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Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social - Dimensão Metodológica Aula 3 Professora Neiva Silvana Hack Conversa Inicial Nessa aula, trataremos dos aspectos metodológicos presentes no Movimento de Reconceituação do Serviço Social, que perdurou durante as décadas de 1960, 1970 e 1980 e influenciou a concepção atual que temos sobre o Serviço Social. Temos como objetivos desta aula: Conhecer o conjunto metodológico compreendido no período de realização do Seminário de Araxá; Conhecer o conjunto metodológico compreendido no período de realização do Seminário de Teresópolis; Conhecer e analisar as principais características do Método BH; Compreender os aspectos teóricos e metodológicos que compreendem a fenomenologia; Relacionar a intervenção profissional com o conjunto de iniciativas da sociedade civil caracterizadas como movimentos sociais. Para alcançar esses objetivos, contaremos com diferentes recursos educativos, como textos explicativos; videoaulas; indicações de leituras e atividades. Aproveite de todos esses meios para enriquecer seu conhecimento! Antes de começar, confira os comentários iniciais da professora Neiva no vídeo disponível no material on-line. Contextualizando A história e o desenvolvimento de toda profissão deve ser entendida dentro de um contexto maior, compreendendo a história de seu país e a história mundial. Assim acontece também com o Serviço Social, que no Brasil tem seu início marcado na década de 1930, com forte influência das orientações teóricas e morais da Igreja católica. Segue seu curso adotando bases teóricas e metodológicas de caráter positivistas, sob influência do Serviço Social norte- americano. Esta última influência foi contextualizada num período de investimento internacional no Brasil para a promoção do seu “desenvolvimento”. A categoria profissional avança em seu exercício, situada em cada contexto social. São marcos das décadas de 1960 a 1980 os movimentos dos profissionais em questionar as práticas e os fundamentos teóricos e metodológicos da profissão. Contudo, neste mesmo período, o país passou por um momento político singular e limitador de direitos, a Ditadura Militar, que perdurou de 1964 a 1985. Identificamos, assim, a contradição em que se encontrava a profissão, que por um lado apresentava-se interessada em questionar e superar padrões tradicionais de sua prática, mas por outro se desenvolvia dentro de um contexto sociopolítico de significativas restrições. Uma pergunta que fica para nossa reflexão neste momento é a seguinte: O contexto sociopolítico das décadas de 1960 a 1980, no Brasil, influenciou a dimensão metodológica do Serviço Social? Não se preocupe em responder agora. Vamos avançar em nossos estudos e voltaremos a discutir esta questão ao final da aula. Bons estudos! No vídeo disponível no material on-line a professora Neiva faz uma contextualização dos temas que serão trabalhados. Tema 1 – Metodologia no Documento de Araxá O Documento de Araxá faz parte de um conjunto de iniciativas compreendidas como seminários de teorização, que fazem parte do início do Movimento de Reconceituação do Serviço Social. No início dos anos 1960, a categoria profissional do Serviço Social passa a se organizar e questionar a sua contribuição na sociedade. Temos, então, o início do Movimento de Reconceituação, que perdurou até a década de 1980. Grande parte desta articulação se deu durante o período da Ditadura, o que limitou o avanço da teoria crítica nas primeiras décadas. A forte característica do período inicial deste movimento foi a discussão teórica e metodológica desenvolvida em seminários. Quatro importantes seminários fizeram parte deste processo: Araxá, Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista. Nesta e na próxima aula, dedicaremos uma atenção especial à dimensão metodológica, que foi ponto forte dos Seminários de Araxá e Teresópolis (NETTO, 2015; CBCISS, 1986). O Seminário de Araxá realizou-se de 19 a 26 de março de 1967 na cidade mineira de Araxá. As produções dos profissionais durante o encontro foram compiladas em um documento com o mesmo nome. A análise do documento nos permite observar um cuidado importante em sistematizar a prática, refletindo a atuação da profissão diante do contexto social em que estava inserida. Observamos isso no texto a seguir, compreendido na abertura do Documento de Araxá: Um esforço de teorização do Serviço Social era imperativo inadiável, nesta fase da sua evolução no Brasil. Este esforço compreenderia a busca de análise e síntese dos seus componentes universais, dos seus elementos de especificidade e de sua adequação ao contexto econômico-social da realidade brasileira. O Comitê Brasileiro da Conferência Internacional de Serviço Social (CBCISS) deliberou convocar um grupo de assistentes sociais, representativo das várias regiões do país, vinculados aos diferentes campos e níveis de atuação, portadores das mais variadas experiências profissionais para solidariamente tentar responder àquele imperativo (CBCISS, 1986, p. 19). O Seminário de Araxá contou com três importantes discussões: a teorização, a metodologia e a contextualização do Serviço Social na conjuntura social em que se encontrava. É fato que todas as três possuem inter-relação e por isso estão compreendidas ao longo de todo o documento. Cabe- nos, nesta disciplina, uma especial atenção às discussões sobre metodologia. A dimensão da teorização apresenta uma provocação no sentido da necessária reflexão sobre a prática. Critica as ações pontuais e imediatistas reproduzidas pelos profissionais, que decorriam em reforço ao assistencialismo. Propõe uma intervenção pensada e capaz de fortalecer as dimensões da prevenção e promoção, em detrimento da correção. Na pauta do Seminário, foram estudados e mesmo questionados os métodos então adotados de forma ampla pelo Serviço Social brasileiro: o serviço social de caso, grupo ou desenvolvimento de comunidade: As exigências do processo de desenvolvimento mundial vêm impondo ao Serviço Social, sobretudo em países ou regiões subdesenvolvidas, o desempenho de novos papéis. Estes papéis, em sua evolução histórica, constituem forma de inserção da profissão na realidade econômico-social dos mesmos países ou regiões. A partir desse novo enfoque, o Serviço Social deverá romper o condicionamento de sua atuação ao uso exclusivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, e rever seus elementos constitutivos, elaborando e incorporando novos métodos e processos (CBCISS, 1986, p. 26). As reflexões do Seminário concorrem para reconhecer o profissional em seu papel de executor de ações públicas, focando também na sua contribuição com o planejamento e avaliação. No capítulo do Documento de Araxá dedicado exclusivamente para a questão da metodologia, é feita inicialmente a afirmação dos “princípios básicos da ação profissional”. São eles: Autodeterminação; Individualização; Não julgamento; Aceitação. Os trabalhos realizados no Seminário conduziram a uma classificação destes princípios em postulados, no que se referia à dimensão ética da ação, e em princípios operacionais, quando são norteadores da prática (CBCISS, 1986). Observe os postulados e princípios operacionais elencados no Documento de Araxá no quadro a seguir: Postulados Princípios operacionais a) Postulado da dignidade da pessoa humana: que se entende como uma concepção do ser humano numa posição de eminência ontológica na ordem universal e ao qual todas as coisas devem ser referidas; b) Postulado da sociabilidade essencial da pessoa humana: que é o reconhecimento da dimensão social intrínseca à natureza humana, e, em decorrência do que seafirma, o direito de a pessoa humana encontrar, na sociedade, as condições para a sua autorrealização; c) Postulado da perfectibilidade humana: compreende-se como o reconhecimento de que o homem é, na ordem ontológica, um ser que se autorrealiza no plano da historicidade humana, em decorrência do que se admite a capacidade e potencialidades naturais dos indivíduos, grupos, comunidades e populações para progredirem e se autoproverem. a) Estímulo ao exercício da livre escolha e da responsabilidade das decisões; b) Respeito aos valores, padrões e pautas culturais; c) Ensejo à mudança no sentido da autopromoção e do enriquecimento do indivíduo, do grupo, da comunidade, das populações; d) Atuação dentro de uma perspectiva de globalidade na realidade social. Adaptado de CBCISS (1986, p.30). Texto é transcrição do original. O documento apresenta que a intervenção com indivíduos, grupos, comunidades e populações não é uma ação exclusiva do Serviço Social. Refere que a peculiaridade própria da profissão é “o enfoque orientado por uma visão global do homem, integrado em seu sistema social” (CBCISS, 1986). Esta dimensão de globalidade, contudo, não esclareceu suficientemente a especificidade da profissão, nem os motivos de sua escolha como elemento diferencial do Serviço Social frente às outras profissões (NETTO, 2015). É possível, ao analisar a referência à globalidade, compreender o deslocamento da ética neotomista para o referencial estrutural-funcionalista norte-americano, tal como discutido por José Paulo Netto (2015, p. 219-220): Ainda que o documento não clarifique com rigor esta noção, percebe-se que ela é utilizada como um traço pertinente da ultrapassagem do tradicionalismo — à intervenção profissional que toma os 'problemas sociais' de forma estanque deve substituir-se a 'perspectiva da globalidade'. (...) À primeira vista, a determinação pode parecer somente uma extensão, para a angulação profissional, do princípio genérico que denota a 'integralidade' do desenvolvimento; contudo, o dado distintivo é a menção ao sistema social: sai-se aqui do campo ético do neotomismo para o terreno teórico do estrutural-funcionalismo — a 'globalidade' é a perspectiva das relações sistêmico-integrativas de indivíduo e sociedade. O deslocamento é significativo porque, no texto, ele interdita o questionamento da especificidade profissional. A organização da metodologia no Documento de Araxá segue a partir da classificação das funções desenvolvidas pelo Serviço Social, as quais foram subdivididas em dois níveis de atuação: Microatuação: ações de caráter administrativo e prestação de serviços diretos (característica operacional); Macroatuação: ações voltadas à política e ao planejamento (característica ampla de planejamento e administração). Compreende ações integradas de planejamento, implantação e otimização de infraestruturas sociais, como serviços de saúde, educação, habitação, comunicação e outros. Aprofunde seu conhecimento a respeito do Documento de Araxá assistindo à videoaula da professora Neiva, que está disponível no material on-line. Tema 2 – Metodologia no Documento de Teresópolis A dimensão metodológica ganha ampla discussão pela categoria profissional durante o Movimento de Reconceituação. Um dos momentos mais significativos neste processo foi a realização do Seminário de Teresópolis/RJ, entre 10 e 17 de janeiro de 1970. Assim como o Seminário de Araxá, foi promovido pelo CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercambio de Serviços Sociais). Clique no botão a seguir e confira a introdução do Documento de Teresópolis, a respeito da motivação e objetivo deste segundo Seminário: Em 1967, trinta e oito assistentes sociais brasileiros, a convite do CBCISS, reuniram-se em Araxá com o objetivo de teorizar sobre Serviço Social face à realidade brasileira. Nesse encontro foi elaborado um relatório amplamente divulgado sob o título: DOCUMENTO DE ARAXÁ. Sete encontros regionais foram realizados em 1968 para levantar opiniões sobre a validade teórica do Documento de Araxá e recolher subsídios sobre os aspectos nele omissos e as reformulações cabíveis. Setecentos e quarenta e um assistentes sociais opinaram sobre a matéria nos encontros regionais realizados em Goiânia, Fortaleza, Manaus, Belo Horizonte, Campinas, Porto Alegre e Rio de Janeiro (GB). Os resultados desses encontros foram divulgados no ‘Suplemento de debates sociais’ nº 03, agosto de 1969: ‘Análise do Documento de Araxá – Síntese dos 7 encontros regionais’. Os depoimentos recebidos revelaram, com bastante clareza, a necessidade de um estudo sobre a Metodologia do Serviço Social face à realidade brasileira. Em resposta a essa necessidade, o CBCISS programou novo encontro para estudo do tema proposto (CBCISS, 1986, p. 53). O Seminário de Teresópolis contou com a fase preparatória, em que 103 assistentes sociais foram convidados a contribuir com documentos de análise temática. O seminário contou com 11 documentos elaborados na fase preparatória e com a participação de 33 assistentes sociais durante os dias do evento. A pauta que motivou a elaboração dos documentos prévios compreendia a discussão da intervenção em Serviço Social e do diagnóstico social aplicados às diferentes frentes de trabalho (CBCISS, 1986). Entre os documentos prévios, ganhou destaque a proposta de José Lucena Dantas, que segundo Netto (2015) é aquele que mais influencia os trabalhos realizados no Seminário, bem como os relatórios que compõem o documento final. Dantas elaborou o ensaio “A teoria metodológica do Serviço Social. Uma abordagem sistemática”. Sua produção compreendeu a discussão da metodologia do Serviço Social, pautada em referenciais de uma perspectiva modernizadora. Essa correlação da metodologia com a proposta modernizadora própria daquela conjuntura social e política está clara não somente em seu texto, como também no próprio Documento de Teresópolis (NETTO, 2015). Leia a observação de José Paulo Netto sobre o assunto, comparando os documentos de Araxá e Teresópolis: No Documento de Teresópolis, o dado relevante é que a perspectiva modernizadora se afirma não apenas como concepção profissional geral, mas sobretudo como pauta interventiva. Há mais que continuidade entre os dois documentos: no de Teresópolis, ‘o moderno’ se revela como a consequente instrumentalização da programática (desenvolvimentista) que o texto de 1967 avançava (NETTO, 2015, p. 230). O seminário contou com a produção de trabalhos em dois grupos distintos que discutiram e elaboraram propostas a partir dos temas “Concepção científica da prática do Serviço Social” e “Aplicação da metodologia do Serviço Social”. Ambos deveriam ser tratados a partir da discussão sobre os fundamentos da metodologia do Serviço Social. Um dos destaques do relatório de Teresópolis é a proposição da realização de pesquisa sobre o Serviço Social no Brasil. Pela diversidade do conteúdo final dos trabalhos dos dois grupos, seus resultados não foram compilados em relatório único, mas apontados separadamente. O primeiro grupo orientou sua proposta de análise sobre a concepção científica da prática do Serviço Social, em cinco etapas. A subdivisão foi utilizada de forma didática, sendo que o grupo destacou o compromisso com a integralidade. As cinco etapas definidas pelo grupo A compreendiam: 1. Levantamento de fenômenos significativos observados na prática do Serviço Social: neste caso, foram levantadas as demandas que se apresentavam à profissão, que foram classificadas em necessidades básicas e sociais e subdivididas em níveis: “biológico e de equipamento sanitário”, “doméstico e familiar”, “educacional”, “residencial”, “cívico-municipal”, “sociocultural” e “de segurança”;2. Identificação das variáveis significativas para o Serviço Social, nos fenômenos observados: tratou de aprofundar a primeira etapa, avaliando as diferentes configurações em que se apresentam as demandas à profissão; 3. Identificação das funções correspondentes às variáveis inventariadas: tratava-se do conjunto de ações possíveis do Serviço Social para atenção às demandas identificadas; 4. Redução das funções: proposta de agrupamento das funções elencadas na terceira etapa em funções mais abrangentes; 5. Classificação das funções: processo de classificação das funções delimitadas na etapa 4 (CBCISS, 1986). Entenda melhor: o conceito utilizado no Seminário de Teresópolis para definir as funções do Serviço Social foi “a resposta dada pela intervenção do serviço social a uma determinada necessidade humana, detectada nas variáveis observadas” (CBCISS, 1986, p. 63). Seguindo este processo, por etapas, o grupo levantou detalhada e organizadamente um rol de funções exercidas pelo Serviço Social frente às demandas que se apresentavam naquele momento. Acessando o material on-line, você confere um quadro (adaptado de CBCISS, 1986, p. 68 e 69), no qual é possível observar um exemplo de tal sistematização. Para conhecer todos os quadros elaborados pelo grupo, como os Documentos de Araxá e de Teresópolis na íntegra, busque pelo livro: “Teorização do Serviço Social: Seminários de Araxá, Teresópolis e Sumaré”, organizado pelo CBCISS — Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em Serviços Sociais”. Seguindo a organização metodológica a partir das funções, o grupo lançou mão da classificação anteriormente delineada pelo documento de Araxá em níveis de atuação e compilou as correlações apresentadas no quadro que você confere clicando no botão a seguir: Funções fins Em microatuação Educativas Mobilizadora Educação de base Substituição de padrões Conscientizadora Socializadora Curativas Terapêutica Assistencial Em macroatuação Criação de recursos Política social Funções meios Em micro e macroatuação Assessoria Pesquisa Planejamento Administração Política social Quadro referente à etapa 5. Adaptado de CBCISS (1986, p. 63). O segundo grupo classificou as demandas para atuação do Serviço Social em diferentes “níveis de vida” (saúde, alimentação, habitação, educação, segurança social e lazer) e “sistemas de relações sociais” (renda, integração social, mudança cultural, transformação institucional e comunicação social). Clique na imagem a seguir e observe o quadro com um exemplo desta classificação: Especificação Necessidades Problemas Níveis de vida Saúde Baixos níveis sanitários Carência e má utilização de recursos Dificuldades de acesso aos recursos existentes Alimentação Carência alimentar Alta incidência de gasto alimentar no orçamento familiar Padrões alimentares inadequados ... ... Especificação Necessidades Problemas Sistema de relações Renda Baixa renda, má distribuição de renda Pauperismo Padrões de consumo inadequados Integração social Marginalidade estrutural Estratificação social Ausência de participação social Grupos minoritários Migrações desordenadas Adaptado de CBCISS (1986, p. 77). Parte do “Quadro de fenômenos e variáveis segundo o critério de necessidades e problemas”. Os encaminhamentos do segundo grupo voltaram-se à análise dos fundamentos teóricos que poderiam ser utilizados para sustentar a prática diante das demandas levantadas. Assim, foram consideradas diferentes áreas do saber, aplicáveis à atuação do Serviço Social nos níveis “prestação direta de serviços”, “administração de serviços sociais” e “planejamento de serviços sociais”. São exemplos destes diferentes campos do saber: Economia, Psicologia, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Legislação Social, Estatística, Teoria de Administração, Urbanismo e outras. O relatório apresenta a discussão que se desenvolve sobre a produção de conhecimento pela categoria do Serviço Social, para além da adoção do conhecimento produzido pelas outras áreas. Ficam subdivididos os tipos de conhecimento em “para”, “em” e “sobre” Serviço Social. No que se refere à intervenção, foram enumeradas as operações comumente desempenhadas pelos assistentes sociais no seu exercício profissional. Clique no botão a seguir e veja quais são elas: 1. Enumerar e descrever; 2. Comparar e distinguir; 3. Classificar e conceituar; 4. Relacionar as variáveis; 5. Sistematizar; 6. Singularizar; 7. Indicar a viabilidade ou prever tendências; 8. Preparar as ações; 9. Executar; 10. Avaliar. (CBCISS, 1986, p. 87). Sobre a aplicação da metodologia do Serviço Social, há destaque para a colaboração da categoria em ações de administração e planejamento, para além das ações de execução. A metodologia sistematizada é caracterizada como: Aplicável ao nível de planejamento: desenvolvido em caráter interdisciplinar. Foi delineado de maneira abrangente, envolvendo a definição de políticas, elaboração e implantação de planos e também ações de controle e avaliação; Aplicável ao nível de administração em Serviço Social: compreendendo as ações de diagnóstico e as ações administrativas voltadas à intervenção; Aplicável ao nível de prestação de serviços diretos: diversidade de ações relacionadas à aplicação dos métodos “caso”, “grupo” e “desenvolvimento de comunidade”. Feito destaque, neste item, de que a análise destes modelos então vigentes não se propunha a reafirmá-los ou identifica- los como únicas formas de intervenção do Serviço Social (CBCISS, 1986). Numa análise comparativa entre os relatórios dos dois grupos, respeitadas as distinções que impediram a formulação de um relatório único, é possível observar complementariedade e pontos em comum. José Paulo Netto (2015) contribui com esta apreciação, destacando as principais convergências, conforme vemos a seguir: Nos dois relatórios, malgrado as suas diferenças, há um denominador comum: a ‘concepção científica da prática do Serviço Social’ é assumida como uma intervenção: (1) sobre elementos intelectualmente categorizados da empiria social; (2) ordenada a partir de variáveis de constatação imediata, e (3) direcionada para generalizar a integração na modernização (entendida como já era posta em Araxá: como sinônimo de superação do subdesenvolvimento) (NETTO, 2015, p. 242). Para compreender melhor, acesse o material on-line e leia um trecho do livro “Teorização do Serviço Social: Seminários de Araxá, Teresópolis e Sumaré”, organizado pelo CBCISS — Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em Serviços Sociais”. Aprofunde seu conhecimento sobre a metodologia do Serviço Social no documento de Teresópolis, assistindo ao vídeo disponível no material on-line. Tema 3 – Método BH O Método BH também está compreendido dentro das expressões do Movimento de Reconceituação do Serviço Social. É reconhecido como pioneiro na proposta de superação do Serviço Social tradicional e conservador, para avançar na adoção de teorias, metodologias e posicionamentos políticos de vertente crítica. Dentro do Movimento de Reconceituação está compreendido como um dos grandes avanços do momento, caracterizado como “intenção de ruptura”. Segundo Netto (2015), frente às constantes reflexões e mesmo ao avanço das teorias de superação do Serviço Social tradicional, ao longo dos anos 1960 e 1970, surgem em meados da década de 1970 dois diferentes movimentos dentro da categoria profissional, um deles buscava a promoção de mudanças, mas reafirmava o conservadorismo, e foi classificado como “reatualização do conservadorismo”; o outro propunha o avanço para a adoçãodas teorias críticas, sendo denominado como “intenção de ruptura”. O Método BH levou este nome por ter sido elaborado em Belo Horizonte/MG, por uma equipe de professores da Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Teve como influências a educação popular de Paulo Freire; a teologia da libertação, movimento de caráter progressista dentro da Igreja Católica e as teorias críticas marxistas (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014; REVISTA EM PAUTA, 2007). Seu principal objetivo era formular uma base de atuação capaz de implementar uma nova concepção teórica e política à atuação dos assistentes sociais. Veja a explicação dada por Leila Lima Santos, uma das professoras da PUC-MG e precursoras do Método BH: Nossa proposta na Escola era romper com o esquema ‘tradicional’ do Serviço Social, mudar os elementos teóricos da formação profissional, enriquecê-los com as Ciências Sociais e dar muita ênfase na busca de novos campos de trabalho e práticas profissionais que ampliassem os horizontes até então demarcados pela visão e prática tradicionais e assistencialistas da profissão. Quando falávamos do esquema tradicional do Serviço Social, referíamos ao legado europeu de assistência e beneficência aos necessitados como parte de uma nobre atitude cristã frente à dor humana. E também aludíamos à corrente norte-americana que considerava que os problemas e os desajustes dos indivíduos, grupos ou comunidades eram desvios de conduta e de comportamento, em que as pessoas eram os únicos e principais responsáveis, já que se assumia que o sistema capitalista dava iguais oportunidades a todos. Estas perspectivas estavam orientadas por um novo ‘marco teórico-metodológico’, cuja dimensão metodológica foi conhecida como Método BH. O Método BH se referia à relação intrínseca entre conhecimento, processo de pesquisa e intervenção direta com instituições ou grupos de população. O Serviço Social tradicional, como já foi dito, ignorava a ‘gênese da questão social’, porque se centrava em teorias behavioristas e psicologistas dos problemas sociais. Além do mais, a sua abordagem de investigação era apenas pragmática: diagnóstico, estudo e tratamento corretivo, feitos em compartimentos estanques do caso, grupo, comunidade. Em contraste, o Método BH partia do pressuposto de que os indivíduos agiam em função do seu momento histórico e das grandes variáveis econômicas e sociais, e que estavam condicionadas pelas relações de classe e relações externas (em função da natureza dos nossos Estados Nacionais). Assim mesmo, pensava-se que a pesquisa era construída através de aproximações permanentes e sucessivas entre conhecimento e prática, entre indivíduo e sociedade. Privilegia-se a influência sobre as políticas sociais estatais ou sobre as estruturas socioeconômicas que sobre as pessoas em particular. O Método BH congregava na pesquisa, professores de Serviço Social e cientistas sociais, supervisores, estudantes que conformavam as Equipes de Prática da Escola de Serviço Social (REVISTA EM PAUTA, 2007, p. 166). O Método BH é reconhecido como a primeira iniciativa capaz de viabilizar uma perspectiva crítica à atuação do Serviço Social. Contudo, possuía falhas em sua proposição, dado seu ecletismo teórico e mesmo no que se refere ao estabelecimento dos objetivos de atuação do Serviço Social (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014; NETTO, 2015). Certa fragilidade do método refere-se à adoção de referenciais marxistas secundários e não da própria produção de Marx, o que conduziu a uma resistência à via institucional que desconsiderava as determinações sócio-históricas da profissão (YASBEK, 2009). Questionam-se seus objetivos-meios, caracterizados como a “conscientização, a capacitação e a organização” e seus objetivos-fins, a “transformação da sociedade e do homem”, por sua amplitude. Questiona-se ainda o objeto de estudo definido por este método: a “ação social da classe oprimida” (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014; NETTO, 2015). Cabe dizer que, se o objeto de atuação da profissão fosse mesmo a ‘ação social da classe oprimida’, como pensavam os formuladores do ‘método BH’, os resultados da nossa intervenção ficariam totalmente submetidos à ação social dessa classe. Com isso, entendia-se que, se tal classe não agisse, a profissão de Serviço Social era a responsável por tal imobilismo, o que significa que naquela época a profissão abarcava uma responsabilidade enorme pela transformação social, quando, na verdade, profissão nenhuma pode assumir tamanha tarefa, pois a transformação da sociedade advém da luta de classes e não da luta de uma única profissão. Ademais, ainda que a educação popular contribua com o processo de conscientização dos sujeitos sociais, se esses sujeitos, por meio da práxis, não se dispuserem a transformar o mundo, nada muda. Daí o Serviço Social não poder tomar a ‘ação social da classe oprimida’ como seu objeto de atuação” (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014, p. 340-341). Embora essas e outras críticas sejam pertinentes ao método, ele é valorizado em seu protagonismo na intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional. É reconhecido como expressão de um período em que há diferente posicionamento sociopolítico da profissão e que esta “questiona sua prática profissional e seus objetivos de adaptação social ao mesmo tempo em que se aproxima dos movimentos sociais” (YASBEK, 2009). Trata-se da expressão da emergência da perspectiva de intenção de ruptura dentro do Movimento de Reconceituação (NETTO, 2015). Seu desenvolvimento se dá ao longo da segunda metade da década de 1950 e ganha evidência no período entre 1972 e 1975. Embora tenha sido desmobilizado em 1975, com a demissão de parte de seus formuladores da Universidade Católica de Minas Gerais, esta proposição metodológica influenciará passos seguintes da perspectiva de intenção de ruptura e caracteriza-se como um dos marcos de mudança nas concepções teóricas e políticas da profissão (NETTO, 2015). É possível identificar a valorização deste método no percurso histórico do Serviço Social a partir da afirmação de José Paulo Netto (2015, p. 350): Quaisquer que sejam os progressos da investigação acerca do desenvolvimento do Serviço Social no Brasil a partir da década de 1960, a elaboração do grupo de Belo Horizonte permanecerá como um marco — e, cremos nós, sua importância histórica tenderá a crescer. Com equívocos maiores ou menores, aquele trabalho configurou a primeira elaboração cuidadosa, no país, sob a autocracia burguesa, de uma proposta profissional alternativa ao tradicionalismo preocupada em atender a critérios teóricos, metodológicos e interventivos capazes de aportar ao Serviço Social uma fundamentação orgânica e sistemática, articuladas a partir de uma angulação que pretendia expressar os interesses históricos das classes e camadas exploradas e subalternas. É absolutamente impossível abstrair a elaboração belo-horizontina da fundação do projeto de ruptura no Brasil. Conheça mais sobre o Método BH assistindo ao vídeo da professora Neiva, que está disponível no material on-line. Tema 4 – Fenomenologia A adoção da fenomenologia como proposta norteadora da intervenção do Serviço Social está também compreendida dentro do Movimento de Reconceituação do Serviço Social. Segundo José Paulo Netto (2015) o Movimento de Reconceituação, em seu início, possui uma forte vertente modernizadora, pautada em teorias estruturais-funcionalistas e adequadas ao contexto da modernização vivido no Brasil no período da Ditadura Militar. Na sequência, duas diferentes vertentes são identificadas dentro do Movimento: Uma reconhecida como “intenção de ruptura”, que passa a desenvolver propostas profissionais respaldadas em teorias marxistas, Outra caracterizada como “reatualização do conservadorismo”,que incorpora novas propostas metodológicas à profissão, sem, contudo, questionar ou idealizar transformações de caráter estrutural no campo sociopolítico. Dada esta classificação, entende-se que a proposta de apropriação da fenomenologia pelo Serviço Social está caracterizada dentro da vertente da reatualização do conservadorismo (NETTO, 2015). A fenomenologia não se propunha a questionar as estruturas macro da sociedade ou as relações de conflito estabelecidas dentro desta. Seu enfoque era no indivíduo e na relação de transformação que poderia se dar entre o assistente social e o “cliente” durante os atendimentos realizados. Não se tratava de um método desenvolvido dentro da profissão, tal qual o Método BH, mas da apropriação de uma ciência previamente desenvolvida e adotada por diferentes áreas da saúde e humanidades. A fenomenologia foi discutida no terceiro seminário de teorização do Serviço Social, promovido pelo CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais): o Seminário de Sumaré, realizado entre 20 e 24 de novembro de 1978. A discussão partiu do esclarecimento sobre esta ciência, tal como podemos ver clicando no botão a seguir: Para Edmund Husserl, a fenomenologia é uma ciência eidética descritiva da realidade vivida. O método que propõe é o da intuição das essências. (...) a realidade vivida de que Husserl vai tratar não se confunde com a vivência psicológica. O vivido que interessa à fenomenologia é aquele que pode ser descrito do ponto de vista da sua estrutura essencial e não do ponto de vista dos fatos psicológicos particulares. Chegar à essencial ou ao núcleo eidético (eidos = essência) é o projeto da ciência eidética, conforme Husserl a entende. (...) Ela [a fenomenologia] é concreta e se volta para o vivido. Pela descrição ela nos aproxima da essência, através de um perspectivismo das formas que se mostram ao sujeito na relação figura e fundo. Assim, a fenomenologia se distancia das ciências abstratas e dedutivas, conforme a matemática. Ela se distancia igualmente do modelo da ciência natural como modelo a ser aplicado na ciência humana e social. Ela o faz por criticar o pressuposto do modelo positivista que faz dos fenômenos naturais e dos fenômenos humano-sociais fenômenos sem distinções qualitativas. Os fenômenos do vivido humano têm uma estrutura significativa construída pelos próprios homens. O vivido humano e social é constituído de significados e recorrem a processos de compreensão e de interpretação e não de explicação. Assim, para a fenomenologia não é possível tratar o mundo humano e social como um mundo objetivo e divorciado da interpretação dos próprios sujeitos. Por isso é que Husserl dirá que o mundo vivido, humano e social, objetivo, intelectivo e prático é produto de atividade significativa do próprio sujeito, intimamente ligado à intenção e à interpretação, e, por isto, deve ser chamado de mundo subjetivo. Podemos resumir as ideias principais da fenomenologia como ciência, segundo Husserl: a sua teoria significa que ela é descritiva da estrutura essencial do vivido, que ela é concreta, intencional, compreensiva e interpretativa (CBCISS, 1986, p. 173-175). Conforme visto no texto citado, a fenomenologia se propõe como uma ciência independente. Teve como um de seus precursores o filósofo e matemático Edmundo Gustav Husserl (1859-1938). Foi adotada pelo Serviço Social brasileiro enquanto proposta de orientação metodológica, nos anos 1970. A proposta metodológica da fenomenologia para o Serviço Social compreende uma intervenção com grande enfoque para a relação profissional-usuário ou profissional- cliente, como era comum se nomear naquela época. Contudo, a própria proposta refere a substituição da terminologia “cliente” por “pessoa”, compreendendo o ser humano em sua integralidade e potencialidade e superando sua imediata rotulação como um beneficiário deste ou daquele programa ou como membro de uma classe excluída ou oprimida (YASBEK, 2009). A proposta de intervenção é caracterizada como “psicossocial” e tem na entrevista o principal instrumental operativo de atuação do assistente social. É estabelecida uma relação de ajuda profissional, em que profissional e “cliente” refletem sobre os fatos vividos no cotidiano deste último, de modo que se estabeleça um processo de capacitação do “cliente” pelo assistente social, para que se efetive a transformação da situação vivida. Tem-se a intenção de superar os aspectos burocráticos da metodologia fundamentada nas bases positivistas. Pretende, ainda, a superação de relações de dependência do “cliente” em relação ao profissional, tal qual podemos observar no texto a seguir: A vertente fenomenológica propõe, então, uma abordagem individual que seja transformadora da situação vivenciada pelo ‘cliente’ e que não dependa de uma intervenção externa do assistente social; mas de um processo desencadeado pelo próprio ‘cliente’, no qual o profissional participe para ajudá-lo a se capacitar para promover a transformação. Dessa forma, a prática profissional fica circunscrita ao circuito psicossocial, fundamentada por uma compreensão de ‘pessoa’ desarticulada das determinações históricas, pois o processo se limita à vivência, ao existencial de cada um (TRINDADE, 2001, p. 17). Esta abordagem foi considerada como opção metodológica para o Serviço Social por grupos de profissionais que pretendiam a superação do método positivista, mas não aderiram aos métodos desenvolvidos a partir da teoria marxista. Tal posicionamento teórico e mesmo político é classificado por Netto (2015) como uma iniciativa de manter características do Serviço Social tradicional. Na análise de Netto, a proposta reforça características da influência católica sobre a profissão, tal como a defesa do “personalismo cristão”, como também não supera as orientações de caráter positivista presentes na vertente modernizadora (NETTO, 2015). Para mais informações sobre a Fenomenologia, confira no material on-line a videoaula da professora Neiva. Tema 5 – Serviço Social e movimentos sociais Uma das características do Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro foi a aproximação da categoria com os movimentos sociais, principalmente entre aqueles profissionais que assumiam a crítica e o desenvolvimento de propostas a partir da reconhecida vertente da “intenção de ruptura”. Os movimentos sociais revolucionários que ganhavam força na América Latina, na década de 1960, influenciavam a reflexão sobre a prática profissional dos assistentes sociais brasileiros. Observemos, de forma mais detalhada, na afirmação de Vicente Faleiros (1997, p. 117): Nos anos 60, os movimentos e lutas sociais, o desenvolvimento de experiências reformistas na América Latina, o surgimento da revolução cubana, a luta de guerrilhas e a reflexão em torno do processo de dependência acentuaram a insatisfação de muitos assistentes sociais que se viam como ‘bombeiros’, chamados a apagar pequenos incêndios, a atuar no efeito da miséria, a estabelecer contatos sem contribuir efetivamente para a melhoria da vida cotidiana do povo. Fez parte do processo de ruptura uma adoção de práticas militantes pelos profissionais do Serviço Social. Partia-se para uma adesão à causa da classe trabalhadora e da defesa de seus direitos. Isso se desenvolvia num cenário nacional ainda de ditadura e que segue num processo de redemocratização. A participação política dos assistentes sociais envolvia inclusive a política partidária e estava afinada com movimentos populares como dos estudantes e dos trabalhadores. Esta participação encontrava suporte nos referenciais teóricos marxistas (NETTO, 2015; OMENA, 2016). O processo do Movimento de Reconceituação, especialmente na perspectivada intenção de ruptura, contou com um contexto sociopolítico de movimentos que expressavam a resistência frente o processo de desigualdade e conflito entre classes. com a reativação dos movimentos sociais e operário- sindical nos meados dos anos de 1970 a 1980, em meio ao clima político de discussão e de luta pela redemocratização do país, a cultura crítica é favorecida e assumida pelos setores profissionais. No Serviço Social, este contexto é responsável pelo impulso ao processo de ruptura com o tradicionalismo, em uma parcela de assistentes sociais, que passam a investir tanto na organização da categoria profissional como na formação acadêmica, com a elaboração teórica e metodológica orientada pelo método dialético marxista (OMENA, 2016, p. 11). Nas décadas de 1970 e 1980, há o reconhecimento do campo dos movimentos sociais como área de atuação profissional. Além da participação política e militante nos movimentos, adota-se este espaço como campo de intervenção e aprendizado. Destacavam-se, nesta perspectiva, movimentos de luta por melhores condições de vida que se aglutinavam em torno de associações de moradores e das comunidades eclesiais de base (organizações de base dos movimentos progressistas da Igreja Católica) (MATOS, 2006). Uma forma de atuação do Serviço Social, na década de 1980, junto aos movimentos sociais, se dava por meio da criação de campos de estágio junto aos movimentos, permitindo aos alunos “a vivência de um exercício profissional comprometido com a classe trabalhadora”. Esta experiência é fundamentada na proposta curricular do curso de Serviço Social, aprovada em 1979. A experiência de profissionais e alunos, retomava junto aos movimentos sociais, as atribuições relacionadas ao Desenvolvimento de Comunidades. Contudo, ficava explícita, segundo a nova proposta curricular, uma superação da distinta atuação em “caso, grupo e comunidade”, para adoção de uma prática integrada e crítica (MATOS, 2006). Aprofundemos o entendimento a partir da explicação de Matos (2006, p. 41): Esse currículo significou um importante avanço, pois rompeu com uma antiga visão tripartite do Serviço Social — que compreendia a existência de um Serviço Social de Caso, de um Serviço Social de Grupo e de um Serviço Social de Comunidade e articulada a essa compreensão a concepção de metodologias e técnicas específicas para cada um destes supostos ‘processos’ do Serviço Social — passando a se compreender a formação profissional sustentada no tripé Teoria – História – Método. Este tipo de intervenção inaugura no Serviço Social uma prática reconhecida como assessoria aos movimentos sociais. Em seu início, é configurada uma certa confusão entre a atuação profissional e o militantismo. Porém, esclarecimentos vão sendo estabelecidos à medida que a profissão avançou no estudo, na reflexão e na produção do conhecimento a partir de bases teóricas clássicas, superando desvios influenciados por fontes teóricas secundárias sobre a teoria social de Marx e amadurecendo em seus processos técnico-operativos (NETO, 2015; BRAVO E MATOS, 2006). Para aprender mais sobre a atuação do Serviço Social junto aos movimentos sociais, recomendamos que assista ao vídeo da professora Neiva, disponível no material on-line. Na Prática Agora vamos exercitar nosso aprendizado! 1. Pesquise o panorama político do Brasil no período entre 1960 e 1989; 2. Retome a leitura dos 5 temas trabalhados nesta aula; 3. Complete o quadro, que você encontra a seguir, com informações importantes para melhor fixação do conteúdo desta aula. Siga o exemplo: Dica 1: tenha especial atenção às informações referentes à dimensão metodológica, dentro da história do Serviço Social, em coerência com a aula estudada. Dica 2: complete o quadro com a maior riqueza de informações possível. Este exercício ajudará você a compreender melhor a relação da história do Serviço Social com a história do Brasil. Estarão adequados os exercícios em que sejam caracterizados minimamente momentos importantes na história da profissão e do país. Confira no vídeo disponível no material on-line os comentários da professora Neiva a respeito da atividade prática lançada. Síntese Chegamos ao fim de nossa terceira aula, na qual estudamos o desenvolvimento da metodologia do Serviço Social dentro do Movimento de Reconceituação, que se desenvolveu ao longo das décadas de 1960, 1970 e 1980. Tratamos dos Seminários de Teorização do Serviço Social, com destaque aos aspectos metodológicos apresentados nos documentos de Araxá e Teresópolis. Conhecemos os métodos BH e da fenomenologia, bem como discutimos sobre a atuação dos assistentes sociais junto aos movimentos sociais, dentro do período histórico estudado. Foi possível observar que o contexto político e econômico vivenciado no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980 teve grande influência no processo de discussão e desenvolvimento de metodologias de trabalho do Serviço Social. Assim, podemos recuperar nosso questionamento inicial e desenvolver as respostas adequadas. Na videoaula disponível no material on-line, a professora Neiva faz uma síntese e apresenta a solução para questão lançada no início da aula. Referências BRAVO, Maria Inês Souza; MATOS, Maurílio Castro de. O potencial de contribuição do Serviço Social na assessoria aos movimentos sociais pelo direito à saúde. In: BRAVO, Maria Inês Souza; MATOS, Maurílio Castro de (Orgs.). Assessoria, consultoria e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2006. CENTRO Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS). Teorização do Serviço Social: Seminários de Araxá, Teresópolis e Sumaré. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1986. FALEIROS, Vicente de Paula. Metodologia e ideologia do trabalho social. 9. ed. São Paulo: Cortez, 1997. MACHADO, Aline Maria Batista; SANTOS, Ana Carla dos; SOARES, Elailla Andrius de Morais. Serviço Social e educação popular: um recorte dos estudos produzidos no período de 1980-2010 no Brasil. In: Textos e Contextos, v. 13, n. 2, p. 337-354. Porto Alegre, jul/dez 2014. MATOS, Maurílio Castro de. Assessoria e consultoria: reflexões para o Serviço Social. In: BRAVO, Maria Inês Souza; MATOS, Maurílio Castro de (Orgs.). Assessoria, consultoria e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2006. NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 17. ed. São Paulo: Cortez, 2015. OMENA, Valéria Coelho de. O movimento de reconceituação do serviço social e o processo de renovação crítica da profissão a partir da década de 1980 no Brasil. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/14943699/O-MOVIMENTO-DE- RECONCEITUACAO-DO-SERVICO-SOCIAL-E-O>. Acesso em: 15 mai. 2016. REVISTA em Pauta. Entrevista Memória com Leila Lima Santos. Serviço Social na América Latina: 1970-1980. Editorial Revista em Pauta. Revista da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, n. 20, Rio de Janeiro, 2007. https://pt.scribd.com/doc/14943699/O-MOVIMENTO-DE-RECONCEITUACAO-DO-SERVICO-SOCIAL-E-O https://pt.scribd.com/doc/14943699/O-MOVIMENTO-DE-RECONCEITUACAO-DO-SERVICO-SOCIAL-E-O TRINDADE, Rosa Lúcia Prédes. Desvendando as determinações sócio-históricas do instrumental técnico- operativo do Serviço Social na articulação entre demandas sociais e projetos profissionais. In: Revista Temporalis, n. 04, ano II, julho a dezembro de 2001. Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. Brasília: ABEPSS, Grafline. YASBEK, Maria Carmelita. Os fundamentos do Serviço Social na contemporaneidade. Material didático do Curso de Especialização Lato Sensu em Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: Conselho Federal de Serviço Social – CFESS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em ServiçoSocial – ABEPSS, 2009.
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