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Cidadania e Responsabilidade Social UN ID AD E 4 Objetivo do estudo - Ao final desse tópico você deverá ser capaz de compreender a gênese e evolução da sustentabil idade enquanto novo paradigma e os cenários que se apresentam e discutir a possibilidade do avanço tecnológico e econômico sem esgotar os recursos naturais. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável Desenvolvimento sustentável 2 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM 4 T1 Desenvolvimento sustentável como novo paradigma; Degradação ambiental; Consumo; Críticas à modernidade As questões ambientais e do trabalho vêm assumindo novas configurações com o aprofundamento do processo de globalização, com a reestruturação produtiva e a adoção das políticas econômicas de corte neoliberal. Constata-se um duplo movimento: a dissolução das fronteiras políticas e econômicas ao desenvolvimento do capitalismo globalizado e desregulamentado e a emergência de “novas” fronteiras ambientais que não podem ser desconsideradas em longo prazo por este modo de produção. Esta situação lança desafios à questão democrática, particularmente no caso brasileiro, que foi um país que por muitos anos, no passado, foi profundamente marcado por uma cultura política autoritária e excludente, que impediu a sedimentação de uma experiência democrática e o exercício da cidadania de forma plena. Nesse momento você deve estar se perguntando: - Como ocorrerá a participação da sociedade, a representação de interesses e, particularmente, a governabilidade do espaço ambiental dadas as limitações impostas por processos econômicos sem fronteiras? - Como enfrentar a exclusão de amplos segmentos da população ocasionada por novas formas de organização da produção e do trabalho que os impedem de exercer plenamente seus direitos como trabalhadores e cidadãos? - Que propostas de educação podem ser encaminhadas como contribuição para a formulação de um projeto de desenvolvimento ancorado na “sustentabilidade democrática”, no contexto atual do capitalismo internacionalizado? Essas perguntas nortearão esse primeiro tópico de estudo. Para começarmos a entender melhor os impactos provocados no meio ambiente iremos estudar o processo da gênese e evolução da sustentabilidade. A degradação ambiental e a crise da sociedade do trabalho e a consequente queda na qualidade de vida e aumento da desigualdade/exclusão social, estão a exigir no nosso entender uma discussão que aprofunde a articulação entre trabalho, meio ambiente e desenvolvimento econômico, pois se questiona até que ponto os recursos naturais e a humanidade suportarão o modelo hegemônico de produção, trabalho e consumo. Antes de mais nada, é necessário definir Meio Ambiente. Será possível desenvolver-se economicamente sem causar danos ao meio ambiente? Caso seja possível, que caminhos seguir para utilizar os recursos naturais sem degradar a natureza? Pense sobre isso! pare e reflita 3 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Meio Ambiente é onde estamos inseridos, nosso trabalho, nossa casa, nossa escola e faculdade, nossa rua e nossa cidade. É tudo que nos cerca. São as diferentes interações que formamos com os seres abióticos (sem vida, construções, pontes, terra, água e ar) e os seres bióticos ou seres vivos (nós, as plantas e até mesmo as bactérias). Desta forma, não estamos sós no cenário atual, e nossas relações com o ambiente afetam e são afetadas pela economia, educação e saúde. Tudo está inter-relacionado. Em uma conjuntura permeada por transformações econômicas, políticas, sociais, institucionais e culturais intensificam-se as crises socioambientais e do mundo do trabalho. Suas origens relacionam-se, por um lado, à desterritorialização da política, em que a soberania do Estado é colocada em xeque pelos padrões de internacionalização do processo decisório e de globalização das atividades políticas, provocando a crise dos sistemas democráticos e, por outro, ao movimento crescente de desterritorialização de empresas e conglomerados industriais em direção àqueles países com oferta de condições operacionais favoráveis, ou seja, melhores preços da força de trabalho, economia de transportes e recursos de infraestrutura, além de uma baixa preocupação em relação ao cumprimento das legislações trabalhista e ambientais. Esta mobilidade das empresas decorre das novas formas de organização da produção, que são muito mais flexíveis do que as baseadas no modelo fordista, pois permitem adaptações às flutuações das demandas de produtos e serviços e um aproveitamento melhor das vantagens comparativas em diferentes locais do mundo. O aprofundamento do processo de globalização econômica traz novas demandas e exigências às empresas que utilizam, como estratégias de busca de competitividade, o emprego maciço de novas tecnologias e de novas formas de organização da produção e do trabalho. As novas tecnologias, basicamente a microeletrônica, as biotecnologias e os novos materiais têm como característica comum, sua aplicação universal, tanto no desenvolvimento de produtos, quanto na organização da produção. 4 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM O uso das biotecnologias e dos novos materiais redefine a relação da produção industrial e agrícola e dos seres humanos com a natureza, com implicações para o meio ambiente no local de trabalho, comunidades/sociedade e em escala planetária. Com as novas formas de gestão do trabalho no padrão da acumulação flexível surgem novas tendências em relação ao trabalho: este se torna mais abstrato, intelectualizado, autônomo, coletivo e complexo. Não somente nos setores onde vigoram os novos conceitos de produção, mas em toda a estrutura produtiva são demandadas novas qualificações e competências profissionais para os trabalhadores, dentre as quais se incluem as relacionadas à temática ambiental. Entretanto, se os processos de intensificação do uso de novas tecnologias e de novas formas de organização da produção flexíveis, enxutas e racionais trazem, por um lado, a possibilidade de um trabalho revalorizado, mais qualificado, acarreta, por outro lado, o desemprego e a exclusão de trabalhadores, pela racionalização de custos e a otimização da produtividade industrial e de serviços. Os reflexos do processo de modernização capitalista têm se revelado particularmente perversos em países como o Brasil, onde a adoção de novos conceitos de produção está associada a formas políticas e empresariais autoritárias, levando à exclusão política e econômica das classes populares, ao aumento do desnível das esferas econômica e social e à degradação ambiental. Com a globalização da produção observa-se, por um lado, o aumento em alguns países da parcela dos incluídos no consumo de massa (Extremo Oriente e Sudeste Asiático), com hábitos importados do Ocidente e, por outro, o crescimento do número de excluídos do mercado de trabalho em escala nunca antes vista. biotecnologias 5 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Ambos os processos causam severos impactos ao meio ambiente: a incorporação ao mercado consumidor mundial de um grande número de pessoas, além de contribuir para a redução da diversidade cultural e, consequentemente, da diversidade biológica, reforça os efeitos do consumismo (como o lançamento de gases na atmosfera/aquecimento global, elevada e concentrada produção de resíduos sólidos e esgotos sanitários em áreas urbanas densamente povoadas). Com o início do século XVIII, surge a Era Industrial. A criação de vários produtos novos, criou um novo modelo econômico nos países ocidentais, o Consumismo. Muitas vezes, compramos por comprarmos, não sendo realmente uma necessidade efetiva, mais por ser um item cobiçado pela maioria. E o que fazer com o que não maisutilizamos? Jogamos fora? Criando um círculo vicioso de geração de resíduos. O resíduo sólido, o lixo urbano e industrial, é um problema mundial. Este gera além dos incômodos conhecidos, o odor e ocupação de espaço, também é responsável pela geração de dióxido de carbono. O dióxido de carbono ao se acumular na atmosfera, tem elevado a temperatura global devido ao efeito estufa. E o que fazer com o que não mais utilizamos? 6 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM https://www.youtube.com/watch?v=nKy3HHTrSj8 aprofundando O efeito estufa é um processo físico, onde parte do calor que provem do Sol penetra a camada de ozônio e não consegue sair da atmosfera, ficando parcialmente retido. Este calor mantém a Terra aquecida. Sem ele nunca teríamos saído da Era Glacial (gelo). A Terra sem o efeito estufa teria em sua superfície a temperatura média de – 15ºC. Isto impossibilitaria a vida na Terra. Nenhuma planta, nossa base da cadeia alimentar, e nenhum animal seria capaz de sobreviver a uma temperatura média dessas. Entretanto o aumento sucessivo de dióxido de carbono vem primeiramente elevando a temperatura do planeta e posteriormente com a destruição da camada de ozônio irá fazer com que a Terra retorne a uma Era Glacial. Aliado a produção de lixo, resíduos sólidos, o desmatamento, o esgoto em “céu aberto” sem tratamento adequado, vem também aumentando o nível de dióxido de carbono na atmosfera. poluição Novas formas de tratamento de resíduos sólidos necessitam ser criadas e a prática dos três “R” é necessária: Reduzir, Reciclar e Reaproveitar. 7 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Em 2007, um relatório do Pinel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), demonstrou que o aquecimento global se devia a: emissões de gás carbônico provocadas pelo ser humano (na própria respiração e com o aumento da população mundial), na queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e seus derivados por motores, industrias e usinas) e em menor grau, mas ainda importante, pelas queimadas das florestas. O relatório prevê um aumento entre 1,8ºC a 6,4ºC na temperatura global ainda neste século. O aumento da temperatura pode provocar a elevação dos níveis dos oceanos e mares, devido à expansão térmica da água e degelo de parte das calotas polares. Com isso, grandes áreas do litoral podem ser inundadas. Ilhas podem ficar submersas. Pessoas ficaram desabrigadas. A água que surgir devido ao degelo, modificará as correntes marítimas, modificando o regime de ventos e chuvas. O clima de várias regiões será modificado. Verões e invernos mais intensos. Estiagem de chuva e podendo haver seca prolongada em regiões que nunca tiveram seca. Além disso, mudanças climáticas, afetam diretamente, a agricultura e o cultivo de determinadas plantas. Também leva ao aumento de proliferação de insetos transmissores de doenças, como a Dengue e a Malária, provocando um descontrole e desequilíbrio do Ecossistema (Bioma). Além dos insetos causadores de doenças, muitas “pragas”, insetos que destroem plantações, se reproduzem melhor em temperaturas mais elevadas. Finalmente a mudança climática com elevação da temperatura global, o aquecimento global, poderá levar a extinção de espécies. Os países industrializados e ricos, são os principais atores que elevam a temperatura provocando o Aquecimento Global. Eles vêm emitindo níveis elevados de gás carbônico desde a Era Industrial (Revolução Industrial), e consomem muito mais energia e para tal gastam muito mais combustíveis fósseis para gerá-la. https://www.youtube.com/watch?v=Q3YqeDSfdfk aprofundando Em 2005 entrou em vigor o Protocolo de Kyoto, onde a maioria dos países se comprometia a reduzir os níveis de emissão de gás carbônico. Utilizou-se como referência as emissões mensuradas de 1990 a 2012. As cotas variam entre 6% a 8% de redução. Para tal é necessário investir em energias renováveis (Eólica, Solar, Maré Motriz, Biomassa), melhorar a eficiência de produção de produtos industrializados para que haja menos resíduos após manipulação da matéria prima. carbono 8 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m / watch?v=mJdiLSWyUEA aprofundando Uma forma dos países ricos e mais industrializados tem de financiar este tipo de recurso, chamado de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, é o financiamento de países em desenvolvimento, como o Brasil, de projetos de biocombustíveis (motores que utilizam biodiesel e etanol), melhorar a automação de industrias para evitar o desperdício e geração de resíduos sólidos. Uma outra alternativa é a criação dos Créditos de Carbono. Países não poluidores devem aumentar sua eficácia em produção de energia, e continuarem sem poluir, sem emitir gás carbônico e para tal recebem uma recompensa econômica. Em resumo, eu pago para que você não polua e eu possa continuar a poluindo. Um outro fato importante é, a marginalização socioeconômica que implica em que um significativo contingente populacional passa a subsistir graças aos recursos naturais ou causando grande impacto sobre o meio ambiente (extinção de espécies vegetais e animais dos ecossistemas, corte e queima da vegetação para venda de carvão, entre outros). Importa destacar, por um lado, que desigualdade social e degradação ambiental sempre andaram juntas no Brasil, conformando uma questão socioambiental e, por outro, que as agressões ao meio ambiente afetam as pessoas que dele dependem para viver e trabalhar, de modo desigual ou segundo sua vinculação ao modo de produção hegemônico (como residir próximo às indústrias poluidoras, lixões, margens dos cursos d’água e áreas com elevada declividade), determinando que grupos em piores condições socioeconômicas fiquem mais expostos do que outros a riscos ambientais. desigualdade social desigualdade social e degradação ambiental sempre andaram juntas 9 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Para saber mais sobre o Relatório Brundtland (1987), Nosso Mundo Comum, clique acesse http://www.ebah.com.br/content/ABAAABIioAA/ relatorio-brundtland Saiba mAIS Frente a este quadro de crise social e ambiental de dimensão planetária, verifica-se a formulação de diferentes propostas de modelos de desenvolvimento ambientalmente sustentáveis. Entretanto, devemos estar atentos às concepções existentes sobre desenvolvimento sustentável, pois estas estão ancoradas em diferentes matrizes teóricas que informam a intenção de efetivar distintos projetos políticos, segundo os interesses em confronto, que se refletem nas abordagens e práticas educacionais. Isto nos esclarece porque distintas representações e valores vêm sendo associados à noção de sustentabilidade: são discursos em disputa pela expressão que se pretende a mais legítima. Pois a sustentabilidade é uma noção a que se pode recorrer para tornar objetivas diferentes representações e ideias. Uma primeira concepção de desenvolvimento sustentável origina-se no interior do discurso desenvolvimentista e é defendida pelo Estado e empresariado. Foi proclamada pelo Relatório Brundtland (1987), produzido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU: Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades, isto é, aquele que garante um crescimento econômico vigoroso e, ao mesmo tempo, social e ambientalmente sustentável. Esta concepção de desenvolvimento sustentável é reiterada pela Agenda 21, (criada na Eco- 92 em 1992 no Rio de janeiro) que se inicia com a afirmação da primazia da economia como motor do desenvolvimento sustentável e aponta, em seusvários capítulos, a necessidade de um ambiente econômico e internacional ao mesmo tempo dinâmico e propício, de políticas econômicas internas saudáveis, da liberalização do comércio e de uma distribuição ótima da produção mundial, sobre a base das vantagens comparativas, na perspectiva da lógica e da hegemonia do mercado. Tanto a Comissão Brundtland (1987), quanto a Agenda 21(1992), propõem uma nova relação entre produção, meio ambiente e desenvolvimento econômico inspirada em uma noção de sustentabilidade pautada por uma visão econômica dos sistemas biológicos, onde caberia ao desenvolvimento econômico apropriar-se dos fluxos tidos como excedentes da natureza sem, no entanto, comprometer o “capital natural”. Sua estratégia conjuga crescimento econômico com progresso técnico capaz de poupar recursos materiais, mas sem restrição aos ritmos da acumulação capitalista. O mercado é apresentado como “o ambiente institucional mais favorável à consideração da natureza como capital”, convertendo-se o desenvolvimento sustentável, nesta concepção, em um ambientalismo de livre mercado. O desenvolvimento sustentável seria um dado objetivo que, no entanto, não se conseguiu ainda apreender, será uma construção social? Poderá também compreender diferentes conteúdos e práticas? pare e reflita 10 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM Adam Smith Na abordagem mercadológico-ambiental de desenvolvimento sustentável, a palavra-chave é a eficiência, e as inovações tecnológicas devem garantir um melhor aproveitamento dos recursos naturais e diminuir os efeitos nocivos das atividades produtivas. Embora se reconheça a responsabilidade do atual padrão de produção e consumo pela crise ambiental, o que se propõe é a relativa redução de consumo de matéria e energia a partir da maior eficiência tecnológica. Desta forma “a noção de sociedade sustentável ancora-se na redução máxima do desperdício ou poupança de recursos” e a racionalidade do sistema, em seu conjunto, implica considerar o desperdício no quadro da produção socioeconômica, tendo como noção reguladora o princípio da otimização de recursos ou poupança, ou da relação ótima custo-benefício, isto é, a eficiência. http://ordemlivre.org/system/ posts/10671/images/normal/ ivst.jpg?1385411226 Esta concepção de desenvolvimento sustentável tem, portanto, como princípio norteador, o crescimento econômico e a eficiência na lógica do mercado, e seus pressupostos estão ancorados na economia política clássica, no liberalismo econômico de Adam Smith, e na sua atualização contemporânea, o neoliberalismo de Friedrich August von Hayek. O eixo da teoria de Smith (1985) é o crescimento econômico e sua ideia central é a de que a riqueza das nações é determinada pelo aumento da produtividade do trabalho, que tem origem em mudanças na divisão e especialização do processo de trabalho. 11 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Conheça a biografia de Adam Smith . Acesse http://www.suapesquisa.com/biografias/adam_ smith.htm Refletindo o que estudamos Para aprimorar o conhecimento adquirido nessa aula, sugerimos que você faça uma breve reflexão sobre a frase a seguir “A reflexão sobre o meio ambiente, com o objetivo de se alcançar o desenvolvimento sustentável, exige o estabelecimento de paradigmas que alterem a relação homem/natureza verificada desde o período colonial. ” Saiba mAIS PARE E REFLITA O crescimento da produtividade do trabalho, que produz um excedente de valor sobre seu custo de reprodução, permite o crescimento do estoque de capital (acumulação) e amplia o tamanho dos mercados. Para assegurar a prosperidade das nações é preciso que haja liberdade dos indivíduos - compreendidos como agentes econômicos - para agir, inspirando-se em seus próprios interesses, e essa ordenação natural é mais capaz de favorecer a geração da riqueza do que as coordenações artificiais, como as exercidas pelo Estado, cujo papel deve ser reduzido ao mínimo. Para Smith (1985), não há antagonismo, mas harmonia entre os interesses individuais e o interesse geral, sendo a liberdade na procura da riqueza a condição de todo o progresso. Segundo Hayek (1985), o Estado regulador do mercado destrói a liberdade dos cidadãos e a competição, sem as quais não há prosperidade. A análise dos pressupostos que norteiam a concepção de desenvolvimento sustentável permite-nos compreender a necessidade do aumento da competição, da maior mobilidade de capital, dos processos de acumulação e de alocação de capital, de busca cada vez maior de aumento da produtividade do trabalho pelo capital e de eficiência, na dinâmica capitalista de geração de valor. Permite- nos compreender, igualmente, que na concepção de desenvolvimento sustentável centrada na lógica do capital, o livre mercado é o instrumento da alocação eficiente dos recursos planetários e, neste sentido, a relação trabalho e meio ambiente está subsumida à supremacia do capital, com sérias consequências para o mundo do trabalho e para os recursos naturais. T2 Alternativas no tratamento dos problemas dos recursos naturais, do meio ambiente: Preservacionismo e Desenvolvimento Sustentável. Na aula anterior aprendemos sobre a origem e a evolução do termo sustentabilidade, vamos dar continuidade nessa aula sobre as alternativas para solucionarmos os problemas relacionados ao consumo excessivo dos recursos naturais. Ao final do estudo desse tópico você deverá ser capaz de apresentar alternativas para lidar com os problemas relacionados ao consumo dos recursos naturais e discutir a importância de medidas preservacionista em busca de uma responsabilidade socioambiental. Não se esqueça que a preservação é a saída para uma melhor qualidade de vida para as gerações futuras. Antes de iniciarmos a nossa conversa, pense sobre a seguinte questão: 12 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM Entretanto, o assunto sustentabilidade e diminuição de impactos ambientais deixaram de ser específico a ambientalistas; passando a fazer parte da vida organizacional da empresa, pois este conceito passou a representar nos dias de hoje pré-requisito para que organizações alcancem a gestão da qualidade e venham a se manter no mercado de forma competitiva. A gestão da qualidade representa o aperfeiçoamento contínuo de todas as organizações. A industrialização mundial A industrialização mundial foi o marco do desenvolvimento tecnológico e econômico na utilização desenfreada de matérias-primas e energia. Todo esse desenvolvimento gerou rejeitos resultantes de processos produtivos que passaram a ser parte do cenário ambiental, onde seu acúmulo no meio ambiente excedeu a capacidade de absorção passando, então, a ser considerado como fator poluente em caráter global afetando a qualidade e a saúde da sociedade. Resíduo Impacto Tintas, pigmentos e solventes Quando feitos à base de chumbo, mercúrio ou cádmio, e solventes orgânicos, descartados no lixo poluem a água e os alimentos. Embalagens contento resíduos de pesticidas Sob a ação da chuva poluem o solo, as águas superficiais e subterrâneas e introduzem-se na cadeia alimentar. Pilhas e aterias Liberam metais pesados poluindo o solo, os cursos d’água e os lençóis freáticos, afetando a flora e a fauna das regiões circunvizinhas e atingindo o homem pela cadeia alimentar. Resíduos e seu impacto no meio ambiente Fonte: Eigenher, Emílio (2000) O setor industrial, por ser o que mais provoca danos ao meio ambiente – seja devido ao seu processo produtivo, seja pela fabricação de produtos poluentes e sua disposição final após a utilização –, é considerado um dos maiores facilitadores da degradação ambiental, mas nos dias atuais as indústrias também passaram a possibilitar maior eficiência na utilizaçãode recursos naturais e na substituição parcial de insumos no processo produtivo. Dessa forma, quando o desenvolvimento tecnológico segue em direção a um padrão de produção que não seja significativamente agressivo ao meio ambiente, passa a ser considerado uma solução parcial do problema em questão. 13 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Leia sobre Tecnologia e despoluição acessando o site http://www.sindipetro.org.br/extra/cartilha- ut/17tecnologia.htm Saiba mAIS Em outras palavras: é necessário para a sociedade o desenvolvimento tecnológico, por ser o condutor do crescimento econômico, mas o desenvolvimento tecnológico deve ser trabalhado de forma mais limpa, a fim de conseguir sustentabilidade ambiental, pois se deve ter sempre em mente que os recursos naturais devem servir às gerações atuais e vindouras e que os níveis de poluição têm que ser reduzidos, independentemente do aumento da produção. Rejeitos Industriais Os rejeitos industriais representam desperdício econômico, por serem passíveis de reaproveitamento. Essa concepção é firmada por vários ambientalistas, que também consideram esses rejeitos como desperdício e um indício da ineficiência dos processos produtivos realizados, o que na maioria das vezes gera perda de matérias-primas e insumos. Na industrialização, devido ao fato de os princípios da qualidade e da eficiência inexistirem, a quantidade de rejeito é maior por não se reaproveitar em outro processo produtivo e pelo uso desenfreado da matéria-prima. Quando esses princípios são considerados no processo de industrialização, a qualidade e a eficiência resultam na diminuição desses rejeitos e na consciência da utilização de matéria- prima. Reforçando essa ideia, Mello (2009) apresenta princípios a serem considerados no processo produtivo e seus benefícios: Foco no Cliente – Propicia a formulação de estratégias e políticas internas em relação ao relacionamento com os clientes; se adéqua as necessidades do cliente e suas expectativas. Liderança – Delega-se poder e envolve pessoas nos objetivos organizacionais e motiva e capacita a força de trabalho. Envolvimento das pessoas – contribui para a melhoria das estratégias e envolve os funcionários em decisões e processos de melhoria. Abordagem de processo – Melhora o uso das matérias-primas resultando num custo mais baixo e previne erros. Abordagem sistêmica – permiti uma visão da eficácia de processos identificando as causas de problemas e possíveis ações de melhoria. Melhoria contínua – Proporciona a melhoria dos processos, sistemas e produtos. Abordagem para a tomada de decisão – Consolida as informações de forma a compreensão dos processos e sistemas no intuito de orientar as melhorias e prevenir futuros problemas. À medida que organizações vão aderindo aos princípios da qualidade, cria-se uma convergência de interesses técnicos, econômicos e comerciais que fará com que organizações reduzam a geração de poluentes, tornando-se mais eficientes. 14 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM http://welcome.curupira.com/wp-content/ uploads/2015/04/consumo.sustent%C3%A1vel. global.jpg Saiba mAIS O desenvolvimento econômico atrelado à manutenção do meio ambiente está associado à sustentabilidade, o que, nos tempos atuais, tornou-se fator competitivo entre as organizações, devido à procura da população por produtos que satisfaçam sua necessidade mas que não agridam o meio ambiente. Por isso é fundamental entender o comportamento do consumidor e suas necessidades, para poder satisfazê-las. Para que o crescimento econômico venha a ser contínuo, com distribuição igualitária dos benefícios resultantes e para que siga em direção ao desenvolvimento sustentável, se faz necessária uma mudança no atual padrão tecnológico, de forma a diminuir a degradação existente. Isso não significa que devemos terminar com as indústrias e seu processo de industrialização, mas primar por um desenvolvimento de forma sustentável, visto que esse é o resultado dos elevados índices de consumismo criado pela sociedade, que se agravam cada vez mais com o seu crescimento. É importante lembrar! Não há como atingir o desenvolvimento sustentável se os processos produtivos e o consumismo por parte da sociedade não sofrerem modificações, pois consumidores que não dão a devida importância ao consumo consciente representam enorme ameaça, por provocarem um impacto significativo no meio ambiente. Atualmente, acredita-se que as necessidades e expectativas da sociedade devem ser conjuntas, com forte campanha para a mudança de conceitos. À medida que a preocupação com a matéria-prima cresce, ou seja, a partir do momento em que a preservação do meio ambiente se tornou preocupação mundial, consequentemente tornou-se também o diferencial entre uma organização e outra; este diferencial passou a ser uma oportunidade de negócio. A procura por produtos que além de oferecer qualidade sejam também provenientes de organizações que estejam comprometidas com o meio ambiente aumentou. No caso o preço do produto deixou de ser o único fator estimulador da compra. Motivação da compra Porcentagem Investimento no meio ambiente 42% Sem critério 30% Promoções em ações sociais 28% Tab. 2: Comprometimento dos consumidores Fonte: Tigueiro (2005) 15 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Gestão ambiental é um conjunto de medidas e métodos bem alicerçados https://www.youtube.com/watch?v=FDUXQTY3X9Y saiba mais Como você pode observar, esta tabela mostra que há aumento significativo na procura por produtos oriundos de empresas que investem no meio ambiente e em ações sociais. Essa concepção está recebendo a adesão de algumas organizações que perceberam essa demanda no atual mercado, não se preocupando somente com preço, mas também com o bem-estar da sociedade como um todo. Ou seja, a organização que se preocupa com o meio ambiente acredita que passa a reduzir seu potencial de impacto, de forma a até mesmo levar em consideração a forma omo é a colheita da matéria-prima utilizada. Nesse caso, a utilização de processos, práticas e produtos que proporcione a redução ou o controle da poluição produzida pela organização resulta em um diferencial competitivo em relação às demais. É extremamente vital para as organizações nos dias de hoje reconhecer que a gestão ambiental funciona como uma questão estratégica no que depende da capacidade de responder às expectativas, interesses e necessidades dos clientes e de outros detentores de interesses. Com a realização da Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, em 1972, a relação entre o meio ambiente e as organizações empresariais tornou-se um tema político e estratégico. Esta conferência propiciou a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O relatório resultante desta comissão consagrou a expressão desenvolvimento sustentável e estabeleceu o papel importante das empresas na gestão ambiental. Estas, em particular as indústrias, revelaram-se grandes propulsores da degradação ambiental na atualidade A gestão ambiental está diretamente voltada às organizações; é definida como um conjunto de políticas, programas e práticas administrativas e operacionais que levam em consideração a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente, pela eliminação ou minimização dos impactos e danos ambientais causados pelas empresas. Por isso, Valle (2002) nos apresenta a seguinte definição: Gestão ambiental é um conjunto de medidas e métodos bem alicerçados que, quando aplicados, promovem a redução e o controle dos impactos produzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente, que levam em consideração aorigem e a forma com que se é providenciada a matéria-prima até a eliminação efetiva dos resíduos gerados. Gestão ambiental é o reflexo do somatório de aspectos da função social, econômica e ambiental, por arquitetar a orientação da proteção física, psíquica, social e econômica do ser humano, ou seja, harmoniza a economia e o meio ambiente. 16 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM É importante lembrar! A partir do momento que a gestão ambiental passou a ser mais bem entendida em decorrência de seus resultados, passou-se a pensar mais em termos de ecossistemas e ecorregiões. O ambiente passou a ser encarado de forma sistemática e a gestão ambiental passou a ser vista como questão de natureza estratégica. A gestão ambiental deve ter como pilar o comprometimento da alta direção da empresa, que a definirá de forma clara e objetiva, norteando suas atividades em relação ao meio ambiente, e se torna um compromisso assumido perante a sociedade, categorizando suas intenções e princípios com relação ao seu desempenho ambiental. Quando as empresas se dirigem para os mercados internacionais, reconhecem a importância da gestão ambiental e a sustentabilidade envolvida nesse processo de aceitação, encontrando formas de administrar essas questões e passando a definir os passos estratégicos para chegar ao desenvolvimento sustentável. 1) Estratégia baseada em artifícios – a organização encerra suas atividades naquele local e se instala em outra região em que o controle ambiental seja menos rigoroso. 2) Estratégia baseada em respostas – a organização responde aos incidentes e regulamentações ambientais que venham a ser cobrados. Não possui nenhum programa preventivo que administre ou que identifique as questões ambientais envolvidas; simplesmente paga pelo dano causado. 3) Estratégia baseada na conformidade – a organização possui um programa que identifica os requisitos regulatórios; implanta medidas que satisfaçam os requisitos regulatórios, controlando os riscos e a responsabilidade de acordo com a lei. 4) Estratégia baseada na gestão ambiental – a organização mantém gerenciamento sistemático de suas atividades em relação às questões ambientais, o que é encarado como investimento e forma de reduzir o custo nas operações e aumentar sua receita. 5) Estratégia baseada na prevenção da poluição – em todas as atividades exercidas pela empresa existe a preocupação com o fator poluidor e seu impacto. 6) Estratégia baseada no desenvolvimento sustentável – a organização se preocupa com os impactos sociais, ambientais e econômicos ocasionados por suas atividades. Podemos verificar, nesses seis passos estratégicos, que houve evolução nas atitudes organizacionais em relação ao meio ambiente. As estratégias possuem um início de despreocupação com a questão ambiental, seguindo para o conceito de que o ambiente é um custo indesejável e culminando no conceito de que o ambiente passou a ser fonte de renda e vantagem competitiva; as questões ambientais passaram a ser vistas como responsabilidade social, moral e ética. A implantação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) resultante da política ambiental adotada pela organização deve ter como um de seus objetivos o aperfeiçoamento contínuo de suas atividades em harmonia com o meio ambiente; este é o primeiro passo para a certificação da organização nas normas da série ISO 14000. Após essa discussão sobre as estratégias encontradas para melhor exploração dos recursos ambientais, vale à pena parar e fazer uma reflexão sobre o efetivo cumprimento dessas propostas. 17 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável T3 As mediações entre o ambiental e a noção de sustentabilidade - w w w . e s p a c o a c a d e m i c o . c o m . br/029/29cruscheinsky.htm Educação Ambiental e desenvolvimento sustentável - www.ufmt.br/revista/arquivo/rev10/educacao_ ambiental_e_desenvolvim.html saiba mais Ampliação do conceito de sustentabilidade: sustentabilidade ambiental e social Vamos começar esse tópico refletindo sobre algumas questões: Qual a relação entre sustentabilidade ecológica e sustentabilidade social? Que dificuldades podem existir para estabelecer a integração entre sustentabilidade ambiental e social? Enfim, após refletir sobre essas questões, damos início à nossa terceira aula; nela o conceito de sustentabilidade será ampliado, contemplando os aspectos ambientais e sociais. A sua dedicação e empenho na leitura serão fundamentais para o melhor entendimento dessa relação. Para tornar mais didático esse processo, optamos por estabelecer a relação entre uma região de floresta e a sociedade que atua sobre esse espaço. Qualquer análise da sustentabilidade, seja qual for a perspectiva teórica, requer estabelecer as inter-relações entre a sociedade humana e o mundo circundante. Um primeiro nível de análise deve ser, então, a relação entre o espaço em estudo – com suas características físico- naturais – e a sociedade que atua sobre tal espaço, com suas características econômicas, demográficas e sociais. ht tps: / /up load.wik imedia.org/ w i k i p e d i a / c o m m o n s / 8 / 8 5 / Ba%C3%ADa_de_Antonina_vista_ da_Serra_do_Mar2.JPG 18 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM regiões com praias têm forte ocupação costeira, o que marca uma diferença substancial Para facilitar essa relação, vamos analisar um ecossistema caracterizado por mata atlântica. Esse ecossistema é de topografia variável, relevo montanhoso, planícies aluviais e bancos de areia. Predominam os solos com baixa aptidão agrícola, devido às limitações topográficas, à baixa fertilidade natural e ao encharcamento do solo característicos do litoral. O clima predominante é o tropical, super úmido, com verões quentes, temperaturas médias anuais de 22ºC e precipitações elevadas – média de 2.365mm anuais em 207 dias de chuva. A vegetação é de floresta pluvial, densa, composta por várias espécies de árvores e arbustos. Nessa região é significativa uma espécie de palmeira, pela grande dispersão e importância econômica. Outras formações de importância econômica são os manguezais. Essa região, porém, representa só 5% do que esse sistema era um século atrás. Ainda assim, permanece relativamente isolada, se comparada com outras áreas da costa brasileira. E isso se deve a uma simples razão: trata-se de uma zona sem praias, onde o mangue cobre a costa, diferentemente de áreas onde as praias condicionaram a ocupação de tipo turístico. Portanto, o isolamento se dá porque: a) não há estrada totalmente asfaltada; b) o transporte de mercadorias e pessoas predominou e ainda ocorre, em grande medida, por via fluvial; c) a densidade demográfica não tem justificado maiores investimentos em infraestrutura. A perspectiva comparativa entre regiões naturais deve ser sempre o ponto de partida da análise da sustentabilidade, já que a ocupação de um ambiente é, por natureza, desigual e relativa. Ao mesmo tempo, permite destacar os elementos e as restrições determinantes do tipo de ocupação de outros, geralmente acessórios. Neste caso, por exemplo, as restrições impostas pelas baías de mangue determinaram historicamente o tipo de ocupação. Essa distinção não poderia ser percebida ao se analisar a região em si mesma. Por certo, outros fatores naturais – como a topografia – ou de ordem histórico-política – como o atraso relativo do desenvolvimento do capitalismo dessa região quando comparado com regiões vizinhas – também explicam seu isolamento relativo. Mas a especificidade desse local aqui estudado só pode ser explicada pela negativa: a inexistência de praias. Em comparação, regiões com praias têm forte ocupação costeira, o que marca uma diferença substancial. Após tecer essa comparação entre regiões, você deve estar se perguntando: Que fatoressão determinantes para a ocupação e consequente alteração no ambiente natural? Indo um pouco além, podemos ainda questionar a relação entre o social e o ambiental, ou seja, entre aspectos econômicos e culturais e a velocidade de ocupação e degradação de uma dada região natural. 19 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Analisadas essas condições naturais ou restrições (mangue e ausência de praias), todos os outros determinantes da viabilidade da região estão marcados pela sustentabilidade social. Aqui estamos utilizando o conceito de sustentabilidade social em sentido amplo, incluindo os aspectos econômicos. Qualquer sistema de produção implica a combinação de uma forma de organização social da produção, com um nível de desenvolvimento tecnológico determinado, junto a uma base natural dada. Neste caso, o primeiro elemento a se destacar é que na região o ecossistema de floresta atlântica nunca foi arrasado, não se implantou um sistema de produção que, ao estilo da indústria urbana ou agrícola mecanizada, transformasse na raiz as condições naturais. Ao contrário, os diferentes sistemas de produção se incorporaram marginalmente em termos de espaço ocupado e de impacto, ocasionando impactos significativos. Toda aplicação de trabalho sobre o ecossistema tem como consequência a modificação do grau de fertilidade do solo. Mas é necessário distinguir a fertilidade natural, resultado dos nutrientes do solo, sua topografia, clima etc., da ‘’fertilidade’’ econômica. Nesta, além dos fatores naturais, intervêm a tecnologia, a organização, a infraestrutura e a localização frente aos mercados. Na medida em que os investimentos de capital são cada vez mais significativos, a fertilidade natural dá vez a que os investimentos de capital sejam determinantes do resultado econômico. O atraso relativo dos investimentos em capital fez com que os sucessivos ciclos de produtos – como cana-de- açúcar, arroz, café, banana e mandioca – não tivessem êxito, porque não podem competir com outras regiões onde a fertilidade econômica – e não só a natural – é maior. Uma vez contemplado o nível relativo de desenvolvimento da produtividade do trabalho, é necessário determinar a forma de produção à qual a sustentabilidade se refere. Essa distinção é da maior importância. Uma fábrica, por exemplo, pode dar lucro a seu dono e manter um sistema de produção relativamente limpo, com pouca degradação do meio ambiente. Nesse sentido, pode ser considerada sustentável tanto para – como por – seu dono e pela sociedade em seu conjunto. Porém, é possível que os trabalhadores da dita fábrica não achem que sua relação salarial seja sustentável; dessa maneira, a análise da sustentabilidade deve ser explícita com relação ao sujeito do qual está tratando. Insustentabilidade A insustentabilidade de certa região não se dá, de nenhuma maneira, por um problema ecológico, de baixa fertibilidade natural, nem por dificuldades de acesso à terra. Tampouco a causa pode ser atribuída exclusiva ou majoritariamente à legislação ambiental e a seu impacto nas práticas econômicas. Isso não significa negar o papel da legislação, a qual tem importância como maior regimento das questões ambientais. A causa da insustentabilidade está no mercado, na competitividade frente a outras regiões, para não falar da competitividade dos mercados internacionais, que também se fez sentir. 20 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM O fato de que a causa da insustentabilidade esteja no mercado leva-nos a refletir sobre a proposta desta aula, ou seja, a relação entre sustentabilidade ambiental e sustentabilidade social. É impossível pensar a sustentabilidade no nível local diante de produtores integrados a um mercado que os torna sujeitos a dinâmicas de preços regulados em nível regional e até mundial. No entanto, ao pensarmos em termos exclusivamente naturais, vemos que a competitividade mercantil, cujos elementos afetam diretamente a sustentabilidade social, é a causa dos impactos ambientais que dificultam a sustentabilidade do ecossistema. Isso é claro em vários casos de produtos naturais, que passam a ser praticamente o único produto com preço competitivo, razão pela qual os habitantes de uma região eliminam sistematicamente as árvores que os produzem; isso acontece claramente no caso da banana, do gengibre ou de sistemas emergentes, como o do palmito. http://i.ytimg.com/vi/yr-zQY98-Ds/maxresdefault.jpg palmito A competitividade mercantil obriga à introdução de tecnologias que podem afetar a sustentabilidade ecológica, como os herbicidas, que têm e poderão ter – na medida de seu incremento – mais efeitos secundários, com impactos potenciais sobre os ecossistemas aquáticos. O mesmo ocorre com os sistemas especulativos, como a criação de búfalos, que causa comprovados impactos ao ecossistema (desflorestação) e ao solo (compactação/erosão). De toda forma, no que se refere à sustentabilidade ambiental, cabem duas ressalvas importantes. 21 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Duas ressalvas importantes. 1ª - com relação ao produto a ser explorado. Ainda que saibamos que o recurso é afetado, não sabemos qual é o efeito sobre o sistema global (ecossistema de floresta atlântica, como no nosso exemplo anterior). Este é claramente um caso de perda específica de biodiversidade. Mas essa perda de biodiversidade é suficientemente importante para afetar o ecossistema como um todo? Isto é difícil de estabelecer. Ademais, a perda de biodiversidade, seu nível e seu impacto nos ecossistemas é ainda uma incerteza. Pare neste momento da aula e reflita sobre essa questão. 2ª - quando se refere à área ocupada. Quando se analisa o impacto ambiental da agricultura sobre a vegetação, observa-se que há alterações nessa paisagem natural. Além dessa constatação, vale lembrar ser discutível que o desmate/queima em áreas agrícolas afete a biodiversidade e, por conseguinte, o funcionamento dos ecossistemas. Ao contrário, há indícios de que essa atividade, se adequadamente praticada, pode incrementar a biodiversidade e contribuir para um maior grau de sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Nesse sentido, os seres humanos estabelecem relações sociais e, por meio delas, atribuem significados à natureza (econômico, estético, sagrado, lúdico, econômico-estético etc.). Agindo sobre ela (a natureza), instituem práticas e, alterando suas propriedades, garantem a reprodução social de sua existência. Essas relações (dos seres humanos entre si e com o meio físico natural) ocorrem nas diferentes esferas da vida societária (econômica, política, religiosa, científica, jurídica, afetiva, étnica etc.) e assumem características específicas decorrentes do contexto social e histórico em que acontecem. Portanto, são as relações sociais que explicam as múltiplas e diversificadas práticas de apropriação e uso dos recursos ambientais (inclusive a atribuição de significado econômico). A existência de determinado risco ou dano ambiental (poluição do ar, contaminação hídrica, pesca predatória, aterramento de manguezais, emissões radiativas etc.), para ser compreendida em sua totalidade, deve ser analisada a partir da inter-relação de aspectos que qualificam as relações na sociedade (econômicas, sociais, políticas, éticas, afetivas, culturais, jurídicas etc.) com os aspectos próprios do meio físico-natural. Tudo isso sem perder de vista que outras ações sobre o meio físico natural podem gerar novas consequências sobre o meio social. Assim, as decisões tomadas no meio social é que definem as alterações do meio físico- natural. Desse modo, a problemática ambiental coloca a questão do ato de conhecer como fundamental para praticar a gestão ambiental. Por sua complexidade, a questão ambiental não pode ser compreendida segundo a óticade uma única ciência. A questão ambiental convoca diversos campos do saber a depor. A questão ambiental, na verdade, diz respeito ao modo como a sociedade se relaciona com a natureza. Nela estão implicadas as relações sociais e as complexas relações entre o mundo físico-químico e orgânico. Nenhuma área do conhecimento específico tem competência para decidir sobre ela, embora muitas tenham o que dizer. A necessidade que a problemática ambiental coloca, de buscar um outro modo de conhecer, que supere o olhar fragmentado sobre o mundo real, coloca também o desafio de se organizar uma prática educativa em que o ato pedagógico seja um ato de construção do conhecimento sobre este mundo, fundamentado na unidade dialética entre teoria e prática. Portanto, o reconhecimento da complexidade do conhecer implica assumir a complexidade do aprender. 22 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM Historicamente, os seres humanos estabelecem relações sociais e, por meio delas, atribuem significados à natureza. Agindo sobre o meio físico-natural, instituem práticas; alterando suas propriedades, garantem a reprodução social de sua existência. Essas relações (dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural) ocorrem nas diferentes esferas da vida societária (econômica, política, religiosa, jurídica, afetiva, étnica etc.) e assumem características específicas decorrentes do contexto social e histórico em que acontecem. Portanto, são as relações sociais que explicam as múltiplas e diversificadas práticas de apropriação e uso dos recursos ambientais (inclusive a atribuição desse significado eminentemente econômico). Ambientaleconômico social social No Brasil, em virtude do estabelecido na Constituição Federal, cabe ao Poder Público ordenar essas práticas, promovendo o que se denomina gestão ambiental pública. O Poder Público, como principal mediador desse processo, é detentor de poderes estabelecidos na legislação que lhe permitem promover desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais, inclusive articulando instrumentos de comando e controle com instrumentos econômicos, até a reparação e mesmo a prisão de indivíduos responsabilizados por práticas causadoras de danos ambientais. Nesse sentido, o Poder Público estabelece padrões de qualidade ambiental, avalia impactos ambientais, licencia e revisa atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplina a ocupação do território e o uso de recursos naturais, cria e gerencia áreas protegidas, obriga a recuperação do dano ambiental pelo agente causador e promove o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora. Por outro lado, observa-se, no Brasil, que o poder de decidir e intervir para transformar o ambiente, seja ele físico-natural ou construído, e os benefícios e custos dele decorrentes estão distribuídos, social e geograficamente, de modo assimétrico. Por serem detentores de poder econômico ou de poderes outorgados pela sociedade, determinados grupos sociais possuem, por meio de suas ações, capacidade variada de influenciar direta ou indiretamente na transformação (de modo positivo ou negativo) da qualidade do meio ambiente. 23 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável A importância da Educação Ambiental http://www.atitudessustentaveis.com.br/ conscientizacao/a-importancia-da-educacao- ambiental- sustentabilidade/ Educação Ambiental www.peld.uem.br/ Relat2001/pdf/educacao_ambiental.PDF aprofundando T4 A Pratica da responsabilidade ambiental em ambientes formais e não formais de ensino Nos tópicos anteriores você estudou os aspectos relacionados à origem do termo sustenta- bilidade. Neste último, veremos a proposta de uma educação pautada em questões relacionadas aos problemas ambientais, com o objetivo de formar cidadãos mais preocupados com essa problemática. Além disso, este trabalho visa conscientizar a sociedade de seu papel na construção de um planeta mais saudável. No final deste tópico, você perceberá que também é responsável pela formação desses indivíduos e verá a importância dessa conscientização global. Vamos começar? Qualquer proposta de ação em meio ambiente precisa ser realizada por uma ótica multidisciplinar, mas desenvolvendo um processo de trabalho interdisciplinar. Sabemos que o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chave: - conceito de necessidades, sobretudo as necessidades dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade; - a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras. O processo de caminhar para um desenvolvimento sustentável subentende que é preciso minimizar os impactos adversos sobre a qualidade do ar, da água e de outros elementos naturais a fim de manter a integridade global do ecossistema. O desenvolvimento sustentável também requer a promoção de valores que mantenham os padrões de consumo dentro do limite das possibilidades ecológicas a que todos podem aspirar. Esse tipo de desenvolvimento é mais do que crescimento. Ele exige uma mudança no teor qualitativo do crescimento, a fim de torná-lo menos intensivo de matérias-primas e de energia e mais equitativo em seu impacto. Os profissionais da área deverão saber lidar com questões como o uso inteligente dos recursos naturais, a redução das infrações ambientais e a destinação final adequada dos rejeitos. 24 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM Você sabe o que foi a Rio + 20? Para saber um pouco mais acesse: http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/ ciencia/2012/06/12/o-que-e-a-rio20-saiba- mais.htm e http://www.rio20.gov.br/ Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=dX- tu2ODL5g aprofundando Eles também poderão estruturar e modular programas de educação ambiental para empresas e comunidades, uma vez que a educação ambiental no trabalho pode se transformar num programa educacional completo e pode ser dada com eficácia e ser adaptada, com baixo custo, às necessidades de qualquer organização. A educação ambiental requer mudança de comportamento e de atitudes em relação ao meio ambiente interno de qualquer organização e externo a ela. A Recomendação 96 da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo, em junho de 1972, já reconhecia o desenvolvimento da educação ambiental como elemento-chave para o combate às crises ambientais no mundo. No plano nacional, desde 1981 a Lei Nº 6938, já completando vinte anos no alvorecer do terceiro milênio, dispõe sobre os fins, mecanismos de formulação e aplicação da Política Nacional de Meio Ambiente e consagra a educação ambiental em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade. Como vimos nos estudos anteriores, vários documentos foram criados a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio 92, entre eles a Agenda 21, que apresenta plano de ação para o desenvolvimento sustentável a ser adotado pelos países a partir de uma nova perspectiva de cooperação internacional. http://crystalenvironment.net/ wp-content/gallery/eco-friendly/ environmental.gif A educação ambiental é identificada como instrumento de revisão dos conceitos sobre o mundo e sobre a vida em sociedade, conduzindo os seres humanos à construção de novos valores sociais, à aquisição de conhecimentos, atitudes, competências e habilidades para a conquista e a manutenção do direito ao meio ambiente equilibrado. O índice de sustentabilidade ambiental, lançado em janeiro de 2000 como parte do encontro anual do Fórum Econômico Mundial, é um valioso esforçopara medir a habilidade das economias para conseguir desenvolvimento ambientalmente sustentável. 25 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável A evolução do conceito de educação ambiental acompanhou a evolução do conceito e da percepção de ambiente. Evoluiu de um enfoque mais ecológico no sentido das ciências biológicas para uma dimensão que incorpora as contribuições das ciências sociais fundamentais para a melhoria do ambiente humano. Assim, pode-se pensar o ambiente e a educação ambiental de forma a reduzi-los aos aspectos relativos a fauna, flora, ar, solo e água. Pode-se, no entanto, ampliar o conceito e adotar o modelo que aborda os aspectos políticos, éticos, sociais, científicos, econômicos, tecnológicos, culturais e ecológicos, por exemplo. Todavia, compartilho de um pensamento no qual o ponto de partida é o ambiente interno de cada ser humano. Não no sentido antropocêntrico, mas porque parto do princípio de que o ambiente interno de cada ser humano está conectado com o planeta e com o cosmos. É onde começa a compreensão do conceito de rede, de interconexão, de interdependência, de teia da vida. A Conferência de Tbilisi considera a educação ambiental como: “um processo permanente no qual indivíduos tornam-se conscientes do seu ambiente e adquirem conhecimento, valores, habilidades, experiências e a determinação para agir individual e coletivamente, prevenindo e resolvendo problemas presentes e futuros.” (Tbilisi, CEI, de 14 a 26 de outubro de 1977) Assim como o ambiente precisa ser percebido na sua totalidade, a educação ambiental também precisa ser vista e praticada na sua integralidade. É comum a prática de uma educação ambiental voltada para o cuidado externo, com o oikos: nosso planeta-casa. No entanto, a primeira casa habitada pelo ser humano é constituída pelo seu próprio ser, seu próprio corpo. A visão do corpo como oikos é encontrada tanto na cultura oriental quanto na tradição indígena ou cristã. Dessa forma, a educação ambiental precisa ser praticada tanto nas diferentes dimensões do ambiente interno de cada um (físico, mental, emocional, espiritual) quanto nas dimensões do ambiente externo (relacionamentos interpessoais e com a as demais manifestações da natureza). Fauna, flora, ar, solo e água http://www.fecomerciomg.org. br/wp-content/uploads/2014/09/ ges tao_soc ioambien ta l_ strong1.jpg 26 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM Nestes tempos em que a informação assume papel cada vez mais relevante, ciberespaço, multimídia, internet, educação para a cidadania representam a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida. Nesse sentido, cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável. Entende-se, portanto, que a educação ambiental é condição necessária para modificar o quadro de crescente degradação socioambiental. O educador tem a função de mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza. Desenvolvimento sustentável A problemática da sustentabilidade assume, neste novo século, um papel central na reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram. O quadro socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas revela que o impacto dos humanos sobre o meio ambiente tem tido consequências cada vez mais complexas, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. O conceito de desenvolvimento sustentável surge para enfrentar a crise ecológica; pelo menos duas correntes alimentaram o processo: uma, centrada no trabalho do Clube de Roma, reúne suas ideias, publicadas em 1972 sob o título de Limites do Crescimento; segundo elas, para alcançar a estabilidade econômica e ecológica propõe-se o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial, mostrando a realidade dos recursos limitados e indicando forte viés para o controle demográfico. A segunda está relacionada à crítica ambientalista ao modo de vida contemporâneo, e se difundiu a partir da Conferência de Estocolmo, também em 1972. Tem como pressuposto a existência da sustentabilidade social, econômica e ecológica. Essas dimensões explicitam a necessidade de tornar compatível a melhoria nos níveis e qualidade de vida com a preservação ambiental. Surgem para dar resposta à necessidade de harmonizar os processos ambientais com os socioeconômicos, maximizando a produção dos ecos- sistemas para favorecer as necessidades humanas presentes e futuras. A maior virtude dessa abordagem é que, além da incorporação definitiva dos aspectos ecológicos no plano teórico, enfatiza a necessidade de inverter a tendência autodestrutiva dos processos de desenvolvimento no seu abuso contra a natureza. O conceito de desenvolvimento sustentável surge para enfrentar a crise ecológica 27 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável O Relatório Brundtlandt, também conhecido como Nosso futuro comum, defende, a partir de 1987, a ideia do “desenvolvimento sustentável”, indicando um ponto de inflexão no debate sobre os impactos do desenvolvimento. Não só reforça as necessárias relações entre economia, tecnologia, sociedade e política como chama atenção para a necessidade do reforço de uma nova postura ética em relação à preservação do meio ambiente, caracterizada pelo desafio de responsabilidade tanto entre as gerações quanto entre os integrantes da sociedade dos nossos tempos. Na Rio 92, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global colocou princípios e um plano de ação para educadores ambientais, estabelecendo relação entre as políticas públicas de educação ambiental e a sustentabilidade. Enfatizaram-se os processos participativos na promoção do meio ambiente, voltados para sua recuperação, conservação e melhoria, bem como para a melhoria da qualidade de vida. É importante ressaltar que, apesar das críticas a que tem sido sujeito, o conceito de desenvolvimento sustentável representa importante avanço, na medida em que a Agenda 21 global, como plano abrangente de ação para o desenvolvimento sustentável no século XXI, considera a complexa relação entre o desenvolvimento e o meio ambiente numa variedade de áreas, destacando sua pluralidade, diversidade, multiplicidade e heterogeneidade. As dimensões apontadas pelo conceito de desenvolvimento sustentável contemplam cálculo econômico, aspecto biofísico e o componente sociopolítico como referenciais para a interpretação do mundo e para possibilitar interferências na lógica predatória prevalecente. O desenvolvimento sustentável não se refere especificamente a um problema limitado de adequações ecológicas de um processo social, mas a uma estratégia ou um modelo múltiplo para a sociedade que deve levar em conta tanto a viabilidade econômica como a ecológica. Num sentido abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável reporta-se à necessária redefinição das relações entre sociedade humana e natureza, e, portanto, a uma mudança substancial do próprio processo civilizatório, introduzindo o desafio de pensar a passagem do conceito para a ação. Pode-se afirmar que ainda prevalece a transcendência do enfoque sobre o desenvolvimento sustentável radical mais na sua capacidade de ideia força, nas suas repercussões intelectuais e no seu papel articulador de discursos e de práticas otimizadas que, apesar desse caráter, tem matriz única, originada na existência de uma criseambiental, econômica e social. h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m / watch?v=qMKvDbnqZBw aprofundando 28 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM O desenvolvimento sustentável somente pode ser entendido como um processo no qual, de um lado, as restrições mais relevantes estão relacionadas à exploração dos recursos, à orientação do desenvolvimento tecnológico e ao marco institucional. De outro, o crescimento deve enfatizar os aspectos qualitativos, notadamente os relacionados à equidade, ao uso de recursos – em particular da energia – e à geração de resíduos e contaminantes. Além disso, a ênfase no desenvolvimento deve fixar-se na superação dos déficits sociais, nas necessidades básicas e na alteração de padrões de consumo, principalmente nos países desenvolvidos, para poder manter e aumentar os recursos-base, sobretudo os agrícolas, energéticos, bióticos, minerais, ar e água. Assim, a ideia de sustentabilidade implica a prevalência da premissa de que é preciso definir limites às possibilidades de crescimento e delinear um conjunto de iniciativas que levem em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes e ativos por meio de práticas educativas e de um processo de diálogo informado, o que reforça um sentimento de corresponsabilidade e de constituição de valores éticos. Isso também implica que uma política de desenvolvimento para uma sociedade sustentável não pode ignorar nem as dimensões culturais nem as relações de poder existentes, muito menos o reconhecimento das limitações ecológicas, sob pena de apenas manter um padrão predatório de desenvolvimento. A sociedade sustentável Atualmente, o avanço para uma sociedade sustentável é permeado de obstáculos, na medida em que existe restrita consciência na sociedade a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso. Pode-se afirmar que as causas básicas que provocam atividades ecologicamente predatórias são atribuídas às instituições sociais, aos sistemas de informação e comunicação e aos valores adotados pela sociedade. Isso implica principalmente a necessidade de estimular a participação mais ativa da sociedade no debate dos seus destinos, como uma forma de estabelecer um conjunto socialmente identificado de problemas, objetivos e soluções. O caminho a ser desenhado passa necessariamente por uma mudança no acesso à informação e por transformações institucionais que garantam acessibilidade e transparência na gestão. Existe um desafio essencial a ser enfrentado, e está centrado na possibilidade de que os sistemas de informação e as instituições sociais se tornem facilitadores de um processo que reforce os argumentos para a construção de uma sociedade sustentável. Para tanto é preciso que se criem todas as condições para facilitar o processo, suprindo dados, desenvolvendo e disseminando indicadores e tornando transparentes os procedimentos por meio de práticas centradas na educação ambiental que garantam os meios de criar novos estilos de vida e promovam uma consciência ética que questione o atual modelo de desenvolvimento, marcado pelo caráter predatório e pelo reforço das desigualdades socioambientais. construção de uma sociedade sustentável 29 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável A sustentabilidade, como novo critério básico e integrador, precisa estimular permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos aspectos extra econômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a equidade, a justiça social e a própria ética dos seres vivos. A noção de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e ruptura com o atual padrão de desenvolvimento. Nesse contexto, a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização, na mudança de comportamento, no desenvolvimento de competências, na capacidade de avaliação e na participação dos educandos. A educação ambiental propicia aumento de conhecimentos, mudança de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente. Nesse sentido, a relação entre meio ambiente e educação para a cidadania assume papel cada vez mais desafiador, demandando a emergência de novos saberes para apreender processos sociais que se complexificam e riscos ambientais que se intensificam. As políticas ambientais e os programas educativos relacionados à conscientização da crise ambiental pedem cada vez mais novos enfoques integradores de uma realidade contraditória e geradora de desigualdades e que transcendem a mera aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis. O desafio é, pois, formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis: formal e não formal. Assim, a educação ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. Seu enfoque deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem. Os grandes desafios para os educadores ambientais são: de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa); de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes. Vale ressaltar que quando nos referimos à educação ambiental, situamo-la em contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, configurando-a como elemento determinante para a consolidação de sujeitos cidadãos. O desafio do fortalecimento da cidadania para a população como um todo – e não para um grupo restrito – concretiza- se pela possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres e de se converter, portanto, em ator corresponsável na defesa da qualidade de vida. O principal eixo de atuação da educação ambiental deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença, com formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isso se consubstancia no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos diante do consumo na nossa sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos. A educação ambiental é atravessada por vários campos de conhecimento, o que a situa como uma abordagem multirreferencial; a complexidade ambiental reflete um tecido conceitual heterogêneo, em que os campos de conhecimento, as noções e os conceitos podem ser originários de várias áreas do saber. A dimensão ambiental representa a possibilidade de lidar com conexões entre diferentes dimensões humanas, propiciando entrelaçamentos e múltiplos trânsitos entre múltiplos saberes. A escola participa, então, dessa rede como uma instituição dinâmica com capacidade de compreender e articular os processos cognitivos com os contextos da vida. A educação insere-se na própria teia da aprendizagem e assume papel estratégico nesse processo. 30 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM Podemos dizer que a educação ambiental, na escola ou fora dela, continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica e ecológica exige alternativas radicais, justas e pacíficas. E o que dizer do meio ambiente na escola? Você deve estar se fazendo essa pergunta. Pode-se dizer que um processo de reconstrução interna (dos indivíduos) ocorre partir da interação com uma ação externa (natureza, reciclagem, efeito estufa, ecossistema, recursos hídricos,desmatamento) na qual os indivíduos se constituem como sujeitos pela internalização de significações que são construídas e reelaboradas no desenvolvimento de suas relações sociais. A educação ambiental, como tantas outras áreas de conhecimento, pode assumir, assim, parte ativa de um processo intelectual constantemente a serviço da comunicação, do entendimento e da solução dos problemas. Trata-se de um aprendizado social baseado no diálogo e na interação em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados que podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do aluno. Dessa forma, a escola pode transformar-se no espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de práticas sociais, parte de uma realidade mais complexa e multifacetada. O mais desafiador é evitar cair na simplificação de que a educação ambiental poderá superar uma relação pouco harmoniosa entre os indivíduos e o meio ambiente mediante práticas localizadas e pontuais, muitas vezes distantes da realidade social de cada aluno. Cabe sempre enfatizar a historicidade da concepção de natureza, o que possibilita a construção de uma visão mais abrangente e que abra possibilidade para uma ação em busca de alternativas e soluções. E como educação ambiental se relaciona com cidadania? Cidadania tem a ver com identidade e pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental, como formação e exercício de cidadania, refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma maneira diferente de ver o mundo e os homens. A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária. A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem 31 Unidade 04 Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável O que tem sido feito em termos de educação ambiental? A grande maioria das atividades é feita dentro de uma modalidade formal. Os temas predominantes são lixo, proteção do verde, uso e degradação dos mananciais, ações para conscientizar a população em relação à poluição do ar. A educação ambiental que tem sido desenvolvida no país é muito diversa, e a presença dos órgãos governamentais como articuladores, coordenadores e promotores de ações é ainda muito restrita. No caso das grandes metrópoles, existe a necessidade de enfrentar os problemas da poluição do ar, e o poder público deve assumir papel indutor do processo. A redução do uso do automóvel estimula a corresponsabilidade social na preservação do meio ambiente, chama a atenção das pessoas e as informa sobre os perigos gerados pela poluição do ar. Mas isso implica a necessidade de romper com o estereótipo de que as responsabilidades urbanas dependem em tudo da ação governamental, e os habitantes mantêm-se passivos e aceitam a tutela. O grande salto de qualidade tem sido feito pelas ONGs e organizações comunitárias, que têm desenvolvido ações não formais centradas principalmente na população infantil e juvenil. A lista de ações é interminável, e essas referências são indicativas de práticas inovadoras preocupadas em incrementar a corresponsabilidade das pessoas em todas as faixas etárias e grupos sociais quanto à importância de formar cidadãos cada vez mais comprometidos com a defesa da vida. A educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade baseada na educação para a participação. O complexo processo de construção da cidadania no Brasil, num contexto de aumento das desigualdades, é perpassado por um conjunto de questões que necessariamente implica a superação das bases constitutivas das formas de dominação e de uma cultura política calcada na tutela. O desafio da construção da cidadania ativa configura-se como elemento determinante para constituição e fortalecimento de sujeitos cidadãos que, portadores de direitos e deveres, assumam a importância da abertura de novos espaços de participação. Atualmente, o desafio de fortalecer uma educação ambiental convergente e multirreferencial é prioritário para viabilizar uma prática educativa que articule de forma incisiva a necessidade de enfrentar concomitantemente a degradação ambiental e os problemas sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas ambientais se dá por uma visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente construído, que é perpassado pela diversidade cultural e ideológica e pelos conflitos de interesse. O aluno precisa ser situado nesse universo de complexidades; seus repertórios pedagógicos devem ser amplos e interdependentes, visto que a questão ambiental é um problema híbrido, associado a diversas dimensões humanas. Os professores devem estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações que recebem, especialmente as ambientais, a fim de poder transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos significados sobre o meio ambiente e a ecologia nas suas múltiplas determinações e interseções. A ênfase deve ser a capacitação para perceber as relações entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação local/global, buscando marcar a necessidade de enfrentar a lógica da exclusão e das desigualdades. 32 Cidadania e Responsabilidade Social Graduação | UNISUAM Nesse contexto, a administração dos riscos socioambientais reforça cada vez mais a necessidade de ampliar o envolvimento público por meio de iniciativas que possibilitem o aumento do nível de consciência ambiental dos moradores, garantindo a informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação numa perspectiva pluralista. A educação ambiental deve destacar os problemas ambientais que decorrem da desordem e da degradação da qualidade de vida nas cidades e suas regiões. À medida que se observa cada vez mais dificuldade de manter a qualidade de vida, é preciso fortalecer a importância de garantir padrões ambientais adequados e estimular uma crescente consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, numa perspectiva orientada para o desenvolvimento sustentável. A educação ambiental, como componente de uma cidadania abrangente, está ligada a uma nova forma de relação ser humano/natureza, e sua dimensão cotidiana leva a pensá-la como somatório de práticas e, consequentemente, entendê-la na dimensão de sua potencialidade de generalização para o conjunto da sociedade. Cremos que essa generalização de práticas ambientais só será possível se estiver inserida no contexto de valores sociais, mesmo que se refira a mudanças de hábitos cotidianos. A problemática socioambiental, ao questionar ideologias teóricas e práticas, propõe a participação democrática da sociedade na gestão dos seus recursos atuais e potenciais e no processo de tomada de decisão para a escolha de novos estilos de vida e a construção de futuros possíveis, sob a ótica da sustentabilidade ecológica e da equidade social. Torna-se cada vez mais necessário consolidar novos paradigmas educativos, centrados na preocupação de iluminar a realidade desde outros ângulos; isso supõe a formulação de novos objetos de referência conceituais e principalmente a transformação de atitudes. h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m / watch?v=Go8BH9b0c-g Para f ina l i za r es ta Un idade , p ropomos que você faça um levantamento sobre no mínimo três regiões do Brasil que sofreram a l terações em suas pa isagens natura
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