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Daniela Carvalho - TLVI FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS INTRODUÇÃO A febre é uma queixa comum e responde por aproximadamente 25% de todas as consultas na emergência de pediatria. Em 20% dos casos, a identificação do foco após a avaliação inicial não é possível (febre sem sinais localizatórios – FSSL). A maioria apresenta uma doença infecciosa aguda autolimitada ou está no pródromo de uma doença infecciosa benigna; poucas têm uma infecção bacteriana grave ou potencialmente grave. • Desafio -> diferenciação dos processos febris de uma doença benigna autolimitada daqueles poucos que podem ter uma infecção bacteriana grave DEFINIÇÕES • Febre: elevação da temperatura corpórea em resposta a uma variedade de estímulos, mediada e controlada pelo sistema nervoso central (SNC). o A medida da temperatura corpórea mais confiável é aquela tomada por via oral ou retal. Entretanto, a mais utilizada em nosso meio é a axilar. o Não há um consenso absoluto quanto aos valores que devem ser considerados como febre em crianças, mas geralmente considera – se: ▪ Temperatura retal > 38,3°C ▪ Temperatura oral > 38°C ▪ Temperatura axilar > 37,8°C • Febre sem sinais localizatório (FSSL): febre com menos de 7 dias de duração em uma criança em que história clínica e exame físico cuidadosos não revelam sua causa. • Infecção bacteriana grave (IBG): é toda infecção bacteriana que acarreta risco de morbidade ou mortalidade, caso ocorra atraso em seu diagnóstico. o Inclui: infecção urinária, pneumonia, bacteriemia oculta, meningite bacteriana, artrite séptica, osteomielite, celulite e sepse. o O risco é maior nos menores de 3 meses de idade (principalmente RN) e decresce com a idade. • Bacteremia oculta: refere-se à presença de bactéria em hemocultura, em uma criança febril, sem infecção localizada e com pouco ou nenhum achado clínico. AVALIAÇÃO DA CRIANÇA COM FSSL (crianças até 3 anos) Critérios de Rochester • Separa os lactentes menores de 3 meses de idade em 2 grupos: alto risco e baixo risco para presença de doença bacteriana grave na vigência de FSSL. o Deve preencher todos os critérios para ser considerado de baixo risco. Daniela Carvalho - TLVI Protocolo de Baraff • Estratifica as crianças com FSSL por grupo etário e, ainda, dentro de cada faixa etária, em baixo e alto risco para doença bacteriana grave. Hospital Universitário da Universidade de São Paulo • O protocolo de atendimento é baseado no protocolo de Baraff e no critério de Rochester, mas propõe uma intervenção menor (Figura 1). Obs: Vacinação completa para Haemophilus influenzae tipo b (Hib), pneumococo e meningococo é considerada quando a criança recebeu pelo menos 2 doses de cada uma dessas vacinas. Toda criança < 3 anos de idade com FSSL será avaliada em relação à presença ou não de comprometimento do estado geral (toxemia). Essa avaliação deve ser feita com a criança afebril, pois a própria febre pode deixar o paciente com variados graus de prostração. • FSSL COM COMPROMETIMENTO DO ESTADO GERAL (independentemente da idade) -> hospitalização, investigação para sepse e tratamento com antibióticos. o Investigação para sepse: hemograma completo, hemocultura, sedimento urinário, urocultura e, quando indicado, líquido cefalorraquidiano (LCR) (análise bioquímica, coloração de Gram e cultura), radiografia torácica e coprocultura. Daniela Carvalho - TLVI • FSSL SEM COMPROMETIMENTO DO ESTADO GERAL (abordagem varia de acordo com a idade): o RN (< 30 dias): ▪ Hospitalização, submeter à investigação para sepse e receber antibioticoterapia até o resultado das culturas. • Terapia empírica inicial: pode-se utilizar cefalosporina de 3ª geração (cefotaxima ou ceftriaxona). o Lactentes jovens (30 a 90 dias de vida): avaliar risco de IBG, pelos critérios de Rochester. ▪ Baixo risco: seguimento clínico diário ▪ Alto risco: hospitalização, coleta de exames (hemocultura, urocultura, LCR, radiografia de tórax) e introdução de antibioticoterapia empírica (cefalosporina de 3ª geração). o Crianças de 3 a 36 meses de idade: são subdivididas em dois grupos de acordo com a temperatura axilar. ▪ Temperatura ≤ 39°C: coleta de sedimento urinário e urocultura (por cateterização vesical nas crianças sem controle esfinctérico ou jato médio nas crianças com controle esfinctérico). Isto pois a infecção urinária é a mais prevalente. • Exame normal -> observação clínica, com reavaliação diária e utilização de antitérmicos usuais, até a resolução da febre ou identificação do foco infeccioso. ▪ Temperatura > 39°C: investigação laboratorial com coleta de sedimento urinário e urocultura (idem). Se exame normal deve-se realizar a coleta de exames de sangue e radiografia de tórax. • Bacteremia oculta -> leucócitos > 20.000/mm3 ou total de neutrófilos > 10.000/mm3 e radiografia de tórax normal. o recomenda-se introdução de antibioticoterapia empírica com cefalosporina de 3ª geração (ceftriaxona na dose de 50 mg/kg, IM) e retorno diário para reavaliação clínica e verificação do andamento da hemocultura nas crianças sem vacinação completa para Haemophilus influenzae tipo b, Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis. Nas crianças com vacinação completa opção é reavaliação diária sem introdução de antibioticoterapia, pois a taxa de bacteriemia oculta nessa população é inferior a 1%. • Todas as crianças devem ser reavaliadas diariamente até a resolução do quadro, resultados finais das culturas, quando coletadas, e/ou identificação do foco da febre. PROPOSTA ATUAL DE AVALIAÇÃO DAS CRIANÇAS COM FSSL Com a maior disponibilidade da pesquisa de vírus respiratório e introdução das vacinas para pneumococo e meningococo no calendário nacional, a avaliação da criança com FSSL pode ser mais observacional, depois de afastada infecção urinária, conforme sugerido na estratégia da Figura 2. Daniela Carvalho - TLVI CONSIDERAÇÕES FINAIS Independentemente da opção de manejo das crianças com FSSL, a avaliação clínica cuidadosa e reavaliação diárias são insubstituíveis e devem sempre ser realizadas. A conduta do pediatra também depende da condição sociocultural da família, da disponibilidade para trazer a criança para reavaliação e da compreensão dos riscos. Fonte: Resumo baseado no livro Tratado de Pediatria - Sociedade Brasileira de Pediatria. Dennis Alexander Rabelo Burns...[et al.]. 4ª ed. Editora Manole. 2017. Págs 899 – 903.
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