Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEORIA E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Professora Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro GRADUAÇÃO Unicesumar Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur SanglardC397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; RIBEIRO, Maria Rosânia Mattiolli. Teoria e Prática na Educação de Jovens e Adultos. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro. Reimpressão Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 190 p. “Graduação - EaD”. 1. Educação. 2. Jovens. 3. Adultos. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-8084-910-3 CDD - 22 ed. 360 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Marcia Maria Previato de Souza Design Educacional Camila Zaguini Silva Jaime de Marchi Junior Larissa Finco Maria Fernanda Canova Vasconcelos Nádila de Almeida Toledo Rossana Costa Giani Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Editoração Thayla Daiany Guimarães Cripaldi Revisão Textual Keren Pardini Ilustração Bruna Marconato Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Professora Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro Possui graduação em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Mandaguari (1983) e mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (2005) - Área de Concentração: Aprendizagem e Ação Docente. Atualmente é professora do Curso de Pedagogia Presencial e à Distância do Centro Universitário de Maringá (CESUMAR), é professora do Curso de Pós- Graduação “Docência no Ensino Superior”à Distância na mesma Instituição Superior, é professora e pedagoga no Instituto de Educação Estadual de Maringá pela Rede Pública Estadual do Paraná com mais de trinta anos de trabalho. Tem experiência na área de Educação, com ênfase nos seguintes temas: Formação de Professores, Práticas Pedagógicas, Formação Humana, Políticas Públicas, Estágio e Prática de Ensino, Metodologias de Ensino e Estrutura e Funcionamento do Ensino Brasileiro. A U TO R SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) graduando(a), A formação do pedagogo requer compromisso, responsabilidade de sempre continuar estudando, se aperfeiçoando, haja vista os princípios éticos que dispomos na tarefa de educar. Estudar sempre e refletir sobre as intencionalidades pedagógicas da nossa fun- ção devem ser o lema da nossa profissão. Esse material foi elaborado com a finalidade de dar subsídios para a disciplina de Teoria e Prática na Educação de Jovens e Adultos. A partir dos conteúdos expostos, preten- de-se envolvê-los em reflexões que conduzirão em momentos futuros a um trabalho direcionado e consciente. Com a profissionalização, é possível intervir na realidade, possibilitando um novo olhar acerca da Educação de Jovens e Adultos e, principalmente, sobre a formação dos indi- víduos. Assim, no decorrer do livro, poderá perceber por meio dos planos de estudos clareza e objetividade em relação aos assuntos expostos. Poderá estabelecer relações entre a teoria e a prática, observando a importância da articulação entre os elementos que constituem os saberes e fazeres pedagógicos. As teorias da educação, que influenciam para a reflexão sobre a ação docente, favore- cem para a efetivação da práxis, necessária no processo de transformação dos sujeitos que buscam a EJA. As unidades de trabalho desta disciplina complementam os demais estudos realizados, pois a formação do pedagogo deve basear-se nos fundamentos, teorias e práticas já desenvolvidas em tempos e espaços situados. Na unidade I, buscou-se apresentar a você, caro(a) aluno(a), uma recuperação históri- ca da Educaçãode Jovens e Adultos. Ainda no Brasil Imperial, tiveram início algumas reformas educacionais, as quais davam ênfase à necessidade do ensino noturno para pessoas adultas analfabetas. Precisamente em 1876, o ministro José Bento da Cunha Fi- gueiredo, por meio de um relatório, apontava a existência de pelo menos 200 mil alunos frequentando o ensino noturno. As escolas noturnas foram por bastante tempo a única possibilidade de educação para adultos. No início do século XX, com o desenvolvimen- to industrial acelerado, tem-se um processo lento, porém crescente, de valorização da educação de adultos. Por outro lado, manifesta-se grande preocupação com algumas questões de ordem técnica, pedagógica e, principalmente, política. Dentre esses aspec- tos, estavam a valorização da língua, tanto oral quanto escrita, anseios que se voltavam para as questões produtivas, a técnica. A leitura e a escrita poderiam ser instrumentos para atingir a ascensão social; os adultos, pela alfabetização, poderiam corroborar com o crescimento do país e, ainda, para ampliar o número de eleitores. No final da década de 1940, o SEA (Serviço de Educação de Adultos), iniciativa do MEC (Ministério da Educação e Cultura), encaminhou materiais a fim de propor aos serviços estaduais discussões sobre essa temática. Os ordenamentos propostos enfatizavam, segundo Soares (1996), investimentos na educação de adultos, tendo em vista que a APRESENTAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS educação poderia resolver os problemas da sociedade; o alfabetizador passava a ser identificado como missionário; a pobreza, como produtora do analfabeto; o ensino de adultos, como tarefa fácil e simples, não exigia, portanto, formação acadêmica específica para quem se propunha a ensinar, como também, a ausência de remune- ração, já que se valorizava o “voluntariado”. Nessa perspectiva, iniciou-se um processo de mobilização nacional no intuito de discutir e dar novo rumo à Educação de Jovens e Adultos no país. A Campanha não atingiu sucesso, houve poucos resultados, embora tenha contribuído para a supe- ração de uma visão preconceituosa sobre o processo de educação da demanda de adultos. Não podemos ignorar as contribuições das teorias da psicologia que des- mistificaram o adulto como incapaz para aprender. Após conhecermos um pouco a história da EJA, podemos trazer a compreensão so- bre os conceitos atribuídos a essa modalidade de ensino. Nesse sentido, é possível constatar que durante décadas a EJA foi tratada como uma ação compensatória ou havia sua simplificação destinada aos adultos de forma infantilizada. A Constituição Federal de 1988 não fez diferenciações quanto à Educação de Jovens e Adultos, per- manecendo a mesma por muito tempo e sem financiamento específico. É com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96, que um olhar e entendimento sobre a demanda da EJA se fez presente, sendo depois consolidada por meio de diretrizes próprias para essa modalidade de ensino. As diretrizes ressal- tam que a EJA [...] passa a ser considerada uma modalidade da educação básica nas etapas do Ensino Fundamental e Médio, usufruindo de uma especificidade própria. Entretanto, é importante ressaltar a aprovação da Emenda Constitu- cional número 14 que suprime a obrigatoriedade do poder público em oferecer o Ensino Fundamental para os que a ele não tiveram acesso na idade própria, e ainda, suprime o compromisso de elimi- nar o analfabetismo no prazo de dez anos, bem como a vinculação dos percentuais de recursos financeiros estabelecidos em lei para este fim. Além disso, a partir da mesma Emenda, cria-se o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valo- rização do Magistério (FUNDEF), regulamentado pela Lei 9.424/967, na qual é vetada a contabilização das matrículas do Ensino Funda- mental nos Cursos de Educação de Jovens e Adultos, para fins de repasse de recursos. Este veto inviabilizou a inclusão da demanda de Educação de Jovens e Adultos no financiamento da Educação Básica (PARANÁ, 2006, p. 20). A perspectiva citada infringe o disposto no Art. 205 da Constituição Federal, o qual enfatiza que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será pro- movida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen- volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Acrescenta a Constituição no Art. 208: “O dever do Estado com a APRESENTAÇÃO educação será efetivado mediante a garantia de: I - Ensino Fundamental, obrigató- rio e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria” (Emenda Constitucional nº 14, de 1996). Buscando outros sentidos e significados para a EJA, ressalta-se que mais do que alfabetizar, é preciso ater-se ao direito constitucional, que contempla a educação escolar para todos os cidadãos, inclusive para aqueles que não tiveram oportunida- de na idade regular. Oportunizar os elementos básicos da cultura, como ler e escrever, garantir o acesso aos rudimentos do saber, como enfatiza Saviani (2008) em “A Pedagogia Histórico Crítica”, são anseios da escola e da formação dos cidadãos. Além disso, outro sentido da EJA está em favorecer aos sujeitos a autonomia para pensar, intervir para modifi- car seu meio, contribuindo para uma vida melhor. Sabe-se que atualmente é preciso estar em contínuo aprendizado, haja vista a com- plexidade da sociedade contemporânea. Essa complexidade nos exige conhecer, pois nos deparamos com diferentes linguagens que nos permitem interpretar de diferentes formas a realidade. As exigências não estão somente para o domínio da linguagem escrita, mas também para a compreensão leitora, para produzir sua his- tória, nos favorece inventar e reinventar a realidade social. No contexto das políticas públicas educacionais, a alfabetização de jovens e adultos se expressa por diferentes concepções. Muitas práticas definem as especificidades dessa demanda da escolarização. Embora haja propagação do analfabetismo, ainda se tem um percurso longo a percorrer para superação desse quadro no Brasil. Esses sujeitos normalmente se encontram privados das condições básicas em termos de conhecimento, para então compreender a realidade social, política, econômica na qual está inserido. Ainda estão inseridos na formação de professores para o trabalho com essa deman- da. Faz-se necessário pensar as concepções de alfabetização e de formação que fundamentam as diretrizes curriculares da EJA para entender alguns conceitos que emanam desse processo, como: cidadania, trabalho, cultura, relações sociais, dentre outros. A unidade II trará a você, aluno(a), a oportunidade de pensar sobre como se proces- sa a formação para a humanização da consciência social, procure observar os pres- supostos teóricos que embasaram a Educação de Jovens e Adultos. As concepções de escola e de estudos, das pessoas que um dia frequentaram a escola e depois re- tornaram na modalidade da EJA, se diferenciam. Com o tempo, afastados do âmbito acadêmico escolar, os sujeitos da EJA constituíram outros valores a partir da experi- ência de vida. É comum que sejam pessoas que já possuem experiência inclusive de trabalho, com responsabilidades estabelecidas tanto na vida social quanto familiar. A EJA, certamente para muitos, representa a possibilidade de maior inserção nessas instâncias. APRESENTAÇÃO Isso nos orienta para a valorização dos saberes que esses sujeitos trazem e, a par- tir desses, desenvolver o trabalho sistematizado de apropriação dos conhecimen- tos escolares. Para o professor, certamente é um desafio, principalmente no que se refere à alfabetização. Nesse sentido, é importante organizar e planejar o trabalho pedagógico de forma que se possa diminuir a distância entre os conhecimentos cotidianos e o que é importante que os alunos saibam. Podemos ressaltar que em relação aos temas geradores há movimentosque se im- bricam: Freire propaga a investigação temática na obra Pedagogia do oprimido, quando propõe a busca no universo vocabular do aluno e da sociedade, palavras e temas que orientam para um trabalho significativo. Temas esses que se relacionam à vida cotidiana do grupo. Normalmente as palavras geradoras são selecionadas por sua característica silábica e fonética, mas, principalmente, por sua importância enquanto significado para o grupo em processo de alfabetização. Freire salienta que esses temas devem passar pela descodificação, um termo utilizado para explicar a divisão das palavras em par- tes, para melhor explorá-las. No material de estudo, expomos como é desenvolvido o método Paulo Freire a partir do caderno produzido pela ADITEPP, já que a grande maioria dos acadêmicos ouve falar, mas não conhece o método freireano de alfabe- tização. A problematização se insere nas indagações provenientes da dúvida, das incertezas, do que é ainda desconhecido. É nesse momento que se dá a explicação, a exposi- ção do professor, na busca por respostas, na superação dos obstáculos por parte dos alunos. Na problematização dos conteúdos (nesse caso, das palavras), tem-se a realidade concreta, que precisa ser abstraída pelos sujeitos, na condição própria de apropriação dos elementos que constituem os saberes que estão sendo ensinados. Assim, entende-se a função social da Educação de Jovens e Adultos, o compromisso com a formação humana dos cidadãos, no acesso aos bens culturais, na formação da consciência crítica e política que possa contribuir para a autonomia intelectual. Os sujeitos necessitam sair da condição alienadora de uma sociedade excludente para uma nova condição, a de pessoas que com conhecimento tenham possibili- dade de contribuir conscientemente para uma sociedade melhor, tanto individual quanto coletivamente. A EJA tem a função social de propiciar o acesso aos cidadãos, inclusive aos bens científicos e tecnológicos que favorecem sua inserção social e histórica dos proces- sos produtivos, garantindo ainda conhecimento sobre a cultura. Como em qualquer outra situação, você pode constatar pelos estudos que, em rela- ção ao conhecimento, o caráter é sempre de inconclusão, como enfatiza Freire em seus escritos. Não podemos afirmar que todos sabem tudo. Nossa aprendizagem se dá a todo instante, acontece permanentemente. A EJA permite a cada um compre- ender-se como sujeito da história em um processo de ressignificação da realidade APRESENTAÇÃO social, portanto, do mundo. Nesse entendimento, a modalidade da Educação de Jo- vens e Adultos possibilita aos que dela fazem parte, ler, interpretar, pensar o mundo com maior clareza e discernimento. Na unidade III, destacamos a Educação de Jovens e Adultos como modalidade de ensino, evidenciando o currículo na perspectiva emancipadora. A escola, a princí- pio, tenta recuperar uma concepção crítica da educação, apropriando-se dos sujei- tos que a constituem, bem como a possibilidade crítica sobre as relações sociais por meio do controle da organização e gestão de seu trabalho e de suas decisões. Esse processo, entretanto, tende a acontecer de maneira dinâmica e conflituosa, em um campo de forças que reflete a própria sociedade, quando sujeitos e escola se articulam em um processo que integra realidade e os saberes sistematizados. Em relação à questão curricular, a partir da década de 1980, todas as reformas edu- cativas apregoam a qualidade, mas o que significa uma educação de qualidade? [...] a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola promove a todos o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacida- des cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos, bem como a inserção no mundo e a cons- tituição da cidadania também como poder de participação, tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa e igualitária (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007, p. 117-118). Essa qualidade pode ser possível por meio da efetivação da práxis que deve orientar o currículo escolar e, principalmente, a Educação de Jovens e Adultos, pois, como modalidade de ensino, tem um compromisso social na formação de indivíduos conscientes de seu papel também social. O princípio da práxis representa o processo de transformação da realidade concreta. É o pensar a prática para transformá-la. Mas não só pensar a prática, mas todos os elementos que a constituem, todos os condicionantes que interferem para a ação. Não se pode entender que toda prática é práxis. Para se constituir a práxis, é preciso haver intencionalidade na ação pedagógica do professor que atua com a EJA. Assim, a reflexão, a formação continuada, a mudança de práticas, atitudes, enfim, devem estar presentes na atuação profissional do do- cente. Destacou-se, nessa unidade, a função social da escola e o seu compromisso social na transformação dos sujeitos. A escola é espaço de aprendizagem e desenvolvimento, todas as vivências fazem parte do processo que envolve o ensinar e o aprender. A escola, como instituição de ensino trabalha com os aspectos culturais, afetivos, sociais, cognitivos, históricos, dentre outros. Na EJA, esses aspectos estão presentes nas relações estabelecidas en- APRESENTAÇÃO tre os sujeitos, que já possuem experiência de vida, de trabalho, de realidade social. Portanto, deve-se assegurar o direito à educação escolar, de forma que possam ser valorizados. O poder público deve possibilitar condições para que os indivíduos não escolari- zados e os escolarizados parcialmente tenham acesso e permaneçam nos espaços formais de ensino, cumprindo, dessa forma, com seu compromisso ético-político. Independentemente da demanda que a escola recebe, seu papel é dar condições para uma vida melhor aos sujeitos que passam por ela. Entendemos que esta não transforma a sociedade por si mesma, mas, certamente, pode contribuir para a trans- formação de quem passa por ela. Oportunizar àqueles que se sentem excluídos, fora do contexto escolar, é função da escola, assim, esta deve repensar a formação de seus alunos, fazendo-os superar suas incertezas, inseguranças, sua baixa autoestima e propor-lhes situações concretas de aprendizagem, onde possam realizar projetos de vida, sentir-se valorizados enquanto sujeitos sociais, capazes de contribuir com a transformação da realidade. A intenção da escola nesse aspecto é formar para a emancipação, pois essa possibi- lidade se concretiza na consciência política que deve permear a vida dos homens. Nessa perspectiva, a reflexão, a capacidade crítica e a autonomia devem compor os objetivos da educação na EJA. Sabendo que a demanda da Educação de Jovens e Adultos requer preparar-se para inserir-se na sociedade de forma consciente, a escola necessita se organizar, pensar nas concepções de ensino e aprendizagem, de aluno, de sociedade que se quer for- mar para que haja participação efetiva desses sujeitos na vida social, política, econô- mica, podendo também contribuir para a mudança. O compromisso social da escola perpassa a transmissão do conhecimento, de forma a propiciar ao aluno a capacidade de colocar-se diante dos conflitos, das dificulda- des, tanto nas relações pessoais quanto profissionais, promovendo sua identidade enquanto cidadão. Nesse sentido, é preciso garantir aos alunos, sujeitos da EJA, a aquisição de conhecimentos necessários à sua socialização. Espera-se, contudo, que jovens e adultos que buscam a escolarização fundamental e média na EJA possam compreender a realidade, intervir sobre ela, ampliando suas relações sociais, modificar sua leitura de mundo para compreender-se como sujei- tos da história. Na sequência, tratamos da função do professor da EJA, na atuação para a formação consciente dos sujeitos visando ao exercício da cidadania. Alfabetizar, letrar, trans- mitir o conhecimento, propor situações de aprendizagens significativas implica pre- parar-se pedagogicamente para essa função. O professor deveter como responsabi- lidade o domínio dos conteúdos escolares, dos elementos culturais que necessitam ser assimilados pelos sujeitos. A leitura, a escrita, o conteúdo das diversas áreas deve compor seu repertório de conhecimentos, para explorá-los nas diversas dimensões. APRESENTAÇÃO Na formação para a cidadania, um aspecto que deve ser considerado pelo professor diz respeito à formação de princípios e valores, éticos e morais, que favorecem a par- ticipação efetiva nas situações que envolvem a coletividade, ou seja, reconhecer-se e reconhecer o outro como sujeitos sociais impõe atitudes e comportamentos mais solidários, de respeito e valorização da pessoa humana, portanto, o professor, nas suas ações pedagógicas, pode introduzir elementos que visem atingir esses objeti- vos. Ao profissional da EJA, requer considerar as condições históricas, culturais, políticas e sociais do trabalho educativo, no sentido de que o compromisso deste está em conhecer para ensinar. Passar pelo exercício docente na EJA significa perceber como acontece a dinâmica da sala de aula, quanto à organização da turma, os encaminhamentos e direciona- mentos do professor em relação ao conteúdo, as manifestações dos alunos, o refe- rencial teórico-metodológico utilizado. Outra questão importante que se deve con- siderar é que “não é qualquer pessoa que pode ser um docente”. A banalização da profissão se dá, na maioria das vezes, pela prática sem o compromisso ético-político, tão necessário às posturas profissionais docentes. É importante salientarmos que a Educação de Jovens e Adultos, incluindo certa- mente os idosos, possui especificidades enquanto Modalidade de Ensino, assim, é preciso adotar mecanismos diferenciados de trabalho visando atender essas especi- ficidades. Normalmente são pessoas que tiveram dificuldades no seu tempo regular de escolarização e, com isso, não tiveram permanência no processo, o que vem de certa forma garantida pelas políticas atuais da EJA. Muitos são os fatores que implicam na não permanência dos cidadãos na escola, fa- tores de ordem econômica, social e até mesmo cultural. A formação de jovens, adul- tos e idosos pode ser um fator importante para a efetivação das políticas públicas, bem como para a formação de professores que atuam nos programas direcionados a esse atendimento e na EJA, enquanto modalidade de ensino. Na unidade IV, intencionou-se tratar dos elementos fundamentais para a vida so- cial dos homens. A partir de nossos estudos, destacou-se a importância da alfabeti- zação e do letramento acontecerem de forma concomitante na aquisição da leitura e da escrita. As práticas sociais de leitura e escrita devem ser a essência do trabalho com a alfa- betização e o letramento. Estudos de diferentes áreas contribuem para esse traba- lho, como a linguística, sociolinguística, a psicolinguística, dentre outras áreas do conhecimento. Compartilha-se com diversos autores que trabalham nessa perspectiva (REGO, 1986, 1988; ABAURRE, 1986; KATO, 1987), pois diferenças entre a língua oral e escrita podem ser percebidas na utilização dos gêneros textuais, quando o professor pode APRESENTAÇÃO explorar seus conteúdos, considerando diferentes pontos de vista, esgotando todos os recursos possíveis, todas as possibilidades de apreensão desse conteúdo. Nesse sentido, o letramento se faz presente paralelo à aquisição da leitura e escrita. O domínio do código escrito, das letras, das sílabas representa somente um instru- mento para o trabalho com o letramento; pessoas que foram ou são alfabetizadas pelos métodos convencionais às vezes dispõem da leitura e escrita, mas sem a signi- ficação dessas para o uso social. Dessa forma, entende-se a ausência do letramento, que é justamente a possibilidade de utilizar socialmente os conhecimentos adqui- ridos. Como enfatiza Soares (2008), “letrar é mais que alfabetizar”, nesse sentido, significa colocar os indivíduos em uma condição diferente, de acesso aos instrumentos cul- turais de forma crítica, consciente, sabendo posicionar-se, munidos de conhecimen- to que os coloque em posição de cidadãos de fato. O letramento, pode-se afirmar, é cultural, isso nos coloca como sujeitos da história, que possuímos um conhecimento que a escola na condição formal de ensino, pode se apropriar deste e trabalhar de forma sistematizada a fim de atingir níveis mais elevados do conhecimento. Segundo Soares (1998, p.40), Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita. A linguagem é a aquisição que torna possível nos comunicarmos com os outros e com o mundo, e que se dá de diferentes formas. Constituímo-nos, dessa forma, como pessoas, como homens, por meio da linguagem. O letramento promove aos indivíduos a inserção social, a participação mais efetiva nos fatos e acontecimentos da vida em sociedade, na tomada de decisões. Isso é exercer a cidadania. A operacionalização da alfabetização e letramento de forma concomitante deve constar no currículo da escola, esta, por sua vez, possui o papel de direcionar, abrir espaços para que essa possibilidade se concretize. Vivemos em uma sociedade marcada pelo avanço da ciência, da tecnologia, que define comportamentos e atitudes que modificam a ideia sobre escola, sobre for- mação, sobre indivíduos. A escola pode utilizar-se de instrumentos, recursos que envolvam os alunos, porém, não pode perder sua especificidade enquanto institui- ção que forma para a vida em sociedade. Levar os cidadãos a compreenderem os avanços científicos e tecnológicos e como tudo isso interfere na vida das pessoas é, sem dúvida, o que podemos dizer letramento. Portanto, o currículo escolar, e nesse sentido o currículo da EJA, deve possibilitar a inserção dos indivíduos no processo de trabalho não simplesmente no entendi- mento de emprego, mas de trabalho que os possibilita continuar aprendendo. As- sim, entende-se que a cidadania se efetiva. APRESENTAÇÃO Na Pedagogia Histórico-Crítica, a escola assume um papel fundamental, a de trans- missora do conhecimento sistematicamente produzido pelos homens. Implica em trabalhar os conteúdos propostos, tendo em vista que estes se caracterizam como elementos culturais que necessitam ser assimilados pelos alunos, os saberes da ci- ência e os rudimentos desses saberes. Nesse sentido, Saviani (2008) chama atenção para a ideia de clássico, enfatiza que o clássico é o que perpetua historicamente, ou seja, é preciso definir o que de fato é essencial que a escola trabalhe. Todos têm o direito de superar as amarras de um ensino tradicional do ponto de vis- ta de que ao professor cabia ensinar e ao aluno absorver de forma mecânica sem ter a oportunidade de se manifestar, como podemos ver em Gramsci (2001), quando coloca que a escola deve formar os novos dirigentes para a sociedade. Desta for- ma, todos têm direito de formar-se para dirigir ou controlar quem dirige, para isso, despertar para a consciência crítica é fundamental, posicionar-se, ter capacidade de argumentar, de posicionar-se diante de uma dada situação, dentre outras questões. A escola, portanto, para trabalhar nessa perspectiva, precisa disponibilizar meios para que haja a sistematização dos saberes próprios que são da responsabilidade escolar. É preciso dar condições didático-pedagógicas para que o trabalho se realize no princípio da práxis. Desse modo, “[...] pela mediação da escola, acontece a pas- sagem do saber espontâneo ao saber sistematizado, da cultura popular à cultura erudita” (SAVIANI, 2008, p. 21). Compreender a educação no seu desenvolvimento histórico-objetivo e, por conseqüência, a possibilidade de se articular uma proposta pedagógica cujo ponto de referência, cujo compromisso, seja a transformação da socie- dadee não sua manutenção, a sua perpetuação [...] (ibidem, p. 93). Considerando os pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica de Saviani (2008), te- mos as contribuições de Gasparin (2002), quando formula elementos didático-me- todológicos para a efetivação dessa pedagogia no âmbito da sala de aula; quando enfatiza que a prática social é o ponto de partida para o início do conteúdo siste- maticamente produzido pelos homens; investigar com os alunos o que já possuem de conhecimento acerca dos conhecimentos propostos, para, a partir daí, orientar para nova direção, no âmbito científico, visando ao que os alunos devem saber para além do que já sabiam. Nessa perspectiva, têm-se os conteúdos vistos, percebidos nas várias dimensões do conhecimento, conceituais, científicas, históricas, econômicas, políticas, culturais, éticas, estéticas, religiosas, ideológicas, dentre outras. Quando o conteúdo é explorado nas dimensões propostas por Gasparim, entende- se, possibilita-se a apreensão dos elementos culturais possíveis para a aprendiza- gem significativa. Para isso, certamente, o professor deve estar preparado, instru- mentalizado, munido de conhecimentos que mobilizem os saberes que vão levar à apropriação desses por parte dos alunos. APRESENTAÇÃO É na problematização que se encontra o problema que envolve o conteúdo a ser trabalhado, ensinado pelo professor, onde se explicita os principais problemas da prática social. É na apresentação desse conteúdo, na explicitação oral, na aula ex- positiva, que o professor responderá às indagações presentes na problematização, isso significa que, no seu discurso teórico, deverá trazer as respostas ao problema. A instrumentalização deve refletir os conhecimentos sistematicamente produzidos, o professor necessita estar na condição de trazê-los aos seus alunos, nesse momento, abordará as dimensões possíveis para que esses conhecimentos sejam percebidos na totalidade, nas relações com outros conhecimentos. Envolve também as ações didá- tico-pedagógicas do processo de ensino e aprendizagem do professor e dos alunos. A catarse, a quarta fase da didática de Gasparim, é o momento em que os alunos podem expor de forma elaborada, científica o que aprenderam para além do que sabiam na prática social inicial. A prática social final implica na mudança de postura frente à realidade, agora o alu- no possui nova prática social, quando consegue aplicar o que aprendeu sistema- ticamente em situações diversas. Porém, além de ser o ponto de chegada de um processo, é ponto de partida novamente, pois o conhecimento não é estático, o aluno continuará aprendendo e podendo, cada vez mais, estabelecer relações com os aprendizados anteriores. Na unidade V, os temas de estudos abordam os objetivos da educação, como forma de pensar o processo formativo dos cidadãos, haja vista o compromisso que a esco- la assume diante das perspectivas educacionais, escolares que refletem a formação humana. A educação sob esse aspecto atua sobre os meios de produção e reprodução, uma dimensão que se volta para a formação da identidade do ser humano, para a com- preensão do mundo, corrobora para o fortalecimento ético, introduz a comunicação entre os sujeitos. Na produção das necessidades humanas, luta-se continuamente para a superação dessas, construindo outras, em um processo dialético. A escola, como espaço formal do conhecimento, deve preparar os sujeitos da EJA para a aquisição de elementos culturais que os auxiliem na vida cotidiana, na sua prática social, que os integrem socialmente, possibilitando-os enxergarem o mundo de outra forma, interpretando a realidade, intervindo sobre ela, transformando-a, e se transformando enquanto sujeitos que fazem parte da história. Assim, o planejamento escolar da EJA tem papel fundamental. Organizar o trabalho pedagógico a fim de transmitir conteúdos, conhecimentos que levem os sujeitos a pensarem sobre a vida, sobre o mundo, sobre o homem e suas relações sociais. No que diz respeito ao planejamento, o professor exerce uma função que implica em compromisso ético/político diante dessa questão. Planejar suas atividades con- duz à reflexão sobre o significado da docência. APRESENTAÇÃO Ensinar exige esforço, dedicação e, principalmente, responsabilidade com a forma- ção das pessoas que passam pela escola enquanto espaço formativo, intencional. A práxis, portanto, traduz a visão dialética do ensinar e aprender. Essa condição que permeia a ação docente e o planejamento do professor favorece para que pense- mos sobre nossa atuação profissional e possamos dar rumos que permitam o cres- cimento intelectual dos alunos. A ideia de prática-teoria-prática na EJA permite assegurar aos jovens e adultos o reconhecimento do contexto histórico, dos conhecimentos produzidos pela huma- nidade, e inserir-se nesse contexto, percebendo-se sujeitos da história. Não há como pensar em planejamento, ações docentes e discentes sem elencarmos a importância da avaliação nesse processo. Esta deve refletir o trabalho pedagógico do professor, sua organização didática, sua metodologia, servindo de instrumento para repensar suas práticas. É preciso perceber sempre se há de fato apropriação do conhecimento sistematizado por parte dos alunos. Os estudos sobre a avaliação nos remetem a pensá-la como processo, e não somen- te como verificação de resultados, o que não propicia mudança de rumos frente à realidade. Pelo contrário, a avaliação deve permitir a intervenção pedagógica para que as dificuldades na aprendizagem sejam sanadas. Finalizamos essa apresentação colocando que as práticas pedagógicas necessitam ser repensadas para que a educação escolar atinja seus objetivos educacionais de formação das pessoas que passam pela escola. Professora Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 19 UNIDADE I RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 26 Recuperação Histórica: Educação de Jovens e Adultos 34 Educação de Jovens e Adultos: Atribuição de Conceitos 38 Educação de Jovens e Adultos: Outros Sentidos, Outros Significados 43 A Alfabetização de Jovens e Adultos no Contexto das Políticas Públicas Educacionais 48 Considerações Finais UNIDADE II EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E A FUNÇÃO SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO 54 Os Pressupostos Teóricos que Embasaram a Educação de Jovens e Adultos: As Teorias em Foco 58 Paulo Freire: os Temas Geradores como Proposta para Aquisição da Leitura e Escrita 65 A Função Social da Educação de Adultos 73 Considerações Finais SUMÁRIO 20 UNIDADE III CONCEPÇÕES DE CURRÍCULO, COMPROMISSO SOCIAL DA ESCOLA E A FORMAÇÃO PARA O EXERCÍCIO CONSCIENTE DA CIDADANIA 80 A Educação de Jovens e Adultos Como Modalidade de Ensino: o Currículo na Perspectiva Emancipadora 94 Os Objetivos da Educação como Componentes Fundamentais para Pensar o Processo Formativo dos Cidadãos da Eja 101 A Função da Escola: o Compromisso Social na Transformação dos Sujeitos 104 O Professor e a Formação Consciente para o Exercício da Cidadania 108 Considerações Finais UNIDADE IV A CONSCIÊNCIA CRÍTICA E POLÍTICA DOS CIDADÃOS: O CURRÍCULO E A (RE)DEFINIÇÃO TEÓRICA DA EJA 114 Alfabetização e Letramento: Elementos Fundamentais Para a Vida Social dos Homens 142 A Sociedade Letrada e as Exigências do Mundo do Trabalho 147 A Consciência Crítica e Política dos Cidadãos: a Linguagem em Questão 151 A Pedagogia Histórico-Crítica e a Redefinição da Abordagem Teórica: o Trabalho em Turmas de Jovens e Adultos 153 A Eja e o Trabalho com as Dimensões do Conhecimento: Repensando Sentidos e Significados Desta Modalidade de Ensino 157 Considerações Finais SUMÁRIO 21 UNIDADE V OS OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO, PLANEJAMENTO ESCOLAR, A ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA NO PRINCÍPIO DA PRÁXIS E A AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E DA APRENDIZAGEM 164 O Compromisso Social do Professor: o Planejamento Escolar e a Orientação Pedagógica a Partir do Princípio da Práxis173 A Avaliação e o Contexto de Apropriação do Conhecimento 176 A Avaliação como Processo: Caminho para Mudança da Prática Pedagógica 179 Considerações Finais 183 Conclusão 185 Referências U N ID A D E I Professora Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Objetivos de Aprendizagem ■ Recuperar, historicamente, fatores que influenciaram o surgimento de políticas públicas para a Educação de Jovens e Adultos. ■ Compreender a Educação de Jovens e Adultos conscientizando-se acerca dos conceitos atribuídos a essa demanda da escolarização. ■ Analisar os sentidos e significados apresentados pelos autores e pelos programas de EJA. ■ Analisar os princípios e ideologias presentes no contexto da educação e, nesta, a Educação de Jovens e Adultos. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Recuperação histórica: educação de jovens e adultos ■ Educação de jovens e adultos: atribuição de conceitos ■ Educação de adultos: outros sentidos, outros significados ■ A alfabetização de jovens e adultos no contexto das políticas públicas educacionais INTRODUÇÃO Consultando as Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos, pude- mos constatar que é no final do século XIX e início do século XX, em um momento emergente, no que dizia respeito ao crescimento industrial das cidades, que foram aprovados projetos de leis, os quais davam ênfase à obrigatoriedade da educação de adultos no Brasil, havendo também, nesse processo, influência significativa da cultura europeia. O que se buscava nesse contexto era o aumento do contingente eleitoral, o que de certa forma atendia aos interesses da elite da sociedade. Nesse sentido, a escolarização passou a representar a possibilidade de ascen- são social, uma perspectiva referendada pela Lei Saraiva, de 1882, que depois foi incorporada à Constituição Federal de 1891. A respectiva Constituição impedia o voto ao analfabeto e alistou somente os eleitores e candidatos que dominavam a leitura e a escrita. A Educação de Jovens e Adultos representa a condição necessária para a pro- moção da igualdade social, no tocante à humanização dos sujeitos de modo geral. Participar dos processos formativos da EJA, portanto, passa a ser um direito dos cidadãos que não tiveram a oportunidade na idade regular e que buscam, nessa modalidade de ensino, talvez a única oportunidade de continuar seus estudos e melhorar sua atuação profissional. O que se pretende é situar o homem no tempo e espaço para que possa ser sujeito de sua história, que possa conhecer sua realidade e, com consciência, cer- tamente poderá intervir sobre ela, modificando-a. A Educação de Jovens e Adultos possui uma trajetória histórica significa- tiva no panorama brasileiro. Sua importância na área educacional é ímpar do ponto de vista da formação dos sujeitos. Devemos considerá-la sob o aspecto da valorização do ser humano, haja vista que os indivíduos podem sair da situa- ção de expropriação para uma nova situação, a do despertar para a consciência. Essa possibilidade contribuiu para que muitas pessoas saíssem do quadro de marginalização a que estavam submetidas no nosso país. Também não podemos deixar de considerar os entraves pelos quais passou essa educação, em função de questões sociais, culturais, políticas e econômicas. A educação formal é movida a intencionalidades específicas do ponto de vista de Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 seus conteúdos. Nessa perspectiva, exerce a função social que propicia a sistema- tização dos conhecimentos produzidos e acumulados pelos homens. Conceituar a Educação de Jovens e Adultos é entendê-la como forma de valorização dos sujeitos que ainda não tiveram a oportunidade de obterem essa sistematização. As políticas públicas destinadas especificamente a esses sujeitos têm a fun- ção de promover e garantir o acesso e a permanência para atingir os objetivos educacionais. Essa demanda está representada por trabalhadores de diferentes situações cotidianas, um grupo que na maioria das vezes esteve excluído dos bens produzidos por eles mesmos. RECUPERAÇÃO HISTÓRICA: EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A Educação de Jovens e Adultos no Brasil teve início com os Jesuítas por meio da ação missionária. Intencionava-se difundir os preceitos religiosos aos nativos da Terra, porém propôs estratégias que possibilitassem o trabalho com crianças e adultos. Em um primeiro momento, envolveu os índios, mas depois o traba- lho se estendeu aos negros escravos. No Brasil, durante todo o seu processo de colonização, eram os adultos que assumiam a educação religiosa, era ensinado o evangelho, normas de comporta- mento e os ofícios necessários à economia colonial aos indígenas e aos escravos. Na verdade, isso se constituía nos objetivos da formação. Na primeira Constituição Brasileira, em 1824, já no Brasil Império, promo- veu-se a instrução primária e gratuita para os adultos. Nesse período, pouco foi feito, os adultos somente possuíam cidadania, a maioria desse grupo fazia parte da elite alfabetizada. Até o final do império, 82% ainda eram analfabetos. Em 1889, com a Proclamação da República, e na sequência, com a Constituição Federal de 1891, reforçou-se a concepção da educação elementar. Esta tarefa estaria a cargo dos estados e municípios. À União, entretanto, caberia a respon- sabilidade do ensino secundário e superior. Recuperação Histórica: Educaçãode Jovens e Adultos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 Não podemos deixar de considerar que a persistência desse sistema continuou garantindo a formação da elite, pois os indivíduos que passavam pela formação secundária e superior assumiriam os cargos dirigentes da sociedade. Desta forma, entende-se que, às camadas sociais marginalizadas, a oferta do ensino elementar foi submetida a fragilidades financeiras de estados e municípios. Assim, de acordo com as Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos do Estado do Paraná, no que diz respeito às questões históricas da educação, percebe-se que: [...] ao longo da história do Brasil, desde a colonização portugue- sa, constata-se a emergência de políticas para a educação de jovens e adultos focada e restrita, sobretudo, aos processos de alfabetização, de modo que é muito recente a conquista, o reconhecimento e a definição desta modalidade como política pública de acesso e continuidade à es- colarização básica (PARANÁ, 2006, p. 16). Nessa perspectiva, observa-se ainda, de acordo com as referidas diretrizes, que durante mais de quatro séculos tem-se o domínio da cultura branca, cristã, masculina e alfabetizada sobre a cultura dos índios, negros, mulheres e analfabetos. Nesse sentido, o que se constata é uma educação que seleciona, discrimina e exclui. Fonte:<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=15879> RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 A Constituição de 1891 manteve a exclusão dos adultos analfabetos da partici- pação política, isso indica o preconceito existente pelo sujeito que não sabia ler e escrever. O preconceito pelo analfabeto era evidenciado pela sua não participação nos processos eletivos, inclusive considerado sem capacidade de participação ou inserção na vida social. Di Pierro (2000, p. 109) afirma que: “A nova Constituição Republicana estabeleceu também a exclusão dos adultos da participação pelo voto, isto em um momentoem que a maioria da população adulta era iletra”. Buscava-se, portanto, [...] aumentar o contingente eleitoral, sobretudo no primeiro período republicano para, por efeito, atender aos interesses das elites. A esco- larização passou a se tornar critério de ascensão social, referendada pela Lei Saraiva de 1882, incorporada depois à Constituição Federal de 1891, que impediu o voto ao analfabeto, alistando somente os eleitores e candidatos que soubessem ler e escrever (PARANÁ, 2006, p. 17). No final do século XIX e início do século XX, foram aprovados projetos de leis que enfatizavam a obrigatoriedade da educação de adultos, na verdade, havia intencionalidades econômicas e políticas nesse processo, haja vista a emergên- cia do desenvolvimento urbano industrial do país, porém, retomando a questão política. Essa afirmação é percebida na intenção de atender aos interesses domi- nantes da época, constatava-se a necessidade em aumentar o contingente eleitoral, e isso se daria pelo movimento contra o analfabetismo. Esse movimento foi uma organização dos setores sociais e civis. O analfabetismo, naquele momento, representava um mal que precisava ser superado. Os sujeitos analfabetos eram considerados incultos, preguiçosos, igno- rantes e incapazes. A educação deveria resolver essa problemática para atingir o progresso e o desenvolvimento. Nos anos de 1930, para atender à emergência das atividades técnicas, os homens necessitavam ter o domínio da leitura e da escrita. Com o crescimento industrial e, por consequência, urbano das cidades, cres- ceu a preocupação com questões sociais. Com a emergência desse processo, a educação escolar passa a ser um objetivo que precisa ser perseguido pelas autori- dades e toda a sociedade civil. Esse objetivo traduz-se na ampliação dos serviços educacionais, para isso, neste contexto, surgiram políticas públicas destinadas à escolarização de jovens e adultos como forma de fazer valer o direito à instru- ção dos cidadãos. Recuperação Histórica: Educaçãode Jovens e Adultos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Em 1947, introduz-se uma política para as massas, a qual levaria o Brasil a um maior desenvolvimento ao mesmo tempo em que pudesse construir para essa edu- cação uma identidade. É nesse propósito que se lança a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos, cujo objetivo era alfabetizar, em três meses, esta par- cela da população excluída da educação regular. A Campanha possuía a pretensão de formar professores ao mesmo tempo em que propiciava o desenvolvimento comunitário dos jovens e adultos. Porém, essa iniciativa não teve êxito, especificamente nas áreas rurais, pois somente algumas escolas de ensino supletivas permaneceram na década de 1950. Nessa perspec- tiva, havia a influência nacionalista, bem como do processo de industriaização que o Brasil vinha passando. A criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1930, a ideia de um Plano Nacional de Educação a partir da Constituição de 1934 e a criação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), em 1938, contribuíram enor- memente para que se estabelecesse uma política educacional para a Educação de Jovens e Adultos. No período de Vargas, com a nova Constituição Brasileira, apresentou-se um novo Plano Nacional de Educação (PNE), firmando a União como responsável Fonte:<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14280> RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 na confirmação do direito de todas as pessoas do Estado para com a educação. A Constituição de 1934, uma Constituição considerada, na época, um ensaio à democracia, teve como órgão responsável o Plano Nacional de Educação, o qual incluiu normas de obrigatoriedade em relação ao ensino primário. Nesse sentido, o ensino primário se estenderia à educação de adultos. Essa possibilidade foi afirmada a partir do fundo nacional para o ensino primário, ins- tituído pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), em 1938. Por meio desse fundo, seriam promovidos programas de ampliação do ensino elementar. A educação de adultos, como um problema nacional a ser superado, apresentou, [...] na década de 1940, com a criação do Fundo Nacional do Ensino Pri- mário e sua regulamentação em 1945, que destinava 25% dos recursos do fundo para a Educação de Adultos e adolescentes analfabetos, a criação do Serviço de Adultos em 1947 com a aprovação de um Plano Nacional de Educação Supletiva, ainda em 1947 (CORREIA, 1979, p. 21-22). Nessa estrutura e organização do sistema educacional, aconteceram várias cam- panhas contra o analfabetismo, dentre elas, a Campanha de Educação de Adultos e Adolescentes, em 1947, e a Campanha Nacional de Educação Rural, em 1952. Percebe-se que, nesse momento, há preocupações da sociedade no que diz respeito ao atendimento escolar para adultos; havia a necessidade de definir a essa educação uma identidade que supostamente tenha sido referenciada pela Constituição de 1947. A intencionalidade, na primeira etapa do trabalho com adultos, se daria em “uma ação extensiva que previa a alfabetização em três meses, e mais a conden- sação do curso primário em dois períodos de sete meses. Depois, seguiria uma etapa de ‘ação em profundidade’, voltada à capacitação profissional e ao desen- volvimento comunitário”. Paiva (1987, p. 162) declara que: [...] O ano de 1958 parece marcar o início de uma nova fase da educa- ção de adultos no Brasil. O II Congresso, então realizado, não somente explicita a falência das campanhas do DNE, estimulando o desenvolvi- mento de experiências locais e a busca de soluções, como deixa trans- parecer a luta travada nos meios educacionais brasileiros em torno da discussão da Lei de Diretrizes e Bases. A atenção dos educadores brasileiros estava, aliás, desde 1948, direcionada às dis- cussões em torno da LDB. Nesse sentido, acreditava-se que a educação pudesse Recuperação Histórica: Educaçãode Jovens e Adultos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 estar assegurada nacionalmente, “solicitada desde os anos 20, autorizada cons- titucionalmente em 1934, mas apresentada ao Congresso somente em 1948” (PAIVA, 1987, p. 162). É interessante salientar que havia, nos debates do respectivo período, alguns ideais educativos aceitos por educadores do movimento renovador, contestados pelos católicos conservadores: o que estava em jogo era a escola pública. O que se colocava estava em favor do substitutivo Lacerda, que defendia a escola privada. Ele referia-se ao ensino secundário, pois o curso superior até aquele momento fazia parte do público. Nessa dinâmica, o Estado responsabilizava-se pelo ensino elementar, tendo contribuição financeira da União. Nesse processo de organização do ensino, como ficou a educação de adultos? Acontecia com recursos federais, por meio das campanhas do DNE. A partir dessas ideias, a campanha nacional para a educação de adultos repercutiu positivamente no quadro educacional, foram criadas diversas esco- las supletivas no país, bem como se expandiram as discussões em torno dessa problemática. Uma realidade que produzia desajustes e prejudicava o desenvol- vimento econômico, social e cultural da nação brasileira. Já vimos que os sujeitos analfabetos até então eram considerados incapazes, o que favorecia para o não desenvolvimento da sociedade, portanto as discussões acerca dessa temática propuseram o trabalho pautado, conforme Ribeiro (1997, p. 21), “no método de ensino de leitura para adultos, denominado Laubach, o que inspirou a iniciativa do Ministério da Educação em produzir material didático específico para o ensino da leitura e da escritapara adultos”. Conforme a autora, As lições partiam de palavras-chave selecionadas e organizadas segun- do suas características fonéticas. A função dessas palavras era remeter aos padrões silábicos, estes sim o foco do estudo. As sílabas deveriam ser memorizadas e remontadas para formar outras palavras. As primei- ras lições também continham pequenas frases montadas com as mes- mas sílabas. Nas lições finais, as frases compunham pequenos textos contendo orientações sobre preservação da saúde, técnicas simples de trabalho e mensagens de moral e civismo (RIBEIRO, 1997, p. 21-22). A organização de programas de massa, destinados à Educação de Jovens e Adultos, mediante o Fundo Nacional do Ensino Primário, foi acompanhada de euforia RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 nos primeiros momentos e seguida de atividades rotineiras durante os anos 50 até sua extinção oficial, no início da década de 1960. Assim, surgiu uma nova visão sobre o problema do analfabetismo e um novo paradigma pedagógico para a educação de adultos, a partir da proposta do edu- cador Paulo Freire. Ao final dos anos 50, duas tendências na Educação de Adultos despontam: uma entendida como educação libertadora, cujo mentor foi Paulo Freire, a outra, uma Educação de Adultos, reconhecida pela população como educação funcio- nal, ou seja, uma educação voltada à profissionalização. Na década de 70, as correntes já citadas continuam sendo de caráter não formal. No Brasil, instaura-se o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), um sistema que propaga princípios diferentes aos propostos pelo educador Freire. Esse movimento desencadeia por meio da Lei nº 5.692/71 um capítulo destinado ao ensino supletivo. Aos Estados caberia atender essa demanda da educação. Vamos observar o que reza a lei sobre o ensino supletivo no capítulo IV: Art. 24 O ensino supletivo terá por finalidade: a) suprir, a escolarização regular para os adolescentes e adul- tos que não a tenham seguido ou concluído na idade própria; 1) proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfei- çoamento ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte. Parágrafo único. O ensino supletivo abrangerá cursos e exames a serem organizados nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pe- los respectivos Conselhos de Educação. Art. 25 O ensino supletivo abrangerá, conforme as necessidades a atender, desde a iniciação no ensino de ler, escrever e contar e a for- mação profissional definida em lei específica até o estudo intensivo de disciplinas do ensino regular e a atualização de conhecimentos. § 1º Os cursos supletivos terão estrutura, duração e regime escolar que se ajustem às suas finalidades próprias e ao tipo especial de aluno a que se destinam. § 2º Os cursos supletivos serão ministrados em classes ou mediante a utilização de rádio, televisão, correspondência e outros meios de comunicação que permitam alcançar o maior número de alunos. Recuperação Histórica: Educaçãode Jovens e Adultos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Art. 26 Os exames supletivos compreenderão a parte do currículo re- sultante do núcleo comum, fixado pelo Conselho Federal de Educação, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular, e pode- rão, quando realizados para o exclusivo efeito de habilitação profissio- nal de 2º grau, abranger somente o mínimo estabelecido pelo mesmo Conselho. § 1º Os exames a que se refere este artigo deverão realizar-se: a) ao nível de conclusão do ensino de 1º grau, para os maiores de 18 anos; b) ao nível de conclusão do ensino de 2º grau, para os maiores de 21 anos. § 2º Os exames supletivos ficarão a cargo de estabelecimentos oficiais ou reconhecidos indicados nos vários sistemas, anualmente, pelos respectivos Conselhos de Educação. § 3º Os exames supletivos poderão ser unificados na jurisdição de todo um sistema de ensino, ou parte deste, de acordo com nor- mas especiais baixadas pelo respectivo Conselho de Educação. Art. 27 Desenvolver-se-ão, ao nível de uma ou mais das quatro últi- mas séries do ensino de 1º grau, cursos de aprendizagem, ministrados a alunos de 14 a 18 anos, em complementação da escolarização regular, e, a esse nível ou ao de 2º grau, cursos intensivos de qualificação pro- fissional. Parágrafo único. Os cursos de aprendizagem e os de qualificação darão direito a prosseguimento de estudos quando incluírem dis- ciplinas, áreas de estudo e atividades que os tomem equivalentes ao ensino regular, conforme estabeleçam as normas dos vários sis- temas. Art. 28. Os certificados de aprovação em exames supletivos e os relati- vos à conclusão de cursos de aprendizagem e qualificação serão expedi- dos pelas instituições que os mantenham (BRASIL, 1971). RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ATRIBUIÇÃO DE CONCEITOS Tratar a educação como um fenômeno próprio dos seres humanos nos permite pensar na dimensão desta, na formação dos homens enquanto sujeitos históri- cos. Pinto (1997, p. 36) enfatiza que a educação pertence à cultura, desta forma, explica-a em dois sentidos: • primeiramente, no sentido de que o mesmo conceito de educação é um dos produtos ideológicos da cultura. Como tal reflete e resume a totalidade cultural que o enuncia; • em segundo lugar, a educação pertence ao campo cultural por ser o processo produtor (e transmissor) da cultura. Por consequência, a educação é a cultura simultaneamente como feita (porém, não como acabada) no educador que a transmite, e como fazendo-se no edu- cando que a recebe (refazendo-a), por conseguinte, capacitando-se a se tornar um agente da ampliação dela (PINTO, 1997, p. 36, grifo do autor). Nesse pensamento, pode-se perceber que a educação é algo que se faz e refaz em um processo contínuo, assim, tem-se o sujeito inacabado e inconcluso segundo Freire, ou seja, que requer estar em constante processo de conheci- mento para continuar se humanizando. Pinto (1997) destaca em Sete Lições sobre Educação de Adultos a origem da visão ingênua sobre o conteúdo da educação e enfatiza que: Em primeiro lugar, a educação, como temos mostrado, não deve se reduzir à transmissão escolar dos conhecimentos. Em segundo lugar, o conteúdo da educação não está constituído somente pela matéria do ensino, por aquilo que ensina, mas, incorpora a totalidade das condições objetivas que concretamente pertencem ao ato educacio- nal; assim, são parte do conteúdo da educação: o professor, o aluno, ambos com todas as suas condições sociais e pessoais, as instalações da escola, os livros e materiais didáticos, as condições locais da escola etc. [...]. Em terceiro lugar, o conteúdo da educação está submetido ao processo em que ela consiste, não se pode considerá-lo como um volume estático, delimitado de conhecimentos, como se fora uma car- ga a ser transportada de um lugar a outro, porém é algo dinâmico, é fundamentalmente histórico [...]. Em quarto lugar, o conteúdo não pode ser considerado desligado da forma. Ora, o conceito ingênuo do Educação de Jovens e Adultos:Atribuição de Conceitos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 “conteúdo” o destaca da “forma” e pretende tratá-lo por si mesmo à parte, valorizá-lo em sua significação e utilidade intrínseca (PINTO, 1997, p. 42-43). O autor, ao trazer essas reflexões, aponta algumas possibilidades de pensar a educação tendo em vista uma visão crítica na superação do caráter ingênuo que muitas vezes distorce o sentido do conteúdo, daescola e da formação do e para o humano. Essa questão passa pelo entendimento de que o conteúdo precisa ser compreendido na totalidade do processo educacional. Este deve permear as várias dimensões do conhecimento, ou seja, não é possível o conteúdo desarticu- lado das áreas de conhecimento, bem como do contexto, no qual este se insere, da mesma forma que é preciso considerar a realidade posta, os conhecimentos advindos dessa realidade. Assim, vê-se o caráter do trabalho da Educação de Jovens e Adultos na perspectiva da práxis consciente. Torna-se importante considerar que o ato peda- gógico que envolve o trabalho com o conteúdo requer o rigor científico e, por isso, direcionado a partir do princípio da práxis, devido à complexidade desse ato, que é intencional. A Educação de Jovens e Adultos no Brasil, conforme a constituição das polí- ticas para essa modalidade de ensino, faz com que compreendamos os conceitos, comumente empregados e discursados, os quais apresentam ideologias gover- namentais, também demonstradas nas ações políticas e sociais. Na compreensão sobre esses conceitos, é preciso considerar as intenciona- lidades políticas, econômicas que os constituíram. Na dinâmica da conjuntura social, hoje existente, se tem que pensar as diferenças, os mecanismos que con- tribuíram para a mudança na forma de pensar a educação no sentido de propor a todos a condição de aprendizagem, principalmente no que diz respeito à Educação de Jovens e Adultos. Em relação especificamente aos conceitos produzidos, têm-se semelhan- ças, diferenças, muitas interpretações utilizadas em determinados períodos, reutilizados de outras formas em outros, enfim, o que provoca um ir e vir normal- mente descontextualizado. Nesse contexto conceitual da EJA, faz-se necessário compreender quais foram as intencionalidades que o envolveu, bem como os desdobramentos resultantes deste. Fonte:<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html?idConteudo=1467> RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 Isso significa considerar na história os representantes de grupos que estiveram à frente das questões educacionais pautadas na perspectiva da EJA, que elabo- raram ações para essa modalidade de ensino. É preciso entender o processo histórico das intervenções políticas, eco- nômicas e sociais para, então, avançar no processo de recontextualização e reconceituação por meio da busca de fundamentos que orientam para a com- preensão das funções e intenções da modalidade da EJA, na transformação social, quem sabe assim, diminuir a população considerada excluída econô- mica e culturalmente. Toda essa possibilidade de busca do conhecimento, que pode melhorar as condições de vida e de trabalho, favorece certamente à população uma participa- ção mais efetiva nos bens culturais produzidos, o que provoca a transformação nas formas de pensar e agir no contexto dessa sociedade. Ainda, pode-se desta- car a consciência e concretização dos direitos mais humanos. As questões que permeiam os conceitos atribuídos à Educação de Jovens e Adultos implicam na integração nacional e diversidade cultural. Assim: Profundamente interrelacionados, os conceitos de integração nacional e diversidade cultural sempre estiveram presentes nos mais variados cená- rios, através dos muitos personagens que fizeram a história deste nosso país. A estes sujeitos, cabe-nos identificar e caracterizar a sua personifi- cação aos interesses internos e/ou externos, nacionais e/ou internacio- nais, de continuidade do colonialismo brasileiro às amarras estrangeiras ou da busca da emancipação e autonomia nacional (AMARAL, s.d.). Educação de Jovens e Adultos:Atribuição de Conceitos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 O ser humano é um ser incompleto, partindo dos pressupostos freireanos, está em constante aprendizagem, e a Educação de Jovens e Adultos necessita, em tempos atuais, buscar seu potencial para desenvolver-se plenamente em todos os aspectos, descobrindo-se e descobrindo o mundo. As condições para desen- volver-se pessoalmente e profissionalmente deve ser oportunizada ao cidadão. A finalidade da educação não se limita à comunicação do saber formal, científico, técnico, artístico etc. Esta comunicação é indispensável, está claro, porém o que se intenta por meio dela é a mudança da condição humana do indivíduo que adquire o saber. Por isso, a educação é subs- tantiva, altera o ser do homem. [...]. O homem que adquire o saber passa a ver o mundo e a si mesmo deste outro ponto de vista. [...] se torna um elemento transformador de seu mundo. Esta é a finalidade essencial da educação [...] (PINTO, 1997, p. 49). A educação é um fenômeno social completo, amplo, porque envolve dimensões infinitas de conhecimento, perpassa contextos diversos, traduz-se nos anseios, desejos e aspirações de um povo, de uma sociedade. No seu sentido genérico, repre- senta todas as possibilidades de saberes, conhecimentos, vivências e experiências. Não se pode modificar, transformar, pela educação bancária, por exemplo, a contradição existente entre educador/educando nessa concepção precisa dis- solver-se. A educação problematizadora, nesse sentido, modifica essa conduta, essa relação de poder. Segundo Freire (1980, p.81), A educação problematizadora está fundamentada sobre a criativida- de e estimula uma ação e uma reflexão verdadeiras sobre a realidade, respondendo assim à vocação dos homens que não são seres autên- ticos senão quando se comprometem na procura e na transformação criadoras. Em resumo: a teoria e a prática bancária, enquanto forças de imobilização e de fixação, não reconhecem os homens como seres históricos; a teoria e a prática críticas tomam como ponto de partida a historicidade do homem. Nesse aspecto, tem-se a educação pautada na criticidade, onde os homens são con- siderados como seres do devir, seres que estão em constante aprendizado, já que sujeitos incompletos, inacabados, cuja realidade necessita também estar em cons- tante mudança, a fim de atender às necessidades humanas. É na perspectiva crítica que deve se pautar a Educação de Jovens e Adultos no contexto da sociedade atual. RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: OUTROS SENTIDOS, OUTROS SIGNIFICADOS Os saberes fazem parte de um conjunto de elementos da cultura, socialmente constituído pelos homens, o que se supõe que acontece de forma consciente. A sociedade expressa esses saberes por meio da linguagem. Entretanto, nas socie- dades ditas, iletradas, não há registros de saberes gráficos, porém há educação, haja vista a transmissão de conhecimentos da prática social. Muitos são os mecanismos na busca da educação. O indivíduo se desenvolve pela possibilidade de intervenção do e no universo cultural. Isso se dá pelas ações que se inserem nos sujeitos da EJA a partir de princípios, normas, valores éti- cos e morais presentes na sociedade. As intervenções às quais nos referimos não acontecem somente no âmbito da escola, mas devemos considerar que a escola também segue princípios, ideias, interesses, valores de uma dada sociedade. A educação é pautada em princípios, valores, ideais, enfim, quando se pensa em educar, logo se tem uma ação que é intencional. Também é notório que quando se forma alguém, é preciso considerar o que queremos, que homem se pretende formar. Isso inclusive está posto nos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas, isso significa que ao pretender uma formação, não se pode fazê-lo sem um conceito ideal de homem. Nesse pensamento, a educação se concebe na interação entre sujeitos, permeada por relações sociais estabelecidas, onde a transmissãoda cultura e o processo de criação se impõem reconfigurando o sentido da educação e, consequente- mente, da formação do homem. Essa análise nos permite considerar o seguinte raciocínio: Construir uma EJA que produza seus processos pedagógicos, con- siderando quem são esses sujeitos, implica pensar sobre as possibi- lidades de transformar a escola que os atende em uma instituição aberta, que valorize seus interesses, conhecimentos e expectativas; que favoreça a sua participação; que respeite seus direitos em prá- ticas e não somente em enunciados de programas e conteúdos; que se proponha a motivar, mobilizar e desenvolver conhecimentos que partam da vida desses sujeitos; que demonstre interesse por eles como cidadãos e não somente como objetos de aprendizagem (AN- DRADE, 2004, s/p, grifos da autora). Educação de Jovens e Adultos: Outros Sentidos, Outros Significados Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 Na educação, as finalidades perpassam conteúdo e forma, dois elementos propos- tos nos estudos de Saviani (2008). Tanto uma questão quanto outra tem em vista o processo de transformação da realidade concreta e, nessa realidade, o próprio sujeito. Mas na sociedade de classes, a educação na concepção elitista é perce- bida, considerada como mero objeto, passiva, que facilmente se deixa manipular. É preciso ultrapassar essa barreira conformista. A EJA, para muitos sujeitos, pode ser talvez a única possibilidade para chegar a esse objetivo. A educação, para que se torne concreta e favoreça a mudança, necessita ser pen- sada na perspectiva crítica, a qual considera os conhecimentos que os indivíduos têm incorporado aos, novos conhecimentos, modificando formas de ser, pen- sar e agir, contribuindo para a transformação. Na pedagogia crítica, a educação é produto das interações humanas, que se dá no meio social concreto. Dessa relação social, emergem os desafios, conflitos e os saberes que devem ser apren- didos pelos sujeitos. Ao analisarmos a Educação de Jovens e Adultos em um sentido amplo, to- mando como referência a pluralidade dos sujeitos que dela fazem parte, constatamos que, longe de estar servindo à democratização das oportu- nidades educacionais, ela se conforma no lugar dos que “podem menos e também obtêm menos”. [...] De um modo geral, os sujeitos da EJA são trata- dos como uma massa de alunos, sem identidade, qualificados sob diferen- tes nomes, relacionados diretamente ao chamado “fracasso escolar”. Arroyo (2001) ainda chama a atenção para o discurso escolar que os trata, a prio- ri, como os repetentes, evadidos, defasados, aceleráveis, deixando de fora dimensões da condição humana desses sujeitos, básicas para o processo educacional. Ou seja, concepções e propostas de EJA comprometidas com a formação humana passam, necessariamente, por entender quem são esses sujeitos e que processos pedagógicos deverão ser desenvolvidos para dar conta de suas necessidades e desejos (ANDRADE, 2004, s/p). Disponível em: <http://www.cereja.org.br/arquivos_upload/saltofuturo_eja_ set2004_progr3.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2014. RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 A educação deve ser compreendida na totalidade, desde que nascemos nos faze- mos humanos por meio dela, ou seja, inicia na infância e atinge a idade adulta. A diferença existente entre os conhecimentos da criança, do jovem e adulto está na experiência adquirida e acumulada pela humanidade, como enfatiza Saviani em a Pedagogia Hitórico-Crítica (2008). A Educação de Jovens e Adultos em linhas gerais envolve os processos forma- tivos cuja natureza implica no próprio entendimento do que é educação, assim, sua efetivação se dá a partir na interação entre sujeitos. Nesse aspecto, [...] de um lado, tem-se o Estado, as organizações da sociedade civil e o setor privado, entre outros, e, de outro, uma gama de sujeitos tão diversificada e extensa quanto são os representantes das camadas mais empobrecidas da população (negros, jovens, idosos, trabalhadores, populações rurais etc.). Estamos falando de trabalhadores e não-tra- balhadores; das diversas juventudes; das populações das regiões me- tropolitanas e rurais; dos internos penitenciários, contingentes esses que, em sua grande maioria, são formados por jovens; afrodescenden- tes; como também portadores de necessidades especiais, entre outros (ANDRADE, 2004, s/p). A autora enfatiza que construir uma Educação de Jovens e Adultos que pro- duza seus processos pedagógicos implica considerar quem são os sujeitos que frequentam essa modalidade de ensino, bem como pensar na escola adequada a atender essa demanda, normalmente já excluída do processo de aquisição do conhecimento na idade devida. A EJA deve garantir aos cidadãos que a procuram a valorização dos conheci- mentos da prática social, ou seja, trabalhar na perspectiva de que o conhecimento existente necessita de aprofundamento teórico-prático, com base na sistematiza- ção desse conhecimento, o que significa que a escola exerce uma função social e precisa cumpri-la no sentido de promover a formação humana e profissional. As práticas pedagógicas devem mobilizar “conhecimentos que partam da vida desses sujeitos; que demonstre interesse por eles como cidadãos e não somente como objetos de aprendizagem” (ANDRADE, 2004, s/p) grifo da autora. Sabemos que quando os indivíduos se matriculam na modalidade da EJA trazem muitas expectativas e buscam atingi-las. O currículo precisa visar à par- ticipação desses jovens e adultos, respeitá-los nos seus direitos mais essenciais, direitos que para alguns foram negados, dependendo do contexto histórico, para Educação de Jovens e Adultos: Outros Sentidos, Outros Significados Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 outros, por questões socioeconômicas, ou ainda, que por necessidades de traba- lho, tiveram que abandonar a escola. É sabido que o objetivo da educação escolar é o de transmissão do conteúdo produzido pelos homens e que, a partir daí, tem a função de desenvolver no aluno a capacidade de expressar-se, de compreender os símbolos, de codificar e deco- dificar o código da língua escrita, de interpretar a realidade para intervir nela. Outra questão é a possibilidade de formar para atitudes mais autônomas quando se refere, por exemplo, à tomada de decisões, à participação política, dentre outros aspectos. É por isso que não se pode trabalhar a infantilização nos processos de educação de jovens e adultos, a leitura e a escrita requerem organi- zação, sistematização e, principalmente, ensino por parte do professor. Essa perspectiva nos faz pensar na responsabilidade e no compromisso do docente frente ao trabalho da EJA. Sobre essa questão, Paulo Freire orienta sobre o uso de textos na alfabetização de jovens e adultos. Conforme o educador, “o comando da leitura e escrita se dá a partir de palavras e de temas significativos à experiência comum dos alfabetizandos e não de palavras e temas apenas ligados à experiên- cia do educador” (FREIRE, 1989, p. 18). A escola possui uma função que lhe é específica, adotar mecanismos de con- vivência, considerar a diversidade cultural dos sujeitos, atendendo às dimensões da aprendizagem e do desenvolvimento, o que favorece para a valorização des- ses. Essa questão também implica na formação de professores. Os docentes que trabalham com a EJA, ou ainda, aqueles que irão trabalhar, necessitam conhecer as concepções teóricas e históricas dos processos que envol- veram a necessidade e a preocupação com a formação desses indivíduos. Precisam também conhecer as formas de atendimento, planejar suas ações, tendo em vista uma demanda que requer máxima atenção, favorecer para que
Compartilhar