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Paradigma Flexneriano Maria Renita Burg Ms Saúde Coletiva Era pré-flexneriana ou medicina pré- científica O século XX assistiu o desenvolvimento da revolução industrial e da urbanização; Esse processo de aglomeração urbana surgiu na Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos(cidades portuárias de Boston e Nova York) trouxe consigo novos problemas sociais. A emergência de epidemias e a deterioração progressiva das condições de vida das populações mais pobres ocorreram na medida em que se acentuam os fluxos migratórios desordenados. Paradigma Flexneriano Final séc. XIX ocorreram inúmeros avanços tecnológicos no setor saúde; Descobertas Koch e Pasteur trouxeram consigo o promissor campo da microbiologia e com ele o entendimento de que várias patologias possuíam determinantes precisos e passíveis de prevenção e ou intervenção humana. Somam-se descobertas anteriores como procedimentos anestésicos e descoberta da imunização ativa contra varíola no final do séc. XVIII. Assim, o homem embalou-se em um contexto de euforia e confiança da ciência em melhorar suas condições de vida. Estados Unidos- berço da Medicina Científica Tinha conflitos entre médicos reguladores que eram egressos das Universidades Europeias e das escolas americanas que proliferaram nos Estados Unidos após a guerra da Independência e de práticos ou empíricos(pessoas com algum treinamento em habilidades curativas); A falta de regulamentação científica das escolas médicas americanas contribuiu para aumento das práticas pedagógicas prejudicando a medicina científica. Espírito mercantilista – proliferou diversos tipos de escolas, muitas sem vínculos universitários e sem pré-requisitos para matrículas. Abraham Flexner Em 1910 a Fundação Carnegie convidou Abraham Flexner – diretor de uma escola secundária de Kentucky a realizar um estudo sobre a situação das escolas médicas americanas e canadenses. Produziu o “Relatório Flexner”. O novo paradigma médico surge desse episódio: a medicina científica ou Flexneriano, passa a nortear a formação dos futuros médicos e na reconstituição do próprio processo de trabalho médico. Principais propostas do Relatório Flexner Definição de padrões de entrada e ampliação, para 4 anos, da duração dos cursos; Introdução do ensino laboratorial Estímulo á docência em tempo integral; Expansão do ensino clinico, especialmente em hospitais; Vinculação de escolas médicas ás universidades; Ênfase na pesquisa biológica; Vinculação da pesquisa ao ensino; Estímulo à especialização médica; Controle do exercício profissional pela profissão organizada. Consequências do Relatório Flexner Fechamento de um número significativo de escolas de medicina; Padronização das práticas pedagógicas e o esforço das instituições em buscar e manter a qualidade do ensino. Ocorreu uma hierarquização da educação médica, uma vez que as escolas passaram a contar com um maior número de homens, brancos e de classe média alta, únicos estudantes que poderiam custear os estudos em medicina. Elementos estruturais da Medicina Flexneriana As bases fundamentais são orientadas por seis características básicas: 1- MECANICISMO – faz analogia do corpo humano com a máquina composta de inúmeras peças, engrenagens e sistemas de funcionamento. Geram danos passíveis de intervenção através de métodos químicos, físicos e elétricos. Pode ser fragmentado em partes menores para otimizar a compreensão dos problemas e facilitar o processo de treinamento dos profissionais. Elementos estruturais da Medicina Flexneriana 2. BIOLOGICISMO – tenta explicar as causas e consequências das doenças através de alterações biológicas diversas, e sua força vem da descoberta dos microrganismos do séc. XIX. Após a constatação de que pequenos seres unicelulares compartilham do mesmo meio que o homem e que alguns relacionam-se com doenças, não se sabia ainda a extensão da interação entre os seres humanos e os microrganismos, o que justifica a tentação de generalizar-se o seu papel nos infortúnios referentes á saúde. Procura isentar os fatores de ordem econômica e social na determinação dos agravos á saúde. Elementos estruturais da Medicina Flexneriana 3. INDIVIDUALISMO – está presente na medicina científica devido à eleição do indivíduo como objeto da mesma, em detrimento das coletividades humanas. O paciente é visto como uma eventual vítima de conjugações de fatores desfavoráveis e fatalidades que lhe atingem individualmente, e no âmbito pessoal que se deve intervir para minimizar o infortúnio. Pode-se, inclusive atribuir ao indivíduo, a responsabilidade pelo aparecimento de suas enfermidades. Elementos estruturais da Medicina Flexneriana 4. ESPECIALIZAÇÃO Resultou da troca entre a globalidade do objeto da prática médica e a profundidade do conhecimento de suas dimensões específicas. Elementos estruturais da Medicina Flexneriana 5. TECNIFICAÇÂO do ato médico– legitima o mecanicismo e o biologicismo, ao excluir do processo de trabalho o componente não-científico que são as relações humanas. A difusão da tecnologia contribuiu para a progressividade do uso da técnica científica em detrimento da percepção dos sentidos. A técnica é a mediadora das relações entre os profissionais e a doença. A supremacia de qualquer exame laboratorial frente à escuta qualificada do cliente. Elementos estruturais da Medicina Flexneriana 6. A ênfase na medicina curativa Esse elemento reduz consideravelmente o universo de problemas a se confrontar, bem como restringe o universo de intervenções possíveis. A exclusão de práticas alternativas foi necessária para a viabilização da medicina científica. Essa firmou-se como eficaz porque era comprovada cientificamente, ao contrário das práticas baseadas no empirismo ou no curandeirismo. Medicina Flexneriana Consequências A concentração de recursos se deve às exigências da sociedade industrial e da lógica mercantilista na assistência médica. Os serviços e a tecnologia concentram-se onde há quem possa pagar por eles e não onde deles se necessita. Sua consequência imediata foi a consolidação do espaço hospitalar como ambiente hegemônico da prática médica. Críticas.... As críticas a este modelo caracterizam a Prática da Atenção Médica como uma prática que orienta sua atenção para a doença, cujo enfoque centraliza-se nos seus aspectos biológicos e que, cada vez mais, tem se especializado a partir da fragmentação crescente do ser humano. Isto resulta em um conjunto de serviços de saúde que se reduz a uma atenção clínica, individual e curativa e num processo de trabalho centrado na figura do profissional médico, configurando o hospital como a instituição privilegiada deste modelo de atenção. Críticas... A desumanização do atendimento, é uma crítica frequente ao modelo da medicina científica e vem sendo atribuída a Flexner, que não teria se preocupado com esse aspecto do exercício médico. Em sua defesa, Ferreira (2001) escreve: “É certo que Flexner (...) poderia haver deixado escapar a preocupação com a sensibilidade humana, componente essencial do exercício profissional nesse campo, que vincula saúde à qualidade de vida e realça a dimensão ética do trabalho médico com ênfase num relacionamento afetivo, de respeito, dedicação e fraternidade. Aparentemente, a importância concedida aos aspectos técnicos da profissão, que, no contexto do estudo por ele realizado, apareciam como de máxima prioridade, levou-o a conceder menos destaque ao caráter humano da prática, caráter esse que naquele momento histórico era suficientemente valorizado, até mesmo com a consignado „sacerdócio da medicina‟ ” Ferreira (2001: 39). Consequências da Medicina Flexneriana O foco da atenção foi deslocado da sociedade para o indivíduo. Tecnificaram a assistência médica e reduziram o universo dos problemas de saúde - daí por diante considerados problemas médicos através do mecanicismo, do biologicismo e da ênfase na cura individual. O modelo disseminou-se rapidamente pelas nações ocidentais e ocorreu um avanço tecnológico sem precedentes na história da humanidade. No século XX os cuidados médicos passaram a exercer influência sobre a transição epidemiológica. A medicina cientifica e a transição epidemiológica A medicina científica volta-se para a cura e não para o cuidado contínuo e humanizado dos pacientes crônicos, cada vez mais necessário. A falta de um vínculo mais aprofundado entre o profissional responsável pela atenção médica e o doente é prejudicial ao acompanhamento de portadores de patologias crônicas, pois torna mais difícil o monitoramento da história natural da doença, sua evolução clínica e o entendimento de seus determinantes socioambientais. A medicina cientifica e os custos em saúde O uso de tecnologia e a especialização presentes no Relatório Flexner permitiram uma impulsão à indústria de equipamentos médicos, medicamentos, pesquisa e ensino em medicina. Um aumento considerável de gastos com a indústria médica – indústria da saúde. O complexo médico-industrial não foi acompanhado de uma melhora proporcional de indicadores de saúde (Foucault, 1976).
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