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Inicia quando não há alimento ingerido após o período absortivo. Pode resultar de uma incapacidade de obter alimento, de um desejo de perder peso rapidamente ou de situações clínicas em que o indivíduo não pode comer. Na ausência de alimento, os níveis plasmáticos de glicose, aminoácidos e triacilgliceróis caem, provocando redução na secreção de insulina e aumento na liberação de glucagon. É um período catabólico. Degradação dos estoques de glicogênio Degradação dos estoques de triacilgliceróis Degradação dos estoques de proteínas. Prioridades: Necessidade de manter adequados os níveis plasmáticos de glicose para suprir as necessidades energéticas do encéfalo, dos eritrócitos e de outros tecidos dependentes de glicose Necessidade de mobilizar ácidos graxos e de sintetizar e liberar corpos cetônicos do fígado, para suprir energicamente outros tecidos. Mudanças enzimáticas no jejum: No jejum, os substratos não vêm da dieta, e sim da degradação nos tecidos, como da lipólise com liberação de ácidos graxos e glicerol, no tecido adiposo, e da proteólise com liberação de aminoácidos pelo músculo. As trocas no jejum são recíprocas àquelas descritas no estado alimentado. No jejum, o fluxo de intermediários através das rotas do metabolismo energético é controlado pelos mesmos 4 mecanismos do estado alimentado: Disponibilidade de substratos Ativação e inibição alostérica de enzimas Modificação covalente de enzimas Indução e repressão da síntese de enzimas As mudanças metabólicas do jejum geralmente são opostas às do estado alimentado. Exemplo: No estado alimentado a maioria das enzimas reguladas por modificação covalente estão desfosforiladas e ativas, ao passo que no estado de jejum estão fosforiladas e inativas. EXCEÇÕES: Glicogênio-fosforilase Glicogênio-fosforilase-cinase Lipase sensível a hormônio do tecido adiposo FÍGADO NO ESTADO DE JEJUM: O papel principal do fígado no metabolismo energético durante o jejum é a manutenção da glicose pela síntese e distribuição de moléculas combustíveis para outros tecidos. Metabolismo de carboidratos: No jejum, o fígado usa primeiro a degradação do glicogênio e depois a gliconeogênese para manter os níveis de glicose no sangue e sustentar o metabolismo energético do encéfalo e de outros tecidos que dependem de glicose. OBS: A presença de glicose-6-fosfatase no fígado permite a liberação da glicose livre, tanto da gliconególise quanto da gliconeogênese. Aumento da degradação de glicogênio: Várias horas depois da ingestão de glicose, a glicemia cai o suficiente para causar aumento da secreção de glucagon e diminuição da liberação de insulina. O decréscimo da rezão insulina/glucagon causa uma rápida mobilização dos estoques de glicogênio hepático, devido à ativação (fosforilação) da glicogênio-fosforilase. O conteúdo de glicogênio no fígado é quase esgotado depois de 10 a 18 horas de jejum. Aumento da gliconeogênese: Durante o jejum, a síntese e a liberação de glicose para a circulação são funções hepáticas essenciais. Os esqueletos de carbono para a gliconeogênese são derivados principalmente de aminoácidos glicogênicos, de llactato, originário do músculo e de glicerol, oriundo do tecido adiposo. A gliconeogênese é favorecida pela ativação de frutose-1,6-bifosfatase e pela indução da fosfoenolpiruvato-carboxicinase, por meio do glucagon. Ela inicia entre quatro e seis horas após a última refeição, e se torna plenamente ativa quando os estoques hepáticos de glicogênio são esgotados. A gliconeogênese exerce papel fundamental na manutenção da glicemia durante o jejum. OBS: A Acetil-CoA não pode ser usada como substrato para a gliconeogênese, mas pode servir como ativador alostérico da piruvato-carboxilase, e assim encaminhar o piruvato para a gliconeogênese. Metabolismo de lipídeos: Aumento da oxidação de ácidos graxos: A oxidação de ácidos graxos derivados da hidrólise de TAG no tecido adiposo é a maior fonte energética para o fígado no estado de jejum. A fosforilação da acetil-CoA-carboxilase faz cair o conteúdo de malonil-CoA e rompe a inibição da carnitina-palmitoil-transferase-1, que permite que a beta oxidação ocorra. A oxidação de ácidos graxos fornece NADH e ATP, exigidos pela gliconeogênese hepática. Aumento da síntese de corpos cetônicos: O fígado é único pela capacidade de sintetizar e liberar corpos cetônicos (3-hidroxibutirato) para utilização como combustíveis nos tecidos periféricos. Porém, o próprio fígado não pode usar corpos cetônicos como combustível. A cetogênese é favorecida quando a produção de Acetil-CoA é maior que a capacidade oxidativa do ciclo do ácido cítrico. Uma produção significativa de corpos cetônicos inicia durante os primeiros dias do jejum. A disponibilidade de corpos cetônicos é importante no jejum, já qiue podem ser utilizados como combustível por muitos tecidos, incluindo o encéfalo. TECIDO ADIPOSO NO JEJUM: Metabolismo de carboidratos: O transporte de glicose para os adipócitos (através do GLUT-4) e seu subsequente metabolismo estão reduzidos, devido aos baixos níveis de insulina circulantes. Metabolismo de lipídeos: Aumento na degradação de triacilglicerídeos: A ativação da lipase sensível a hormônio e a subsequente hidrólise dos estoques de TAG são aumentadas pelos elevados níveis das cataceolaminas adrenalina e principalmente noradrenalina. Aumento na liberação de ácidos graxos: Os ácidos graxos, ligados à albumina, são transportados a uma variedade de tecidos, para utilização como combustível. O glicerol produzido durante a degradação dos triacilgliceróis é usado como precursor da gliconeogênese no fígado. OBS: Os ácidos graos também são oxidados a Acetil- CoA, que pode entrar no ciclo do ácido cítrico e, portanto, produzir energia para o adipócito. Decréscimo na captação de ácidos graxos: A atividade da lipase lipoproteica no tecido adiposo é baia no jejum, fazendo com que os triacilgliceróis de lipoproteínas circulantes não estejam disponíveis para o tecido adiposo. TECIDO MUSCULAR ESQ. NO JEJUM: O músculo esquelético em repouso usa ácidos graxos como principal fonte energétoca. Já no exercício, o músculo usa inicialmente, como fonte de energia, o glicogênio estocado. Durante o exercício intenso, a glicose-6-fosfato derivada do glicogênio é convertida em lactato pela glicólise anaeróbia. Quando essa reserva vai se esgotando, os ácidos graxos livres tornam-se a principal fonte de energia. Metabolismo de carboidratos: O transporte de glicose para dentro das células do músculo esquelético via GLUT-4 e o seu metabolismo estão reduzidos, devido à baia concentração de insulina circulante. Metabolismo de lipídeos: Durante as 2 primeiras semanas de jejum, os músculos usam ácidos graxos do tecido adiposo e corpos cetônicos como combustíveis. Com cerca de 3 semanas, os músculos reduzem o consumo de corpos cetônicos e oxidam quase exclusivamente ácidos graxos. Isso leva a um aumento do nível de corpos cetônicos circulantes. Esse decréscimo de consumo de corpos cetônicos pelos músculos aumenta o consumo pelo encéfalo. Metabolismo de proteínas: Durante os primeiros dias de jejum, há uma rápida quebra de proteína muscular, fornecendo aminoácidos que são usados pelo fígado para a gliconeogênese. A proteólise muscular provavelmente é desencadeada pela redução de insulina. OBS: A alanina e a glutamina são quantitativamente os mais importantes aminoácidos gliconeogênicos liberados pelo músculo. Depois de várias semanas de jejum, a velocidade da proteólise muscular decresce, porque há um declínio na necessidade de glicose pelo encéfalo, que começa a utilizar corpos cetônicos como fonte de energia. ENCÉFALO NO JEJUM: Durante os primeiros dias de jejum, o SNC continua usando somente glicose como fonte energética.OBS: A glicemia é mantida pela gliconeogênese hepática, a partir de precursores como os aminoácidos, fornecidos pela proteólise muscular, e glicerol, fornecido pela lipólise. No jejum prolongado (mais de 2 ou 3 semanas), os corpos cetônicos atingem no plasma níveis significativamente elevados e, juntamente com a glicose, se tornam o combustível no encéfalo. Isso reduz a necessidade de catabolismo proteico para a gliconeogênese. Os corpos cetônicos poupam glicose e, assim, proteína muscular. RINS NO JEJUM: Com a continuidade do jejum, os rins exercem papel importante na adaptação a longo prazo. Os rins podem ser responsáveis por cerca de 50% da gliconeogênese em fases avançadas do jejum. OBS: Parte da glicose produzida é consumida pelos rins. Os rins também compensam a acidose que acompanha o aumento na produção de corpos cetônicos. A glutamina liberada nos músculos pelo metabolismo de aminoácidos de cadeira ramificada é captada pelos rins e, sob a ação das enzimas renais glutaminase e glutamato-desidrogenase, resulta na produção de alfa- cetoglutarato, que pode ser usado como substrato para a gliconeogênese, e amônia. A amônia capta próton dissociados de corpos cetônicos e é excretada pela urina como amônio (NH4+). Isso faz com que seja diminuída a acidez corporal. Assim, no jejum a longo prazo, ocorre troca no tipo de descarte de nitrogênio, da forma de ureia para a forma de amônio. RESUMO DO CAPÍTULO O fluxo de intermediários através das rotas metabólicas é controlado por quatro mecanismos: 1) disponibilidade de substratos; 2) ativação e inibição alostérica de enzimas; 3) modificação covalente de enzimas; 4) indução e repressão da síntese de enzimas. No estado absortivo, esses mecanismos regulatórios asseguram que os nutrientes disponíveis sejam capturados como glicogênio, triacilglicerol e proteína. O estado absortivo é o período entre duas e quatro horas depois da ingestão de uma refeição normal. Durante esse intervalo, há aumento transitório de glicose, aminoácidos e triacilgliceróis no plasma, estes últimos como componentes dos quilomicra sintetizados pelas células da mucosa intestinal. O pâncreas responde aos níveis elevados de glicose e aminoácidos com aumento na secreção de insulina e queda na liberação de glucagon pelas ilhotas de Langerhans. A elevada razão insulina/ glucagon e a fácil disponibilidade dos substratos circulantes fazem desse período de duas a quatro horas após a ingestão de uma refeição um período anabólico. Durante esse estado absortivo, praticamente todos os tecidos utilizam glicose como combustível. Além disso, o fígado repõe seu estoque de glicogênio, repõe as proteínas hepáticas necessárias e aumenta a síntese de triacilgliceróis. Estes últimos são empacotados em lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) e exportados para os tecidos periféricos. O tecido adiposo apresenta aumento na síntese e no armazenamento de triacilgliceróis, ao passo que o músculo aumenta a síntese de proteínas para repor a proteína degradada desde a última refeição. No estado alimentado, o encéfalo utiliza exclusivamente glicose como combustível. Sem a ingestão de alimento, os níveis plasmáticos de glicose, aminoácidos e triacilgliceróis caem, desencadeando um declínio na secreção de insulina e um aumento na liberação de glucagon e de adrenalina. O decréscimo na razão insulina/glucagon e o decréscimo na disponibilidade de substratos circulantes fazem desse período de privação de nutrientes um período catabólico. Isso coloca em movimento uma intensa troca de substratos entre o fígado, o tecido adiposo, os músculos e o encéfalo, orientada por duas prioridades: 1) a necessidade de manter os níveis plasmáticos de glicose adequados para sustentar o metabolismo energético do encéfalo e de outros tecidos dependentes de glicose; e 2) a necessidade de mobilizar ácidos graxos do tecido adiposo e corpos cetônicos do fígado para suprir de energia todos os outros tecidos. Para atingir essas metas, o fígado degrada glicogênio e inicia a gliconeogênese, usando a oxidação aumentada de ácidos graxos como fonte da energia necessária para a gliconeogênese e para suprir com acetil-coenzima A a síntese de corpos cetônicos. O tecido adiposo degrada os estoques de triacilgliceróis, fornecendo ácidos graxos e glicerol para o fígado. Os músculos podem usar os ácidos graxos como combustível, bem como os corpos cetônicos fornecidos pelo fígado. A proteína muscular é degradada para suprir de aminoácidos a gliconeogênese hepática. O encéfalo pode usar a glicose e os corpos cetônicos como combustíveis. No jejum prolongado, os rins desempenham importantes funções voltadas para a síntese de glicose e excretam prótons (provenientes das dissociações de corpos cetônicos) como íon amônia (NH4+).
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