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Fundamentos Metodológicos do Ensino de Ciências A Teoria na Prática Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Wanderli Cunha de Lima Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lidia de Sá Cicaroni 5 • Teoria e Prática • O Ensino de Ciências • Educação para Sustentabilidade Esta unidade tem como tema principal evidenciar a necessidade da dialética entre a teoria e a prática como contribuinte para o processo de ensino e aprendizagem de Ciências na Educação Infantil. A organização desta unidade deu-se com o retorno a alguns assuntos já discutidos na unidade anterior. Iniciamos com apontamentos sobre importância de a prática pedagógica favorecer o aprendizado significativo pelos alunos. Fique atento a essa correlação entre os saberes docentes e a como ela deve estar presente no desenvolvimento do trabalho do professor. Também nos reportamos às diferentes dimensões do ensino como imprescindíveis para o desenvolvimento do trabalho de Ciências na Educação Infantil. E, em seguida, abordamos alguns conteúdos que devem estar presentes no ensino de Ciências desde a Educação Infantil. Para realizarmos aprofundamento da discussão acerca do tema, faremos uma atividade reflexiva, com a escrita de um texto argumentativo. Participe dessa atividade, colocando em prática o que foi estudado na unidade. Como você já sabe, é muito importante aproveitar as indicações feitas no material teórico e no material complementar. Elas favorecem a compreensão e completam o conteúdo estudado, auxiliando no momento da realização das atividades tanto de sistematização do conhecimento como de aprofundamento do tema. · Nesta unidade buscaremos desmistificar a dicotomia culturalmente existente entre teoria e prática. Também faremos apontamentos sobre a relação dialética existente entre teoria e prática no ensino de Ciências. A Teoria na Prática 6 Unidade: A Teoria na Prática Contextualização “Didática teórica é aquela desenvolvida nos programas da disciplina, segundo pressupostos científicos que visam à ação educativa, mas distanciada desta. São pressupostos abstratos que se acumulam sobre o processo de ensino, na busca de torná-los mais eficientes. Didática prática é aquela vivenciada pelos professores nas escolas a partir do trabalho prático em sala de aula, dentro da organização escolar, em relação com as exigências sociais. Esta não tem por compromisso comprovar os elementos teóricos estudados em livros ou experimentados em laboratórios, mas tem em vista o aluno, seus interesses e necessidades práticas.” (PURA, 1989, p. 21). Partindo dessa afirmação, assista ao vídeo: “Agir e acreditar”, autoquestionando-se sobre: • Por que é importante, no ensino de Ciências, o conhecimento da teoria e da prática? • Qual a consequência de não valorizarmos igualmente esses conhecimentos? • Com que esses conhecimentos irão contribuir para a sua formação enquanto pessoa? • E na sua formação e atuação profissional, o que implicam esses conhecimentos? O vídeo está disponível no site abaixo. http://www.youtube.com/watch?v=G8_1VgQSnTg 7 1. Teoria e Prática Na Educação, é comum ouvirmos a frase: “Na teoria é fácil, mas na prática a coisa muda de figura!” Mas será que isso é verdade? Nesta unidade, tentaremos desmistificar essa dicotomia. É certo que, na educação, teoria e prática são as duas faces da mesma moeda e, como tal, estão interligadas e são interdependentes. Portanto não se pode falar em uma sem falar na outra. Na unidade anterior, vimos a importância de o professor se preparar para ministrar aulas de Ciências para as crianças, isto é, fazer um planejamento e estudar o conteúdo que será apresentado às crianças, a fim de poder fazer “boas perguntas” e estar preparado para dar respostas aos questionamentos feitos por elas Quando o professor assume essa postura, ele está imergindo na teoria. E para quê? Podemos concluir que o professor o faz para colocar em prática os conhecimentos embasados nas teorias da educação. Dessa maneira, sua prática pedagógica tende a contribuir significativamente para o aprendizado das crianças. Observe que esse movimento se insere no contexto de teoria na prática e isso não é um fantasma ao qual devemos temer. Assim, podemos afirmar que, ao se apropriar do conhecimento fundamentado nas teorias de aprendizagem, o professor encontra autonomia e segurança na sua prática, pois supera os obstáculos e vê a possibilidade de realizar um trabalho de qualidade. Segundo Pimenta (2005), o saber docente não é formado somente pela prática, mas é nutrido pelas teorias da educação. Dessa forma, há uma ressignificação mútua, contribuindo para a ação contextualizada e reflexiva do professor. A Educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática (Paulo Freire) Thinkstock.com Thinkstock.com 8 Unidade: A Teoria na Prática Conclui-se, portanto, a importância da teoria, pois, a falta de unidade entre os saberes docentes – teoria e prática – concebe uma prática pedagógica acrítica, a qual não favorece a transformação; ao contrário, somente reproduz a sociedade existente. [...] os saberes teóricos propositivos se articulam, pois, aos saberes da prática, ao mesmo tempo ressignificando-os e sendo por eles ressignificados. O papel da teoria é oferecer aos professores perspectivas de análises para compreender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais, e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir, transformando-os. Daí é fundamental o permanente exercício da crítica das condições materiais nas quais o ensino ocorre (PIMENTA, 2005, p.26). De acordo com Nóvoa (1991), a formação do professor deve estar permeada pelo desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional. [...] a formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de autoformação participada. Estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projectos próprios, com vistas à construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional (NÓVOA, 1991, p.25). Dessa perspectiva, vemos que a formação do professor deve contribuir para a reflexão crítica acerca da função docente. Dessa forma, ao se pensar em teoria e prática, é necessário combinar sistematicamente elementos teóricos com as situações práticas do dia a dia. Vejamos como isso se dá no ensino de Ciências na Educação Infantil. 2. O Ensino de Ciências Para pensar o ensino de Ciências, temos que nos reportar às diferentes dimensões do conteúdo. Como vimos anteriormente – em outra unidade – a proposta de ensino atual, por encontrar- se pautada na formação global do indivíduo, prevê o ensino de conteúdos atitudinais e procedimentais e não somente o ensino dos conteúdos conceituais como se dava tradicionalmente. Essa forma de conceber o ensino de conteúdos, focando os procedimentos e atitudes, de certa forma, amplia o trabalho do professor. Isso porque demanda reflexão sobre o que, como, e para que ensinar. Portanto, não basta dar um texto e dele retirar perguntas para um questionário; agora se faz necessário oportunizar aos alunos condições de desenvolver sua autonomia, estimular a cooperação entre eles, visando a um aprendizado que favoreça sua vida em sociedade. 9 Os conteúdos atitudinais, no ensino de Ciências, não devem ser encarados como uma forma de promover “atitude científica” nas crianças, como se viu tradicionalmente, porque “adotar os procedimentos próprios da ciência como receita para ajudar a resolver problemas cotidianos”, para muitos autores, apresenta sua eficácia ou utilidade duvidosa. (POZO, GÓMEZ-CRESPO, 2009, p. 37). Domesmo modo, a abordagem do conteúdo procedimental, por muito tempo, teve papel secundário no ensino. Muito do que se via era a preocupação com os conceitos, mas poucos eram os critérios para se organizar os procedimentos necessários para a aprendizagem (POZO, GÓMEZ-CRESPO, 2009). Mas o que podemos conjecturar sobre esses critérios? Entre os critérios necessários para estruturar os procedimentos, segundo Pozo e Gomez- Crespo (2009), é possível encontrar: • o procedimento para adquirir nova informação – o qual se dá a partir da observação, do manejo e da seleção de fontes de informação; • o procedimento para interpretar ou elaborar dados – interpretação de uma situação cotidiana; • o procedimento para analisar e fazer inferência – planejar e realizar um experimento, tirar conclusões e/ou comparar; • o procedimento para compreender e organizar conceitualmente a informação – fazer classificações, estabelecer relações; • o procedimento para comunicar seus conhecimentos – com a utilização de recursos orais, escritos ou pictográficos. Glossário Pictográfico: Em que os conceitos são representados por cenas figuradas ou por símbolos complexos. Retomemos o que foi estudado na unidade anterior e veremos essa mesma estrutura procedimental – adquirir, interpretar, elaborar, analisar, inferir, compreender, organizar e comunicar – sendo apontada como imprescindível para o desenvolvimento do trabalho de Ciências na Educação Infantil. Desse modo, ao elaborar as aulas de Ciências para as crianças da Educação Infantil, o professor precisa pensar nessas dimensões e relacionar o conhecimento teórico com sua prática. Não estamos afirmando que isso seja simples ou fácil de fazer, porém necessário, especialmente se pretendemos levar nossas crianças ao encontro da aprendizagem significativa. 10 Unidade: A Teoria na Prática 2.1 Estudos da Natureza - As Plantas Na Educação Infantil devem-se privilegiar os procedimentos para adquirir novas informações. É através do procedimento que a criança começa a construir suas primeiras noções. A observação e a exploração do meio constituem-se duas das principais possibilidades de aprendizagem das crianças desta faixa etária. É dessa forma que poderão, gradualmente, construir as primeiras noções a respeito das pessoas, do seu grupo social e das relações humanas. A interação com adultos e crianças de diferentes idades, as brincadeiras nas suas mais diferentes formas, a exploração do espaço, o contato com a natureza, se constituem em experiências necessárias para o desenvolvimento e aprendizagem infantis. (BRASIL, 1998, p. 178). A proposição de um problema é o fio condutor para a aprendizagem; a partir dele é possível estruturar todos os procedimentos necessários à aprendizagem. Possibilitar, na Educação Infantil, a introdução do ensino de Botânica pode ser um dos temas mais excitantes para as crianças, despertando-lhes um grande interesse. Isto é, de acordo com a abordagem feita pelo professor, é possível envolver as crianças nesse tema, favorecendo seu interesse e aprendizagem. Cuidar de plantas e acompanhar seu crescimento podem se constituir em experiências bastante interessantes para as crianças. O professor pode cultivar algumas plantas em pequenos vasos ou floreiras, propiciando às crianças acompanhar suas transformações e participar dos cuidados que exigem, como regar, verificar a presença de pragas etc. Se houver possibilidade, as crianças poderão, com o auxílio do professor, participar de partes do processo de preparação e plantio de uma horta coletiva no espaço externo. (BRASIL, 1998, p. 179). O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI) indica uma prática que pode acontecer sem maiores percalços dentro de uma escola – plantar e acompanhar o crescimento da planta. E dentro dessa prática é possível trabalhar muitos conceitos, como, por exemplo: as diferentes espécies, suas propriedades (se é ornamental, um tempero ou um remédio), o ciclo vital, entre outros. Trocando Ideias A iniciação ao conhecimento sobre o desenvolvimento da planta pode ser realizada usando a música como estratégia de ensino. O vídeo a seguir pode ser uma sugestão. http://www.youtube.com/watch?v=yLgN1XwAk_k 11 Bizzo (2009) sugere a apresentação de uma planta carnívora como objeto de análise inicial1, visto que ela aguça a curiosidade das crianças. É claro que, para propor essa planta como objeto de análise, o professor terá que estudar a respeito de suas especificidades, ou seja, quais são as espécies existentes, como as plantas carnívoras atraem os insetos e como os digerem, etc. Outra proposta feita por Bizzo (2009) é o trabalho com sequência de fotos – quando não se pode ter a planta para manipulação. Segundo o autor, uma boa sequência de fotos também pode ser uma forma interessante de apresentar um problema aos estudantes. Trocando Ideias Esse tipo de material – fotos – pode ser facilmente encontrado na internet. Também se podem ampliar os conhecimentos das crianças sobre esse tema partindo da apresentação de vídeos; propondo às crianças a representação teatral – dramatização do desenvolvimento de uma planta, por exemplo –; levando-as a passeios nos quais elas entrem em contato direto com a natureza, na intenção de observá-la e questioná-la, entre outras situações que o professor pode criar com esse propósito. 2.2 Estudos da Natureza - Os Animais Assim como no ensino com foco nas plantas dentro do estudo da natureza, também o ensino com foco nos animais apresenta resultados expressivos de aprendizagem desde a Educação Infantil, pois muitos animais fazem parte do dia a dia das crianças, e a outros elas têm acesso através das mídias. Outros recursos podem ser desenvolvidos na escola com a organização de um trabalho pedagógico voltado a esse aprendizado. Sobre isso, os RCNEI sinalizam: O contato com pequenos animais, como formigas e tatus-bola, peixes, tartarugas, patos, passarinhos etc. pode ser proporcionado por meio de atividades que envolvam a observação, a troca de ideias entre as crianças, o cuidado e a criação com ajuda do adulto. O professor pode, por exemplo, promover algumas excursões ao espaço externo da instituição com o objetivo de identificar e observar a diversidade de pequenos animais presentes ali. (BRASIL, 1998, p. 178). Nessa faixa etária, o ensino não deve se prender a conceitos, porque a valorização de termos técnicos pode constituir uma formalização não significativa para as crianças por se apresentarem de forma descontextualizada (BRASIL, 1998). Por isso os professores devem repensar o modo como apresentar a Zoologia e a Biologia aos seus alunos (BIZZO, 2009). 1 Segundo Bizzo (2009), o estudo de Botânica tem sido realizado com muito êxito, no Ensino Fundamental, quando se apresenta uma planta carnívora. Apesar de sua sugestão abarcar crianças maiores do Ensino Fundamental, acreditamos que, também na Educação Infantil, seja um trabalho bastante interessante e possível de se realizar. 12 Unidade: A Teoria na Prática Glossário Zoologia: (proveniente do grego Ζώο, zoon “animal”, e λόγος, -logos “estudo”) é a ciência que estuda os animais. Desconsiderando o conhecimento e as ideias que as crianças já possuem, valorizam a utilização de terminologia técnica, o que pode constituir uma formalização de conteúdos não significativa para as crianças. Um exemplo disso são as definições ensinadas de forma descontextualizadas sobre os diversos animais: “são mamíferos” ou “são anfíbios” etc., e as atividades de classificar animais e plantas segundo categorias definidas pela Zoologia e pela Biologia. Desconsidera-se assim a possibilidade de as crianças exporem suas formulações para posteriormente compará-las com aquelas que a ciência propõe. (BRASIL, 1998, p. 166). Segundo Pozo e Gómez-Crespo(2009), ensinar conceitos muitas vezes pode se resumir numa aprendizagem sem significado e, nos melhores casos, servem apenas para que as crianças memorizem e reproduzam quando solicitadas. Porém, nesse processo, a compreensão fica à deriva, porque “compreender requer pôr em marcha processos cognitivos mais complexos de que repetir.” (POZO; GÓMEZ-CRESPO, 2009, p. 82). O aprendizado da Zoologia pode oferecer a possibilidade da aprendizagem de outros conteúdos, como os relativos à saúde, à higiene e ao cuidado e prevenção de acidentes. A criação de alguns animais na instituição, como tartarugas, passarinhos ou peixes, também pode ser realizada com a participação das crianças nas atividades de alimentação, limpeza etc. Por meio desse contato, as crianças poderão aprender algumas noções básicas necessárias ao trato com os animais, como a necessidade de lavar as mãos antes e depois do contato com eles, a possibilidade ou não de segurar cada animal e as formas mais adequadas para fazê-lo, a identificação dos perigos que cada um oferece, como mordidas, bicadas etc. (BRASIL, 1998, p. 178-179). Pensar no ensino de Ciências partindo de atividades experimentais – e, quando falamos em experimentos, estamos nos referindo ao contato das crianças com esses animais e não de experimentos de dissecação deles –, as quais ofereçam às crianças um enriquecimento acerca do seu conhecimento cotidiano, pode “transformar a aprendizagem em um momento prazeroso, descontraído e lúdico, rico de significados, sendo agradável para os alunos e professores.” (SILVA; AIKAWA; TERÁN, 2012, p. 138). Propor às crianças atividades lúdicas no ensino de Zoologia deve ser visto como um meio para se ensinar os conceitos referentes aos componentes do ambiente onde cada espécie se desenvolve, seus hábitos e características. 13 Muitos são os temas pelos quais as crianças se interessam: pequenos animais, bichos de jardim, dinossauros, tempestades, tubarões, castelos, heróis, festas da cidade, programas de TV, notícias da atualidade, histórias de outros tempos etc. As vivências sociais, as histórias, os modos de vida, os lugares e o mundo natural são para as crianças parte de um todo integrado. (BRASIL, 1998, p. 163). Também os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) fazem referência ao desenvolvimento dessa forma de trabalho como primordial para obtenção de aprendizagem pelas crianças. A coleta de informações sobre a vida de determinados animais em seus ambientes pode ser feita pela observação de figuras, leituras de pequenos textos realizadas pelo professor para a classe, cultivo de plantas, criação de pequenos animais (tatuzinhos de jardim, minhocas, borboletas, besouros), em que se preservem as condições de sua vida na natureza, ou ainda por meio de filmes e de contato com pessoas que conheçam a vida dos animais e das plantas. (BRASIL, 2001, v. 4, p. 67) Segundo o documento, são momentos em que se oportuniza aos alunos condições de organização para que se possam realizar os cuidados necessários à manutenção das criações desses pequenos animais, além de proporcionar sua observação em longo prazo. E, ainda, Bizzo (2009) ressalta que a diversidade do padrão dos animais excede, numericamente, a dos vegetais e alerta para o fato de que “ao expor de maneira muito sintética a diversidade zoológica, perde-se de vista a grande riqueza de países megadiversos, como o Brasil.” (BIZZO, 2009, p. 114). Com isso, o autor quer dizer que o professor deve suscitar situações em que as crianças possam observar e perceber essa multiplicidade de espécies animais. Por conseguinte, observa-se a considerável variedade de assuntos que podem ser abordados no ensino. Conforme Bizzo (2009), não se deve descartar o estudo das zoonoses ao abordar diferentes seres vivos. [...], não se pode deixar de lado uma visão mais ampla de saúde, mas, ao mesmo tempo, não se pode negligenciar o entendimento de agentes etiológicos e os vetores de importantes endemias de interesse social. (BIZZO, 2009, p. 120). Thinkstock.com 14 Unidade: A Teoria na Prática Isso significa levar para a sala de aula algumas considerações, possíveis na Educação Infantil, sobre alguns problemas de saúde pública e sobre o que e como fazer para se prevenir – incluindo a importância das vacinas, da higiene pessoal e do ambiente, etc.. A seleção de conteúdos por parte dos professores de Educação Infantil deve considerar a “relevância de certos assuntos na realidade social na qual a escola está inserida, mostrando a importância dos estudos de Zoologia realizados na disciplina de Ciências.” (BIZZO, 2009, p. 122). 2.3 Ser Humano A criança, na faixa etária que compreende a Educação Infantil, demonstra grande interesse e/ ou curiosidade não só pelos assuntos relacionados ao conhecimento sobre as plantas e animais, mas também pelo seu próprio corpo. De acordo com os RCNEI (1998), na Educação Infantil inicia-se o trabalho para que as crianças possam conhecer seu corpo, e as intervenções realizadas pelos professores devem aguçar a curiosidade delas de forma que possam reformular suas ideias iniciais. Na educação infantil, é possível realizar um trabalho por meio do qual as crianças possam conhecer o seu corpo e o que acontece com ele em determinadas situações, como quando correm bastante, quando ficam muitas horas sem comer etc. Partindo sempre das ideias e representações que as crianças possuem, o professor pode fazer perguntas instigantes e oferecer meios para que as crianças busquem maiores informações e possam reformular suas ideias iniciais. (BRASIL, 1998, p. 190) A partir do conhecimento sobre o funcionamento do corpo, é possível às crianças aprender também a cuidar de si mesmas de modo que evitem acidentes e mantenham a saúde (BRASIL, 1998). Por outro lado, o conhecimento da dimensão corporal é bastante relevante para as crianças frente às mudanças sentidas e vivenciadas por elas na infância. (LANES, 2011). O corpo é a base de percepção e organização da vida humana nos sentidos biológico, antropológico, psicológico e social. Desse modo, no âmbito educacional, particularmente no que concerne ao seu caráter socializador e definidor de identidades individuais e sociais, essa afirmação torna- se essencial a ser valorizada e considerada, pois a dimensão corporal constitui-se uma dimensão relevante para as crianças, sobretudo na infância, em que estatura, forma, aparência, sexo e desempenho se caracterizam como uma fonte flexível, sofrendo constantes mudanças, que podem ser visualizadas, sentidas e vivenciadas “materialmente” ou “corporalmente” pelas crianças. (LANES, 2011, p. 14 e 16). Thinkstock.com 15 Ampliar o conhecimento da criança acerca do mundo natural e social é condição necessária para que elas desenvolvam atitudes de respeito e preservação à vida. Nessa expectativa, o trabalho com os seres vivos oferece inúmeras oportunidades de aprendizagem para as crianças na fase de Educação Infantil. (BRASIL, 1998). 3. Educação para Sustentabilidade Pensar em sustentabilidade implica pensar nos componentes da natureza e na relação do homem com a natureza. O reconhecimento da ação do homem na paisagem merece consideração, pois essa percepção pelas crianças é imprescindível para sua compreensão da realidade social e natural, bem como das formas de nela intervir. (BRASIL, 1998). Então, o que é sustentabilidade? Explore Para conhecer um pouco mais sobre o assunto, assista ao vídeo O que é sustentabilidade? O vídeo, disponível no site indicado abaixo, explica de forma simples e rápida o que é sustentabilidade. http://www.youtube.com/watch?v=HAtJgPODRs4 Assim, o termo sustentabilidade abarca quatro conceitos que devem, desde cedo, serem apresentados às crianças. Ademais, é preciso estimulá-las a compreender o seu significadoprincipal, ou seja, aprender que sustentabilidade é o equilíbrio entre o que precisamos da natureza e o que oferecemos em troca a ela. Desse modo, pressupõe a modificação de atitudes decorrentes da sociedade contemporânea, as quais estão tornando eivada nossa natureza. No ensino de Ciências, a relação existente entre os seres vivos deve ser evidenciada, expandindo do micro, para o meso e, na sequência, para o macroambiente, a fim de fomentar a preocupação ambiental. O estudo dos seres vivos deve revelar, progressivamente, uma trama complexa de relações, o que implica expandir os limites dos ambientes considerados, evitando restringir-se a microambientes, como aquários ou terrários. Embora eles sejam contextos interessantes para uma primeira aproximação do tema, é necessário ter em mente que a compreensão dos problemas atuais implica reconhecer as relações que ocorrem entre regiões muito distantes (BIZZO, 2009, p. 123). Glossário Eivada: debilitada 16 Unidade: A Teoria na Prática Não se trata de introduzir conteúdos complexos para as crianças da Educação Infantil, mas de não sonegar informações importantes para o desenvolvimento do seu conhecimento científico. As crianças refletem e gradativamente tomam consciência do mundo de diferentes maneiras em cada etapa do seu desenvolvimento. As transformações que ocorrem em seu pensamento se dão simultaneamente ao desenvolvimento da linguagem e de suas capacidades de expressão. (BRASIL, 1998, p. 168). Levar as crianças a compreender que a ação humana apresenta diferentes formas de relação com o meio e que estas se diferenciam de acordo com os diversos grupos e sociedades em cada tempo – presente ou passado – é um dos grandes desafios do ensino de Ciências. Conhecer o mundo implica conhecer as relações entre os seres humanos e a natureza, e as formas de transformação e utilização dos recursos naturais que as diversas culturas desenvolveram na relação com a natureza e que resultam, entre outras coisas, nos diversos objetos disponíveis ao grupo social ao qual as crianças pertencem, sejam eles ferramentas, máquinas, instrumentos musicais, brinquedos, aparelhos eletrodomésticos, construções, meios de transporte ou de comunicação, por exemplo. (BRASIL, 1998, p. 186). Portanto, para que se possam desenvolver determinadas atividades com as crianças na área de Ciências Natural faz-se necessário que o professor invista no ensino, buscando conhecer a teoria, preocupando-se com a estruturação dos procedimentos, a fim de colocar a teoria na prática. 17 Material Complementar • Visite o site do Instituto Biológico e conheça um pouco mais sobre a exposição: “Planeta Inseto” Nessa exposição é possível observar como se dá o ensino de Ciências a partir da ludicidade e interatividade. Visite o site: http://www.biologico.sp.gov.br/museu.php • Acesse o link abaixo e assista ao vídeo: “Educação Infantil e o meio ambiente” Esse vídeo traz algumas ideias sobre como trabalhar a teoria na prática. http://www.youtube.com/watch?v=HbG4nrTNprQ • Para conhecer um pouco mais sobre a importância do perfil do professor para a Educação Infantil, acesse: http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=o4WcvH-2IbI&NR=1 Veja como a professora Maria Malta, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e professora da PUC de São Paulo, aprofunda sobre o assunto. • Acesse o site: www.terra.com.br/crianças Esse site é apropriado para pesquisas escolares, apresentando curiosidades sobre animais e plantas, preservação ambiental, entre outras. É isso aí... Novos conhecimentos para pôr em prática na realização de suas atividades. 18 Unidade: A Teoria na Prática Referências BIZZO, Nélio. Mais ciência no ensino fundamental: metodologia de ensino em foco. São Paulo: Editora do Brasil, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. - 3. ed. - Brasília, DF: MEC, 2001. v.4. __________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil /Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. LANES, Dário Vinícius Ceccon. Ensino de ciências por meio da recreação na educação infantil. 2011. 65 f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde)- Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2011. Disponível em < http://w3.ufsm.br/ppgecqv/Docs/Dissertacoes/DarioLanes.pdf>. NÓVOA, Antonio. A formação contínua de professores: realidades e perspectivas. Aveiro: Universidade de Aveiro, 1991. PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teórica e prática. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. POZO, Juan Ignácio; GÓMEZ CRESPO, Miguel Ángel. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico; tradução FREITAS, Naila. – 5. ed. Porto Alegre: Artemed, 2009. SILVA, Maria do Livramento Galvão; AIKAWA, Monica Silva; TERÁN, Augusto Fachín. Relatos sobre as práticas pedagógicas de ensino das ciências com crianças da educação infantil. Revista ARETÈ. Manaus. V.5, n. 9, p. 137-146. Ago-dez 2012. Disponível em: <http:// ensinodeciencia.webnode.com.br/products/ensino%20de%20ci%C3%AAncias%20/>. Acesso em 15 jun. 2013. 19 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000