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1 Seminário Interdisciplinar II Psicóloga Mestre em Ciências da Reabilitação Profª Ma. Mayra C. Frâncica dos Santos Aula 2 Preconceito, estereótipo e discriminação Conceituar os temas preconceito, estereótipo e discriminação. Entender como esses processos acontecem, de onde eles surgem e como podemos reduzi-los. Fazer a ligação destes temas com a área social. Objetivos da aula Fonte: https://goo.gl/vT1mpt. De todos os comportamentos sociais que existem, o preconceito está entre os mais comuns e perigosos. Considere estes exemplos, que apareceram no noticiário mais ou menos ao mesmo tempo: Introdução Caso 1 Depois do atentado de 11 de setembro de 2001 e da Guerra do Iraque, 4 em cada 10 norte-americanos admitiam ter “alguns sentimentos de preconceito contra muçulmanos” e cerca de metade dos não muçulmanos na Europa Ocidental percebia os muçulmanos negativamente e como “violentos” (PEW, 2008; SAAD, 2006; WIKE & GRIM, 2007). Os muçulmanos retribuíam a negatividade, com a maioria dos que vivem na Jordânia, na Turquia, no Egito e até mesmo na Grã-Bretanha considerando os ocidentais “gananciosos” e “imorais”. Caso 2 No dia 14 de novembro de 2010, três rapazes foram vítimas de um ataque homofóbico com lâmpadas fluorescentes na avenida Paulista, em São Paulo (SP). Os agressores? Cinco jovens de classe média da cidade, que na época foram detidos pela polícia. Em 2016, Luana Barbosa dos Reis morreu depois de ser brutalmente agredida por ao menos seis policiais na rua onde morava, em Ribeirão Preto (SP). A mulher de 34 anos era mãe, negra, pobre e lésbica. No mesmo ano, o adolescente Itaberlly Lozano foi assassinado pela própria mãe, Tatiana Lozano Pereira. Em março de 2017, o caso da travesti Dandara dos Santos, covardemente torturada e morta em Fortaleza (CE), causou revolta após a publicação de um vídeo da violência nas redes sociais. Mais recentemente, o vendedor trans Thadeu Nascimento, de 24 anos, foi encontrado morto no bairro de São Cristovão, em Salvador (BA). 2 Atividade Vamos a algumas perguntas: � Quantos amigos negros você tem? � Quantos amigos homossexuais você tem? � Seus filhos podem ou poderiam se relacionar com esses seus amigos gays ou lésbicas, em festas, por exemplo? � Quantos são de religião diferente da sua? De classe social diferente da sua? Atividade � Sua mãe ganha, ou já ganhou, mais que seu pai? � Seu prédio tem elevador social e de serviço? � Para você, todos os travestis se prostituem? Preconceito O preconceito é uma atitude — uma atitude emocionalmente poderosa As pessoas não mantêm simplesmente as atitudes. Habitualmente, agem inspiradas por elas Nesse contexto, o preconceito é uma atitude hostil ou negativa, direcionada a pessoas de um grupo específico, baseada apenas no pertencimento a esse grupo O preconceito tem um elemento cognitivo (o estereótipo) e pode influenciar o comportamento (na forma de discriminação) Todos somos vítimas ou potenciais vítimas do preconceito, apenas por pertencermos a um grupo identificável, com base na etnia, cor da pele, religião, gênero, nacionalidade, orientação sexual, tamanho do corpo, ou deficiência física, só para listar algumas. E não são apenas os grupos minoritários que sofrem preconceito por parte da maioria dominante. Preconceito Fonte: https://goo.gl/VL3Kva. É uma via de mão dupla: o preconceito frequentemente flui do grupo minoritário para o majoritário, assim como age na direção oposta também. Preconceito Fonte: https://goo.gl/VL3Kva. Causa não é clara na literatura. Algumas pesquisas – Preconceito é inerente à natureza humana por se tratar de um mecanismo de defesa e de interação social (KIMBLE et al., 2002). Outros autores – Preconceito pode ser uma expressão patológica do ser humano e, assim, fazer parte, por exemplo, de sua personalidade (DEVINE, 1995). Muitos outros autores – Alegam que há também um componente biológico nessa formação, para facilitar e agilizar comportamentos (FISKE E TAYLOR, 2008). O que causa o preconceito? Fonte: apud Aronson, Wilson e Akert, 2015. 3 Às vezes sutil, outras vezes brutalmente ostensivo, o preconceito é sem dúvida onipresente. Boas notícias, com o declínio de atitudes preconceituosas, maior tolerância e o fim da discriminação legal parecem sempre ser acompanhadas por erupções de hostilidade, conflito e ódio direcionado ao grupo-alvo do momento. Como o preconceito pode ser reduzido? Fonte: https://goo.gl/M2myUv. Como o preconceito pode ser reduzido? Será que o preconceito é um aspecto essencial da interação social humana e estará, por isso, sempre conosco? As pessoas podem mudar. Mas, como? O que podemos fazer para eliminar, ou pelo menos reduzir, esse aspecto pernicioso do comportamento social humano? Uma vez que os estereótipos e preconceitos são baseados em informações falsas, durante muitos anos os ativistas sociais acreditaram que a educação era a resposta: tudo de que precisariam era expor a verdade às pessoas e os preconceitos desapareceriam. Como o preconceito pode ser reduzido? A hipótese do contato � Quando o contato reduz o preconceito – 6 condições: Como o preconceito pode ser reduzido? A interde- pendência mútua Objetivo comum Mesmo status Contato informal entre as pessoas Múltiplos contatos Normas sociais de igualdade Atividade Feche os olhos por um momento e imagine a aparência e as características das seguintes pessoas: � Líder de torcida do ensino médio; � Sensível profissional de enfermagem; � Cientista da computação de descendência judaica; � Músico negro. Questão para reflexão Os japoneses são educados e reservados. Os alemães são sérios. Os italianos são alegres. Os jovens são irreverentes. Os mais velhos são conservadores. As mulheres são intuitivas. Os funcionários públicos trabalham pouco. 4 Walter Lippmann, um notável jornalista: foi o primeiro a introduzir o termo estereótipo. O estereótipo é a generalização de um grupo de pessoas, em que características idênticas são atribuídas a praticamente todos os membros, sem se considerar a real variação entre eles. A qualidade do estereótipo pode ser física, mental ou ocupacional. Estereótipos Fonte: Aronson, Wilson e Akert, 2015. Estereótipos O estereótipo é a base do preconceito. Sem ele não é possível existir o preconceito. O estereótipo é uma atribuição de crenças que se faz a grupos ou pessoas (conscientes ou inconscientes). Etimologicamente, deriva de duas palavras gregas: túpos (traço) e stereos (rígido). Estereótipo: crenças e atributos compartilhados sobre um grupo. Há uma tendência geral humana a generalizar a partir de similaridades percebidas e a não se focar no que é diferente. Estereótipos Fonte: https://goo.gl/vwhxpn. Estereotipar: processo cognitivo. Estereótipos: podem ser positivos ou negativos. � Se você gosta de um grupo, seu estereótipo será positivo. Mas se você não gosta dele, seu estereótipo do mesmo comportamento será negativo. Estereótipos O abuso dos atalhos mentais do estereótipo pode ser flagrante e óbvio, como quando um grupo étnico é considerado preguiçoso e outro é considerado violento. Porém, o potencial abuso pode ser mais sutil e até mesmo envolver um estereótipo de atributo positivo. Mas, o que há de errado com os estereótipos positivos? Vídeo Preconceito e estereótipo Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m-yuzFljpc 5 Estereótipos de gênero: quase todo mundo tem um estereótipo de mulheres e homens – alguns positivos, outros negativos. Porém, como sempre, os estereótipos exageram as diferenças entre os sexos, ignoram os diferentes traços de personalidade e as habilidades dentro de cada gênero e simplificam demais (FINE, 2010 apud ARONSON, WILSON E AKERT, 2015). Estereótipos de gênero Contrastar os estereótipos de mulheres e homens pode ser apenas um jogo divertido se isso não se transformarem preconceito. Porém, com bastante frequência, essa transformação acontece. Estereótipos de gênero Importante! Fonte: Smith, Bond e Kagitçibasi, 2006 apud Torres e Neiva, 2011. ESTEREÓTIPO É necessário para a sobrevivência do ser humano! ‣Como são baseados em generalizações bastante superficiais, comumente nos impedem de vermos as diferenças individuais, o que é o comum na maioria dos casos. Podem ser bastante funcionais e conquanto sejam baseados em algum levantamento, ainda que assistemático, podem nos facilitar a interação com as demais pessoas. O aspecto emocional mais profundo do preconceito é o que torna tão difícil discutir com uma pessoa preconceituosa. Argumentos lógicos não são efetivos para combater as emoções. Essa é a razão por que o preconceito consegue permanecer inconscientemente bastante tempo, mesmo depois que a pessoa deseja se livrar dele. Emoções: o componente afetivo Fonte: https://goo.gl/Mf9mgi. Discriminação: o componente comportamental � O preconceito muitas vezes leva ao tratamento injusto de um grupo-alvo. Chamamos isso de discriminação: uma ação negativa injustificada ou prejudicial voltada aos membros de um grupo apenas por pertencerem a ele; � Qualquer grupo estigmatizado dentro de uma sociedade sofrerá discriminação, a oficial e a sutil. Discriminação Fonte: Finkelstein, DeMuth e Sweeney, 2007; King et al., 2006 apud Aronson, Wilson e Akert, 2015. Vídeo Preconceito e discriminação Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=PD8zngs-wIM 6 O preconceito também pode levar à discriminação através das “microagressões”: os “desprezos, indignidades e humilhações” que muitas minorias e pessoas com deficiências físicas experimentam. Fonte: Dovidio, Pagotto e Hebl, 2011; Nadal et al., 2011; Sue, 2010 apud Aronson, Wilson e Akert, 2015. Microagressões Fonte: https://goo.gl/djDvrU. As microagressões tomam várias formas. Para aferir a discriminação formal, procuraram determinar se havia diferenças no que o empregador dizia a respeito da disponibilidade das vagas, se ele permitia que preenchessem o formulário de pedido de emprego, se havia ou não uma ligação de retorno e a reação dele quando o candidato pedia para usar o banheiro. Não houve evidência de discriminação formal, os empregadores não poderiam ser acusados de tratar injustamente os candidatos “homossexuais”. Formas de microagressão No entanto, houve fortes indicações de discriminação interpessoal. Comparada à maneira como interagiram com os candidatos que pensavam ser heterossexuais, os empregadores eram verbalmente menos positivos, levavam menos tempo entrevistando, falavam menos e tiveram menos contato visual com aqueles que consideravam homossexuais. A partir de seu comportamento, estava claro que os potenciais empregadores ficavam desconfortáveis ou se sentiam mais distantes das pessoas que eles acreditavam ser homossexuais. Formas de microagressão As pessoas em sua maioria, simplesmente por viverem numa sociedade em que a informação estereotípica é abundante e o comportamento discriminatório é a norma, desenvolverão atitudes preconceituosas e se comportarão de maneira discriminatória até certo ponto. Chamamos isso de discriminação institucional, o que inclui o racismo institucionalizado e o sexismo institucionalizado. Assim... Discriminação, racismo e sexismo Sexismo Institucionalizado ‣Atitudes sexistas mantidas pela vasta maioria das pessoas que vivem numa sociedade em que os estereótipos e discriminações são a norma. Racismo Institucionalizado ‣Atitudes racistas mantidas pela vasta maioria das pessoas que vivem numa sociedade em que estereótipos e discriminações são a norma. Discriminação Institucional Práticas que discriminam, legal ou ilegalmente, grupos minoritários em razão de sua etnia, gênero, cultura, idade, orientação sexual, ou outro alvo de preconceito da sociedade ou da companhia. Vídeo Preconceito – Leandro Karnal Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=b6ruPq5Z0Pw 7 ARONSON E, WILSON TD, AKERT M. Psicologia Social. 8.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. TORRES CV, NEIVA ER (org). Psicologia Social: principais temas e vertentes. Porto Alegre: Artmed, 2011. MYERS, David G. Psicologia social. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Referências
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