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Literatura Infantojuvenil Prof. Jairo Nogueira Luna 2a edição | Nead - UPE 2012 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife Luna, Jairo Nogueira Letras: Literatura Infantojuvenil/ Jairo Nogueira Luna. - Recife: UPE/NEAD, 2012. 56 p. Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx. xxxxxxxxxxxx Universidade de Pernambuco, Núcleo de Educação à Distância II. Título XXX – xxx. – xxx.xxx Xxxxxxxxxxxxx Xxxx – XXX/xxxxx xxxxxxxxxxxx XXXX Reitor Vice-Reitor Pró-Reitor Administrativo Pró-Reitor de Planejamento Pró-Reitor de Graduação Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Pró-Reitor de Extensão e Cultura Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque Prof. José Thomaz Medeiros Correia Prof. Béda Barkokébas Jr. Profa. Izabel Christina de Avelar Silva Profa. Viviane Colares S. de Andrade Amorim Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque UNIVERsIDADE DE PERNAmbUCo - UPE NEAD - NÚCLEo DE EDUCAÇÃo A DIsTÂNCIA Coordenador Geral Coordenador Adjunto Assessora da Coordenação Geral Coordenação de Curso Coordenação Pedagógica Coordenação de Revisão Gramatical Gerente de Projetos Administração do Ambiente Coordenação de Design e Produção Equipe de design Coordenação de suporte EDIÇÃo 2012 Prof. Renato Medeiros de Moraes Prof. Walmir Soares da Silva Júnior Profa. Waldete Arantes Profa. Silvania Núbia Chagas Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti Profa. Eveline Mendes Costa Lopes Profa. Geruza Viana da Silva. Prof. Valdemar Vieira de Melo Igor Souza Lopes de Almeida Prof. Marcos Leite Anita Sousa Gabriela Castro Rafael Efrem Renata Moraes Rodrigo Sotero Afonso Bione Prof. Jáuvaro Carneiro Leão Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplares Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010 Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664 5 Literatura infantojuveniL Prof. Jairo Nogueira Luna Carga Horária | 60 horas ementa Conceito de Literatura Infantojuvenil. História da LIJ: o tradicional e o moder- no; a literatura Infantojuvenil e suas múltiplas linguagens; a função pedagógica da literatura Infantojuvenil;. literatura Infantojuvenil e a realidade brasileira. O fantástico e o maravilhoso na literatura Infantojuvenil. O conceito de herói na LIJ. Literatura Infantojuvenil e outras linguagens: os quadrinhos, o cinema, o teatro. objetivo GeraL Apresentar o conceito, as características e a história da Literatura Infantojuvenil, buscando fundamentar estratégias didáticas e pedagógicas para o ensino no que se refere ao conteúdo da referida disciplina. apresentação Nesta disciplina, apresentaremos um conceito de literatura infantojuvenil e, com base nesse conceito, abordaremos um processo de análise e classificação das obras de literatura infantojuvenil tendo em vista o conhecimento e o domí- nio de suas características. Buscaremos também desenvolver uma visão crítica e pedagógica da produção da literatura infantojuvenil e desenvolveremos um percurso histórico da LIJ, mostrando suas ligações com as novelas medievais e os contos populares. Além disso, discutiremos a questão das características das personagens e do universo mágico existente nas narrativas da LIJ, como também comentaremos autores como Irmãos Grimm, Perrault, Lewis Carroll e Monteiro Lobato. Por fim, vamos mostrar as relações intersemióticas com outros gêneros e linguagens, como as histórias em quadrinhos, o cinema e o teatro. Esperamos que, ao final desse estudo, o aluno esteja contando com conhecimentos teóricos e práticos para o entendimento da importância da LIJ no contexto do conheci- mento da arte literária e das práticas didático-pedagógicas. 7Capítulo 1 77Capítulo 1 objetivos específicos • Analisar o conceito de literatura Infantojuvenil e criar condições para a apreciação e a compreensão crítica da literatura Infantojuvenil; • Discutir as concepções acerca da literatura Infantojuvenil; • Identificar elementos que contribuam para o conhecimento acerca da im- portância do gênero; • Promover o debate e a leitura acerca da literatura Infantojuvenil; • Demonstrar as aplicabilidades didático-pedagógicas da literatura Infantoju- venil e sua importância para a formação do leitor. 1. conceitos acerca de Literatura infantojuveniL A literatura infantojuvenil é um ramo da literatura dedicada especialmente às crianças e aos jovens adolescentes. Nisso se incluem histórias fictícias infantis e ju- venis, biografias, novelas, poemas, obras folclóricas e/ou culturais, ou simplesmen- te obras contendo/explicando fatos da vida real (ex: artes, ciências, matemática). Naturalmente o conteúdo, dentro de uma obra infantojuvenil, depende da idade do leitor. Enquanto obras literárias destinadas a crianças de dois a quatro anos de idade são, quase sempre, constituídas de poucas pala- vras e muito coloridas ou com muitas imagens e fotos, obras literárias destinadas ao jovem adolescente, muitas vezes, con- têm apenas texto. a) Literatura Infantil A literatura infantil é destina- da especialmente a crianças Literatura infantojuveniL Prof. Jairo Nogueira Luna Carga Horária | 15 horas Fo nt e: ht tp :// lit er at ur ae ed uc ac ao -u ne b. bl o- gs po t.c om /2 01 0/ 11 /u m a- no va -a tiv id ad e- pr a- ze ro sa -a tiv id ad e. ht m l 8 Capítulo 1 entre dois a dez anos de idade. O conteúdo de uma obra infantil precisa ser de fácil entendimento pela criança que a lê, seja por si mesma, ou com a ajuda de outra pessoa. Além disso, precisa ser interessan- te e, acima de tudo, estimulá-la. • É escrita em linguagem simples, apresentando um fato ou uma história de maneira clara; • Tem caráter didático, ensinando ao jovem lei- tor regras da sociedade e/ou comportamentos sociais; • Apresenta mais diálogos e diferentes aconteci- mentos, com poucas descrições; • Mostra a criança como os principais persona- gens da história; • Sempre tem um final feliz. A Literatura Infantil, afinal, o que é? A designação ‘infantil’ faz essa modalidade literária ser considerada “menor” por alguns, infelizmente. Os educadores, especialmente, vivenciam de perto a evolução desse maravilhoso ser, que é a criança. O contato com textos recheados de encantamento nos faz perceber quão importante e cheia de res- ponsabilidade é toda forma de literatura. A palavra literatura é intransitiva e, indepen- dentemente do adjetivo que a receba, é arte e deleite. Sendo assim, o termo infantil associado à literatura não significa que ela tenha sido feita necessariamente para a criança. Na verdade, a li- teratura infantil acaba sendo aquela que atende, de alguma forma, aos anseios do leitor e que se identifica com ele. A autêntica literatura infantil não deve ser feita essencialmente com intenção pedagógica, didática ou para incentivar hábito de leitura. Esse tipo de texto deve ser produzido pela criança que há em cada um de nós. Só assim o poder de cativar esse público tão exigente e importante aparece. O grande segredo é trabalhar o imaginário e a fan- tasia. Então, como foi que tudo começou? b) Literatura Juvenil A literatura juvenil é um ramo da literatura dedi- cada a leitores entre dez e quinze anos de idade. Fatos comuns a obras literárias juvenis, em geral, incluem• temas de interesse do jovem adolescente, mui- tas vezes controversos, como sexo, droga, vio- lência, relacionamento amoroso; Os primeiros livros direcionados a crianças foram elaborados por professores e pedagogos no final do século XVII, com o objetivo de passar valores e criar hábitos. Atualmente a literatura infantil não tem só esse objetivo, hoje também é usada para propiciar uma nova visão da realidade, diversão e lazer. Obras literárias destinadas a crianças de dois a quatro anos de idade possuem apenas grupos de palavras e/ou poucas e simples frases. Na literatu- ra infantil, os livros são coloridos e/ou possuem muitas imagens e/ou fotos, tanto porque a criança está apenas começando a aprender a ler, quanto a estimulando por mais livros e histórias. Livros dedicados a leitores entre quatro a seis anos têm maior grupo de palavras organizado em um texto, sem abrir mão de estímulos visuais já menciona- dos. Na LI, podem ser incluídas algumas histórias em quadrinhos, como a Turma da Mônica. Já nas obras literárias criadas para crianças entre sete a dez anos, há menos cores e imagens, textos cada vez maiores e fatos mais complicados e explicati- vos, uma vez que o jovem leitor, agora em fase es- colar, é estimulado a encontrar respostas por ele mesmo. É o começo da racionalização. Quase toda obra literária infantil apresenta algu- mas características em comum, embora exceções existam: • Não aborda temas adultos e/ou não apropria- dos a crianças. Isso inclui guerras, crimes he- diondos e drogas, por exemplo; • É relativamente pequena - não possui mais que 80 a 100 páginas; • Há estímulos visuais (cores, imagens, fotos, etc); Fo nt e: ht tp :// w w w .c ol eg io no bi lis .c om . br /i nd ex .p hp /d ia -n ac io na l- do -l iv ro - -in fa nt il/ 9Capítulo 1 • aspectos relativos a planos para o futuro no âmbito da escolha profissional, da sequência do estudo, da busca de afirmação; • personagens especialmente protagonistas da mesma faixa etária dos leitores; • imagens e fotos, mas não necessariamente, e, basicamente, constituídas de texto; • número maior de páginas, podendo alcançar 200 a 300 páginas em vários casos. Carmen Bravo-Villasante aborda com muita pro- priedade o problema, ao afirmar que “así como no todo libro escrito para niños supone forzosamente que sea literatura infantil, del mismo modo puede ser literatura infantil lo que no está destinado para ellos”. Duas teses lançadas e defendidas por pedagogos de grande projeção envolvem o conceito de literatura infantil, embora reconhecidamente de modo imperativo: a) Não deve haver literatura especialmente escri- ta para crianças, mas a utilização, condensada ou adaptada, das obras-primas da literatura universal; b) A diferença de mentalidade na criança impli- caria a criação de obras especiais para eles. 1.1 a função utiLitário-pedaGóGica da Literatura infantojuveniL O literário e o pedagógico estão imbricados na lite- ratura infantil desde seu início. A escola, ao priori- zar o didático em detrimento do lúdico em textos para crianças, transforma a leitura em função pe- dagógica. Entretanto, arte e educação podem ser parceiras na fruição literária se a escola fornecer às crianças o estímulo adequado à leitura. Como a leitura é uma atividade profundamente árida e estratificada na sala de aula e o aluno habituou-se a vê-la dessa forma, é necessário que os projetos de- monstrem, de modo concreto, que ele se encontra diante de uma nova perspectiva de leitura. Tudo será realizado de modo que ele possa ter prazer na- quilo que faz. Por esse motivo, as atividades pro- postas no âmbito do projeto devem ter uma pre- ocupação com o lúdico, diferenciando-se daquilo que, de modo geral, se faz na escola. É absoluta- mente imprescindível que o aluno visualize estar diante de algo especial. A maneira de as atividades se articularem, dentro de cada projeto, deve permi- tir que se atinja o objetivo proposto definido, de tal modo que o aluno possa fruir de uma leitura global e múltipla, descobrindo o prazer de ler. Por esse princípio, não cabe ao professor mostrar o que está no texto, mas lhes dar elementos necessários à construção de uma leitura tão profunda quanto permita sua capacidade de análise e sua visão de mundo. A perspectiva é que o aluno seja capaz de construir sua leitura, porque ela é a manifestação F o n t e :h t t p :/ / w w w .s e - b o d o m e s s ia s .c o m .b r / Lo ja /% 28 S% 28 ki gr hh 55 vm kl te aw yn 44 3n np % 29 % 29 /d et al he pr od ut o. as px c) A Conceituação por Miguel Arroyo1 A conceituação de literatura infantil tem variado muito no espaço e no tempo, tão íntima é a relação em sua natureza com a pedagogia. Tão imponderáveis são também os critérios constituídos para o estabe- lecimento de um conceito definitivo que, a maioria das vezes atende apenas a determinadas implica- ções históricas, sociais e, sobretudo, pedagógicas. 1ARROYO, Leonardo. Literatura Infantil Brasileira. São Paulo, Melhoramentos, 1990. P.34-35. Fo nt e: ht tp :// no vi da de se ve lh ar ia s- fe rn an de sh er - ci lia .b lo gs po t.c om /2 00 8/ 06 /l ite ra tu ra -i nf an ti l- -a tr av s- do s- te m po s.h tm l É o que ressalta facilmente ao longo do estudo de sua história, que vai encontrar no aparecimento do livro, especialmente dirigido à criança – e, confir- mada depois pela aceitação de livros que não o fo- ram, mas se tornaram clássicos pela sacramentali- zação dos leitores infantis – indisfarçável surpresa. 10 Capítulo 1 da sua leitura de mundo, da sua leitura de vida, necessariamente diferente de um para outro. A apresentação das atividades sob uma perspectiva lúdica, no entanto, é fator necessário, mas não su- ficiente para que elas ganhem um fôlego novo. atividade | Faça uma lista de títulos de obras da literatura Infantojuvenil, dividindo em duas categorias: a) obras adaptadas; b) obras originais para literatura Infantojuvenil. Depois reclassifique sua lista em: a) obras de literatura infantil; b) obras de literatura juvenil. Compare as duas classificações e escreva um comentário analisando as classificações. O ImagInárIO InfantIl Juremir Machado da Silva afirmou que “o ser hu- mano é movido pelos imaginários que engendra”. Dessa forma, cada criança cria expectativas sobre o restante da sua vida pensando na profissão que escolheu, seja ela possível ou não, seja a ideia válida ou não. Tal opção influencia no tipo de brincadei- ra do jovem e nos planos que ele faz para a vida em- bora seja muito novo para tal. Segue-se uma narra- tiva que, a qualquer momento, pode ser alterada, pois surgirão novos padrões, sensações, paixões ou sonhos. Assim o imaginário é também algo em constante mutação. É criado, então, com base nes- sa decisão, um “lago de significados”, valendo-se da semântica, com valores do que aquilo significa para ela. Na maioria das vezes, a cópia, a ideia da profissão não condiz com a carreira verdadeira. São ignorados os problemas e todas as dificulda- des e levados em consideração apenas o sucesso, o prazer, a vontade. O imaginário é um reservatório. Lá estão guardados exatamente esses conceitos. TEXTOS COMPLEMENTA RES http://revista.univem. edu.br/index. php/REGRAD/article/vie wFile/234/239 - “A Trajetória da Literat ura Infantil: Da Origem Histórica e do Conceito Mer- cadológico ao Caráter Pedagógico da Atualidade” – artigo de I. C. da UNI-VEM, de autoria de Aline Luiza da Silva. http://revista.acbsc.org .br/index.php/ racb/article/view/371/4 43 - A Leitura Como Função Pedagógi ca – O Literário na Escola, de Clarice For tkamp Candim. SAIBA MAIS! “Dentro do contexto da literatura infantil, a função pedagógica imp lica a ação educativa do livro sobre a criança. De um lado, relação comunicativa leitor-obr a, tendo por inter- mediário o pedagógico, que dirige e orienta o uso da informação; d e outro, a cadeia de mediadores que interce ptam a relação livro- -criança: família, escola, biblioteca e o próprio mercado editorial, agen tes controladores de usos que dificultam à cr iança a decisão e es- colha do que e como ler . Extremamente pragmáti ca, essa função peda- gógica tem em vista um a interferência sobre o universo do usuário at ravés do livro infantil, da ação de sua linguage m, servindo-se da for- ça material que palavra s e imagens possuem, como signos que são, de atuar sobre a mente daquele que as usa; no caso, a criança”. 2 Fo n te :h tt p: // cm zu zu an ge l.b lo gs po t. co m /2 01 1/ 04 /1 80 4- di a- na ci on al -d a- -li te ra tu ra .h tm l F o n te :h tt p :/ /w w w .a m ig o d a a lm a .c o m . br /2 00 9/ 12 /2 7/ ps ic ol og ia -d os -c on to s- de -f ad as /o - -e te rn o- im ag in ar io -jo hn -a ns te r/ 2PALO, Maria José e OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura Infantil -Voz de Criança. São Paulo: Ática, 1986. 11Capítulo 1 Não se trata de imaginação nem apenas de um con- junto de imagens. A escolha precoce da profissão é a escolha de um modelo e de um estilo de vida, cujos sonhos e ideais têm base no real e no irreal. É realizada para se infiltrar em uma cultura cuja car- reira é uma das coisas mais importantes da existên- cia; para falar a linguagem dos adultos e, também, de outras crianças com os mesmo sonhos. Neste último caso, pode-se associar ao imaginário social, que acontece por contágio, no qual todas as crianças escolhem uma profissão. É o imagi- nário de ser adulto. O imaginário individual gira em torno de cada profissão específica, baseado na identificação de cada um com a carreira, com o profissional. 1.2 o diáLoGo e as funções: pedaGóGica e estética Nas histórias de Literatura Infantil, o diálogo, não poucas vezes, é articulado de forma a compor um espaço para a apresentação de conceitos de com- portamento, de moral, valores religiosos, políticos, ideológicos. De fato, a literatura infantil tem mui- to essa característica, de ser um instrumento de formação do indivíduo, entendida essa formação como parte do projeto pedagógico e educacional. Para cumprir esse papel, o diálogo incorpora dois aspectos relativos à consciência da personagem e da criança, esta como leitora ou ouvinte, caso a história seja transmitida oralmente, a saber: a) As dúvidas acerca do mundo, das normas de comportamento e dos valores a serem transmi- tidos pelo texto são incorporadas em uma per- sonagem que está em um processo de desco- berta do mundo. Essa personagem pode ser a própria criança como Chapeuzinho Vermelho e João e Maria, ou uma personagem alegórica como Os músicos de Bremen e A Raposa e as Uvas. Leiamos, por exemplo, o diálogo entre o lobo e os três porquinhos, no momento em que ele planejava invadir a casa de tijolos – re- sistente ao sopro do lobo – pela chaminé: “Vendo as patas do lobo pela janela, Cícero avisou: -Irmãos, o lobo vai entrar pela chaminé! -Vamos fugir, disse Heitor! -Deixe que ele venha, disse o Prático. -Vai cair no fogo e se queimar todo! – disse o gordinho O lobo, no entanto, ia pensando: -Basta escorregar pela chaminé... sem barulho... E desceu, sem imaginar por que esperava.” b) As respostas são apresentadas, muitas vezes, não por um personagem adulto, que represen- ta o pai ou a mãe, mas um personagem mági- co, como uma fada, um mago, um herói ou super-herói, um bicho ou um ser alegórico e mitológico. Desse modo, o diálogo se circuns- creve num ambiente ligado ao imaginário, mas permite a criação de um processo, no mais das vezes, subliminar e inconsciente, de transfe- rência de valores e conceitos entre o mundo imaginário e o real. No exemplo dado do diálogo retirado de “Os Três Porquinhos”, a ação do lobo, reafirmada pela sua fala “Basta escorregar pela chaminé” é a realização da condição necessária para que o plano dos três porquinhos – de acender a chaminé – dê resulta- do. Aqui se apreende diretamente a relação de cau- sa e efeito e a questão do fogo como elemento que pode ser útil, mas também perigoso. A função estética se desenvolve com a intenção de destacar a engenhosidade dos recursos de lingua- gem de modo a compor a beleza do texto por meio das expressões e estilo utilizado. Nesse sentido, na literatura infantojuvenil, o aspecto estético se asso- cia ao uso de figuras que vão dar ao imaginário um sentido de verossimilhança e de recriação do mundo, com destaque para a hipérbole, as metá- foras e as figuras de som, como a aliteração e os trava-línguas. Observe este exemplo: “Maria-Mole é molenga, se não é molenga, não é Maria-Mole. É coisa malemolente, nem mala, nem mola, nem Maria, nem mole”. 1.3 as fiGuras 1.3.1 a HIpérbOle Hipérbole ou auxese é a figura de linguagem que incide quando há demasia propositada num con- Fo nt e: ht tp :// jo rn al da pa ra ib a. co m .b r/ bl og / co ns ci en ci aa g o ra /p o st /1 33 83 _p ro je to - -t ril ha s- va i- be ne fic ia r- 14 8- m un ic ip io s- da - -p ar ai ba 12 Capítulo 1 ceito, expressa de modo a definir, de forma dra- mática, aquilo que se ambiciona vocabular, trans- mitindo uma ideia aumentada do autêntico. Em palavras mais simples, hipérbole é “expressar uma ideia de forma exagerada”. Na literatura infantil e na juvenil, é recorrente o uso da hipérbole como forma de expressar um mundo imaginário, ou um elemento cuja desproporciona- lidade configura um objeto de estranhamento para com a realidade. Vejamos, por exemplo, a descri- ção que Voltaire faz de sua personagem alegórica, Micrômegas, no início do conto homônimo: “Num desses planetas que giram em torno da es- trela chamada Sírio, havia um jovem de muito es- pírito a quem tive a honra de conhecer durante a última viagem que fez a este nosso pequeno for- migueiro: chamava-se Micrômegas, nome bastante adequado a todos os grandes. Tinha oito léguas de altura: entendo, por oito léguas, vinte e quatro mil passos geométricos de cinco pés cada um. Alguns algebristas, gente sempre útil ao público, tomarão logo da pena e, tendo em vista que o senhor Micrô- megas, habitante do país de Sírio, tem da cabeça aos pés vinte e quatro mil passos, ou seja, vinte mil pés, e que nós outros, cidadãos da terra, não medi- mos mais que cinco pés de altura e o nosso globo nove mil léguas de circunferência, esses algebristas, dizia, eu, calcularão que é preciso, absolutamente, que o globo que o produziu seja exatamente vinte e um milhões e seiscentas mil vezes maior que a nos- sa minúscula terra. Nada mais simples nem mais comum na natureza. Os Estados de alguns sobera- nos da Alemanha ou da Itália, cuja volta se pode fazer em meia hora, comparados ao império da Turquia, de Moscóvia ou da China, não são mais que uma débil imagem das prodigiosas diferenças que a natu- reza colocou em todos os seres.” Os exemplos são vários, no citado con- to de Os Três Porquinhos, o sopro do loboque derruba a casa de palha é hiperbólico. 1.3.2 prOsOpOpeIa Ou persOnIfIcaçãO A personificação ou prosopopeia é uma figura de estilo que consiste em atribuir a objetos inanima- dos ou seres irracionais sentimentos ou ações pró- prias dos seres humanos. Dizer “está um dia triste” implica a atribuição de um sentimento a uma entidade que, de fato, nun- ca poderá estar triste, mas cujas características, céu nublado, frio poderão conotar tristeza para o ser humano. Na fábula, a personificação toma um sentido simbólico, em que a atribuição de determinadas características humanas a seres irracionais segue determinadas regras estabelecidas pelo contexto sociocultural do autor: o leão passa a ser corajoso ou fanfarrão, como na fábula do leão e do rato, de Esopo; a raposa torna-se astuta ou desdenhosa; as características do material passa a conotar o caráter humano ou o seu estatuto em termos de poder, forte ou frágil, como na fábula da panela de ferro e da panela de barro. Fo nt e: ht tp :// gi gi -s em pa i.b lo gs po t.c om /2 01 1/ 01 /m ic ro m eg as -u n- -h ab ita nt -d e- si riu s- un e. ht m l Fo nt e: ht tp :// w w w .p es ca .tu r.b r/ hu m or /h u- m or -p ro so po pe ia -m ar in ha / É uma figura de estilo muito utilizada na literatura infantojuvenil, ao permitir rasgos de fantasia que a literatura para adultos nem sempre permite, ain- da que a ela recorra frequentemente. Por exemplo, no realismo mágico sul-americano ou em contos e novelas como em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado, ou História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar, de Luis Sepúlveda, - que funcionam como fábulas modernas e que, tal como em O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint- -Exupéry, esbatem as fronteiras entre o que é litera- tura para adulto ou literatura para criança. Exemplos de personificação: • “O Gato disse ao Pássaro que tinha uma asa partida.” • “O Vento suspirou e o Sol também.” • “A Cadeira começou a gritar com a Mesa.” 13Capítulo 1 • “O morro dos ventos uivantes.” • “O Sol amanheceu triste e escondido.” • “A Bomba atômica é triste, Coisa mais triste não há Quando cai, cai sem vontade.” (Vinícius de Morais) • “A lua beijava a face do lago adormecido. “ • “O fogo dançava com o vento.” • “O vento assobiava na janela, durante a noite.” • “O sol brilhava contente na manha seguinte.” • “O carro não aguentava mais, tantos anos de trabalho.” 1.3.3 metáfOra A metáfora é uma figura de linguagem que consiste na alteração do sentido de uma palavra ou expres- são, pelo acréscimo de um segundo significado, quando entre o sentido de base e o acrescentado há uma relação de semelhança, de intersecção, isto é, quando apresentam traços semânticos comuns. apenas no nível semântico, a analogia metafórica pode não ser plenamente decodificada pelo recep- tor. As inferências são significações pragmáticas não dedutíveis de regras lógicas, mas sim de regras conversacionais, do que é verdadeiro ou relevante com base nas relações contextuais. Na literatura infantil e juvenil, é também outra fi- gura recorrente o exemplo, em O Soldadinho de Chumbo, do conto de Hans Cristian Andersen, quando, ao final, o menino, dono do soldadinho de chumbo de uma perna só, o atira na lareira e, logo após, o vento leva até a lá a bailarina de papel. Na lareira, soldadinho e bailarina pegam fogo e no dia seguinte se encontra na lareira um coraçãozi- nho de chumbo e cinzas. Esse coração, metafori- camente, representa o amor dos dois personagens. 1.3.4 a alegOrIa Alegoria é uma figura de linguagem que está den- tro do que se classifica como figura de palavras, ou seja, relaciona-se à semântica, e encontra seu significado dentro das abstrações. De acordo com o dicionário Aurélio: “Simbolismo concreto que abran- ge o conjunto de toda uma narrativa ou quadro, de ma- neira que a cada elemento do símbolo corresponda um elemento significado ou simbolizado”, isto é, além de servir como figura de linguagem para textos, bas- tante comum em fábulas e parábolas, cabe também a obras de arte.F o n te :h tt p :/ /p o rl o ck b lo g .b lo g sp o t. co m /2 01 1/ 04 /m et af or a- de -f in al -d e- se m an a. ht m l Conceito tradicional e essencial para a compreen- são do processo de significação da linguagem hu- mana, a metáfora pode ser definida como uma trans- ferência de significado, cuja base é uma analogia: dois conceitos são relacionados por apresentarem, na concepção do falante, algum ponto em comum. Daí em diante, amplia-se o campo de abrangência do vocábulo, instaurando-se a polissemia, essencial para que se realize qualquer processo de mudan- ça, que exige variação e continuidade. Em termos cognitivos, os procedimentos analógicos apoiam-se em conceitos mais concretos e mais próximos à ex- periência do indivíduo. Dessa maneira, ele pode estender sua compreensão para níveis mais com- plexos e abstratos de apreensão e conhecimento da realidade. Esse procedimento é altamente produ- tivo na ampliação e renovação do vocabulário de uma língua. Embora seja um processo tradicionalmente enca- rado como eminentemente semântico, na verdade, ele opera com regras pragmáticas. Se entendida Em muitos casos, lições de moral são utilizadas como forma de alegoria, pois elas representam situ- ações valendo-se de artifícios que significam algu- ma coisa por meio de outras. A própria construção etimológica da palavra alegoria, que vem do grego allegoría, identifica sua função que significa “dizer o outro”. Apesar de se parecer com a metáfora, diferenças e discussões existem acerca delas. Alguns estudiosos Fo nt e: h tt p: // tu pa re ta m a. bl og ge r.c om .b r/ 14 Capítulo 1 defendem a proximidade de ambas e outros pesquisadores discordam. Na turma dos que encontram li- gações está Quintiliano, que afirma ser alegoria a “metáfora continuada que mostra uma coisa pelas palavras e outra pelo sentido”. Mas, resumidamente, a metáfora adequa-se a termos isolados, enquanto a alegoria diz respeito ao texto na íntegra. Além da metáfora, a alegoria também se confunde com símbolo, suas diferenças, porém, encontram-se no que diz respeito ao significado imediato ou não. Enquanto no símbolo a compreensão é direta e imediata, na alegoria necessita-se de um esforço do intelecto para que o objeto em questão – obra de arte ou texto – seja entendido. atividade | Pesquise em contos, fábulas e histórias da li- teratura Infantojuvenil exemplos de utilização das figuras aqui estudadas: Hipérbole, Proso- popeia, Metáfora e Alegoria. 2. a personaGem da Literatura infantojuveniL A personagem da literatura Infantil tem carac- terísticas decorrentes do seu modo de colocação no mundo e do seu processo de imaginário. As relações de causa e conseqüência, por vezes, estão no universo mágico (Alice no País das Maravilhas, TEXTOS COMPLEMENTA RES http://pt.wikipedia.org /wiki/Figura_ de_linguagem - verbete da Wikipédia acerca do conceito de figuras de lin- guagem. http://www.euniverso.c om.br/Psyche/ Psicologia/desenvolvi mento/O_pa- pel_dos_contos_de_fada .htm - artigo da psicóloga Isabel Mar ia de Carvalho Vieira acerca das especif icidades do pa- pel do conto de fadas na construção do imaginário infantil. SAIBA MAIS! APÓLOGO Gênero alegórico que c onsiste numa narrativa ilustrando uma lição de sabedoria, utilizando personagens de índole diversa, reais ou fantásticas, animad as ou inani- madas. Servem de exem plos clássicosos apólog os de Fedro e Esopo. C onfunde-se facilmente com a fábula , embora esta se concen tre mais em relações qu e envolvem coisas e animais e com a parábola, que se ocup a mais de histórias entr e homens e figuras alegóricas com s entido religioso. Hegel a considera uma forma d e parábola: “Pode-se considerar o ap ólogo como uma parábol a que não utiliza apenas, e a título de analogia, um caso partic ular a fim de tornar perc eptível uma significação geral de tal modo que ela fica realme nte contida no caso parti cular que, no entanto, só é narrado a título de exemplo especia l.” (Estética, II, 2c, Guima rães Editores, Lisboa, 19 93, p.223). No século XVII, na Espa nha, fizeram escola os apólogos de Los Sueños , de Queve- do, e Coloquio de los pe rros, de Cervantes. Ficar am célebres entre nós, o s Apólogos Dialogais (1712), de D. F rancisco Manuel de Melo . Como todos os apólogo s, eles têm por fim interferir de al guma forma com o comportamento social e moral dos homens, modificando-o pelo exem plo se possível. No século XIX, registram-se os Apólogos (1820), de João Vicente Pimente l Maldonado, poeta menor do arcadismo, in spirado nas fábulas de La Fontaine e “Um Ap ólogo”, de Machado de Assis, incluídos na co letânea Várias Histó- rias, 1896. Os Contos Tr adicionais Portugue- ses, compilados por Teó filo Braga, são, na maior parte, verdadeiro s apólogos. Fo nt e: ht tp :// m ar ie te le s.b lo gs po t. co m /2 01 1_ 12 _0 1_ ar ch iv e. ht m l 15Capítulo 1 p.ex.), as relações de tempo também não são de- terminadas pelos aspectos diacrônicos, mas é um tempo não cronológico. Nesse cenário de relações lúdicas e criativas, em que a prosopopeia, a metá- fora, a alegoria e a hipérbole estão constantemente presentes mediando as percepções e as descrições, as personagens são costumeiramente espontâneas, lúdicas, criativas. Assim Alice, Peter Pan, Narizi- nho, a Cuca, o Lobo Mau, a Bela Adormecida, o Menino Maluquinho – personagens de diferentes contextos, épocas, culturas, têm em comum esse aspecto criativo e lúdico. Na interação da criança com a obra literária, está a riqueza dos aspectos formativos nela apresenta- dos de maneira fantástica, lúdica e simbólica. A intensificação dessa interação, mediante procedi- mentos pedagógicos adequados, permite a criança ter maior compreensão do texto e percepção mais abrangente do contexto. A obra literária é aquela que mostra a realidade de forma nova e criativa, deixando espaço para o leitor descobrir o que está nas entrelinhas do texto. A literatura infantil, portanto, não pode ser utili- zada apenas como um “pretexto” para o ensino da leitura e para o incentivo à formação do hábito de ler. Para que a obra literária seja utilizada como um objeto mediador de conhecimento, necessita esta- belecer relações entre teoria e prática, possibilitan- do ao professor atingir determinadas finalidades educativas. Para tanto, uma metodologia baseada em um ensino por projetos é uma das possibilida- des que tem evidenciado bons resultados no ensi- no de língua materna. A personagem da literatura juvenil já se aproxima do conceito de herói épico. Não raras vezes, têm domínio de faculdades e de poderes físicos supe- riores ao do homem comum. Conan, Ben-Hur, Galaaz, Simbad são alguns desses personagens. É a representação da necessidade a afirmação da per- sonalidade diante de um mundo complexo e não poucas vezes hostil, além de desafiador. 2.1 a personaGem e seu dupLo: a criança Ouvir e ler histórias são atividades que propiciam à criança o seu envolvimento em um mundo encan- tador, cheio ou não de mistérios e surpresas, mas sempre muito interessante, curioso, que diverte e ensina. É na relação lúdica e prazerosa da criança com a obra literária que temos uma das possibilida- des de formarmos o leitor. É na exploração da fan- tasia e da imaginação que se instiga a criatividade e se fortalece a interação entre texto e leitor. Quem de nós não lembra com saudades das histórias lidas e ouvidas quando crianças? Daquela historinha contada por nossos pais ao pé da cama antes de dormir? Ou daquela contada e interpretada pela professora nas primeiras séries do ensino fundamental? Fo nt e: ht tp :// w w w .m ic ro vi p. co m .b r/ vi pk id s/ pe rs o- na ge ns .h tm No seu começo, a Literatura foi essencialmente fantástica. Naquela época era inacessível à huma- nidade o conhecimento científico dos fenômenos da vida natural ou humana; assim sendo, o pensa- mento mágico dominava em lugar da lógica que conhecemos. A essa fase mágica e já revelando pre- ocupação crítica com as relações humanas no nível do social, correspondem as fábulas. Compreende- -se, pois, porque essa literatura arcaica acabou se transformando em Literatura Infantil: a natureza mágica de sua matéria atrai espontaneamente as crianças. A literatura fantasista foi a forma privilegiada da literatura infantil, desde seus primórdios (sec. VII) até a entrada do Romantismo, quando o “Mara- vilhoso” dos contos populares é definitivamente incorporado ao seu acervo pelo trabalho dos Ir- Fo n te :h tt p :/ /m ak ei tp o p fa st .b lo g sp o t. co m /2 01 0/ 03 /o -m un do -m ag ic o- de -h ar ry - -p ot te r- se ra .h tm l 16 Capítulo 1 mãos Grimm, na Alemanha; de Hans Christian Andersen, na Dinamarca; Garret e Herculano em Portugal e de outros não citados. Consideram-se como “Maravilhosa” toda situação que ocorre fora do nosso entendimento da dico- tomia espaço/tempo, realizada em local vago ou indeterminado na terra. Tais fenômenos não obe- decem às leis naturais que regem o planeta. O “Maravilhoso” sempre foi e continua sendo um dos elementos mais importantes na literatura des- tinada à criança. É por meio do prazer ou das emo- ções que as estórias lhes proporcionam o simbolis- mo que está implícito nas tramas e personagens vai agir em seu inconsciente, atuando pouco a pouco para ajudar a resolver os conflitos interiores nor- mais nessa fase da vida. A Psicanálise afirma que os significados simbólicos dos contos maravilhosos estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional. É durante essa fase que surge a necessidade da criança em defender sua vontade e sua independência em relação ao poder dos pais ou à rivalidade com os irmãos ou amigos. É nesse sentido que a Literatura Infantil e, princi- palmente, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo à sua volta. O maniqueísmo que divi- de as personagens em boas e más, belas ou feias, poderosas ou fracas facilita à criança a compreen- são de certos valores básicos da conduta humana ou convívio social. Tal dicotomia, se transmitida por meio de uma linguagem simbólica, e durante a infância, não será prejudicial à formação de sua consciência ética. O que as crianças encontram nos contos de fadas são, na verdade, categorias de valor que são perenes. O que muda é apenas o con- teúdo rotulado de bom ou mau, certo ou errado. Lembra a Psicanálise que a criança é levada a se identificar com o herói bom e belo, não por causa da sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a própria personificação de seus problemas infan- tis: seu inconsciente desejo de bondade e beleza e, principalmente, sua necessidade de segurança e proteção. Pode assim superar o medo que a inibe e enfrentar os perigos e ameaças que sente à sua volta, podendo alcançar gradativamente o equilí-brio adulto. A área do Maravilhoso, da fábula, dos mitos e das lendas tem linguagem metafórica que se comuni- ca facilmente com o pensamento mágico, natural das crianças. Segundo a Psicanálise, os significados simbólicos dos contos maravilhosos estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao lon- go de seu amadurecimento emocional. 2.2 a ação e a verossimiLhança A literatura é chamada de ficção, isto é, imagina- ção de algo que não existe particularizado na reali- dade, mas no espírito de seu criador. O objeto da criação poética não pode, portanto, ser submetido à verificação extratextual. A literatura cria o seu próprio universo, semanticamente autônomo em relação ao mundo onde vive o autor, com seus se- res ficcionais, seu ambiente imaginário, seu código ideológico, sua própria verdade: pessoas metamor- foseadas em animais, animais que falam a lingua- gem humana, tapetes voadores, cidades fantásticas, amores incríveis, situações paradoxais, sentimen- tos contraditórios, e outros elementos tão comuns á literatura infantojuvenil. Mesmo a literatura mais realista é fruto de imaginação, pois o caráter ficcional é uma prerrogativa indeclinável da obra literária. Se o fato narrado pudesse ser documenta- do, se houvesse perfeita correspondência entre os elementos do texto e do extratexto, teríamos então não arte, mas história, crônica, biografia. A obra literária, graças à potência especial da lin- guagem poética, cria uma relação com o objeto de característica própria, um heterocosmo contextual- mente fechado. Essa realidade nova, criada pela fic- ção poética, não deixa de ter, porém, uma relação significativa com o real objetivo. Ninguém pode criar com base no nada: as estruturas linguísticas, sociais e ideológicas fornecem ao artista o material sobre o qual ele constrói o seu mundo de imagi- nação. A teoria clássica da arte como mímese da vida é sempre válida, quer se conceba a arte como imitação do mundo real, quer como imitação de um mundo ideal ou imaginário. A obra de arte, por não ser relacionada diretamen- te com um referente do mundo exterior, não é ver- dadeira, mas possui a equivalência da verdade, a verossimilhança, que é característica indicadora do poder ser, do poder acontecer. Distinguimos uma verossimilhança interna à própria obra, conferida pela conformidade com seus postulados hipotéti- cos e pela coerência de seus elementos estruturais: 17Capítulo 1 a motivação e a causalidade das sequências narrativas, a equivalência dos atributos e das ações das persona- gens, a isotopia, a homorritmia, o paralelismo e uma verossimilhança externa, que confere ao imaginário a caução formal do real pelo respeito às regras do bom senso e da opinião comum. Se faltar a verossimilhança interna, dizemos que a obra é incoerente ou aloucada, aproximando-se do não sentido; se faltar a verossimi- lhança externa, entramos no domínio do gênero fantástico, definido por Todorov (107, p.39) como uma hesitação entre o estranho e o maravilhoso, entre uma explicação natural e uma explicação sobrena- tural dos acontecimentos evocados. Mais importante é a verossimilhança interna, a coerência estrutural da obra, porque, quanto à verossimilhança externa, a fuga para o fan- tástico, para o mundo da imaginação, é comum à literatura. Trans- formar um homem em animal (O asno de ouro, de Apuleio) ou em inseto (A metamorfose, de Kafka) e conferir a esses seres não humanos inteligência e sentimentos fazem parte do heterocosmo poético, cujas leis podem ser homólogas, no máximo, mas nunca idênticas às do mundo real. A literatura de ficção supera a antítese do ser e do não ser, do real e do imaginário: a personagem artística é, porque foi criada por seu autor e, ao mesmo tempo, não é porque nunca existiu no plano histórico. (Texto adaptado de Teoria do Texto, Salvatore D’Onoffrio) Fo nt e: ht tp :// oc ul os .b lo g. br /h ar ry -p ot te r- oc ul os -d an ie l-r ad cl i- ffe / SAIBA MAIS! Escrito em 1963, “Onde Vivem os Monstros” re volucionou a literatura infantil no quesito monstros e livro ilustrad o. Tanto que seu diferen cial lhe rendeu traduçõe s para mais de 20 idiomas e vários prêmio s literários. Só nos Estad os Unidos, vendeu mais de 18 milhões de exemplares. O pequeno Max e seus monstros se nsitivos conquistaram a leitura até de Barack Obama. O presidente no rte-americano chegou a ler trechos da obra para um grupo de crian- ças na Casa Branca. A trama gira em torno d o garoto Max que, após praticar uma malcriação , é mandado para o quarto sem jantar. Fanta siado de lobo, embarca em uma aventura pela floresta, ultrapassa dias, semanas, meses a té chegar a uma ilha on de vivem alguns monstr os. Por meio do seu olhar, consegue controlá -los e tornar-se rei. Lem bra-se, porém, de casa e quer voltar. A obra inspirou o filme d e Spike Jonze --com lanç amento em janeiro de 20 10, no Brasil--, que teve a aprovação pesso al do autor Maurice Sen dak. Em entrevista ao jo rnal britânico “The Guardian”, em outubro desse ano, o escritor ma ndou para o inferno os p ais que consideram o filme, e consequentem ente o livro, aterrorizant es. Em “Onde Vivem os Mon stros”, Max chega à flore sta e de pronto consegue imunizar a agres- sividade dos monstros a ponto de acalmá-los, a lém de ordenar uma ba gunça geral, mas do bem E quando ele chegou ao nde vivem os mons- tros, eles rugiram seus terríveis rugidos e arreganharam seus terr íveis dentes e revi- raram seus terríveis olho s e mostraram suas terríveis garras até que M ax disse: “quietos!” e amansou todos eles co m o truque mágico de olhar nos olhos ama relos deles sem pis- car nem uma vez e eles f icaram com medo e disseram que mais mon struoso que ele não havia o fizeram rei de to dos os monstros. “Agora”, exclamou Max, “vamos dar início à bag unça geral!”. Fo nt e: h ttp :// w w w s.b r.w ar ne rb ro s. co m /w he re th ew ild th in gs ar e/ 18 Capítulo 1 GLossário Função Estética: De acordo com Besora (1998), todo produto possui a função estética que está relacionada com a necessidade de beleza – desejo ao que é belo – que os seres humanos possuem. Tenho percebido essa função cada vez mais presente nos produtos em geral e até mesmo em produtos que não possuem uma relação de contato visual durante sua utilização. imaginário: A Imaginação é uma faculdade ou capacida- de mental que permite a representação de objetos cujas qualidades são dadas à mente por meio dos sentidos - se- gundo a concepção sartriana apresentada em sua obra O imaginário: psicologia fenomenológica da imaginação. Filosoficamente tais qualidades são chamadas secundá- rias quando a ação do subconsciente pronuncia-se à da consciência. Gilbert Durand apresenta uma formulação original à concepção de Sartre ao afirmar que o imaginário é uma resposta à angústia existencial frente à experiência “nega- tiva” da passagem do tempo. Essa “resposta” é expressa como acervo cultural de imagens produzidas pelo homo sapiens, delineando o trajeto antropológico expresso em um dado período histórico e pelos símbolos utilizados nes- se período. Para além da concepção sartriana de que a imaginação é a capacidade de elaborar simulacros de objetos apreendidos na materialidade, o imaginário é a TEXTOS COMPLEMENTA RES http://www.lpeu.com.br /a/Obra-literá- ria-e-verossimilhança.ht ml - verbete explicando de modo obj etivo a relação entre a obra literária e o conceito aris- totélico de verossimilhan ça. http://w3.ufsm.br/revi staletras/arti- gos_r3/revista3_2.pdf- artigo de Car- los Sepúlveda, professor da UFRJ, “Ve- rossimilhança e Diferenç a: A ordem do discurso narrativo na mo dernidade”. http://www.curriculosem fronteiras.org/ vol10iss2articles/bonin- silveira.pdf - As Formas do Corpo na Lite ratura Infanto- juvenil. Artigo de Iara T . Bonin e Rosa Maria H. Silveira. http://alb.com.br/arqu ivo-morto/edi- coes_anteriores/anais 16/sem08pdf/ sm08ss07_01.pdf - A Lite ratura Infantil, o corpo e a imagem. Ar tigo de Daniela Bunn (UFSC). capacidade mesma de fundar o real e percebê-lo (O ima- ginário: ensaio sobre a ciência e a filosofia da imagem e As estruturas antropológicas do imaginário). isotopia: Segundo Greimas é a interação sintagmática de membros significativos idênticos ou semelhantes que originam um plano homogêneo de leitura textual. Rastier alargou o conceito englobando não só o nível do conte- údo, como Greimas, mas também o nível da expressão. Explicou assim a definição como uma recorrência ou re- petição de qualquer elemento linguístico. resumo Neste capítulo, apresentamos a concei- tuação acerca de Literatura Infantoju- venil, suas figuras mais recorrentes e a questão do imaginário e das persona- gens. O domínio dessas características é fundamental para que se possa levar a bom termo a discussão e o estudo acerca da Literatura Infantojuvenil. 19Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2 objetivos específicos • Apresentar a teoria acerca das vozes no discurso das obras de Literatura In- fantojuvenil; • Discutir a função do riso, do narrador e da escritura da fala; • Apresentar uma introdução à História da Literatura Infantojuvenil, desta- cando obras da novelística clássica medieval. introdução Neste segundo capítulo, estudaremos o discurso das obras de Literatura Infanto- juvenil, a importância do riso e do cômico como partes do processo de inversão e reinvenção da realidade. Depois, entraremos no estudo da História da Literatura Infantojuvenil, com destaque para a novelística medieval em que se constroem aspectos relativos ao herói. 1. o discurso e as vozes narrativas na Literatura infantojuveniL A laicização da literatura, na época moderna, instalada com o Romantismo e servindo de legitimação à burguesia, muda a concepção da leitura. O resgate da dimensão social da literatura, pela burguesia, tem repercussão até nossos dias. A nova escritura, além de atingir e influenciar o público adulto, privilegia textos direcionados às crianças com o intuito de modificar o comportamento infantil, ao reforçar os valores sociais vigentes que são apresentados como modelos a serem assimilados e seguidos. o discurso e as vozes narrativas e a história da Literatura infantojuveniL (parte1) Prof. Jairo Nogueira Luna Carga Horária | 15 horas Fo n te :h tt p :/ /w w w .z en it ud e. co m .b r/ b lo g / liv ro s- gr at is -b as ta -c om pr om et er -s e- a- co m - pa rt ilh ar 20 Capítulo 2 Portanto, não é temerário afirmar a função social da literatura infantil, pois é na infância que se forma o hábito da leitura. Nos seus primórdios, a literatura para crianças tem função formadora: apresenta modelos de comportamento que facili- tam a integração da criança na sociedade. Lajolo e Zilberman (1999) acreditam que a valorização da família na sociedade burguesa é a mola mestra que transforma a leitura em prática social, quando constitui atividade privada nos lares, tendo o livro como instrumento ideal para a formação da moral burguesa. Desde então, segundo as autoras, “ser leitor, papel que, como pessoa física, exercemos, é função social, para a qual se canalizam ações indi- viduais, esforços coletivos e necessidades econômi- cas” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1999, p. 14). A literatura infantil aparece nesse contexto históri- co-social definido: a ascensão da burguesia e a po- sição que a criança passa a assumir na família. Se- gundo Lajolo e Zilberman (1999), a nova unidade familiar, centrada no pai-mãe-filhos e fortalecedora do Estado, privilegia a criança como um ser mere- cedor de atenção especial com status próprio, para o qual convergem as preocupações com a saúde, a educação e a religiosidade. Ao historiar os princípios da educação e da instru- ção oitocentista no Brasil, Mauad (1999) registra que, paralela à literatura de caráter universal, pre- valecia uma literatura de cunho moralista, própria do século XIX, direcionada à infância e à adoles- cência: formadora de caráter, de moral identificá- vel, com modelos de virtude, amor e desprendi- mento a serem seguidos por crianças e jovens. Os títulos já indicam o seu conteúdo: Modelos para os meninos ou rasgos de humanidade, piedade filial e de amor fraterno, publicado em Recife, em 1869, e que consiste numa coleção de historietas rechea- das do código moral vigente; e As manhãs da avó: leitura para a infância, publicado pela Garnier, em 1877, com várias histórias morais dedicadas às mães de família que norteariam seus filhos nos princípios, usos e costumes de nossa terra. Entretanto, pode-se lembrar de que a literatura infantil brasileira desenvolveu-se, segundo Riche (1999, p.130), “na virada da modernidade para a pós-modernidade e vai refletir esteticamente esse sistema social complexo vivendo entre o pré-capita- lismo de algumas regiões [...] e as grandes cidades”. Tem-se, então, uma cena social plural, com duas realidades distintas no território nacional: de um lado – crianças com pouco ou nenhum acesso ao livro infantil e à leitura, e, de outro – facilidade in- crível aos bens de consumo, entre eles a literatura para crianças. Fo nt e: ht tp :// fe st iv al de co nt ad or es de hi st or ia s.b lo gs po t. co m / Muito embora se conviva com tal disparidade no Brasil, o que se pretende destacar, entretanto, é que, na atualidade, o livro infantil apresenta a realidade – os problemas sociais, políticos e eco- nômicos. Ao assim fazer, não foge do lúdico, pois continua a transmitir emoções, a despertar curio- sidade e a produzir novas experiências. Por outro lado, desempenha uma importante função social que é fazer a criança perceber intensamente a rea- lidade que a cerca. A função social da literatura é facilitar ao homem compreender – e, assim, emancipar-se - dos dogmas que a sociedade lhe impõe. Isso é possível graças à reflexão crítica e ao questionamento proporciona- do pela leitura. Se a sociedade buscar a formação de um novo homem, terá de se concentrar na in- fância para atingir esse objetivo. Nesse sentido, pode-se dizer que o movimento da literatura infantil contemporânea, ao oferecer uma nova concepção de texto escrito aberto a múltiplas leituras, transforma a literatura para crianças em suporte para experimentação do mundo. Dessa maneira, as histórias contemporâneas, ao apresen- tarem as dúvidas da criança em relação ao mundo em que vive, abrem espaço para o questionamento e a reflexão, provenientes da leitura. Por outro lado, os contos clássicos não impedem o raciocínio lógico, porque não embotam a inteli- gência da criança. Envolvem, sim, o aguçar de sua sensibilidade artística e o equilibrar o sonho com o real. É um jogo estimulante – a criança sabe que 21Capítulo 2 o que está lendo não é verdade, mas finge acreditar – é a magia do imaginário, tão necessária ao desen- volvimento infantil. De acordo com Silva (1986, p. 21), a leitura do texto literário “pode se constituir num fator de liberdade e transformação dos homens”. Em consequência, pode-se dizer que tanto a leitura do texto maravi- lhoso quanto a leitura do texto realista cumprem o papel social de transformara infância, na medida em que fazem a criança pensar criticamente. Cumpre lembrar que o texto artístico somente pode desenvolver sua função social em uma cole- tividade contemporânea que compreenda os códi- gos culturais. Tais códigos fazem parte do conhe- cimento acadêmico e são uma forma de poder e uma fonte de sobrevivência. O conhecimento é mantido, difundido e estocado pelo livro, seja o de papel, seja o eletrônico, pois sua forma de trans- missão não é via oral, é pela leitura. 1.1 o riso e o universo ao avesso Se o riso continua sendo a marca do homem adul- to, já sufocado pelas imposições da cultura, limi- tado pelas amarras sociais, angustiado pelo peso das preocupações, que dizer, então, do riso solto da infância, genuína explosão de prazer. Parece, portanto, bastante fértil trilhar o caminho da Li- teratura Infantil brasileira valendo-se do riso, uma vez que ele permeia o gênero. O riso adulto, para acontecer, exige geralmente uma maior elaboração de ideias e palavras, encontrando expressão plena nos chistes e nas piadas; o riso infantil encontra-se bem próximo do popular, manifestado por meio da inversão e subversão da ordem vigente. Fazer as coisas às avessas faz rir a criança que, dessa forma, desmonta a seriedade do adulto. Por outro lado, se o riso no adulto tem o sabor de memória, o que diz Bergson (1980), sobre o riso, em geral, aplica-se também ao infantil, pois se sabe que o riso é uma forma de subverter padrões. Em O riso (1980), Bergson defende a tese de que o riso é provocado pela rigidez mecânica, pelo automatismo. A vida e a sociedade exigem do ser humano atenção e elasticidade do espírito e do corpo, para se adaptarem às constantes mudanças de situação. O riso é, portanto, uma espécie de gesto social que reprime as excentricidades e pro- cura corrigir certa rigidez do corpo, do espírito e do caráter que a sociedade gostaria de eliminar dos seus membros. Dentro dessa ótica, faz sentido a máxima latina: “ridendo castigat mores” É na obra de Monteiro Lobato que o riso se firma como pre- sença viva e constante, instaurando uma nova con- cepção a respeito da criação de obras para crianças, anteriormente conhecida pelo didatismo que per- meava os escritos destinados ao público infantil. O caminho aberto por Lobato, com seu primeiro livro publicado para crianças, A menina do narizinho arrebitado (1921), vai ser retomado na literatura in- fantil brasileira, com plena consciência de opção, a partir da década de 60. Podemos dizer que uma das mais fortes lições de Lobato – o riso - mantém viva, hoje, da paródia ao conto de fada tradicio- nal, no reaproveitamento das narrativas populares, manifestando-se no cômico de situações, de perso- nagens ou de linguagem. Monteiro Lobato soube muito bem representar o inconformismo, a deso- bediência e a irreverência, falando pela voz do “ou- tro”, a voz de Emília, a boneca de pano com ideias avançadíssimas para a época, quanto inovar, sub- verter, utilizando recursos linguísticos, desmontan- do as regras e fazendo uso de metáforas. O humor, segundo Fanny Abramovich (1996), pode surgir de várias formas na literatura infantil: a) mediante uma ideia engraçada; b) ironizado no tédio e no aborrecimento; c) mostrado no mau hu- mor e na irritação; d) marcado pelas queixas, lamú- rias e lamentações; e) reforçado na incompetência adulta; f) no saudável deboche às instituições; g) nos sustos e nos espantos. O humor tomado como uma brincadeira é o humor lúdico, baseado no jogo com as palavras. A polifonia e os vários sen- tidos das palavras e das expressões vão determinar o grau de comicidade existente no texto. A criativi- dade, aqui, é sinônimo de ‘pensamento divergen- te’, isto é, de capacidade de romper continuamente os esquemas da experiência. Considera-se ‘criativa’ uma mente que trabalha, sempre faz perguntas, Fo nt e: ht tp :// w w w .it ac or .c om .b r/ si te /b lo g/ 18 -d e- -ja ne iro -d ia -in te rn ac io na l-d o- ris o- 2/ 22 Capítulo 2 descobre problemas em que todos só veem respostas satisfatórias, recusa o codificado, remanuseia concei- tos, não tem medo do perigo, do novo e não se deixa inibir pelo conformismo. O processo mais utilizado nessa categoria (brincadeira) é a condensação. Acontece quando o autor, estrategicamente, utiliza o que chamamos gramatical- mente de palavras homógrafas, ou seja, a repetição de palavras com a duplicidade de ideias. Significado e significante se inter- põem num constante exercício de criatividade. Estão presentes os usos de metáforas e o trabalho com a ambiguidade, como recurso de subjetividade. Um bom exemplo de livro que retrata o humor-brincadeira é O menino maluquinho, de Ziraldo. É o que podemos chamar de tratado da inter-relação entre o código visual e o escrito. Ao des- crever as características físicas do personagem central, o autor faz um revezamento dos códigos, entrelaçando o código escrito com o código visual. Enquanto o código es- crito dá ao leitor o sentido metafórico da palavra, o código visual dá o sentido literal, sem se chocarem ou confundirem o leitor, ao contrário, dão um toque de humor e versatilidade ao livro. Fo nt e: ht tp :// w w w .in fo es co la .c om /li vr os /o -m e- ni no -m al uq ui nh o/ SAIBA MAIS! Leitura e Oralidade: As obras de Literatura Infantil e Juvenil têm como característica o re sgate da oralidade na escritura, indo assim ao encontro da origem do ato de narrar. O ato da fala é natural a o ser humano. Antes do surgimento da escrita, a s ações miméticas, como gestos e expressões facia is eram, sobremaneira, importantes, além da e ntonação, do ritmo, da expressão corporal. Esse s recursos visam dar à co municação oral um sent ido mais expressivo e proporciona uma troca mais direta de informaç ões e sentimentos entre os interlocutores. Como observam Palo e O liveira (2001): “Por isso, o discurso ora l cria uma cena múltipla (verbal e não verbal) e inclusiva, na qual, o que menos conta é o que se diz, já que tudo está n o modo como se diz e, ma is ainda, na tensão dialética entre o dito e o calado; entre aquilo que a fala articula e a gestua lidade desarticula e nega. Sua vida faz-se na fugacidade do presente, instante em que tudo es tá não estando. Dis- curso precário, um quase discurso, sempre em dis ponibilidade para incorp orar um novo dado em risco com o acaso.” (p .44) No que diz respeito à L iteratura Infantil e Juven il, a incorporação do có digo oral ao código escrito passa, especialm ente, por um processo d e substituição de eleme ntos como a hierar- quização, a contiguidade , a sucessividade de elem entos e o aspecto analíti co e as relações de subordinação entre as o rações, pela coordenaçã o, simultaneidade, simil aridade, síntese de formas analógicas do pe nsamento. Num clima de tradição oral, povoado de estran has figuras que a imagi nação vai criando e dando expressões, cresc eram grandes personali dades da nossa cultura e literatura: José Lins do Rego, Manuel Bande ira, Carlos Drummond, entre outros. Eles citam como na infância se deleitavam em ouvir his tórias contadas pela mã e, por alguma tia ou av ó, por alguma velha negra escrava. A oralidade é, pois, um a specto característico e fu ndamental do texto literá rio infantil e juvenil. Fo nt e: h ttp :// w w w .ca ra m ur e. co m .b r/ ar - tig os /c ul tu ra -e -o ra lid ad e- no -n or de st e/ 23Capítulo 2 atividade | Pesquise sobre a obra “O MeninoMaluqui- nho”, de Ziraldo, e encontre exemplos de mar- ca de oralidade nessa obra. tradicionais, podemos entender temas, motivos construtores da própria narrativa que dão a forma do que é contado. Podemos assim pensar que a tra- dição não é apenas conservação de histórias, mas também a manutenção de modos de dizer e recriar conteúdos já assentados na cultura literária popu- lar em arranjos novos. Zumthor, em suas investiga- ções, parte em direção ao elemento esquecido sob as generalizações da antiguidade e do anonimato do acervo popular, que ora vemos resgatadas em diversas linguagens e suas formas de expressão, em especial na literatura para crianças. De acordo com Walter Benjamin (1994, p.198), “entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos”. Antes se processa a oralidade, depois o registro es- crito e posteriormente, a criação por escrito dos contos, quando o narrador assumiu essa função: de contador – criador - escritor de contos. Os recursos criativos da linguagem também po- dem ser utilizados na passagem do conto oral para o escrito. Mesmo em versões contemporâneas fei- tas por escrito, o conto popular continua marcado pela narrativa oral, pois tende a manter certas ca- racterísticas do discurso falado e pressupõe sempre uma voz que narra e um ouvinte, referindo-se a um escritor que, de certo modo, escreve como quem fala e um leitor que lê como quem ouve (AZEVE- DO, 2006). Para compreender tal ponto, é preci- so abordar um tema relevante: a oralidade e suas implicações, principalmente no que se refere à li- teratura infantil.Transportando-nos para as publi- cações infantis de hoje, observamos que há nelas uma tendência em incorporar ao texto escrito o atributo do resgate oral, característica fundamental dos contos populares de tradição. Segundo M.J. Palo e M. R. Oliveira (2006, p.45): “Enfrentar a oralidade é pôr em crise os tradicio- nais recursos literários (...). É inaugurar um novo modo de narrar e escrever. Narrar ao mesmo tom e compasso do viver- escreviver- de tal forma que não haja distância em quem narra, o que narra e quem lê”. É o que resulta a utilização da oralidade: uma revitalização da escrita, um convite ao presen- te e uma abertura aos criadores que investem com maior liberdade. Um conto popular une as marcas da escrita e da oralidade. Tentam recuperar assim, o momento da “contação de história”. TEXTOS COMPLEMENTA RES “Usar a poesia para des envolver a ora- lidade” Em: http://revi staescola.abril. com.br/lingua-portugue sa/alfabetiza- cao-inicial/usar-poesia -423627.shtml - breve artigo da revista Nova Escola. “Literatura Infantil: Do Encantamento ao Questionamento” tra balho de Neu- sa A. Stiehl, orientação de Clarice Lot- terman, disponível em: h ttp://www.dia- adiaeducacao.pr.gov.b r/portals/pde/ arquivos/900-2.pdf “Literatura Infantil e Hu mor” artigo de Nair Gurgel, da UFRO, disponível em: cce.udesc.br/.../LITER ATURA%20IN- FANTIL%20E%20HUMOR .do... Fo nt e: ht tp :// w w w .p la ne ta ed uc ac ao .c om . br /p or ta l/a rt ig o. as p? ar tig o= 37 5 1.2 o narrador e a escritura da faLa O traço fundamental, ou seja, a raiz da origem da literatura infantil é a oralidade com todas as suas características e a tradição popular. Sabemos que tais contos sobreviveram ao longo dos séculos, de boca em boca, transmitidos por contadores de histórias. Esses invariavelmente re- corriam a um discurso conciso, a uma linguagem marcada pela expressão oral, fórmulas verbais, di- tados, frases feitas e um vocabulário acessível. En- contramos situação análoga na maioria absoluta das obras destinadas ao público infantil. Nessas formas de narração, as histórias se constituem em um aparato entre a voz e a memória - o conta- dor busca o equilíbrio entre a situação presente da transmissão e todo o passado da tradição. Como 24 Capítulo 2 O escritor de textos literários para crianças ocupa, atualmente, o lugar dos contadores de histórias dos primórdios da humanidade e da Idade Média, período marcado, sobretudo, pela oralidade, pela sedução das palavras e pela fruição dos sons encan- tatórios. Evidenciamos vários autores, compilado- res que, em diferentes épocas e lugares, registraram as histórias e as ofereceram ao público sob a forma de escrita, expressando a qualidade literária alcan- çada pelos textos originados desse processo. Podemos dizer, no entanto, que a escrita desses contos carrega a vocalidade, traz as vozes do passa- do. Em relação a esse ponto, diz Zumthor (1997): Nas sociedades arcaicas, o conto oferece à comunidade um terreno de experimentação em que pela voz do contador, ela se exerce em todos os confrontos imagináveis. Disso de- corre sua função de estabilização social, a qual sobrevive por muito tempo às formas de vida “primitiva” e explica a persistência das tradições narrativas orais, para além das transformações culturais; a sociedade precisa da voz de seus contadores, independentemente das situações concre- tas que vive. Mais ainda, no incessante discurso que faz de si mesma, a sociedade precisa de todas as vozes portadoras de mensagens arrancadas à erosão do utilitário: do conto, tanto quanto da narrativa. (ZUMTHOR, 1997, P.55-56). Sem dúvida, tais narrativas de tradição oral conti- nuam a exercer função significativa nas sociedades contemporâneas por meios diferenciados de difu- são desses contos. As mediações que culminam no universo infantil são de outra natureza, compara- das aos tempos “primitivos”, porém a força dessas histórias ainda se concentra na memória vocaliza- da que sustenta o conto, que pode ser verificado no próprio processo de movência desses textos ao longo dos séculos. Essa projeção traz consigo uma força germinal mui- to grande: o movimento de mobilidade oferecido ao público infantojuvenil por meio de diferentes versões e edições; no movimento de oralidade viva para a oralidade escrita no texto, essa mobilidade é que dá vida à obra. Grande parte da produção literária infantil contem- porânea tem retomado essa característica de impri- mir a oralidade nos textos. Muitas delas arraigam em processos narrativos arcaicos, que estão sendo redescobertos ou recriados. É visível a tendência para a retomada dos contos de tradição oral, da linha do maravilhoso popular ou folclórico. Nelly Novaes Coelho (2003) lembra em seu O conto de fadas- símbolos, mitos e arquétipos que: “Multiplicam- -se nas livrarias as edições dos contos de fadas ou contos maravilhosos, lendas mitos, clássicos anti- gos e modernos. O mercado oferece, em sedutoras edições ilustradas, toda uma literatura que parecia perdida no tempo [...]” ( COELHO, 2003, p.11). A incorporação da matriz da oralidade na escritura literária infantil, a rigor, não apresenta processos linguísticos elaborados em nível de construção des- sas narrativas, não querendo dizer, com isso, que ela não possua uma estrutura capaz de ser decomposta e analisada. Obser vamos, entre outras características, cadência rítmi- ca, estruturas frasais simples, uso da repetição, diálogos indiretos, modulações, exclamativas, diferentes variações no modo de aca- bar. A presença da oralidade, na escritura, propor- ciona a aproximação do leitor infantil e o desenvol- vimento da imaginação. Perceber que há nos textos narrativos marcas da cultura oral, marcas da cultura escrita, pode ser uma experiência interessante ao leitor, em fase de compreender a literatura e situar-se diante dela. Concluímos esse assunto corroborando com as seguintes palavras: “Em todas as modalidades de projeção da oralidade sobrea escritura literária in- fantil, o polo do leitor foi sempre de grande im- portância, seja como aquele que o narrador queria conquistar pela proximidade de sua fala para, pas- sivamente, seguir a linha dada à história, seja como de quem era exigida uma atuação maior em nível de coautoria: uma voz cuja presença compartilha- da era necessária para a presentificação da cena narrativa”. (PALO, 2006, p. 66) É desse contexto que emerge a literatura infantil e juvenil, contemporânea, reutilizando motivos po- pulares, com o emprego de uma linguagem inova- dora. O ato de contar / narrar está cada vez mais presente no corpo da narrativa. Fo nt e: ht tp :// lin gu ap or tu gu es a7 an o. bl og sp ot .c om /2 00 9_ 11 _0 1_ ar ch iv e. ht m l 25Capítulo 2 atividade | Pesquise acerca da origem e do significado da obra da novelística clássica medieval e comen- te acerca de suas impressões acerca dessa obra, destacando porque ela é hoje uma importante referência acerca da Literatura Juvenil. SAIBA MAIS! A Novelística Clássica M edieval Com a passagem da rec itação oral jogralesca à leitu- ra, aperfeiçoam-se, ao longo da época mediev al, as formas narrativas em lín gua vulgar, como as pros ifica- ções das canções de gest a e a transmissão dos ro man- ces arturianos. A escass ez e o caráter fragmentá rio e discutível de documento s relativos a uma novel ística medieval portuguesa p odem ser supridos pelo ma- nancial de pequenas na rrações que revelam o d omí- nio de técnicas específic as do gênero narrativo como fábulas ou anedotas. A própria historiografia e lite- ratura heráldicas entrem eiam, no encadeamento dos seus registros, pequena s histórias semilendária s que integram o patrimônio n arrativo medieval portug uês, por exemplo, a lenda de Gaia ou a novela do re i Ra- miro, que se encontram no Livro de Linhagens. Po r ou- tro lado, mesmo na poe sia trovadoresca galego -portuguesa, nomeadam ente nas cantigas de escárnio e maldizer, enc ontramos, em algumas composições, pequenas histórias anedóticas que, embora versificada s, obedecem a um esque ma narrativo. No entant o, os textos que deri- vam de uma tradição no velística mais extensa e r amificada são os que int egram a Matéria de Bretanha, como o José d e Arimateia ou a Deman da do Graal. Na tradição religiosa, o registo hagiográfico, combinand o, muitas vezes, a narra tiva biográfica com a na rrativa cavaleiresca, constituiu um dos melho res campos de ensaio p ara o desenvolvimento da técnica narrativa e do tratamento da mat éria historiográfica, com o a Crónica da Ordem d os Frades Menores, traduzida de um origina l latino, no final do sécu lo XIV. A célula máter da Literat ura Infantil, hoje conhec ida como “clássica”, enc ontra-se na Novelís- tica Popular Medieval qu e tem suas origens na Ín dia. Descobriu-se que, d esde essa época, a palavra impôs-se ao hom em como algo mágico, co mo um poder misterioso , que tanto poderia proteger como ameaçar, construir ou destruir. Sã o também de caráter má gico ou fantasioso as narrativas conhecidas h oje como literatura prim ordial. Nela foi descobe rto o fundo fabuloso das narrativas orientais, que se forjaram durante séculos a.C. e se difundi ram por todo o mun- do, por meio da tradição oral. A Literatura Infant il constitui-se como gêne ro durante o século XVII, época em que as m udanças na estrutura da sociedade desencadear am repercussões no âmbito artístico. O aparecimento da Liter atura Infantil tem caracte rísticas próprias, pois de corre da ascensão da família burguesa, do no vo “status” concedido à infância na sociedade e da reorganização da escola. Sua emergência deveu-se, antes de tudo, à sua associação com a Pedagogia, já que as histórias eram elaborad as para se converterem em instrumento dela. É a partir do século XVI II que a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e cara cterísticas próprias, pelo que deveria distanciar- se da vida dos mais velhos e receber uma ed ucação especial, que a p reparasse para a vida ad ulta. Fo n te :h tt p :/ /a ul ad el it er at ur ap o rt ug ue sa .b lo g sp o t. co m /2 00 8/ 11 /n ov el a- de -c av al ar ia .h tm l TEXTOS COMPLEMENTA RES “A Oralidade e a Escritur a na Literatura In- fantil: Referencial Teóric o para a Hora do Conto” artigo de Clarice Fortkamp Caldim, UFSC, disponível em: w ww.brapci.ufpr.br/ download.php?dd0=115 30 “Literatura Medieval: N ovelas de Cavala- ria”, apresentação de Po werPoint disponí- vel em vídeo (flv) no You tube: http://www. youtube.com/watch?v=n DC5Ex15WnU 26 Capítulo 2 2. história da Literatura infantojuveniL 2.1 as miL e uma noites Coleção de contos árabes (Alf Lailah Oua Lailah) compilados provavelmente entre os séculos XIII e XVI. São estruturados como histórias em cadeia, em que cada conto termina com uma deixa que o liga ao seguinte. Essa estruturação força o ouvinte curioso a retornar para continuar a história, inter- rompida com suspense no ar. Foi o orientalista francês Antoine Galland o res- ponsável por tornar o livro As mil e uma noites co- nhecido no ocidente (1704). Não existe texto fixo para a obra, variando seu conteúdo de manuscrito a manuscrito. Os árabes foram reunindo e adaptan- do esses contos maravilhosos de várias tradições. Assim, os contos mais antigos são provavelmente do Egito do séc. XII. A eles foram sendo agregados contos hindus, persas, siríacos e judaicos. noite seguinte. Sherazade, por artificiosa ligação dos seus contos, conseguiu encantar o monarca por mil e uma noites e foi poupada da morte. A história conta que, durante três anos, moças eram sacrificadas pelo rei, até que já não havia mais virgens no reino, e o vizir não sabia mais o que fazer para atender o desejo do rei. Foi quando uma de suas filhas, Sherazade, pediu-lhe que a levasse como noiva do rei, pois sabia um estratagema para escapar ao triste fim que a esperava. A princesa, após ser possuída pelo rei, começa a contar a ex- traordinária “História do Mercador e do Efrit”, mas, antes que a manhã rompesse, ela parava seu relato, deixando um clima de suspense, só dando continuidade à narrativa na manhã seguinte. As- sim, Sherazade conseguiu sobreviver, graças à sua palavra sábia e à curiosidade do rei. Ao fim desse tempo, ela já havia tido três filhos e, na milésima primeira noite, pede ao rei que a poupe, por amor às crianças. O rei finalmente responde que lhe perdoaria, sobretudo pela dignidade de Sherazade. Fica então a metáfora traduzida por Sherazade: a liberdade se conquista com o exercício da criati- vidade. 2.2 cid campeador (eL cid) Rodrigo Díaz de Vivar (Burgos, Espanha, 1043 - 10 de julho de 1099), chamado de El Cid (do mourisco sidi, “senhor”) e de Campeador (Cam- pidoctor), foi um nobre guerreiro espanhol que vi- veu no século XI, época em que a Hispânia estava dividida entre reinos rivais de cristãos e mouros (muçulmanos). Sua vida e feitos se ornaram com as cores da lenda, sobretudo por causa de uma canção de gesta (a Canción de Mio Cid), datada de 1207, transcrita no século XIV pelo copista Pedro Abád, cujo manuscrito encontra-se na Biblioteca Nacional da Espanha. A imagem que emerge desse manuscrito é a do ca- valeiro medieval idealizado: forte, valente, leal, jus- to e piedoso. Mas há outras fontes que lhe pintam um retrato bem menos favorável.
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