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1 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 0 Tecnologias da Biomassa Albina Maria de Sá Ribeiro MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 1 Processos envolvidos na gasificação da biomassa (Kumar et al., 2009). Limpeza dos gases produzidos na gasificação 0 1 2 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 2 O alcatrão (“tar”), que se forma durante a gasificação, é um líquido espesso, escuro e altamente viscoso que condensa nas zonas de temperatura baixa de um gasificador. É altamente indesejável, pois pode criar muitos problemas, incluindo: • Condensação e subsequente entupimento do equipamento a jusante; • Formação de aerossóis de alcatrão; • Polimerização em estruturas mais complexas. O alcatrão Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 3 Definição de alcatrão segundo a “IEA’s gasification task force”: “The organics, produced under thermal or partial-oxidation regimes (gasification) of any organic material, are called “tar” and are generally assumed to be largely aromatic”. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 2 3 3 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 4 • O alcatrão permanece no estado vapor até que o gás que o transporta seja arrefecido (em contacto com superfícies frias) ou permanece em gotas finas de aerossol (< 1 μm). • Isto torna o gás produzido inadequado para usar em motores a gás, que têm uma baixa tolerância para alcatrão. • Para reduzir o teor de alcatrão no gás, pode-se atuar ao nível do projeto do reator e através da escolha das condições adequadas de operação (incluindo temperatura do reator e taxa de aquecimento). • Mesmo assim, as medidas mencionadas podem não ser suficientes, havendo necessidade de limpeza do gás a jusante do reator. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 5 A limpeza “standard” do gás envolve filtração e/ou lavagem, que remove o alcatrão e partículas do gás, e que também arrefece o gás até à temperatura ambiente. Estas medidas limpam o gás, tornando-o adequado para ser utilizado na maioria dos motores a gás. No entanto, a implementação destas medidas resulta numa redução da eficiência global do processo, quer seja na produção de eletricidade ou de energia mecânica utilizando um motor a gás. A limpeza do gás aumenta consideravelmente os custos de capital da instalação. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 4 5 4 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 6 A gasificação de biomassa é por vezes utilizada para geração de energia em pequenas localidades (unidades de pequena/média capacidade). Nestas unidades, a inclusão de um sistema de filtração ou de lavagem aumenta significativamente os custos gerais. Os sistemas de geração de energia baseados na biomassa são altamente sensíveis aos custos associados à limpeza do alcatrão. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 7 A presença de alcatrão no gás produzido a partir da gasificação pode, potencialmente, decidir qual será a utilização final do gás. As principais aplicações podem ser: • Sistemas de combustão direta; • Motores de combustão interna; • Produção de gás de síntese. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 6 7 5 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 8 Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 9 Em aplicações onde o gás produzido é queimado diretamente sem haver arrefecimento, não há necessidade de limpeza. Estes sistemas têm poucas restrições quanto à quantidade de alcatrão e de partículas presentes, desde que o gás passe livremente para o queimador e que o design do queimador não tenha restrições próprias. O gás de combustão produzido após a queima deve estar suficientemente limpo, de modo a respeitar os requisitos locais de emissões gasosas. Sistemas de combustão direta Limpeza dos gases produzidos na gasificação 8 9 6 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 10 Um exemplo de sistemas de combustão direta é a co-combustão do gás produzido a partir da biomassa, em caldeiras de combustíveis fósseis. Outros exemplos, são a utilização do gás produzido em fornos e fornalhas. Nestas aplicações, não é necessário arrefecer o gás após a sua produção. O gás é alimentado diretamente a um queimador enquanto ainda está quente (600 - 900ºC) e há pouca possibilidade do alcatrão condensar. No entanto, na tubagem entre a saída do gasificador e a entrada do queimador, o gás não deve arrefecer abaixo do ponto de orvalho do alcatrão. Se isso acontecer, o depósito de alcatrão pode entupir a tubagem. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 11 O gás produzido por gasificação pode ser utilizado nos motores de combustão interna, especialmente para sistemas de geração de energia distribuída. Nestas aplicações, o gás deve ser arrefecido e, assim, há possibilidade de condensação do alcatrão no motor ou no sistema de injeção do combustível. Além disso, o sistema pistão-cilindro de um motor de combustão interna não é projetado para lidar com sólidos, o que impõe limites nos níveis de alcatrão e de partículas existentes no gás. Motores de combustão interna (“IC engines”) Limpeza dos gases produzidos na gasificação 10 11 7 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 12 A concentração de partículas e de alcatrão no gás devem estar abaixo dos limites toleráveis, que são de 30 mg/Nm3 para partículas e 100 mg/Nm3 para o alcatrão. As turbinas a gás também podem usar gás proveniente da gasificação da biomassa. Estas têm limites ainda mais apertados relativamente à limpeza do gás, porque suas lâminas são sensíveis aos depósitos do gás quente que passa por elas após a combustão. A concentração de alcatrão deve estar entre 0,5 e 5,0 mg/Nm3. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 13 Os limites para o teor de partículas e de alcatrão quando se produz gás de síntese ainda são mais rigorosos, porque o alcatrão envenena o catalisador. Os limites sugeridos são de 0,02 mg/Nm3 para partículas e 0,1 mg/Nm3 para alcatrão. O interesse pelas células de combustível está a aumentar, principalmente para a produção direta de eletricidade a partir do hidrogénio obtido a partir da gasificação. Produção de gás de síntese Limpeza dos gases produzidos na gasificação 12 13 8 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 14 Composição do alcatrão Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 15 O benzeno é o componente com maior concentração num alcatrão típico. Para além dos compostos listados na tabela, o alcatrão também pode incluir compostos que contêm oxigénio, derivados do fenol, guaiacol, veratrol, siringol, ácidos gordos livres e ésteres de ácidos gordos que contêm oxigénio. A composição do alcatrão depende da temperatura da reação, do tipo de gasificador e da biomassa utilizada. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 14 15 9 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 16 Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 17 Redução dos alcatrões O alcatrão proveniente da gasificação do carvão inclui compostos como o benzeno, tolueno, xileno e alcatrão de carvão, que são produtos com valor comercial e podem ser aproveitados. Por outro lado, o alcatrão produzido na gasificação da biomassa, apresenta muitos compostos oxigenados e que têm pouco valor comercial. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 16 17 10 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 18 Os processos de remoção dos alcatrões podem ser divididos em dois grupos: • Redução pós-gasificação (ou secundária), que retira o alcatrão do gás já produzido. • Redução do alcatrão “in situ” (ou primária), que evita a formação de alcatrão. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 19 Processos de remoçãodo alcatrão (Basu, 2013). Limpeza dos gases produzidos na gasificação 18 19 11 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 20 Redução do alcatrão “in situ” (ou primária) As condições de operação no gasificador são ajustadas de modo a que a formação do alcatrão seja reduzida. Alternativamente, o alcatrão produzido é convertido noutros produtos antes de deixar o gasificador. A redução é alcançada por um dos seguintes métodos: • Modificação das condições de operação no gasificador; • Adição de catalisadores ou materiais alternativos em leitos fluidizados; • Modificação do design do gasificador. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 21 Reações de redução As três principais reações responsáveis pela destruição do alcatrão são: “reforming”, “cracking” térmico ou “cracking” por vapor. Estas convertem o alcatrão num conjunto de hidrocarbonetos mais leves: Limpeza dos gases produzidos na gasificação 20 21 12 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 22 “Reforming” do alcatrão - a reação realiza-se na gasificação com vapor de água e pode ser representada pela equação: Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 23 “Reforming” seco do alcatrão Esta reação ocorre quando o CO2 é o meio gasificante em vez de vapor. O alcatrão é transformado em H2 e CO. O “reforming seco” é mais eficaz do que o “reforming” com vapor, especialmente quando a dolomite é usada como catalisador: Limpeza dos gases produzidos na gasificação 22 23 13 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 24 “Cracking” térmico - pode reduzir o alcatrão, mas não é tão atraente como o “reforming” porque requer temperatura alta (>1000ºC) e produz fuligem. Como esta temperatura é mais alta do que a temperatura de saída do gás na maioria dos gasificadores de biomassa, é necessário fornecer aquecimento externo ou geração interna de calor com adição de oxigénio. Ambas as opções têm gastos energéticos elevados. “Cracking” com vapor - o alcatrão é diluído com vapor e é brevemente aquecido num forno na ausência de oxigénio. Os hidrocarbonetos saturados são decompostos em hidrocarbonetos com menor cadeia. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 25 Os parâmetros operacionais que influenciam a formação e conversão do alcatrão incluem: a temperatura e a pressão do reator, o agente de gasificação, a razão de equivalência e o tempo de residência. Condições de operação para redução do alcatrão “in situ” Limpeza dos gases produzidos na gasificação 24 25 14 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 26 Temperatura • A temperatura de operação do reator influencia tanto a quantidade como a composição do alcatrão. A quantidade, em geral, diminui com um aumento da temperatura da reação, assim como a quantidade de carbonizado não convertido. Assim, temperatura de operação alta é desejável em ambos os aspetos. • A produção de compostos contendo oxigénio como fenol, cresol e benzofurano, reduz com o aumento da temperatura, especialmente abaixo dos 800ºC. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 27 • Com o aumento da temperatura, ocorre uma diminuição na quantidade de compostos aromáticos com 1 e 2 anéis substituídos. No entanto, dá-se um aumento da quantidade de compostos aromáticos com 3 e 4 anéis. • A quantidade de compostos aromáticos, tal como o naftaleno e o benzeno, é favorecida por temperaturas altas. Note-se que se verifica um aumento do teor de naftaleno e de benzeno no gás produzido com o aumento da temperatura. • Temperaturas altas também reduzem o teor de amoníaco no gás produzido e melhoram a conversão do carbonizado. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 26 27 15 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 28 Pressão do reator Com o aumento da pressão, a quantidade de alcatrão diminui, mas a fração de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (“PAH - polycyclic aromatic hydrocarbons”) aumenta. Tempo de residência O tempo de residência tem um efeito pouco significativo na formação de alcatrão num gasificador de leito fluidizado. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 29 Meio de gasificação Os quatro agentes de gasificação usados (ar, vapor, dióxido de carbono e mistura de oxigénio/vapor) podem ter efeitos diferentes na formação e conversão do alcatrão. A razão (quantidade de combustível/quantidade do agente de gasificação) é um parâmetro importante que influencia os produtos da gasificação, incluindo o alcatrão. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 28 29 16 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 30 Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 31 A gasificação com ar produz a menor quantidade de alcatrão. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 30 31 17 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 32 Gasificação com ar • O rendimento e a concentração do alcatrão no gás produzido diminuem com o aumento da razão de equivalência (ER). • Para valores de ER acima de 0,27, os fenóis são quase todos convertidos e forma-se menos alcatrão. • Para ER elevadas, a fração de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH), benzeno, naftaleno, e outros compostos aromáticos com 3 e 4 anéis aumentam no gás produzido. • Quanto mais alto o valor de ER, menor a quantidade de alcatrão, mas a qualidade do gás produzido diminui devido à presença de mais azoto. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 33 Gasificação com vapor • Quando o vapor reage com a biomassa para produzir H2, ocorre a reação de “reforming” do alcatrão: • Observou-se uma redução significativa na produção do alcatrão para razões de S/B entre 0,5 e 2,5. É possível haver uma redução ainda mais significativa, se se usar de um catalisador que incentiva a reação de “reforming” do alcatrão. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 32 33 18 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 34 Gasificação com uma mistura de oxigénio e vapor • A gasificação com oxigénio e vapor melhora ainda mais a redução do teor de alcatrão. Além disso, fornece o calor necessário para que a reação de gasificação seja autotérmica. • Quando o agente de gasificação é uma mistura de oxigénio e vapor, usa- se a razão de gasificação (GR), que é definida como o quociente entre a massa de (vapor + oxigénio) e a massa de biomassa, para caracterizar a reação. • A produção de alcatrão reduz com o aumento da razão de gasificação. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 35 Gasificação com dióxido de carbono O alcatrão pode sofrer “reforming” na superfície de um catalisador quando o agente gasificante é o de dióxido de carbono. Tal reação é chamada de “dry reforming”: Limpeza dos gases produzidos na gasificação 34 35 19 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 36 Redução do teor de alcatrões em gasificadores de leito fluidizado usando catalisadores Os catalisadores aceleram as duas principais reações químicas de redução do teor de alcatrão. Na reação de “reforming” com vapor: e na “dry reforming”: Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 37 Os catalisadores podem facilitar as reações de redução de alcatrão no reator primário (gasificador) ou a jusante, num reator secundário. Os três tipos principais de catalisadores em uso são a dolomite, metais alcalinos e níquel. A olivina e carbonizado também podem ser utilizados como catalisadores para redução do alcatrão. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 36 37 20 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 38 Dolomite • A dolomite (MgCO3, CaCO3) é relativamente barata e abundante. Torna-se mais ativa se for calcinada e usada num reator secundário, colocado a jusante do gasificador, e operando a temperaturas superiores a 800ºC. • A reação de “reforming” do alcatrão numa superfície de dolomite ocorre a uma velocidade mais elevada com CO2 do que com vapor. Sob condições adequadas, pode converter completamente o alcatrão. • A deposição de carbono provoca a desativação da dolomite. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 39 Olivina • A olivina é um mineral de silicato de ferro e magnésio ((Mg, Fe2)SiO4) que está disponível em partículas com tamanhos entre 100 a 400 μm e numa gama de massas volúmicas entre 2500 a 2900 kg/m3 . • É usada, misturada com areia, em gasificadores de leito fluidizado. • A atividade catalítica da olivina é comparável à da dolomite calcinada. • Estudos de gasificação usando olivina como catalisador mostraram uma destruição completa do alcatrão na gasificação de resíduos de plástico num reator de leito fluidizado, e uma redução de 90% do alcatrão num gasificador alimentado com biomassa. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 38 39 21 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 40 Catalisadores de metais alcalinos • Os catalisadores de metais alcalinos são pré-misturados com a biomassa antes de serem introduzidos no gasificador. Em termos da sua eficácia, verifica-se: • Ao contrário da dolomite, os catalisadores alcalinos podem reduzir o metano no gás produzido, mas é difícil recuperá-los após utilização. • Se usados em leitos fluidizados pode haver problemas de aglomeração. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 41 Níquel • Há muitos catalisadores de níquel disponíveis no mercado para a redução de alcatrão, bem como do metano no gás de produção. • Eles contêm quantidades variáveis de níquel. Por exemplo, o catalisador R-67-7H da Haldor Topsøe tem 12-14% de Ni num suporte de Mg/Al2O3. • Os catalisadores de níquel são altamente eficientes e funcionam melhor num reator secundário, após o gasificador. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 40 41 22 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 42 • O uso da dolomite ou de um catalisador de um metal alcalino no reator primário e de um catalisador de níquel no reator secundário, são eficazes na redução do alcatrão e do metano. • A atividade do catalisador é influenciada pela temperatura, tamanho de partícula e composição da corrente gasosa. • Os catalisadores de níquel, quando usados no “reforming” de hidrocarbonetos pesados, são eficazes para a redução do alcatrão. • Os catalisadores de níquel usados no “reforming” podem ser desativados devido à deposição de carbono. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 43 Carbonizado O carbonizado, um produto da pirólise, também pode catalisar o “reforming” do alcatrão se for usado num reator secundário. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 42 43 23 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 44 Design do Gasificador O design do gasificador pode ter uma grande influência na quantidade de alcatrão encontrada no gás produzido. Num gasificador de fluxo arrastado, o conteúdo em alcatrão pode ser menor do que 0,1 g/Nm3, enquanto num gasificador do tipo “updraft”, o alcatrão pode exceder 100 g/Nm3. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 45 Limpeza dos gases produzidos na gasificação 44 45 24 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 46 O design do gasificador determina: a zona onde a pirólise ocorre, como o alcatrão reage com os agentes oxidantes e a temperatura das reações. Por isso, determina a quantidade de alcatrão produzido no gasificador. Principais tipos de gasificadores são: “updraft”, “downdraft”, leito fluidizado e leito arrastado. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 47 Produção de alcatrão num gasificador de corrente ascendente (“updraft”). O alcatrão passa pela zona de temperatura baixa (200-500ºC), por isso, não tem oportunidade de sofrer “cracking” (Basu, 2013). Limpeza dos gases produzidos na gasificação 46 47 25 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 48 Gasificador do tipo “updraft” • A temperatura é mais alta perto da grelha, onde o oxigénio entra em contacto com o carbonizado e este é queimado. • O gás quente sobe, fornecendo calor para as reações endotérmicas de gasificação e passa a biomassa em fase de pirólise, a temperaturas na gama dos 200 a 500ºC. O alcatrão é produzido nesta zona. • Este alcatrão sobe com o gás através das regiões mais frias do reator, não tendo oportunidade de sofrer conversão. Por esta razão, os gasificadores de corrente ascendente geram a maior quantidade de alcatrão – tipicamente 10 a 20% em peso da alimentação. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 49 Geração de alcatrão num gasificador “downdraft”. O alcatrão produzido passa pela zona mais quente do reator e sofre “cracking” muito facilmente (Basu, 2013). Limpeza dos gases produzidos na gasificação 48 49 26 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 50 Gasificador “downdraft” • Tanto o gás como a biomassa têm escoamento descendente. A temperatura é mais alta na zona de combustão. • O alcatrão é produzido após a zona de secagem, numa zona onde a temperatura é relativamente baixa (200-500 ºC). • O oxigénio do ar, juntamente com o alcatrão, descem para a zona mais quente do reator. Devido à disponibilidade de oxigénio e à alta temperatura, o alcatrão sofre reação, sendo convertido em gases não condensáveis. • Um gasificador do tipo descendente possui a menor produção de alcatrão (<1 g/Nm3). Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 51 Gasificador de leito fluidizado borbulhante: o alcatrão não é produzido em nenhum local específico, simplesmente passa através da zona de leito fluidizado, que está a uma temperatura média. (Basu, 2013) Limpeza dos gases produzidos na gasificação 50 51 27 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 52 Gasificador de leito fluidizado • Num leito fluidizado (borbulhante ou circulante), o agente de gasificação entra pela base, e a biomassa é alimentada lateralmente. O combustível é imediatamente misturado no leito. • Assim, o meio de gasificação ao passar através do distribuidor, entra em contacto imediato com partículas de biomassa fresca que estão a sofrer pirólise e com partículas de carbonizado que estão no leito já há algum tempo. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 53 • Quando ar ou O2 são usados como meio de gasificação, o O2 em contacto com a alimentação pirolisada queima o alcatrão libertado e as partículas de carbonizado. • O alcatrão que se forma sai no topo da coluna com a corrente gasosa. • O teor médio de alcatrão num gasificador de leito fluidizado é de 10 mg/Nm3 (valor entre os dos gasificadores “updraft” e “downdraft”). Limpeza dos gases produzidos na gasificação 52 53 28 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 54 Gasificador de fluxo arrastado A produção de alcatrão não é significativa, pois o reator opera a temperaturas de cerca de 1000ºC e os alcatrões são convertidos em gases. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 55 Pós-gasificação - Redução do Alcatrão O nível de limpeza a aplicar ao gás produzido depende muito do seu uso final. Por exemplo, se o gás for utilizado num motor de combustão interna ou numa turbina, então precisa de ser substancialmente mais limpo do que se for alimentado a uma caldeira. A maioria das instalações industriais usam filtros de partículas ou lavadores (“scrubbers”) para atingir o nível de limpeza adequado. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 54 55 29 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 56 Uma quantidade substancial do alcatrão pode ser removida do gás produzido numa secção de limpeza pós-gasificação. O alcatrão pode ser convertido em gases,como por exemplo o hidrogénio, usando catalisadores ou simplesmente pode ser separado. Os dois métodos básicos de tratamento pós-gasificação são a remoção física e o cracking” (catalítico ou térmico). Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 57 Remoção física do alcatrão A limpeza física é semelhante à remoção de partículas de poeira de um gás. O alcatrão tem de ser condensado antes da separação. A remoção do alcatrão por este método pode variar entre 20% e 97%. O teor energético do alcatrão é frequentemente perdido neste processo, porque este pode permanecer em névoa ou na forma de gotas no gás. A remoção física do alcatrão do gás pode ser feita usando ciclones, filtros de barreira, precipitadores eletrostáticos húmidos (ESP), lavadores (“wet scrubbers”) ou sais alcalinos. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 56 57 30 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 58 A escolha do método depende: • da concentração das partículas e do alcatrão à entrada; • da distribuição de tamanhos das partícula à entrada; • da concentração máxima de partículas que é aceitável no gás depois da separação. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 59 Limpeza dos gases produzidos na gasificação 58 59 31 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 60 A distribuição do tamanho das partículas à entrada é difícil de medir, especialmente se as partículas muito finas, mas a sua medição é importante para escolher corretamente os dispositivos de recolha. Por exemplo, partículas com tamanho inferior a 1 μm precisam de ser recolhidas em precipitadores eletrostáticos húmidos (ESP), mas este dispositivo é significativamente mais caro do que outros. Um filtro de tecido (“fabric filter”) pode funcionar para finos, mas poderá falhar se houver de condensação de alcatrão. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 61 Ciclones • Os ciclones não são muito eficazes na remoção de alcatrão devido ao seu carácter pegajoso e porque não conseguem remover gotículas de alcatrão inferiores a 1 μm; • No entanto, são eficazes na remoção de partículas no gás produzido. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 60 61 32 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 62 Filtros de barreira (“barrier filters”) • Os filtros de barreira formam um obstáculo físico à passagem do alcatrão e das partículas, permitindo que o gás limpo passe; • É possível revestir a superfície dos filtros com agentes catalíticos apropriados que ajudam o “cracking” do alcatrão; • Estes filtros podem ser de dois tipos: vela (“candle filters”) ou tecido (“fabric filters”). Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 63 • Os “candle filters” são porosos, cerâmicos ou metálicos. A porosidade do material é escolhida de tal forma que as partículas mais finas não o atravessem. • As partículas que não atravessam, formam um depósito na parede do filtro chamado “bolo de filtração”. O gás passa através desta camada, assim como através do filtro. • Um problema com o bolo de filtração é que, à medida que a sua espessura aumenta, a queda de pressão no filtro também aumenta. • Ocasionalmente, tem de ser feita a remoção do bolo. Um modo de remoção é aplicar pulsos de pressão na direção oposta. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 62 63 33 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 64 Mecanismo de separação de poeira num filtro de barreira. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 65 • Para além da queda de pressão elevada, os filtros de barreira também têm desvantagens se houver o aparecimento de fissuras. O gás com poeira e alcatrão escoa preferencialmente através dessa passagem, afetando adversamente o equipamento a jusante. • A condensação do alcatrão nos elementos do filtro pode bloqueá-lo. • Os filtros cerâmicos podem ser projetados para operar a temperaturas altas, da ordem dos 800 a 900 ºC. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 64 65 34 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 66 • Os filtros de tecido operam a temperaturas mais baixas (< 350 ºC); • O bolo de filtração pode ser removido por lavagem ou pode ser sacudido. • A condensação de alcatrão no tecido pode ser um problema se o gás for demasiado arrefecido. • Pode-se usar um filtro de tecido com um revestimento, que é removido junto com o bolo de filtração. • Este revestimento pode efetivamente remover substâncias indesejáveis do produto gasoso. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 67 Precipitadores eletrostáticos húmidos (“wet electrostatic precipitators”) • Os ESP húmidos são usados em algumas unidades de gasificação. • O gás passa através de um campo elétrico forte com elétrodos. As partículas sólidas e as gotas de líquido ficam carregadas. À medida que o gás passa através de uma câmara contendo placas ou varas anódicas com um potencial de 30-75 kV, as partículas arrastadas pelo gás ficam carregadas, e são recolhidas a jusante em placas coletoras, com carga positiva. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 66 67 35 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 68 • Embora a eficiência da recolha não diminua com a acumulação de partículas nas placas, é necessário fazer uma limpeza periódica das mesmas, para evitar que o escoamento do gás seja condicionado ou que ocorra curto-circuito nos elétrodos devido à cinza acumulada. • As partículas sólidas recolhidas são limpas por meios mecânicos, mas o alcatrão precisa de ser limpo usando um filme fino de água. • Os precipitadores eletrostáticos húmidos têm uma eficiência elevada na recolha de partículas (> 90%), abrangendo uma larga gama de tamanhos de partículas que vai até 0,5 μm. Apresentam quedas de pressão baixas. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 69 • A ocorrência de faíscas quando se aplica uma voltagem elevada é motivo de preocupação, especialmente se o gás a limpar for altamente combustível. • Assim, a economia que se poderia ter devido à baixa potência que é requerida para o ventilador (perdas de carga baixas) é perdida devido aos custos associados com as medidas de segurança que têm que ser implementadas. • O custo de capital para um ESP é 3 a 4 vezes maior do que para um lavador (“wet scrubber”). Limpeza dos gases produzidos na gasificação 68 69 36 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 70 Lavadores (“wet scrubbers”) • Nestes equipamentos, água ou outro líquido de lavagem apropriado é pulverizado no gás. As partículas sólidas e as gotas de alcatrão colidem com as gotas do líquido de lavagem, formando gotículas maiores devido ao fenómeno da coalescência. • Estas gotículas maiores são facilmente separadas do gás, por exemplo, usando um ciclone. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 71 • O gás precisa de ser arrefecido a temperaturas inferiores a 100ºC, antes de ser limpo. O líquido de lavagem com o alcatrão pode ser reintroduzido no gasificador. • Como alternativa, pode-se retirar o alcatrão do líquido de lavagem. • Os lavadores têm uma alta eficiência de recolha (> 90%), mas esta baixa bastante quando se trabalha com partículas de tamanho inferior a 1 μm. • A potência associada ao ventilador de uma instalação com um lavador é maior do que uma contendo um EPS, o que implica custos de operação mais elevados. • Limpeza dos gases produzidos na gasificação 70 71 37 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 72 • O custo de capital de um “wet scrubber” é muito menor do que o de um EPS. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 73 Remoção de sais alcalinos A biomassa é rica em sais alcalinos, que evaporam às altas temperaturas a que operam os gasificadores, mas que podem condensar a jusante,se o gás produzido foe arrefecido abaixo dos 600 ºC. Como a condensação de sais alcalinos causa sérios problemas de corrosão, há necessidade de os remover. Se o gás for arrefecido abaixo dos 600 ºC, os sais alcalinos mudam de fase e podem, posteriormente, ser capturados em ciclones, ESPs ou filtros. Algumas aplicações não permitem o resfriamento do gás. Nestes casos, o gás quente pode passar através de um leito de bauxite ativa, mantida a 650-725 ºC. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 72 73 38 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 74 Eliminação do alcatrão recolhido Os processos de remoção de alcatrão produzem resíduos líquidos com concentração elevada de compostos orgânicos, que aumentam a complexidade do tratamento da água. Os contaminantes das águas residuais incluem compostos orgânicos dissolvidos, ácidos inorgânicos, NH3 e metais. Os alcatrões recolhidos são classificados como resíduos perigosos, especialmente se foram formados a altas temperaturas. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 75 Existem várias tecnologias que estão disponíveis para o tratamento desses contaminantes. Alguns exemplos incluem a extração com um solvente orgânico, destilação, adsorção em carvão ativado, oxidação húmida, oxidação com peróxido de hidrogénio (H2O2), oxidação com ozono (O3), incineração e tratamento biológico. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 74 75 39 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 76 “Cracking” No “cracking” após a gasificação há a quebra das grandes moléculas de alcatrão em moléculas de gases, como H2 ou CO. Neste processo, ao contrário da limpeza física, o alcatrão não precisa de ser condensado. Este envolve o aquecimento do alcatrão a uma temperatura elevada (~1200 ºC) ou a sua exposição a catalisadores a temperaturas mais baixas (~800 C). Existem dois tipos principais de “cracking”: térmico e catalítico. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 77 O “cracking” térmico sem catalisador é possível de realizar a altas temperaturas (~1200 ºC). A temperatura a que se dá o processo depende dos constituintes do alcatrão. Por exemplo, alcatrões contendo componentes oxigenados podem ser tratados a cerca de 900 ºC. Oxigénio ou ar podem ser adicionados, permitindo a combustão parcial do alcatrão para aumentar a sua temperatura, o que favorece o “cracking” térmico. Outra opção é fazer a decomposição térmica dos alcatrões de biomassa num plasma de arco elétrico. Este processo é relativamente simples, mas produz um gás com menor conteúdo energético. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 76 77 40 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 78 O “cracking” catalítico é comercialmente usado em muitas instalações para a remoção do alcatrão e outros elementos indesejáveis do produto gasoso. Geralmente, o gás contendo alcatrão passa sobre os catalisadores. As principais reações químicas que ocorrem num reator catalítico são as correspondentes à do “reforming” com vapor e “dry reforming”. As reações relativas à conversão do alcatrão são endotérmicas. Assim, adiciona-se uma pequena quantidade de ar ao reator para que ocorra uma combustão controlada. Limpeza dos gases produzidos na gasificação Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 79 • Os catalisadores não-metálicos incluem catalisadores descartáveis e baratos: dolomite, zeólitos, calcite, etc. Podem formar um leito fluidizado pelo gás contendo o alcatrão, a uma temperatura entre 750 e 900ºC. • Catalisadores metálicos incluem Ni, Ni/Mo, Ni/Co/Mo, NiO, Pt e Ru (ruténio) em suportes como sílica alumina e zeólitos. Alguns destes catalisadores são utilizados na indústria petroquímica. • Uma mistura de Ni/Co/Mo converte o NH3 e os alcatrões. Os catalisadores são desativados durante o “cracking” dos alcatrões, e por isso precisam de ser reativados. Limpeza dos gases produzidos na gasificação 78 79 41 Albina Ribeiro Tecnologias da Biomassa 80 P. Basu, Biomass Gasification, Pyrolysis and Torrefaction - Practical Design and Theory, 2nd ed, Academic Press, San Diego, CA, 2013. ISBN: 978-0-12-396488-5 Limpeza dos gases produzidos na gasificação 80