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DIREITO PENAL PARTE GERAL - Prof Marcelo Lebre 1. TEORIA DA NORMA ● Princípios do Direito Penal ➢ Legalidade: nullum crimen, nulla poena sine lege. Não existe crime ou pena sem a tipificação legal. O juiz não pode inventar crimes, deve seguir o que a lei diz. Possui base na Constituição Federal. ➢ Intervenção mínima/fragmentariedade: Direito Penal é ultima ratio, devendo intervir apenas em último caso, quando os demais ramos do Direito não dão conta. Em caráter excepcional e extremo. ➢ Fragmentariedade: o Direito Penal apenas protege os bens jurídicos mais relevantes para a sociedade (vida, dignidade, etc). ➢ Lesividade: só interessa ao Direito Penal as condutas que geram ou podem gerar lesão à bem jurídico de outrem. ✓ Crimes de dano - há efetiva lesão ao bem jurídico tutelado (ex: homicídio). ✓ Crimes de perigo - se pune a ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado (ex: exposição de produto nocivo para a venda). i. perigo concreto: a situação de risco deve ser comprovada nos atos do processo. São mais raros. Ex: art. 309 CBT - dirigir sem habilitação, com situação de risco à outros. Crimes de perigo concreto, normalmente tem “expondo a dano potencial outrem” ou algo parecido com isso. ii. perigo abstrato: situação de risco é presumida pelo próprio legislador, portanto prescinde de prova. Ex: art. 14 do Estatuto do Desarmamento, porte ilegal de arma de fogo. ✓ O pensamento, cogitatio, é criminalmente impunível. ✓ A autolesão é criminalmente impunível. ➢ Culpabilidade: ✓ Consequências - i. a responsabilidade é sempre pessoal e subjetiva, deve sempre ser provado o dolo ou culpa; ii. a culpabilidade é o fundamento e o limite da pena, ou seja, só se poder aplicar pena para alguém que tenha cometido crime e possua culpabilidade, e também limita a dosagem da pena, pois quanto maior a culpabilidade, maior a pena; iii. o Direito Penal no ordenamento jurídico brasileiro pune o sujeito conforme o direito penal do fato, sendo o sujeito culpado conforme o que fez, não quem é. ➢ Insignificância: sem previsão legal, construção doutrinária. Afasta o aspecto material da tipicidade, transformando a conduta em atípica. Se a lesão provocada é ínfima, o Direito Penal não deve intervir. Não cabe em: ✓ crime com violência; ✓ tráfico de drogas; ✓ furto qualificado; ✓ crime de moeda falsa; ✓ violência doméstica; ✓ crimes contra a administração pública (Súmula 594); ✓ crimes ambientais (depende o crime); ✓ ato infracional (depende o ato); ✓ contrabando (entrar com mercadoria proibida no país) e descaminho (a depender do valor do tributo); ✓ CDs e DVDs piratas. ➢ Adequação social: sem previsão legal, construção doutrinária. Afasta o aspecto material da tipicidade, transformando a conduta em atípica. Se a conduta é socialmente aceita ou tolerável, o Direito Penal não deve intervir. Ex: lesões esportivas, cirurgias estéticas. ➢ Pessoalidade: a pena não passará da pessoa do acusado. Firmado na Constituição Federal. ➢ Individualização: as penas não podem ser padronizadas, devendo observar-se as particularidades do caso concreto. Firmado na Constituição Federal. ➢ Proibição do bis in idem: ninguém pode ser duplamente punido por um mesmo fato. ● Aplicação da lei penal ➢ No tempo ✓ Em regra, o tempo rege o ato. Ou seja, o indivíduo será punido conforme legislação vigente no tempo no qual o crime foi cometido. ✓ Exceção: novatio legis in mellius, ou seja, lei mais benéfica ao réu, de maneira retroativa. A lei nova mais benéfica não pode retroagir quando: i. leis temporárias: lei feita com prazo de vigência pré-determinado. Quando um crime é cometido na vigência de uma lei temporária, aplica-se somente esta, mesmo com lei benéfica posterior. ii. leis excepcionais: lei feita para período anormalidade, sem prazo definido, porém não podendo ser eterna. ✓ Abolitio Criminis - é uma espécie de novatio legis in mellius, sendo uma forma de extinção da punibilidade, que retira o crime do ordenamento jurídico. ✓ Teoria da atividade - aplica-se a lei vigente na época da conduta, e não do resultado. ✓ Súmula 611, STF - caso surja lei benéfica posterior ao trânsito em julgado, a competência para aplicação é do juiz da execução. O trânsito em julgado não impede a retroatividade da novatio legis in mellius (art. 66, inciso I, LEP). ✓ Súmula 711, STF - Sempre que houver sucessão de leis em crimes continuados ou permanentes, aplica-se a última, mesmo que seja mais gravosa que a primeira. SE HOUVER LEI MAIS BENÉFICA DEPOIS DO CRIME TERMINAR, HÁ RETROATIVIDADE PELA NOVATIO LEGIS IN MELLIUS. i. crime continuado: pluralidade de crimes, que por circunstâncias de tempo, lugar e execução, assume-se como um só. ii. crime permanente: característica de alguns crimes, com momento consumativo se alonga pelo tempo. Ex: sequestro. ➢ No espaço ✓ Em regra, aplica-se a lei brasileira apenas quando o crime for cometido no território brasileiro, espaço físico, aéreo e território por extensão. ART 5°, CP. ✓ Excepcionalmente, nos casos que houver extraterritorialidade, de rol taxativo previsto no ART. 7°, CP. ✓ ART. 2°, LEI 9.455/07 (TORTURA), também é hipótese de extraterritorialidade, aplicando a lei brasileira de qualquer forma. ● Conflito aparente de normas ➢ Existe a aparente possibilidade de aplicação de mais de uma lei, o que não pode ocorrer, pois configura bis in idem. ➢ Princípio da absorção ou consunção: o crime fim absorve o crime meio. Ex: o sujeito falsifica documento para obter vantagem ilícita sobre terceiro, mediante fraude. Comete estelionato e falsidade de documento, porém aplica-se apenas o estelionato, visto que a falsificação foi um meio para atingir o objetivo principal, que era o estelionato. Resolve o conflito de normas, a fim de evitar bis in idem. SÚMULA 17, STJ. ● Combinação de leis penais ➢ Não se aplica nenhuma das duas leis na sua integralidade, sendo aplicada parte de uma e parte de outra. ➢ No Direito Brasileiro, não é cabível, pelo princípio da legalidade. ➢ Ex: a Lei de Drogas, antes de 2006, previa uma pena mínima de 3 anos. A partir da inovação penal, ela subiu para 5, porém com a adição do tráfico privilegiado. Diante disso, muitos defenderam que era possível aplicar a lei anterior mais benéfica, juntamente com o benefício do tráfico privilegiado da lei nova. Mesmo assim, esse instituto não é cabível, porque o entendimento é que ou se aplica a lei antiga em sua integralidade, ou a nova em sua integralidade (súmula 501, STJ). 2. TEORIA DO CRIME Crime é uma conduta humana, típica, antijurídica e culpável. ● Conduta humana ➢ Ação ou omissão voluntária e consciente direcionada à um determinado fim (conceito finalista) ➢ Elementos ✓ Sem qualquer um dos abaixo, não haverá crime. ✓ Vontade ✓ Consciência ✓ Finalidade. ➢ Excludentes ✓ Coação física irresistível - força motora externa, a qual não era da vontade do agente. ✓ Caso fortuito - fatalidade, culpa de ninguém, por acaso. ✓ Força maior - atos da natureza, culpa de ninguém. ✓ Atos reflexos - força interna irresistível. Ex: choque elétrico. i. Obs: não confundir atos reflexos com movimentos instintivos (provocados por impulso e instintivo). ✓ Estado de inconsciência - há ausência de consciência, portantonão há crime. Ex: sono profundo, sonambulismo, crise de ataque epiléptico, ➢ Formas ✓ Crimes comissivos - pressupõe uma ação, o sujeito é punido porque fez algo que não deveria ter feito. ✓ Crimes omissivos - sujeito é punido por uma abstenção, pelo “não fazer”. Aqui, fala-se de um indivíduo que tinha o dever de agir e não o fez. Podem ser subdivididos: i. próprios (puros): o dever de agir vem estampado da própria norma jurídica, do próprio tipo. Ex: omissão de socorro, abandono material, apropriação indébita previdenciária. Normalmente vem com o dispositivo escrito “deixar de”. ii. impróprios (impuros): também conhecido como crime comissivo por omissão. O dever de agir vem de uma posição de garante pela qual o sujeito foi colocado. Garantes: ○ dever legal - aquele que decorre da Lei. Acontece com os pais em relação ao filho menor de idade, bombeiros, salva-vidas, médico em relação ao paciente (deixar de fazer um procedimento que poderia salvar a vida), capitão frente à sua embarcação. ○ dever contratual - está na posição por força de um contrato de serviço, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Ex: babá, escola, cuidadora, etc. ○ ingerência - quem com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. ○ Aquele que está na posição de garante e é cúmplice de um crime (sabe que ele está acontecendo e se omite), responde pelo mesmo crime que o autor da infração. ○ Deve estar presente o poder agir, o poder impedir o caso ou não, que é uma elementar do tipo, ausente, exclui a tipicidade. ● Resultado ➢ Alteração no mundo dos fatos propiciada pela conduta de alguém. ➢ Todo crime demanda um resultado. ➢ Princípio da lesividade: só interessa ao Direito Penal as condutas que podem gerar lesão ao bem jurídico de outrem. ● Nexo causal ➢ Ponte de ligação entre a conduta de alguém e determinado resultado. ➢ Teoria da equivalência dos antecedentes: teoria adotada pelo Direito Penal Brasileiro (art. 13, CP). É causa tudo aquilo que contribui para o resultado. ➢ Concausas ✓ Causas adjacentes que se vinculam à uma conduta principal, contribuindo para a produção do resultado. ✓ Espécies i. dependentes: nasceu da conduta principal, são desdobramentos naturais da conduta principal. Nesse caso, o sujeito responde pelo TODO, ou seja, pela consumação do crime. ii. independentes: não se originou na conduta principal, aconteceu de maneira alheia à vontade do agente. ○ absolutamente independentes - totalmente à conduta principal, não tem nada a ver. Nesse caso, o sujeito responde pelo que FEZ Ex: sujeito dá veneno para o terceiro, a fim de matá-lo, porém enquanto o veneno ainda não fazia efeito, um raio cai em sua cabeça e morre. Nesse caso, responde apenas pelo que fez, tentativa de homicídio. ○ relativamente independentes - não nasceu da conduta principal, porém está interligada com ela. Ex: dar uma ■ pré-existentes: proveniente de uma condição da vítima anterior ao crime. Responde pelo todo, ou seja, pelo consumado. Ex: matar hemofílico a facadas, ele morre pelo sangramento. ■ concomitantes: a concausa vem junto com o crime. Responde pelo todo, ou seja, pelo consumado. Ex: tira o revólver para matar a vítima, porém esta morre de ataque cardíaco pelo susto. ■ supervenientes: ocorre depois da conduta praticada pelo sujeito. Responde pelo que FEZ, no caso, pela tentativa. Ex: mata uma pessoa com tiro, e no caminho para o hospital, a ambulância tomba e a pessoa morre pelo acidente. ■ SE HOUVER ROMPIMENTO DO NEXO CAUSAL, O AUTOR DA CONDUTA PRINCIPAL RESPONDE APENAS PELO QUE FEZ, NÃO PELO TODO. ● Tipicidade ➢ Conjunto de elementos que fazem com que a conduta de alguém seja contrária à uma norma penal. ➢ Elementos ✓ formais - aquilo que está expressamente escrito no tipo penal. i. tipo objetivo - conduto proibitivo da norma, ou seja, o verbo da conduta. ○ simples - apenas uma ação nuclear, apenas um verbo. ○ mistos - mais de uma ação nuclear, vários verbos ■ cumulativos: quanto mais verbos realizar, mais crimes foram cometidos. Ex: parto suposto (art. 242, CP). ■ alternativos: não importa quantos verbos realize, o crime será apenas um. ii. tipo normativo - que faz-se juiz de valoração para entender. Exemplo: matar alguém - matar QUEM? Cavalo, animal, ou pessoa? iii. tipo subjetivo - é a vontade do sujeito. ○ dolo: falar de dolo é falar de querer. O agente quis ou assumiu o resultado do crime. Regra no ordenamento jurídico. ■ direto: alguém que efetivamente quis o resultado do crime. a. primeiro grau: quer e faz o crime. b. segundo grau: dolo de consequências necessárias, decorrentes para alcançar o resultado. ■ eventual: assume-se o risco do resultado, mesmo não querendo produzir o resultado. ○ culpa: quebra no dever de cuidado. Pode ocorrer por negligência (indiferença/relaxamento), imprudência (pratica fato excessivamente perigoso) e imperícia (falta de aptidão técnica - não conhece certo ofício e se aventura a fazê-lo). Exceção no ordenamento jurídico, devendo estar previsto na lei. ■ consciente: sujeito não acredita que o resultado fosse acontecer consigo. ■ inconsciente: o agente nem ao menos previu o resultado, que era previsível ao homem médio. iv. tipo subjetivo diverso do dolo - especial fim de agir. Ocorre na minoria dos crimes. Ex: o ânimo de assenhoreamento definitivo no furto; o animus necandi no homicídio. ○ crime preterdoloso: dolo na conduta, culpa em resultado excessivo. DIFERENTE DE CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO: para ser preterdoloso, não pode haver dolo em um resultado, enquanto o crime qualificado pelo resultado este pode ser tanto culposo quanto doloso. Quando o crime for preterdoloso, o legislador falará que o agente não quis o resultado. iv. materiais - que trata da conduta, ver se houve relevância a lesão (efetiva). ➢ Causas de exclusão ✓ Ausência de dolo - ✓ Erro de tipo - ● Antijuridicidade ➢ Qualidade de um comportamento não autorizado pelo direito. Sinônimo de ilicitude. ➢ Teoria indiciária: a tipicidade é um indício de ilicitude. Em regra, toda conduta é também antijurídica. ➢ Causas de exclusão ✓ Podem estar na parte geral, especial ou em leis especiais. ✓ Legítima defesa - é uma causa legal, prevista em lei. . É uma agressão injusta. i. Requisitos: ○ AGRESSÃO INJUSTA - ataque indevido ao bem jurídico de alguém. ○ ATAQUE POR UM SER-HUMANO - é o que difere-a do estado de necessidade, porque neste pode haver ação da natureza, enquanto a legítima defesa deve ser sempre por um ser humano. ○ PERIGO ATUAL OU EMINENTE - ataque está acontecendo ou prestes a acontecer. ○ PROTEÇÃO DE BEM JURÍDICO - pode ser próprio ou de terceiro. ○ NECESSIDADE + MODERABILIDADE - a ação deve ser necessária e o meio usado deve ser moderado. Se houverem meios menos gravosos, a legítima defesa não será constituída. ○ SABER - o agente deve saber que está agindo em legítima defesa. ii. Legítima defesa recíproca: “legítima defesa de legítima defesa”. É impossível no ordenamento jurídico, visto que a agressão deve ser injusta e seria impossível duas agressões serem injustas em uma mesma situação entre duas pessoas. iii. Legítima defesa sucessiva: defesa contra um ato de excesso. Aquele que usa legítima defesa primeiro, mas se excede em seus modos, perde a arguição desta, abrindo o direito para aqueleque será agredido com o excesso, podendo alegar este a legítima defesa. iv. Legítima defesa preordenada/ofendículos penais: defesas mecânicas pré-dispostas. Por exemplo, cerca elétrica, portão grande, arame farpado, cachorros de guarda, etc. Estará em legítima defesa se os aparatos são visíveis e não atingem terceiros inocentes. Se o aparato for oculto ou atingir terceiros inocentes, o dono da casa responderá pela morte do assaltante. v. Legítima defesa como aberratio ictus: art. 73 do Código Penal, espécie de erro de tipo chamado de erro de execução. vi. Legítima defesa putativa: ✓ Estado de necessidade - é uma causa legal, prevista em lei. Quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio e alheio, cujo sacrifício não era razoável exigir-se. Pode ser o próprio bem jurídico ou de terceiro. i. Requisitos: ○ PERIGO - probabilidade concreta de lesão ao bem jurídico de alguém; ○ ATUAL - o perigo está acontecendo agora ○ INVOLUNTARIEDADE + INEVITABILIDADE - não foi o próprio agente que criou a situação de perigo, não podendo evitá-lo. ○ PROTEÇÃO DO BEM JURÍDICO - próprio ou de terceiro. ○ INEXIGIBILIDADE DE SACRIFÍCIO PESSOAL - não pode estar na posição de garante, caso contrário não pode alegar estado de necessidade. Devem ser observados os casos concretos, pois não se pode exigir que o agente performe atos sobre-humanos, podendo ter diminuição de pena caso venha a ser condenado. ○ SABER QUE ESTÁ AGINDO - o agente deve saber que está agindo em estado de necessidade. ✓ Estrito cumprimento do dever legal - é uma causa legal, prevista em lei. Todo aquele que cumpre ordem emanada do próprio ordenamento jurídico, não comete crime ou conduta ilícita. EX: oficial de justiça cumprindo mandado de prisão. ✓ Exercício regular do direito - é uma causa legal, prevista em lei. Todo aquele que exerce um direito assegurado (qualquer um) pelo ordenamento jurídico, não atua de forma ilícita. EX: não pagar tributo facultativo; usar da força para prender alguém em flagrante; “cárcere privado” de filho como castigo - correção disciplinar. ✓ Consentimento do ofendido - causa supralegal. Quando o titular do bem jurídico abdica da proteção legal. Ex: permitir que o terceiro faça o que quiser com um objeto seu. i. Requisitos: ○ VALIDEZ - o consentimento não pode estar fraudado ou ser coagido, ou então ser feito por alguém “alienado”, na situação ou de maneira geral. ○ DISPONIBILIDADE - o bem jurídico deve ser disponível, portanto não pode pedir para que alguém lhe mate, mas pode dispor dos seus bens se assim desejar, ou dispor. ii. Consentimento do ofendido como causa excludente de tipicidade: quando o dissenso da vítima é uma das elementares do tipo penal. EX: no crime de estupro, se há consentimento da vítima para o ato sexual, a conduta se torna atípica. ✓ Exemplo de causas de exclusão na parte especial e leis extravagantes - é uma causa legal, prevista em lei. Aborto necessário; violação de domicílio quando há suspeita de crime em seu interior. ✓ EM TODOS AS CAUSAS, O EXCESSO É SEMPRE PUNÍVEL. ● Culpabilidade ➢ Juízo de reprovação que recai sobre a conduta do agente. ✓ Requisitos - para dizer que alguém é culpável, devem estar presentes, de maneira cumulativa e durante o cometimento do crime, os seguintes requisitos: i. Imputabilidade: capacidade de se comportar conforme seu entendimento, de entender o que estava fazendo e que aquilo era errado. Três esferas: ○ plenamente capaz: imputável. Aquele que comete um crime será acometido por uma pena. ○ relativamente capaz: semi-imputável. Em regra, recebe pena, porém sua pena será reduzida. Excepcionalmente, quando o juiz entender que o autor, mesmo semi-imputável, é dotado de alta periculosidade, podendo trocar sua pena por uma medida de segurança. ○ absolutamente incapaz: inimputável. Não pode receber pena, porém, a depender do caso, pode receber outro tipo de pena, conhecida como medida de segurança. ii. Potencial consciência da ilicitude: iii. Exigibilidade de conduta diversa: ✓ Causas excludentes de culpabilidade i. Inimputabilidade: não são imputáveis os seguintes casos: ○ menor de 18 anos - tanto o Código Penal quanto o ECA e a CF citam o menor como absolutamente incapaz, impossível, portanto, que seja julgado e condenado nos moldes do CP, cometendo ele ato infracional análogo ao crime, nos moldes do Estatuto da Criança e Adolescente; ○ doente mental - o sujeito possui uma patologia psíquica, e esta retira sua vontade e capacidade de compreender seus atos. Deve ser, obrigatoriamente, submetido à perícia com intervenção de psicólogo forense, por meio do incidente de sanidade mental. Deve ser um distúrbio que seja capaz de tirar sua capacidade volitiva e de compreensão, pois existem doenças que não o fazem. A medida de segurança não possui tempo máximo, que dura enquanto perdurar a periculosidade; ○ desenvolvimento mental incompleto - é o exemplo do índio não adaptado, que ainda segue as raízes culturais indígenas, que afasta a incidência do crime por ter uma tábula moral e cultural diferente. Deve ser provado por laudo antropológico. O síndrome de down também é considerado assim; ○ embriaguez acidental - deve ser completa e acidental, não foi por culpa do agente e planejada. Pode ser por álcool ou droga. Se a embriaguez é incompleta e acidental, recebe-se pena reduzida. Se é embriaguez é preordenada, recebe pena agravada. Se a embriaguez é patológica, o agente recebe medida de segurança; ○ EMOÇÕES E PAIXÕES NÃO AFASTAM A IMPUTABILIDADE. ii. Potencial consciência da ilicitude: consciência do certo e do errado. Excludente: ○ erro de proibição: iii. Exigibilidade de conduta diversa: poder do Estado de exigir comportamentos conforme o direito. Causas de inexigibilidade: ○ coação moral irresistível - coação por meio de grave ameaça, devendo ser irresistível, sendo que a resistível atenua a pena, porém não afasta. Ex: quando o bandido obriga o gerente do banco a pegar o dinheiro do cofre sob ameaça de uma arma de fogo. ○ obediência hierárquica - ordem emanada de uma autoridade superior e a uma inferior. Vale apenas para funções públicas, não entre relações privadas. A ordem emanada não pode ser manifestamente ilegal (por exemplo, mandar matar alguém). ● Teoria do erro ➢ Erro de tipo ✓ Erro que recai sobre o fato. ✓ Sujeito possui uma falsa percepção da realidade, imaginando uma situação, mas na realidade existe outra. ✓ O agente não sabe exatamente o que faz, pensando que fez uma coisa, quando fez outra. ✓ Espécies i. essencial - recai sobre as elementares do tipo. Afasta o crime. ○ vencível: sujeito poderia ter evitado. Tem poder de afastar apenas o dolo, não a culpa, quando prevista. ○ invencível: qualquer pessoa não conseguiria tê-lo evitado. Homem médio cometeria o mesmo erro. Afasta o dolo e a culpa. ii. acidental - recai sobre não elementares, dados acessórios. Não afasta o crime. ○ quanto ao objeto: sujeito quer praticar o verbo contra uma coisa, mas pratica contra outra. Responde como se tivesse pratica contra o que de fato queria; ○ quanto à pessoa: queria praticar o verbo contra pessoa A, mas pratica contra B. Respondecomo se tivesse praticado contra a pessoa pretendida. ○ quanto à execução: desvio no golpe, executa o crime de forma errada, porém responde como se tivesse acertado. ○ sobre o nexo causal: quando o agente consegue seu intento criminoso, porém não com sua conduta primária, e sim com a secundária. Ex: o indivíduo mata o outro com uma facada, e para ocultar o cadáver, joga-o no rio, porém ele morre afogado e não pelas facadas. Todas as condutas partem do agente. ○ resultado diferente do pretendido: ➢ Erro de proibição ✓ Erro que alcança sobre a ilicitude do fato. ✓ Sujeito perde a noção do certo e do errado, porém sabe o que está fazendo. ✓ Não sabe que o que fez é ilícito ou errado. ✓ Diretamente ligada com os princípios socioculturais. ✓ Se diferencia do desconhecimento da lei, porque neste último não há alcance sobre o teor de um texto normativo, o que não escusa do cometimento de crime, mas pode atenuar a pena. ✓ Espécies i. evitável - erro previsível, que o homem médio não cometeria. Não afasta a ii. inevitável - qualquer um poderia ter errado, nas circunstâncias do crime. Afasta a culpabilidade, e o crime. ➢ Descriminantes putativas ✓ Erro que recai sobre uma causa de justificação. ✓ Pensa que sua ação está calcada em uma excludente de ilicitude, porém não está. ✓ Nenhuma descriminante putativa pode afastar a ilicitude, pois não são reais. ✓ Espécies i. erro de tipo permissivo - culpa imprópria. Erro que recai sobre os pressupostos fáticos de uma causa justificadora. EX: quando o sujeito é ameaçado de morte por um inimigo, e quando o encontra, mata achando que ele vai matá-lo, porém ele não ia. ○ vencível: o homem médio não erraria. Afasta apenas o dolo. ○ invencível: o homem médio erraria. Afasta o dolo e a culpa, conduta se torna atípica. ii. erro de proibição indireto - erro que recai sobre os limites legais ou sobre a própria existência de uma causa justificadora. Excede-se nas excludentes de ilicitude. EX: a velhinha que vai ser assaltada e usa o guarda-chuva para espetar o bandido e, quando ele se afasta, continua desferindo-lhe golpes, até que ele morra (afasta dolo, mas não culpa); quando o sujeito desliga os aparelhos da pessoa em estado vegetativo achando estar amparado por uma excludente de ilicitude, porém esta não existe. ○ evitável: não afasta o crime. ○ inevitável: afasta a culpabilidade. ● Caminho do crime (iter criminis) ➢ Atos de cogitação: quando nasce a ideia do crime. Não é punível. ➢ Atos de preparação: comprar objetos necessários, se preparar para o crime. Em regra, são impuníveis. Será punível quando o ato preparatório constituir crime (ex: comprar arma ilegal para usar em homicídio). ➢ Atos de execução: iniciada a execução, o crime passa a existir. Momento em que o Direito Penal começa a intervir. ➢ Exaurimento: simples desfecho da conduta criminosa. Não se confunde com consumação, porque esta última depende do crime em comento, enquanto o exaurimento é quando a conduta atinge o seu final objetivo. EX: sequestro mediante resgate, se consuma com o sequestro da vítima, porém se exaure apenas com o pagamento da recompensa, que nem sempre acontece. ➢ Consumação: quando a conduta reúne todos os elementos do tipo penal. Se realiza na sua totalidade. ➢ Tentativa: crime não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade. Em regra, é uma simples minorante da pena. ✓ Crimes de atentado - crimes que, sendo consumados ou tentados, são punidos com a mesma pena. Ex: preso que foge ou tenta fugir da cadeia (art. 352, CP). ✓ O critério para diminuir para ⅓ a ⅔ quanto mais próximo ou distante de consumar o delito. ✓ Crimes que não admitem tentativa- crimes culposos, crimes preterdolosos, crimes omissivos, crimes habituais (demanda reiteração para sua existência- ex: art. 229, 230, 284), crimes unissubsistentes (crimes cuja execução não pode ser fracionada - ex: crime de injúria), contravenções penais (art. 4°, LCP). ➢ Desistência voluntária: houve início da execução, porém o crime não foi consumado porque o agente não quis. Responde apenas pelos atos já praticados. ➢ Arrependimento eficaz: agente se arrepende do crime e evita as consequências do crime. Responde apenas pelos atos já praticados. ➢ Arrependimento posterior: arrependimento após a consumação do crime. Não é cabível para crimes violentos. Tem que se dar até o recebimento da denúncia. Se for depois, é atenuante da pena. ➢ Crime impossível: crime irrealizável. Gera atipicidade da conduta. Pode se caracterizar por: ✓ Absoluta impropriedade do meio - o meio com que se quer realizar o crime é impróprio. Deve ser absolutamente irrealizável. ✓ Absoluta impropriedade do objeto - o objeto é irrealizável (matar o que está morto). Deve ser absolutamente irrealizável. ● Concurso de agentes ➢ Ciente e voluntária atuação de duas ou mais pessoas para a prática de um mesmo crime. ➢ Teoria monista: não importa qual tenha sido a tarefa do sujeito na empreitada criminosa, todos responderão pelo mesmo crime, porque uniram esforços para cometê-lo. ✓ Exceções: i. aborto - gestante responde por aborto próprio e o agente responde pelos demais; ii. corrupção - agente público responde por corrupção passiva e o particular por ativa; iii. cooperação dolosamente distinta - duas pessoas agindo na mesma empreitada, mas cada uma tem dolo diferente. Cada um responde de acordo com seu dolo; ✓ Requisitos - i. objetivo: duas ou mais pessoas; ii. subjetivo: vínculo subjetivo, um deve saber da vontade e dos atos do outro, com fim comum. ✓ Autoria colateral - quando duas ou mais pessoas atuam em uma empreitada criminosa, porém uma sem saber da atuação da outra.Existe ausência do vínculo subjetivo, portanto não haverá coautoria. Ex: A e B odeiam C e, ao mesmo tempo, tentam matá-lo, e sucedem. Porém, cada um faz sua própria atuação de maneira independente; i. autoria incerta: forma de autoria colateral, na qual não há concurso de pessoas e a perícia não consegue determinar quem foi o autor. Nestas hipóteses, sabe-se quem são os autores do delito, mas não se sabe quem produziu o resultado. Ambos respondem pelo crime na forma tentada. ✓ Formas de atuação - i. autoria: aquele que tem domínio final sobre o fato. Controle toda a empreitada criminosa. ○ Formas de autoria: ■ direta: executa o crime com as próprias mãos. Ex: puxar gatilho; ■ indireta (intelectual): mandante do crime; ■ mediata: aquele que usa alguém para cometer o crime em seu lugar. Ex: coação moral irresistível, obriga o gerente do banco a cometer o crime sob grave ameaça contra seu filho. ii. coautoria: possui domínio funcional sobre os fatos, controla apenas uma parte da empreitada criminosa; iii. participação: não possui domínio nenhum sobre o fato, não controla nada na empreitada criminosa, apenas contribuindo pelo crime de outrem. ○ A contribuição pode se dar de duas formas: ■ instigação: incentiva o cometimento do crime; ■ cumplicidade: aquele que sabe do crime e contribui de alguma forma; ○ participação de menor importância: juiz pode diminuir a pena nesse caso. ○ teoria da acessoriedade limitada: teoria que rege exclusivamente o tema do partícipe. A participação é acessória, não executando atos materiais, devendo sempre haver um autor para que se configure a participação. Nem sempre a absolvição do autor implicaráem absolvição do partícipe. CRIME AUTOR PARTICIPE TIPICIDADE Absolvido Absolvido ILICITUDE Absolvido Absolvido CULPABILIDADE Absolvido Não absolvido ➢ Comunicabilidade: as circunstâncias pessoais, em regra, não se comunicam em concurso de agentes, exceto se forem elementares do tipo. ➢ Delação premiada: o agente assume sua parcela de culpa na empreitada criminosa, assumindo compromisso de ser fonte de prova para as autoridades, entregando os demais participantes do crime. O acordo deve ser entre o MP/delegado e o acusado, sendo homologado para o juiz, devendo haver a presença do advogado do acusado. ● Concurso de crimes ➢ Ocorre quando o agente, mediante ou mais condutas, incorre em várias infrações penais. ➢ Se diferencia de conflito de aparentes de norma, porque nesse último só parece que ele cometeu vários crimes, quando na realidade cometeu um só. ➢ Espécies ✓ cúmulo material mais benéfico - se o critério da exasperação diante do caso concreto for mais maléfico ao réu, o juiz é obrigado a ignorar a exasperação e somar as penas. ✓ crime continuado específico - em crimes dolosos, violentos e contra vítimas diferentes, o juiz pode aumentar a pena até o triplo. ✓ multa no concurso de crimes - a pena de multa é aplicada de maneira distinta e isoladamente. ✓ suspensão do processo e concurso de crimes - a suspensão do processo em concurso de crime só pode ocorrer se no final não ultrapassar 1 ano. 3. TEORIA DA PENA ● Noções gerais ➢ Sanção penal ✓ Penas; ✓ Medida de segurança - arts. 96 a 99. ➢ Finalidade: prevenir e reprimir delitos. ➢ Etapas: ✓ Cominação - previsão da pena abstrata de pena mínima e máxima, sendo isso tarefa do legislador. ✓ Aplicação - o quanto de pena deve ser aplicada na dosimetria, realizada pelo juiz da sentença. ✓ Execução - cumprimento da pena, entrando em cena o juiz das varas das execuções penais. CONCURSO MATERIAL (art. 69) várias condutas, vários crimes juiz soma a pena de todos os crimes CONCURSO FORMAL (art. 70) uma conduta, vários crimes perfeito: sujeito tinha 1 só vontade. imperfeito: sujeito queria mais de um crime. perfeito: juiz pega a pena do crime mais grave e aumenta de uma fração, que terá critério no número de crimes. imperfeito: juiz soma a pena de todos os crimes. CRIME CONTINUADO (art. 71) várias condutas, gerando vários crimes, porém os crimes devem ser da mesma espécie, do mesmo tipo penal, praticados nas mesmas circunstâncias, de modo, tempo e execução.. juiz pega a pena do crime mais grave e aumenta de uma fração que terá critério no número de crimes. ➢ Espécies ✓ Privativas de liberdade - i. espécies ○ reclusão - cometer crimes. Pena mais grave, previsto pelo próprio legislador. ○ detenção - cometer crimes. Pena mais branda, prevista pelo próprio legislador. ○ prisão simples - cometimento de contravenção penal. ii. aplicação ○ princípio da individualização das penas - art. 5, inciso XLVI, CF. ✓ Restritivas de direito - i. espécies ○ prestação pecuniária; ○ perda de bens e valores; ○ prestação de serviços à comunidade - somente para condenações superiores a 6 meses. Deve ser 1h de atividade a 1 dia de condenação. Pode cumprir em menos tempo se for superior a 1 ano a condenação, 2h por dia durante 1 ano; ○ interdição temporária de direitos - art. 47, CP; ○ limitação de final de semana. ii. cabimento ○ crimes culposos, qualquer que seja a pena aplicada; ○ crimes dolosos, com pena não superior a 4 anos, praticados sem violência contra a pessoa. ○ ostentar bons antecedentes e boa conduta. ○ a reincidência por si só não exclui o cabimento da restritiva de direitos, apenas se for reincidente específico. ○ STF entende que a proibição de penas restritivas de direitos para traficantes fere o princípio da individualização da pena. ✓ Pena de multa - aplicado por dias-multa, no mínimo de 10, máximo 360. Mínimo do valor de 1/30 o salário mínimo e máximo de 5x.Dívida não paga é convertida em dívida ativa diante da União. ➢ Aplicação da pena ✓ A dosimetria se dá em três fases, pelo critério trifásico. i. Primeira-fase: análise da pena-base, com as circunstâncias judiciais. ii. Segunda-fase: análise das atenuantes e agravantes, previstas no art. 61 e 65. iii. Terceira-fase: análise das majorantes e minorantes, espalhadas pelo código. ✓
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