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ARTIGO DIREITO AO ESQUECIMENTO

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
LARÍCIA GOMES DA COSTA E SILVA
A TUTELA DO DIREITO AO ESQUECIMENTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
TRÊS RIOS 
2018
Resumo: O presente artigo discorre sobre o Direito ao Esquecimento, trabalhando com as suas diretrizes no contexto jurídico brasileiro, analisando o tema à luz do Estado democrático, do princípio da dignidade da pessoa humana e da liberdade de informação. Inicialmente, analisa-se o conceito do termo jurídico e a origem do tema, contextualizando a sua formação e incidência histórica nos ordenamentos jurídicos. Em segunda análise, passa a se observar o direito ao esquecimento sobre a óptica mundial, demonstrando os diferentes casos existentes de sua aplicação, a fim de que se a profunde a discussão em questão. Por se tratar de um direito fundamental, será tratado de forma correlacionada com os outros direitos, principalmente os da liberdade e privacidade, tendo em vista que, na contemporaneidade, possui relevante importância devido à grande incidência de casos que envolvem as características do Direito ao Esquecimento.
Palavras-chave: Direito ao Esquecimento. Direitos fundamentais. Direito à liberdade. Direito à privacidade. Direitos da personalidade.
Abstract: This article aims to discuss the Oblivion right, working with its guidelines in the Brazilian legal context, analyzing the issue in the light of the democratic state, the principle of human person dignity and freedom of information. Initially, we analyze the concept of the legal term and the origin of the theme, contextualizing its formation and historical incidence in the legal systems. In the second analysis, the right to oblivion about the world view, showing the different existing cases of its application, is now observed, with the purpose of going deeper in this discussion. Because it’s a fundamental right, it will be treated in a way that is correlated with the other rights, especially freedom and privacy rights, in view of the fact it has, nowadays, relevant importance due the high incidence of cases that involve the characteristics of the Forgetfulness right.
Keywords: Right to Oblivion. Fundamental rights. Right to privacy. Right to liberty. Personality rights.
1. Introdução: 
Em primeira análise, deve—se considerar o conceito do termo “Direito ao Esquecimento”, sendo este o direito subjetivo do sujeito que possui personalidade jurídica de não permitir que um fato, ainda que se configura como verídico, ocorrido em determinada fase da sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe um desconforto e constrangimento que atinge a honra objetiva e subjetiva do homem. 
No que concerne à sua nomenclatura, possui diferentes formas nas demasiadas regiões globais. No Brasil, além do termo supra mencionado, também pode ser chamado de “direito de ser deixado em paz” ou “direito de estar só”, sendo estes utilizados por diferentes correntes. Nos Estados Unidos, por sua vez, é conhecido como “the right to be let alone” e, em países de língua espanhola por “derecho al olvido”. 1 
O termo teve sua origem na França, onde se cunhou a expressão verdadeiramente como “direito ao esquecimento”, em francês “droit a l’oubli”, em comentário a uma decisão judicial proferida em 1965, no affeire Landru, pelo Professor Gerard Lyon-Caen. No caso, a ex-amante de um famoso serial killer pleiteou uma ação de reparação de danos pela exibição de um filme que retratava fatos ocorridos em seu passado que a mesma desejava que fossem esquecidos. A título de curiosidade, a ação foi julgada improcedente, por se entender que o filme era lícito, já que se baseava em informações jurídicas públicas e memórias divulgadas pela própria autora.
Nesse sentido, o direito ao esquecimento se refere ao direito de ser esquecido, sendo o direito pessoal subjetivo que tem o indivíduo de requerer, mediante fato que marcou sua vida e que este pode trazer consequências danosas à sua vida pessoal, que um fato ocorrido seja esquecido, olvidado, assegurando a discussão acerca do uso que é dado aos fatos pretéritos, no que tange especificamente ao modo/finalidade com que são lembrados. Assim, conforme cita o jurista e filósofo frânces François Ost (OST, 2005, p. 160), do direito ao esquecimento entende-se que:
“Uma vez que, personagem pública ou não, fomos lançados diante da cena e colocados sob os projetores da atualidade – muitas vezes, é preciso dizer, uma atualidade penal –, temos o direito, depois de determinado tempo, de sermos deixados em paz e a recair no esquecimento e no anonimato, do qual jamais queríamos ter saído.” (OST, 2005, p. 160) 
Na doutrina do ordenamento jurídico brasileiro, o direito ao esquecimento possui a proteção de direito da personalidade, decorrente do direito à privacidade, à intimidade e à honra. Segundo leciona GRECO 2 e CAVALCANTE3: 
“Não somente a divulgação de fatos inéditos pode atingir o direito de intimidade das pessoas. Muitas vezes, mesmo os fatos já conhecidos publicamente, se reiteradamente divulgados, ou se voltarem a ser divulgados, relembrando acontecimentos passados, podem ferir o direito à intimidade. Fala-se, nesses casos, no chamado direito ao esquecimento.” (GRECO)
“é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos”.(CAVALCANTE)
No Brasil, o direito ao esquecimento possui assistência constitucional e legal, considerando este ser uma consequência do direto à vida privada, ao se inferir sobre à privacidade, intimidade e honra do indivíduo, assegurado pela Constituição Federal de 1988 ou “Constituição Cidadã” em seu artigo 5 º, em seu inciso X, também ganhando proteção no campo do Direito Civil no Código Civil de 2002 em seu artigo 21. Outrossim, o direito de “deixar ser esquecido” relaciona-se com o direito à privacidade, surgindo um conflito entre a ponderação entre esses direitos, encontrando força no que diz respeito à colisão causada pela divergência entre o direito à privacidade e o direito à liberdade de expressão e informação.
Ademais, como supramencionado, o direito ao esquecimento é o direito que o agente tem de não ser lembrado por fatos ocorridos em seu passado, aos quais não deseja mais ser vinculado, pois provavelmente sequer seria recordado se não existisse a internet e os potentes sites de busca, como também a fonte midiática. Como exemplo a ser mencionado têm-se um condenado que já cumpriu sua pena, ter o direito de que os registros sobre o crime por ele cometido não sejam utilizados de forma permanente contra ele, um instrumento fundamental à possibilidade de sua ressocialização. 
Decorrente da era infotecnológica, as informações ultrapassam fronteiras e o seu acesso se torna algo instantâneo, a velocidade com o que o conteúdo se dissemina afeta não tão somente o mundo jurídico, como os direitos e garantias fundamentais. A ampla e livre expressão culmina em um conflito de ponderação de interesses entre esses princípios constitucionais, devendo os direitos a personalidade, da vida íntima, da honra e da indentidade serem preservados.
É notório o direito de se resguardar que cada indivíduo possui perante a sociedade, preservando as memórias associadas ao seu nome. Como bem pontua Ivan Izquierdo, “o processo de esquecimento produz o deixar de existir, ao passo que a lembrança carrega o potencial da existência, pois somos quem somos em função daquilo que lembramos, sendo exatamente isso que nos confere identidade e distinção. Por isso que, para Bobbio, não somos nada além do aquilo de que nos lembramos. Logo, também somos o que decidimos esquecer, na condição de indivíduos que vivem em sociedade, a qual necessita reprimir e extinguir para prosseguir.” 4
Em suma, no Brasil todos os indivíduos têm constitucionalmente assegurado os direitos à privacidade, à honra e à intimidade, sendo, pois, vedada aos demais a prática de qualquer conduta ofensiva a tais direitos, inclusive a divulgaçãode informações. Nesse diapasão, ao se analisar os casos que se referem ao direito ao esquecimento, estes devem ser interpretados levando-se em consideração o caso concreto, sendo necessário que se atente as especificidades de cada caso, a fim de que se evite a má interpretação ou a utilização de forma inadequada do direito.
2. O tratamento legal do Direito ao Esquecimento no ordenamento jurídico brasileiro:
Primeiramente, convém mencionar que a temática do Direito ao Esquecimento foi ressaltada no ordenamento brasileiro diante do Enunciado 531 da Jornada do Direito Civil. Do texto, retira-se a compreensão que o direito de ser esquecido é assegurado entre os direitos da personalidade, assim, enfatiza que a tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade de informações inclui a preservação deste direito. Conforme se depreende do texto a seguir: 
“Os danos provocados pelas novas tecnologias de informação vêm-se acumulando nos dias atuais. O direito ao esquecimento tem sua origem histórica no campo das condenações criminais. Surge como parcela importante do direito do exdetento à ressocialização. Não atribui a ninguém o direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas apenas assegura a possibilidade de discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo e a finalidade com que são lembrados.” 5
Por se depreender como uma vertente do direito da personalidade e da dignidade humana, o Direito ao Esquecimento está previsto na Constituição Brasileira, conforme exposto no primeito tópico deste artigo, que garante a dignidade da pessoa humana. Previsto no artigo 5º, inciso X, prevê a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem. Na mesma perspectiva, o inciso XIII garante o livre exercício de qualquer trabalho, como também o inciso XXXV que garante o amplo acesso ao Judiciário em caso de qualquer dano ou ameaça de dano.
Nesse sentido, o Código Civil brasileiro também abrange a esfera da personalidade humana, em seus artigos 11 e 21, que garantem o Direito ao Esquecimento. Os referidos artigos introduzem que os direitos da personalidade são intransmissíveis, irrenunciáveis e insusceptíveis de limitação voluntária, além de afirmar que a vida privada da pessoa natural é inviolável, devendo o Judiciário, quando provocado pelo interessado, adotar as providências necessárias para assegurar esses direitos e impedir ou fazer cessar atos que lesem os mesmos.
Ainda no ordenamento jurídico pátrio, a Lei n º 12.965 de 23 de abril de 2014, mais conhecida como Marco Civil da Internet, em seus artigos 7 º, 8 º e 11 asseguram proteção à intimidade e à vida privada no âmbito sociotecnológico. Garantem a indenização por danos patrimoniais e morais quando esses direitos forem afetados, assegurando ao usuário a exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registro previstas.
3. Paradoxo entre o Direito ao Esquecimento e a liberdade de expressão: a necessidade de ponderação entre a liberdade de informação e o direito à privacidade, à honra e à intimidade: 
As décadas que decorreram o regime autoritário no governo brasileiro caracterizavam um país sem liberdades comunicativas. Os meios de imprensa e as artes eram censurados, proibiam a divulgação de críticas e notícias que iriam em contraponto com o governo ditatorial, sendo uma censura não apenas política, mas também em nome da moral e dos bons costumes do país.
 Instaurada uma nova Constituição no Brasil no ano de 1988, esta conhecida como “Constituição Cidadã, havia a necessidade de se desvencilhar com o governo autoritário, a necessidade de deixar toda essa história que manchava o nome do país para trás. Com isso, foi introduzida uma nova ordem constitucional que pautava-se no Estado Democrático de Direito, pressupondo a existência de um espaço público dinâmico em que os interesses sociais possam ser discutidos em sua aplitude e liberdade. Era necessário que cada cidadão possuísse a liberdade de formar as suas próprias opiniões sobre os mais variados temas e que este participasse de maneira consciente no governo, fazendo com o que exista uma esfera pública crítica com amplo acesso à informação.
Neste contexto, o direito à informação constitui valor fundamental, tendo em vista que decorre diretamente da liberdade de expressão. É a sua garantia que possibilita que a vontade coletiva seja formada através do livre confronto de ideias aberto a todos. Ademais, o direito à informação possui papel crucial na formação da personalidade humana, contribuindo para que cada indivíduo possa formar as suas convicções acerca de variados temas e fazer escolhas em suas vidas enquanto direito particular. O direito à informação foi assegurado de forma expressa pela Constituição da República de 1988, em seu artigo 5º, inciso XIV. 
No que tange à liberdade de informação jornalística, o artigo 220, “caput”, in verbis: 
“Art. 220 - A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.”
Por outro lado, existem os direitos fundamentais, quais sejam, o direito à honra, à intimidade e à privacidade, um direito público subjetivo que cada indivíduo possui de evitar que a sua vida privada seja exposta, sendo este o cerne para a concessão do Direito ao Esquecimento. Esses direitos consistem na faculdade que o indivíduo tem de obstar que terceiros façam alusão a fatos que decorrem da sua vida particular, assim como impedido-lhes o acesso à informações sobre a privacidade de cada um, como também impedir que sejam divulgadas informações sobre este âmbito particular.
Como bem leciona o doutrinador COSTA JUNIOR: 
“é o direito que dispõe o indivíduo de não ser arrastado para a ribalta contra a vontade. De subtrair-se á publicidade e de permanecer recolhido em sua intimidade. Direito ao recato, portanto, não é o direito de ser recatado, mas o direito de manter-se afastado dessa esfera de reserva de olhos e ouvidos indiscretos, bem como o direito de impedir a divulgação de palavras, escritos e atos realizados nessa esfera de intimidade.”
Em consonância com os referidos direitos, a dignidade da pessoa humana é intrínseca em todos os principíos constitucionais que regem a sociedade brasileira. Em uma visão ampla, tanto o direito à informação e à liberdade de expressão quanto os direitos fundamentais são norteados pelo princípio da dignidade humana, desta forma, o direito de auferir, transmitir e buscar informações atua lado a lado com os direitos da personalidade, como o direito à privacidade, à honra e à intimidade.
 Importante asseverar que, para que cada indivíduo possa exercer os direitos da sua personalidade, é fundamental que seja fornecido o mais amplo acesso às informações, opiniões sobre variados temas, obras artísticas, literárias, entre outras. Vale ressaltar que, a internet também se caracteriza no campo da aplicação desse questionamento, recebendo amparo do Governo nas questões que relacionam o seu direito e dever a informações voltadas ao público cibernético. Assim, é imprescindível que haja o equilíbrio entre ambos os direitos para que se possa exercer a cidadania de cada indíviduo e a proteção relacionada a sua vida privada, na ação do Estado em ponderar nos diversos casos os direitos que devem ser ressalvados nas condições específicas de cada um destes. 
No entanto, o atual entendimento do Judiciário brasileiro é a predileção do direito à liberdade de expressão em detrimento dos direitos fundamentais. Na colisão entres esses princípios, a liberdade de expressão tende a prevalecer, reconhecendo em primeiro plano as liberdades comunicativas em casos de colisão com outros princípios constitucionais, tendem a prevalecer nos processos ponderativos decorrente do seu elevado peso na ordem dos valores constitucionais. Com isso, “a tutela dos direitos dapersonalidade deve ocorrer a posteriori, através do exercício do direito de resposta e da responsabilização dos que exerceram abusivamente as suas liberdades expressivas.”
4. O Direito ao esquecimento no âmbito do direito internacional: 
Conforme já exposto, as primeiras incidências sobre o referido tema tratado se deu na Europa e nos Estados Unidos. Cabe destacar alguns casos que serão tratados ao decorrer deste tópico, analisando o contexto inserido e as decisões proferidas, demonstrando que o Direito ao Esquecimento não pode ser tratado como generalização a todos os casos, mas sendo resguardado suas especificidades necessárias.
O primeiro caso a ser tratado será o Melvin vs. Reid, julgado pela Suprema Corte da Califórnia no ano de 1931. No caso em comento, reconheceu-se o direito de uma antiga prostituta, que possuia como fato pretérito um processo de homicídio, sendo absolvida, de obter indenização decorrente da exibição de um filme em que se ressalvava os aspectos de sua antiga profissão que a mesma desejava que fosse esquecido. Entretanto, atualmente, o precedente foi superado na Corte America em razão da liberdade de expressão. Assim, em um julgado mais recente, o judiciário norte-americano pronunciou-se sobre a questão, dizendo que “o caso Melvin, paternalista na sua dúvida sobre a capacidade do povo de atribuir o peso próprio e não excessivo a história criminal de uma pessoa, está morto”.
Em contradição ao entendimento supramencionado, no ano de 1940, a Justiça norte-americana, nos casos Sidis vs. F-R Publishing Corp, examinou a publicação de uma matéria feita pela revista acerca de um garoto superdotado, que graduou-se em Havard aos 16 anos de idade, mas que no decorrer da sua fase adulta não prosperou profissionalmente, deixando de ganhar ênfase social. O mesmo pleiteou uma ação em face de reparação de danos e danos por violação da sua privacidade. A corte americana decidiu em favor da revista, que considerou o assunto abordado como de caráter de interesse público, não sendo afastado em razão do autor da demanda levar uma vida reclusa nas últimas décadas. O entendimento se firmou no fato de que o seu passado remoto bastava para que o assunto torna-se noticiável, o que afastaria o direito à indenização. 
Ademais, têm-se configurado na jurisprudência norte-americana que os direitos da liberdade de expressão e imprensa quase sempre prevalecem sobre a tutela dos direitos privados, como também se depreende dos casos Cox Broadcasting vs. Cohn e The Florida Star vs. B.J.F., em que ambos houve a separação da responsabilidade civil da imprensa por ter revelado ao público o nome de vítimas decorrentes do crime de estupro, nomes obtidos de forma lícita, decidindo a inconstitucionalidade de normas jurídicas que vedavam o direito a tal informação. 
Nesse diapasão, um grande caso que repercurtiu na Alemanha também enfrentando esse tema foi o conhecido caso Lebach, deicido pelo Tribunal Constitucional em 1973. No caso em comento, um indivíduo que fora condenado e preso pelo homicício de vários soldados, durante um roubo de armas, pleiteou uma ação em face de uma rede de televisão que a impedisse de fazer um documentário acerca dos fatos, meses antes da data de sua soltura. O mesmo alegava que além de ferir seus direitos, dificultaria a sua ressocialização. Em primeira análise, o Tribunal acolheu o pedido proibindo a veiculação do documentário, sob a alegação de que, na data da ação, a tutela dos direitos da personalidade se sobrepunha a liberdade de comunicação.
Todavia, no ano de 1999, outro canal televisivo tentou a exibição de um programa sobre o mesmo crime, ficando conhecido como Lebach II, neste a tutela dos direitos privados foi superada pela liberdade de expressão. A Corte germânica afastou a proibição da veiculação da reportagem, entendo que neste novo programa não havia o risco de comprometer a ressocialização do indivíduo, pois já havia decorridos anos de sua soltura, como bem sintetiza Mendes (1997, p.389): 
“Para a atual divulgação de notícias sobre crimes graves, tem o interesse de informação da opinião pública, em geral, precedência sobre a proteção da personalidade do agente delituoso. Todavia, além de considerar a intangibilidade da esfera íntima, tem-se que levar em conta sempre o princípio da proporcionalidade. Por isso, nem sempre afigura-se legítima a designação do autor do crime ou a divulgação de fotos ou imagens ou outros elementos que permitam a sua identificação. A proteção da personalidade não autoriza, porém, que a Televisão se ocupe, fora do âmbito do noticiário sobre a atualidade, com a pessoa e esfera íntima do autor de um crime, ainda que sob a forma de documentário. A divulgação posterior de notícias sobre o fato é, em todo caso, ilegítima, se se mostrar apta a provocar danos graves ou adicionais ao autor, especialmente se dificulta a sua reintegração na sociedade. É de se presumir que um programa, que identifica o autor de fato delituoso pouco antes da concessão de seu livramento condicional ou mesmo após a sua soltura ameaça seriamente o seu processo de reintegração social.”(MENDES, 1997, p. 389).
Ainda no contexto germânico, impende asseverar outro caso que ganhou destaque na Corte germânica foi o caso Seidlmayr. O caso envolve um famoso artista chamado Walter Seidlmayer, assassinado por dois irmãos em 1990. No ano de 2008, um dos irmãos ajuizou ações objetivando a retirada da Internet de notícias que o ligassem ao crime, arquivadas em páginas de veículos de comunicações, devido a sua saída da prisão. A ação chegou até a Suprema Corte alemã, que entendeu não prosperar o pedido, uma vez que levando em consideração os diversos elementos do caso, o tempo transcorrido, o verídico caráter da notícia e o impacto do controle nas notícias, resultaria um “apagamento da História” pela supressão dos canais da imprensa, que apenas cumpre seu papel de informar o público.
Na França, berço do termo estudado ao longo desse artigo, qual seja, Direito ao Esquecimento, há decisões importantes que merecem ser analisadas. Um dos casos chegou a última instância da justiça civil francesa, a Corte de Cassação, nomeado como Mme Monages vs. Kern. A referida corte proferiu decisão afirmando que não poderia se aplicar o Direito ao Esquecimento em casos que se relatem fatos passados de interesse público, estes revelados de forma lícita. No caso, a ação proposta pelo indivíduo foi devido a menção de suas atitudes em trechos de um livro que narravam a época da ocupação nazista., já discutidas no passado publicamente pela imprensa.
No contexto atual, o caso mais debatido é do Tribunal de Justiça da União Europeia, ajuizado em face da empresa Google. O caso Google Spain e Google Inc. Vs. Agencia Española de Protección de Datos e Mario Costeja Gonzales, datado em 13 de maio de 2014, discorre sobre o pedido de um cidadão espanhol que postulava que o canal de comunicação Google não mostrasse, em seus resultados de busca, links de jornal que noticiaria a venda de seu imóvel em um leilão, decorrente de dívidas junto à seguridade social. O Tribunal decidiu a favor de Costeja Gonzalez, entendo que um tratamento que inicialmente se caracterizava como lícito, com o tempo poderia se tornar ilícito, assim, decorrido o tempo, os dados já não eram mais necessários, assistindo razão ao autor da ação, devendo os mesmos serem recolhidos ou tratados. A decisão da referida corte muito se têm sido discutida ao decorrer desses 4 anos, considerando as vertentes que a mesma pode desempenhar em outras cortes dos tribunais internacionais. 
Nessa hipótese, considerou-se que a pessoa possui o direito de postular ação contra provedores que tornam público dados que já não são necessários ao interesse social. Assim, tem-se a compreensão de que, quando a publicação não for de interesse geral, ou já tenha alcançado seu objetivo lícito, não há razão para prosperar a publicação da referida informação. Ponderou-se que a vida privada do indivíduo possui mais relevância do que a publicação de dívida pretérita e quetal informação não pertencia ao interesse público.
Contudo, demonstrado algumas das diferentes decisões no contexto mundial, a análise de cada caso deve ser específica, de acordo com o caso concreto. Se tratando de Direito ao Esquecimento: 
“mostra-se possível ter diferentes decisões ainda com os mesmos casos exemplificados acima. Destarte, torna-se claro que tal direito deve ser aplicado com base no princípio da proporcionalidade, sempre ponderando aquilo que está sendo discutido, não dando a um ou a outro princípio um peso maior, pois ambos são resguardados da mesma forma pela Constituição.” (PORTELA, 2014).
5. A aplicação do Direito ao Esquecimento no ordenamento jurídico brasileiro:
No Brasil, o Direito ao Esquecimento nasce em seu ordenamento em dois emblemáticos casos, Aída Curi e Chacina da Candelária, ambos decididos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em ambos os casos, analisou-se o conflito entre o Direito ao Esquecimento da vida privada dos indivíduos relacionados e o direito à informação e liberdade de expressão da mídia e dos canais informacionais, um notável exemplo da colisão enfrentada no Código brasileiro entre o art. 5º, incisos IV e IX e art. 220 da Constituição.
No primeiro caso, observa-se um caso criminal que envolveu a vítima de nome Aída Curi, assasinada no ano de 1958, em que os imãos da vítima pleitaram uma ação de indenização por danos morais em face da TV Globo, devido a exibição de um capítulo em seu programa “Linha Direta” que abordava o tema do homicídio de sua irmã, reavendo a abertura de antigas feridas pela veiculação do programa, pela dor de reviver o passado, como apontado pelos mesmos, como de depreende do trecho retirado do Recurso Especial:
“Sustentam que o crime fora esquecido pelo passar do tempo, mas que a emissora ré cuidou de reabrir as antigas feridas dos autores, veiculando novamente a vida, a morte e a pós-morte de Aida Curi, inclusive explorando sua imagem, mediante a transmissão do programa chamado “Linha Direta Justiça”.
O caso foi analisado no STJ na sessão de 28.05.2013, no REsp 1335153/RJ, pela Quarta Turma, teve como relator o Ministro Luis Felipe Salomão, tendo sido negado pela maioria dos integrantes. No caso em comento, o entendimento da decisão proferida pelo relator foi de que a liberdade de imprensa, prevista no artigo 220 da Constituição da República, deveria prevalecer sobre a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem de pessoas, vide artigos 5 º, inciso X e artigo 220, §1º, ambos da Constituição da República.
 Deste modo, não havia o que se falar em violação do direito ao esquecimento, haja vista que se tratava de fato histórico da sociedade brasileira, de interesse público, que não poderia ser contado sem se mencionar o nome da vítima, sendo de enorme importância a caracterização da mesma. O pedido de indenização por danos morais foi então negado, assim como o pedido por reparação aos danos materiais, pelo uso da imagem de forma ilícita. Restou consignado na ementa do acórdão proferido: 
“RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE IMPRENSA VS. DIREITOS DA PERSONALIDADE. LITÍGIO DE SOLUÇÃO TRANSVERSAL. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DOCUMENTÁRIO EXIBIDO EM REDE NACIONAL. LINHA DIRETA-JUSTIÇA. HOMICÍDIO DE REPERCUSSÃO NACIONAL OCORRIDO NO ANO DE 1958. CASO "AIDA CURI". VEICULAÇÃO, MEIO SÉCULO DEPOIS DO FATO, DO NOME E IMAGEM DA VÍTIMA. NÃO CONSENTIMENTO DOS FAMILIARES. DIREITO AO ESQUECIMENTO. ACOLHIMENTO. NÃO APLICAÇÃO NO CASO CONCRETO. RECONHECIMENTO DA HISTORICIDADE DO FATO PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. IMPOSSIBILIDADE DE DESVINCULAÇÃO DO NOME DA VÍTIMA. ADEMAIS, INEXISTÊNCIA, NO CASO CONCRETO, DE DANO MORAL INDENIZÁVEL. VIOLAÇÃO AO DIREITO DE IMAGEM. SÚMULA N. 403/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. 
 (...)
 2. Nos presentes autos, o cerne da controvérsia passa pela ausência de contemporaneidade da notícia de fatos passados, a qual, segundo o entendimento dos autores, reabriu antigas feridas já superadas quanto à morte de sua irmã, Aida Curi, no distante ano de 1958.
Buscam a proclamação do seu direito ao esquecimento, de não ter revivida, contra a vontade deles, a dor antes experimentada por ocasião da morte de Aida Curi, assim também pela publicidade conferida ao caso décadas passadas.
3. Assim como os condenados que cumpriram pena e os absolvidos que se envolveram em processo-crime (REsp. n. 1.334/097/RJ), as vítimas de crimes e seus familiares têm direito ao esquecimento - se assim desejarem -, direito esse consistente em não se submeterem a desnecessárias lembranças de fatos passados que lhes causaram, por si, inesquecíveis feridas. Caso contrário, chegar-se-ia à antipática e desumana solução de reconhecer esse direito ao ofensor (que está relacionado com sua ressocialização) e retirá-lo dos ofendidos, permitindo que os canais de informação se enriqueçam mediante a indefinida exploração das desgraças privadas pelas quais passaram.
4. Não obstante isso, assim como o direito ao esquecimento do ofensor - condenado e já penalizado - deve ser ponderado pela questão da historicidade do fato narrado, assim também o direito dos ofendidos deve observar esse mesmo parâmetro. Em um crime de repercussão nacional, a vítima - por torpeza do destino - frequentemente se torna elemento indissociável do delito, circunstância que, na generalidade das vezes, inviabiliza a narrativa do crime caso se pretenda omitir a figura do ofendido.
5. Com efeito, o direito ao esquecimento que ora se reconhece para todos, ofensor e ofendidos, não alcança o caso dos autos, em que se reviveu, décadas depois do crime, acontecimento que entrou para o domínio público, de modo que se tornaria impraticável a atividade da imprensa para o desiderato de retratar o caso Aida Curi, sem Aida Curi.
6. É evidente ser possível, caso a caso, a ponderação acerca de como o crime tornou-se histórico, podendo o julgador reconhecer que, desde sempre, o que houve foi uma exacerbada exploração midiática, e permitir novamente essa exploração significaria conformar-se com um segundo abuso só porque o primeiro já ocorrera. Porém, no caso em exame, não ficou reconhecida essa artificiosidade ou o abuso antecedente na cobertura do crime, inserindo-se, portanto, nas exceções decorrentes da ampla publicidade a que podem se sujeitar alguns delitos.
7. Não fosse por isso, o reconhecimento, em tese, de um direito de esquecimento não conduz necessariamente ao dever de indenizar. Em matéria de responsabilidade civil, a violação de direitos encontra-se na seara da ilicitude, cuja existência não dispensa também a ocorrência de dano, com nexo causal, para chegar-se, finalmente, ao dever de indenizar. No caso de familiares de vítimas de crimes passados, que só querem esquecer a dor pela qual passaram em determinado momento da vida, há uma infeliz constatação: na medida em que o tempo passa e vai se adquirindo um "direito ao esquecimento", na contramão, a dor vai diminuindo, de modo que, relembrar o fato trágico da vida, a depender do tempo transcorrido, embora possa gerar desconforto, não causa o mesmo abalo de antes.
8. A reportagem contra a qual se insurgiram os autores foi ao ar 50 (cinquenta) anos depois da morte de Aida Curi, circunstância da qual se conclui não ter havido abalo moral apto a gerar responsabilidade civil. Nesse particular, fazendo-se a indispensável ponderação de valores, o acolhimento do direito ao esquecimento, no caso, com a consequente indenização, consubstancia desproporcional corte à liberdade de imprensa, se comparado ao desconforto gerado pela lembrança.
9. Por outro lado, mostra-se inaplicável, no caso concreto, a Súmula n. 403/STJ. As instâncias ordinárias reconheceram que a imagem da falecida não foi utilizada de forma degradante ou desrespeitosa. Ademais, segundo a moldura fática traçada nas instâncias ordinárias - assim também ao que alegam os próprios recorrentes -, não se vislumbra o uso comercial indevido da imagem da falecida, com os contornos que tem dado a jurisprudência para franquear a via da indenização.
10. Recursoespecial não provido.” (REsp 1335153/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe 10/09/2013) (GRIFO NOSSO)
 Em razão das peculiaridades fáticas, atribui, no caso em comento, uma predileção às liberdades de expressão e de imprensa no confronto com os direitos da personalidade, em conssonância com o entendimento que o Supremo Tribunal Federal (STF) se posiciona atualmente. 
	O segundo caso mencionado ao começo desse tópico decorre sobre homicídios ocorridos em série no Rio de Janeiro, datados em julho de 1993, ficando nacionalmente conhecido como a Chacina da Candelária, em que oito pessoas morreram, dentre eles seis menores e dois maiores de idade, restando várias crianças e adolescentes feridos. Na situação referida, o JGF ajuizou ação também em face da TV Globo, pleiteando reparação de danos morais por ter seu nome associado ao caso. Informou que a emissora teria o procurado para conceder entrevista acerca do ocorrido, sendo exibida uma reportagem no seu programa “Linha Direta- Justiça”, tendo o mesmo se negado. 
Embora restado comprovada a não participação no crime como co-autor pela unanimidade dos membros do Conselho de Sentença, teve seu nome e sua imagem vinculados ao massacre pela emissora na exibição de seu programa a nível nacional. O autor da ação alegou que, apesar da notícia de sua absolvição ter sido divulgada, a informação sobre seu indiciamento junto a seu nome e sua imagem, após 13 anos do crime, trouxe a tona todo o sofrimento causado a época por ter sido associado ao delito, razão pela qual gerou-lhe intenso abalo moral. 
O caso foi julgado em 10.09.2013 pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no Resp 1.334.097, o qual proferiu decisão a favor do JGF, alegando que o programa poderia ter sido exibido sem a vinculação do nome da pessoa que ja fora absolvida, reconhecendo-se o direito de ser esquecido esse fato pretérito da sua vida. Determinou que o nome do mesmo poderia ter sido poupado, como também a sua imagem, reconhecendo a ilicitude do ato praticado pela emissora, priorizando a vida privada do indíviduo em contraponto com o direito da imprensa e da liberdade de expressão: 
“RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE IMPRENSA VS. DIREITOS DA PERSONALIDADE. LITÍGIO DE SOLUÇÃO TRANSVERSAL. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DOCUMENTÁRIO EXIBIDO EM REDE NACIONAL. LINHA DIRETA-JUSTIÇA. SEQUÊNCIA DE HOMICÍDIOS CONHECIDA COMO CHACINA DA CANDELÁRIA. REPORTAGEM QUE REACENDE O TEMA TREZE ANOS DEPOIS DO FATO. VEICULAÇÃO INCONSENTIDA DE NOME E IMAGEM DE INDICIADO NOS CRIMES. ABSOLVIÇÃO POSTERIOR POR NEGATIVA DE AUTORIA. DIREITO AO ESQUECIMENTO DOS CONDENADOS QUE CUMPRIRAM PENA E DOS ABSOLVIDOS. ACOLHIMENTO. DECORRÊNCIA DA PROTEÇÃO LEGAL E CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DAS LIMITAÇÕES POSITIVADAS À ATIVIDADE INFORMATIVA. PRESUNÇÃO LEGAL E CONSTITUCIONAL DE RESSOCIALIZAÇÃO DA PESSOA. PONDERAÇÃO DE VALORES. PRECEDENTES DE DIREITO COMPARADO. (…) 18. No caso concreto, a despeito de a Chacina da Candelária ter se tornado - com muita razão - um fato histórico, que expôs as chagas do País ao mundo, tornando-se símbolo da precária proteção estatal conferida aos direitos humanos da criança e do adolescente em situação de risco, o certo é que a fatídica história seria bem contada e de forma fidedigna sem que para isso a imagem e o nome do autor precisassem ser expostos em rede nacional. Nem a liberdade de imprensa seria tolhida, nem a honra do autor seria maculada, caso se ocultassem o nome e a fisionomia do recorrido, ponderação de valores que, no caso, seria a melhor solução ao conflito.
19. Muito embora tenham as instâncias ordinárias reconhecido que a reportagem se mostrou fidedigna com a realidade, a receptividade do homem médio brasileiro a noticiários desse jaez é apta a reacender a desconfiança geral acerca da índole do autor, o qual, certamente, não teve reforçada sua imagem de inocentado, mas sim a de indiciado. No caso, permitir nova veiculação do fato, com a indicação precisa do nome e imagem do autor, significaria a permissão de uma segunda ofensa à sua dignidade, só porque a primeira já ocorrera no passado, uma vez que, como bem reconheceu o acórdão recorrido, além do crime em si, o inquérito policial consubstanciou uma reconhecida "vergonha" nacional à parte. (…)”
(REsp 1334097/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe 10/09/2013)
	Em ambos os casos, evidenciou-se o problema intrínseco no ordenamento jurídico brasileiro do conflito entre os princípios das liberdades comunicativas e direitos à vida privada, honra e imagem. De regra, existia uma inclinação por parte do Superior Tribunal de Justiça a proteger e resguardar os direitos da pessoa humana em detrimento dos direitos de liberdade de expressão. 
Diante do exposto, fica evidente que a interpretação dos casos concretos e o juízo de ponderação devem assegurar o direito ao esquecimento, junto a dignidade da pessoa humanos e os direitos fundamentais da privacidade, da intimidade e da honra. Contudo, devem ser ressalvados nas hipóteses de casos genuinamente históricos, cujo interesse público permaneça mesmo em decorrência do tempo, o direito da imprensa e da liberdade de expressão, desde que a narrativa não tenha como se desvincular dos envolvidos.
6. Considerações finais : 
Ao decorrer do presente trabalho, pode-se perceber através da pesquisa que o Direito ao Esquecimento ainda possui caráter ínfimo no ordenamento brasileiro e a necessidade que existe de maior regulamentação da proteção de dados pessoais diante da tutela da intimidade e dignidade da pessoa humana. O Direito ao Esquecimento é o que possui uma pessoa de não permitir que um fato, mesmo que verdadeiro ocorrido em seu passado, seja exposto de forma pública, por lhe causar sofrimento ou transtornos. 
Restou comprovado que o Direito ao Esquecimento não é um direito absoluto, existindo um conflito entre o indivíduo, que necessita de medidas que protejam sua honra e seu nome e a imprensa, que ultrapassa o direito de informar com notícias de cunho plausível. Nesse sentido, é necessário que seja exercido um juízo de ponderação em cada caso concreto, entre a liberdade de expressão e os direitos fundamentais, tendo em vista o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Ademais, apesar do Direito ao Esquecimento não possuir um dispositivo próprio que o rege, é presente cada vez mais na sociedade de forma direta, havendo a necessidade de tal atenção do ordenamento jurídico. Com a fruição dos canais informativos, tem se tornado mais volátil o compartilhamento de dados e informações, muitas vezes em tempo real, sejam essas pessoais ou não pessoais e autorizadas e não autorizadas.
Pode-se dizer, portanto, que a interpretação sistemática e o juízo de ponderação levam à conclusão de que os indivíduos devem ter assegurado o direito ao esquecimento, como força probante da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais à privacidade, à intimidade e à honra. O Direito ao Esquecimento, como os demasiados direitos que se relacionam ao indivíduo, deve, em suas particularidades e características próprias, deve atingir uma maior colacação no âmbito jurídico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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WOHJAN, Bruna Marques. WISNIEWSKI, Alice. Direito ao esquecimento: algumas perspectivas. Fl. 16. Artigo – Direito, Universidade Santa Cruz do Sul, 2015.
SARMENTO Daniel.Parecer Liberdades Comunicativas e “Direito ao Esquecimento” na ordem constitucional brasileira. Rio de Janeiro, 2015.
PORTELA, Airton. Constituição pressupõe direito fundamental ao
esquecimento. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2014-jun-18/airton-portela-constituicao-pressupoe-direito-esquecimento> 
MENDES, Gilmar Ferreira. Colisão de direitos individuais: anotações a propósito da obra de Edilson Pereira de Farias. In: Revisa dos Tribunais Online. vol. 18, 1997REsp. 1.335.153-RJ, Rel. Min. Luis F. Salomão, j. em 28.05.2013. Disponível em:<https://www.conjur.com.br/dl/direito-esquecimento-acordao-stj-aida.pdf>
REsp 1.334.097, Rel. Min. Luis F. Salomao, j. em 10.09.2013. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/direito-esquecimento-acordao-stj.pdf>
COSTA JUNIOR, Paulo José. Agressões à intimidade. São Paulo: Malheiros, 1997, p, 33.
RODAPÉ :
1Portal https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/319988819/o-que-consiste-o-direito-ao-esquecimento
2 GRECO, Rogério. Principiologia penal e garantia constitucional à intimidade. in Temas Atuais do Ministério Público. 4 ed. Salvador: Jus Podvm, 2013, p. 761.
3 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Principais julgados do STF e do STJ comentados. Manaus: Dizer o Direito, 2014
 4 IZQUIERDO, I. A arte de esquecer. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2000
5 ENUNCIADO 531 – A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento.

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