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SISTEMA DE ENSINO CONECTADO ARTES VISUAIS SÔNIA ABRANCHES DIREITO À EDUCAÇÃO Rio de Janeiro 2018 UNIVERSIDADE PITÁGORAS UNOPAR SÔNIA ABRANCHES DIREITO À EDUCAÇÃO Rio de Janeiro 2018 Trabalho apresentado ao curso de Artes Visuais da UNOPAR – Universidade Pitágoras UNOPAR, para as disciplinas Psicologia da Educação e da Aprendizagem; Ética, Política e Cidadania; Políticas Públicas da Educação Básica; Educação e Diversidade; Práticas pedagógicas – Gestão da Aprendizagem. Professores: Maria Luiza Silva Mariano, Mayra Campos Frâncisca dos Santos, Natália Gomes dos Santos, Márcio Gutozo Saviani e Natália da Silvia Bugança. Introdução Falar sobre Educação fica muito mais prazeroso se pensarmos em Paulo Freire, que cultivou a virtude da simplicidade. Mas, todos sabem que o simples não é fácil e sê-lo é difícil. Com esta idéia Gadotti (1995) descreve como ninguém Paulo Freire. “(...) É sabedoria. Ele conseguia estranhar o saber cotidiano sem ser pernóstico arrogante. (...). O simples não se opõe ao concreto e ao complexo. Opõe-se ao prolixo.” É notória a simplicidade de Paulo Freire que contagiava e em seus textos simples agrega, por igual a profundidade de idéias. A linguagem é densa, concreta e complexa. Coisa que não ousamos clonar, mas trazer uns breves traços de sua simplicidade para falar na escola, no aproveitamento escolar. Tal tema implica em questões complexas na área educacional, tais como: Qual a importância do conhecimento científico para a efetivação da aprendizagem dos alunos? De que forma as diferentes abordagens da psicologia podem contribuir para o processo de ensino aprendizagem? O que a LDB 9394/96 diz sobre direito à educação? Como ela se materializa quais são as possibilidades de transformação social por meio da prática docente? Qual é a importância do papel do professor para a mudança social? É neste contexto que se acredita que a instituição escola realizaria os projetos de “igualdade de oportunidades” devido ao caráter histórico que delineou sua trajetória. Os esforços para aumentar a capacidade dos sistemas educativos em oferecer educação à todos sem exclusão, trouxeram expectativas, e junto à ela, exigências, confianças e credibilidade da sociedade. Daí o chavão “a escola pode tudo”, ignorando-se a responsabilidade dos demais níveis sociais no compromisso com a educação. Tirou-se a responsabilidade da sociedade e depositou-a na escola como único agente de educação. Entramos assim, na questão da ilusão: deixar a escola resolver todos os problemas, pois há valores distintos na sociedade. Mesmo que a escola consiga capacitar-se com novas tecnologias poderá tornar-se incoerente com seus objetivos e finalidades. Paulo Freire busca resgatar a idéia de que educação é responsabilidade que compete a toda sociedade e que “nenhuma parte da sociedade deve ficar a margem do processo” educativo. Educação: espaço de cidadania O pensar a educação para cidadania implica em olhar além da ideologia fatalista e “imobilizante” do discurso neoliberal, que ao passar dos dias constatamos instalar-se na sociedade gerando a descrença na mudança, tornando o indivíduo escravo da realidade social. Implica buscar na prática educativa a visão do homem “descondicionado” deste discurso. Paulo Freire (1999), sugere a vivência da utopia e da reflexão do homem sobre si mesmo e sua presença no mundo, diz “o ser humano é presença que pensa em si mesma, sabe dessa presença, intervém, transforma, fala do que faz e do que sonha, constata, compara e avalia (...) e no domínio da decisão, da liberdade, da ruptura, da opção que se instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabilidade.” Enfim, o homem ao movimentar-se no mundo partindo de sua reflexão teria possibilidade de romper com os paradigmas neoliberais e caminhar rumo a cidadania e autonomia. Ao mesmo tempo em que todas estas questões relacionam-se, dentro e fora dos muros escolares estabelecendo a transmissão e/ou construção do conhecimento, as diversas formas de conduzir e construir este processo nos leva a enfocar como “peça-chave” a figura do professor. Ao responder as questões: O que a LDB 9394/96 diz sobre direito à educação? Como ela se materializa quais são as possibilidades de transformação social por meio da prática docente? Qual é a importância do papel do professor para a mudança social? Percebemos que o professor, aquele “ser”, lido pela sociedade como: aquele que deve dar conta de todas as responsabilidades, que a escola moderna abarcou para si – como local onde se encontra a solução de todos os problemas sociais e educacionais deficientes, está com responsabilidades, que ele próprio, mesmo sendo protagonista desta história toda, muitas vezes não se percebe pertencente a este contexto escolar. E nesta discussão de papéis enxergamos a figura do professor descaracterizada de um paradigma onde sua atuação era absoluta para um novo paradigma onde sua ação tornou-se fragmentada e ao mesmo tempo responsabilizada por outros setores sociais que não o seu a priori. Não questionamos aqui a validade de nenhum dos dois paradigmas, apenas tentamos demonstrar o estado de indefinição do papel/ função do professor em sua área de atuação, o que o torna vulnerável a estigmas e construções preconceituosas a respeito de sua prática e de seus alunos. Pautamos-nos na idéia do professor como aquele que entenda que “ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua construção ou produção” (FREIRE, 1999, p.25). A desmistificação de muitos conceitos preestabelecidos na escola X sociedade como: “seus alunos não podem aprender com bom rendimento porque são negros; ou porque não se alimentam adequadamente; ou porque moram em favelas – ambientes desfavoráveis; ou porque trabalham uma parte do dia e chegam cansados à escola; ou seus pais são separados; etc. Todos estes argumentos os cercam e permeiam seu imaginário social camuflando a questão mais importante que é a “sua atuação como professor em relação de produção de conhecimento com seus alunos, que fará brotar o ensino por excelência”, o grifo é nosso. O professor tem responsabilidades e compromissos com o papel/ função exercidas perante seus alunos. Necessita Ter senso crítico para avaliar as influências do meio em que vive tentando salvaguardar ao máximo sua praxe. Paulo Freire (1999) coloca “ensinar exige risco, aceitar o novo e rejeitar a discriminação” e ainda aborda: “a discriminação, a prática preconceituosa de raça, classe, gênero ofende a “substantividade” Freire (1999) do ser humano e nega radicalmente a democracia”, isto nos mostra o quanto nós professores devemos estar atentos à reflexão crítica sobre nossa prática e assim proporcionar a nossos alunos todas as oportunidades, possibilidades, motivações e desafios - quantos forem necessários – ao seu desenvolvimento. Transpor obstáculos, remover “ciscos dos olhos”, espanar cantos empoeirados, abrir cortinas e portas criar pontes e caminhar sobre elas, e o mais importante crer que ao ensinar/ educar “tudo é possível”, pois os educandos são como ele: seres humanos que, “uma das significativas vantagens é a de se terem tornado capazes de ir mais além de seus condicionantes” (FREIRE, 1999, p. 28). A exigência do risco ao ensinar remete a um desafio: realizar a praxe orientada por uma nova epistemologia da prática. Trazer um caminho em que se possa lidar com maior desenvoltura a questão do conhecimento profissional, “tomando como ponto de partida a competência e o talento já inerentes à prática habilidosa – especialmente a reflexão na ação (o pensar o que fazem, enquanto o fazem) que os profissionais desenvolvem em situações de incerteza,singularidade e conflito” (SHÖN, 2000, p. 15”). A dimensão reflexiva do professor o encaminha para o desenvolvimento de uma identidade em que conhecer se dá de forma “contextualizada e sistematizada numa permanente dinâmica interativa entre a ação e o pensamento”, (ALARCÃO, 2000, p. 18). Ao conhecer sua própria trajetória “conhecedora”, o professor estará realizando a construção de sua autonomia e concomitante exercendo sua cidadania e politização, como nos indica Freire ao considerar a dimensão da política como eixo de formação docente. O saber docente que brota da dimensão reflexiva é caracterizado por Alarcão (2000, p. 21) como um saber dinâmico, contextualizado e emergente, além de educador o professor se torna um agente social. De que forma as diferentes abordagens da psicologia podem contribuir para o processo de ensino aprendizagem? Ao responder esta questão, viabilizaremos o acesso à realidade será construído a partir da prática, seja em ambientes coletivos ou individuais de diversas naturezas. É realizar o papel de educar a si mesmo pela reflexão na e sobre a ação. A metodologia/teoria aplicada na formação do professor diverge a realidade do fato educativo e a própria realidade do conhecimento sobre si e sobre o seu objeto de trabalho inova o saber profissional no modo como se conhece e amplia o universo de atuação, seja no microcosmo da sala de aula ou no âmbito da escola, indo até a forma de fazer e lidar com as políticas educativas. Podendo-se dizer que ao realizar a dimensão reflexiva as dimensões do conhecimento profissional não são determinadas ou sistematizadas, como muitos gostariam que fossem até mesmo para direcionar as ações educativas de forma controlável, mas vai além de qualquer objeto sujeito a sistematização, vai sim a uma miltiplicidade de dimensões do conhecimento profissional. Funda a capacidade do professor em agir em situações dialogantes da prática onde os cenários educativos serão dinâmicos e novos favorecendo a aprendizagem dos alunos. Qual a importância do conhecimento científico para a efetivação da aprendizagem dos alunos? Esse questionamento reflexivo oferece ao processo formativo do professor a capacidade de combinar a ação e a reflexão sobre a ação, ou seja, reflexão dialogante sobre o que observou e viveu a luz da metodologia do aprender a fazer fazendo, conduzindo a uma construção ativa do conhecimento na ação (ALACÃO, 2000, p. 26). A prática e a reflexão são simultaneamente competências, operando nesta perspectiva os profissionais entendem assim sua relação com a instituição de formação/ escola como sendo de co-responsabilidade e colaboração, em que o repensar sobre a prática de si mesmo, da escola, e de sua atuação na e sobre a mesma, é o alimento da própria formação/atuação profissional. A partir desta prática reflexiva está atrelada a característica da qualificação e da aprendizagem contínuas. Um profissional qualificado e atuante, não é o desejo de muitas instituições escolares? Porém, sem perceber que há a possibilidade de ignorância da ação reflexiva persistente nos sistemas educativos que impedem tantos profissionais de realizarem a dimensão reflexiva de sua formação, instituições educacionais, particularmente, escolas, continuam a vivenciar sem entender a complexidade de sua própria identidade, que em si já é dicotômica. A educação, como dizia Freire (1999), em si já é dicotomia e utopia, pois aprendemos pelo que conseguimos compreender a partir de processos em posição de “contradição”, sendo a utopia uma contradição em si. É necessário compreender que ao vivenciar a complexidade, a dicotomia e a utopia ao aprendermos de modo reflexivo, estaremos dentro de situações que são problemáticas de várias formas ao mesmo tempo. Essas situações Shön (2000) denomina de “zonas indeterminadas da prática”, onde impera “a incerteza, a singularidade e os conflitos de valores que escapam aos cânones da racionalidade técnica” (SHÖN, 2000, p. 17). Para lidar com as “zonas indeterminadas da prática” o professor deve reconhecer uma situação como sendo única e deve olha-la como sua múltipla bagagem de conhecimentos profissionais, pois aplicar somente técnicas o distanciará do processo de ação-reflexão-ação, aumentando seu conflito de valores, gerando conhecimentos inconsistentes em si e para si, foge então, a possibilidade de crescer em competências pessoais e técnicas. Desta forma se entende que é necessário viver nestas zonas pois elas são o aspecto central à prática profissional e à formação dos profissionais em educação. Se torna fundamental unir estas pontes, a formação reflexiva e a formação política do professor na busca da concretização de uma educação em que os professores se entendam e se identifiquem como co-responsáveis na luta por uma educação de qualidade e para todos. Tomando mais uma idéia de Freire (1999, p.74), acerca da luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade “deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que dela faz parte.” Considerações Finais Conclui-se que diante ao texto abordado acima, podemos observar a confirmação do que se deseja e se precisa, em especial, o que se deve praticar para alcançar e permitir a existência da autonomia pareceu uma construção a ser feita. Aqui é importante assinalar que o pretendido nem sempre significa efetivação, uma vez a força do imaginário instituinte é criação continua que está sempre a ser feita no sentido do ideal, mas que pode se efetivar no sentido do real. Isto implica dizer que é sonhando o impossível que vamos efetivando o possível e em constantes revisões que colocam em dúvida ou pelo menos questiona o já feito. E, este é o papel do educador, questionar, mas gerar resultados se pretende não cair no imobilismo do caos. O Estado só o é, se for constituído político-sócio-juridicamente, ou seja, formado e norteado não pela oligarquia, mas pela sociedade que, em processo contínuo, aprimora a democracia – cabe dizer que democracia aqui é entendida como meio e instrumento de realização de valores essenciais de convivência como: justiça, solidariedade e respeito aos direitos fundamentais do homem, que garantam a vontade do povo; a igualdade é se for legalmente colocada, caso não, fica solta e efetiva-se como se vê no cotidiano: pobreza, sem teto, fome, discriminação, entre outros como exclusão. Onde houver sociedade, aí estarão às normas, portanto a convivência entre os homens emerge sempre a lógica conjuntista identitária com suas regras “obrigatórias” que tem como fim à disciplina e a convivência social humana. Mas não se pode entender que o conídio se resume apenas à norma. Seu conteúdo abrange o fato – oriundo das condições histórico-sociais e o valor. E, este no contexto atual se dá na desqualificação do professor visivelmente assinalado nos salários, carga horária, participação nas decisões de políticas educacionais e representações sociais deste num sentido amplo, justiça são o próprio direito realizado. Direito no sentido jurídico e subjetivo. Enfim, é essencial ao professor reconhecer e perceber que todos “somos seres condicionados, mas não determinados. Reconhecer que a história é tempo de possibilidade e não de determinismo, que o futuro, permita-me reiterar, é problemático e não inexorável”, (FREIRE, 1999, p.21) Referências bibliográficas ALARCÃO, Isabel. Do olhar supervisivo ao olhar sobre a supervisão. In: RANGEL, Mary (Org.). Supervisão pedagógica princípios e práticas. São Paulo: Papirus, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra S/A, 1999. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis. São Paulo: Cortez, 1995. SHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo.Um novo disgn para o esnsino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.
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