Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Andressa Marques – medicina UFR →Corresponde ao conjunto de sinais e sintomas decorrente da isquemia miocárdica aguda – é classificada em quatro entidades com significado clínico e prognóstico diferente. →Na angina instável o paciente refere desconforto precordial isquêmico acompanhado de pelo menos uma das seguintes características: • Surgimento em repouso (ou aos mínimos esforços); • Duração prolongada (> 10-20min); • Caráter mais intenso (descrito como “dor” propriamente dita); • Início recente (em geral nas últimas 4-6 semanas); • Padrão em crescendo (dor progressivamente mais intensa, frequente e duradoura do que antes – ex.: a dor passa a despertar o paciente do sono). →Na angina instável pode haver evidências eletrocardiográficas de isquemia miocárdica aguda em 30-50% dos casos (ex.: inversão da onda T, infradesnível de ST), mas, por definição, não se observam os critérios diagnósticos do IAM com supra de ST. →Em termos fisiopatológicos, a ausência do supra de ST ≥ 1 mm em duas ou mais derivações indica que o lúmen coronariano não foi totalmente ocluído (trombo vermelho – fibrina), mas existe uma oclusão subtotal (trombo branco – plaquetas), que pode progredir. Se o indivíduo com diagnóstico clínico de angina instável desenvolver elevação nos marcadores de necrose miocárdica, diremos que ele sofreu um IAM sem supra de ST (IAMSST). →A angina variante de Prinzmetal é uma forma especial de isquemia miocárdica aguda na qual ocorre espasmo de uma coronária epicárdica, levando à oclusão total (“supra” de ST) transitória, que pode ou não evoluir com aumento dos MNM (IAM). SCA SEM SUPRA DE ST →Resulta da oclusão subtotal do lúmen coronariano (ou oclusão total com boa perfusão colateral). →Se houver elevação dos MNM o diagnóstico é IAMSST, caso contrário, angina instável. →Tem como principal etiologia a aterotrombose, e a justificativa para a formação de um trombo de plaquetas e não de fibrina parece ser a ocorrência de lesões menos graves na placa de ateroma (ex.: apenas erosão/fissura superficial, sem muita exposição dos conteúdos fibrinogênicos intraplaca). →O termo angina instável foi originalmente cunhado para descrever os casos em que um portador de angina estável evoluía com piora progressiva da sintomatologia habitual, em precedência de dias ou Andressa Marques – medicina UFR semanas a um episódio de infarto agudo do miocárdio. Por isso era também chamada de “angina pré- IAM”. FISIOPATOLOGIA →Seis mecanismos fisiopatológicos independentes podem estar operantes numa SCA sem supra de ST, de maneira isolada ou em combinações variadas – e cada um desses mecanismos carecem de tratamentos diferentes! DIAGNÓSTICO →É fundamentalmente clínico, baseado na anamnese e exame físico, com o auxílio de informações complementares obtidas pelo ECG e pela curva de MNM. Andressa Marques – medicina UFR →Ao primeiro contato com o doente, na ausência de critérios para IAMST, devemos inicialmente avaliar a probabilidade de uma isquemia miocárdica aguda ser a causa dos sinais e sintomas. ANAMNESE →Detalhar as características da precordialgia, analisando-se os sete atributos básicos da dor; →Podemos usar o mnemônico CLINICA → Caráter, Localização, Intensidade, “Nitrato” (fatores que melhoram ou pioram a dor), Irradiação, Curso no tempo e Associados (ex.: sudorese? dispneia? hipotensão?) →A partir dessas informações é possível classificar a dor torácica aguda em 4 tipos: EXAME FÍSICO →Geralmente o exame físico se encontrará normal, ou seja, tem pouca sensibilidade para diagnóstico. Andressa Marques – medicina UFR →Todavia, na presença de sinais e sintomas de falência do ventrículo esquerdo (ex.: B3, congestão pulmonar, hipotensão, palidez e sudorese fria), teremos dados fortemente positivos que não apenas corroboram o diagnóstico, mas também sinalizam um prognóstico mais reservado. →O surgimento de sopro de insuficiência mitral – ou piora de sopro preexistente – também representa uma alteração ominosa. ECG →Todo paciente com queixas sugestivas de SCA deve ter um ECG feito e interpretado em < 10min após sua chegada ao hospital. →Na vigência de AI/IAMSST, o ECG costuma ser normal, mas em 30-50% pelo menos uma das seguintes alterações pode ser encontrada: (1) onda T apiculada e simétrica, com ST retificado; (2) onda T invertida e simétrica, com ST retificado; (3) infradesnível do segmento ST. →O supra de ST pode ocorrer de forma dinâmica (em geral por < 20min), sugerindo superposição de espasmo coronariano. Quando persistente, sugere evolução para IAMST. →Uma alteração sutil e pouco frequente é a inversão da onda U. →De um modo geral, o ECG é pouco sensível nas SCA sem supra de ST, mas existem certos achados que, quando presentes, sugerem fortemente a existência de isquemia miocárdica no indivíduo sintomático: – Presença de ondas T negativas e simétricas, com amplitude > 2 mm. – Infradesnivelamento de ST > 0,5 mm →Outro dado altamente sugestivo de isquemia miocárdica é o aparecimento das alterações eletrocardiográficas apenas durante a dor – nesses casos, deve-se manter o paciente em monitorização eletrocardiográfica contínua. →A detecção de alterações dinâmicas do segmento ST (isto é, não presentes no traçado anterior), mesmo se assintomáticas (“isquemia silenciosa”) constitui um dos mais poderosos marcadores de alto Andressa Marques – medicina UFR risco na síndrome coronariana aguda; além disso, essa estratégia tem o benefício adicional de identificar arritmias. MNM →Por definição, na angina instável não ocorre injúria isquêmica suficiente para levar à necrose miocárdica, portanto, não há elevação de CK-MB ou troponinas. →Se houver elevação, o diagnóstico é de IAMSST. Devem ser dosados na admissão e 6-9h após (sendo opcional dosagem na 4ª e 12ª hora). →Os MNM de escolha, assim como no IAMST, são as troponinas cardioespecíficas e a CK-MB massa. #OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES RAIO X DE TÓRAX →Indicado nos casos de suspeita de congestão pulmonar – edema de pulmão piora o prognóstico. LIPIDOGRAMA →Deve ser dosado nas primeiras 24 horas de internação (após esse horário os seus valores estarão falsamente reduzidos em 30 – 40%. #A pesquisa de causas secundárias para a SCA deve se basear nas “pistas” fornecidas pela história e exame físico, por exemplo: paciente com taquicardia sinusal persistente = pesquisar hormônios tireoidianos. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA →A SCA sem supra de ST pode ser categorizada em três classes principais (I, II e III), em função da gravidade do sintoma. →Esta é a classificação clínica de Braunwald para AI/IAMSST, e possui correlação direta com o prognóstico! Andressa Marques – medicina UFR CONDUTAS NA SÍNDROME CORONARIANA AGUDA SEM SUPRA DE ST ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO →Após confirmação diagnóstica a prioridade é determinar se o risco do paciente é alto, médio ou baixo. (O termo “risco” refere-se à probabilidade a curto prazo de óbito ou eventos cardíacos maiores, como o IAM.) →Essa estratificação se faz necessária pelo fato de haver uma grande heterogeneidade no prognóstico dos portadores de SCA sem supra de ST! _ pacientes de médio/alto risco se beneficiam de internação em unidade coronariana, com realização de tratamento “agressivo” e estratégia invasiva precoce (coronariografia e revascularização, que pode ser angioplastia ou cirurgia); já os pacientes de baixo risco alcançam os mesmos resultados com uma estratégia “conservadora”. →Logo, o uso da estratificação dos riscos permite um conhecimento apurado acerca do prognóstico individual, permitindo o emprego da melhor estratégia terapêutica e com o melhor custo/benefício. →Essa estratificação leva em consideração vários fatores, que podem ser clínicos, eletrocardiográficos, laboratoriais ou derivados de métodos especiais de estratificação. Andressa Marques– medicina UFR #Outra forma de estratificar o risco – bem mais fácil de memorizar e aplicar na prática – é através do escore TIMI risk (lembre-se que existem dois escores TIMI risk diferentes: um para IAMST e outro para AI/IAMSST)... Aqui contabilizaremos sete fatores de risco independentes, cada um valendo um ponto. Seu somatório possibilita a estratificação do paciente com grande precisão! Andressa Marques – medicina UFR #Exames Adicionais Utilizados na Estratificação do Risco: • Ecocardiograma Transtorácico – deve ser feito de rotina em todos os pacientes. Pode revelar a existência de segmentos miocárdicos discinéticos durante o episódio de angina, o que confirma a origem isquêmica da dor. Avalia também a função ventricular, a qual, quando reduzida, confere péssimo prognóstico! Em ambos os casos o paciente será taxado como “alto risco”, devendo ser internado na unidade coronariana e submetido à estratégia invasiva precoce... O eco ainda ajuda no diagnóstico diferencial com doenças da aorta, pericárdio e circulação pulmonar (ex.: sinais de TEP maciço, como hipertensão pulmonar e disfunção de VD), bem como detecta as complicações mecânicas do IAM (ex.: Insuficiência de Mitral (IM), CIV). • Eletrocardiograma de Esforço – nos pacientes considerados de BAIXO RISCO, que em repouso no leito de observação (emergência ou “unidade de dor torácica”) permanecem sem angina e sem evidências eletrocardiográficas de isquemia, com a curva de MNM (0-6h) dentro da normalidade, devemos realizar alguma forma de teste provocativo de isquemia antes da alta. O método de escolha, quando viável, é o ECG de esforço, mais conhecido como teste ergométrico. Tal procedimento é comprovadamente seguro no referido contexto, e deve ser realizado após 9-12h de estabilidade clínica (é aceitável a sua realização em até 72h após alta hospitalar). A presença de Andressa Marques – medicina UFR critérios para isquemia esforço-induzida reclassifica o doente como “alto risco”, indicando a necessidade de internação e estratégia invasiva precoce. Quando negativo, possui elevado valor preditivo negativo, o que embasa a alta hospitalar com mais segurança. • Eco-stress (com dobutamina) – teste provocativo alternativo para os pacientes em que não se pode realizar o eletrocardiograma de esforço (ex.: incapacidade física para deambulação; alterações crônicas no ECG, como BRE de 3º grau antigo). Na presença de critérios para isquemia indica-se internação e estratégia invasiva precoce. (depois é necessário reverter o estresse provocado, com algum fármaco de efeito oposto) • Cintilografia Miocárdica de Perfusão – representa outra alternativa para os pacientes inaptos à realização do teste ergométrico. Suas principais limitações são o custo elevado e a baixa disponibilidade. A cintilografia miocárdica de perfusão em repouso pode ser empregada na avaliação inicial dos pacientes com suspeita de SCA sem supra de ST. Por ser um método com alta sensibilidade, confirma a origem isquêmica ou não da dor! Dados relativos à extensão da isquemia, evidentemente, auxiliariam também na determinação do prognóstico. A técnica gated- -SPECT (sincronização do ECG à cintilografia) avalia a função sistólica do VE com precisão, oferecendo dados extras para uma melhor estratificação do risco. ALGORITMO →Recomenda-se que cada serviço adote um protocolo próprio, de acordo com os recursos disponíveis. →No exemplo abaixo foi considerado um centro médico equipado com múltiplos insumos tecnológicos (o que não é a realidade na maioria dos hospitais brasileiros). Andressa Marques – medicina UFR TRATAMENTO →Pacientes de baixo risco, de modo geral, recebem apenas AAS + clopidogrel + heparina, além da terapia anti-isquêmica, enquanto permanecem monitorizados na unidade de dor torácica. →Abaixo um enfoque maior em pacientes de médio/alto risco MEDIDAS GERAIS →Pacientes estratificados como de médio/alto risco devem ser internados de preferência numa Unidade Coronariana (UCO), com monitorização contínua do eletrocardiograma e dos sinais vitais, Andressa Marques – medicina UFR onde deverão permanecer em repouso no leito até que estejam, há pelo menos 12-24h, completamente estáveis. →Oxigenioterapia costuma ser ofertada a todos neste grupo, com O2 a 100% na dose de 2-4 l/min (através de cateter nasal ou máscara) por até 4h após o desaparecimento da dor. Naqueles com hipoxemia persistente a oxigenioterapia deverá ser mantida enquanto for necessário, com ajuste pela oximetria de pulso e gasometrias arteriais seriadas. Naqueles com hipoxemia refratária ou grave indica-se Ventilação Não Invasiva (VNI) ou mesmo Intubação Orotraqueal (IOT). ➢ ANTIAGINOSOS NITRATOS →São empregados da mesma forma que no IAMST, inicialmente pela via sublingual, passando-se para a via IV somente nos casos refratários às três primeiras doses com intervalo de 5min entre cada dose. →O fenômeno de tolerância ao nitrato IV se desenvolve após 48h, momento em que devem ser substituídos pelo nitrato VO, com doses espaçadas (8/8h ou de 6/6h, omitindo-se, neste caso, a última dose). →Promovem redução da pré e pós-carga (reduzindo o MVO2), além de dilatarem o leito coronariano. →Indicados também nas crises hipertensivas. BETABLOQUEADORES (BB) →Reduzem o MVO2 e a chance de evolução para infarto. →Assim como no IAMST, inicialmente devem ser dados o quanto antes pela via oral, em pacientes sem contraindicações e sem fatores de risco para choque cardiogênico nas primeiras 24h. →Visa-se manter a FC em torno de 50-60 bpm. →A via IV é reservada aos casos refratários, bem como aqueles com crise hipertensiva ou taquiarritmias. →A escolha do BB específico depende da disponibilidade e preferência/experiência do médico, lembrando que devemos evitar o pindolol, pois ele possui efeito simpatomimético intrínseco. ANTAGONISTAS DOS CANAIS DE CÁLCIO (ACC) →Assim como no IAMST, são drogas de terceira linha no combate à dor anginosa (isto é, são reservados aos casos refratários a nitratos e BB), ou como alternativa nos pacientes que apresentam contraindicações aos BB. →Os ACC preferencialmente utilizados nas SCA são o diltiazem e o verapamil (mais cardiosseletivos). As di-hidropiridinas (mais vaso seletivas) podem causar taquicardia reflexa e aumento na mortalidade! Contudo, di-hidropiridinas de ação rápida (ex.: nifedipina) até podem ser empregadas como anti-hipertensivos adjuvantes em pacientes de alto risco, desde que estes já se encontrem adequadamente betabloqueados. #O tratamento de primeira escolha para a angina de Prinzmetal é a combinação de nitratos e ACC! Andressa Marques – medicina UFR MORFINA →Reservada aos pacientes que permanecem sintomáticos após nitratos e BB/ACC, bem como aqueles que evoluem com edema agudo de pulmão (a morfina tem propriedades venodilatadoras, reduzindo a pré-carga e a congestão pulmonar). →A posologia é a mesma já citada para o IAMST... Obs: Lembre-se que os AINES (exceto o AAS) são contraindicados no paciente com isquemia miocárdica aguda. ➢ ANTIPLAQUETÁRIOS AAS →O ácido acetilsalicílico é um componente essencial na abordagem terapêutica de qualquer forma de SCA. →Comprovadamente reduz a taxa de mortalidade e infarto/reinfarto. →As doses preconizadas no Brasil são: 200 mg no “ataque” (mastigar e engolir) e 100 mg/dia (junto às refeições) na manutenção em longo prazo. →Atua inibindo a COX-1 plaquetária, o que reduz a síntese de tromboxane A2 e a ativação/agregação plaquetária. Por inibir a COX-1 de forma irreversível, seu efeito persiste enquanto durar a sobrevida da plaqueta (7-10 dias). CLOPIDOGREL Andressa Marques – medicina UFR →Principal representante das tienopiridinas, atualmente também ocupa um papel de destaque no tratamento das SCA. →Tienopiridinas são inibidores irreversíveis do receptor de ADP (receptor P2Y12), ereduzem a ativação/agregação plaquetária. →Deve ser dado junto com AAS a todos os pacientes de médio/alto risco (“dupla antiagregação plaquetária”). →A dose de ataque é 300 mg VO, seguindo-se 75 mg/dia VO de manutenção. →Em pessoas > 75 anos a dose de ataque deve ser omitida. →Nos pacientes que serão submetidos à angioplastia, recomenda-se a utilização de doses de ataque maiores (600 mg). TICLOPIDINA →Tienopiridínico mais antigo, foi largamente substituída pelo clopidogrel, que apresenta início de ação mais rápido e menos efeitos colaterais. →Com a dose de ataque do clopidogrel (300 mg) as plaquetas são inibidas em 4-6h, ao passo que a ticlopidina leva de 3-6 dias para atingir a inibição plaquetária máxima... Paraefeitos clássicos como neutropenia e Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT), apesar de raros (1%), são extremamente graves. →Por ser bem mais barata que o clopidogrel, é aceita como alternativa para associação com AAS em pacientes de médio/alto risco (dose da ticlopidina = 250 mg 12/12h VO). PRASUGREL →Tienopiridina moderna que se mostrou superior ao clopidogrel (é cerca de dez vezes mais potente, e alguns estudos mostraram benefício adicional na morbimortalidade), atualmente pode ser usado no lugar do clopidogrel para a “dupla antiagregação plaquetária”. →A dose é 60 mg VO de ataque, seguindo-se 10 mg/dia VO de manutenção. →Deve ser suspenso, se possível, uma semana antes de uma CRVM. →Está contraindicado em pacientes com história de AVC ou AIT (ataque isquêmico transitório) - (maior risco de sangramento)! →A duração do tratamento após uma SCA sem supra de ST deve ser de 12 meses. TICAGRELOR →Também inibe o receptor P2 Y2, porém, ao contrário das tienopiridinas, o faz de forma reversível. Logo, apresenta como principal vantagem o fato de, ao ser suspenso 48-72h antes da CRVM, não aumentar a incidência de sangramento pós-operatório!!! →Parece que assim como o prasugrel o ticagrelor é superior ao clopidogrel, em termos de eficácia. →A dose é de 180 mg de ataque, seguido de 90 mg/2x dia. →A duração do tratamento após uma SCA sem supra de ST também deve ser de 12 meses. Andressa Marques – medicina UFR INIBIDORES DA GLICOPROTEÍNA IIb/IIIa →A GP IIb/IIIa é a proteína em maior abundância na superfície plaquetária. →Quando a plaqueta é ativada, a GP IIb/IIIa sofre uma alteração conformacional que resulta no fenômeno de agregação (formam-se “pontes” entre plaquetas adjacentes, utilizando a molécula de fibrinogênio como “cola”). →Também participa do processo de adesão plaquetária (ao subendotélio exposto). →Existem três drogas nessa classe (todas de uso IV): (1) abciximab – anticorpo monoclonal contra a GP IIb/IIIa; (2) tirofiban – pequena molécula não peptídica que compete com o fibrinogênio pela ligação à GP IIb/IIIa; (3) eptifibatide – oligopeptídio cíclico que também compete com o fibrinogênio pela ligação à GP IIb/IIIa. →Assim, a GP IIb/IIIa representa a via final comum na formação do trombo plaquetário, e sua inibição seria racional nos casos de SCA sem supra de ST (onde predominam os trombos “brancos”), mas... #O que diz a literatura a respeito da eficácia e segurança dessas drogas nas SCA sem supra de ST? Bem, de um modo geral os inibidores da GP IIb/IIIa aumentam o risco de sangramento (é óbvio). E os benefícios em termos de redução da morbimortalidade só foram incontestavelmente demonstrados numa única situação: pacientes de alto risco, submetidos à angioplastia, que NÃO receberam tienopiridínicos em associação ao AAS... →Acrescentar, de rotina, um inibidor da GP IIb/IIIa ao esquema antiplaquetário já composto por ASS + clopidogrel é uma estratégia não completamente validada pela literatura! No entanto, em pacientes de alto risco submetidos à angioplastia, é aceitável o emprego desta “tripla antiagregação plaquetária”. →O melhor momento para iniciar inibidores da GP IIb/IIIa na SCA sem supra de ST é controverso: alguns autores sugerem início precoce, desde o momento de apresentação, enquanto outros preconizam seu início durante a angioplastia. A diretriz brasileira não fornece orientações precisas nesse sentido, mas a diretriz norte-americana (AHA/ACC) afirma que ambas as estratégias são igualmente aceitáveis nas SCA sem supra de ST. Andressa Marques – medicina UFR →Existe ainda outro conceito essencial: o abciximab só pode ser usado em pacientes submetidos à angioplastia. Na estratégia “conservadora” (sem angioplastia) seu uso se associa a uma maior mortalidade precoce!!! Pacientes de alto risco que por algum motivo são encaminhados à estratégia conservadora (por exemplo: recusa do paciente em se submeter à angioplastia) devem receber tirofiban ou eptifibatide em associação ao AAS, caso o clopidogrel não seja ministrado. A “tripla antiagregação” também é aceitável nesses casos, desde que o paciente seja de alto risco... Indivíduos com risco médio ou baixo não devem receber inibidores da GP IIb/IIIa. ➢ ANTICOAGULANTES TRADICIONAIS →Ainda que as SCA sem supra de ST sejam caracterizadas pela presença de um trombo predominantemente “branco” (isto é, formado por plaquetas), sabemos que nelas também ocorre ativação da cascata de coagulação. →A trombina gerada não só exacerba a estimulação plaquetária, mas também costuma induzir um estado “pró-trombótico” generalizado, com alto risco de tromboembolismo venoso. Desse modo, um agente antitrombínico (anticoagulante) está indicado em todos os casos, e comprovadamente reduz a morbimortalidade e evolução para infarto. →A ENOXAPARINA – uma Heparina de Baixo Peso Molecular (HBPM) – atualmente é o anticoagulante de escolha no tratamento da SCA sem supra de ST, exceto se houver previsão de CRVM nas próximas 24h, quando então a Heparina Não Fracionada (HNF) deve ser escolhida (pelo fato de seu efeito anticoagulante poder ser revertido com mais rapidez e facilidade, uma vez que há um antídoto específico – a protamina). Vale lembrar que a protamina é menos eficaz em reverter o efeito anticoagulante das HBPM... →A dose de enoxaparina na SCA sem supra de ST é 1 mg/kg SC de 12/12h. A dose inicial de HNF é 60 U/kg em bolus IV, seguido de infusão IV contínua a 12 U/kg/h. Usuários de HBPM não necessitam de monitorização do PTTa, mas no caso da HNF o PTTa deve ser dosado de 6/6h até o valor “alvo” ser atingido, e após, poderá ser dosado a cada 12-24h. →A dose de HNF deve ser ajustada para manter o PTTa entre 50-70 segundos, algo em torno de 1,5 a 2,5x o tempo do controle. →A duração ideal do uso das heparinas na SCA sem supra de ST ainda não foi plenamente estabelecida, mas a maioria dos estudos sugere um período entre 2-5 dias. #Outros Anticoagulantes Andressa Marques – medicina UFR →O fondaparinux é um inibidor indireto do fator Xa que necessita da presença de níveis adequados de antitrombina no sangue. Por ser mais seletivo do que a heparina (a qual inibe, além do fator Xa, outros fatores da coagulação), acredita-se que sua principal vantagem seja uma menor incidência de sangramentos “maiores”. De fato, a literatura comprova um menor risco de hemorragias graves com o fondaparinux! No entanto, em pacientes submetidos à angioplastia, o uso de fondaparinux está associado a um aumento na incidência de trombose do cateter e fenômenos embólicos secundários. Por esse motivo, o fondaparinux não deve ser usado isoladamente no portador de SCA sem supra de ST encaminhado à estratégia invasiva... Nos pacientes tratados conservadoramente – em particular naqueles com alto risco de sangramento – é válido empregar o fondaparinux no lugar da enoxaparina. →Os inibidores diretos da trombina – como os derivados da hirundina – têm a vantagem de não dependerem dos níveis séricos de antitrombina para exercerem seus efeitos. Entretanto, os estudos que compararam sua eficácia com a de outros anticoagulantes não demonstraram nenhumavantagem especial com o seu uso... Atualmente, a grande utilidade da bivalirudina, o principal representante deste grupo, é como substituto às heparinas nos casos de trombocitopenia induzida por heparina. ➢ TERAPIA INTERVENCIONISTA → Duas estratégias de conduta definitiva foram comparadas: (1) coronariografia e revascularização o mais rápido possível (angioplastia ou CRVM, ou mesmo tratamento exclusivamente clínico, na dependência da anatomia coronariana) – a chamada estratégia invasiva precoce; (2) coronariografia e revascularização somente se houver persistência ou recidiva dos sinais e sintomas de isquemia em paciente sob tratamento clínico otimizado (anti-isquêmico e antitrombótico) – a chamada estratégia conservadora, ou “invasiva seletiva”. →Nesta última também se enquadram os casos a princípio estáveis, mas que apresentam evidências de isquemia em teste provocativo. →Recomendações especiais para os pacientes previamente revascularizados: (1) angioplastia nos últimos seis meses, SCA atual = sempre adotar a estratégia invasiva precoce; (2) CRVM a qualquer tempo, SCA atual = sempre adotar a estratégia invasiva precoce. →Há consenso que NÃO devemos adotar uma estratégia invasiva (precoce ou seletiva) em pacientes de médio/alto risco nas seguintes situações: expectativa de vida reduzida (ex.: câncer, falências orgânicas terminais), ou recusa do paciente em se submeter à coronariografia/revascularização. Andressa Marques – medicina UFR →O melhor momento para a realização da coronariografia na estratégia invasiva precoce ainda não foi adequadamente estabelecido! Contudo, estudos recentes sugeriram não haver nenhuma vantagem com esperas demasiadamente prolongadas, notando-se maior benefício quando o cateterismo é realizado nas primeiras 6h em comparação com a sua realização após 72h. Logo, quando indicada, a coronariografia deve ser feita o mais precocemente possível! →Qual é a melhor estratégia de revascularização, angioplastia ou CRVM? A maioria dos pacientes (> 90%) tem sido tratada com sucesso através da angioplastia percutânea primária, haja vista os importantes desenvolvimentos técnicos nessa área, particularmente a introdução de potentes agentes antiplaquetários (ex.: inibidores da GP IIb/IIIa como o abciximab). →Em comparação com a CRVM, a angioplastia possui menor morbimortalidade em curto prazo, porém, em longo prazo, a probabilidade de ser necessário um novo procedimento de revascularização é maior... Em linhas gerais, as principais situações em que a CRVM é preferível à angioplastia são: Andressa Marques – medicina UFR OBS: Não se deve ministrar trombolíticos ao paciente com SCA sem supra de ST!!! Diversos estudos comprovaram que tal conduta, paradoxalmente, AUMENTA a mortalidade.
Compartilhar