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Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do 
Serviço Social - Dimensão Metodológica 
Aula 3 
 
 
 
 
 
 
Professora Neiva Silvana Hack 
 
 
Conversa Inicial 
Nessa aula, trataremos dos aspectos metodológicos 
presentes no Movimento de Reconceituação do Serviço 
Social, que perdurou durante as décadas de 1960, 1970 e 
1980 e influenciou a concepção atual que temos sobre o 
Serviço Social. Temos como objetivos desta aula: 
 Conhecer o conjunto metodológico compreendido no 
período de realização do Seminário de Araxá; 
 Conhecer o conjunto metodológico compreendido no 
período de realização do Seminário de Teresópolis; 
 Conhecer e analisar as principais características do 
Método BH; 
 Compreender os aspectos teóricos e metodológicos 
que compreendem a fenomenologia; 
 Relacionar a intervenção profissional com o conjunto 
de iniciativas da sociedade civil caracterizadas como 
movimentos sociais. 
Para alcançar esses objetivos, contaremos com 
diferentes recursos educativos, como textos explicativos; 
videoaulas; indicações de leituras e atividades. Aproveite de 
todos esses meios para enriquecer seu conhecimento! 
Antes de começar, confira os comentários iniciais da 
professora Neiva no vídeo disponível no material on-line. 
 
 
 
 
 
Contextualizando 
A história e o desenvolvimento de toda profissão deve 
ser entendida dentro de um contexto maior, compreendendo a 
história de seu país e a história mundial. 
Assim acontece também com o Serviço Social, que no 
Brasil tem seu início marcado na década de 1930, com forte 
influência das orientações teóricas e morais da Igreja católica. 
Segue seu curso adotando bases teóricas e metodológicas de 
caráter positivistas, sob influência do Serviço Social norte-
americano. Esta última influência foi contextualizada num 
período de investimento internacional no Brasil para a 
promoção do seu “desenvolvimento”. 
A categoria profissional avança em seu exercício, 
situada em cada contexto social. São marcos das décadas de 
1960 a 1980 os movimentos dos profissionais em questionar 
as práticas e os fundamentos teóricos e metodológicos da 
profissão. 
Contudo, neste mesmo período, o país passou por um 
momento político singular e limitador de direitos, a Ditadura 
Militar, que perdurou de 1964 a 1985. Identificamos, assim, a 
contradição em que se encontrava a profissão, que por um 
lado apresentava-se interessada em questionar e superar 
padrões tradicionais de sua prática, mas por outro se 
desenvolvia dentro de um contexto sociopolítico de 
significativas restrições. 
Uma pergunta que fica para nossa reflexão neste 
momento é a seguinte: 
O contexto sociopolítico das décadas de 1960 a 1980, 
no Brasil, influenciou a dimensão metodológica do Serviço 
Social? 
Não se preocupe em responder agora. Vamos avançar 
em nossos estudos e voltaremos a discutir esta questão ao 
final da aula. Bons estudos! 
No vídeo disponível no material on-line a professora 
Neiva faz uma contextualização dos temas que serão 
trabalhados. 
 Tema 1 – Metodologia no Documento de Araxá 
O Documento de Araxá faz parte de um conjunto de 
iniciativas compreendidas como seminários de teorização, que 
fazem parte do início do Movimento de Reconceituação do 
Serviço Social. 
No início dos anos 1960, a categoria profissional do 
Serviço Social passa a se organizar e questionar a sua 
contribuição na sociedade. Temos, então, o início do 
Movimento de Reconceituação, que perdurou até a década de 
1980. Grande parte desta articulação se deu durante o período 
da Ditadura, o que limitou o avanço da teoria crítica nas 
primeiras décadas. 
A forte característica do período inicial deste movimento 
foi a discussão teórica e metodológica desenvolvida em 
seminários. Quatro importantes seminários fizeram parte deste 
processo: Araxá, Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista. 
Nesta e na próxima aula, dedicaremos uma atenção especial à 
dimensão metodológica, que foi ponto forte dos Seminários de 
Araxá e Teresópolis (NETTO, 2015; CBCISS, 1986). 
O Seminário de Araxá realizou-se de 19 a 26 de março 
de 1967 na cidade mineira de Araxá. As produções dos 
profissionais durante o encontro foram compiladas em um 
documento com o mesmo nome. 
 
 
 A análise do documento nos permite observar um 
cuidado importante em sistematizar a prática, refletindo a 
atuação da profissão diante do contexto social em que estava 
inserida. Observamos isso no texto a seguir, compreendido na 
abertura do Documento de Araxá: 
Um esforço de teorização do Serviço Social era imperativo 
inadiável, nesta fase da sua evolução no Brasil. Este 
esforço compreenderia a busca de análise e síntese dos 
seus componentes universais, dos seus elementos de 
especificidade e de sua adequação ao contexto 
econômico-social da realidade brasileira. O Comitê 
Brasileiro da Conferência Internacional de Serviço Social 
(CBCISS) deliberou convocar um grupo de assistentes 
sociais, representativo das várias regiões do país, 
vinculados aos diferentes campos e níveis de atuação, 
portadores das mais variadas experiências profissionais 
para solidariamente tentar responder àquele imperativo 
(CBCISS, 1986, p. 19). 
 
O Seminário de Araxá contou com três importantes 
discussões: a teorização, a metodologia e a contextualização 
do Serviço Social na conjuntura social em que se encontrava. 
É fato que todas as três possuem inter-relação e por isso 
estão compreendidas ao longo de todo o documento. Cabe-
nos, nesta disciplina, uma especial atenção às discussões 
sobre metodologia. 
A dimensão da teorização apresenta uma provocação 
no sentido da necessária reflexão sobre a prática. Critica as 
ações pontuais e imediatistas reproduzidas pelos profissionais, 
que decorriam em reforço ao assistencialismo. Propõe uma 
intervenção pensada e capaz de fortalecer as dimensões da 
prevenção e promoção, em detrimento da correção. 
Na pauta do Seminário, foram estudados e mesmo 
questionados os métodos então adotados de forma ampla pelo 
Serviço Social brasileiro: o serviço social de caso, grupo ou 
desenvolvimento de comunidade: 
As exigências do processo de desenvolvimento mundial 
vêm impondo ao Serviço Social, sobretudo em países ou 
regiões subdesenvolvidas, o desempenho de novos 
papéis. Estes papéis, em sua evolução histórica, 
constituem forma de inserção da profissão na realidade 
econômico-social dos mesmos países ou regiões. 
A partir desse novo enfoque, o Serviço Social deverá 
romper o condicionamento de sua atuação ao uso 
exclusivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, e 
rever seus elementos constitutivos, elaborando e 
incorporando novos métodos e processos (CBCISS, 1986, 
p. 26). 
As reflexões do Seminário concorrem para reconhecer 
o profissional em seu papel de executor de ações públicas, 
focando também na sua contribuição com o planejamento e 
avaliação. No capítulo do Documento de Araxá dedicado 
exclusivamente para a questão da metodologia, é feita 
inicialmente a afirmação dos “princípios básicos da ação 
profissional”. São eles: 
 Autodeterminação; 
 Individualização; 
 Não julgamento; 
 Aceitação. 
Os trabalhos realizados no Seminário conduziram a 
uma classificação destes princípios em postulados, no que se 
referia à dimensão ética da ação, e em princípios 
operacionais, quando são norteadores da prática (CBCISS, 
1986). 
 
 
Observe os postulados e princípios operacionais 
elencados no Documento de Araxá no quadro a seguir: 
 Postulados Princípios operacionais 
a) Postulado da dignidade da 
pessoa humana: que se 
entende como uma 
concepção do ser humano 
numa posição de eminência 
ontológica na ordem 
universal e ao qual todas as 
coisas devem ser referidas; 
b) Postulado da sociabilidade 
essencial da pessoa 
humana: que é o 
reconhecimento da 
dimensão social intrínseca à 
natureza humana, e, em 
decorrência do que seafirma, o direito de a pessoa 
humana encontrar, na 
sociedade, as condições 
para a sua autorrealização; 
c) Postulado da 
perfectibilidade humana: 
compreende-se como o 
reconhecimento de que o 
homem é, na ordem 
ontológica, um ser que se 
autorrealiza no plano da 
historicidade humana, em 
decorrência do que se 
admite a capacidade e 
potencialidades naturais dos 
indivíduos, grupos, 
comunidades e populações 
para progredirem e se 
autoproverem. 
a) Estímulo ao exercício 
da livre escolha e da 
responsabilidade das 
decisões; 
b) Respeito aos 
valores, padrões e 
pautas culturais; 
c) Ensejo à mudança 
no sentido da 
autopromoção e do 
enriquecimento do 
indivíduo, do grupo, 
da comunidade, das 
populações; 
d) Atuação dentro de 
uma perspectiva de 
globalidade na 
realidade social. 
Adaptado de CBCISS (1986, p.30). Texto é transcrição 
do original. 
 
O documento apresenta que a intervenção com 
indivíduos, grupos, comunidades e populações não é uma 
ação exclusiva do Serviço Social. Refere que a peculiaridade 
própria da profissão é “o enfoque orientado por uma visão 
global do homem, integrado em seu sistema social” (CBCISS, 
1986). 
Esta dimensão de globalidade, contudo, não esclareceu 
suficientemente a especificidade da profissão, nem os motivos 
de sua escolha como elemento diferencial do Serviço Social 
frente às outras profissões (NETTO, 2015). 
É possível, ao analisar a referência à globalidade, 
compreender o deslocamento da ética neotomista para o 
referencial estrutural-funcionalista norte-americano, tal como 
discutido por José Paulo Netto (2015, p. 219-220): 
Ainda que o documento não clarifique com rigor esta 
noção, percebe-se que ela é utilizada como um traço 
pertinente da ultrapassagem do tradicionalismo — à 
intervenção profissional que toma os 'problemas sociais' de 
forma estanque deve substituir-se a 'perspectiva da 
globalidade'. (...) 
À primeira vista, a determinação pode parecer somente 
uma extensão, para a angulação profissional, do princípio 
genérico que denota a 'integralidade' do desenvolvimento; 
contudo, o dado distintivo é a menção ao sistema social: 
sai-se aqui do campo ético do neotomismo para o terreno 
teórico do estrutural-funcionalismo — a 'globalidade' é a 
perspectiva das relações sistêmico-integrativas de 
indivíduo e sociedade. O deslocamento é significativo 
porque, no texto, ele interdita o questionamento da 
especificidade profissional. 
 
 
A organização da metodologia no Documento de Araxá 
segue a partir da classificação das funções desenvolvidas pelo 
Serviço Social, as quais foram subdivididas em dois níveis de 
atuação: 
 Microatuação: ações de caráter administrativo e 
prestação de serviços diretos (característica 
operacional); 
 Macroatuação: ações voltadas à política e ao 
planejamento (característica ampla de planejamento e 
administração). Compreende ações integradas de 
planejamento, implantação e otimização de 
infraestruturas sociais, como serviços de saúde, 
educação, habitação, comunicação e outros. 
Aprofunde seu conhecimento a respeito do Documento 
de Araxá assistindo à videoaula da professora Neiva, que está 
disponível no material on-line. 
 Tema 2 – Metodologia no Documento de Teresópolis 
A dimensão metodológica ganha ampla discussão pela 
categoria profissional durante o Movimento de 
Reconceituação. Um dos momentos mais significativos neste 
processo foi a realização do Seminário de Teresópolis/RJ, 
entre 10 e 17 de janeiro de 1970. 
Assim como o Seminário de Araxá, foi promovido pelo 
CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercambio de 
Serviços Sociais). Clique no botão a seguir e confira a 
introdução do Documento de Teresópolis, a respeito da 
motivação e objetivo deste segundo Seminário: 
Em 1967, trinta e oito assistentes sociais brasileiros, a 
convite do CBCISS, reuniram-se em Araxá com o objetivo 
de teorizar sobre Serviço Social face à realidade brasileira. 
Nesse encontro foi elaborado um relatório amplamente 
divulgado sob o título: DOCUMENTO DE ARAXÁ. 
Sete encontros regionais foram realizados em 1968 para 
levantar opiniões sobre a validade teórica do Documento 
de Araxá e recolher subsídios sobre os aspectos nele 
omissos e as reformulações cabíveis. Setecentos e 
quarenta e um assistentes sociais opinaram sobre a 
matéria nos encontros regionais realizados em Goiânia, 
Fortaleza, Manaus, Belo Horizonte, Campinas, Porto 
Alegre e Rio de Janeiro (GB). Os resultados desses 
encontros foram divulgados no ‘Suplemento de debates 
sociais’ nº 03, agosto de 1969: ‘Análise do Documento de 
Araxá – Síntese dos 7 encontros regionais’. Os 
depoimentos recebidos revelaram, com bastante clareza, a 
necessidade de um estudo sobre a Metodologia do Serviço 
Social face à realidade brasileira. 
Em resposta a essa necessidade, o CBCISS programou 
novo encontro para estudo do tema proposto (CBCISS, 
1986, p. 53). 
O Seminário de Teresópolis contou com a fase 
preparatória, em que 103 assistentes sociais foram 
convidados a contribuir com documentos de análise temática. 
O seminário contou com 11 documentos elaborados na fase 
preparatória e com a participação de 33 assistentes sociais 
durante os dias do evento. A pauta que motivou a elaboração 
dos documentos prévios compreendia a discussão da 
intervenção em Serviço Social e do diagnóstico social 
aplicados às diferentes frentes de trabalho (CBCISS, 1986). 
 
 
Entre os documentos prévios, ganhou destaque a 
proposta de José Lucena Dantas, que segundo Netto (2015) é 
aquele que mais influencia os trabalhos realizados no 
Seminário, bem como os relatórios que compõem o 
documento final. Dantas elaborou o ensaio “A teoria 
metodológica do Serviço Social. Uma abordagem sistemática”. 
Sua produção compreendeu a discussão da 
metodologia do Serviço Social, pautada em referenciais de 
uma perspectiva modernizadora. Essa correlação da 
metodologia com a proposta modernizadora própria daquela 
conjuntura social e política está clara não somente em seu 
texto, como também no próprio Documento de Teresópolis 
(NETTO, 2015). 
Leia a observação de José Paulo Netto sobre o 
assunto, comparando os documentos de Araxá e Teresópolis: 
No Documento de Teresópolis, o dado relevante é que a 
perspectiva modernizadora se afirma não apenas como 
concepção profissional geral, mas sobretudo como pauta 
interventiva. Há mais que continuidade entre os dois 
documentos: no de Teresópolis, ‘o moderno’ se revela 
como a consequente instrumentalização da programática 
(desenvolvimentista) que o texto de 1967 avançava 
(NETTO, 2015, p. 230). 
O seminário contou com a produção de trabalhos em 
dois grupos distintos que discutiram e elaboraram propostas a 
partir dos temas “Concepção científica da prática do Serviço 
Social” e “Aplicação da metodologia do Serviço Social”. Ambos 
deveriam ser tratados a partir da discussão sobre os 
fundamentos da metodologia do Serviço Social. 
Um dos destaques do relatório de Teresópolis é a 
proposição da realização de pesquisa sobre o Serviço Social 
no Brasil. 
Pela diversidade do conteúdo final dos trabalhos dos 
dois grupos, seus resultados não foram compilados em 
relatório único, mas apontados separadamente. 
O primeiro grupo orientou sua proposta de análise 
sobre a concepção científica da prática do Serviço Social, em 
cinco etapas. A subdivisão foi utilizada de forma didática, 
sendo que o grupo destacou o compromisso com a 
integralidade. 
As cinco etapas definidas pelo grupo A compreendiam: 
1. Levantamento de fenômenos significativos observados 
na prática do Serviço Social: neste caso, foram 
levantadas as demandas que se apresentavam à profissão, 
que foram classificadas em necessidades básicas e sociais 
e subdivididas em níveis: “biológico e de equipamento 
sanitário”, “doméstico e familiar”, “educacional”, 
“residencial”, “cívico-municipal”, “sociocultural” e “de 
segurança”;2. Identificação das variáveis significativas para o Serviço 
Social, nos fenômenos observados: tratou de aprofundar 
a primeira etapa, avaliando as diferentes configurações em 
que se apresentam as demandas à profissão; 
3. Identificação das funções correspondentes às 
variáveis inventariadas: tratava-se do conjunto de ações 
possíveis do Serviço Social para atenção às demandas 
identificadas; 
4. Redução das funções: proposta de agrupamento das 
funções elencadas na terceira etapa em funções mais 
abrangentes; 
5. Classificação das funções: processo de classificação das 
funções delimitadas na etapa 4 (CBCISS, 1986). 
 
 
Entenda melhor: o conceito utilizado no Seminário de 
Teresópolis para definir as funções do Serviço Social foi “a 
resposta dada pela intervenção do serviço social a uma 
determinada necessidade humana, detectada nas variáveis 
observadas” (CBCISS, 1986, p. 63). 
Seguindo este processo, por etapas, o grupo levantou 
detalhada e organizadamente um rol de funções exercidas 
pelo Serviço Social frente às demandas que se apresentavam 
naquele momento. 
Acessando o material on-line, você confere um quadro 
(adaptado de CBCISS, 1986, p. 68 e 69), no qual é possível 
observar um exemplo de tal sistematização. 
Para conhecer todos os quadros elaborados pelo grupo, 
como os Documentos de Araxá e de Teresópolis na íntegra, 
busque pelo livro: “Teorização do Serviço Social: Seminários 
de Araxá, Teresópolis e Sumaré”, organizado pelo CBCISS — 
Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em Serviços 
Sociais”. 
Seguindo a organização metodológica a partir das 
funções, o grupo lançou mão da classificação anteriormente 
delineada pelo documento de Araxá em níveis de atuação e 
compilou as correlações apresentadas no quadro que você 
confere clicando no botão a seguir: 
 
 
 
 
 
Funções fins 
 
 
 
 
 
Em microatuação 
Educativas 
Mobilizadora 
Educação de base 
Substituição de padrões 
Conscientizadora 
Socializadora 
Curativas 
Terapêutica 
Assistencial 
 
Em macroatuação 
Criação de recursos 
Política social 
 
 
Funções 
meios 
 
Em micro e 
macroatuação 
 
Assessoria 
Pesquisa 
Planejamento 
Administração 
Política social 
 Quadro referente à etapa 5. Adaptado de CBCISS (1986, p. 63). 
 
O segundo grupo classificou as demandas para atuação 
do Serviço Social em diferentes “níveis de vida” (saúde, 
alimentação, habitação, educação, segurança social e lazer) e 
“sistemas de relações sociais” (renda, integração social, 
mudança cultural, transformação institucional e comunicação 
social). 
 
 
Clique na imagem a seguir e observe o quadro com um 
exemplo desta classificação: 
Especificação Necessidades Problemas 
 
Níveis de vida 
 
Saúde 
Baixos níveis sanitários 
Carência e má utilização de 
recursos 
Dificuldades de acesso aos 
recursos existentes 
 
Alimentação 
Carência alimentar 
Alta incidência de gasto 
alimentar no orçamento familiar 
Padrões alimentares 
inadequados 
 ... ... 
Especificação Necessidades Problemas 
Sistema de 
relações 
Renda Baixa renda, má distribuição de 
renda 
Pauperismo 
Padrões de consumo 
inadequados 
 
Integração 
social 
Marginalidade estrutural 
Estratificação social 
Ausência de participação social 
Grupos minoritários 
Migrações desordenadas 
Adaptado de CBCISS (1986, p. 77). Parte do “Quadro de fenômenos e 
variáveis segundo o critério de necessidades e problemas”. 
Os encaminhamentos do segundo grupo voltaram-se à 
análise dos fundamentos teóricos que poderiam ser utilizados 
para sustentar a prática diante das demandas levantadas. 
Assim, foram consideradas diferentes áreas do saber, 
aplicáveis à atuação do Serviço Social nos níveis “prestação 
direta de serviços”, “administração de serviços sociais” e 
“planejamento de serviços sociais”. São exemplos destes 
diferentes campos do saber: Economia, Psicologia, Filosofia, 
Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Legislação Social, 
Estatística, Teoria de Administração, Urbanismo e outras. 
O relatório apresenta a discussão que se desenvolve 
sobre a produção de conhecimento pela categoria do Serviço 
Social, para além da adoção do conhecimento produzido pelas 
outras áreas. Ficam subdivididos os tipos de conhecimento em 
“para”, “em” e “sobre” Serviço Social. 
No que se refere à intervenção, foram enumeradas as 
operações comumente desempenhadas pelos assistentes 
sociais no seu exercício profissional. Clique no botão a seguir 
e veja quais são elas: 
1. Enumerar e descrever; 
2. Comparar e distinguir; 
3. Classificar e conceituar; 
4. Relacionar as variáveis; 
5. Sistematizar; 
6. Singularizar; 
7. Indicar a viabilidade ou prever tendências; 
8. Preparar as ações; 
9. Executar; 
10. Avaliar. 
(CBCISS, 1986, p. 87). 
 
 
Sobre a aplicação da metodologia do Serviço Social, há 
destaque para a colaboração da categoria em ações de 
administração e planejamento, para além das ações de 
execução. A metodologia sistematizada é caracterizada 
como: 
 Aplicável ao nível de planejamento: desenvolvido 
em caráter interdisciplinar. Foi delineado de maneira 
abrangente, envolvendo a definição de políticas, 
elaboração e implantação de planos e também ações 
de controle e avaliação; 
 Aplicável ao nível de administração em Serviço 
Social: compreendendo as ações de diagnóstico e as 
ações administrativas voltadas à intervenção; 
 Aplicável ao nível de prestação de serviços 
diretos: diversidade de ações relacionadas à 
aplicação dos métodos “caso”, “grupo” e 
“desenvolvimento de comunidade”. Feito destaque, 
neste item, de que a análise destes modelos então 
vigentes não se propunha a reafirmá-los ou identifica-
los como únicas formas de intervenção do Serviço 
Social (CBCISS, 1986). 
Numa análise comparativa entre os relatórios dos dois 
grupos, respeitadas as distinções que impediram a formulação 
de um relatório único, é possível observar 
complementariedade e pontos em comum. 
José Paulo Netto (2015) contribui com esta apreciação, 
destacando as principais convergências, conforme vemos a 
seguir: 
Nos dois relatórios, malgrado as suas diferenças, há um 
denominador comum: a ‘concepção científica da prática do 
Serviço Social’ é assumida como uma intervenção: (1) 
sobre elementos intelectualmente categorizados da empiria 
social; (2) ordenada a partir de variáveis de constatação 
imediata, e (3) direcionada para generalizar a integração 
na modernização (entendida como já era posta em Araxá: 
como sinônimo de superação do subdesenvolvimento) 
(NETTO, 2015, p. 242). 
Para compreender melhor, acesse o material on-line e 
leia um trecho do livro “Teorização do Serviço Social: 
Seminários de Araxá, Teresópolis e Sumaré”, organizado pelo 
CBCISS — Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em 
Serviços Sociais”. 
Aprofunde seu conhecimento sobre a metodologia do 
Serviço Social no documento de Teresópolis, assistindo ao 
vídeo disponível no material on-line. 
 Tema 3 – Método BH 
O Método BH também está compreendido dentro das 
expressões do Movimento de Reconceituação do Serviço 
Social. É reconhecido como pioneiro na proposta de 
superação do Serviço Social tradicional e conservador, para 
avançar na adoção de teorias, metodologias e 
posicionamentos políticos de vertente crítica. 
Dentro do Movimento de Reconceituação está 
compreendido como um dos grandes avanços do momento, 
caracterizado como “intenção de ruptura”. 
 
 
Segundo Netto (2015), frente às constantes reflexões e 
mesmo ao avanço das teorias de superação do Serviço Social 
tradicional, ao longo dos anos 1960 e 1970, surgem em 
meados da década de 1970 dois diferentes movimentos dentro 
da categoria profissional, um deles buscava a promoção de 
mudanças, mas reafirmava o conservadorismo, e foi 
classificado como “reatualização do conservadorismo”; o outro 
propunha o avanço para a adoçãodas teorias críticas, sendo 
denominado como “intenção de ruptura”. 
O Método BH levou este nome por ter sido elaborado 
em Belo Horizonte/MG, por uma equipe de professores da 
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Teve como 
influências a educação popular de Paulo Freire; a teologia da 
libertação, movimento de caráter progressista dentro da Igreja 
Católica e as teorias críticas marxistas (MACHADO, SANTOS 
e SOARES, 2014; REVISTA EM PAUTA, 2007). 
Seu principal objetivo era formular uma base de 
atuação capaz de implementar uma nova concepção teórica e 
política à atuação dos assistentes sociais. 
Veja a explicação dada por Leila Lima Santos, uma das 
professoras da PUC-MG e precursoras do Método BH: 
Nossa proposta na Escola era romper com o esquema 
‘tradicional’ do Serviço Social, mudar os elementos teóricos da 
formação profissional, enriquecê-los com as Ciências Sociais 
e dar muita ênfase na busca de novos campos de trabalho e 
práticas profissionais que ampliassem os horizontes até então 
demarcados pela visão e prática tradicionais e 
assistencialistas da profissão. 
Quando falávamos do esquema tradicional do Serviço 
Social, referíamos ao legado europeu de assistência e 
beneficência aos necessitados como parte de uma nobre 
atitude cristã frente à dor humana. E também aludíamos à 
corrente norte-americana que considerava que os problemas e 
os desajustes dos indivíduos, grupos ou comunidades eram 
desvios de conduta e de comportamento, em que as pessoas 
eram os únicos e principais responsáveis, já que se assumia 
que o sistema capitalista dava iguais oportunidades a todos. 
Estas perspectivas estavam orientadas por um novo 
‘marco teórico-metodológico’, cuja dimensão metodológica foi 
conhecida como Método BH. O Método BH se referia à 
relação intrínseca entre conhecimento, processo de pesquisa 
e intervenção direta com instituições ou grupos de população. 
O Serviço Social tradicional, como já foi dito, ignorava a 
‘gênese da questão social’, porque se centrava em teorias 
behavioristas e psicologistas dos problemas sociais. Além do 
mais, a sua abordagem de investigação era apenas 
pragmática: diagnóstico, estudo e tratamento corretivo, feitos 
em compartimentos estanques do caso, grupo, comunidade. 
Em contraste, o Método BH partia do pressuposto de 
que os indivíduos agiam em função do seu momento histórico 
e das grandes variáveis econômicas e sociais, e que estavam 
condicionadas pelas relações de classe e relações externas 
(em função da natureza dos nossos Estados Nacionais). 
Assim mesmo, pensava-se que a pesquisa era construída 
através de aproximações permanentes e sucessivas entre 
conhecimento e prática, entre indivíduo e sociedade. 
Privilegia-se a influência sobre as políticas sociais estatais ou 
sobre as estruturas socioeconômicas que sobre as pessoas 
em particular. O Método BH congregava na pesquisa, 
professores de Serviço Social e cientistas sociais, 
supervisores, estudantes que conformavam as Equipes de 
Prática da Escola de Serviço Social (REVISTA EM PAUTA, 
2007, p. 166). 
 
 
O Método BH é reconhecido como a primeira iniciativa 
capaz de viabilizar uma perspectiva crítica à atuação do 
Serviço Social. Contudo, possuía falhas em sua proposição, 
dado seu ecletismo teórico e mesmo no que se refere ao 
estabelecimento dos objetivos de atuação do Serviço Social 
(MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014; NETTO, 2015). 
Certa fragilidade do método refere-se à adoção de 
referenciais marxistas secundários e não da própria produção 
de Marx, o que conduziu a uma resistência à via institucional 
que desconsiderava as determinações sócio-históricas da 
profissão (YASBEK, 2009). 
Questionam-se seus objetivos-meios, caracterizados 
como a “conscientização, a capacitação e a organização” e 
seus objetivos-fins, a “transformação da sociedade e do 
homem”, por sua amplitude. Questiona-se ainda o objeto de 
estudo definido por este método: a “ação social da classe 
oprimida” (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014; NETTO, 
2015). 
Cabe dizer que, se o objeto de atuação da profissão fosse 
mesmo a ‘ação social da classe oprimida’, como pensavam 
os formuladores do ‘método BH’, os resultados da nossa 
intervenção ficariam totalmente submetidos à ação social 
dessa classe. Com isso, entendia-se que, se tal classe não 
agisse, a profissão de Serviço Social era a responsável por 
tal imobilismo, o que significa que naquela época a 
profissão abarcava uma responsabilidade enorme pela 
transformação social, quando, na verdade, profissão 
nenhuma pode assumir tamanha tarefa, pois a 
transformação da sociedade advém da luta de classes e 
não da luta de uma única profissão. Ademais, ainda que a 
educação popular contribua com o processo de 
conscientização dos sujeitos sociais, se esses sujeitos, por 
meio da práxis, não se dispuserem a transformar o mundo, 
nada muda. Daí o Serviço Social não poder tomar a ‘ação 
social da classe oprimida’ como seu objeto de atuação” 
(MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014, p. 340-341). 
Embora essas e outras críticas sejam pertinentes ao 
método, ele é valorizado em seu protagonismo na intenção de 
ruptura com o Serviço Social tradicional. É reconhecido como 
expressão de um período em que há diferente posicionamento 
sociopolítico da profissão e que esta “questiona sua prática 
profissional e seus objetivos de adaptação social ao mesmo 
tempo em que se aproxima dos movimentos sociais” 
(YASBEK, 2009). Trata-se da expressão da emergência da 
perspectiva de intenção de ruptura dentro do Movimento de 
Reconceituação (NETTO, 2015). 
Seu desenvolvimento se dá ao longo da segunda 
metade da década de 1950 e ganha evidência no período 
entre 1972 e 1975. Embora tenha sido desmobilizado em 
1975, com a demissão de parte de seus formuladores da 
Universidade Católica de Minas Gerais, esta proposição 
metodológica influenciará passos seguintes da perspectiva de 
intenção de ruptura e caracteriza-se como um dos marcos de 
mudança nas concepções teóricas e políticas da profissão 
(NETTO, 2015). 
É possível identificar a valorização deste método no 
percurso histórico do Serviço Social a partir da afirmação de 
José Paulo Netto (2015, p. 350): 
Quaisquer que sejam os progressos da investigação 
acerca do desenvolvimento do Serviço Social no Brasil a 
partir da década de 1960, a elaboração do grupo de Belo 
Horizonte permanecerá como um marco — e, cremos nós, 
sua importância histórica tenderá a crescer. Com 
equívocos maiores ou menores, aquele trabalho configurou 
a primeira elaboração cuidadosa, no país, sob a autocracia 
burguesa, de uma proposta profissional alternativa ao 
tradicionalismo preocupada em atender a critérios teóricos, 
metodológicos e interventivos capazes de aportar ao 
 
 
Serviço Social uma fundamentação orgânica e sistemática, 
articuladas a partir de uma angulação que pretendia 
expressar os interesses históricos das classes e camadas 
exploradas e subalternas. É absolutamente impossível 
abstrair a elaboração belo-horizontina da fundação do 
projeto de ruptura no Brasil. 
Conheça mais sobre o Método BH assistindo ao vídeo 
da professora Neiva, que está disponível no material on-line. 
 Tema 4 – Fenomenologia 
A adoção da fenomenologia como proposta norteadora 
da intervenção do Serviço Social está também compreendida 
dentro do Movimento de Reconceituação do Serviço Social. 
Segundo José Paulo Netto (2015) o Movimento de 
Reconceituação, em seu início, possui uma forte vertente 
modernizadora, pautada em teorias estruturais-funcionalistas e 
adequadas ao contexto da modernização vivido no Brasil no 
período da Ditadura Militar. Na sequência, duas diferentes 
vertentes são identificadas dentro do Movimento: 
 Uma reconhecida como “intenção de ruptura”, que 
passa a desenvolver propostas profissionais 
respaldadas em teorias marxistas, 
 Outra caracterizada como “reatualização do 
conservadorismo”,que incorpora novas propostas 
metodológicas à profissão, sem, contudo, questionar 
ou idealizar transformações de caráter estrutural no 
campo sociopolítico. 
Dada esta classificação, entende-se que a proposta de 
apropriação da fenomenologia pelo Serviço Social está 
caracterizada dentro da vertente da reatualização do 
conservadorismo (NETTO, 2015). 
A fenomenologia não se propunha a questionar as 
estruturas macro da sociedade ou as relações de conflito 
estabelecidas dentro desta. Seu enfoque era no indivíduo e na 
relação de transformação que poderia se dar entre o 
assistente social e o “cliente” durante os atendimentos 
realizados. 
Não se tratava de um método desenvolvido dentro da 
profissão, tal qual o Método BH, mas da apropriação de uma 
ciência previamente desenvolvida e adotada por diferentes 
áreas da saúde e humanidades. 
A fenomenologia foi discutida no terceiro seminário de 
teorização do Serviço Social, promovido pelo CBCISS (Centro 
Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais): 
o Seminário de Sumaré, realizado entre 20 e 24 de novembro 
de 1978. A discussão partiu do esclarecimento sobre esta 
ciência, tal como podemos ver clicando no botão a seguir: 
Para Edmund Husserl, a fenomenologia é uma ciência 
eidética descritiva da realidade vivida. O método que 
propõe é o da intuição das essências. 
(...) 
a realidade vivida de que Husserl vai tratar não se 
confunde com a vivência psicológica. O vivido que 
interessa à fenomenologia é aquele que pode ser descrito 
do ponto de vista da sua estrutura essencial e não do 
ponto de vista dos fatos psicológicos particulares. Chegar à 
essencial ou ao núcleo eidético (eidos = essência) é o 
projeto da ciência eidética, conforme Husserl a entende. 
(...) 
Ela [a fenomenologia] é concreta e se volta para o vivido. 
Pela descrição ela nos aproxima da essência, através de 
um perspectivismo das formas que se mostram ao sujeito 
na relação figura e fundo. Assim, a fenomenologia se 
distancia das ciências abstratas e dedutivas, conforme a 
matemática. Ela se distancia igualmente do modelo da 
ciência natural como modelo a ser aplicado na ciência 
 
 
humana e social. Ela o faz por criticar o pressuposto do 
modelo positivista que faz dos fenômenos naturais e dos 
fenômenos humano-sociais fenômenos sem distinções 
qualitativas. Os fenômenos do vivido humano têm uma 
estrutura significativa construída pelos próprios homens. O 
vivido humano e social é constituído de significados e 
recorrem a processos de compreensão e de interpretação 
e não de explicação. Assim, para a fenomenologia não é 
possível tratar o mundo humano e social como um mundo 
objetivo e divorciado da interpretação dos próprios sujeitos. 
Por isso é que Husserl dirá que o mundo vivido, humano e 
social, objetivo, intelectivo e prático é produto de atividade 
significativa do próprio sujeito, intimamente ligado à 
intenção e à interpretação, e, por isto, deve ser chamado 
de mundo subjetivo. 
Podemos resumir as ideias principais da fenomenologia 
como ciência, segundo Husserl: a sua teoria significa que 
ela é descritiva da estrutura essencial do vivido, que ela é 
concreta, intencional, compreensiva e interpretativa 
(CBCISS, 1986, p. 173-175). 
Conforme visto no texto citado, a fenomenologia se 
propõe como uma ciência independente. Teve como um de 
seus precursores o filósofo e matemático Edmundo Gustav 
Husserl (1859-1938). Foi adotada pelo Serviço Social 
brasileiro enquanto proposta de orientação metodológica, nos 
anos 1970. 
 A proposta metodológica da fenomenologia para o 
Serviço Social compreende uma intervenção com grande 
enfoque para a relação profissional-usuário ou profissional-
cliente, como era comum se nomear naquela época. Contudo, 
a própria proposta refere a substituição da terminologia 
“cliente” por “pessoa”, compreendendo o ser humano em sua 
integralidade e potencialidade e superando sua imediata 
rotulação como um beneficiário deste ou daquele programa ou 
como membro de uma classe excluída ou oprimida (YASBEK, 
2009). 
A proposta de intervenção é caracterizada como 
“psicossocial” e tem na entrevista o principal instrumental 
operativo de atuação do assistente social. É estabelecida uma 
relação de ajuda profissional, em que profissional e “cliente” 
refletem sobre os fatos vividos no cotidiano deste último, de 
modo que se estabeleça um processo de capacitação do 
“cliente” pelo assistente social, para que se efetive a 
transformação da situação vivida. 
 Tem-se a intenção de superar os aspectos burocráticos 
da metodologia fundamentada nas bases positivistas. 
Pretende, ainda, a superação de relações de dependência do 
“cliente” em relação ao profissional, tal qual podemos observar 
no texto a seguir: 
A vertente fenomenológica propõe, então, uma abordagem 
individual que seja transformadora da situação vivenciada 
pelo ‘cliente’ e que não dependa de uma intervenção 
externa do assistente social; mas de um processo 
desencadeado pelo próprio ‘cliente’, no qual o profissional 
participe para ajudá-lo a se capacitar para promover a 
transformação. Dessa forma, a prática profissional fica 
circunscrita ao circuito psicossocial, fundamentada por uma 
compreensão de ‘pessoa’ desarticulada das determinações 
históricas, pois o processo se limita à vivência, ao 
existencial de cada um (TRINDADE, 2001, p. 17). 
Esta abordagem foi considerada como opção 
metodológica para o Serviço Social por grupos de profissionais 
que pretendiam a superação do método positivista, mas não 
aderiram aos métodos desenvolvidos a partir da teoria 
marxista. 
 
 
Tal posicionamento teórico e mesmo político é 
classificado por Netto (2015) como uma iniciativa de manter 
características do Serviço Social tradicional. Na análise de 
Netto, a proposta reforça características da influência católica 
sobre a profissão, tal como a defesa do “personalismo cristão”, 
como também não supera as orientações de caráter positivista 
presentes na vertente modernizadora (NETTO, 2015). 
Para mais informações sobre a Fenomenologia, confira 
no material on-line a videoaula da professora Neiva. 
 Tema 5 – Serviço Social e movimentos sociais 
Uma das características do Movimento de 
Reconceituação do Serviço Social brasileiro foi a aproximação 
da categoria com os movimentos sociais, principalmente entre 
aqueles profissionais que assumiam a crítica e o 
desenvolvimento de propostas a partir da reconhecida vertente 
da “intenção de ruptura”. 
Os movimentos sociais revolucionários que ganhavam 
força na América Latina, na década de 1960, influenciavam a 
reflexão sobre a prática profissional dos assistentes sociais 
brasileiros. Observemos, de forma mais detalhada, na 
afirmação de Vicente Faleiros (1997, p. 117): 
Nos anos 60, os movimentos e lutas sociais, o 
desenvolvimento de experiências reformistas na América 
Latina, o surgimento da revolução cubana, a luta de 
guerrilhas e a reflexão em torno do processo de 
dependência acentuaram a insatisfação de muitos 
assistentes sociais que se viam como ‘bombeiros’, 
chamados a apagar pequenos incêndios, a atuar no efeito 
da miséria, a estabelecer contatos sem contribuir 
efetivamente para a melhoria da vida cotidiana do povo. 
Fez parte do processo de ruptura uma adoção de 
práticas militantes pelos profissionais do Serviço Social. 
Partia-se para uma adesão à causa da classe trabalhadora e 
da defesa de seus direitos. Isso se desenvolvia num cenário 
nacional ainda de ditadura e que segue num processo de 
redemocratização. A participação política dos assistentes 
sociais envolvia inclusive a política partidária e estava afinada 
com movimentos populares como dos estudantes e dos 
trabalhadores. Esta participação encontrava suporte nos 
referenciais teóricos marxistas (NETTO, 2015; OMENA, 2016). 
O processo do Movimento de Reconceituação, 
especialmente na perspectivada intenção de ruptura, contou 
com um contexto sociopolítico de movimentos que 
expressavam a resistência frente o processo de desigualdade 
e conflito entre classes. 
com a reativação dos movimentos sociais e operário-
sindical nos meados dos anos de 1970 a 1980, em meio ao 
clima político de discussão e de luta pela redemocratização 
do país, a cultura crítica é favorecida e assumida pelos 
setores profissionais. No Serviço Social, este contexto é 
responsável pelo impulso ao processo de ruptura com o 
tradicionalismo, em uma parcela de assistentes sociais, 
que passam a investir tanto na organização da categoria 
profissional como na formação acadêmica, com a 
elaboração teórica e metodológica orientada pelo método 
dialético marxista (OMENA, 2016, p. 11). 
Nas décadas de 1970 e 1980, há o reconhecimento do 
campo dos movimentos sociais como área de atuação 
profissional. Além da participação política e militante nos 
movimentos, adota-se este espaço como campo de 
intervenção e aprendizado. Destacavam-se, nesta perspectiva, 
movimentos de luta por melhores condições de vida que se 
aglutinavam em torno de associações de moradores e das 
comunidades eclesiais de base (organizações de base dos 
movimentos progressistas da Igreja Católica) (MATOS, 2006). 
 
 
Uma forma de atuação do Serviço Social, na década de 
1980, junto aos movimentos sociais, se dava por meio da 
criação de campos de estágio junto aos movimentos, 
permitindo aos alunos “a vivência de um exercício profissional 
comprometido com a classe trabalhadora”. Esta experiência é 
fundamentada na proposta curricular do curso de Serviço 
Social, aprovada em 1979. A experiência de profissionais e 
alunos, retomava junto aos movimentos sociais, as atribuições 
relacionadas ao Desenvolvimento de Comunidades. 
Contudo, ficava explícita, segundo a nova proposta 
curricular, uma superação da distinta atuação em “caso, grupo 
e comunidade”, para adoção de uma prática integrada e crítica 
(MATOS, 2006). 
Aprofundemos o entendimento a partir da explicação de 
Matos (2006, p. 41): 
Esse currículo significou um importante avanço, pois 
rompeu com uma antiga visão tripartite do Serviço Social 
— que compreendia a existência de um Serviço Social de 
Caso, de um Serviço Social de Grupo e de um Serviço 
Social de Comunidade e articulada a essa compreensão a 
concepção de metodologias e técnicas específicas para 
cada um destes supostos ‘processos’ do Serviço Social — 
passando a se compreender a formação profissional 
sustentada no tripé Teoria – História – Método. 
Este tipo de intervenção inaugura no Serviço Social 
uma prática reconhecida como assessoria aos movimentos 
sociais. Em seu início, é configurada uma certa confusão entre 
a atuação profissional e o militantismo. 
Porém, esclarecimentos vão sendo estabelecidos à 
medida que a profissão avançou no estudo, na reflexão e na 
produção do conhecimento a partir de bases teóricas 
clássicas, superando desvios influenciados por fontes teóricas 
secundárias sobre a teoria social de Marx e amadurecendo em 
seus processos técnico-operativos (NETO, 2015; BRAVO E 
MATOS, 2006). 
Para aprender mais sobre a atuação do Serviço Social 
junto aos movimentos sociais, recomendamos que assista ao 
vídeo da professora Neiva, disponível no material on-line. 
Na Prática 
Agora vamos exercitar nosso aprendizado! 
1. Pesquise o panorama político do Brasil no período entre 
1960 e 1989; 
2. Retome a leitura dos 5 temas trabalhados nesta aula; 
3. Complete o quadro, que você encontra a seguir, com 
informações importantes para melhor fixação do conteúdo 
desta aula. 
 
 
Siga o exemplo: 
 
 Dica 1: tenha especial atenção às informações 
referentes à dimensão metodológica, dentro da 
história do Serviço Social, em coerência com a aula 
estudada. 
 Dica 2: complete o quadro com a maior riqueza de 
informações possível. Este exercício ajudará você a 
compreender melhor a relação da história do Serviço 
Social com a história do Brasil. 
Estarão adequados os exercícios em que sejam 
caracterizados minimamente momentos importantes na 
história da profissão e do país. 
Confira no vídeo disponível no material on-line os 
comentários da professora Neiva a respeito da atividade 
prática lançada. 
 Síntese 
Chegamos ao fim de nossa terceira aula, na qual 
estudamos o desenvolvimento da metodologia do Serviço 
Social dentro do Movimento de Reconceituação, que se 
desenvolveu ao longo das décadas de 1960, 1970 e 1980. 
Tratamos dos Seminários de Teorização do Serviço 
Social, com destaque aos aspectos metodológicos 
apresentados nos documentos de Araxá e Teresópolis. 
Conhecemos os métodos BH e da fenomenologia, bem como 
discutimos sobre a atuação dos assistentes sociais junto aos 
movimentos sociais, dentro do período histórico estudado. 
Foi possível observar que o contexto político e 
econômico vivenciado no Brasil entre as décadas de 1960 e 
1980 teve grande influência no processo de discussão e 
desenvolvimento de metodologias de trabalho do Serviço 
Social. Assim, podemos recuperar nosso questionamento 
inicial e desenvolver as respostas adequadas. 
Na videoaula disponível no material on-line, a 
professora Neiva faz uma síntese e apresenta a solução para 
questão lançada no início da aula. 
 
 
Referências 
BRAVO, Maria Inês Souza; MATOS, Maurílio Castro de. O 
potencial de contribuição do Serviço Social na assessoria aos 
movimentos sociais pelo direito à saúde. In: BRAVO, Maria 
Inês Souza; MATOS, Maurílio Castro de (Orgs.). Assessoria, 
consultoria e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2006. 
CENTRO Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços 
Sociais (CBCISS). Teorização do Serviço Social: Seminários 
de Araxá, Teresópolis e Sumaré. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 
1986. 
FALEIROS, Vicente de Paula. Metodologia e ideologia do 
trabalho social. 9. ed. São Paulo: Cortez, 1997. 
MACHADO, Aline Maria Batista; SANTOS, Ana Carla dos; 
SOARES, Elailla Andrius de Morais. Serviço Social e 
educação popular: um recorte dos estudos produzidos no 
período de 1980-2010 no Brasil. In: Textos e Contextos, v. 
13, n. 2, p. 337-354. Porto Alegre, jul/dez 2014. 
MATOS, Maurílio Castro de. Assessoria e consultoria: 
reflexões para o Serviço Social. In: BRAVO, Maria Inês Souza; 
MATOS, Maurílio Castro de (Orgs.). Assessoria, consultoria 
e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2006. 
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise 
do Serviço Social no Brasil pós-64. 17. ed. São Paulo: Cortez, 
2015. 
OMENA, Valéria Coelho de. O movimento de 
reconceituação do serviço social e o processo de 
renovação crítica da profissão a partir da década de 1980 
no Brasil. Disponível em: 
<https://pt.scribd.com/doc/14943699/O-MOVIMENTO-DE-
RECONCEITUACAO-DO-SERVICO-SOCIAL-E-O>. Acesso 
em: 15 mai. 2016. 
REVISTA em Pauta. Entrevista Memória com Leila Lima 
Santos. Serviço Social na América Latina: 1970-1980. 
Editorial Revista em Pauta. Revista da Faculdade de Serviço 
Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, n. 20, Rio 
de Janeiro, 2007. 
https://pt.scribd.com/doc/14943699/O-MOVIMENTO-DE-RECONCEITUACAO-DO-SERVICO-SOCIAL-E-O
https://pt.scribd.com/doc/14943699/O-MOVIMENTO-DE-RECONCEITUACAO-DO-SERVICO-SOCIAL-E-O
TRINDADE, Rosa Lúcia Prédes. Desvendando as 
determinações sócio-históricas do instrumental técnico-
operativo do Serviço Social na articulação entre demandas 
sociais e projetos profissionais. In: Revista Temporalis, n. 04, 
ano II, julho a dezembro de 2001. Revista da Associação 
Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. 
Brasília: ABEPSS, Grafline. 
YASBEK, Maria Carmelita. Os fundamentos do Serviço Social 
na contemporaneidade. Material didático do Curso de 
Especialização Lato Sensu em Serviço Social: direitos 
sociais e competências profissionais. Brasília: Conselho 
Federal de Serviço Social – CFESS. Associação Brasileira de 
Ensino e Pesquisa em ServiçoSocial – ABEPSS, 2009.

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