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Livro O QUE É ADOLESCÊNCIA Daniel Becker

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ADOLESCÊNCIA: GRUPO OPERATIVO COM ALUNOS DE UMA ESCOLA 
ESTADUAL DE SANTA MARIA, Daynah Leal, Rubia Tschiedel, Marcos Adegas de 
Azambuja. (Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS). 
daynahleal@hotmail.com 
 
RESUMO 
Este trabalho busca apresentar uma experiência de estágio com um grupo 
operativo de adolescentes para dialogar sobre assuntos referentes à fase da adolescência. 
Buscou-se construir um espaço de reflexão capaz de propiciar rompimento de tabus, 
enfrentamento de conflitos, bem como proporcionar um ambiente de troca de 
experiências, promover saúde e facilitar a identificação de obstáculos que fazem parte 
dessa fase da vida. Para tanto, realizou-se uma pesquisa-ação, com um grupo de onze 
alunos da sexta série, com idades variadas entre onze e doze anos, numa escola estadual 
na cidade de Santa Maria no estado do Rio Grande do Sul. A técnica utilizada foi de 
intervenções semanais com dinâmicas de grupo e escuta. Juntamente com essas 
conversas foram realizadas dinâmicas em que apareceram particularidades sobre os 
sentimentos dos integrantes onde eles trouxeram não apenas de maneira verbal o que 
realmente sentiam, mas expuseram seus sentimentos e desejos escondidos de maneira 
espontânea e agradável. 
Escolheu-se trabalhar com adolescentes porque é nesta fase que começam a se 
evidenciar os conflitos em relação a seu corpo, sentimentos e identidade. A importância 
deste trabalho está em promover o pensamento crítico e a reflexão de alguns assuntos 
que norteiam o cotidiano dos jovens. Procurou-se facilitar o processo com um setting 
adequado. Aqui não refere-se a um local neutro, sem interferências e intransferível, pois 
acredita-se que se pode fazer um bom trabalho psicológico em ambientes variados e 
dinâmicos, para que os participantes dividam suas experiências, a fim de auxiliá-los a 
encontrar suas próprias condições para enfrentar esse momento da melhor forma 
possível. 
Na experiência de estágio constatou-se a necessidade de moldar as práticas 
conforme a realidade dos adolescentes. Procurou-se escutar através dos relatos seus 
gostos, preferências, vivências, etc. Através destes, pesquisou-se na internet, revistas, 
novelas, filmes, músicas para tentar compreender o que é relevante ser efetuado nos 
encontros, despertando uma maior motivação e interesse, pelos alunos, nas atividades, 
para que as “trocas” nessa relação interpessoal sejam ricas e proveitosas. 
mailto:daynahleal@hotmail.com
Uma das dinâmicas que mais chamou a atenção dos alunos foi a denominada 
“Caça ao Tesouro”. Esta tinha por objetivo questionar os alunos se estavam atentos a 
assuntos gerais como sexo, drogas, programas de televisão, enfim ao mundo que estão 
cercados. Nesta atividade fez-se um caminho pela escola, que estava sinalizado por 
balões e setas, sendo que para avançar o grupo deveria responder às perguntas e realizar 
as tarefas solicitadas, como por exemplo, a corrida dos sacos, contar piadas, cantar uma 
música, andar de dupla com os pés amarrados, etc. Outras atividades foram realizadas 
como debates, trabalhos com músicas, atividades com cartazes, brincadeiras que os 
alunos criavam, etc. 
 Quanto aos resultados foi possível dialogar abertamente com os jovens sobre 
aspectos da sexualidade, drogas e violência. Desta forma estes foram os assuntos que 
mais apareceram nos encontros com os adolescentes. Os participantes, com o passar dos 
dias de grupo, passaram a criar atividades, discutiam e entravam em um acordo entre 
eles sobre o que iriam fazer no próximo dia. Pode-se perceber a emergência de 
Protagonismo Juvenil no grupo, através da autonomia dos alunos e possibilitando o 
desenvolvimento de uma visão crítica e atuante das suas histórias tanto individuais 
quanto coletivas. 
Esta prática de trabalho foi acompanhada de supervisões semanais com um 
orientador, para a realização do relatório de estágio utilizamos artigos e livros de autores 
relevantes para o tema da adolescência, como Aberastury, Dorin, Levisky, Pikunas e 
outros. 
Aberastury & Knobel (1981) definem essa fase do desenvolvimento como a 
síndrome da adolescência normal, onde o jovem passa por desequilíbrios e 
instabilidades que atravessam por momentos de exaltação e de introversão, intercalando 
com audácia, timidez, descoordenação, urgência e desinteresse. Nesta etapa preparatória 
para a maturidade o indivíduo vivencia alguns lutos, são eles: a perda do corpo infantil, 
a perda dos pais da infância e a perda da identidade infantil. Isso gera conflitos afetivos, 
religiosos, sexuais, dentre outros, que posteriormente oportunizam para uma integração 
e estabilização da personalidade inerente à evolução normal desta etapa da vida. 
A prática de estágio não deixa de ser uma prevenção primária, pois é um 
conjunto de ações que visam evitar a doença na comunidade, o que é um meio de 
proporcionar um momento de interação, busca de autoconhecimento, descobrimento das 
potencialidades do grupo e individuais, esclarecimentos referentes à fase da 
adolescência na forma de respostas a questionamentos e brincadeiras lúdicas. Com isso, 
não quer-se normatizar ou impor qualquer padrão definido como ideal a ser seguido, e 
sim, pretendia-se que os jovens criassem, descobrissem e construíssem, a sua maneira, 
suas interações e manifestações em todas as esferas (social, política, familiar, cultural, 
etc.) da relação com o exterior (mundo). Com este trabalho não tinha-se o interesse de 
alienar os adolescentes, sob esta perspectiva procurou-se encorajá-los a exercitar o 
pensamento crítico que é tão marcante nesta etapa da vida deles. E ainda, almejou-se 
que os integrantes expressassem suas preferências e identificações de acordo com a 
cultura presente na sua comunidade. 
Alcançou-se os objetivos que anteriormente foram propostos. No início houve 
um pouco de resistência dos alunos, mas depois de estabelecer uma boa aliança 
terapêutica pode-se conhecer e auxiliar a todos integrantes do grupo. Esse trabalho foi 
muito gratificante para todos, tanto para as acadêmicas quanto para os jovens. Com essa 
experiência relata-se como fator facilitador e positivo para o desenvolvimento dos 
jovens a intervenção do psicólogo no ambiente escolar, ao mesmo tempo auxiliando na 
prevenção e resolução de conflitos inerentes da adolescência. 
Esse trabalho na escola foi bem visto pelos alunos, professores e coordenadores. 
A partir disso salienta-se que a educação é muito mais do que aprender conteúdos 
determinados na grade curricular, uma educação ampliada compreende todos os setores 
da vida do ser humano. Foi incluída a educação para a vida. O homem visto na sua mais 
completa complexidade. A educação está em todos os ambientes em que ele se depara. 
Desta forma, defende-se que é preciso trabalhar o intelectual, o social e o psicológico 
tanto com jovens, crianças, pais e educadores. 
"Os educadores precisam compreender que ajudar as pessoas a se tornarem 
pessoas é muito mais importante do que ajudá-las a tornarem-se matemáticas, poliglotas 
ou coisa que o valha." (Carl Rogers) 
Eixo – Educação 
INTRODUÇÃO 
 Para Becker (2003) não existe uma adolescência e sim várias. Conforme as 
sociedades a transição para a condição de adulto pode ser gradativa, com ou sem rituais 
e suas mais diversificadas crenças. 
Em Levisky (1998) o adolescente está na transição do estado infantil para o 
adulto. Os aspectos psicológicos, comportamentais e de adaptação social vão depender 
da cultura, da época e da sociedade na qual o jovem está inserido. 
Bee (1997) situa a adolescência como um período que está entre a meninice e a 
vida adulta, trata-se de uma fase de transição em que ocorrem modificações físicas, 
mentais e emocionais, para o indivíduo vir a tornar-se adulto. Esse momento difere 
entre as sociedades e entre os indivíduos em uma cultura. 
No primeiro dia, iniciamos o grupo esclarecendo o contrato de trabalho. Neste 
momento salientamosalguns aspectos importantes para o bom funcionamento do grupo, 
como: o sigilo, a assiduidade, a pontualidade, o comprometimento com as atividades 
propostas, a liberdade deles em expressar o que pensam e a programação dos dias e 
horários. 
A atividade proposta foi uma dinâmica em que os alunos escreveram em um 
papel seu nome completo, idade, uma qualidade e um defeito. Após, trocavam suas 
folhas com o colega que menos conheciam, este escrevia uma pergunta. Passavam-se 
novamente as folhas e o novo colega escrevia outra pergunta. Depois disso, cada um lia 
a folha do colega e fazia as perguntas para este responder. 
As perguntas mais freqüentes se referiam as preferências de cada um (assim 
como estilo musical, professor preferido, esporte praticado, entre outros), e as respostas 
eram homogêneas. Destacamos algumas como o estilo musical, que na maioria era 
Nirvana, Avril Lavigne, CPM 22; no quesito professor preferido, quase todos citaram a 
mesma; quanto ao esporte praticado, as respostas foram mais variadas, aparecendo 
futebol, basquete, handebol, e ainda, alguns que preferiam “não fazer nada”. 
No encontro do dia treze de setembro de 2006, abordamos o assunto Amizade. 
Os jovens, no começo, tiveram certa dificuldade para falar sobre o tema, mas no 
decorrer do encontro eles começaram a interagir e participar. Contando sobre seus 
cotidianos, quem eram seus melhores amigos dentro e fora da escola e incluindo a 
família também. Eles disseram que os amigos são importantes e essenciais para se 
sentirem aceitos e não excluídos. 
Sob a ótica de Berger (2003), as amizades são mais influentes no início da 
adolescência. As relações com os colegas são essenciais, auxiliam com relação aos 
efeitos da puberdade, que os jovens fornecem informações e companhia para aqueles 
que estão passando pelas mesmas transformações, e ainda podem dar conselhos 
referentes às dúvidas dos amigos. Além do apoio social, forma-se uma rede de proteção 
contra o confuso ambiente social do adolescente com trocas informais. O grupo de 
colegas ajuda na formação da identidade, com suas disposições, interesses e 
capacidades. Os amigos exploram valores e definem suas aspirações, experimentam 
pontos de vista e atitudes em relação a eles mesmos e ao mundo. 
Em dezenove de setembro de 2006, a turma fez uma atividade com cartazes, 
revistas e canetinhas. Foram formados três grupos e a tarefa se baseou em expressar no 
cartaz como eles enxergam a sociedade hoje e como gostariam que ela fosse. 
As idéias de sociedade na atualidade foram: a família com conflitos e a família 
“ideal” sem pais “caretas”, drogas que fazem parte da realidade como um todo, 
violências em geral. Já quando os grupos relatavam seus desejos e vontades de como a 
sociedade deveria ser, apareceu novamente a questão da família como ideal de união, a 
questão da importância da amizade, certas formas de consumo (como exemplo, uma 
moto, que simbolizava frustração por não tê-la, desejo, “poder” e realização), foi 
salientado, ainda, a preferência por um estilo musical (rock), que gerou, neste último, 
discordância entre eles. 
Em Sandström (1978), define o termo “socialização” como um processo pelo 
qual o indivíduo absorve formas de comportamento que estão de acordo com as normas 
e valores do meio comunitário na qual pertence. As diversidades entre povos de 
diferentes raças e culturas deve ser causada pela aprendizagem social, transmitida de 
geração a geração. 
Berger (2003) aponta como característica da adolescência o declínio da 
influência dos adultos, os comportamentos dos jovens tornam-se mais distantes e 
desligados dos valores dos pais. Mas essa lacuna entre gerações não é necessariamente 
ampla, pois jovens e adultos possuem valores e aspirações parecidos. Cada um vê essa 
relação de adolescentes e pais a partir da sua posição na família, ou seja, os pais 
preferem acreditar que tudo está bem com seu filho e os seus filhos têm a sensação de 
que seus pais são limitados, antiquados e fora do alcance. 
No dia vinte e sete de setembro de 2006, fizemos uma atividade com músicas. 
Em que os jovens escutavam, liam à letra e comentavam. Eles se mostraram resistentes 
na hora de falar. A música Crazy, do Simple Plan, despertou nos jovens alguns 
comentários, como: as meninas procuraram o modelo perfeito de ser, copiam este 
modelo pela televisão e as pessoas na sociedade estão cada vez mais perdidas e 
desamparadas. Ainda, foram mencionados programas de televisão que mais assistem, 
estes foram clipes, o programa do “Chaves”, “Beija Sapo” e programas de surf e skate. 
Para Ozella (2003), o predomínio de uma visão de adolescência construída no 
meio social, seja pela mídia, implica o predomínio de determinados significados sociais 
relativos a esse campo. E também faz com que o adolescente aproprie-se desses 
significados para representar a sua particular experiência de adolescência. 
Contini (2002) diz que um modelo de adolescente está sendo passado pelos 
meios de comunicação, o que permite ao adolescente uma constituição de uma 
identidade própria, bem como contribui para o posicionamento dos pais na mesma 
direção. Se não veiculam uma definição única, fornecem ao menos uma contribuição 
para a manutenção de algumas noções do que seja o adolescente. Os meios de 
comunicação, portanto, desempenham um papel importante na veiculação dessas 
concepções, já que há um compartilhar pelos adolescentes dessas informações. 
Ainda neste encontro, a música a música dos racionais fez o F. ficar 
compenetrado e prestou atenção na letra. Eles leram a música com resistência. Falaram 
que a música é feia e a letra não tem fundamento. O F. escreveu que gosta de escutar 
esta música, mas não se identifica com a letra. Já o M. redigiu que a música dos 
Racionais, retrata a realidade da comunidade favelada e mostra o início da cultura Hip 
Hop no Brasil, tem tudo a ver com ele porque é o vocabulário dele. 
Abramovay et al (2002), relatam que os grupos de rappers são movimentos que 
pensam no futuro e falam em nome de uma geração sem voz, periférica e estigmatizada. 
Estes denunciam a crua realidade em que vivem, os problemas da comunidade e 
expressam a sua revolta contra a ordem estabelecida e a exclusão que parece 
predeterminada. Os “Racionais”, “Câmbio Negro”, característico de um rap mais 
“pesado”, vem incentivar a violência latente nos jovens e relatam o que acontece no 
cotidiano. 
No dia vinte e sete de setembro de 2006, a participante A. fã da Avril Lavigne 
falou que naquele dia era aniversário da cantora. E ainda, a aluna vestia-se e portava-se 
conforme o estilo da vocalista de rock. Os demais alunos elegeram a professora de 
português como a mais querida pela turma, porque ela escutava-os e respeitava-os. 
Conforme Aberastury & Knobel (1981), ao eleger um ídolo o jovem busca 
identificações com este, as vezes copia certas características e repete comportamentos 
do mesmo, isso facilita a separação com as figuras parentais na busca de uma identidade 
independente do adolescente. 
O sentimento de ambivalência foi notado no comportamento de F., que, algumas 
vezes, estava interessado na atividade das músicas e noutros momentos parecia estar 
com o pensamento bem distante dali. 
Para Pikunas (1979), na puberdade, os sentimentos ambivalentes são mais a 
regra do que a exceção. O adolescente muitas vezes experiencia sentimentos 
contraditórios – isto é, amor e ódio, interesse e apatia – para com pessoas e eventos. Os 
desapontamentos triviais, muitas vezes, despertam antagonismo sem destruir seu 
sentimento original de cordialidade ou entusiasmo. Parece que a capacidade para manter 
experiências afetivas em harmonia fica perdida durante algum tempo. 
Aberastury & Knobel (1981), a atividade reivindicatória do adolescente é 
imprescindível. Muitas vezes, as oportunidades para os jovens estão restringidas e aí 
este tem que se adaptar, submetendo-se às necessidadesque o mundo adulto lhe impõe. 
Observamos essa atitude de reivindicação, em vinte e sete de setembro de 2006, quando 
P. esclareceu a sua insatisfação com o trabalho do cartaz, realizado no dia dezenove de 
setembro de 2006, então procuramos atender e escutar suas queixas e insatisfações, 
aceitando e proporcionando a eles um espaço crítico e livre para contestações, o que em 
algumas situações do cotidiano deles essa postura não é estimulada. 
A nossa proposta inicial era a de que a partir da demanda da população iríamos 
proporcionar algumas atividades criadas e decididas por nós, porém não vimos 
resultados e acabamos sentindo a necessidade de decidir conjuntamente com os jovens o 
que será feito em cada dia do grupo. Um exemplo disso aconteceu quando o grupo 
estava exausto e desinteressado pelo filme, chamado Vinte oito dias, que estávamos 
passando no dia 4 de outubro de 2006, paramos a exibição e questionamos o que 
poderia ser feito para a próxima quarta-feira, eles mencionaram o interesse por jogos, 
desta forma, com a ajuda do supervisor, na próxima semana decidimos fazer o jogo de 
Caça ao Tesouro. 
No dia 18 de outubro as atividades de “Caça ao Tesouro” e “Dança da cadeira” 
foram realizadas. No término da primeira atividade, voltamos à sala e conversamos 
sobre a brincadeira, indagamos sobre o que eles tinham achado, se tinham gostado, qual 
objetivo eles pensavam ter essa caça ao tesouro... As respostas foram muito 
interessantes, todos afirmaram ter gostado, até mesmo o jovem que não participou, 
disseram achar que o objetivo era a união, o conhecimento, a diversão. Depois, falamos 
que o “tesouro” era simbólico, pois o que importava era o tesouro interno de cada um e 
o que cada um tinha dentro de si. 
Eles estavam muito eufóricos e animados, então decidimos fazer a “dança das 
cadeiras”, onde cada um que saía, deveria responder perguntas pessoais e livres, eles 
gostaram da idéia e logo foram se organizando. Essa atividade foi importante para o 
grupo conhecer um pouco mais sobre o que seus colegas pensam. 
No dia vinte e cinco de outubro de 2006, decidimos passar o filme “Aos treze”, o 
qual trata temas como sexualidade e drogas que foram solicitados pelos jovens para 
serem trabalhados. A proposta foi colocada aos adolescentes, perguntando se queriam 
assistir ao filme, eles fizeram uma “votação” e decidiram assistir. 
Na metade do filme, os jovens disseram que não queriam mais assistir, que 
estavam gostando, mas argumentaram que estava muito “quente” e não conseguiam 
prestar atenção direito. Aceitamos a reivindicação e fomos para outra sala. Destaca-se 
aqui o papel da autonomia dos adolescentes, que não estavam mais querendo assistir ao 
filme e nos falaram isso. E ainda, na expressão “quente”, ficou evidente que os jovens 
sentiram-se tensos com as repetidas cenas de violência, drogas e sexo do filme. 
Kamii (1985) coloca a autonomia em uma perspectiva de vida em grupo. A 
autonomia significa o indivíduo ser governado por si próprio. É o contrário de 
heteronomia, que significa ser governado pelos outros. A autonomia significa levar em 
consideração os fatores relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. 
Perguntamos a eles o que queriam trabalhar e o que gostariam de fazer; então, 
um deles sugeriu o jogo da “verdade ou conseqüência”, o qual foi prontamente aceito 
pelos demais. Neste jogo, observamos que a temática norteadora da brincadeira era o 
“ficar”, na qual os adolescentes questionavam uns aos outros sobre pessoas que 
beijaram. 
Em Justo (2005), o “ficar” foi definido pelos adolescentes como um primeiro 
contato que poderia levar a um namoro, porém também é visto como um passatempo e 
uma simples diversão, com a ausência de compromissos. 
Quando estamos mencionando as urgências dos adolescentes, presenciamos esta 
no dia dezessete de novembro de 2006, no momento em que foi sugerido por eles a 
possibilidade de fazer um amigo secreto no último dia do grupo, imediatamente os 
jovens queriam tirar nos papeizinhos seu amigo, não podendo deixar esta atividade para 
o penúltimo dia. Na hora da distribuição dos papéis com os nomes, todos estavam 
ansiosos para descobrir qual seria seu amigo secreto do dia vinte e nove de novembro de 
2006. 
No dia 22 de novembro de 2006, quando estávamos dialogando em círculo, o 
grupo mencionou a questão da masturbação, perguntando se crescia pêlos nas mãos de 
quem se masturbava. Eu prontamente respondi que isso não era verdade, que se 
masturbar faz parte da fase em que estão e que esta forma é uma maneira de conhecer 
melhor o próprio corpo e isto serve tanto para meninos como meninas. Ainda, foi 
comentado sobre acordar no outro dia todo molhado e se isso era normal, respondi que 
sim e que, provavelmente, o(a) menino(a) teve um sonho erótico durante a noite. Um 
menino falou que já tinha acordado assim várias vezes e uma menina disse que também 
e ainda acrescentou que era muito bom. 
Aberastury & Knobel (1981), retratam a evolução sexual pela passagem do auto-
erotismo até a heterossexualidade, este momento pode oscilar entre a atividade de 
caráter masturbatório e o início do exercício genital. Ao aceitar a genitalidade o 
adolescente começa a busca do parceiro de forma tímida, mas intensa. Observam-se, 
primeiramente, os carinhos e contatos superficiais que se tornam cada vez mais 
profundos e íntimos. O amor apaixonado é um fenômeno singular que apresenta 
relações interpessoais intensas e frágeis, o chamado “amor à primeira vista” que pode 
ser uma figura idealizada e inatingível que na realidade seria um substituto da figura 
parental vinculada com as fantasias edípicas. A relação genital heterossexual completa 
ocorre na adolescência tardia. 
No penúltimo dia de encontro com o grupo, o aluno C. começou a questionar 
sobre como deveria chegar a uma garota e pedir para transar, ainda estava interessado 
em saber se sexo oral sem camisinha poderia transmitir alguma DSTs, como a 
camisinha deveria ser colocada para evitar que fure, como a menina deveria se cuidar 
para não engravidar e como ela deve tomar o anticoncepcional. Ainda C. formulou 
inúmeras perguntas a respeito do sexo. 
Em Dorin (1974), o estágio de desenvolvimento de um púbere não lhe permite 
ainda fazer deduções certas a respeito do seu próprio desenvolvimento físico, do sentido 
das transformações orgânicas que estão ocorrendo em seu próprio corpo. Ele tem medo 
de não estar se desenvolvendo normalmente porque está inseguro. Essa insegurança 
existe quando ele não é orientado por um adulto, quando não faz perguntas aos adultos, 
quando não encontra um livro que, em linguagem bem simples, o instrua a respeito da 
puberdade. A insegurança do púbere é compreensível, sobretudo quando a maturidade é 
retardada ou acelerada. O medo, as preocupações, as dúvidas do púbere resultam em 
instabilidade psicológica e, talvez, queda de rendimento na escola e desajustamento 
social. 
Para Preto apud Carter (1995) as vivências pessoais com a sexualidade 
influenciam a forma como os pais estabelecem os limites e criam expectativas na 
interação com seus filhos. Isso afeta diretamente no estabelecimento de normas e/ou 
diretrizes que envolvem ambas as partes. Os pais que tiveram experiências positivas em 
casa e com seus companheiros durante a sua transformação sexual tendem a 
proporcionar experiências similares aos seus filhos do que aqueles negligenciados, 
abusados ou rejeitados sexualmente. Porém, isso não significa que todos os pais que 
presenciaram experiências negativas obrigatoriamente irão repetir esse padrão 
aprendido. 
No caso de C., a pessoa que conversa, sana as dúvidas sobre sexualidade e 
qualquer outro tipo de assunto é sua tia, no seu diálogo fala que é uma pessoa amiga e 
que o incentiva a treinar suas manobras de skate para competir nos campeonatos que 
pode participar. Ele demonstra uma afeição e carinho muito grande por esta parente,que 
ainda comenta sobre os conselhos que esta dá para que ele não tenha envolvimento com 
nenhuma droga. 
Em relação às drogas C. comenta que um pai de um amigo é alcoólatra e que é 
um sofrimento ver a situação em que o amigo se encontra. Na sua fala ele diz que 
algumas vezes bebia na companhia deste amigo e o respectivo pai, mas C. enfatiza que 
evita excessos para não ficar dependente desta droga lícita. Ainda o jovem diz que só 
uma vez perdeu o controle com a bebida e ficou embriagado, numa festa, o que este 
evento fez com que ele mudasse de atitude, passando a beber esporadicamente e com 
responsabilidade a fim de evitar problemas com o álcool. 
Para Campos (1975) o homem na ânsia de “mergulhar” em prazeres estranhos 
busca os mais diversificados vícios (drogas, etc.) com o intuito de solucionar à dor, 
aliviar à angústia, satisfazer necessidades/desejos temporários na procura do prazer. 
Contini (2002) diz que para muitos jovens o contato com psicotrópicos pode ficar 
restrito a episódios esporádicos de consumo sem, necessariamente, qualquer 
comprometimento à saúde. No entanto, para outros, a situação pode ser diferente. 
No dia 29 de novembro de 2006, conversamos sobre as atividades realizadas 
com os adolescentes para rever que grau de relevância nossa intervenção, com o grupo, 
teve, os jovens relataram que gostaram e que esses dias de encontro foram muito 
importantes para a vida deles. Por fim, tivemos a revelação do amigo secreto e a festa de 
encerramento das atividades com a turma. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Ferretti et al (2004) esclarece o conceito de protagonismo juvenil significando 
participação, responsabilidade social, identidade, autonomia e cidadania. Está vinculado 
à formação para a cidadania e tenta dar conta de uma urgência social quanto das 
angústias pessoais dos adolescentes e jovens diante dos desafios e exigências das 
sociedades pós-modernas, também de acordo com as atuais configurações de trabalho. 
O objetivo é o adolescente agir ativamente na construção do seu próprio ser nos âmbitos 
pessoais e sociais. Desta forma, o intuito é atribuir ao jovem a condição de protagonista, 
com o enfoque para a iniciativa (ação), liberdade (opção) e compromisso 
(responsabilidade). 
Na prática de estágio, com adolescentes, tivemos esse viés de trabalho. Os 
alunos apresentaram características como autonomia em relação às suas idéias, 
convicções e decisões, realizaram escolhas com responsabilidade e compromisso 
consigo e para com os outros integrantes do grupo. Com isso, a partir do diálogo os 
jovens atuaram de forma amadurecida e lúcida, de acordo com a fase do 
desenvolvimento em que estão, para expor suas experiências e vivências da sua 
realidade. Através das nossas intervenções criamos condições para que as 
potencialidades de cada um se tornassem bastantes presentes no seu cotidiano; 
respeitando a diversidade cultural, as responsabilidades sociais e o tempo histórico na 
qual fazem parte. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ABERASTURY, Arminda & KNOBEL, Mauricio. Adolescência Normal. 2ª 
ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981. 
ABRAMOVAY, Miriam et al. Gangues, galeras, chegados e rappers: 
juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia de Brasília. 2ª ed. Rio de 
Janeiro: Garamond, 2002. 
BECKER, Daniel. O que é adolescência. São Paulo: Brasiliense, 2003. 
BEE, Helen. O ciclo vital. Porto Alegre: Artmed, 1997. 
BERGER, Kathleen Stassen. O desenvolvimento da pessoa: da infância à 
adolescência. 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003. 
CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da adolescência. Rio de 
Janeiro: Vozes, 1975. 
CARTER, Betty. As mudanças no ciclo de vida familiar. 2ª ed. Porto Alegre: 
Artes Médicas, 1995. 
CONTINI, Maria de Lourdes Jeffery. Adolescência e psicologia: concepções, 
práticas e reflexões críticas. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2002. 
DORIN, Lannoy. Psicologia da adolescência. São Paulo: Editora do Brasil, 
1974. 
FERRETTI, Celso J.; ZIBAS, Dagmar M. L.; TARTUCE, Gisela Lobo B. P. 
Protagonismo Juvenil na literatura especializada e na reforma do ensino médio. 
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Acesso em: 25 nov 2006, às 14 hs. 
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