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16/09/2020 Introdução à Propedêutica Dr.Petronio Generoso Alterações Patológicas no Exame Respiratório Dor Torácica Ricamente inervado pelo nervo frênico e suas ramificações. Pulmão não dói! A dor provavelmente vem devido a alguma laceração na pleura. A pleura visceral não tem inervação sensitiva; já a pleura parietal é rica em inervação (frênico e intercostais). Atributos o Localização. Onde se localiza? Há irradiação? o Características. Que tipo de dor? Pontuada, queimação, aperto, peso? o Intensidade. Quão intenso é? (gradual em uma escala de 1 a10). o Cronologia. Quando começa (ou começou)? Quanto tempo dura? Quão frequentemente ocorre? o Surgimento (situação na qual ocorreram os sintomas). Inclui fatores ambientais, atividades pessoais, reações emocionais ou outras circunstâncias que possam contribuir para a dor. o Fatores aliviadores ou exacerbadores. Algo faz a dor piorar ou melhorar? o Manifestações associadas. Você percebeu se algo ocorre ao mesmo tempo da dor? o Unilateral • Em pontada, relacionada com respiração ou tosse: pleurite aguda, pneumotórax; • Opressiva, irradiada para pescoço, mandíbula ou membro superior esquerdo: angina ou infarto miocárdico. • Com lesões cutâneas associadas, no trajeto intercostal: herpes-zóster; • Relata na região retroesternal, opressiva, com dispneia: pericardite; • Relacionada com a ingesta: esofagite, gastrite; • Dorsal, exacerbada com movimentos do tronco, sem relação com a respiração: doenças musculoesqueléticas. o Bilateral • Relacionada com o esforço de tosse intensa: DPOC, asma, bronquiectasias; • Dorsal, exacerbada por movimentação do tronco: doença da coluna vertebral; • Dorso lombar, com punho percussão positiva: doença renal; • Pós-traumatismo do tórax: fraturas costais múltiplas; • Relatada no esterno ou nas junções costoesternais, piorando com o digito pressão local: síndrome de Tietze. Tosse Principais Qu eixas: • Dor Torá cica • Tosse • Dispneia Decálogo: I L I C I D P F F F Início – Local ização – Intensidade – Cronologia – Duração – Pe ridiocidade - Fator de piora , melhora associado a i rradiação 2 o Resposta reflexa a estimulo que irritam receptores localizados na laringe, na traqueia ou nos brônquios calibrosos • Muco, pus, sangue, agentes irritantes, corpo estranho, ar quente/frio, inflamação, infecção, edema, compressão cardiovascular. o Aguda: < 3 semanas o Subaguda: 3-8 semanas o Crônica: > 8 semanas o Seca x Produtiva o Tentar quantificar (1 colher de chá, sopa, meia xicara....) o Se possível inspecionar – paciente tossir em um lenço (NÃO EM TEMPOS DE COVID....) o Sintomas associados – febre, sibilos, dor, dispneia Tosse Seca, irritativa o Com sensação de “coceira na garganta”: faringite, traqueobronquite aguda; o Piora com decúbito lateral: irritação pleural; o Predominantemente noturna: sinusite pleural; o Em acessos, quando o paciente se deita: refluxo esofágico; o Noturna e acompanhada de ortopneia: doença cardíaca; o Aparece após exercícios: bronquite obstrutiva, asma; o Com timbre metálico, bitonal ou com disfonia associada: laringite; o Com otalgia associada: otite; o Relacionada com a alimentação: fístula traqueoesofágica; o Em usuários de inibidor de enzimas de conversão: efeito colateral do fármaco. Tosse Produtiva o Com secreção mucoide: asma, traqueobronquite aguda, pneumonia viral; o Com secreção purulenta acastanhada: pneumonia pneumocócica; o Com secreção purulenta esverdeada: pneumonia por Klebsiella; o Com secreção purulenta amarelada: tuberculose, pneumonia estafilocócica, bronquite crônica supurada; o Com broncorreia: bronquiectasias, abscesso pulmonar; o Com secreção sanguinolenta: tuberculose, neoplasia pulmonar; o Com secreção fétida: abscesso pulmonar, infecção por anaeróbio; o Com secreção avermelhada - pseudo-hemoptise: infecção por Serratia; o Com secreção rutilante, espuma: edema pulmonar agudo; o Com secreção endurecida, broncólito: tuberculose, infecção fúngica. Hemoptise o Sangue expelido pela tosse das vias respiratórias inferiores; o Raias de sangue → sangue vivo; o Avaliar volume, episódios, manifestações associadas; o Rara em recém-nascidos, crianças e adolescentes; o Antes de definir tentar confirmar a causa (Boca? Nariz? TGI?) o Secreção purulenta: tuberculose, pneumonia, traqueobronquite; o Perda ponderal e tosse crônica: tuberculose, bronquiectasias, neoplasia pulmonar; o Dispneia aguda e dor torácica: embolia pulmonar; o Dispneia progressiva, ortopneia e tosse: edema pulmonar agudo; o Sopro cardíaco associado: estenose mitral grave; o Desconforto respiratório, cefaleia, escotomas, tonturas: hipertensão arterial; o Aguda, maciça, catastrófica: tuberculose, ruptura de aneurisma de Rasmussen; o Coincide com períodos menstruais: endometriose brônquica; o Associada a nefrite ou sintomas renais: síndrome de Goodpasture; o Associada a outras focos de sangramento, como o gengival e o conjuntival e petéquias: púrpura, leucoses, hemofilia; o Quando em pacientes que usam anticoagulantes ou ácido acetilsalicílico: efeito colateral do fármaco; o Em pacientes com halitose: abscesso pulmonar. Dispneia o Escala de dispneia Modifield Medical Research Council (MMRC) • 0 – tenho falta de ar apenas com excercicio intenso; • 1 – tenho falta de ar quando apresso o meu 3 passo ou quando subo escadas ou ladeira; • 2 – caminho mais devagar do que passoas da mesma idade no plano por cauasa da falta de ar, ou tenho de parar quando caminhando no meu passo do plano; • 3 – Paro após caminhar 100 metros ou após alguns minutos no plano; • 4 – Sinto falta de ar que me impede de sair de casa ou para me vestir. Aguda o Relacionada com agentes inalados: asma, alergia respiratória, doença ocupacional; o Com “chiado no peito”: asma brônquica; o Relacionada com decúbito ou pós- esforço: doença cardíaca; o Com dor torácica associada: pneumotórax, embolia pulmonar; o Pós-traumatismo de tórax: pneumotórax, hemotórax, fratura costal; o Paraxística noturna: doença cardíaca. Crônica o Relacionada com os esforços: doença cardíaca, obesidade; o Progressiva, mesmo ao repouco: doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); o Com sibilância: asma brônquica tratada de maneira inadequada; o Relacionada com exposição de agentes inalátivas: doença ocupacional; o Com a sensação de “fôlego curto”: fibroses pulmonares, DPOC; o Aos esforços, com astenia e sonolência associadas: anemia crônica. Cianose - Sensação s ubjetiva não d olorosa, porém desco nfortável de q ue a respiração é inadequada a o esforço; - Avaliação m eticulosa – po de ser indicativo de doença pulmo nar ou cardíaca; - Tentar quali ficar (lances d e escada, quadras, tipo s de esforço); - Fatores de m elhora e piora ; - Manifestaçõ es associada s. 4 Central Oxigenação inadequada do sangue arterial; tecido= consumo normal. o Diminuição da tensão de oxigênio do ar inspirado (ex.: grandes altitudes); o Hipoventilação (ex.: estenose de traqueia); o Diminuição da superfície (ex.: edema pulmonar, pneumonia externa); o Shunt (ex.: tetralogia de Fallot). Periférica Circulação lentificada; DC insuficiente; vasoconstrição). o Aumento local de pressão venosa (ex.: compressão venosa por tumor; garroteamente de membro); o Aumento geral da pressão venosa (ex.: ICC com estase venosa); o Obstrução da circulação por oclusão. o Transtornos vasomotores (ex.: fenômeno de Raynaud a esclerose sistêmica). Inspeção Estática O examinador começa pela descrição da pele, do tecido subcutâneo e dos músculos. Pesquisa a presença de circulação colateral, retrações e abaulamentos. Após a descrição inicial, segue com a classificaçãodo tipo morfológico e a pesquisa de anormalidades. Dessa maneira, o tipo morfológico pode ser classificado de acordo com o Ângulo de Charpy, o qual é formado pelas últimas costelas e o apêndice xifoide. Assim, os biótipos são: o Tórax normolíneo – quando o ângulo de Charpy é de 90°; o Tórax longilíneo – quando apresenta ângulo de Charpy menor do que 90°; o Tórax brevilíneo – quando apresenta ângulo de Charpy maior do que 90°. Após a classificação do biótipo, inicia-se a pesquisa por anormalidades ósseas do esterno, das vértebras e das costelas. O esterno pode apresentar-se com concavidade aumentada, dando origem a alterações como o tórax em “peito de pombo” (cariniforme), no qual se nota uma saliência em forma de quilha de navio ou peito de pombo (pectus carinatum), geralmente resultado de raquitismo na infância. Quando retificado, caracteriza o “tórax chato”, também relacionado ao raquitismo, mas que pode não ter significado patológico. Quando ocorre a inversão da concavidade do terço inferior do esterno, a apresentação é de 5 “tórax de sapateiro” ou infundibiliforme (pectum excavatum), que nas formas mais intensas pode levar a um transtorno pulmonar restritivo. As alterações das vértebras podem levar a repercussões no aparelho respiratório, geralmente apenas quando muito acentuadas. Sua descrição é feita segundo a apresentação da coluna vertebral, podendo ser: tórax escoliótico, por desvio lateral da coluna; tórax cifótico, por encurvamento posterior da coluna torácica; ou tórax lordótico. Nas alterações dos arcos costais, duas apresentações são importantes: o “tórax em tonel” ou enfisematoso, quando ocorre horizontalização das costelas e aumento do diâmetro anteroposterior (muito comum em indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica e idosos); e o “tórax em sino” ou piriforme, quando os arcos inferiores estão acentuadamente mais alargados do que os superiores (presente em casos de hepatoesplenomegalia e ascites volumosas). Branqueteamento Digital Também conhecida como “Hipocratismo digital”. Podendo ser um sinal inicial de uma neoplasia pulmonar, doenças infecciosas e bronquiectasias. Quando ocorrer, costuma ser um sinal tardio, indicando estágios avançados da doença. Unhas em vidro de relógio. Causa perda do ângulo frontal da extremidade da unha. Vasodilatação circular distal – hipertrofia do leito ungueal NÃO É SINÔNIMO DE HIPOXÊMIA. Inspeção Dinâmica Os movimentos respiratórios do paciente são observados e classificados, tomando-se como parâmetros a frequência, o ritmo, uso de musculatura acessória, a presença de apneia e as alterações nos espaços intercostais. A frequência respiratória normal oscila entre 16 e 20 movimentos por minuto (ipm), sem dificuldade respiratória em adultos (eupneia). Pode estar diminuída (bradipneia) ou aumentada (taquipneia), sendo sua aferição fundamental por constituir um dado objetivo, já que a sensação de desconforto respiratório (dispneia) é subjetiva e varia conforme a percepção do indivíduo. A parada dos movimentos respiratórios é chamada apneia. 6 Ritmo Respiratórios Ritmo Normal Eupneia, ciclos constantes e expiração mais duradoura que a inspiração. Ritmo de Kussmaul Aumento da amplitude tanto da inspiração quanto da expiração, intercaladas com curtos períodos de apneia. É encontrado na acidose metabólica avançada (p. ex.: na cetoacidose diabética) e representa um mecanismo de aumento da eliminação de CO2 na tentativa de corrigir o distúrbio metabólico primário. *Respirações profundas e rápidas – acidose metabólica. Ritmo de Cheryne-Stokes Apresenta duas fases: a de apneia; e a de hiperpneia. Inicialmente, com amplitude crescente e a seguir progressivamente decrescente. Esse ritmo é comum quando há alterações neurológicas, como acidente vascular cerebral, hipertensão intracraniana, meningite e traumatismo cranioencefálico, mas também é observada na insuficiência cardíaca *Inspirações que vão aumentando de intensidade e que vão intercalando por períodos de diminuição posteriormente com aumento e assim, sucessivamente – ex.: insuficiência cardíaca, urêmia, lesão cerebral, intoxicação por fármacos. Ritmo de Biot (Respiração Atáxica) Irregularidade imprevisível na amplitude (movimentos superficiais ou profundos) e frequência, alternando com períodos de apneia. Indica grave injúria cerebral, com iminência de parada respiratória. Comum nos traumatismos cranioencefálicos, nos estados comatosos, nas hemorragias ventriculares, nas lesões medulares e na meningite. *Lesão regular, variando em intensidade e ritmos com pausas curtas e agudas – ex.: lesão cerebral (bulbo); meningites. Respiração Suspirosa Trata-se do ritmo normal intercalado por inspirações profundas. Frequente nos conflitos emocionais e neuroses. Se os suspiros forem ocasionais, trata-se de uma respiração normal. Sinais de Esforço Uso de musculatura acessória. Respiração paradoxal – contração abdominal na inspiração. Posição em trípode. Ortopneia – dispneia deitado (ex.: IC descompensada). Platipneia – dispneia na posição ereta (ex.: síndrome Hepatopulmonar). *Tórax expandindo terá abdômen contraindo - isso é anormal (paradorsal - típico quadro de falência de diafragma). *Diafragma rebaixa e a parede abdominal sobre junto com o toráx – normal. Palpação Tem por finalidade avaliar: as paredes torácicas; a sensibilidade; a elasticidade; a expansibilidade; e as vibrações ou frêmitos. Exame das paredes A palpação da parede deve ser cuidadosa, tendo em mente a pesquisa de anormalidades da pele, do tecido celular subcutâneo e da musculatura. Por meio desse exame, é possível identificar a presença de enfisema subcutâneo, melhor observado nas fossas supraclaviculares e nos espaços intercostais, o qual consiste em crepitação característica 7 por penetração de ar no tecido subcutâneo nos casos de pneumotórax hipertensivo ou entrada de ar após a passagem de drenos torácicos; verifica-se se existem linfonodos palpáveis na região periclavicular e na axilar, além de realizar-se palpação das mamas nas mulheres. Sensibilidade O tórax normal não apresenta dor durante a palpação. Se o paciente referir pontos dolorosos, esse é um sinal de alerta que deve ser considerado. Assim, processos inflamatórios pleuropulmonares são manifestados clinicamente por zonas de mais sensibilidade na parede torácica correspondente. Elasticidade Para a avaliação da elasticidade, utiliza-se a manobra de Lasègue. O examinador deve apoiar uma mão na parede anterior e a outra na parede posterior do tórax do paciente e realizar leve compressão em diversos pontos. A elasticidade varia muito conforme a idade do paciente, portanto seu valor propedêutico depende da comparação entre ambas as regiões do tórax. A diminuição da elasticidade torácica pode ser encontrada no enfisema e na ossificação das cartila- gens costais (diminuição bilateral), ou nos derrames, tumores e condensações (diminuição unilateral). Expansibilidade A avaliação da expansibilidade é feita no ápice da face posterior e na base das faces posterior e anterior. A expansibilidade permite avaliar o volume de ar mobilizado durante a respiração em cada segmento pulmonar. A expansibilidade do ápice é verificada por meio da manobra de Ruault. O paciente deve estar sentado ou em pé, com o examinador situado atrás dele. O examinador coloca uma mão em cada hemitórax de maneira simétrica, com as extremidades dos polegares reunidas na linha mediana ou vertebral sobre a apófise espinhosa de C7. Pede-se para o paciente inspirar profundamente e verifica-se, comparando a elevação das mãos, se existe assimetria. A manobra deve ser realizada em todo a extensão torácica. Alterações Bilaterais o Enfisema – expansibilidade diminuída o Doenças intersticiaisdifusas (fibrose) - Alterações Unilaterais - Localizados o Atelectasias o Derrame pleural Frêmitos É a sensação vibratória percebida pela mão do examinador, no tórax do paciente, quando este emite um som (frêmito toracovocal) ou respira (frêmito pleural ou frêmito brônquico). Permite que o avaliador, por meio de um exame “desarmado”, tenha uma ideia antecipada das alterações que encontrará na ausculta da região examinada. Pesquisa-se colocando a mão dominante espalmada sobre a superfície do tórax, comparando-se nas regiões homólogas a intensidade das vibrações. Deve ser utilizada a mesma mão durante a avaliação, uma vez que a sensibilidade tátil varia de uma mão para outra. Frêmito toracovocal É a sensação vibratória percebida pela mão do examinador, no tórax do paciente, quando este emite um som. Para que a avaliação não seja prejudicada, pede-se para o paciente repetir “trinta e três” com a mesma intensidade. O som da voz é produzido pelas cordas vocais e atravessa meios de densidade diferentes até atingir a superfície torácica. Toda vez que um processo patológico tornar o meio mais heterogêneo, como em derrames pleurais, pneumotórax e enfisema, a transmissão será dificultada, portanto, o frêmito estará diminuído. Quando o meio se apresentar mais homogêneo (condensações 8 e cavidades), o frêmito toracovocal será aumentado. A pesquisa é realizada em todas as faces do tórax e comparativamente com o segmento contralateral. Em geral, o frêmito é mais intenso no hemitórax direito, devido ao calibre aumentado do brônquio fonte direito. Frêmito pleural É a sensação palpatória de vibrações originadas na pleura. A pleura normal não produz sensação palpatória ou ruídos na ausculta, pois durante a respiração há deslizamento da pleura visceral sobre a pleura parietal sem atritos. Quando ocorre um processo inflamatório na pleura, seus folhetos perdem a característica lisa e o atrito pode produzir ruído. O frêmito é mais bem verificado nas regiões anterolaterais do tórax (maior atrito pleural), sendo otimazado durante a inspiração e com o aumento da compressão do local. Frêmito brônquico Ocorre pelo acúmulo de secreções nos brônquios de médio e grande calibre ou pelo broncoespasmo. Diferentemente do frêmito pleural, pode modificar-se com a tosse, não apresenta dor à palpação, não muda de intensidade se a região for comprimida e ocorre tanto na expiração quanto na inspiração. Assim, em face da palpação de um frêmito, constituem-se manobras importantes a pesquisa de dor à palpação, mudanças com a tosse e variação de intensidade com pressão local. Percussão É um método que consiste na aplicação de uma ação mecânica sobre os tecidos, levando à vibração destes em sua profundidade e obtendo sons e ruídos diversos. Cada tecido, conforme sua densidade, produz um som diferente à percussão, portanto esse método permite avaliar o estado físico dos órgãos, a presença de processos patológicos e seus limites. Na percussão normal, o pulmão apresenta som claro pulmonar, classicamente comparado à “percussão de um pão”. Sons timpânicos ou maciços são indicativos de anormalidades. O som timpânico está relacionado com a presença de quantidade anormal de gás na cavidade torácica em relação ao parênquima, por exemplo no pneumotórax. O som maciço indica aumento da densidade torácica; esse sinal pode ser encontrado nos derrames pleurais ou na presença de massa tumoral intratorácica. Sons definidos pela percussão torácica o Som claro pulmonar: obtido ao percutirem-se campos pulmonares normais. o Som timpânico: ocorre quando existe uma quantidade aumentada de ar no parênquima pulmonar (enfisema pulmonar, crise de asma aguda, cistos aéreos, etc.) ou caixa torácica (pneumotórax). o Som submaciço: obtido ao percutir-se um parênquima pulmonar com densidade aumentada e diminuição da quantidade de ar armazenada. Esse som aparece em processos inflamatórios, como a pneumonia, ou em infartos pulmonares. o Som maciço: característico da presença de líquido entre a parede torácica e o parênquima pulmonar, sendo encontrado nos derrames pleurais. Síndrome de Signorelli Derrame pleural. A percussão dos espaços intervertebrais (linha média) muda para submaciça na altura do derrame. *ausculta de um som claro pulmonar. No nível de derrame há alteração de som de submacicez (mostrando que há líquido nessa região). Ausculta É o método propedêutico mais útil para exploração do aparelho respiratório, por meio do qual se avalia a propagação sonora do fluxo aéreo pela árvore traqueobrônquica – dividido em sons respiratórios normais ou patológicos (ruídos adventícios) – e também a 9 propagação sonora vocal pelas estruturas torácicas (broncofonia). Adiante, serão mais explorados os diversos tipos sonoros. Sons respiratórios normais Existem três sons respiratórios que podem ser encontrados na ausculta do pulmão normal: som traqueal; respiração brônquica; e murmúrio vesicular. o Som traqueal ou laringotraqueal: audível sobre a traqueia ou sobre a laringe, nas regiões anterolaterais do pescoço e acima da fúrcula (correspondente à apófise espinhosa de C7). Trata-se de um som tubular, produzido pela passagem dor ar em estruturas de grande calibre e pela alteração do fluxo na glote. A fase expiratória é mais intensa e longa que a inspiratória e pode-se notar uma pausa entre elas. Torna-se clinicamente relevante ao ser encontrado fora de sua localização habitual, denotando condensação do parênquima pulmonar. o Respiração brônquica ou respiração broncovesicular: trata-se de uma associação dos outros dois sons (transição entre o som traqueal e o murmúrio vesicular, sendo audível nas regiões de projeção da traqueia e dos brônquios de grande calibre). Sua localização normal se restringe às regiões próximas aos brônquios principais: anteriormente no primeiro e no segundo espaços intercostais e posteriormente na região interescapular. Quando encontrado na periferia, indica au- mento da densidade do parênquima pulmonar (p. ex.: nas condensações pulmonares). o Murmúrio vesicular ou respiração vesicular: som suave audível sobre a maior parte periférica do pulmão, exceto onde se encontra a respiração brônquica. A inspiração é nitidamente maior que a expiração, e não existe pausa entre elas. Produzido pelo fluxo turbulento do ar nos brônquios lobares e egmentares, e não nos alvéolos. Pode estar ausente (p. ex.: derrames pleurais) ou diminuído (p. ex.: enfisema difuso). Ruídos Adventícios São achados da ausculta que indicam alteração da normalidade, ou seja, não são encontrados em nenhum ponto do parênquima pulmonar normal. Podem ter origem nas vias respiratórias, na pleura ou em ambas. Os ruídos adventícios podem ter uma característica contínua (roncos e sibilos) ou descontínua (estertores). Além dos roncos, sibilos e estertores, serão descritos outros ruídos que constituem achados clínicos importantes: atrito pleural, cornagem, sopro tubário e sopro pleural. o Estertores: trata-se de sons abruptos ou explosivos, de curta duração, definidos como resultado da equalização explosiva da pressão do gás entre dois compartimentos do pulmão, quando uma sessão fechada das vias aéreas que os separa se abre subitamente. Podem ser classificados quanto à fase (inspiratórios, expiratórios, precoces ou tardios) e quanto ao timbre (fino ou grosso), dependendo do calibre da via aérea afetada. Ademais, deve-se evitar classificá-los como úmidos, secos, bolhosos, consonantais, cavernosos, crepitantes ou subcrepitantes, já que tais termos são extremamente imprecisos. Por fim, a localização dos estertores no ciclo respiratório pode ser usada para auxiliar na distinção das doenças pulmonares. o Estertores finos: possuem uma sonoridade comparada ao “fecho de velcro”, surgem mais tardiamentena inspiração e são de tom mais alto, amplitude baixa e duração mais curta em comparação aos estertores grossos. Estão relacionados com a abertura das vias aéreas terminais, que colapsam durante a expiração, devido, sobretudo, à perda do parênquima elástico pulmonar, o qual sustenta tais vias desprovidas de cartilagem (os bronquíolos). Tais alterações são vistas, sobretudo, na doença pulmonar obstrutiva 10 crônica, na fibrose cística e em neoplasias. o Estertores grossos: comparados aos estertores finos, têm maior duração e menor frequência. São auscultados desde o início da inspiração até o final da expiração, representando alterações em vias de grosso calibre. Geralmente, são modificados pela tosse, ocorrendo principalmente nos portadores de bronquite crônica e bronquiectasia. o Estertores inspiratórios iniciais: característicos de doentes com obstrução grave das vias aéreas (doença obstruiva), sendo produzidos nas vias aéreas maiores e proximais. Não se modificam com a tosse ou com a mudança de decúbito. São encontrados na bronquite crônica, na asma e no enfisema pulmonar. o Estertores inspiratórios tardios: característicos de doentes com doença pulmonar restritiva. Parecem se originar de vias aéreas mais periféricas, podendo estar associados a um sibilo curto no final da inspiração. Variam com a posição do paciente e com a tosse e são frequentemente encontrados nas seguintes situações: pneumonia, congestão pulmonar da insuficiência cardíaca e na fibrose intersticial. o Sibilos: são causados pela passagem rápida do fluxo aéreo por uma via que se encontra com calibre muito reduzido, cujas paredes oscilam entre a posição fechada e pouco aberta. Trata-se de um som musical e contínuo que muitas vezes pode ser ouvido sem a ajuda do estetoscópio. Pode ser monofônico, quando o tom musical é único, como ocorre tipicamente na asma, ou polifônicos, comuns na maioria das doenças pulmonares obstrutivas crônicas. o Roncos: são sons grosseiros e de intensidade elevada, ocasionados pela passagem de ar através de vias aéreas de grosso calibre que apresentam secreções acumuladas. Como o ruído é produzido pelo deslocamento das secreções, pode modificar-se com a tosse. Podem ocorrer tanto na inspiração quanto na expiração. Assim, a diferença básica entre sibilo e ronco se dá por sua tonalidade, a qual é determinada pela ressonância das estruturas do tecido contíguo ao ponto de obstrução em produto com o grau de obstrução (determinando, portanto, tonalidades mais graves para os roncos e mais agudas para os sibilos). o Atrito pleural: ruído produzido pelo atrito entre os folhetos pleurais que se encontram alterados por algum processo inflamatório, descrito como “couro deslizando sobre couro” e correspondente à ausculta do frêmito pleural identificado na palpação. o Cornagem: produzido nas vias aéreas superiores quando estas apresentam obstrução parcial à passagem do fluxo aéreo. Esse ruído adventício muitas vezes pode ser ouvido apenas com a aproximação do examinador à região cervical do paciente. Ocorre nos processos inflamatórios das vias aéreas superiores, tumorações que comprimam as vias aéreas ou aspiração de corpo estranho. o Sopro tubário: ocorre nas condensações pulmonares e apresenta as mesmas características do som traqueal/respiração brônquica, porém com intensidade maior e em locais onde se esperaria o murmúrio vesicular, sugerindo regiões onde há processos pneumônicos, por exemplo. o Sopro pleural: encontrado na transição entre o parênquima normal e a aérea que apresenta interposição líquida. Pode ser auscultado durante a respiração ou quando o paciente pronuncia “trinta e três”. Ausculta da Voz É a complementação da ausculta pulmonar. O método consiste em pedir para o paciente repetir as palavras “trinta e três” lentamente e sempre com a mesma 11 intensidade, enquanto se faz a pesquisa pulmonar em todas as faces, bilateralmente a partir do ápice em direção à base. Por essa técnica, obtém-se a broncofonia (percepção da voz auscultada), que normalmente é mais intensa nos homens e mais nítida perto da traqueia. A diminuição da broncofonia ocorre em estenoses, enfisemas, derrames pleurais e pneumotórax; o aumento é indicativo de condensações superficiais que atingem brônquios com mais de 3 mm de diâ- metro, ou cavidades por condensação pericavitária. Quando, durante a ausculta da voz, ouve- se a articulação das palavras nitidamente e com mais intensidade, esse evento recebe a denominação de pectorilóquia. Ocorre devido ao aumento da transmissão do som, como acontece nas condensações. Há três tipos de pectorilóquia: o pectorilóquia fônica – quando a voz do paciente auscultada tem intensidade normal; o pectorilóquia áfona – quando se ausculta a voz do paciente mesmo quando este cochicha; o pectorilóquia egofônica ou egofonia – caracterizada por uma voz de timbre anasalado de tonalidade aguda (diferente da voz do paciente), que aparece no limite superior dos derrames pleurais, devido à mudança da luz circular dos brônquios para achatados. Referencias - FERREIRA, Aleksandro Belo. Propedêutica do Aparelho Respiratório. In: FERREIRA, Aleksandro Belo. PROPEDÊUTICA MÉDICA: da criança ao idoso. São Paulo: Atheneu, 2015. Cap. 7. p. 123-138 16/09/2020 Introdução à Propedêutica Dr.Petronio Generoso
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