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VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT Nefroblastoma ou Tumor de Wilms NEFROBLASTOMA Definição: Também conhecido pelo epônimo Tumor de Wilms (TW), o nefroblastoma é o tumor renal maligno mais comum da infância. Deriva de disfunções embrionárias envolvendo o Blastema Metanéfrico (rim primitivo fetal), sendo que o TW possui células que mimetizam esse rim em desenvolvimento e se apresentam com diferenciações de vários tipos teciduais. Seus primeiros relatos foram descritos por Max Wilms, em 1872, e os conhecimentos sobre o caso avançam ao ponto de haver no Brasil o Grupo Cooperativo Brasileiro para o Tratamento do Tumor de Wilms. Patogênese: Parece ter origem a partir de um desenvolvimento alterado das células renais, resultando na proliferação do blastema metanéfrico sem diferenciação normal. Acredita-se que a neoplasia cresça a partir de restos nefrogênicos, ou seja, de focos de células embrionárias remanescentes, de forma difusa ou multifocal, que persistem além das 36 semanas de gestação. Os restos nefrogênicos resultam da indução incompleta do blastema metanéfrico, a partir do broto ureteral, em tecido renal maduro. Um foco isolado é denominado resto nefrogênico (Figuras 1 e 3), ao passo que a apresentação múltipla ou difusa é referida como nefroblastomatose (Figura 2). Eles são classificados, histologicamente, com base na sua localização: perilobares (presentes na periferia do córtex renal, ao redor dos lóbulos renais maduros) e intralobares (em qualquer lugar dentro do lobo; são mais raros, mas possuem mais associação com o TW). A tumorogênese do TW está relacionada com alterações de múltiplos genes relacionados ao crescimento, diferenciação e proliferação celular. Os genes supressores tumorais envolvidos na gênese do TW são o WT1 (região 13 do braço curto do cromossomo 11) e o WT2 (região 15.5 do braço curto do cromossomo 11). Pode haver casos de TW familiar, marcados por idade precoce, maior acometimento bilateral e ligação com os genes FTW1 (no loco 17q12-q21) e FTW2 (no loco 19q13.3-q13.4). Outros genes supressores tumorais envolvidos são o WTX, envolvido na via de sinalização Wnt/Beta-catenina, e o CTNNB1/Beta-catenina. Mutações no gene supressor tumoral p53, perda de heterozigosidade (LOH) em marcadores do braço longo do cromossomo 16 e perda do braço curto do cromossomo 1 também são frequentemente encontradas. Eventos epigenéticos também estão envolvidos na patogênese do TW, envolvendo o fator de crescimento de insulina do tipo 2 (IGF2) e H19 no loco do gene WT2. Pouco se sabe sobre fatores de risco ambientais e perinatais. Epidemiologia e fatores de risco: Ocorre mais comumente em crianças menores de 05 anos, não importando o sexo, sendo a segunda neoplasia abdominal mais comum da infância. Quase 7% são de acometimento bilateral, quando a doença é mais evidente, tendo diagnóstico precoce e associação com VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT anormalidades congênitas. A forte relação com a genética é evidenciada pela variação da ocorrência entre grupos étnicos (+em negros e, depois, em caucasianos). Estudos sugerem que alguns casos podem ter origem hereditária e em muitas crianças o TW aparece como parte de quadros de síndromes genéticas (WAGR, Danys-Drash, Beckwith-Wiedemann). Além da suscetibilidade genética e da interação gene- ambiente, fatores de risco comportamentais e ocupacionais ainda estão sendo investigados. No Brasil, há incidência de TW em torno de 9,5 casos por milhão até os 14 anos, com pico entre 1 e 4 anos. O TW ainda é raro abaixo de 1 ano e ocorre com igual frequência em ambos os rins, sendo a maioria lesões solitárias e 12% tumores multifocais. Quadro clínico: a) Pcte BEG, com massa abdominal assintomática (mais comum), que frequentemente cruz a linha média; b) Hipertensão Arterial (25%); causada pela isquemia renal gerada pela (1) pressão do tumor sobre a artéria renal ou sobre a estrutura renal comprimida pela cápsula, (2) formação de fístula arteriovenosa, (3) pela possível liberação de renina pelo tumor; c) Hematúria macroscópica e/ou hemorragia intratumoral; d) Varicocele (por compressão da veia espermática, presença de trombo tumoral na veia renal ou na veia cava inferior); e) Sinais de síndromes genéticas relacionadas ao TW (anormalidades geniturinárias, aniridia...) Diagnóstico: exames de imagem associados à clínica, com biópsia menos usada. a) Ecografia Abdominal- define massa sólida ou cística, estabelece a origem renal do tumor, avalia se a veia cava inferior está desobstruída e a extensão local do tumor. O paciente deve ser submetido à ecografia abdominal no momento do diagnóstico do sinal ou síndrome associada ao risco de desenvolvimento do TW VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT até os 5 anos de idade, com frequência de 3 a 4 meses. Aqueles que apresentam SBW, TW familiar e síndrome de SimpsonGolabi-Behmel devem continuar o rastreamento até os 7 anos. b) TC de abdome- complementa a ecografia com mais detalhes sobre a natureza e extensão da massa, envolvimento de estruturas adjacentes. c) RX de tórax- determina se há metástases pulmonares. d) RM de abdome- útil na diferenciação entre TW e restos nefrogênicos ou para estudar invasão vascular; é menos usada. e) Biópsia- permite diagnóstico histológico, mas é menos usada por risco de contaminação local se for feita a “céu aberto”, sendo mais indicada quando o tumor é irressecável e em casos de tumores bilaterais. Alguns indicam biópsia percutânea para investigar se existe outra neoplasia que não seja TW e se é benigna, ainda que apresente riscos de dor local, sangramento intratumoral, hematúria e fístula arteriovenosa. f) Hemograma, Função renal e hepática. Fatores prognósticos (maior recidiva): Volume tumoral >55g; pctes em estágio I <4 anos; presença de anaplasia; invasão de linfonodos regionais; estágios avançados; perda de heterozigosidade nos cromossomos 1p e 16q; gene de aumento da expressão do cromossomo 1q; nível de expressão da telomerase. Estadiamento: importante para definir tratamento e prognóstico. É determinado durante a ressecção tumoral cirúrgica e confirmação histológica, mas se a ressecção for inviável, é feita apenas biópsia e o tumor é automaticamente classificado em grau III, de acordo com o CG. A SIOP define o estadiamento pelo achado cirúrgico após um período de quimioterapia pré-operatória, porém esse método é criticado pelo quimioterapia sem confirmação histológica prévia e pode gerar alterações teciduais que dificultam o diagnóstico diferencial de outras neoplasias. OBS: SIOP = Société Internationale D’oncologie Pédiatrique NWTS = National Wilms’ Study Group COG = Children’s Oncology Group VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT Histologia: Macroscopicamente, costumam ser lesões ovaladas, bem demarcadas no parênquima renal e adjacentes a uma paseudocápsula fibrosa peritumoral. São classificados com base na sua localização: perilobares (presentes na periferia do córtex renal, ao redor dos lóbulos renais maduros) e intralobares (em qualquer lugar dentro do lobo; são mais raros, mas possuem mais associação com o TW). Microscopicamente, o TW é composto por 03 tipos celulares: Blastomatoso, Estromal e Epitelial (células blastemais, estromais e epiteliais). Células epiteliais e estromais são menos encontradas, mas já foram encontrados epitélio mucinoso ou escamoso, músculo, cartilagem e gordura. É comum haver anaplasia (células desproporcionais entre si e irregulares), o que confere histologia desfavorável. As neoplasias podem ser bi ou monofásicas: as células blastematosas são pequenas, ovaladas ou redondas, com escasso citoplasma e maior poder mitótico; as células mesenquimais usualmente são fusiformes, com configuração tipo fibroblasto, mas que podem apresentar diferenciação muscular lisa com componentes ósseos, cartilagem...; o componente epitelial é constituídopor células embrionárias tubulares, sob forma de rosetas primitivas, elementos tubulares mais desenvolvidos e outros papilares (glomeruloides). O uso de quimioterapia gera alterações histológicas que permitem classificar os tumores de acordo com o risco de recidiva: Tratamento: indica-se associação de cirurgia, quimioterapia e radioterapia. a) Quimioterapia- são utilizadas Actinomicina D e Vincristina como padrão e, para casos avançados, pode ser adicionada a Doxorrubicina. De acordo com o COG, faz-se nefrectomia inicial seguida do quimioterápico, sendo que a quimioterapia pré- operatória só é indicada em casos de TW com rim único, tumor bilateral, rim em ferradura, presença de trombo na VCI acima das veias hepáticas e metástases pulmonares. Há diferentes indicações para cada estágio (Protocolo NWTS). Já segundo a SIOP, deve-se realizar quimioterapia com VCR e AMD por 4 semanas e com adição de DOX por 6 semanas antes da cirurgia para tentar uma redução tumoral que facilitaria a ressecção. b) Cirurgia- incisão transversa abdominal e transperitoneal + VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT inspeção da cavidade para avaliar presença de metástases no fígado, linfonodos e peritônio, devendo ressecar qualquer lesão suspeita. Se os exames de imagem indicarem, pode ser feita avaliação do rim contralateral. Realiza-se ressecção do rim e ureter acometidos, verificando a ausência de trombo na veia renal e na cava, além de biópsia dos linfonodos da região biliar, paraaórtica e pericava. Realizar Nefrectomia Total em caso de tumor unilateral (+ risco de insuficiência renal posterior, -risco de recidiva) ou Nefrectomia Parcial para tumores pequenos (+risco de recidiva). Em casos de tumor bilateral, rim único, rim em ferradura, insuficiência renal em andamento ou propensão de restos nefrogênicos evoluírem para TW, deve ser feita Nefrectomia Parcial para evitar surgimento ou complicações da insuficiência renal. Complicações cirúrgicas: obstrução intestinal, hemorragia intensa, infecção de parede, dano vascular ou a órgãos adjacentes, os quais são mais propensos quando tumor >10cm de diâmetro. c) Radioterapia- é restrita aos estágios III e IV no protocolo NWTS, que indica dose de 10,8 gray no estágio III e 12 gray nos pulmões em caso de metástases pulmonares. Já a SIOP indica dose de 15 gray para estágios II, III, IV (quando as metástases pulmonares não desaparecerem após a nona semana de quimioterapia) e estágio V. Pode ser feita Radioterapia em abdome total quando houver tumores intra-abdominais difusos ou ruptura pré ou peri- operatória. Referências: TAKAMATU, Eliziane Emy. Tumor de Wilms: Características Clínicas e Cirúrgicas. 2006. 39 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pediatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. PROVENZI, Valentina Oliveira. Aspectos clínicos, terapêuticos e prognósticos de pacientes com tumor de Wilms: Um estudo retrospectivo. 2013. 100 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós- graduação em Patologia, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, 2013.
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