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AULA 5 RETENÇÃO DE PESSOAS Prof. Dori Luiz Tibre Santos 02 CONVERSA INICIAL Desde o início desta disciplina, construímos uma trajetória histórica para que pudéssemos entender os assuntos relacionados à inquietação de como reter pessoas. Partimos dos conceitos da Era do Conhecimento construídos a partir das mudanças e transformações oriundas da Revolução Industrial. Também abordamos categorias complexas e comumente utilizadas tanto no meio acadêmico quanto no interior das organizações, como habilidades e competências. Cada categoria representa um conjunto de indicadores para que a gestão adequada de pessoas saiba gerir a capacidade e desenvolvimento de cada colaborador. Desenvolvemos também, os conceitos de conhecimento e de talento, bem como a sua gestão respectivamente. Nesta aula, precisamos refletir sobre o mercado de trabalho e as questões de desemprego e economia. Por fim, faremos uma análise do planejamento do recurso humano por parte da organização. CONTEXTUALIZANDO Nesta aula, teremos o seguinte caso proposto por Kanaane (2009, p.35): “uma organização, atuando na área de telecomunicações, vem sofrendo alterações significativas quanto à sua estrutura e funcionamento. Tais mudanças têm refletido na forma pela qual a empresa vem conduzindo seus negócios, influenciando inclusive nas relações de poder e autoridade mantidas entre seus colaboradores. Há nítidos sinais de que as transformações vêm influenciando o processo decisório, bem como o relacionamento interpessoal dos envolvidos. De modo geral, exige-se das pessoas rapidez para se adaptarem às novas demandas, multifuncionalidade, postura dinâmica e prática para realização das atividades. Entretanto, tem havido sinais de resistências às mudanças. Pergunta- se como implantar alternativas de ação que capitalizem o trabalho como meio de realização dos objetivos pessoais do trabalhador, aliado ao grau de comprometimento e de responsabilidade nesta organização? Voltaremos a esse caso ao longo desta aula. Continuamos, nesta aula, a oferecer mais elementos para a responder a nossa questão norteadora: como reter uma pessoa em uma empresa? 03 Caro aluno, permita-nos explorar o outro lado da moeda, o trabalhador. A ideia é analisar o papel desse ator social e sua evolução (?) profissional para que ele seja elemento primeiro para a formação desta questão norteadora: por que uma empresa quer reter tal trabalhador? Para isso, precisamos desenvolver o assunto sobre mercado de trabalho e economia, como pano de fundo e, depois, relacionar com o esse ator social, além de refletir sobre o desemprego e as novas relações de trabalho. TEMA 1 – MERCADO DE TRABALHO As pessoas e as organizações não nasceram juntas, como afirma Chiavenato (2004, p.102): As organizações escolhem as pessoas que desejam como colaboradores e as pessoas escolhem as organizações onde pretendem trabalhar e aplicar seus esforços. Mas para que essa relação seja possível é necessário que as organizações comuniquem e divulguem as suas oportunidades de trabalho a fim de que as pessoas saibam como procura-las e iniciar seu relacionamento. Mas conceituemos o termo: Mercado significa o espaço de transações, o contexto de trocas e intercâmbios entre aquelas que oferecem um produto e serviço e aqueles que procuram um produto ou serviço. O mecanismo de oferta e de procura é a característica principal de todo mercado. O mercado de trabalho é composto pelas ofertas de oportunidades de trabalho oferecidas pelas diversas organizações. Toda organização – na medida que oferece oportunidades de trabalho – constitui parte integrante do mercado de trabalho. Atente para a figura abaixo: Figura 1 – As situações do mercado de trabalho Fonte: Elaborado com base em Chiavenato (2004). Percebamos que o mercado de trabalho é dinâmico e sofre contínuas mudanças. As características estruturais e conjunturais do mercado de trabalho influenciam as práticas de RH das empresas. Quando o mercado de trabalho está em situação de oferta – quando as oportunidades de trabalho são maiores do que MERCADO DE TRABALHO OFERTA PROCURA (Abundância de oportunidades) (Escassez de oportunidades) 04 a procura -, as organizações se veem diante de um recurso escasso e difícil: as pessoas são insuficientes para preencher as posições em aberto. Quando o mercado de trabalho está em situação de procura – quando as oportunidades de trabalho são menores do que a procura -, as organizações se veem diante de um recurso fácil e abundante: há profusão de pessoas que disputam empregos no mercado. Figura 2 – O impacto do mercado de trabalho sobre as práticas de RH Mercado de trabalho em oferta Mercado de trabalho em procura Investimentos em recrutamento para atrair candidatos Baixos investimentos em recrutamento devido à oferta de candidatos Critérios de seleção mais flexíveis e menos rigorosos Critérios de seleção mais rígidos e rigorosos para aproveitar a abundância de candidatos Investimentos em treinamento para compensar a inadequação dos candidatos Poucos investimentos em treinamento para aproveitar candidatos já treinados Investimentos em benefícios sociais para atrair candidatos e reter funcionários Poucos investimentos em benefícios sociais, pois não há necessidade de mecanismos de fixação do pessoal Ofertas salariais estimulantes para atrair candidatos Ofertas salariais mais baixas para aproveitar a competição entre candidatos Ênfase no recrutamento interno, como meio de fixar os funcionários atuais e dinamizar os planos de carreira Ênfase no recrutamento externo como meio de melhorar o potencial humano, substituindo funcionários por candidatos de melhor qualificação Fonte: Elaborado com base em Chiavenato (2004). Além disso, as características do mercado de trabalho também influenciam o comportamento das pessoas e, em particular, dos candidatos a emprego. Quando o mercado de trabalho está em situação de oferta, existe excesso de vagas e oportunidades de emprego para os candidatos. Nestas circunstâncias, segundo Chiavenato (2004), eles podem escolher e selecionar as organizações que oferecem as melhores oportunidades e os maiores salários. Como existem 05 boas oportunidades no mercado de trabalho, os empregados ficam encorajados a deixar seus atuais empregos para tentar melhores oportunidades em outras organizações. . Todavia, quando o mercado de trabalho está em situação de procura, os mecanismos se invertem, como mostra a figura 3: Figura 3 – O impacto do mercado de trabalho sobre os candidatos Mercado de trabalho em oferta Mercado de trabalho em procura Excesso de vagas e de oportunidades de emprego no mercado de trabalho Escassez de vagas e de oportunidades de emprego no mercado de trabalho Os candidatos escolhem e selecionam as organizações que ofereçam melhores oportunidades, salários e benefícios Os candidatos concorrem entre si para conseguir as poucas vagas que surgem, apresentando propostas salariais mais baixas ou candidatando-se a cargos inferiores às suas qualificações As pessoas se predispõem a deixar seus empregos atuais para tentar melhores oportunidades em outras organizações, aumentando a rotatividade de pessoal (turn over) As pessoas procuram fixar-se nos atuais empregos, com medo de engrossar as filas de candidatos desempregados Os funcionários sentem-se donos da situação e fazem reinvindicações de melhores salários, benefícios e há a possibilidade de maior indisciplina Os funcionários passam a não criar atritos em seus empregos, nem a propiciar possíveis desligamentos; tornam-se mais disciplinados Fonte: Elaborado com base em Chiavenato (2004). Precisamos também entender os fatores condicionantes domercado de trabalho: o crescimento econômico, a natureza e a qualidade dos postos de trabalho, a produtividade, a inserção no mercado internacional. O primeiro tem a ver com a escala do emprego (crescimento do emprego), enquanto os demais fatores com a intensidade do emprego (qualidade e produtividade do emprego). Em uma economia aberta, quanto maior a intensidade, maior tende a ser a escala de transações. Como sabido, nas duas eras industriais – industrialização clássica e neoclássica – a composição do emprego era estável e permanente. Segundo Chiavenato (2004, p. 37): 06 Na Era da Informação, a mobilidade dos empregados cresceu assustadoramente com a migração do emprego na indústria para o setor de serviços, do assalariamento legal para o ilegal, do emprego industrial metropolitano para o não metropolitano e o aumento do trabalho autônomo. Em paralelo cresceu a exigência de qualificação dos trabalhadores em todos os setores. Em síntese, aumentou a mobilidade espacial, setorial, ocupacional e contratual. Essa mobilidade tende a depreciar rapidamente as habilidades específicas dos trabalhadores, o que significa que mesmo os trabalhadores mais preparados precisam de reciclagem permanente. A natureza do trabalho está mudando, exigindo maior velocidade nos processos de transição dos trabalhadores para a nova situação. Por isso, os esforços de formação e requalificação profissional tornam-se fundamentais. A maior pressão está nas empresas, principalmente em relação ao desenvolvimento tecnológico e as contínuas inovações. Em outras palavras, fazer cada vez mais e melhor com cada vez menos recursos, com menos pessoas. Isso significa produtividade e qualidade para proporcionar competitividade através de produtos melhores e mais baratos. Não é à toa que as organizações querem produzir mais e melhor com mão de obra competente, porém com menos gastos, inclusive, salários. TEMA 2 – UMA ANTIGA QUESTÃO Um dos grandes desafios impostos à gestão de pessoas (e também à macroeconomia) neste século tem sido explicar por que razões as empresas mundiais experimentam, com muita frequência, períodos continuados de desemprego elevado. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) mais de 800 milhões de pessoas estão desempregadas ou subempregadas em todo o mundo. O desemprego global atingiu neste século seu nível mais alto desde a Grande Depressão dos anos 30, muitos são os que creditam o declínio global da força de trabalho ao processo de globalização, e àquilo que convencionou-se chamar de 3ª Revolução Industrial. O advento de novas tecnologias e novas formas de organização empresarial tipicamente poupadoras de mão de obra introduziu-se para além da produção direta na linha de montagem: invadiu escritórios com o downsizing e a tecnologia cada vez mais mutável. O fechamento de postos de trabalho atinge todos os setores da economia: no setor primário1, motivado por necessidades de produção em alta escala, e no 1 O setor primário está relacionado à produção por meio da exploração de recursos da natureza. Podemos citar como exemplos de atividades econômicas do setor primário: agricultura, mineração, pesca, pecuária, extrativismo vegetal e caça. É o setor primário que fornece a matéria-prima para a indústria de transformação. Disponível em <http://www.suapesquisa.com/geografia/setores_economia.htm>. Acesso em: 2 jul. 2017. 07 setor secundário2, impulsionado pela necessidade de aumento de produtividade para a crescente competição internacional. Mesmo no setor terciário3, se o cliente final não agregar valor à sua percepção, algumas atividades e profissões irão desaparecer (como o caso do digitador – como profissão). O desemprego estrutural, um dos grandes males das crises cíclicas do capitalismo, volta à cena internacional. (Zebral Filho, 1998, p. 11) No Brasil, desde o fim do século XX, um terço dos trabalhadores do setor industrial foram mandados para casa. Cresce a percepção social da gravidade do problema e a discussão de como o Estado pode contribuir por meio de políticas públicas eficazes para a resolução do problema: Seria flexibilizando as relações de trabalho? Ampliando a rede de proteção ao trabalhador? Investindo em re- treinamento da mão de obra? Protegendo setores ainda despreparados para a concorrência internacional? No intuito de clarificar essas respostas, cabe perguntar as razões pelas quais uma sociedade determina em que grau é capaz de empregar todos os seus membros. Por outro lado, a qualificação média da mão de obra e o grau de desigualdade da distribuição das oportunidades do ponto de vista da estratificação social e regional determinam em que medida a demanda encontrará a oferta. Tais desigualdades podem explicar, ao menos em parte, os casos em que elevadas taxas de desemprego, em certos setores de atividade, convivem com a escassez de mão de obra em outros setores para os quais não há profissionais qualificados ou, simplesmente, trabalhadores interessados. O hiato entre oferta e demanda pode variar tanto em função dos incentivos à contratação de novos empregados e por seus processos burocráticos de aplicação de acordos e solução de conflitos. 2 É o setor da economia que transforma as matérias-primas (produzidas pelo setor primário) em produtos industrializados (roupas, máquinas, automóveis, alimentos industrializados, eletrônicos, casas etc.). Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/geografia/setores_economia.htm>. Acesso em: 2 jul. 2017. 3 É o setor econômico relacionado aos serviços. Os serviços são produtos não materiais que pessoas ou empresas prestam a terceiros para satisfazer determinadas necessidades. Como atividades econômicas desse setor econômico, podemos citar: comércio, educação, saúde, telecomunicações, serviços de informática, seguros, transporte, serviços de limpeza, serviços de alimentação, turismo, serviços bancários e administrativos, transportes etc. Este setor é marcante nos países de alto grau de desenvolvimento econômico. Quanto mais rica é uma região, maior é a presença de atividades do setor terciário. Com o processo de globalização, iniciado no século XX, o terciário foi o setor da economia que mais se desenvolveu no mundo. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/geografia/setores_economia.htm>. Acesso em: 2 jul. 2017. 08 O casamento de oferta e demanda por trabalho depende ainda da eficácia das intervenções reguladoras do Estado, da pertinência e da pontaria de suas políticas públicas, administradas no intuito de corrigir imperfeições do mercado e de implementar esquemas de natureza setorial e compensatória, principalmente no atendimento a grupos selecionados, tais como jovens da geração Z, trabalhadores de setores específicos da indústria e trabalhadores rurais. Depende ainda do grau de contribuição de programas privados implementados por entidades de classe, ONGs ou outras entidades do terceiro setor. Mas, sobretudo, o que determina o grau em que cada tipo de demanda encontra sua oferta são as dimensões educativas e formativas (escolaridade, capacitação técnica e inserção no mercado) adequadas ao novo perfil do trabalho, do trabalhador e das relações de trabalho. O resultado desse conjunto de fatores determinantes sobre o perfil e o comportamento do mercado de trabalho é tão diverso quanto as inúmeras combinações que esses múltiplos elementos podem formar. TEMA 3 – EMPREGO EM UM MUNDO GLOBALIZADO Vamos conversar um pouco sobre economia. A intenção não é o aprofundamento, mas precisamos entender alguns processos básicos sobre o emprego. Talvez o mais desatento se pergunte qual a importância de discutirmos tal assunto. O objetivo desta aula é fazermos um contraponto sobre a retenção de pessoas pelo ponto de vistado trabalhador. Às vezes reclamamos que não se tem oportunidades e que as empresas acabam “pegando” os melhores candidatos. Precisamos discutir as implicações econômicas que uma organização sofre (mesmo que não se aprofundando muito sobre esse aspecto) e também entender a implicação do mercado de trabalho nesse processo de oportunidades. O termo “globalização” é amplamente usado para designar, de modo geral, o conjunto de mudanças que abarcam as economias modernas desde o final do século XX até este término da segunda década do século XXI e que se manifestam em diversas esferas da vida pública e privada. Esse processo que impõe às economias uma preocupação central com a busca de produtividade para competitividade e com o estabelecimento de estratégias de desenvolvimento. Sabemos que as mudanças no modo e nos meios de produção que alteram as estruturas produtivas das economias no pós- 09 guerra são erroneamente entendidas em função de interpretações particularizadoras e vulgarizantes de um fenômeno global. Tais mudanças, quando entendidas como alterações nos padrões de industrialização pela ação de setores econômicos específicos, constituem uma simplificação do processo e uma inversão de relação causa-efeito. Quando consideradas como um processo de ruptura com padrões anteriores, atingem diversos setores e, segundo sua própria ação, produzem novas indústrias, setores e atividades econômicas. Dessa forma, essas alterações setoriais devem ser entendidas como consequência e não causa primária de um fenômeno de caráter global. Outra particularização comum é o entendimento das mudanças produtivas como simples superação da sociedade industrial e o surgimento da sociedade pós-industrial caracterizada pela migração da força de trabalho do setor industrial para o setor de serviços, em especial para setores ligados à produção e disseminação de informação, lazer e entretenimento, como o setor de turismo. A Era da Informação é responsável pelas mudanças no modo e no meio de produção capitalista. Sua área de influência transcende a ciência ou a economia, em função de seu papel articulador na vida social, cultural e política do fim do século XX para os dias de hoje. Essa era caracteriza-se por uma revolução técnico-científica e pela associação do conhecimento cientifico à produção. Tal associação tem seu lugar histórico a partir do pós-guerra, com o surgimento de indústrias dependentes das atividades de pesquisa e desenvolvimento, como energia nuclear, petroquímica, biotecnologia e informática, e com o crescimento da indústria da educação, em resposta às necessidades de formação de capital humano qualificado para alimentação da produção com portadores do saber. Alguns autores, como Soares e Pero (1995), citam que a dita 3ª Revolução Industrial inaugura-se quando a Era da Informação se manifesta sobre a lógica da produção e do trabalho. Assim a 3ª Revolução Industrial consiste no conjunto articulado de diversas mudanças no mundo produtivo (meios e modos de produção) derivadas da Era da Informação, na medida em que esta última cria a ambiência adequada e as condições materiais necessárias para tais mudanças. Os elementos formadores desse conjunto articulado referem-se à mudança do papel desempenhado pela automação no processo produtivo, que se introduzem agora nas atividades administrativas (para além da linha direta de produção), e às alterações de paradigma no ambiente das organizações empresariais, que pela dispersão geográfica para zonas que combinavam 010 relações adequadas de qualificação-salário, mercado de trabalho ofertado, facilidades logísticas de distribuição de produtos e mínima infraestrutura eficiente, inauguraram um novo padrão de organização da produção, agora intensivo e descentralizado. Além desses novos padrões de organização da produção (complexos industriais regionais, empresas transnacionais e produção globalizada), a 3ª Revolução Industrial traz consigo novos padrões e conceitos para produto (produtos globais e “ecologicamente corretos”, similares em todos os mercados, oferecidos com possibilidade de customização dinâmica e distribuídos globalmente associados a uma série de serviços, como de assistência técnica e atualização), novos modelos de arquitetura organizacional (estruturas de produção e administração fundidas e organizadas em rede e flexibilização de estruturas hierarquizadas em cooperativas) e novos padrões de associação empresarial (alianças estratégicas como parcerias e fusões entre empresas). TEMA 4 – O NOVO TRABALHADOR As transformações do ambiente laboral estão sumarizadas no conceito “substituição do emprego pelo trabalho”. As oportunidades laborativas deslocam- se num contínuo entre o conceito de “emprego” (entendido na sua acepção formal) e o conceito de “trabalho” (entendido na sua acepção vulgar), concentrando-se cada vez mais na região circunvizinha a este último. Entenda-se o conceito de “emprego”, de acordo com Bohlander (2010), como uma relação de compra e venda da força laborativa entre contratado e contratante, formalizada contratualmente, padronizada, dotada de certo grau de rigidez com relação a contratação e demissão, e de certo grau de estabilidade com relação a permanência; tal relação é celebrada usualmente sem temporalidade preestabelecida e corresponde ao desempenho, por parte do contratado, de um conjunto de tarefas determinadas pelo contratante, segundo normas por este estabelecidas; de seu exercício derivam direitos sociais garantidos pelo Estado ao contratado e uma remuneração periódica. Entenda-se o conceito de “trabalho”, segundo Zebral Filho (1998), como uma relação, customizada ou personalizada, de compra e venda da força laborativa entre duas partes, formalizada contratualmente de modo difuso ou informalizada pelo acordo das partes; tal relação é dotada de menor ou nenhum grau de rigidez com relação à “entrada” e “saída” e de menor ou nenhum grau de estabilidade com relação à permanência; celebra-se para a obtenção de determinados resultados pactuados entre as partes através do desempenho de tarefas variadas e difusas escolhidas pelo contratado segundo acordo contínuo entre as partes, de cujo sucesso ou insucesso deriva uma remuneração ligada ao resultados obtidos. 011 Tais mudanças lançam um novo conceito: empregabilidade. Autores como Hanashiro (2008), Gil (2014) e Bohlander (2010), afirmam que “a empregabilidade pode ser entendida como uma medida das qualificações intrínsecas do indivíduo que o tornam capaz de adequar-se às necessidades do mercado de trabalho incrementando seu potencial de obter ou permanecer no emprego”. Tal “medida” enfatiza habilidades de cunho mais geral, do tipo interpessoal, capacidade de aprendizado e adaptabilidade, perfis mais generalistas e preocupação com o processo de aprendizado continuado, distanciando-se da antiga suficiência da dedicação, pontualidade e conhecimento técnico, características do fordismo e da sociedade predominantemente industrial. Tais transformações vão de encontro à substituição do trabalho diretamente produtivo pela automação (da forma descrita anteriormente), levando- nos a uma sociedade pós-industrial: a sociedade de serviços. Sociedade esta caracterizada pelo inchaço do contingente de trabalhadores no setor terceiro das economias, principalmente em setores como informação, comunicação e lazer. Esse novo conceito parece estar de acordo como uma tendência global e da natureza estrutural: a criação líquida de oportunidades junto a atividades gerenciais, administrativas, de vendas e de prestação de serviços de assistência pessoal, em detrimento de oportunidades ligadas diretamente ao processo produtivo e a atividades repetitivas. Mesmo no setor terciário, atividades e profissões que não agregam valor à percepção do cliente acerca do produto ou serviçoofertado estão desaparecendo. Assim, o trabalhador moderno deverá ajustar-se às novas questões que apontam no mundo do trabalho: novos estilos de produção, nos quais deve haver flexibilidade, inovação, tecnologia e produtividade. Exigindo do trabalhador maior escolaridade, maior destreza em aprender novos processos que estão em permanente evolução e produção mais eficaz e eficiente. Também exigirá, por parte do trabalhador, maior flexibilidade, iniciativa, inovação, interpessoalidade, e uma inclinação para aprender constantemente. Esse conjunto forma competências essenciais para o trabalhador. Essa nova ambiência impacta positivamente as relações capital-trabalho: a inadequação das relações fixas e de alguma rigidez relativa face às flutuações da demanda pela produção, as constantes alterações tecnológicas no padrão produtivo que exigem a cada instante novas habilidades e competências as quais forçam as empresas a renovar seu capital humano, bem como a necessidade dos trabalhadores de se manter empregados num ambiente de crescimento da 012 produtividade que provoca demissões, levam à busca conjunta de novos arranjos entre capital e trabalho no sentido de atender às necessidades de ambos, ou seja, melhores remunerações e melhores trabalhadores. TEMA 5 – PLANEJANDO OS RECURSOS HUMANOS Estamos vendo, ao longo dos temas expostos nesta aula, que o mercado de trabalho é volátil e influenciado por alguns fatores, como a economia. Para isso, para que se efetue uma boa gestão de Pessoas, é imprescindível um planejamento dos recursos humanos. Esse planejamento consiste em dimensionar quantas pessoas serão necessárias à empresa, ou a uma parte dela, para que possa desenvolver suas atividades e alcançar seus objetivos. Esse processo é bastante complexo, porque é dinâmico. Como você sabe, o planejamento consiste em um processo de pensamento, e os planos são os seus resultados. Hoje em dia, pressupor que esse planejamento, no que tange a recursos humanos, esteja centrado em uma descrição de cargos, é acreditar ainda em uma realidade bastante estável, na qual a necessidade de adaptação seja pequena. A utilização dos cargos como elemento-chave da gestão de pessoas ocorreu com o início da Era Industrial. Contudo, muitas empresas ainda estão, em pleno século XXI, com esse tipo de estratégia. Hanashiro e Zuccarelli (2008) apresentam algumas limitações do sistema de gestão baseada em cargos: baixa flexibilidade do sistema perante reestruturações organizacionais e novas formas de organização do trabalho; engessamento da recompensa salarial de acordo com as faixas do cargo, não permitindo remunerar os empregados pelo que correspondem ao que deles se espera; centralização das decisões na área de RH, impedindo que os gerentes possam opinar nas decisões salariais relativas a seus funcionários; e desalinhamento com a estratégia da empresa, contemplando as relações hierárquicas em detrimento do foco nos aspectos críticos para sobrevivência da empresa. Discutimos exaustivamente que há mudanças na forma de gestão, também impulsionada pela economia instável (que gera desempregos). Uma saída é o planejamento de recursos humanos tendo por base as competências. Para isso, a organização precisa saber quais competências organizacionais precisa ter e, em função delas, quais as individuais, identificando diferenças e alinhando-as. 013 As competências organizacionais influenciam a determinação de quais competências individuais a organização irá precisar e, com isso, a prática de gestão de pessoas que será capaz de gerar o comprometimento delas com a organização e levá-las a transformar habilidades em competências. Vamos exemplificar: hoje, verifica-se uma forte tendência dos clientes de não querer sair de casa para obter seus serviços. Uma das competências que algumas empresas estão buscando adquirir e manter diz respeito ao tempo de entrega dos produtos. Essa é uma competência complexa que não é fácil de ser alcançada no mundo do varejo. Outro aspecto que influencia o planejamento de recursos humanos é a tecnologia. Atualmente, há cargos que não existirão amanhã, assim como aqueles que já existiram e, hoje, não existem mais, pois a tecnologia os transformou. O dimensionamento dos recursos humanos necessários sofre influência igualmente da experiência e da produtividade alcançada pelas equipes. Assim, se forem contratadas pessoas sem experiência, serão necessárias mais pessoas para desenvolver uma determinada atividade. Contratar pessoas experientes, porém, não basta. Os novos colaboradores precisarão de um tempo para adaptar- se à cultura da empresa e, por outro lado, podem trazer “vícios” na sua forma de trabalhar que não resultem em maior produtividade. Quando se diz dimensionamento de recursos humanos, estamos afirmando a necessidade da organização em entender quais as competências que precisa manter ou adquirir, assumindo assim, uma natureza flexível que permite o acompanhamento do mercado e a sustentação de vantagens competitivas. FINALIZANDO Nesta aula, analisamos alguns aspectos exteriores à organização, mas que a influencia na tomada de decisões: o mercado de trabalho (nas suas relações de oferta e procura) e alguns aspectos da economia e desemprego. Em nossa próxima aula, abordaremos a necessidade de o colaborador planejar a sua carreira, a fim de não ficar à mercê das organizações (pois nem todas pensam no desenvolvimento da carreira de seus colaboradores) ou da flutuação da economia: melhores oportunidades de trabalho, com melhores condições de desenvolvimento profissional, e melhores oportunidades de crescimento e remuneração. 014 REFERÊNCIAS ANTUNES, A. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Bomtempo, 1999. BOHLANDER, G.; SNELL, S. Administração de recursos humanos. São Paulo: Cengage Learning, 2010. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. DAÓLIO, L. C. Perfis e competências: retratos dos executivos, gerentes e técnicos. 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