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Curso: Química Disciplina: Química Orgânica III Conteudista: Carlos Roberto Ribeiro Matos . AULA 2 Introdução a química de substâncias carboniladas META Apresentar os principais aspectos relacionados a classificação e a estrutura das substâncias carboniladas OBJETIVOS Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 1. Classificar as substâncias carboniladas 2 .Entender a estrutura dos compostos carbonilados pela teoria da ligação covalente e pala teoria dos orbitais moleculares. 3. Compreender a estabilidade relativa das estruturas de ressonância PRÉ-REQUISITOS Para melhor compreensão desta aula, é importante que você reveja os seguintes conceitos: Ligação química, funções e nomenclatura de substâncias orgânicas. 1. Introdução Na química orgânica, grupos funcionais são grupos de substâncias que possui comportamento químico similar. Nesse contexto o grupo carbonila ocupa uma posição central na família de grupos funcionais orgânicos. Neste grupo funcional o átomo de carbono e oxigênio se encontra unidos, covalentemente, por uma ligação dupla (C=O). As substâncias que possuem o grupo carbonila são denominadas substâncias carboniladas ou derivados carbonilados. As substâncias carboniladas apresentam grande valor industrial sendo utilizados, por exemplo como solventes e na fabricação de polímeros. São amplamente encontrados na natureza, sendo comum a presença do grupo carbonila nas estruturas de biomoléculas essências ao metabolismo de todos os seres vivos (aminoácidos, proteínas, enzimas, lipídeos etc) , assim como em outras moléculas encontradas em plantas, fungos, algas e organismos marinhos (flavonóides, terpenos etc). Devido as características eletrônicas, esse grupo funcional desempenha importante papel nos processos biológicos, e fazem parte da estrutura de diversos fármacos e substância bioativas, tais como o ácido acetilsalicílico (Aspirina ®) e o Ácido (2S)-1-[(2S)-2-metil-3- sulfanilpropanoil]-pirrolidino-2-carboxílico (Captopril ®) (Figura 1) . O OH O O Aspirina ®) ácido acetilsalicílico NHS O OHO Captopril ®) Ácido (2S)-1-[(2S)-2-metil-3-sulfanilpropanoil]- pirrolidino-2-carboxílico Figura 1. Exemplos de fármacos contendo o grupo funcional carbonila A reatividade química do grupo carbonila é excepcionalmente rica e tem sido explorada em síntese orgânica, utilizando-o na interconversão de grupos funcionais, na formação de ligação carbono-carbono e como intermediários para a preparação de fármaco, substâncias naturais, defensivos agrícolas e novos materiais. Esses aspectos serão abordados ao longo da presente disciplina, 2. Tipos de substâncias carboniladas. Em termos de reatividade podemos classificar as substâncias carboniladas em duas classes: carbonilada da classe I e classe II (Figura 2). As substâncias carboniladas da classe I são aquelas em que o grupo acila (R-C=O) está ligado a um átomo ou grupo de átomos que podem ser substituídos por outros grupos (substituição nucleofílica). Nesta classe incluem os ácidos carboxílicos e seus derivados: haletos de acila, anidridos, ésteres e amidas. No caso das substâncias carboniladas da classe II o grupo acila está ligado a um grupo que não podem ser substituído por outro grupo. Os aldeídos e cetonas estão incluídos nesta classe. Nos aldeídos e cetonas, normalmente, ocorrem reação de adição nucleofílica. R OH O R OR' O R O O Substância carbonilada I - Os grupos em destaques podem ser substituídos por nucleófilo Ácido carboxílico Éster R' O Anidrido R Cl O R H O R R' O Cloreto de acila Aldeído Cetona R Br O Brometo de acila Haletos de acila R NH2 O R NHR' O Amidas R NR'2 O Substância carbonilada II - Ocorre adição de nucleófilo Não podem ser substituídos por nucleófilos Figura 2. Classes de substâncias carboniladas 3. Estrutura das substâncias carboniladas 3.1 Estrutura do grupo carbonila em aldeídos e cetonas O grupo funcional carbonila em aldeído e cetona é trigonal planar. Os átomos de carbono com os seus substituintes e o átomo de oxigênio são coplanares e os ângulos R-C-O e R-C-H são aproximadamente de 120º. Na Figura 3 são apresentados os dados experimentais dos ângulos de ligação e os comprimentos de ligação da molécula do formaldeído. Como você pode notar o ângulo entre os átomos de hidrogênio é um pouco menor do que o ângulo entre o oxigênio e o hidrogênio. Essa distorção em relação ao ângulo esperado de 120º também são observados em outros aldeídos e cetonas e depende da natureza dos substituintes. Figura 3. Ângulos de ligação e os comprimentos de ligação da molécula do formaldeído De acordo com a teoria de ligação de valência o átomo de carbono da carboxila usa 3 orbitais atômicos híbridos sp2 para formar ligações sigma com átomos de hidrogênios ou carbonos e com oxigênio da carbonila. O oxigênio da carbonila também se encontra com hibridização sp2. O entrosamento dos orbitais atômicos 2p do carbono e do oxigênio forma a ligação p C=O. (Figura 4) C O Oxigênio sp2 + Carbono sp2 Oxigênio sp2 Orbital sp2 Orbital p C O Ligação C-O Pares de elétron não compartilhados Ligação p C-O Figura 4. Orbitais híbridos na carbonila As ligações químicas formadas no grupo carbonila podem ser analisadas por duas teorias a teoria de ligação de valência e pela teoria dos orbitais moleculares. Na teoria de ligação de valência o grupo carbonila pode ser representada, utilizando estruturas de ressonância (estruturas canônicas) e observando a contribuição de cada estrutura canônica para o híbrido de ressonância. Observando a estrutura A da Figura 5, você pode verificar que esta apresenta octeto completo e os átomos de carbono e oxigênio estão neutros, esta estrutura é a que mais contribui para o híbrido de ressonância. A segunda de maior contribuição é a estrutura B, na qual o átomo mais eletronegativo H H O Formaldeído Ângulo de Ligação (graus) H-C-H 116,4º H-C-O 121,8º Comprimento de ligação (Angstrom) C=O 1,203 C-H 1,101 A A ° ° possui carga negativa com octeto completo e o átomo de carbono, de menor eletronegatividade, com carga positiva e com seis elétrons de valência. A estrutura C não contribui em nada para o híbrido, pois o oxigênio, mais eletronegativo do que o carbono encontra-se deficiente de elétron e com carga positiva. R R O (A) R R O (B) R R O Híbrido de ressonância R R O (C) Formas canônica Figura 5. Ligação de valência: Estruturas de ressonância da carbonila A contribuição da estrutura de ressonância B, explica a origem do momento de dipolo do grupo carbonila. A densidade eletrônica da ligação C=O está mais concentrado sobre o átomo de oxigênio, gerando um dipolo. Além do momento de dipolo explica também o caráter eletrofílico (gosta de elétron, reage com nucleófilo) do carbono carbonílico. (Figura 6) R R O Vetor momento de dipolo da carbonila = 2,2 - 3,0 D R R O R R O Nu: Nucleófilo (espécie rica em elétrons) + R R ONu Centro eletrofílico (deficiente em elétrons) a) b) Figura 6. a) Momento de dipolo da carbonila; b) Caráter eletrofílico da carbonila Pela teoria dos orbitais moleculares, no momento em que os átomos se aproximam para formar novas ligações químicas, os orbitais atômicos se combinam dando origem a orbitais moleculares (OM) que se encontram deslocados por toda a molécula. Uma maneira simplificada de estudar os OM é pelo método da combinação linear de orbitais atômicos. Vamos iniciar com a ligação sigma da carbonila. A ligação sigma ( ) é formada pela combinação linear dos dois orbitais atômicos híbridos do tipo sp2 do carbono e do oxigênio, cada um desses orbitais contribuindo com um elétron. A interação desses dois orbitais atômicos geram dois orbitaismoleculares, os quais podem acomodar cada um no máximo dois elétrons , de spin opostos. O orbital molecular de menor energia é denominado de sigma ligante () e está completo no estado fundamental. O orbital molecular de maior energia é denominado de sigma antiligante ( *) e encontra-se vazio no estado fundamental. No estado fundamental o orbital molecular ligante contém os dois elétrons envolvidos na ligação química, e este encontram-se com maior probabilidade na região entre os dois núcleos ( Figura 7). CSp2 O OSp2 C O Orbital molecular C O Orbital molecular * C Figura 7. Orbitais ligantes e antiligantes * numa carbonila Para a formação da ligação p ocorre a combinação linear de dos orbitais atômicos 2pz do carbono e do oxigênio. Novamente a interação desses dois orbitais atômicos forma dois orbitais moleculares: orbital molecular ligante (p) e antiligante (p*). Como você pode notar, no orbital ligante p , há uma interação com a mesma fase dos orbitais atômicos (interação construtiva). No caso do orbital p* a interação é fora de fase (interação destrutiva) (Figura 8). Figura 8. Orbitais ligantes p e antiligantes p* numa carbonila No estado fundamental o orbital molecular ligante p contém o par de elétron s da ligação p C=O, por outro lado o orbital molecular p* encontra-se vazio. Como você pode notar na Figura 8, o orbital ligante p é mais desenvolvido sobre o oxigênio (maior coeficiente), compatível com a maior densidade de eletrônica no átomo de oxigênio. Por outro lado no orbital p*, o coeficiente é maior sobre o átomo de carbono, mostrando que este átomo tem uma maior tendência de interagir com nucleófilo, ou seja, pode acomodar elétrons. Na Figura 9 é apresentado um diagrama com níveis de energia dos orbitais moleculares da carbonila. Além dos orbitais ligantes e antiligantes da carbonilas são apresentados os orbitais não ligantes da carbonila (oriundo dos pares de elétrons do oxigênio). Neste diagrama de energia nota-se que o orbital molecular ocupado de energia mais alta (HOMO) é o orbital não ligante (n), enquanto o orbital de menor molecular desocupado de energia mais baixa (LUMO) é o orbital p* Figura 9. Níveis de energia dos orbitais ligantes, não ligantes (n) antiligantes Os orbitais HOMO e LUMO são denominados de orbitais de fronteiras e estão envolvidos com a absorção de energia (Figura 10) e com a reatividade da carbonilada. Figura 10. Orbitais de fronteira e a absorção de energia na região do ultravioleta. Um elétron do HOMO é excitado ao LUMO via absorção quantizada de energia, transição n→ p* 3.2. Estrutura do grupo carbonila em ácidos carboxílicos e derivados A combinação de uma carbonila com uma hidroxila dá origem ao grupo carboxila e as substâncias que apresentam esse grupo funcional são chamados de ácidos carboxílicos. Na estrutura do grupo carboxila os três átomos ligados ao carbono da carbonila estão no mesmo plano e seus ângulos de ligação são aproximadamente de 120º (Figura 11). Há dois comprimentos de ligação carbono-oxigênio diferentes, C=O e C-O, sendo a ligação dupla mais curta. R Y O Ângulo de Ligação (graus) R-C-O ~120º R-C-Y ~120º O-C-Y ~120ºÁcido carboxílico e derivados R=Alquil ou H Y= OH, OR , NR2, haleto Figura 11. Ângulo aproximado em derivado de ácido carboxílico e derivados De acordo com a teoria de ligação de valência o átomo de carbono da carboxila usa 3 orbitais atômicos híbridos sp2 para formar ligações sigma com a hidroxila (OH), com hidrogênio ou carbono e com oxigênio da carbonila. O h C=O (estado fundamental) C=O (estado excitado) oxigênio da carbonila também se encontra com hibridização sp2. O entrosamento dos orbitais atômicos 2p do carbono e do oxigênio forma a ligação p C=O. Empregando estruturas de Lewis podemos representar 4 estruturas de ressonâncias (estruturas canônicas) para o grupo carboxila (Figura 12). A estrutura canônica A é a que mais contribui para o híbrido de ressonância, visto que os átomos de carbono e oxigênio estão neutros e possuem octeto completo. A estrutura C também contribui de forma importante para o híbrido de ressonância, pois possui octeto completo. A próxima de importante é a estrutura B e é responsável pelo caráter eletrofílico da carbonila (reage com nucleófilo). A contribuição da estrutura canônica D para o híbrido de ressonância é praticamente desprezível, pois o átomo mais eletronegativo, o oxigênio, apresenta seis elétrons de valência e está com carga positiva, enquanto, o átomo de carbono encontra-se com carga negativa. R OH O A R OH O R OH O B C R OH O Estruturas canônicas D R OH O Híbrido de ressonância Figura 12. Estruturas de ressonância para o grupo carboxila As geometrias dos ésteres são similares à dos ácidos carboxílicos e podem ser representadas por estruturas de ressonância semelhantes às dos ácidos carboxílicos. No caso das amidas de novo podemos representar estruturas ressonâncias semelhantes à dos ácidos e ésteres (Figura 13). Novamente a estrutura canônica A, neutra e com octeto completo é a que mais contribui para o híbrido de ressonância, entretanto, a estrutura C também contribui de forma significativa. Podemos dizer que pelo fato do nitrogênio ser menos eletronegativo do que o oxigênio ele acomoda melhor uma carga positiva. Dessa forma a estrutura canônica do tipo C na amida é mais importante do que nos ésteres e ácidos carboxílicos. R NR2 O A R NR2 O R NR2 O B C Estruturas canônicas R NR2 O Híbrido de ressonância Figura 13 Estruturas de ressonância para o grupo carbonila em amidas Na Figura 14 você pode notar que o ângulo da hidroxila com a carbonila no o ácido fórmico, 106,3º, é mais próximo de uma geometria tetraédrica (109º), o que poderia justificar uma geometria sp3 do átomo de oxigênio ligado a carbonila. Em contra partida na formamida, os ângulos 117,15º e 120,62º estão mais próxima de 120º, sugerindo hibridização sp2 do nitrogênio das amidas. Isso prova que a forma canônica C contribui mais para o híbrido de ressonância nas amidas do que nos ácidos, isso se deve a menor eletronegatividade do átomo de nitrogênio. Além disso, você pode notar que os dos átomos de hidrogênio Ha e Hb são distinguíveis, pois apresentam ângulos e comprimentos de ligação diferentes. Existe uma barreira de rotação em torno da ligação C-N (75KJ/mol ), devido ao seu caráter de ligação dupla. A aborção do grupo carbonila no infravermelho também confirma a maior contribuição da forma canônica C nas amidas. As ligações duplas são mais fortes do que ligações simples e absorvem em maior número de onda (maior frequência). Uma maior contribuição da estrutura canônica do tipo C nas amidas torna a ligação C=O mais fraca do que nos ésteres e, assim as amidas absorvem em números de onda menores (Figura 14). H O O H 106,3º H N O Ha 117,2º Hb120,6º Ácido fórmico Formamida Comprimento de ligação (Angstrom) N-Ha 1.014 N-Hb 1,002 A A ° ° Estiramento da ligação C=O 1720 cm-1 Estiramento da ligação C=O 1670 cm-1 Figura 14. Comparação de algumas propriedades físicas do ácido fórmico e formamida. Ângulos de ligação e absorção da ligação C=O no infravermelho. No caso de cloreto de acila, a estrutura canônica do tipo C contribui muito pouco para o híbrido de ressonância. A ligação C-Cl no cloreto de acetila (1,789 A) apresenta um comprimento muito similar ao cloreto de metila (1,784 A). Isso mostra que estrutura de ressonância contendo carga positiva no átomo de cloro não estabiliza o híbrido (Figura 15). R Cl R Cl R Cl O O O (A) (B) (C) Octeto completo Forma polar Forma pouco importante R Cl O Híbrido de ressonância Figura 15 , Estruturas de ressonância para o grupocarbonila em cloreto de acila ATIVIDADE 1 ( Atende aos objetivos 1, 2 e 3) A estrutura de ressonância da amida na qual o átomo de nitrogênio está carregado positivamente tem grande importância para o híbrido de ressonância. Por outro lado, no cloreto de ácido a estrutura de ressonância com átomo de cloro com carga positiva não contribui para o híbrido de ressonância. Explique estes fatos. ATIVIDADE 2 ( Atende aos objetivos 1, 2 e 3) a) Qual ligação é mais longa, a ligação simples carbono-oxigênio no ácido carboxílico ou a ligação C-O no álcool ? Por quê? b) Existem três ligações carbono-oxigênio no acetato de metila. Quais são suas forças relativas ATIVIDADE 3 ( Atende aos objetivos 1, 2 e 3) Represente as estruturas de ressonâncias do anidrido acético. REFERÊNCIAS Barbosa, L. C. A. (2004). Introdução à Química Orgânica. Prentice Hall. São Paulo, 311p. Brown, W. H. (1997). Introduction to Organic Chemistry. Saunders College Publishing. Fort Worth, 615 p. Bruice P. Y. (2006). Química Orgânica, vol1, 4a Ed. Pearson Prentice Hall. São Paulo, 590 p. McMurry J. (1996). Química Orgânica vol 1, 4a Ed. LTC - Livros Técnicos Científicos Editora. Rio de Janeiro, 666 p.
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