuposto de que há uma relação 
indissociável e dinâmica entre o mundo real e o sujeito e um vínculo 
entre o mundo objetivo e a subjetividade. Deste modo, o conhecimento 
não se limita a um conjunto de dados isolados que se conectam por uma 
teoria explicativa e o objeto não é um dado inerte e neutro, pelo 
contrário, ―está possuído de significados e relações que sujeitos 
concretos criam em suas ações‖ (CHIZZOTTI, 1991, p.79). 
A primazia na pesquisa qualitativa está no aprofundamento da 
compreensão de um fenômeno social por meio da realização de 
entrevistas em profundidade e análises qualitativas dos discursos dos 
atores envolvidos nos fenômenos, e isso não relacionado à busca de 
opiniões representativas e objetivamente mensuráveis de um grupo 
(RICHARDSON, 1999). Indica também a aproximação fundamental e 
de intimidade que há entre o sujeito e o objeto, sendo ambos 
pertencentes à mesma natureza. Ou seja, a pesquisa com abordagem 
qualitativa se envolve com a empatia dos motivos, com as intenções, os 
projetos dos atores a partir das quais as relações vão se tornando 
significativas (MINAYO; SANCHES, 1993, p.244). 
Com base na assertiva, entendeu-se que o prosseguimento com 
a discussão sobre as expressões do familismo no Programa Melhor em 
Casa exigiu entrever suas particularidades, as diferentes configurações 
que a responsabilização da família assume no programa e de que forma 
se relacionam. O estudo congregou a apreensão da realidade em sua 
totalidade, as formas como as opções políticas e econômicas rebatem 
nas políticas sociais, na qual o processo de responsabilização das 
famílias é uma dimensão que não pode ser desvinculada, bem como as 
repercussões na realidade dos sujeitos, ou seja, entende-se que as 
singularidades a serem apreendidas dos sujeitos entrevistados se 
articulam com uma complexidade maior a qual pertence a realidade 
social. Nesse interim, a categoria mediação oferece subsídios para se 
estabelecer as relações que se processam entre os diferentes aspectos da 
realidade, relações essas entre os usuários do programa, com os 
profissionais e com os serviços. 
Com base na natureza do estudo qualitativo, utilizou-se da 
entrevista semiestruturada como instrumento metodológico, cujo 
32 
roteiro de entrevistas encontram-se nos Apêndices A e B ao final do 
trabalho. A entrevista semiestruturada pode ser entendida como 
 
aquela que parte de certos questionamentos 
básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que 
interessa à pesquisa, e que, em seguida, oferecem 
amplo campo de interrogativas, fruto de novas 
hipóteses que vão surgindo à medida que se 
recebem as respostas do informante (TRIVIÑOS, 
2006, p.146). 
 
De certa maneira, diz-se que as entrevistas semiestruturadas 
mesclam perguntas abertas e fechadas, de modo que o informante tem a 
possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. Nesse sentido, o 
pesquisador deve seguir um conjunto de questões previamente definidas, 
contudo, há a possibilidade de explorar e aprofundar os temas das 
questões no decorrer do processo. Favorece ainda maior proximidade 
entre o entrevistador e o entrevistado, o que permite serem abordados 
temas mais complexos (BONI; QUARESMA, 2005). 
As entrevistas tiveram como sujeitos participantes os 
familiares cuidadores informais e formais (quando era o caso), como 
também os próprios usuários quando tinham possibilidade de interagir 
no momento da entrevista. Para tal, foram estipulados alguns critérios de 
inclusão dos usuários a serem entrevistados: mais de seis meses de 
internação; o usuário, quando entrevistado sozinho ou com cuidador 
formal, não poderia apresentar comprometimento intelectual; e sorteio 
para estipulação de uma amostra aleatória de até cinco famílias. 
Também foram entrevistados os profissionais de referência 
integrantes da equipe (coordenadores ou não do programa) com o intuito 
de obter um panorama do programa em cada município. Esse 
profissional foi denominado informante-chave. 
No que diz respeito à abrangência do estudo,foi estadual, com 
realização nos municípios de Araranguá, Biguaçu, Blumenau, Chapecó, 
Jaraguá do Sul, Joinville, Capivari de Baixo e Maravilha. Ou seja, 
abrangeu-se a totalidade de municípios com equipe de atenção 
domiciliar implantada até a finalização desta dissertação. 
Após coleta das informações da pesquisa, procedeu-se a análise 
dos dados obtidos. A análise de conteúdo se torna uma ferramenta 
importante na perspectiva da pesquisa qualitativa na medida em que 
permite a descoberta do que não está aparente, daquilo que se apresenta 
por trás dos conteúdos manifestos (MINAYO, 2002). No primeiro 
33 
momento realizou-se a leitura inicial dos dados extraídos das 
entrevistas, objetivando uma pré-análise do conteúdo (GIL, 1991). Nos 
dizeres de Minayo (2002), uma leitura do material selecionado, com o 
objetivo de ter uma visão de conjunto como também apreender suas 
particularidades. Posteriormente, fez-se o exercício de desvendar o 
conteúdo subjacente ao que está sendo manifesto, num exercício de ir 
além das falas e dos fatos, por meio do que se denomina exploração do 
material (MINAYO, 2002). Posteriormente, realizou-se o tratamento do 
material coletado no ensejo de avançar para uma análise com o objetivo 
de articular os conteúdos com conceitos da teoria que lançará luz às 
discussões realizadas com o desenvolvimento da pesquisa. Esta fase 
pode ser denominada de elaboração de síntese interpretativa, onde após 
a decomposição do conjunto de material de pesquisa em unidades, 
caminha-se para uma síntese, principalmente através da articulação entre 
os objetivos do estudo previamente delimitados, o referencial teórico 
adotado para a pesquisa e os dados empíricos coletados (MINAYO, 
2002). 
Concernente aos aspectos éticos destaca-se que a pesquisa foi 
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da 
UFSC, sob o parecer n 1.849.609, na data de 05 de dezembro de 2016. 
Ainda acerca do tema em questão, as entrevistas foram realizadas com a 
leitura e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido 
(presente no Apêndice C), bem como a ida aos municípios se deu a 
partir de autorização da coordenação do programa e ou Secretaria 
Municipal de Saúde. 
Aqui, salienta-se que durante o processo de escrita desta 
dissertação, entreviu-se a necessidade de explicitar a opção de 
construção da metodologia que, como se verá, apresenta as minucias do 
processo de coleta destes dados. Destarte, a descrição do processo 
materializa o ensejo de superar a mera descrição e conceituação 
metodológica para um esforço de explicitar a riqueza que se revela no 
caminhada da pesquisa e a dinamicidade da realidade, característica tão 
peculiar e intrínseca à pesquisa qualitativa que não é controlável e fiel 
ao que foi planejado a priori. Entreveem-se com frequência nos 
trabalhos acadêmicos os processos da pesquisa fielmente conceituados 
com poucaabordagem sobre a operacionalização do processo e sobre os 
miúdos presentes no percorrer deste caminho. 
 
Partindo da concepção de que método é um 
procedimento ou caminho para alcançar 
determinado fim e que a finalidade da ciência é a 
34 
busca do conhecimento, podemos dizer que o 
método científico é um conjunto de 
procedimentos adotados com o propósito de 
atingir o conhecimento (PRODANOV; FREITAS, 
2013, p. 24). 
 
Levando-se em conta a dinamicidade que é característica da 
pesquisa qualitativa, cabe elucidar que as decisões tomadas no decorrer 
da pesquisa, muitas vezes foram diferentes daquelas estipuladas no 
processo inicial. Ora, se o método adotado se afina à perspectiva 
dialética essas mudanças não assustam. Em síntese, pode-se considerar 
que ―[...] o método dialético parte da premissa de que, na natureza, tudo 
se relaciona, transforma-se e há sempre uma contradição inerente a cada 
fenômeno‖ (PRODANOV; FREITAS, 2013, p.35). Nesse tipo de 
método, o pesquisador estuda o objeto sem a premissa de entender o 
conhecimento como algo rígido, entendendo que a realidade e que tudo 
no mundo está sempre em constante mudança, observando-se as 
mudanças qualitativas que se opõe ―[...] a qualquer modo de pensar em 
que a ordem quantitativa se torne norma‖ (PRODANOV; FREITAS, 
2013, p.24). 
Importante destacar que para a seleção dos sujeitos participantes 
da pesquisa, especificamente os usuários do programa, havia se pensado 
previamente em acessar a listagem de beneficiários e realizar um 
sorteio, que se poderia chamar de amostra aleatória simples
2
, realizando-
se a amostragem após a aplicação dos critérios de inclusão, como ter 
mais de seis meses de internação e usuário sem comprometimento 
intelectual quando entrevistado sozinho ou com cuidador formal. 
Contudo, no decorrer da pesquisa o que se concretizou foi a realização 
de uma amostragem por acessibilidade ou por conveniência
3
, haja vista 
que em sua maioria as entrevistas com os familiares foram realizadas na 
 
2
De acordo com Prodanov e Freitas (2013, p.99), nesse tipo de amostragem 
―cada elemento da população tem oportunidade igual de ser incluído na 
amostra. A amostragem aleatória simples é o procedimento básico da 
amostragem científica. Podemos dizer mesmo que todos os outros 
procedimentos adotados para compor amostras são variações deste‖. 
3
 Esta amostragem se apresenta menos rigorosa e são destituídas de qualquer 
rigor estatístico. Os elementos da pesquisa serão selecionados de acordo com 
aqueles que o pesquisador tem acesso, pesando-se esses elementos como 
representativos do universo. Esse tipo de amostra é usado em estudos 
exploratórios ou qualitativos que não requerem elevado nível de precisão 
(PRODANOV; FREITAS, 2013). 
35 
oportunidade da visita dos profissionais do programa, seguindo-se a 
rotina de trabalho. 
No início de julho de 2016, durante uma semana, foram 
realizados contatos telefônicos com os municípios que dispõem do 
Programa Melhor em Casa no Estado de Santa Catarina, cujo objetivo 
foi realizar uma aproximação inicial e solicitar informações básicas 
acerca da estrutura de seus serviços. Elaborou-se um roteiro de questões 
norteadoras, que continham informações sobre a existência das equipes 
nos municípios, os profissionais integrantes das equipes, o local de 
funcionamento, o número de usuários atendidos mensalmente, o nome 
do coordenador e o contato principal. Primeiramente realizou-se a busca 
dos números de telefone nos sites das secretarias de saúde de cada 
município para posteriormente realizar os contatos telefônicos. Nesse 
percurso de trabalho, enfrentou-se dificuldades em estabelecer contatos 
com algumas equipes, ora por problemas técnicos nos contatos 
realizados, ora pela indisponibilidade das equipes que, na ocasião, 
muitas vezes estavam em visitas domiciliares relacionadas ao programa. 
Salienta-se que na fase exploratória da construção do projeto de 
pesquisa, não foram encontradas informações consistentes sobre a 
coordenadoria dos programas de atenção domiciliar a nível estadual, 
sendo que o site da Secretaria Estadual de Saúde de Santa Catarina 
carecia de informações acerca da temática. De antemão, por meio destas 
informações preliminares, percebeu-se que os programas de atenção 
domiciliar apresentam uma multiplicidade de arranjos e configurações, 
não sendo homogêneos e possuindo diferentes nomenclaturas (a 
exemplo do Programa Saúde em Casa, de Chapecó). Deste modo, 
elucubra-se que esses diferentes arranjos abrem margem para diferentes 
formas de as famílias serem responsabilizadas pelo cuidado. 
Essa atividade inicial, para além de efetivar uma primeira 
aproximação entre o pesquisador e a realidade a ser estudada, permitiu 
vislumbrar algumas dificuldades que algumas equipes encontram em 
seus cotidianos de trabalho, como por exemplo, a redução das equipes e 
profissionais. 
No tocante ao material coletado, realizaram-se 21 entrevistas
4
, 
sendo 15 com usuários ou cuidadores e oito com informantes-chave. A 
média de duração das gravações das entrevistas foi de 50 minutos cujas 
transcrições resultaram em cerca de 191 páginas de informações 
 
4
 As entrevistas foram realizadas pela equipe de pesquisa, sendo, o mestrando 
Bruno Grah e as professoras Keli Regina Dal Prá e Michelly Laurita Wiese. 
36 
referentes a realidade de saúde e cuidados dos usuários e 87 páginas 
referente a realidade dos programas indicadas pelos informantes-chave. 
O primeiro município a ser aplicada a entrevista e deste modo, 
onde foi realizado o pré-teste
5
, foi Biguaçu. A atividade foi realizada 
em agosto de 2016 e se aplicou o roteiro com a coordenadora do 
programa nasede do Instituto Saúde, Educação e Vida (ISEV), onde 
também funcionavam outras coordenações na área da saúde, como 
oNúcleo de Apoio à Saúde da Família(NASF). A entrevista foi realizada 
na sala do Programa Melhor em Casa que tinha um tamanho médio, 
possuía dois computadores, uma mesa de reuniões, algumas prateleiras 
com materiais para curativos e medicações e acomodava todos os 
profissionais da equipe. A entrevista com os familiares foi realizada em 
outra ocasião, agendada posteriormente e realizada em outubro de 2016. 
Para a escolha das famílias, foi realizado um sorteio, em que se atribuiu 
um número para cada paciente do programa e se pediu para que um dos 
técnicos, que estava fora da sala, proferisse três números, 
aleatoriamente, dentre aqueles que correspondiam ao número de 
familiares. Tendo sido realizado o sorteio, os pesquisadores e uma 
profissional técnica em enfermagem do programa saíram à campo, 
usando como transporte carro próprio da equipe de pesquisa. 
 Também em outubro se realizou a coleta de dados nos serviços 
de atenção domiciliar de Blumenau, Joinville e Jaraguá do Sul, cuja 
aplicação das entrevistas foi realizada pela equipe de pesquisa, que foi 
aos municípios com transporte próprio. O primeiro município visitado 
foi Blumenau e o contato inicial foi com a coordenadora do Serviço de 
Atenção Domiciliar (SAD). Ao chegar ao local de aplicação da 
entrevista a coordenadora informou que as três equipes de profissionais 
do serviço aguardavam para uma conversa inicial. Os participantes 
passaram então para a sala coletiva de trabalho (sala ampla sem divisões 
com ilhas de trabalho) das equipes. Estavam presentes nesse momento 
integrado profissionais das diferentes áreas da saúde que atuam no 
serviço (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes 
sociais, fisioterapeutas, etc). Inclusive as equipes não saíram para as 
visitas domiciliares em função da chegada dos pesquisadores ao SAD. 
 
5
 Segundo Prodanov e Freitas (2013, p.106), o ―[...] pré-teste refere-se ao testedo questionário (entrevista) em uma pequena amostra de entrevistados, com o 
objetivo de identificar e eliminar problemas potenciais‖. Salienta-se que após a 
aplicação do pré-teste não houve necessidade de alterações no roteiro 
deentrevista e os materiais coletados foram incorporados aos dados oficiais da 
dissertação. 
37 
Iniciou-se apresentando o objetivo da visita ao serviço, informando 
sobre o desenvolvimento da pesquisa e na sequencia alguns 
questionamentos aos profissionais sobre a rotina do trabalho, 
organização territorial, quantidade e perfil dos usuários do serviço, 
questões que foram abordadas novamente na entrevista com a 
coordenadora do SAD. Os profissionais de saúde também questionaram 
sobre os objetivos do estudo. Após este contato inicial, realizou-se as 
entrevistas. Uma pesquisadora permaneceu na sede do SAD para a 
entrevista com a coordenadora e outra acompanhou uma das equipes de 
saúde na visita domiciliar a um dos usuários. 
Para realizar a visita a uma das famílias internadas no SAD, a 
coordenação do serviço já havia destacado uma equipe específica que, 
por sua vez, também já havia pré selecionado três famílias de sua área 
de abrangência para participar do estudo. Dentre os critérios de seleção 
utilizados pela equipe o preponderante foi ser uma família onde o 
cuidador tinha boa compreensão acerca dos cuidados e do serviço e que, 
desta forma, conseguiria explanar sobre os questionamentos do roteiro 
de entrevista. Das famílias elencadas, uma tinha ―problemas sociais‖, ou 
seja, apresentava questões de vulnerabilidade social e de conflitos 
familiares. Ao final, a definição da família a ser visitada foi por conta da 
proximidade. 
Uma questão importante foi o tempo de permanência dos 
usuários no SAD. Em Blumenau o usuários não fica vinculado ao SAD 
mais do que três meses, a não ser raras exceções. A prerrogativa do 
serviço é atender de modo imediato às situações que necessitem de 
atenção ao estarem no domicílio a fim de capacitar os cuidadores para a 
continuidade do cuidado e reorganização da família diante da nova 
situação de saúde. Esta era a condição da família visitada, ou seja, uma 
internação domiciliar recente (aproximadamente um mês) onde a família 
ainda não possui uma rotina de cuidados estabelecida. 
A ida até o domicilio da família foi realizada no veículo do 
SAD e acompanhada por três profissionais de saúde (duas enfermeiras e 
um técnico de enfermagem), além do motorista. Na chegada ao 
domicílio, a própria equipe de saúde abriu o portão sem solicitar 
autorização da família, adentrando no terreno da casa com o carro. No 
contato inicial, a equipe do SAD apresentou a pesquisadora. A dinâmica 
se dividiu entre a entrevista com a filha da usuária do SAD, na cozinha 
da casa, enquanto os profissionais realizavam os procedimentos de 
saúde no quarto. A entrevista com a filha foi mais longa do que os 
procedimentos da equipe. Após a finalização da entrevista, retornou-se 
ao SAD, onde a outra pesquisadora já havia finalizado a entrevista com 
38 
a coordenadora e então seguiu-se para Joinville para continuidade da 
pesquisa. 
No SAD de Joinville as pesquisadoras foram recebidas na sede 
do serviço pela enfermeira do programa. Haja vista que o SAD não 
possuía uma coordenação específica, foi sugerido que as pesquisadoras 
conversassem com a assistente social que é a profissional da equipe que 
atuava há mais tempo no programa. Assim, uma pesquisadora 
entrevistou a profissional de serviço social enquanto a outra saiu com a 
equipe de profissionais para as entrevistas com as famílias. 
As famílias entrevistadas foram selecionadas a partir da rotina 
de trabalho da equipe. Ou seja, seguiu-se a rotina dos usuários 
agendados para a manhã do dia. Os profissionais da equipe que a 
pesquisadora acompanhou foram dois técnicos de enfermagem, além do 
motorista. Os técnicos de enfermagem relataram que o município de 
Joinville aderiu ao SAD e, ao receber o financiamento para montar o 
programa e a gestão não o fez, utilizando os recursos em outras 
atividades. Por essa irregularidade o município foi obrigado a um termo 
de ajuste de conduta, e atualmente conta com somente uma equipe de 
profissionais, sendo que o número inicial era de três equipes. O número 
de usuários também é baixo, em torno de 16 pessoas atendidas. 
A primeira entrevista foi na casa de uma usuária acamada, 
cuidada pela filha e pela bisneta. A entrevistada, neta da usuária, não 
aceitou que fosse gravada a entrevista efoi sucinta nas informações 
prestadas, sem muitos detalhes, principalmente sobre as questões dos 
custos do cuidado. A chegada da equipe de saúde no domicílio foi 
similar ao observado em Blumenau. Os técnicos de enfermagem 
entraram na casa sem aguardar a recepção da moradora onde foram até o 
quarto para atender a usuária. Os atendimentos do SAD foram mais 
rápidos do que o tempo que se levou para realizar a entrevista com a 
familiar. 
Após, seguiu-se para o segundo domicílio. Neste caso, 
entrevistou-se a cuidadora formal da usuária que havia sido contratada 
há poucos dias. Ela foi contratada pela família e recebe remuneração 
para as atividades que desenvolve. No momento da entrevista não havia 
outro familiar no domicílio. Então, devido ao pouco vínculo da 
cuidadora as informações sobre a dinâmica dos cuidados com a família 
ficou prejudicada. Finalizada a entrevista, que também demorou mais 
tempo do que o atendimento da equipe, retornou-se à sede do SAD. Já 
havia sido finalizado a entrevista com a profissional de serviço social 
referente aos dados do serviço. Observou-se que o SAD em Joinville 
parece enfrentar problemas de operacionalização devido às dificuldades 
39 
na implantação das equipes, conforme indicaram os profissionais de 
saúde acompanhados e devido aos fatos de não possuir uma 
coordenação, contratos diferenciados para o trabalho do médico e o 
baixo número de usuários. 
No mesmo dia, aplicou-se a entrevista no município de Jaraguá 
do Sul. Ao chegar ao município, as pesquisadoras foram recebidas pelo 
coordenador do programa. Após manifestarem interesse em entrevistar 
famílias inseridas no SAD, o coordenador informou que não seria 
possível, pois o enfermeiro que sairia para as visitas faltou ao trabalho 
por problemas de saúde. A dinâmica do trabalho no SAD de Jaraguá do 
Sul compreende os atendimentos domiciliares regulares no período da 
manhã e na parte da tarde os atendimentos de urgência (caso ocorram) e 
as visitas de ingresso no serviço. Assim, em Jaraguá do Sul não foi 
possível entrevistar familiares e ou usuários do SAD. Destarte, realizou-
se somente a entrevista com o coordenador do serviço. 
As entrevistas em Chapecó e Maravilha foram realizadas pelo 
mestrando em abril de 2017, com agendamentos dos horários com os 
dois municípios nas semanas anteriores à viagem. Chegou-se em 
Chapecó no dia anterior ao agendado e na ocasião foi-se à sede do SAD 
para reconhecimento do espaço e confirmação da pesquisa. No dia 
seguinte, foi à sede do programa, em que no mesmo prédio funcionam 
outros setores e serviços da prefeitura. O prédio está localizado abaixo 
das arquibancadas da Arena Condá, que é o estádio de futebol do 
município. A coordenadora recebeu o pesquisador na sala do programa, 
que é dividida por móveis (armários). Nos fundos da sala havia uma 
mesa, alguns armários e materiais. Local este que também servia de 
copa para os funcionários. No momento havia outros profissionais 
(médico, enfermeiro e fisioterapeuta), que estavam na sala de trabalho, 
correspondente à frente da grande sala. Após a entrevista com o 
informante-chave, aguardou-se para a realização da entrevista aos 
familiares. Acordou-se com a coordenadora que o pesquisador 
acompanharia a equipe e na ocasião aplicaria as entrevistas. O SAD de 
Chapecó dispõe de apenas um veículo para a realização das visitas. As 
equipes são divididasem dois turnos para a realização das visitas e em 
média são realizadas oito visitas por período. Naquele dia seriam 
realizadas oito visitas domiciliares divididas em dois momentos, dentre 
os quais se participou do segundo momento. Nessas visitas foram dois 
fisioterapeutas, uma nutricionista, uma enfermeira e outro profissional. 
O veículo possuía expansão para bancos no porta-malas. 
Naquela manhã a equipe se dividiu, pois foram realizadas 
quatro visitas. Assim, enquanto o pesquisador ficou em uma das 
40 
residências com uma enfermeira e uma fisioterapeuta, a outra parte da 
equipe saiu para outro atendimento. As famílias entrevistas foram 
selecionadas de acordo com as visitas do dia. Realizou-se a entrevista 
com o familiar de um paciente que sofreu Acidente Vascular Cerebral 
(AVC) e outro que foi submetido à amputação de perna. 
No dia seguinte, seguiu-se, de ônibus, para o município de 
Maravilha. Procedeu-se à procura da unidade de saúde, que ficava em 
frente à prefeitura municipal. Chegou-se ao local e fomos recebidos pela 
técnica de enfermagem e pelo médico do programa. Constatou-se que a 
sede do programa está localizada nos fundos do centro de saúde, onde a 
equipe dispõe de uma pequena sala para trabalho. A entrevista havia 
sido agendada com a coordenadora do SAD e aí foi-nos explicado que a 
mesma fora submetida a uma cirurgia de urgência e em decorrência do 
acontecimento não estaria disponível para a coleta de dados. Então, o 
médico e a técnica de enfermagem responderam juntos ao roteiro de 
entrevista. Durante o processo, uma enfermeira adentrou a sala e 
participou em certo momento. Referiu que sua irmã realizou pesquisa 
semelhante no município de Pelotas quando realizou o pós-doutorado. 
Após a realização da entrevista com os profissionais, foi-se 
acompanhar a equipe nas visitas domiciliares e procedeu-se à escolha 
das famílias seguindo o fluxo dos atendimentos da equipe. O SAD 
dispõe de apenas um veículo que é conduzido pelos próprios técnicos do 
programa. A primeira entrevista com familiar foi realizada com a esposa 
cuidadora de um usuário acamado. A familiar se dispôs prontamente a 
participar da pesquisa e durante o processo a equipe também interagiu. 
Em alguns momentos o médico contribuiu nas falas, principalmente 
com destaques positivos sobre o programa, enaltecendo a melhora do 
usuário em decorrência da disposição da cuidadora. Após a realização 
da visita, retornou-se à sede do programa e acordou-se a realização de 
mais uma entrevista naquela tarde. A segunda visita foi realizada 
somente com a técnica de enfermagem. A profissional informou que 
precisaria realizar outras visitas e então deixou o pesquisador em uma 
das residências após o ter apresentado à usuária. Após a atividade, a 
técnica deixou o pesquisador na sede do programa e seguiu para as 
visitas. 
A aplicação da pesquisa nos dois últimos municípios, Capivari 
de Baixo e Araranguá, ocorreu no mês de novembro de 2017. As 
entrevistas foram pré-agendadas com as coordenações dos programas e 
em especial Capivari de Baixo, necessitou de interlocução junto a 
secretária de saúde. A dinâmica da realização das entrevistas nos dois 
municípios ocorreu de forma diferenciada das cidades anteriores, ou 
41 
seja, as pesquisadoras participaram no mesmo momento da entrevista 
com a coordenação e posteriormente com as famílias a serem visitadas 
pela equipe do SAD. 
A equipe de pesquisa iniciou a ida a campo na cidade de 
Capivari de Baixo onde a primeira entrevista foi realizada com a 
enfermeira coordenadora do SAD. Estava presente uma técnica de 
enfermagem que colaborou com algumas informações. Na sequencia, as 
pesquisadoras acompanharam a coordenadora, a técnica de enfermagem 
e o motorista nas visitas domiciliares aos pacientes do SAD previstas 
para aquela manhã. O transporte até os domicílios foi realizado com o 
veículo do programa. A primeira visita foi realizada na casa de uma 
usuária que, no momento estava sozinha e não apresentava necessidades 
de ajuda de terceiros. Posteriormente seguiu-se para a casa de um 
usuário acamado que dependia de cuidados familiares, onde a cuidadora 
era sua filha. Em ambos os casos foi permitida a gravação das 
entrevistas e o tempo de atendimento da equipe de saúde foi menor em 
relação a realização das entrevistas. 
No período da tarde realizou-se a entrevista no SAD de 
Araranguá, inicialmente com a enfermeira coordenadora do programa. 
Estiveram presentes na sala, no momento da entrevista, outros 
profissionais da equipe de saúde. Após a realização da entrevista com a 
coordenação, aguardou-se o retorno do veículo do programa para saída 
às visitas domiciliares da tarde. As pesquisadoras seguiram no veículo 
com a médica, enfermeira (coordenadora do SAD), nutricionista, técnica 
de enfermagem e motorista. A primeira visita realizada foi no domicílio 
de uma cuidadora, que atende dois idosos inseridos no SAD. Realizou-
se entrevista com esta cuidadora que apresentou situação particular em 
relação às demais situações de cuidado, pois os beneficiários residem 
com ela, sem a presença dos familiares. Após o atendimento neste 
domicílio a Equipe Multiprofissional em Atenção Domiciliar (EMAD) 
realizou outro atendimento, no entanto, não se entrevistou a família, pois 
a pessoa que acompanhava a usuária não era sua cuidadora. 
Estas são as principais informações sobre a realização das 
entrevistas nos municípios pesquisados a fim de enriquecer a descrição 
da dinâmica da ida a campo para que o leitor possa apreender a 
dinâmica da obtenção dos dados. 
1.3 Estrutura da dissertação 
 
A dissertação está estruturada emtrês seções. A primeira, 
denominada Família, sociedade e políticas sociais, abordaráa categoria 
42 
família e os diferentes aspectos analíticos, principalmente em se 
tratando de conhecimentos oriundos das Ciências Sociais. Reconhece-se 
a família como uma das instâncias mais naturalizadas da vida social e 
por este fato há uma variedade de discursos sobre o tema, tanto em 
termos acadêmicos quanto oriundo dos costumes e do senso comum. As 
subseções abordam a discussão de família no âmbito do Serviço Social, 
a diversidade de discursos na contemporaneidade e as conformações 
acerca do entendimento de família. Tratar-se-á também acercadapolítica 
social e as conformações na atualidade, cujas reflexões tratarão da 
conformação neoliberal e suas influências para o desmonte dos direitos 
sociais e a relação família e política social, entendendo a família 
enquanto um pilar da provisão do bem-estar social e a sua 
supervalorização na proteção social aos membros familiares. 
A segunda seção, intitulada Programas de atenção domiciliar e 
o cuidado enquanto arquétipo do familismo na política de saúde, trata 
acerca das diferentes abordagens conceituais sobre a categoria cuidado e 
cuidado social. Aborda sobre os programas de atenção domiciliar no 
Brasil e o panorama da realidade do Estado de Santa Catarina, tendo 
como subsídio dados extraídos em pesquisas prévias em sites e as 
informações sistematizadas da pesquisa realizada com os informantes-
chave nos municípios. 
Na terceira seção, adentra-se nas Repercussões do cuidado em 
saúde para as famílias usuárias do programa melhor em casa em Santa 
Catarina,onde apresenta-se a descrição e análise dos dados coletados na 
pesquisa de campo. São caracterizados os usuários, os cuidadores, os 
domicílios das famílias inseridas no Programa Melhor em Casa, para 
posteriormente, abordar acerca do processo de adoecimento, as rotinas e 
o impacto do cuidado na família. Encerra-se a dissertação, apresentando 
as considerações finais, as referências e os apêndices. 
 
44 
2 FAMÍLIA, SOCIEDADE E POLÍTICAS SOCIAIS 
 
Reconhece-se a família como uma das instâncias mais 
naturalizadas da vida social e por este fato há uma variedade de 
discursos sobre o tema, tanto em termos acadêmicosquanto 
consuetudinário, ou seja, aquele oriundo dos costumes e do senso 
comum. Nesse sentido, atrela-se a discussão ao lugar que a família 
ocupa na provisão de proteção aos seus membros, enquanto lócus de 
cuidado e redistribuição de recursos (MIOTO, 2012). Vai-se observar 
também que a família é incorporada à política social, especificamente a 
representação de um determinado modelo de família, enquanto 
engrenagem fundamental na elaboração execução das políticas sociais. 
Não menos importante, sinaliza-se o lugar de falaque mobiliza 
as discussões apresentadas na presente seção, ancorado nas leituras 
oriundas das Ciências Sociais e particularmente, no Serviço Social. 
Ainda que não esteja previsto como objetivo específico analisar a 
especificidade do Serviço Social no âmbito do Programa Melhor em 
Casa, trouxeram-se algumas discussões a partir de leituras da área, 
sobremaneira porque o lugar de construção dessa dissertação parte de 
um Programa de Pós-graduação em Serviço Social que ofereceu, em 
termos acadêmicos, leituras e discussões para a fundamentação deste 
trabalho. Por este fato, escolheu-se abrir a seçãotendo como ponto de 
partida as discussões oriundas do Serviço Social. 
 
2.1 Serviço Social e os estudos sobre famílias 
 
Ainda que não seja escopo direto de análise abordar sobre a 
prática profissional do assistente social, mostra-se um dever dissertar 
acerca de como o tema família vem sendo abordado no âmbito dessa 
profissão. Aliás, cumpre destacar que ―a família é sujeito privilegiado de 
intervenção do Serviço Social desde os primórdios da profissão‖ 
(MIOTO, 2010, p.163). É essencial destacar que o assistente social em 
sua intervenção profissional estabelece uma relação de proximidade 
com os sujeitos demandantes da sua atuação, interferindo em graus 
diversificados de intensidade na vida dos sujeitos. A intervenção 
profissional é marcada por um caráter pessoal na relação estabelecida 
com o usuário, sendo este entendido como sujeito particular 
(IAMAMOTO; CARVALHO, 1982). Essa elucidação merece destaque 
para se pensar a intervenção profissional na sua singularidade, 
entendendo-a como uma dimensão que envolve complexidades e 
sujeitos, exigindo um olhar mais atento para a sua compreensão. 
45 
Contudo, após o período de reconceituação do Serviço Social 
brasileiro, a partir de meados dos anos 1970 e com a entrada de 
fundamentos cujas bases encontram alicerce na teoria marxista, alguns 
temas na profissão foram relegados a segundo plano. Um desses temas é 
a família. 
É sabido que ao longo dos últimos 30 anos o Serviço Social 
brasileiro vem consolidando uma referência teórica, metodológica e 
política que tem alimentado a cultura profissional, onde assume 
destaque o Projeto Ético-Político Profissional. Tal projeto apresenta um 
peso ideopolítico e teórico-metodológico que determina a opção por 
uma direção social estratégica para a profissão com refrações no 
exercício e na formação profissional, além de rebater na organização 
política dos assistentes sociais (MOTA; AMARAL, 2014). Além de 
favorecer as condições da prática e da formação profissional os 
instrumentos formais e legais do projeto ético-político (a lei de 
regulamentação da profissão, as diretrizes curriculares, o código de ética 
profissional e os mecanismos de fiscalização do exercício profissional) 
 
contribuem decisivamente para a consolidação de 
uma cultura profissional marcada por princípios, 
valores e referenciais teórico-metodológicos que 
abraçam a teoria marxista, a superação da ordem 
capitalista, o humanismo, o internacionalismo das 
lutas sociais e a radicalidade democrática, os quais 
fundamentam, articulam e medeiam – sob 
condições históricas precisas - a relação entre 
realidade e a profissão (MOTA; AMARAL, 2014, 
p.24). 
 
Diante deste fato se poderia considerar que é na década de 1980 
que o marxismo se colocou no centro da agenda intelectual da profissão 
constituindo a teoria de fundo para a base da formação dos assistentes 
sociais. De acordo com Netto (1996, p.113) ―é inteiramente fundado, 
pois, considerar que, nos anos oitenta, sem prejuízo da existência de 
perspectivas alternativas e concorrentes, foram os influxos da tradição 
marxista que deram o tom ao debate profissional‖. 
Destaca-se a entrada dos anos 1990 enquanto década em que o 
Serviço Social se apresenta no Brasil como profissão relativamente 
consolidada, evidenciando-se saltos qualitativos no âmbito da formação 
profissional, da pós-graduação e da produção científica. É nesse 
contexto que o Serviço Social é reconhecido pelas agências oficiais de 
fomento comoárea de conhecimento que consolida uma produção 
46 
teórica pela pesquisa, não obstante o amadurecimento das formas de 
representação, tanto acadêmicas quanto profissionais. Ipso facto, o 
Serviço Social se redimensionou num forte embate contra o 
tradicionalismo profissional e o lastro conservador, num processo de 
adequação da profissão às exigências do seu tempo pari passu a um 
processo de qualificação teórica e com o crescimento da pós-graduação 
(IAMAMOTO, 2007). 
Hodiernamente, no Serviço Social, há a predominância do 
pensamento forjado na teoria social crítica cujos princípios 
impulsionaram as mudanças e os ganhos no âmbito da profissão. 
Contudo, isso não implica afirmar que a maior parte dos assistentes 
sociais se posicione como marxistas, ainda que grande parte dos autores 
reconhecidos pela categoria como representantes do avanço do saber 
fundamentem suas produções no bojo das correntes de pensamento 
predominantemente marxistas (BAPTISTA, 1992). Nos dizeres de Netto 
(1996, p.113), a resistência à tradição marxista não se reduziu entre os 
assistentes sociais, mas ―simplesmente não encontra condições para 
manifestar-se franca e abertamente‖, ou é ofuscada pelo impulso da 
teoria marxista no âmbito do Serviço Social e a formação de uma 
categoria profissional politizada à esquerda. 
Críticas mais contundentes sinalizam que a intervenção 
profissional tem sido uma dimensão da prática social não privilegiada 
por autores marxistas de maior nome, haja vista que estas produções, 
quando tratam da prática social, têm como referência uma prática 
humana geral sob o capitalismo ou aquela que faz referência às relações 
entre capital trabalho (BAPTISTA, 1992). O argumento de endosso à 
afirmação seria o de que os aspectos macrossociais são valorizados em 
detrimento das dimensões microssociais e dos objetos de intervenção e 
do exercício profissional, como também dos elementos constitutivos dos 
processos de trabalho em Serviço Social. 
Yazbek (2005, p.155), ao abordar o tema, propõe a seguinte 
assertiva: 
[...] uma das questões cruciais do Serviço Social é 
o descompasso entre nossa apreensão mais ampla 
da realidade, fundamentada em referenciais 
ontológicos totalizantes, que nos permite uma 
apropriação do movimento mais geral da 
sociedade e o nosso exercício concreto da 
profissão, em seu tempo miúdo, com homens 
concretos, inseridos em processos e dinâmicas 
singulares [...]. 
47 
 
A elevação das críticas explanadas tem levado profissionais a 
recorrerem a outras áreas de conhecimento na busca de respostas a 
alguns temas que envolvem a prática profissional, como por exemplo, 
assuntos relacionados à finitude humana, subjetividade, morte e 
sofrimento (bastante presentes na prática hospitalar), saúde mental, 
questões de gênero e violência, trabalho social com famílias, etc. Neste 
sentido, realizar-se-ão algumas ponderações sobre os fundamentos que 
envolvem as práticas com famílias e arrisca-se afirmar que no campo 
profissional há a apropriação de conceitos e teorias diversas sem o 
devido discernimento acerca dos fundamentos profissionais a qual se 
vinculam. É observado, muitas vezes, a dificuldade dos profissionais de 
falarem sobre suas práticas e os fundamentos utilizados. 
Quando se

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