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MATERIAL DIDÁTICO: AULA -2 MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DE REQUERIMENTOS DE ENERGIA PARA ADOLESCENTES E ADULTOS - I Faculdade Estácio de Sergipe - Fase Nutrição e Dietética Prof.ª Liliane Martins 2019.1 1 ENERGIA E METABOLISMO A energia é definida como a capacidade de realizar trabalho. As necessidades energéticas são definidas como a ingestão de energia necessária para manter o balanço energético em pessoas saudáveis de idade, sexo, peso e estatura definidos, e grau de atividade física compatível com a boa saúde. O peso corporal é um indicador de adequação ou inadequação de energia. 2 CALORIA: É a unidade padrão para definir energia. É a quantidade de energia calorífica necessária para elevar de 14,5ºC a 15,5ºC a temperatura de 1g de água. A quilocaloria equivale a 1000 calorias (kcal ou cal) Quantidade de energia calorífica requerida para elevar em 1ºC a temperatura de 1kg/H2O. Joule é uma unidade de medida de calor mecânico que equivale a 4,1855 kcal (cerca de 4,2 kcal). Ex: 10kcal = 10 x 4,2 = 42kj. 3 CALORIAS UTILIZAÇÃO DO ALIMENTO COMO FONTE DE ENERGIA A liberação de energia dos alimentos envolve 3 etapas: Alimento (CHO, LIP e PTN) DIGESTÃO (glicose e frutose, ácido graxo e glicerol e aminoácidos) ABSORÇÃO (via porta e vasos linfáticos) METABOLISMO (acetil coenzima A C. Krebs) (liberação H cadeia respiratória) Energia (ATP) 4 METABOLISMO BASAL É o consumo de energia pelo organismo em jejum e em estado de repouso físico e mental, à temperatura de 200C. Deve ser determinada pela manhã com o indivíduo acordado, após 8 horas de sono, antes de qualquer atividade. Representa a perda inevitável de calor devido ao metabolismo celular e a manutenção das funções fisiológicas como circulação, respiração, digestão e tônus muscular. 5 METABOLISMO BASAL Em pessoas sedentárias, o metabolismo basal corresponde de 60 a 70% do gasto energético total/ dia. O fígado é o órgão metabolicamente mais ativo do corpo. O metabolismo basal depende de fatores genéticos, de atividade do sistema simpático, da massa corpórea magra, da quantidade de tecido adiposo, da temperatura do corpo, dentre outros. 6 COMPONENTES DO GASTO ENERGÉTICO TOTAL (GET) A energia é despendida pelo corpo humano na forma de (Levine e Kotz, 2005): Taxa metabólica basal 60 a 75% do GET Efeito térmico do alimento 10% do GET Termogênese por atividade 30% do GET 7 + + 8 GASTO ENERGÉTICO BASAL E DE REPOUSO Gasto energético Basal (GEB) Reflete a quantidade de energia utilizada durante 24 h enquanto se descansa física (deitado) e mentalmente em um ambiente termoneutro que impede a ativação dos processos de geração de calor como calafrios. Gasto energético de Repouso (GER) É a energia despendida nas atividades necessárias para manter as funções corporais normais e a homeostase. 9 FATORES QUE AFETAM O GER Tamanho e Composição corporal Idade Sexo Estado hormonal Outros fatores: cafeína, álcool, nicotina, extremos na temperatura ambiente. 10 TAMANHO E COMPOSIÇÃO CORPORAL Pessoas com uma área de superfície corporal maior possuem uma taxa metabólica maior. A quantidade de massa corporal magra está altamente correlacionada com o tamanho corporal total. A massa livre de gordura (MLG) – tecido metabolicamente ativo no corpo é o principal determinante do GER (80%). 11 COMPOSIÇÃO CORPORAL Métodos de alto custo e pouca praticidade: Pesagem hidrostática Mede a densidade corporal da pessoa e é considerada ideal para medir a composição corporal Pletismografia de deslocamento de ar. Ex.: Bod Pod Absorciometria de raio X de dupla energia (DEXA) – Varredura que estima minerais do osso, gordura e tecido mole livre de gordura) Métodos mais práticos e menos preciso: Antropometria de dobras cutâneas (ADC) Análise de bioimpedância elétrica (BIA) 12 COMPOSIÇÃO CORPORAL 13 BOD POD DEXA – Semelhante a Densitometria óssea BIA IDADE E SEXO Como a taxa metabólica de repouso (TMR) é determinada pela MLG, esta é mais alta durante os períodos de rápido crescimento, principalmente durante o primeiro e segundo anos de vida. Após início da idade adulta, há um declínio na TMR de 1 a 2% por kg de MLG por década (Keys et al.,1973). As mulheres tem taxa metabólica 5 a 10% menores que as dos homens de mesmo peso e estatura. POR QUE ? 14 ESTADO HORMONAL Distúrbios endócrinos Ex: hiper e hipotireoidismo Sistema nervoso simpático Ex: Excitação emocional ou estresse Ciclo menstrual Ex: Fase lútea (período entre a ovulação e o inicio da menstruação) Gravidez Em média a TMB aumenta 11 cal/semana durante a gestação 15 EFEITO TÉRMICO DO ALIMENTO (ETA) O ETA é o aumento no gasto energético associado ao consumo de alimentos, sendo responsável por aproximadamente 10% do Gasto Energético Total (GET) (Institute of Medicine, 2002;2005). Também pode ser chamado: Termogênese induzida pela dieta (TID), Ação dinâmica específica (ADE) ou Efeito específico do alimento (EEA). 16 SUBCOMPONENTES DO ETA Termogênese obrigatória: Energia necessária para digerir, absorver e metabolizar os nutrientes, inclusive a síntese e armazenamento de PTNs, LIPs e CHOs. Termogênese facultativa ou adaptativa: É o “excesso” de energia gasta, além da termogênese obrigatória, e acredita-se que seja atribuída a ineficiência metabólica do sistema estimulado pela atividade nervosa simpática. 17 FATORES QUE AFETAM O ETA O ETA varia com a combinação da dieta, sendo maior após o consumo de carboidratos e proteínas que o de gordura. A gordura é metabolizada eficientemente, com apenas 4% de perda, comparada a 25% de perda quando o carboidrato é convertido em gordura para armazenamento. Estes fatores podem contribuir para as características da gordura que promove a obesidade (Prentice, 1995). 18 TERMOGÊNESE POR ATIVIDADE (TA) A TA é a energia gasta durante exercício físico e esportes. Termogênese por atividade de não exercício (TANE) é a energia gasta durante o dia a dia (Levine e Kotz, 2005). A contribuição da atividade física é o componente mais variável do GET, o qual pode ser 100 kcal/dia em pessoas sedentárias ou maior que 3000 kal/dia em pessoas muito ativa. 19 FATORES QUE AFETAM A TERMOGÊNESE POR ATIVIDADE A TA varia consideravelmente, dependendo do tamanho corporal e da eficiência dos hábitos individuais do movimento. O grau de habilidade também afeta o gasto energético de atividade voluntária, provavelmente devido as variações na massa muscular. Tende a diminuir com a IDADE, devido ao declínio da MLG e ao aumento da massa gorda. 20 MÉTODOS PARA MEDIR O GASTO ENERGÉTICO. Calorimetria Direta: Utiliza salas calorimétricas, não fornece informação sobre o tipo de combustível que está sendo oxidado, alto custo, engenharia complexa e escassez de instalações limitam o uso. Calorimetria Indireta: Estima o gasto energético pela determinação do consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono pelo corpo durante certo período. 21 CALORIMETRIA INDIRETA Possui a vantagem de mobilidade e baixo custo do equipamento. Pode ser utilizada para medir a TA durante várias atividades em ambiente de laboratório. Emambientes clínicos as macas metabólicas são utilizadas para à beira dos leitos de hospitais para avaliar as necessidades energéticas dos pacientes. 22 CALORIMETRIA INDIRETA 23 PREPARO PARA CALORIMETRIA INDIRETA Alimentos, cafeína, álcool e nicotina aumentam a TMR e devem ser limitados antes da avaliação. Entre pessoas saudáveis, é recomendado o mínimo de 5 horas, após as refeições e lanches. Cafeína deve ser evitada por no mínimo 4 horas, o álcool e o fumo por no mínimo 2 horas. O teste não deve ocorrer antes de 2 horas após exercício moderado e de 14 horas após exercício de resistência vigorosa. 24 CALORIMETRIA INDIRETA X QR DIA DO TESTE: período de repouso de 10 a 20 minutos antes de ser feita a mensuração. Dados obtidos irão permitir o cálculo do QR (quociente respiratório). 25 QR = Moles do CO2 expirados Moles de O2 consumidos QR = Cociente Respiratório QR Depende da mistura de combustível que está sendo metabolizada: QR = 1 (para os carboidratos) QR = 0,85 (para dieta mista) QR = 0,82 (para as proteínas) QR = 0,7 (para as gorduras) 26 ÁGUA DUPLAMENTE MARCADA Usada para medir o gasto energético total em pessoas com condições de via normal, utilizando- se isótopos estáveis de água. Fornece uma medida do gasto energético que incorpora todos os componentes de GET, GER, ETA e TA. Exame altamente sofisticado, caro, requer especialista para realizar o exame. 27 EQUAÇÕES PARA CÁLCULO DE TMB EM ADOLESCENTES E ADULTOS: FAO/WHO/UNU (1985) MASCULINO Equação da TMB 10 – 18 ANOS (17,5 X PESO) + 651 18 – 30 ANOS (15,3 X PESO) + 679 30 – 60 ANOS (11,6 X PESO) + 879 FEMININO Equação da TMB 10 – 18 ANOS (12,2 X PESO) + 746 18 – 30 ANOS (14,7 X PESO) + 496 30 – 60 ANOS (8,7 X PESO) + 829 Recomendado pela SBAN EQUAÇÕES PARA CÁLCULO DA TMB COM ESTATURA PROPOSTA PELA FAO/OMS (1985) IDADE/ANOS FEMININO MASCULINO 10 – 18 ANOS 7,4 X PC + 482 X estatura + 217 16,6 x PC + 77 X estatura + 572 18 – 30 ANOS 13,3 x PC + 334 X estatura + 35 15,4 x PC + 27 X estatura + 717 30 – 60 ANOS 8,7 x PC - 25 X estatura + 865 11,3 x PC + 16 X estatura + 901 29 FÓRMULA OPCIONAL EQUAÇÕES PARA CÁLCULO DA TMB SEGUNDO SCHOFIELD (1985) IDADE GÊNERO FEMININO GÊNERO MASCULINO 10 a 18 anos [0,056 x P + 2,898] x 239 [0,074 x P + 2,754] x 239 18 a 30 anos [0,062 x P + 2,036] x 239 [0,063 x P + 2,896] x 239 30 a 60 anos [0,034 x P + 3,538] x 239 [0,048 x P + 3,653] x 239 30 P = peso corporal em Kg ATENÇÃO: Todas as equações: superestimam em até 20% o Gasto Energético Basal (GEB) CONSIDERAÇÕES As equações preditivas da FAO/OMS/UNU- 1985 e de Schofield-1985, fornecem como resultado final números muito próximos, isto é consequência da equação da FAO/OMS/UNU-1985 ser oriunda da equação de Schofield-1985. A equação de Schofield-1985 apresenta erros que foram observados em estudos realizados no Brasil. Com a realização destes estudos é proposto que em adultos de ambos os sexos na faixa etária de 18 a 30 anos de idade, seja subtraído 10% do valor obtido das duas equações para que o erro existente nestas equações seja corrigido. SUGESTÃO*** 31 IMC (OMS 1995 E 1997) - ADULTOS 32 CLASSIFICAÇÃO DO PESO IMC (Kg/m2) Magreza grau III (grave) < 16,0 Magreza grau II (moderada) 16,0 – 16,9 Magreza grau I (leve) 17,0 – 18,49 Eutrofia (Faixa de normalidade) 18,5 – 24,9 Sobrepeso ≥ 25,0 Pré-obesidade 25,0 – 29,9 Obesidade grau I 30,0 – 34,9 Obesidade grau II 35,0 – 39,9 Obesidade grau III ≥ 40,0 PARA FIXAR A) Calcule a sua TMB pelos 3 protocolos descritos nos slides de nº 28, 29 e 30. B) Calcule o seu peso ideal e Cite 5 fatores que podem alterar o seu metabolismo basal. C) Qual o diagnóstico nutricional de uma mulher de 52 anos, 155 cm de altura, PA de 66 kg ? Calcule a TMB pelos 3 protocolos descritos nos slides de nº 28, 29 e 30 33 QUAL A DIFERENÇA ENTRE CALORIA E QUILOCALORIA? A caloria é a quantidade de energia necessária para elevar em um grau centígrado (1º C) a temperatura de um mililitro (1ml) de água. A quilocaloria, (abreviado como kcalorias ou kcal) é igual a 1.000 calorias. Portanto, é a quantidade de calor (energia térmica) necessária para aumentar a temperatura de um litro (ou 1 kg) de água em 1º C. 34 35 Para evitar números extensos (como 1.500.000 cal), o nutricionista utiliza o termo “quilocaloria”. No entanto, frequentemente os nutricionistas e as publicações para leigos em geral referem-se às quilocalorias (kcal) como, simplesmente, “calorias”, o que pode gerar confusão. Referências: Williams SR. Equilíbrio de Energia e Manejo do Peso. In: Williams SR, editor. Fundamentos de Nutrição e Dietoterapia. 6 ed. Porto Alegre: Artmed Editora; 1997. p. 91-113. Johnson RK. Energia. In: Mahan LK, Escott-Stump S, editores. Krause alimentos, nutrição & dietoterapia. 10 ed. São Paulo: Roca; 2003. p. 18-29. AINDA CONFUSO? Nos rótulos dos alimentos e nas dietas médicas, normalmente costuma-se citar o termo “caloria” quando na verdade queria se dizer “quilocaloria”. Para citar um exemplo, costuma-se dizer que um copo de refrigerante tem 200 calorias, quando na verdade tem 200 000 calorias ou 200 kcal. Para acabar com essa confusão os rótulos dos alimentos estão trazendo de forma correta os conteúdos energéticos dos alimentos em kcal ou kJ. 36 QUAL A DIFERENÇA ENTRE GEB E GER? O GER (gasto energético em repouso) é a energia gasta em condições similares ao gasto energético basal (GEB), que é definido como a taxa mínima de energia gasta em 24 horas, correspondendo à energia gasta para manter o funcionamento normal do organismo, como respiração, circulação sanguínea, conservação da temperatura corpórea, dentre outros. 37 38 A diferença entre ambos é que, no GER, o indivíduo deve permanecer em repouso por 30 minutos para neutralizar a atividade física exercida até o local do exame e não estar em jejum, porém deve-se esperar de três a quatro horas da última refeição. Desta maneira, esta medida pode ser realizada a qualquer horário do dia. O GER é 10% mais elevado do que o GEB devido ao efeito térmico do alimento (energia gasta para digestão) e à influência da atividade física, mesmo que mínima. 39 O cálculo do GEB ou da taxa metabólica basal (TMB) é realizado logo após o paciente acordar, em repouso total e jejum de 10 a 12 horas. Ele não deve realizar atividade física no dia anterior para não influenciar no resultado. A massa corporal magra tem sido considerada como a principal determinante do GEB, podendo explicar as diferenças entre mulheres e homens. 40 Alguns fatores que afetam o GEB são: idade, sexo, composição corporal, estado fisiológico e nutricional. Cerca de 60 a 75% do gasto energético diário corresponde ao GEB. Devido a medida de GER ser mais prática, comparada com o GEB, é a mais utilizada. RESUMINDO GEB: energia para metabolismo básico, medido em repouso de 10 a 12 horas e em jejum. GER: energia gasta em repouso e com o efeito térmico de alimentos ingeridos, medida em repouso de 30 minutos e sem jejum. Referências: 1. Avesani CM, Santos NSJ, Cuppari L. Necessidades e Recomendações de Energia. In: Cuppari L, editor. Guia de Nutrição: nutrição clínica no adulto - Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar. São Paulo: Manole; 2002. p. 32-45. 2. Johnson RK. Energia. In: Mahan LK, Escott-Stump S, editores. Krause Alimentos, Nutrição & Dietoterapia. São Paulo: Roca; 2002. p. 18-29. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAHAN, L. K. & ESCOTT-STUMP, S. KRAUSE – Alimentos, nutrição e dietoterapia. Editora: Elsevier, 12ª edição, 2010. RIBEIRO, R. P. P. Seleção de uma alimentação saudável. In: DUTRA-DE-OLIVEIRA, J. E & MARCHINI, J. S. Ciências Nutricionais. 2ª. ed,. São Paulo: Ed. Sarvier, 2008. KAMIMURA, M. A. et al. Avaliação Nutricional. In: CUPPARI, L. Guia de Nutrição: Nutrição clínica do adulto. Barueri, SP: Ed. Manole, 2002. TIRAPEGUI, J. e RIBEIRO, S. M. L. Avaliação Nutricional: Teoria e Prática. Editora: Guanabara Koogan, 1ª edição, 2009. 42