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Neuropsicopedagogia Introdução a memória

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AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUNÇÕES 
NEUROPSICOLÓGICAS 
COGNITIVAS – COGNIÇÃO E 
APRENDIZAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Michele Müller 
 
 
 
2 
TEMA 1 – INTRODUÇÃO À MEMÓRIA 
O desenvolvimento cognitivo depende da memória, e não existe memória 
sem atenção. O inverso também é verdade: sem a memória, que nos ajuda a 
fazer associações e construir significado às informações que recebemos, não 
conseguimos sustentar a atenção. São duas habilidades, portanto, 
interdependentes, que estão na base da cognição humana. 
Nesta e nas próximas aulas, você entenderá um pouco mais sobre como 
funciona o sistema de armazenagem do cérebro humano. 
Quando falamos de memória, não nos referimos à capacidade de 
memorizar eventos ou um determinado conteúdo. O ganho de habilidades 
motoras — como andar e se equilibrar em uma bicicleta —, o reconhecimento 
das pessoas, lembranças de episódios da vida, tudo depende da nossa 
capacidade de guardar e reconstituir as informações. Portanto, existem diversos 
tipos de memórias, que envolvem diferentes processos mentais e regiões do 
cérebro. 
As nossas percepções, conforme explicamos na aula sobre os sentidos, 
são influenciadas pelas predições que o cérebro faz o tempo todo. Muito do que 
sentimos é moldado por aquilo que esperamos sentir, com base em experiências 
anteriores. A memória, portanto, influencia os sentimentos e o comportamento, 
e está no fundamento da nossa identidade. Somos a somatória das nossas 
experiências, daquelas que estão registradas em algum lugar do nosso cérebro. 
Podemos dizer em algum lugar, pois apesar do papel importante do hipocampo 
na memória, esta não é a única estrutura responsável por guardar as 
informações, conforme veremos mais tarde. 
A compreensão de alguns processos na formação da memória é 
fundamental para repensarmos a forma como aprendemos e como ensinamos. 
A educação formal, por exemplo, baseia-se em fatos equivocados acerca de 
como a memória funciona. Ela superestima a capacidade de memorização de 
fatos e informações que o sistema emocional das crianças considera irrelevante, 
e não leva em conta o fato de que nosso cérebro não foi projetado para 
armazenar uma quantidade grande de informações — especialmente se nossas 
emoções não estão envolvidas para sinalizar a relevância do conteúdo. 
Conforme coloca o neurocientista Rodrigo Quiroga, em seu livro The Forgetting 
Machine (2017): 
 
 
3 
Nós não lembramos de quase nada. A ideia de que lembramos de 
muitos detalhes e sutilezas das nossas experiências, como se 
estivéssemos vendo um filme do nosso passado, não é nada além de 
ilusão, de uma construção do cérebro. E esse talvez seja o maior 
segredo do estudo da memória: a verdade surpreendente que, a partir 
de pouquíssimas informações, o cérebro cria uma realidade e um 
passado que nos faz quem somos, apesar do fato que este mesmo 
passado, essa coleção de memórias, é extremamente evasivo; apesar 
do fato de o mero ato de trazer uma memória à nossa consciência 
inevitavelmente a transforma; apesar do fato de que aquilo o que está 
por trás da minha consciência de um ser (self) único e imutável, que 
me faz quem eu sou, estar em constante transformação. 
O cérebro humano, conforme ressalta Quiroga (2017), foi projetado para 
compreender, dar sentido às informações pouco nítidas que guardamos. Ele 
defende que em vez de focar a memorização de conteúdo, que certamente será 
esquecido, um sistema de ensino baseado em como o cérebro humano funciona 
deveria direcionar a educação a práticas que trabalham compreensão e 
pensamento crítico. 
E para dar sentido às informações, detalhes geralmente são dispensáveis. 
Sabe aquelas figuras que vêm com partes faltando para que as crianças 
completem-na mentalmente e adivinhem o que está representado? O cérebro 
funciona dessa forma, tanto com relação às percepções como com relação à 
memória. As informações e estímulos não precisam estar “mastigadas”. Bastam 
algumas pistas e o restante o cérebro infere, faz suposições, quase sempre 
corretas. Veja o caso da visão: o campo em que nosso sistema visual enxerga 
em foco, por exemplo, é muito pequeno, do tamanho de uma moeda. Mas nossa 
percepção nos entrega um cenário completo – seja sem ou com óculos – 
inteiramente em foco. Quase tudo é reconstituição feita pelo cérebro. 
A memória funciona de acordo com o mesmo princípio: bastam algumas 
pistas e o resto é construído. As informações são guardadas na forma de 
conceitos. Os mesmos neurônios serão ativados se você olhar um cachorro da 
raça beagle ou pastor alemão, de frente, de cima, de porte grande, preto ou 
branco. Pesquisas recentes mostram que tais neurônios são ativados até mesmo 
quando ouvimos ou quando lemos a palavra cachorro, por exemplo — o que 
significa que são multimodais. 
 O que está guardado é o conceito de cachorro, não os detalhes. E esses 
conceitos são sempre reconstruídos cada vez que precisamos acessá-los. Se a 
memória fosse um filme, cada vez que fosse assistido seria diferente. As cenas 
seriam pouco nítidas, os cenários bastante variáveis, a ordem, os diálogos e até 
as sensações que eles evocam mudariam a cada vez, dependendo de 
 
 
4 
acontecimentos e informações recentes e de como se sente o diretor no dia em 
que o filme está passando. 
A memória, portanto, reconstitui as cenas cada vez em que é acionada. 
E, por isso, não pode ser considerada muito confiável. Muitas das suposições 
que o cérebro faz, por mais que pareçam nítidas, não refletem a realidade. Tanto 
é que é possível, conforme apontaram alguns estudos, implantar memórias 
falsas nas pessoas. Muito daquilo que recordamos da nossa infância pode 
também ser resultado de memórias criadas a partir de fotografias, histórias ou 
da imaginação infantil. 
TEMA 2 – TIPOS DE MEMÓRIA 
Quando falamos em memória, as pessoas geralmente pensam em cenas 
de uma experiência do passado ou em fatos que precisaram “decorar” para uma 
finalidade acadêmica ou de trabalho. Na verdade, esses dois exemplos 
envolvem processos diferentes e não são os únicos tipos de memória que temos. 
Nesta aula, você aprenderá sobre as diferentes formas de 
armazenamento que o nosso cérebro apresenta. Veremos o que significam 
memória preocedural, memória declarativa, memória semântica, memória 
episódica e memória de longo e curto prazo. 
Há dois tipos básicos de memória, que se subdividem em outros: a 
declarativa e a procedural. 
2.1 Memória procedural 
A procedural é considerada uma memória implícita, aquela que não 
precisa ser conscientemente acionada quando utilizada. É ela que permite que 
façamos automaticamente grande parte das tarefas, especialmente as motoras. 
Por exemplo, quando você aprendeu a dirigir e a andar de bicicleta, essas 
atividades não eram nada automáticas e precisaram de um bom tempo de prática 
e de movimentos conscientes. Depois de muita repetição, a aprendizagem ficou 
registrada de tal forma que hoje essas tarefas são feitas sem que você, 
conscientemente, acesse a memória para lembrar como se faz. 
Tudo aquilo o que podemos dizer que fazemos “sem pensar”, de forma 
automática, é permitido pela memória implícita. Imagine se um tenista precisasse 
avaliar, conscientemente, quais os melhores movimentos antes de bater na bola, 
 
 
5 
ou se um músico precisasse se lembrar das lições cada vez que escolhe uma 
nota. Graças à memória implícita, podemos ficar tão bons em algo que temos 
dificuldade para parar e pensar em como o estamos fazendo. 
2.2 Memória declarativa 
Enquanto a memória procedural está mais relacionada com o sistema 
motor, a memória declarativa envolve o conhecimento de acontecimentos, fatos 
e informações. Quando você lista os meses do ano, escreve seu endereço ou 
conta a história de um filme a alguém, está utilizando memória declarativa que, 
por sua vez, subdivide-se em dois outros tipos: a episódica e a semântica. 
Conheça as diferenças: Memória semântica: está relacionada a todos os fatos e conceitos que 
precisamos memorizar, sem necessariamente estarmos envolvidos neles. 
Basicamente tudo o que você teve que memorizar na escola e o que você 
está aprendendo agora envolve sua memória semântica. 
 Memória episódica: como o nome sugere, envolve episódios, ou seja, 
experiências em que você é o protagonista. É a memória da subjetividade 
— daquilo o que você viu, sentiu e fez. Quando você lembra como se 
sentiu e o que pensou quando alguém lhe disse algo, está usando a 
memória episódica. Ela também ajuda, com base em situações já 
vivenciadas, a projetar situações futuras e imaginar como seriam tais 
experiências. 
Assim, podemos dizer que a memória episódica é aquela que somente 
você tem. É considerada uma memória mais recente na linha evolutiva e também 
a mais vulnerável a disfunções neurológicas, ou seja, em algumas condições 
que afetam a memória, é esse o primeiro sistema a ser prejudicado. 
Há evidências de que a memória episódica é desenvolvida mais tarde e 
de que a partir dos 18 meses de idade as crianças começam a ganhar a 
capacidade de se imaginar como participantes de alguma lembrança, mas 
apenas a partir dos três ou quatro anos essa lembrança é mais perceptível. Por 
isso não temos lembranças do período inicial da nossa vida. A memória 
episódica também nos é dificultada pelo fato de crianças pequenas ainda não 
terem desenvolvido noção de tempo. 
 
 
6 
2.3 Onde estão guardadas as memórias? 
Relacionar os sistemas de memória a determinadas partes do cérebro é 
um grande desafio para a ciência. Sabemos que o hipocampo é crucial tanto 
para a formação de novas memórias quanto para sua consolidação. Várias 
pesquisas mostram que o hipocampo é fundamental para a memória episódica, 
mas está longe de ser a única estrutura envolvida. O hipocampo trabalha em 
conjunto com os sistemas de processamento sensorial em todo o neocórtex. O 
reconhecimento de imagens ou de faces envolve o córtex visual. Já memória 
semântica está distribuída por diversas áreas corticais e subcorticais, ou seja, 
não está localizada em nenhuma região específica do cérebro. 
Além desses tipos de memória, costumamos nos referir às memórias 
consolidadas como de longo prazo. São aquelas que tiveram suas conexões 
fortalecidas por um envolvimento emocional ou pela repetição. A memória ainda 
não consolidada pode ser considerada de curto prazo (como aquela que 
utilizamos quando estudamos informações para responder a uma prova no dia 
seguinte, mas que depois esquecemos) ou memória de trabalho. Sobre essa 
última, que nos permite manter informações na mente para que sejam 
manipuladas, falaremos no módulo sobre funções executivas. 
Figura 1 – O sistema límbico 
 
Crédito: joshya/Shutterstock. 
 
 
 
7 
TEMA 3 – A CONSTRUÇÃO DAS MEMÓRIAS 
Nesta aula, veremos que a formação de memória depende de alguns 
processos cognitivos e biológicos. Ao conhecê-los, podemos ajudar nosso 
cérebro a guardar melhor as informações importantes. Nesta aula, veremos que 
alguns elementos são cruciais para a formação de memórias, portanto, para que 
ocorra a aprendizagem: associação, atenção, emoção — fatores dos quais 
falaremos na sequência — repetição e sono. 
Alguns desses tópicos serão apresentados nas próximas aulas. Agora 
vamos falar da importância do sono e da associação. 
3.1 A memória e o sono 
A privação do sono produz déficit na ativação do hipocampo no processo 
de formação de novas memórias. Durante alguns estágios do sono, as conexões 
relacionadas àquilo que foi aprendido e envolveu atenção, emoção ou repetição 
são reforçadas, ao mesmo tempo em que é feita uma espécie de limpeza de toda 
a informação irrelevante processada durante o dia. 
Isso vale também para habilidades que envolvem o sistema motor, como 
a prática de esporte ou de um instrumento musical. Os movimentos praticados 
no dia anterior são repassados enquanto dormimos, numa exercício inconsciente 
que reforça as sinapses e ajuda na consolidação da memória. Em estudos com 
ratos, foi verificado que, durante o ciclo de ondas lentas do sono — aquele que 
conhecemos como sono profundo —, habilidades aprendidas durante o dia são 
ensaiadas repetidamente (Wilson; McNaughton, 1994). 
De acordo com Wilson e McNaughton (1994), esse replay mental das 
experiências é fundamental para o fortalecimento das conexões sinápticas e, 
dessa forma, para que a aprendizagem se consolide. Em seu livro The Secret 
World of Sleep (O Mundo Secreto do Sono, em tradução livre), a neurocientista 
e pesquisadora na área do sono Penelope Lewis (2013) revela que as 
habilidades motoras tendem a se aprimorar em até 20% enquanto dormimos. 
Conforme vimos nas aulas anteriores, o cérebro foi projetado para 
trabalhar com poucas informações e muitas suposições. Para que essas poucas 
informações juntem-se a outras para construir sentido ou para criar novas 
associações inteligentes precisam se livrar dos dados irrelevantes, mantendo a 
 
 
8 
capacidade de armazenamento. O esquecimento, portanto, é um processo 
fundamental para as funções cognitivas. 
O sono também cumpre um importante papel nesse processo de 
esquecimento, que podemos chamar de limpeza de informações sem 
importância. Para que o cérebro não fique saturado de conexões fracas 
referentes a estímulos irrelevantes que foram processados durante o dia, 
enquanto dormimos é realizada essa faxina, durante o estágio do sono de ondas 
lentas. 
3.2 A associação 
Toda a memória, assim como a aprendizagem, funciona por associação. 
Lembre-se de que neurônios que se ativam ao mesmo tempo se conectam. Para 
uma informação ser retida, ela precisa se relacionar com algum conhecimento 
prévio já consolidado. 
Pense no seguinte exemplo: você se depara com caracteres em uma 
língua que não conhece, como árabe ou mandarim. Não entende a mensagem, 
mas repara nos símbolos e os acha interessantes. Qual a chance de você se 
lembrar dos símbolos no dia seguinte, ou mesmo de saber identificá-los entre 
outros semelhantes? Como eles não faziam nenhum sentido para você, seu 
cérebro não se dá o trabalho de armazená-los. A única chance de conseguir 
reproduzir ou mesmo identificar aqueles símbolos seria a seguinte: você olha 
atentamente os traços e faz associações conscientes, como “parece uma 
carinha feliz, seguida por um jota espelhado com uma sujeirinha no meio”. 
Mesmo sem entender a mensagem, seu cérebro associou os símbolos a outros 
símbolos e isso fez com que posteriormente se lembrasse de como eram. Se 
você associa a sequência de símbolos a elementos que constituem uma história, 
a chance de se lembrar deles depois é ainda maior. 
Os conceitos que memorizamos, portanto, nunca estão isolados. A 
memória funciona como uma rede, com um elemento necessariamente 
relacionado a vários outros. Veja o que acontece quando encontra um 
conhecido: você vai imediatamente lembrar de onde você o conhece e fazer 
associações desse rosto a algum ambiente, atividade, amigos em comum, 
acontecimentos marcantes, emoções que ele desperta, outros rostos parecidos 
com aquele e inúmeras outras informações que o seu cérebro relacionou àquela 
 
 
9 
pessoa. Essas associações formam uma espécie de mapa neural de um 
determinado conhecimento que conseguiu trilhar seu caminho até nosso sistema 
de armazenamento. 
TEMA 4 – A ATENÇÃO SEGUNDO LURIA 
De acordo com William James, em The Principles of Psychology (1981), 
Todos sabem o que é atenção. É quando a mente toma posse, de 
forma clara e vívida, de uma dentre tantas simultâneas possibilidades 
de assuntos ou direções do pensamento. A focalização, concentração 
e consciência estão na sua essência. Implica na retirada de 
informações para que se possa lidar com outras de forma eficaz. 
Sim, todos sabemos o que é atenção; no entanto, defini-la não é tarefa 
tão fácil assim. E controlá-la é ainda mais difícil— especialmente na era das 
distrações em que estamos vivendo. Nesta e na próxima aula, você aprenderá 
sobre a mais fundamental e também uma das mais vulneráveis das nossas 
funções cognitivas: a atenção. 
Quando você chega a um ambiente novo, olha rapidamente ao redor e 
tem uma impressão geral do espaço, da luminosidade, da quantidade de 
pessoas. Mas a maior parte das informações que chegam aos seus sentidos, 
enquanto está naquele ambiente, sua consciência deixa escapar. 
O tempo inteiro em que está acordado, você processa apenas uma parte 
dos estímulos e o restante ignora. Em uma conversa, para que compreenda o 
que o outro fala, você precisa filtrar o som, ignorando todo o barulho de fundo. 
Se não tivesse a habilidade de ignorar os estímulos, ficaria tão saturado que não 
conseguiria organizar adequadamente todas as informações. Não haveria 
aprendizagem alguma. Só conseguimos aprender e memorizar o que 
aprendemos porque temos a capacidade de selecionar o estímulo ao qual iremos 
direcionar a atenção. 
Para o neurologista russo Alexander Luria, considerado o pai da 
neuropsicologia, a atenção permite a função mais importante da cognição, 
que é a organização dos estímulos, e, como consequência, das próprias ações 
e reações de forma adequada. A atenção é, portanto, a mais fundamental função 
cognitiva, que está na base de qualquer aprendizagem. 
Já nas primeiras semanas de vida, bebês já têm a habilidade de voltar a 
atenção a determinados estímulos que, segundo Luria (1930), ajudam-nos a 
organizar o comportamento, embora essa organização não se sustente por muito 
 
 
10 
tempo. Esse tipo de atenção não arbitrária Luria (1930) chama de reflexo 
instintivo. 
Mais tarde, as demandas sociais começam a fazer surgir um tipo de 
atenção arbitrária, que Luria (1930) chama de civilizada. Trata-se de um 
mecanismo adquirido que desenvolve na criança a habilidade de selecionar e 
direcionar a atenção a estímulos mais fracos, mas socialmente mais relevantes, 
geralmente criados pelo meio social. 
Hoje, na psicologia, esse tipo de atenção ganhou outras nomenclaturas e 
se subdividiu: a capacidade de selecionar estímulos, focalizar e manter o foco é 
chamado de atenção concentrada. Chamamos de atenção sustentada a 
capacidade de sustentar a atenção a atividades repetitivas por um determinado 
período de tempo. Já a alternância de foco de um estímulo para outro — o que 
acontece quando fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo — é chamada 
de atenção alternada. 
Sem a capacidade de controlar a própria atenção e ignorar os estímulos 
irrelevantes, a aprendizagem torna-se impossível. A linguagem, segundo Luria 
(1930), tem papel fundamental na transição da atenção instintiva para a 
civilizada, adquirindo a função de operação cultural. 
TEMA 5 – A ATENÇÃO NO CÉREBRO 
Nesta aula veremos que, assim como acontece com a memória, a atenção 
não é um processo único, ou seja, existe mais de um modo de atenção e todos 
têm seu papel na aprendizagem. Vamos falar também sobre os processos 
mentais envolvidos nessa função, tanto os conhecidos como bottom-up como 
os top-down. 
Luria (1990) dividiu o cérebro em três unidades funcionais, que são, de 
uma forma geral, responsáveis pelas funções de regulação de estados mentais 
básicos, tônus, o sono e a vigília (primeira unidade funcional); processamento 
sensorial e armazenamento (segunda unidade funcional, responsável pela maior 
parte das habilidades adquiridas nos primeiros anos de vida); e autorregulação 
e funções psíquicas superiores (terceira unidade funcional). 
Conforme vimos na aula anterior, Luria (1990) chama de reflexo 
instintivo aquela atenção mais primitiva, que nos faz olhar para a direção de um 
alarme um para um reflexo luminoso que aparece de repente. Trata-se de um 
 
 
11 
recurso fundamental para a sobrevivência de qualquer espécie e começa nas 
áreas subcorticais — a primeira unidade funcional — para então se tornar 
consciente. Por isso chamamos esse processo, conduzido pelas sensações, de 
bottom-up. Ele envolve especialmente o hipotálamo, que regula o metabolismo 
fisiológico. Quando dizemos que uma criança está sempre distraída, ela na 
verdade está direcionando sua atenção, de forma instintiva, a estímulos 
irrelevantes e tem dificuldade em manter a atenção que Luria (1990) chama de 
civilizada e hoje conhecemos como concentrada. 
5.1 A atenção concentrada 
Esse outro modo de atenção que conscientemente controlamos para 
realizar tarefas cognitivas superiores, como planejamento e resolução de 
problemas, depende também das áreas corticais (top-bottom), mais 
especificamente o córtex pré-frontal, que corresponde à terceira unidade 
funcional de Luria (1990). Processos top-down são conduzidos pelas 
informações e dependem da nossa capacidade de associar essas novas 
informações às que estão na memória consolidada para dar sentido a elas. 
Quando a atenção ocorre nessa direção, é a cognição que influencia as 
sensações. 
A analogia da atenção com o foco é perfeita — tanto que geralmente 
usamos as duas palavras para dizer a mesma coisa. Quando nos concentramos 
em um único estímulo, é como se jogássemos um foco de luz forte e pontual em 
cada peça de informação, que será associada ao novo conhecimento para que 
ele faça sentido. Esse tipo de atenção trabalha o fortalecimento de conexões, 
sempre dentro de um processo sequencial, lógico, linear. 
Por exemplo, vamos aprender um novo idioma: devemos estar atentos ao 
som, ao sentido da palavra e à estrutura semântica da língua. Para isso, jogamos 
o foco nas palavras que se parecem em som ou significado ou de alguma forma 
se relacionam ao novo vocabulário e nas imagens mentais que podem ser 
associadas a ele. Essas associações que a atenção concentrada permite formar 
estão sempre diretamente relacionadas à nova informação. Quando estamos 
focados em uma tarefa, nosso cérebro emite ondas eletromagnéticas chamadas 
beta. 
5.2 A atenção difusa 
 
 
12 
A atenção concentrada não é a única envolvida na aprendizagem. A 
atenção difusa — que envolve processos mentais diferentes e que para muitos 
é considerada distração — também tem seu papel no ganho cognitivo e deve ser 
estimulada por quem está ensinando e buscada por quem está aprendendo. 
Também ocorre de baixo para cima, ou seja, é um processo bottom-up. Mas, ao 
contrário do reflexo instinto, não é guiada por sensações e estímulos externos. 
Esse outro tipo de atenção se assemelha a um foco difuso de luz: mais 
fraco, mas que se dispersa por todo o ambiente. Assim, nesse modo 
conseguimos ter uma visão mais ampla da informação: o pensamento corre mais 
livremente por todo o cérebro, o que nos permite fazer associações menos 
óbvias, conexões mais holísticas entre as informações aprendidas e os 
conhecimentos pré-existentes. Isso explica por que pessoas mais distraídas 
tendem a ser mais criativas, e por que, com frequência, é nos momentos de 
relaxamento que surgem as melhores ideias. 
Esse modo de atenção é também importante quando se aprende algo 
completamente novo, em um primeiro momento difícil de ser relacionado a outro 
conhecimento já consolidado. A atenção difusa entra em cena na aprendizagem 
permitindo uma familiaridade com o conteúdo a ser aprendido, como folhear um 
livro antes de começar a ler, observar alguém fazendo antes de começar a 
aprender, ouvir uma música antes de aprender suas notas. 
O neurocientista Michael Gazzaniga (2008), pioneiro em estudos com 
pacientes que passam por cirugia de desconexão dos hemisférios cerebrais (um 
procedimento chamado split brain, geralmente usado em pessoas com fortes 
crises epilépticas) explica que a atenção envolve os hemisférios de formas 
diferentes. A atenção reflexiva ativa ambos hemisférios de forma independente, 
enquanto a atenção voluntária (top-down) é resultado de uma espécie de jogo 
de cooperação entre os dois lados do cérebro. Enquantoo esquerdo fica mais 
no controle, o direito é responsável pela atenção de todo o campo visual. 
Os processos bottom-up são econômicos em energia; já as funções 
corticais (top-down) demandam um alto gasto energético e exigem esforço. É 
muito mais fácil, portanto, deixar a mente vagar sem o controle consciente sobre 
a atenção. 
Por consumir tanta energia, a atenção concentrada, essa que chamamos 
de foco e nos garante a aprendizagem, é um recurso limitado. Ela requer esforço, 
provoca cansaço e tende a ser inconscientemente evitada. Por isso tendemos 
 
 
13 
fugir das tarefas que requerem muita concentração e deixar a mente escapar 
quando a atividade requer a sustentação da atenção por muito tempo. O fácil 
acesso a rotas de fuga sedutoras e que não demandam esforço cognitivo, como 
smartphones e redes sociais, torna muito mais difícil o controle da atenção. 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
ALEXANDER L. Katherin de avila salas, 10 ago. 2013. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=-gk0zrs4TbM>. Acesso em: 30 ago. 2018. 
ATENÇÃO. Psychic Minutes, 26 fev. 2016. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=WhL4ntndnrs>. Acesso em: 30 ago. 2018. 
COHEN, R. The Neuropsychology of Attention. Nova York: Springer, 2014. 
GAZZANIGA, M. Human: The Science Behind What Makes Us Unique. Nova 
York: Harper Collins, 2008. 
GAZZANIGA, M. S.; MANGUN, G. R.; IVRY, R. B. (Ed.). Cognitive 
Neuroscience: The Biology of the Mind. Londres: MIT Press, 2014. 
JAMES, W. The Principles of Psychology. Cambridge: Harvard University 
Press, 1981. 
LEWIS, P. A. The Secret World of Sleep: the surprising science of the mind at 
rest. Nova York: St. Martin’s Press, 2013. 
LURIA, A. C. Desenvolvimento cognitivo. São Paulo: Ícone, 1990. 
_____. The Cultural Development of Special Function: Attention. In: LURIA, A. 
R.; VYGOTSKY, L. S. Ape, Primitive Man, and Child: Essays in the History of 
Behaviour. 1930. Disponível em: <https://www.marxists.org/archive/luria/works/
1930/child/ch08.htm>. Acesso em: 30 ago. 2018. 
QUIROGA, R. Q. The Forgetting Machine. Dallas: BenBella Books, 2017. 
THE BENEFITS of a good night’s sleep – Shai Marcu. Ted-Ed, 5 jan. 2015. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gedoSfZvBgE>. Acesso 
em: 30 ago. 2018. 
WILSON M. A.; MCNAUGHTON, B. L. Reactivation of hippocampal ensemble 
memories during sleep. Science, v. 265, n. 5172, p. 676–679, 1994. Disponível 
em: <http://science.sciencemag.org/content/265/5172/676>. Acesso em: 30 ago. 
2018.

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