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BIOQUÍMICA – Rafaela Negri Metabolismo do glicogênio Características gerais: -O glicogênio é a reserva de glicose dos tecidos animais. Os maiores estoques encontram-se no fígado e músculo, sendo que a maioria das células armazena glicogênio para consumo próprio. -Fígado: o Mais alta concentração o 100g perfazem 10 % peso do fígado de um adulto bem alimentado o Manutenção da glicemia -Músculo: o Maior quantidade o 400 g perfazem 1-2% peso do músculo em repouso o Obtenção de energia durante o exercício físico Estrutura do glicogênio: -É constituído por unidades de α-D-glicose unidas por ligações glicosídicas tipo α-1,4. Após 8 a 10 resíduos, há uma ramificação contendo ligação do tipo e α-1,6. Sua estrutura é similar à amilopectina (porção ramificada do amido). Vantagens: -O glicogênio é a maneira mais conveniente de estocar glicose dentro da célula, pois não causa impacto sobre a pressão osmótica celular (a pressão osmótica depende do número de moléculas polares e não do tamanho). -Cada molécula de glicogênio contém milhares unidades de glicose. -Estima-se que cada grama de glicogênio contenha 2,5 a 3g de água associada. Localização: -O glicogênio está associado à glicogenina (proteína central ao redor da qual estão as fileiras de unidades de glicose). -Cada partícula de glicogênio contém cerca de 55 mil unidades de glicose. De 20 a 40 partículas se agrupam para formar grandes grânulos citoplasmáticos ou rosetas. -Os grânulos de glicogênio são agregados complexos de glicogênio e de enzimas necessárias para a síntese e a degradação do glicogênio e aquelas envolvidas na regulação destes processos. -Os processos de síntese e degradação ocorrem no citosol. Papel no controle da glicemia: FÍGADO: -No Estado Absortivo (Pós-prandial ou Alimentado): o Entre 30min a 1 hora após a refeição rica em carboidratos, a glicemia eleva-se de 80- 108mg/dL (~5 a 6 mM) para 120 a 160mg/dL (~7 a 9mM). o O fígado passa a ser um consumidor de glicose, retendo 60% da glicose trazida pelo sistema porta. o Há um aumento da glicose-6-P, devido à ativação da glicocinase, em decorrência da maior disponibilidade de glicose (a concentração intracelular eleva-se de 5mM, 80 a 100mg/dL, para 10 a 20 mM, 180 a 360mg/dL). o Há aumento da glicólise (após uma refeição rica em carboidrato) e redução da gliconeogênese. BIOQUÍMICA – Rafaela Negri o Há um aumento na síntese de glicogênio (glicogênese) e, consequentemente, do estoque de glicogênio (correspondente a 80g – 100g). o A degradação do glicogênio (glicogenólise) está reduzida. o O excesso de glicose é usado para a síntese de ácidos graxos e glicerol, formando triacilgliceróis (e VLDL). o Há, também, aumento da produção de NADPH, pela via das pentoses, para a lipogênese hepática (a via das pentoses consome de 5 a 10% da glicose hepática). o O cérebro consome 150g/dia de glicose. o Outros tecidos glicose-dependentes consomem de 30 a 40g/dia. -No Estado Pós-Absortivo (Jejum) e Jejum Prolongado (Desnutrição ou Inanição): o Aproximadamente 2 horas após a refeição, a glicemia cai para 80 a 100 mg/dL, devido a captação de glicose pelos tecidos (principalmente pelo fígado, músculo e tec. adiposo) . o O fígado funcionará deixa de ser o consumidor de glicose, funcionando como um produtor de glicose. o A glicogênese está inibida. A glicogenólise hepática é a fonte de glicose nas primeiras horas de jejum. O estoque hepático é depletado entre 24h – 30h, sendo quase exaurido entre 10h e 18h de jejum. o A glicólise está inibida e a gliconeogênese inicia entre 4h e 6h de jejum (precursores: glicerol, lactato e aminoácidos). Em cerca de 16h de jejum, o glicogênio e gliconeogênese contribuem igualmente para a manutenção da glicemia. A partir das 16 horas de jejum, a gliconeogênese tem um papel fundamental na manutenção da glicemia no jejum mais prolongado, quando o glicogênio foi depletado. o Mesmo em um jejum prolongado a glicemia não diminui tanto: o Após 3 a 5 dias de jejum, o cérebro usa apenas 1/3 da glicose que utilizava no estado alimentado (40 g/dia). Os corpos cetônicos passam a ser um importante combustível. MÚSCULO: -Repouso/Alimentado: o A insulina estimula a entrada de glicose, via GLUT4. O músculo capta de 70 a 80% da glicose estimulada pela insulina. o A glicose-6-fosfato é usada para a glicogênese, especialmente nos músculos exercitados, pois os estoques foram reduzidos pelo exercício. o A síntese de glicogênio é muito mais rápida na primeira hora pós-exercício. Após este período, a taxa de síntese permanece elevada até que o estoque esteja, no mínimo, igual àquele do pré-exercício. o Quanto mais glicogênio for depletado, mais rápida é a taxa de glicogênese. Os indivíduos treinados sintetizam mais rapidamente o glicogênio do que indivíduos não-treinados. -Repouso/Jejum: o A redução dos níveis de insulina diminui a utilização de glicose. o Há redução da glicólise e da glicogênese. o Os ácidos graxos são o substrato preferencial. o Durante o jejum noturno ou de longa duração, se o indivíduo permanecer em repouso, há pequenas mudanças no BIOQUÍMICA – Rafaela Negri estoque de glicogênio, pois o músculo não é sensível ao glucagon. Papel no exercício: MÚSCULO: -O músculo esquelético em exercício tem a capacidade de captar glicose independente da insulina. O exercício aumenta a mobilização dos GLUT4, por mecanismo ainda desconhecido -Antes do aumento do fluxo sanguíneo estimulado pelo exercício e do aumento da oferta de substratos e O2, o glicogênio é convertido à lactato. O estoque é esgotado em 2 min de exercício anaeróbico. ® Em um exercício de baixa/média intensidade: -A taxa de glicólise pode aumentar 30 a 40 vezes. A maior parte é usada na glicólise aeróbica. A oxidação de ácidos graxos e glicose são predominantes. -Por até 40 min, a glicogenólise hepática é a principal fonte de glicose para o músculo. Entre 40 e 240 min, a saída de glicose pelo fígado diminui e a oxidação de ácidos graxos aumenta no músculo. ® Em um exercício de alta intensidade: -Ocorre glicogenólise e produção de lactato. Durante a atividade extenuante, a necessidade de ATP ultrapassa a capacidade oxidativa do músculo, sendo, portanto, a glicólise anaeróbica também importante. ® Ciclo de Cori: Glicogênese: -Síntese do glicogênio -O glicogênio é sintetizado a partir da α-D-glicose ligada ao UDP, a UDPglicose. A UDP-glicose é a fonte de resíduos de glicose para a formação de glicogênio. Síntese de UDP-Glicose: 1º passo: A α-D-glicose é fosforilada pela glicocinase (ou hexocinase) a glicose-6- fosfato 2º passo: A fosfoglicomutase reposicionada o fosfato, formando glicose-1-fosfato 3º passo: A UDP-glicose é formada pela ação da UDP-glicose-pirofosforilase. A hidrólise do PPi pela pirofosfatase inorgânica garante a formação da UDP-glicose. -A glicogênio sintase não consegue iniciar a formação de glicogênio a partir de glicose livre como aceptora de glicose da UDP-glicose. Ela necessita de um iniciador (primer), que é o segmento inicial para a síntese de glicogênio. o Quando não há depleção total de glicogênio: um fragmento de glicogênio será o primer. o Quando há depleção total de glicogênio: A proteína glicogenina será aceptora de resíduos de glicose da UDP-glicose. Ela catalisa a sua própria glicosilação (autoglicosilação), até a formação de uma cadeia curta de glicogênio, com 8 resíduos de glicosil, que será o primer. Futuramente, o primer irá receber resíduos de glicosil da enzima glicogênio sintase. Alongamento do glicogênio: -A glicogênio sintase adiciona resíduos de glicose da UDP-glicose a partir da extremidade não- redutora da molécula de glicogênio (primer ou ramificação). Forma-se uma ligação α-1,4 entre a o carbono 1 da glicose da UDP-glicosee o carbono 4 da glicose da extremidade não redutora do glicogênio. BIOQUÍMICA – Rafaela Negri Ramificação do glicogênio: -Quando a cadeia atinge 11 resíduos de comprimento, ocorre a formação de uma ramificação na molécula do glicogênio. -As ramificações são formadas pela ação da enzima amilo-α(1,4)-α(1,6)- transglicosidase (ou enzima ramificadora). Esta enzima transfere um fragmento de 6 a 8 resíduos de glicose, da extremidade não-redutora da cadeia de glicogênio (quebrando ligações α-1,4), para a outro resíduo não-terminal na cadeia, unindo-os por meio de uma ligação α-1,6, gerando, assim uma nova extremidade não-redutora. -As ramificações são feitas para aumentar a solubilidade do glicogênio e a velocidade de síntese e degradação desta molécula, uma vez que criam- se mais extremidades não-redutoras, polares, que são os sítios onde as enzimas atuam. Glicogenólise: Encurtamento do Glicogênio: -A enzima glicogênio fosforilase quebra as ligações α-1,4 por fosforólise (adição de Pi), a partir das extremidades não-redutoras, até que restem apenas 4 resíduos de glicose, em cada cadeia, antes da ramificação. Esta estrutura restante é chamada de dextrina-limite. A glicose é liberada como glicose-1-fosfato. A enzima glicogênio fosforilase usa como coenzima o piridoxal-fosfato Desramificação do Glicogênio: -A ramificação é removida pela enzima de desramificação, que apresenta duas atividades: o Atividade oligo-α(1,4)-α(1,4)-glican- transferase: Remove um segmento contendo 3 dos 4 resíduos de glicose ligados à ramificação, transferindo-o para a extremidade não redutora da outra cadeia. o Atividade amilo-α(1,6)-glicosidase: Remove o resíduo de glicose unido por ligação α-1,6, liberando glicose livre. -A glicogênio fosforilase completa, então, finaliza a degradação do glicogênio, liberando glicose-1- fosfato -A glicose-1-fosfato, liberada do glicogênio a partir da ação da glicogênio-fosforilase, é convertida a glicose-6-fosfato pela fosfoglicomutase -No fígado: a glicose-6-fosfato será convertido em glicose pela acao da enzima glicose-6-fosfatase. A reação ocorre no REL. A glicose-6-fosfato é transportada para o REL pela glicose-6- fosfatotranslocase. -No músculo e demais tecidos: não há glicose-6- fosfatase, então a glicose-6-fosfato servirá para o fornecimento de energia -O glicogênio também pode ser degradado no interior do lisossomos, pela enzima maltase ácida (ocorre com 1 a 3% do glicogênio). A deficiência desta enzima resulta em acúmulo de glicogênio nos lisossomos = Doença de Pompe Regulação da glicogenólise: -A enzima marcapasso da degradação do glicogênio é a glicogênio-fosforilase A (está ativa na forma fosforilada) -Ela é ativada pela glicogênio-fosforilase-cinase, que também estará ativa na forma fosforilada -PKA é responsável pela fosforilação (ativação) da glicogênio-fosforilase-cinase -Logo, o glucagon, por meio do seu receptor no fígado, e a adrenalina, por meio dos receptores beta adrenérgicos nos múculos e fígado, vão promover a formação do AMPc via proteína Gs alfa, que irá ativar a PKA, que vai promover a BIOQUÍMICA – Rafaela Negri ativação da glicogênio-fosforilase-cinase, que por sua vez irá fosforilar e ativar a glicogênio- fosforilase A, provendo, dessa forma, a degradação do glicogênio -No musculo e no fígado, as concentrações de glicose-6-fosfato e ATP inibem alostericamente a glicogênio-fosforilase -No fígado, a concentração de glicose livre também vai inibir a ação da glicogênio-fosforilase -No musculo, o AMP é um ativador alostérico da glicogênio-fosforilase -No fígado, a glicogênio-fosforilase A funciona como um sensor de glicose. A ligação da glicose ao sitio alostérico dessa enzima faz com que a enzima exponha seus sítios de fosforilação Regulação da glicogênese: -Enzima marcapasso da síntese do glicogênio é a glicogênio-sintase (ativa na forma defosforilada) -O glucagon e a adrenalina vão promover a formação do AMPc, que irá ativar a PKA. Ela fosforila e inativa a enzima glicogênio-sintase -A glicogênio-sintase também é regulada pela GSK-3 (glicogênio-sintase-cinase), que irá fosforilá- la e inativa-la -A GSK-3 também é regulada por fosforilação (pela PKB) -A insulina, a adrenalina e o glucagon agem sobre a fosfoproteína-fosfatase-1 (PP1) -A PPI, quando ativada pela insulina, é a enzima que defosforila e inativa a fosforilase-cinase e a glicogênio-fosforilase (enzimas da degradação do glicogênio) e defosforila e ativa a glicogênio-sintase (síntese do glicogênio). Quando ativada pela adrenalina e glucagon, ocorre o contrário. -Logo, a insulina vai promover a síntese do glicogênio e a adrenalina e glucagon promovem a degradação do glicogênio -Glicogênio-sintase é uma enzima alostérica regulada pelos níveis de glicose-6-fosfato, tanto no fígado, quanto no musculo Glicogenoses: DEFINIÇÃO: -São doenças do armazenamento do glicogênio caracterizadas por uma falha genética em alguma das proteínas envolvidas em seu metabolismo. Cada tipo de glicogenose diz respeito a falha em uma diferente enzima TIPOS: Doença do Von Gierke: -Glicogenose tipo I -É caracterizada pela deficiência de glicose-6- fosfatase -É uma glicogenose hepática -Herança autossômica recessiva -Hipoglicemia severa -Hepatomegalia -Insuficiência renal -Acidose lática -Hiperlipidemia -Incidência de 1 a cada 100000 nascimentos o Tipo I a: -Deficiência da subunidade catalítica -Cerca de 80% dos casos da doença o Tipo I b: -Deficiência do transportador de glicose-6- fosfato -Cerca de 20% das ocorrências da doença BIOQUÍMICA – Rafaela Negri -Neutropenia Doença de Pompe: -Glicogenose tipo II -Deficiência da alfa glicosidade ácida (lisossomal) -Acúmulo do glicogênio nas vesículas lisossomais -É uma glicogenose hepatomuscular -Hipotonia muscular -Insuficiência cardíaca (já que o coração é um músculo), podendo levar à morte -Herança autossômica recessiva -Incidência entre 1 a cada 100000 e 1 a cada 300000 habitantes Doença de Cori: -Glicogenose tipo III -Deficiência de Amilo-1,6-gicosidase (desramificadora) ® responsável por transferir as 3 ultimas glicoses do radical para a cadeia principal -Acúmulo de moléculas de glicogênio com ramificações curtas -Hipoglicemia -Hepatomegalia -Miopatias -É uma glicogenose hepatomuscular -Herança autossômica recessiva -Incidência de 1 a cada 100000 nascimentos Glicogenose A: -“Glicogenose 0” -Alteração na glicogênio-sintase -Doença hepática (principalmente, mas também afeta o músculo, causando câimbras, por exemplo) -Exceção por ser uma deficiência na síntese e não na degradação -Hipoglicemia severa -Hipercetonemia (jejum) -Hiperglicemia pós prendial (depois da alimentação) -Ausência de hepatomegalia Doença de MacArdle: -Glicogenose tipo V -Deficiência na glicogênio fosforilase muscular -Glicogenose muscular -Fadiga associada ao exercício -Cãibras Doença de Hers: -Glicogenose tipo VI -Deficiência na glicogênio fosforilase hepática -Glicogenose hepática -Hepatomegalia -Hipoglicemia de jejum TRATAMENTOS: -Alimentação balanceada, rica em proteínas, evitando picos de glicemia e com frequência.
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