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Fonte: Tratado de Pediatria; Atualização de condutas em Pediatria- SPSP 1 Letícia Marques- P6 FEBRE NA CRIANÇA • Embora, na maioria das vezes, seja a primeira manifestação de infecções virais agudas, a presença da febre é temida, pois também pode se apresentar como sinal inicial de doenças graves. DEFINIÇÃO • E definida como uma elevação da temperatura corpórea, em resposta a uma variedade de estímulos, mediada e controlada pelo centro termorregulador localizado no sistema nervoso central (SNC) • Os valores geralmente utilizados são: temperatura retal > 38,3°C; temperatura oral > 38°C e temperatura axilar > 37,8°C • Hiperpirexia: 40,5 ºC • Hipotermia: 35,5 ºC • A ANVISA proíbe, no Brasil, a fabricação, importação, comercialização e o uso em serviços de saúde de termômetros e esfigmomanômetros com coluna de mercúrio a partir de janeiro de 2019 • A medida da temperatura corpórea mais confiável é aquela tomada por via oral ou retal. As mensurações de temperatura axilar, timpânica ou por palpação são consideradas menos confiáveis • A medida da temperatura axilar é adequada para triagem clínica • Febre é diferente de hipertermia. A hipertermia não segue a fisiopatologia da febre ou decorre de fatores externos que determinam a incapacidade de controle da temperatura pelo hipotálamo. É mandatória a diminuição da temperatura na hipertermia, mas sem antitérmicos. EX: insolação, intoxicações • Febre é um sinal e não uma doença. ETIOLOGIA • Infecções virais são as mais frequentes, seguidas das bacterianas • Doenças inflamatórias: lúpus, artrite reumatoide • Neoplasias: leucemias, linfomas • Imunológicas: vacinas • Drogas: antibióticos, anfotericina B • Dano tissular: trauma, injeção, queimaduras • Febre fictícia: fraudulenta, autoinduzida. CLASSIFICAÇÃO • Febre com identificação de causa (+ comum) • Febre de origem indeterminada (FOI) • Febre sem sinais de localização (FSSL). FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA • Febre por 8 dias ou mais, na qual o exame físico, história e dados laboratoriais não revelam a causa. • Doenças infecciosas (bacterianas e virais), neoplasias, doenças inflamatórias e e a febre fictícia • Muito comum em pacientes com tuberculose, pois demora o diagnóstico em crianças • Categorias: FOI clássica, FOI hospitalar, FOI em neutropênicos, FOI em HIV +. FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS • Ocorrência de febre com menos de sete dias de duração em uma criança em que a história clínica e o exame físico não revelaram a causa • A maioria dessas crianças apresenta uma doença infecciosa aguda autolimitada ou está no pródomo de uma doença infecciosa benigna; poucos têm uma infecção bacteriana grave (IBG) ou potencialmente grave. Fonte: Tratado de Pediatria; Atualização de condutas em Pediatria- SPSP 2 Letícia Marques- P6 BACTEREMIA OCULTA • Bacteriemia oculta (BO) refere-se à presença de bactéria em hemocultura, em uma criança febril, sem infecção localizada e com pouco ou nenhum achado clínico. Embora a maioria dos episódios de bacteriemia oculta tenha resolução espontânea, às vezes podem ocorrer complicações sérias que podem levar a morte • Os agentes mais comuns para BO são Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae tipo b, Neisseria meningitidis e Salmonella sp, Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes. Nos lactentes até 60 dias, também são encontrados Streptococcus agalactie e Escherichia coli • O risco de BO aumenta proporcionalmente com a temperatura, com exceção a essa regra as crianças abaixo de 3 meses de idade, nas quais não há correlação nítida entre magnitude de febre e infecção. No período neonatal, a hipotermia pode ter maior significado do que febre • Tem alto risco para febres > 39ºC, em toxemia, leucocitose >15.000, PCR elevado. INFECÇÃO URINÁRIA • É a infecção mais comum de FSSL • Não possuem queixas urinárias • Pode ter diminuição do apetite, choro com maior frequência • É mais frequente em meninas. PNEUMONIA OCULTA • Taquipneia ou outro sinal e sintoma respiratório são comum, mas, em 3% dos casos, o único achado é a febre • Em 2% das crianças com FSSL, não vacinadas para pneumococo e Hib, com temperatura >39ºC e leucócitos > 20.000 tem pneumonia. MENINGITE OCULTA • Meningite por menincoco é mais rara que a pneumocócica • A faixa etária < 24 meses é a mais acometida • 25 a 50 % dos pacientes com meningocócica haviam sido liberados após a avaliação inicial. DOENÇA BACTERIANA GRAVE • O conceito de doença bacteriana grave inclui: infecção urinária, pneumonia, bacteriemia oculta, meningite bacteriana, diarreia aguda bacteriana, artrite séptica, osteomielite, celulite e sepse. O risco de IBG é maior nos menores de 3 meses de idade, principalmente nos recém-nascidos (RN), e decresce progressivamente com a idade • Qualquer criança com febre, que se apresente com evidências de alteração de perfusão de orgãos com má- perfusão periférica, alteração do estado de consciência, taquipnéia, taquicardia, hipotensão, oligúria ou evidência de coagulopatia, deve receber o diagnóstico presuntivo de sepse. O tratamento inclui, além das medidas de suporte, coleta de hemocultura, urocultura, líquor e introdução de antibioticoterapia empírica inicial. AVALIAÇÃO DA CRIANÇA FEBRIL • A avaliação da criança febril começa por uma anamnese detalhada, passa por um exame físico completo, destacando-se a presença ou ausência de sintomas e sinais que possam ser utilizados para prever o grau de risco: ✓ Estado geral, temperatura e idade ✓ Atenção para frequência cardíaca em batimentos por minuto (bpm): < 12 meses (≥ 160 bpm), 12 a 24 meses (≥ 150 bpm) e 2 a 5 anos (≥ 140 bpm) ✓ Observar a frequência respiratória: 6 a 12 meses (>50 ipm) e > 12 meses (>40 ipm) Fonte: Tratado de Pediatria; Atualização de condutas em Pediatria- SPSP 3 Letícia Marques- P6 ✓ Saturação de O2 ≤ 95% ✓ Avaliar o tempo de enchimento capilar, alerta se >3 segundos ✓ Atenção para o grau de hidratação, avaliar mucosas e turgor da pele ✓ Importante analisar a criança quanto ao grau de atividade e responsividade aos estímulos • Essa avaliação classificará em verde, amarelo ou vermelho (protocolo semáforo) • Temperatura > 39ºC é sinal de alerta, é um fato preditivo para IBG • Estado geral comprometido é sinal de alerta • No exame físico, a presença de toxemia ou comprometimento do estado geral, está associada com risco aumentado de IBG • Idade: o risco de IBG é maior abaixo de 3 meses principalmente em RN e entre 3 e 36 meses. Acima de 36 meses, o risco é menor • Situação vacinal • Avaliação laboratorial: ✓ Leucograma: 15.000 l/mm3 separa crianças em baixo e alto risco. Nos lactentes <3 meses com leucócitos < 5000 é considerado fator de risco por conta das bactérias gram negativas ✓ Rx de tórax: indicado se houver aumento da FR ou SatO2 < 95 % ou com leucócitos >20000, pois há risco aumentado de pneumonia ✓ Exame de ruina: leucócitos, nitritos, > 10 leuocitos/ campo. Urocultura é padrão ouro. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO DA USP • Vacinação completa para haemophilus influenzae tipo b (Hib), pneumococo e meningococo é considerada quando a criança recebeu pelo menos 2 doses de cada uma dessas vacinas • Inicialmente, as crianças com FSSL menores de 3 anos de idade são avaliadas em relação à presença ou não de comprometimento do estado geral (toxemia). Essa avaliação deve ser feita com a criança afebril, pois a própria febre pode deixar o paciente com variados graus de prostração • Toda criança com comprometimento do estado geral, independentemente da idade, deve ser hospitalizada, investigada para sepse e tratada com antibióticos. A investigação para sepse compreende coleta de hemograma completo, hemocultura, sedimento urinário, urocultura e, quando indicado, líquido cefalorraquidiano (LCR) (análise bioquímica, coloração de Gram e cultura), radiografia torácicae coprocultura • A abordagem da criança com FSSL sem comprometimento do estado geral, varia de acordo com a idade: ✓ RN: deve ser hospitalizado, submetido à investigação para sepse e receber antibioticoterapia até o resultado das culturas. Como terapêutica empírica inicial, pode-se utilizar cefalosporina de 3ª geração (cefotaxima ou ceftriaxona) ✓ Lactente jovem: as crianças dessa faixa etária são avaliadas em relação ao risco de IBG, pelos critérios de Rochester: se baixo risco, faz-se seguimento clínico diário; se alto risco, indica-se hospitalização, coleta de exames (hemocultura, urocultura, LCR, radiografia de tórax) e introdução de antibioticoterapia empírica (cefalosporina de 3ª geração) ✓ Entre 3 e 36 meses: as crianças são subdivididas em dois grupos de acordo com a temperatura axilar: -Temperatura ≤ 39°C: deve-se considerar a coleta de sedimento urinário e urocultura, uma vez que a infecção urinária é a infecção bacteriana mais prevalente. Essa coleta está especialmente indicada nos meninos menores de 12 meses de idade e nas meninas menores de 24 meses de idade. Com resultado do exame normal, a conduta é observação clínica, com reavaliação diária e utilização de antitérmicos usuais, até a resolução da febre ou identificação do foco infeccioso - Temperatura > 39°C: inicia-se investigação laboratorial com coleta de sedimento urinário e urocultura para afastar infecção urinária, e, quando afastada, deve-se realizar a coleta de exames de sangue e radiografia de https://pt.wiktionary.org/wiki/%E2%89%A4 Fonte: Tratado de Pediatria; Atualização de condutas em Pediatria- SPSP 4 Letícia Marques- P6 tórax. A suspeita de bacteriemia oculta é feita na presença de número de leucócitos > 20.000/mm3 ou total de neutrófilos > 10.000/mm3 e radiografia de tórax normal. Nessa situação, recomenda-se introdução de antibioticoterapia empírica com cefalosporina de 3ª geração (ceftriaxona na dose de 50 mg/kg, IM) e retorno diário para reavaliação clínica e verificação do andamento da hemocultura nas crianças sem vacinação completa para Haemophilus influenzae tipo b, Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis. Nas crianças vacinadas (2 ou mais doses) para hemófilos, pneumococo e meningococo, a opção é reavaliação diária sem introdução de antibioticoterapia, pois a taxa de bacteriemia oculta nessa população é inferior a 1% • Proteína C reativa não se eleva antes das 12 horas. Procalcitonina se eleva mais rápido, mas é pouco disponível • Inúmeros vírus são responsáveis por doenças febris em crianças, que podem se apresentar inicialmente como FSSL, como herpesvírus humano 6, enterovírus, adenovírus e influenza. O Brasil vive, neste momento, uma epidemia de dengue que, com certa frequência, pode se apresentar inicialmente como FSSL. TRATAMENTO • Criança com febre não devem ser despidas ou muito agasalhadas. Caso a criança febril sinta frio, deve ser protegida com um cobertor • Métodos físicos: não se utiliza mais os banhos frios ou com álcool, pois causam calafrios, vasoconstricção,elevação da adrenalina e da PA. As compressas mornas devem ser usadas próximas ao uso do antitérmico • Dar suporte ao paciente com uma boa hidratação e, se necessário, o antitérmico, visando aliviar o mal-estar geral causado pelo sintoma febre • AAS não se usa mais, devido aos efeitos colaterais, da Sindrome de Reye e pela Dengue ser muito comum na nossa população (hemorragias) • Antitérmicos/antipiréticos Fonte: Tratado de Pediatria; Atualização de condutas em Pediatria- SPSP 5 Letícia Marques- P6 ✓ Deve ser feito quando a febre está associada a desconforto evidente (choro intenso, irritabilidade, redução da atividade, redução do apetite, distúrbio do sono) ✓ Não previnem convulsões febris ✓ São comumente relacionados a nefrotoxicidade ✓ Há um consenso de que antipiréticos devem ser reservados para febres acima de 38,2°C, mas principalmente para minimizar o desconforto que, normalmente, só aparecem acima de 39,5ºC ✓ Crianças com doenças metabólicas, que já tiveram crises convulsivas, em sepse e que possuem cardiopatias ou pneumopatias crônicas, devem fazer uso do antitérmico ✓ Ao optar por prescrever um antitérmico, o pediatra deve informar os pais explicitamente que a medicação não diminuirá a temperatura até o nível normal e não impedirá que picos febris se repitam por vários dias, enquanto a infecção durar ✓ Três antitérmicos estão disponíveis no Brasil: não devem ser associados, apenas monoterapia I. Paracetamol- 10-15mg/kg de 6 em 6 horas II. Ibuprofeno- 5-10 mg/kg de 6 em 6 (máximo de 40mg/kg/dia) III. Dipirona- 10-25 mg/kg de 6 em 6 horas.
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