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Contestação Traabalhista (1)

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DA 2ª VARA DO TRABALHO DE GOIÂNIA/GO
Autos nº 0010001-10.2017.518.0002
Maria José Pereira, brasileira, casada, inscrita no CPF sob n° 055.222.345-61, e RG sob n° XX.XXX.XXX-X, residente e domiciliada na Rua Girassol, n° 380, Apartamento 301, bairro Mendanha, na comarca de Goiânia, estado de Goiás, CEP 74.000-000, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, por meio de sua advogada que a esta subscreve, apresentar a seguinte:
CONTESTAÇÃO
Pelos fatos e fundamentos que passa a expor
I – SINTESE FÁTICA
O autor alega em sua inicial ter iniciado suas atividades na data de 01/02/2012 e conforme estipulado em contrato, cumpria sua jornada de 12 horas de trabalho por 36 de descanso, das 07:00h às 19:00h, tendo apenas 30 minutos de pausa intrajornada para almoçar.
Alega que em seu contrato de trabalho firmado com a dona Maria, hora ré, não constavam nenhum acordo ou convenção coletiva de trabalho que o permitia executar de forma legal os horários que cumpria, e além disso, devido as condições de sua jornada, trabalhou em alguns domingos e feriados e nunca recebeu o pagamento em dobro assegurado pela Lei 605/49.
Relata que no dia 06/02/2017 teve uma discussão com a dona Maria sobre os horários de banho do Sr. Antenor, e que a ré utilizou como justificativa para a dispensa por justa causa, a sua insubordinação, uma vez que também deixava que o Sr. Antenor assistisse televisão, ao contrário do que ordenava a ré, sendo que nunca tivera sido advertido frente aos seus supostos atos de insubordinação.
Sustenta que a ré violou o princípio da dignidade da pessoa humana, sua honra e sua imagem, causando dano através de suas ações, cometendo, portanto, ato ilícito, ficando obrigada a repará-lo em danos morais. 
Alega que por ter sido dispensado injustamente e não ter recebido seus direitos dentro dos prazos, faz jus à multa referente ao art. 477 da CLT. Por fim, solicita a gratuidade da justiça, uma vez que encontra-se desempregado e não pode arcar com as custas processuais.
II – DA REALIDADE DOS FATOS
1) JORNADA DE TRABALHO 
É certo que somente com o advento da Lei Complementar n. 150/15 é que passou a existir no ordenamento jurídico brasileiro previsão legal para o trabalhador doméstico poder adotar a jornada de trabalho no sistema 12x36, no entanto Excelência, no contrato de trabalho firmado entre as partes constava expressamente esta modalidade de jornada, inclusive sem qualquer oposição do autor, conforme documento anexo.
Nesse caso, não se aplica o entendimento da súmula 444 do TST, em que a jornada de trabalho no sistema 12x36 será permitida desde que ajustada mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho. A mera existência de pactuação bilateral escrita realizada entre as partes antes ou desde a Emenda Constitucional n. 72/2013 é o suficiente. Nesse sentido é a jurisprudência: 
PROCESSO Nº TST-AIRR-1272-74.2012.5.03.0139
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. JORNADA ESPECIAL DE PLANTÃO (12X36 HORAS). PREVISÃO EM NEGOCIAÇÃO COLETIVA TRABALHISTA PARA A GENERALIDADE DOS EMPREGADOS (SÚMULA 444, TST), SALVO OS EMPREGADOS DOMÉSTICOS QUE SEJAM CUIDADORES DE IDOSOS OU DOENTES DA FAMÍLIA EMPREGADORA, RECENTEMENTE ABRANGIDOS PELA EC Nº 72, PUBLICADA EM 03.04.2013,CASOS EM QUE PODE PREVALECER A MERA PACTUAÇÃO BILATERAL ESCRITA ENTRE AS PARTES, REALIZADA ANTES OU DESDE A EC Nº 72/2013. A jurisprudência pacificou (Súmula 444, TST) que, no tocante ao mercado de trabalho no Brasil na área pública ou privada, considera-se válida, excepcionalmente, a jornada de trabalho de plantão denominada 12x36 horas, desde que prevista em lei ou em CCT ou ACT. No tocante à adoção dessa jornada de plantão (12x36 horas) no âmbito privado doméstico (Lei nº 5859/72), relativamente ao mister dos cuidadores de doentes ou idosos da família empregadora, em conformidade com a nova EC nº 72/2013, não se aplica o rigor formalístico da Súmula 444 do TST, podendo tal jornada ser pactuada por mero acordo bilateral escrito entre as partes. É que, neste caso, a família não visa estrito interesse pessoal e familiar, mas realiza também funções de assistência social e de seguridade social, na forma do caput do art. 194 da Constituição ("...conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social" – grifos acrescidos). A família, nesta relação doméstica de caráter assistencial e de seguridade social, agrega ou até mesmo substitui função e dever do Estado (art. 194, caput; art. 197; art. 203, caput e seus incisos; art. 226, caput; art. 227, caput), ressaltando-se, ademais, que o amparo devido aos idosos – seu direito constitucional fundamental (art. 230, caput, CF/88) – deve preferencialmente, segundo o Texto Máximo da República (art. 230, §1º, CF/88), ser executado em seus lares. Agravo de instrumento desprovido.
Portanto, resta claro que a modalidade de trabalho prevista no contrato é perfeitamente aceita e possível conforme entendimento jurisprudencial, sendo portanto indevido o pagamento de horas extras, e que a ré agiu de boa-fé ao contratar seus trabalhos no regime de 12x36, visto que em momento algum houve manifestação contrária do autor referente a essa modalidade. 
2) DOS TRABALHOS AOS DOMINGOS E FERIADOS 
Ao contrário do que alega o auto em sua inicial, o argumento de que faz jus ao direito de receber em dobro os domingos e feriados trabalhados em razão de não ter tido folga compensatória não merece prosperar, uma vez que que conforme entendimento jurisprudencial do TST, o cumprimento da escala de 12x36 afasta o direito do empregado à folga compensatória, os feriados trabalhados já se encontram devidamente compensados pelo regime adotado.
3) DO INTERVALO INTRAJORNADA
Foi infeliz o autor ao alegar que nunca teve pausa intrajornada. A ré assegura que o autor sempre fez pausa superior a uma hora para sua refeição e além disso, veja Excelência, não é tarefa difícil pensar que, o autor cuidava de um idoso enfermo e que este, por sua vez encontrava-se debilitado para realizar qualquer atividade que exigisse esforço, portanto não lhe restavam muitas opções além de permanecer em repouso, logo, quando o enfermo dormia, o autor também parava suas atividades laborativas, portanto, não há que se falar em pagamento de horas extras.
4) DA DISPENSA POR JUSTA CAUSA 
A dispensa por justa causa, ao contrário do que diz o autor em sua inicial, se deu não somente em virtude de sua insubordinação diante das ordens da reclamada, mas principalmente por ter aparecido em seu último dia para trabalhar, completamente embriagado. A Consolidação das Leis do Trabalho prevê em seu artigo 482, alínea “f”:
Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador:
(...)
f) embriaguez habitual ou em serviço;
(...)
Diversas vezes a reclamada o advertiu verbalmente em razão de seus atos de insubordinação como também no dia em que apareceu para trabalhar embriagado, portanto não existem provas documentais a serem juntadas, pois a ré nunca fora informada da necessidade de documentar tais advertências, no entanto, seu próprio marido, é a prova de toda a dificuldade que enfrentava e de quantas vezes ela tentou, de forma amigável, chegar a um acordo e resolver os problemas, que de nada adiantou.
5) DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
O reclamante requer o pagamento de indenização por danos morais argumentando que a reclamada apôs na sua CTPS informação de que a rescisão do contrato de trabalho se deu por justa causa.
No entanto, para que haja o dever de indenizar é necessária a presença concomitante de três elementos, quais sejam: dano, nexo de causalidade e culpa (arts. 186 e 927 do Código Civil).
Não bastasse, ainda nesse sentido, prevê o art. 29, § 2º, alínea c, da CLT:
§ 2 - As anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social serão feitas:
(...)
c) no caso de rescisão contratual;
(...)
No caso em tela, a reclamada agiu em conformidade com a CLT, e o reclamantenão demonstrou a existência de qualquer constrangimento que tenha sido causado pela aposição da informação da dispensa por justa causa em sua CTPS. Não aduziu que foi impedido de obter novo emprego por este fato, portanto, é indevido a indenização por dano moral.
6) DA MULTA DO ARTIGO 477, §8º, DA CLT
O reclamante fundamenta seu direito ao recebimento do pagamento da referida multa em razão da reversão da justa causa, que ensejaria o seu deferimento, no entanto esse argumento não merece prosperar, primeiramente porque restou provada que a sua dispensa por justa causa ocorreu de maneira correta e em conformidade com a Lei trabalhista vigente, portanto a reversão da justa causa não é aplicável ao caso em tela. Além disso, ficou comprovado que a reclamada efetuou o pagamento das parcelas rescisórias dentro do prazo legal. Nesse sentido é a jurisprudência:
 
PROCESSO TRT/SP Nº 0000163-90.2015.5.02.0351 RECURSO ORDINÁRIO DA 01ª VT/JANDIRA RECORRENTES : 1º - FRIOPART ARMAZÉNS FRIGORÍFICOS LTDA 2º - WANDERLEI NERI FABRICIO RECORRIDO : FROZEM – ARMAZÉNS FRIGORÍFICOS LTDA EMENTA MULTAS DOS ARTIGOS 467 e 477 DA CLT. REVERSÃO DA JUSTA CAUSA. A multa do artigo 477 da CLT refere-se exclusivamente ao atraso no pagamento de parcelas rescisórias incontroversas. No caso, as verbas que o empregador entendia devidas foram quitadas dentro do prazo, sendo indevida a multa. A reversão da dispensa por justa causa não implica na condenação da multa do artigo 477 da CLT, conforme Súmula nº 33, item I deste Tribunal Regional. E uma vez estabelecida a controvérsia em torno do direito à percepção das verbas rescisórias, indevida a aplicação da multa do artigo 467 da CLT.
Portanto Excelência, resta claro que é indevida a multa do art. 467 da CLT, uma vez que ele se refere exclusivamente ao atraso das parcelas rescisórias, o que não houve. 
7) DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
O art. art. 791-A, da CLT, é objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal (ADI n. 5766), razão pela qual não deve ser aplicado ao caso sob discussão.
Por fim, ainda que prevaleçam as disposições da Lei n. 5.584/ 70 quanto ao tema, os honorários somente seriam devidos em caso de o advogado do trabalhador ser do sindicato da categoria ou ter sido por ele habilitado, o que não ocorre.
8) DA JUSTIÇA GRATUITA
A ré é encontra-se em dificultosa condição financeira diante dos gastos com o seu marido, enquadrando-se nos ditames da Lei n. 1.060/50 e do disposto no art. 790, CLT, razão pela qual pugna pela assistência judiciária gratuita.
III – DOS PEDIDOS 
Diante do exposto, requer:
A) Seja julgada TOTALMENTE IMPROCEDENTE a presente reclamação trabalhista 
B) Concessão da gratuidade da justiça, nos termos do art. 790 da CLT
C) Na oportunidade, pugna pela produção de prova oral
Termos em que,
Pede deferimento.
Goiânia, __/__/___
Nome do Advogado/OAB 
Assinado Digitalmente

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