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Resumo - Nascimento, Crescimento e Desenvolvimento

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Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
PROBLEMA 1 – ABERTURA: 
ATENDIMENTO AO NEONATO NA SALA DE PARTO: 
Nascem no Brasil cerca de 3 milhões de 
crianças por ano, das quais 98% em 
hospitais. Ainda que a maioria dos recém-
nascidos (RN) apresente boa vitalidade, 10% 
necessitam de ventilação com pressão 
positiva (VPP) para deflagrar ou manter os 
movimentos respiratórios, 1% precisa ser 
intubado ou receber massagem cardíaca, e 
0,1% requer intubação, compressões e 
medicamentos. 
Essa necessidade de intervenções para 
reanimação aumenta quanto menor a idade 
gestacional ou o peso ao nascer. Além disso, 
nascimentos via parto cesáreo, entre 37 e 39 
semanas de gestação, também aumentam o 
risco de que seja indicada a ventilação. 
FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO NA SALA DE 
PARTO E PRINCÍPIOS DA ATENÇÃO AO RN DE 
RISCO: 
Para que a atenção ao RN seja realizada de 
forma segura, é necessário que toda sala de 
parto conte com equipe capacitada para 
reanimação neonatal e com fonte de calor 
radiante, material para aspiração e 
ventilação, além de medicamentos. 
Imediatamente após o parto, caso alguma 
das perguntas a seguir tenha resposta 
negativa, o RN deverá ser conduzido a uma 
mesa de estabilização. 
 A gestação chegou a termo? (Conduzir à 
mesa tanto RN prematuros tardios quanto 
RN pós-termo) 
 O RN está respirando ou chorando? 
 Há tônus muscular em flexão? 
Em 30 segundos, os passos iniciais a serem 
desenvolvidos na mesa de estabilização são 
a disponibilização de calor (temperatura 
ambiente em 23-26ºC, com portas fechadas, 
secagem e remoção de campos úmidos), 
reposicionamento da cabeça (leve extensão 
do pescoço), aspiração de boca e narinas, e 
a secagem do RN. 
É necessário avaliar a FC e a respiração 
simultaneamente após os passos iniciais, 
com estetoscópio no precórdio por 6 
segundos, multiplicando por 10 para obter os 
batimentos por minuto, e inspecionar o tórax 
do RN para detectar a presença de 
movimentos respiratórios regulares. Os 
possíveis desfechos são: 
 Recém-nascido com respiração regular e 
FC >100bpm: avaliar condições clínicas e 
se possível, iniciar cuidados de rotina 
junto à mãe; 
 Recém-nascido com FC <100bpm e/ou 
apneia/gasping: iniciar VPP no 1º minuto 
de vida (“golden minute”). Ao mesmo 
tempo, locar oxímetro no punho ou mão 
direita e eletrodos do monitor cardíaco 
em cada braço próximo ao ombro e na 
face anterior da coxa, sem secar a pele. 
Acompanhar a FC pelo monitor cardíaco 
e a saturação de oxigênio pelo oxímetro 
e seguir o fluxograma da reanimação 
neonatal. 
A ventilação com pressão positiva deve 
ocorrer com frequência de 40 a 60 
movimentos por minuto (aperta/solta/solta), 
com valores de oxigênio inicialmente iguais 
aos do ambiente. Realiza-se o boletim de 
Apgar no 1º e 5º minuto para avaliar a 
resposta do RN às medidas de intervenção 
realizadas. 
Caso a VPP ainda não consiga manter o 
neonato com boa saturação ou já esteja 
sendo realizada por longos períodos de 
tempo, o RN tenha hérnia diafragmática ou o 
bebê tenha indicação para massagem 
cardíaca, é recomendada intubação 
orotraqueal. Após intubação, inicia-se a 
ventilação, na mesma frequência e pressões 
descritas para VPP. 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
Está indicado a massagem cardíaca se a 
frequência cardíaca for menor que 60bpm 
após 30 segundos de VPP com técnica 
adequada através de cânula traqueal e O2 de 
60 a 100%. Aplicar a massagem cardíaca 
sincronizada com VPP pela intubação, na 
relação de 3 compressões para 1 ventilação 
(3:1 – um e dois e três e ventila), durante 60 
segundos e reavaliar a FC, seguindo o 
fluxograma da reanimação. 
 
Medicações são indicadas quando a FC se 
mantém abaixo de 60bpm mesmo após 
associação da ventilação por pressão 
positiva (oxigênio a 100%) com massagem 
cardíaca adequada. As prescrições mais 
comuns são de Adrenalina, expansores 
volêmicos ou ambos. 
 
EXAME FÍSICO E ESCALAS DE VITALIDADE DO RN: 
A primeira avaliação do RN, realizada ainda 
na sala de parto, tem por finalidade avaliar a 
vitalidade, determinar fatores de risco e 
identificar malformações congênitas, 
tocotraumatismos (acidentes durante o 
parto) e alterações cardiopulmonares que 
possam afetar a saúde desse neonato. 
O primeiro ponto analisado se dá antes do 
nascimento, baseando-se numa anamnese 
detalhada com dados maternos e da 
gestação, como a idade da mãe, número de 
gestações, abortamentos e paridades, tipos 
de parto, ocorrência de consanguinidade, 
realização adequada do pré-natal, histórico 
de amenorreia, doenças prévias e 
gestacionais, uso de medicações, drogas 
ilícitas, tabaco e álcool, anestesia e 
informações sobre o trabalho de parto, além 
dos resultados dos exames laboratoriais, 
ecografias e de monitorizações fetais. A 
importância de coletar todas essas 
informações está na descoberta antecipada 
de situações de risco, auxiliando a equipe a 
receber e assistir da melhor forma o neonato. 
Logo após o nascimento, o RN sadio deve 
ser colocado em contato direto (pele a pele) 
com a mãe, enquanto a equipe espera que 
sejam cessados os batimentos do cordão 
umbilical, por 1 a 3 minutos, para fazer o 
clampeamento tardo dessa estrutura (caso 
esteja respirando/chorando e com tônus 
muscular em flexão, do contrário, realizar 
essa ligadura de forma imediata de modo a 
não atrapalhar o início da VPP). 
Algumas medidas devem ser realizadas para 
estender o cuidado ao recém-nascido 
enquanto ele está junto à mãe, como a 
manutenção da nortmotermia (temperatura 
corporal entre 36,5 a 37,5ºC), secando o RN 
com compressas aquecidas e deixando-o 
sobre a pele da mãe envolto num pano seco 
e aquecido, a manutenção de vias aéreas 
pérvias, com leve extensão do pescoço e 
aspiração de boca e narinas (quando 
necessário), a avaliação contínua de FC, 
respiração e tônus do bebê, e a garantia da 
amamentação na primeira hora. 
O neonato deve ser mantido próximo à mãe 
por uma hora, mostrando os sinais de que 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
ele está pronto para a amamentação, que 
deve ocorrer nesse espaço de tempo. Nesse 
momento é realizado o primeiro exame físico 
dessa criança, de forma rápida e objetiva, 
para determinar sua vitalidade e possíveis 
intervenções. 
O teste mais utilizado nesse processo é a 
Escala (ou Índice) de Apgar, que 
compreende a avaliação de 5 sinais no 
primeiro e no 5º minuto de vida, atribuindo a 
cada parâmetro uma pontuação entre 0 e 2. 
São avaliados a frequência cardíaca, a 
respiração, o tônus muscular, a cor da pele e 
a presença de reflexos. Ao somar todos os 
pontos, teremos o índice de Apgar. 
 
Apgar 8 a 10 significa que o bebê nasceu em 
ótimas condições. Apgar 5 a 7 significa que 
o bebê apresentou uma dificuldade/asfixia 
leve. Apgar 3 a 4 traduz uma dificuldade de 
grau moderado e Apgar 0 a 2 aponta uma 
dificuldade de ordem grave, que pode 
acarretar distúrbios metabólicos caso não 
seja manejada a tempo. A presença de 
mecônio enquadra-se como um agravante. 
Ao avaliar o RN para desconforto 
respiratório, o médico analisa o esforço e o 
ritmo da respiração da criança. A presença 
de dificuldade respiratória pode revelar tanto 
comprometimento pulmonar (pneumotórax, 
Síndrome do Desconforto Respiratório, 
aspiração de mecônio) como extrapulmonar 
(acidose, malformação cardíaca, hérnia 
diafragmática, atresia de coanas, etc.). As 
possíveis lesões obstétricas também devem 
ser alvo de investigação detalhada por parte 
do examinador, que busca por lesões na 
pele, partes moles e vísceras, fraturas, 
danos ao SNC e ao sistema nervoso 
periférico. 
Esse exame permite que malformações 
externas de urgência sejam detectadas e 
tratadas com prontidão. Além disso, a 
análise dos orifícios pode auxiliar no manejo 
de eventuais disfunçõesna alimentação e na 
respiração, ao identificar atresia nas coanas, 
no ânus ou no esôfago. 
As alterações placentárias e no cordão 
umbilical também têm papel importante para 
o esclarecimento diagnóstico de diversas 
possíveis complicações na saúde do RN, 
como asfixia, desnutrição e infecções. 
O recém-nascido ainda teve ter suas 
medidas antropométricas colhidas, com a 
mensuração do peso ao nascer, 
comprimento e perímetros torácico e 
cefálico. Esses últimos dados podem ser 
anotados após o primeiro banho, mas não 
devem deixar de ser comparados às curvas 
de crescimento. 
A estimativa da idade gestacional realizada 
na sala de parto permite que o RN seja 
classificado como a termo, pré-termo ou pós-
termo, auxiliando a estabelecer riscos ao 
desenvolvimento imediato ou a longo prazo. 
Nesse momento, essa determinação ocorre 
por meio do cálculo da amenorreia (pouco 
confiável) ou da data indicada na ecografia 
fetal (altamente confiável se realizada até a 
12ª semana). Depois de 12h do nascimento, 
o recém-nascido pode ser submetido a 
verificação de características somáticas e 
neurológicas, apresentando margem de erro 
de uma ou duas semanas. 
Os dois métodos mais empregados nesse 
propósito são o Método de Capurro e o 
Método de Ballard, que tem como 
fundamentos: 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
 Método de Capurro: criado em 1978, 
utiliza somente 5 parâmetros somáticos. 
Ao total de pontos obtidos de cada item, 
soma-se 204 e divide-se por 7, obtendo 
assim a idade gestacional em semanas 
(limitado a 29 semanas). São avaliadas a 
textura da pele, a forma da orelha, 
formação do mamilo, tamanho da 
glândula mamária e presença de sulcos 
plantares; 
 
 Método de New Ballard: Ballard e Cols 
propuseram, em 1991, um método de 
avaliação neonatal no qual são utilizados 
6 padrões somáticos e 6 neurológicos. O 
somatório dos pontos é aplicado a uma 
tabela, indicando a IG. Esse método é 
simples, com execução rápida e aplicável 
a todos os RN, inclusive os mais 
comprometidos. Em 1993 foi modificado 
para contemplar neonatos de até 20 
semanas. Ele pode ser realizado até as 
primeiras 96 horas de vida. Os 
parâmetros avaliados são: 
o Postura: observa-se a atitude dos 4 
membros quando o RN se encontra em 
repouso; 
o Ângulo de flexão do punho: flexiona-se 
a mão sobre o punho do neonato com 
pressão o suficiente para gerar a maior 
flexão possível. Em seguida, mede-se 
o ângulo entre a eminência hipotênar e 
a face anterior do braço; 
o Retração do braço: flexionar ao 
máximo o antebraço por 5s, em 
seguida estendendo-o ao máximo 
através da tração das mãos, soltando-
o. Deve-se observar o ângulo entre 
braço e antebraço; 
o Ângulo poplíteo: com o RN em 
decúbito dorsal e a pelve apoiada na 
superfície de exame, a perna é 
flexionada por completo sobre a coxa 
com uma das mãos, e com a outra 
mão, a perna é estendida observando-
se o ângulo obtido; 
o Sinal do Xale: Com o RN em decúbito 
dorsal, segura-se uma de suas mãos, 
levando-a o máximo possível em 
direção ao ombro do lado oposto. 
Pode-se também levantar o cotovelo 
sobre o corpo. A contagem de pontos 
se faz segundo a localização do 
cotovelo; 
o Manobra calcanhar-orelha: consiste 
em levar um dos calcanhares o 
máximo possível em direção à cabeça 
sem que a pelve se levante da mesa. 
o Parâmetros de observação somente 
visual: pele, lanugo, superfície plantar, 
desenvolvimento da glândula 
mamária, olhos/orelhas e genitais 
masculinos/femininos. 
 
 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
 
Descoberta a idade gestacional, é possível 
correlacioná-la ao peso ao nascer (além do 
sexo do bebê) para estimar o padrão de 
crescimento fetal, descrito em percentis: 
 Adequado para a Idade Gestacional 
(AIG): peso entre os percentis 10 e 90; 
 Grande para a idade gestacional (GIG): 
peso acima do percentil 90; 
 Pequeno para a idade gestacional (PIG): 
peso abaixo do percentil 10. 
A análise da localização das medidas 
individuais dos RN nos gráficos utilizados 
como referência permite avaliar a situação 
nutricional de cada recém-nascido ao 
nascimento e pode sinalizar a qualidade do 
crescimento intrauterino. A monitorização do 
crescimento no período extrauterino também 
pode ser feita da mesma forma, e poderá 
sinalizar níveis de risco nutricionais, além de 
ocorrência de deficiências no 
neurodesenvolvimento a médio e longo 
prazo. Para tal fim, a curva de Fenton é a 
mais utilizada. 
Após 12 a 24 horas do nascimento, o 
neonato saudável deve ser submetido a um 
exame físico mais criterioso, pois essa 
criança sofreu diversas alterações que 
permitiram sua sobrevivência num meio que 
requer independência fisiológica. São 
utilizados todos os dados coletados 
previamente, sendo esse um período 
adequado para a análise de eventuais 
parâmetros faltantes. 
A respeito da investigação segmentar, os 
achados comuns no RN a termo são: 
 Pele: lisa, fina úmida e brilhante, rosada 
ou avermelhada (de cor branca e filhos de 
pais negros), com maior acúmulo de 
melanina nos mamilos, nas margens do 
umbigo, região periungueal (borda 
inferior da unha) e na genitália; 
 Cabeça: algumas deformidades 
transitórias da passagem pelo canal de 
parto são evidentes. O perímetro cefálico 
deve ser aferido com fita métrica, 
passando pela protuberância occipital e 
pela região mais proeminente da fronte, 
medindo pelo menos 33cm; 
 Pescoço: o exame dessa região busca 
por bócio, fístulas, cistos, restos de arcos 
do período embrionário, torcicolo 
congênito e indícios de alterações 
cromossômicas (pescoço alado ou pele 
redundante na nuca); 
 Tórax: normalmente cilíndrico, tem 
perímetro 2 cm menor que o cefálico; 
 Aparelho respiratório: o RN possui 
respiração costoabdominal, com FR 
entre 40 e 60 irpm; 
 Sistema cardiovascular: FC varia entre 
120 e 160bpm, sendo possível ouvir 
sopros nos primeiros dias de vida; 
 Abdome: 
o Inspeção: é do tipo semigloboso, com 
perímetro de 2 a 3 cm menor que o 
cefálico; 
o Palpação: o fígado é palpável até 2 
cm após o rebordo costal, sendo 
também possível apalpar o baço na 
primeira semana. 
 Tecido subcutâneo: pregas cutâneas têm 
em média 1 cm no RN a termo, 
uniformemente distribuídas pelo corpo; 
 Mucosas: realizado de forma mais bem-
sucedida ao longo do choro da criança, 
devem ser investigadas a cor, a umidade 
e a presença de lesões; 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
 Musculatura: um RN normal nascido a 
termo apresenta hipertonia em flexão dos 
membros. Em decúbito dorsal, apresenta 
os membros superiores fletidos e os 
inferiores semifletidos, cabeça 
lateralizada e mãos cerradas. Quanto 
mais próximo do termo, maior o tônus 
muscular do neonato; 
 Esqueleto e membros: avaliar a presença 
de deformidades ósseas, inadequações 
de mobilidade e dor à palpação de todos 
os ossos e articulações do RN. 
 Aparelho geniturinário: a primeira diurese 
pode se dar ainda na sala de parto ou nas 
primeiras 48 horas. Pontos vermelhos 
nas fraldas podem ser encontrados pela 
presença de urato (sais comuns em urina 
ácida), mas desaparecem com o tempo e 
não são importantes para a clínica. 
o Sexo masculino: o pênis normal do 
RN mede entre 2 e 3 cm. O 
examinador deve apalpar a bola 
escrotal, averiguando se houve a 
descida dos testículos de forma 
completa; 
o Sexo feminino: proeminência dos 
pequenos lábios e do clitóris. Pode 
ser vista secreção esbranquiçada 
mais ou menos abundante. 
 Sistema nervoso: necessário observar 
atitude, reatividade, choro, tônus, 
movimentos e reflexos. 
O ALOJAMENTO CONJUNTO: 
O alojamento conjunto (AC) é um sistema 
hospitalar instituído pela Portaria MS/GM nº 
1016, de 26 de agosto de 1993 (mas a 
idealização desse sistema remonta a 1977), 
no qual o recém-nascidosadio, logo após o 
nascimento, permanece ao lado da mãe 24 
horas por dia, no mesmo ambiente até a alta 
hospitalar. 
Na primeira hora após o parto, o estado de 
consciência da mãe e do bebê favorece a 
interação entre eles. Nesse período, o 
profissional de saúde deve favorecer ao 
máximo o contato íntimo, pele a pele, entre 
mãe e bebê, evitando procedimentos 
desnecessários ou que possam ser 
postergados. A separação da mãe e do bebê 
ou a sedação da mãe privam o binômio 
desse momento fundamental. 
O AC consiste na assistência hospitalar 
simultânea à puérpera e ao RN, colocados 
lado a lado no pós-parto. A mãe é estimulada 
a amamentar e cuidar de sua criança tão 
logo quanto possível com o objetivo principal 
de proporcionar e fortalecer o vínculo mãe-
filho e favorecer o aleitamento materno. 
Essa forma de alocamento tem como 
principais benefícios: 
 Humanização no cuidado do conjunto 
mãe-bebê e de sua família; 
 Manutenção da convivência contínua 
entre mãe e bebê, favorecendo o 
conhecimento mútuo e a pronta 
satisfação de necessidades físicas e 
emocionais do RN; 
 Maior envolvimento de terceiros (pais e 
outros membros da família) no cuidado 
futuro com a criança; 
 Estabelecimento de vínculo afetivo 
precoce entre mãe e filho; 
 Possibilidade da mãe (principalmente 
quando primagesta) aprender noções e 
cuidados com o recém-nascido, 
aumentando sua autoconfiança; 
 Promoção do aleitamento materno; 
 Tranquilidade materna quanto ao cuidado 
direcionado para o RN; 
 Troca de experiências com mães que 
dividem o mesmo quarto; 
 Maior interação e construção de vínculos 
entre a família e os profissionais de saúde 
envolvidos no cuidado do binômio mãe-
filho; 
 Redução do risco de infecção hospitalar. 
Todo conjunto mãe-filho com as seguintes 
características deve permanecer em AC até 
a alta hospitalar, por no mínimo 48h: mãe 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
livre de patologias que contraindiquem o 
contato com o RN, bebês com boa vitalidade, 
capacidade de sucção e controle térmico 
(geralmente têm mais que 2,2kg, mais de 35 
semanas de gestação e índice de Apgar 
maior ou igual a seis no 5º minuto). 
O atendimento ao RN no alojamento 
conjunto deve ser feito na presença da mãe. 
Em um primeiro contato, caso o profissional 
ainda não conheça a família, deve 
apresentar-se à mãe e aos familiares, se 
presentes, tendo o cuidado de tratá-los pelo 
nome. 
BOAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS NO ALOJAMENTO 
CONJUNTO: 
A equipe de saúde atuante no AC tem como 
atribuições: 
 Encorajar o aleitamento materno em livre 
demanda; 
 Não fornecer outros alimentos ou bebidas 
ao RN, a menos que indicados pela 
equipe médica; 
 Não dar bicos artificiais (chupetas) aos 
neonatos, pois isso pode causar 
“confusão de bicos” e afetar o 
desenvolvimento da lactação 
(movimentos distintos dos lábios e língua 
no processo de amamentação e ao sugar 
uma chupeta); 
 Orientar as mães para evitar a 
amamentação cruzada (amamentar 
outros RN ou deixar que seu filho seja 
amamentado por outra mulher), 
buscando evitar a contaminação por 
patógenos capazes de ser liberados pelo 
leite materno; 
 Realizar visitas diárias para orientar e 
assegurar a mãe quanto ao estado de 
saúde do seu filho. 
O profissional de saúde deve prover 
atendimento humanizado e seguro às 
mulheres, aos RN, aos acompanhantes, aos 
familiares e aos visitantes, e ser capaz de 
acolhê-los. 
Acolher implica recepcionar o usuário, desde 
sua chegada, responsabilizando-se 
integralmente por ele, ouvindo suas queixas, 
permitindo que ele expresse suas 
preocupações e angústias, e dando-lhe 
respostas adequadas, considerando suas 
experiências. 
Além de possuir os conhecimentos e 
habilidades necessários, o profissional 
também precisa se comunicar com 
eficiência, objetivo alcançado com o auxílio 
do aconselhamento (ouvir, entender, discutir 
e ajudar na tomada de decisões). Essa 
ferramenta requer confiança da mãe para 
com o profissional, conseguida por meio da 
demonstração real de interesse deste último. 
Cabe também a equipe de saúde orientar a 
mãe e a família quanto a aspectos 
importantes do cuidado com o recém-
nascido, como: 
 Amamentação: os primeiros dias são 
imprescindíveis para o aleitamento bem-
sucedido, sendo importante abordar 
aspectos relativos ao tempo de duração 
do fornecimento de leite materno (se 
possível por dois anos ou mais), o papel 
da exclusividade da amamentação 
durante os seis primeiros meses, a 
flexibilidade do tempo de permanência 
em cada mama por mamada, a 
prevenção de problemas decorrentes da 
amamentação, a manutenção de hábitos 
maternos saudáveis, o desenvolvimento 
de técnicas adequadas para a nutrição do 
bebê e a capacitação na ordenha do leite 
(a alta deve ser realizada com a mãe 
sabendo ordenhar seu leite, pois em 
diversos momentos essa habilidade pode 
ser útil); 
 Uso de mamadeira: deve ser 
contraindicado de modo a evitar o 
desmame precoce. Fornecer água e chás 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
nos primeiros meses de vida também não 
é recomendado, devendo o profissional 
explicar que somente o leite materno já é 
suficiente para satisfazer todas as 
necessidades nutricionais daquele bebê; 
 Uso de chupeta: deve ser 
desaconselhado por interferir na duração 
do aleitamento e no desenvolvimento 
futuro da criança, como mudanças no 
formato do palato e maior número de 
infecções orais; 
 Comportamento normal do recém-
nascido: deve ser fundamentalmente 
enfocado no AC, pois a compreensão da 
mãe e das pessoas que vão conviver com 
o bebê acerca de alguns 
comportamentos habituais da criança 
pequena é fundamental para a 
tranquilidade de todos os membros da 
família, uma vez que a má interpretação 
dos comportamentos fisiológicos desse 
recém-nascido pode interferir 
negativamente em sua saúde física e 
mental. É importante enfatizar para a mãe 
que cada bebê é único, respondendo de 
maneiras diferentes às diversas 
experiências. Comparações com filhos 
anteriores ou com outras crianças devem 
ser evitadas, podendo inclusive interferir 
na interação entre mãe e filho; 
 Interação com o bebê: o contato entre 
mãe e filho nos primeiros dias de vida é 
muito importante para uma relação sadia 
no futuro. Deve ser abordado que essa 
interação pode ser realizada sem medo 
de torna-lo mais dependente, pois o 
carinho e a proteção tendem a aumentar 
sua confiança. Para que esses momentos 
sejam melhor aproveitados, é importante 
informar sobre os estágios de maior 
atividade do RN (estado quieto-alerta) e 
sobre suas competências. Já no 
alojamento conjunto, os profissionais 
devem estimular o pai da criança, quando 
presente, a participar ativamente dos 
cuidados com o bebê. A exemplo do 
vínculo mãe-bebê, os primeiros meses de 
convivência são cruciais no 
estabelecimento da função paterna; 
 Posição da criança dormir: a prática de 
colocar o RN para dormir em decúbito 
dorsal no AC e o fornecimento de 
informações claras quanto a esse 
posicionamento devem fazer parte da 
rotina do AC, evitando complicações 
futuras para esse bebê, seja por baixa 
qualidade de sono ou pela morte súbita 
associada à posição prona (de bruços); 
 Acompanhamento da criança: 
idealmente, toda criança deveria sair da 
maternidade já com o agendamento de 
sua primeira consulta (de preferência na 
primeira semana de vida). Os 
responsáveis ser orientados quanto à 
importância do teste do pezinho, que 
idealmente deve ser realizado entre o 
terceiro e o quinto dia de vida. Se a 
criança estiver internada com mais de 48 
horas de vida, o teste do pezinho deve 
ser colhido ainda na maternidade. A 
Caderneta da Criança deve ser 
preenchida pelo profissional que 
acompanhou aquele RN, e os pais devem 
ser estimulados a ler suas informaçõesiniciais; 
Cabe aos profissionais de saúde identificar 
as crianças que apresentam risco de 
adoecimento e morte de forma precoce na 
maternidade, recomendando o 
acompanhamento prioritário desta nas 
unidades de saúde, podendo ser empregada 
busca ativa. São considerados fatores de 
risco: 
 Residência em área de risco; 
 Baixo peso ao nascer (menor que 2,5kg); 
 Prematuridade; 
 Índice de Apgar menor que 5 no 5º minuto 
(indica asfixia grave); 
 Necessidade de internação ou 
intercorrências na assistência ao RN; 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
 Necessidade de orientações especiais no 
momento de alta; 
 Mãe adolescente; 
 Mãe com baixa instrução (8 anos ou 
menos de ensino formal); 
 Histórico familiar de morte em crianças 
menores de 5 anos. 
TESTES DE TRIAGEM NEONATAL: 
O Programa Nacional de Triagem Neonatal 
(PNTN) é uma ferramenta de rastreamento 
populacional que tem como objetivo geral 
identificar, em tempo hábil (entre 0 e 28 dias 
de vida), distúrbios e doenças no recém-
nascido, garantindo tratamento e 
acompanhamento contínuo às pessoas com 
diagnóstico positivo, de modo a reduzir a 
morbimortalidade e melhorar a qualidade de 
vida desses indivíduos. 
A premissa do PNTN foi inicialmente 
mencionada pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente ainda em 1990, definindo que 
hospitais e demais serviços de atenção à 
saúde da gestante, sejam eles públicos ou 
particulares, são obrigados a ofertar exames 
diagnósticos e terapêuticas adequadas para 
as anormalidades do metabolismo do RN, 
assim como orientar os pais acerca desses 
acometimentos. 
Em 2001, por meio de uma portaria do 
Ministério da Saúde, o Programa Nacional de 
Triagem Neonatal foi instituído no SUS. As 
doenças que integravam o programa nesse 
momento eram fenilcetonúria, 
hipotireoidismo congênito, doença falciforme 
e outras hemoglobinopatias e fibrose cística, 
analisadas por meio do “teste do pezinho”. 
Uma outra portaria, publicada em 2012, 
atualizou essa lista, que passou a contar com 
a triagem neonatal para hiperplasia adrenal 
congênita e deficiência de biotinidase. 
Outros exames foram adicionados 
posteriormente à essa iniciativa, como o 
teste do reflexo vermelho (“teste do olhinho”), 
a oximetria de pulso (“teste do 
coraçãozinho), o teste de acuidade auditiva 
(“teste da orelhinha”), e o “teste da 
linguinha”. 
A tiragem neonatal contempla o diagnóstico 
presuntivo, o diagnóstico de certeza, o 
tratamento, o acompanhamento dos casos 
avaliados e a associação de tecnologias para 
a promoção da saúde, a prevenção de 
agravos e o cuidado integral. 
É responsabilidade das equipes de saúde 
alocadas nas maternidades, casas de parto 
ou centros de saúde indígena, alertar e 
orientar a puérpera e familiares sobre a 
necessidade de realização dos testes de 
triagem neonatal no ponto de coleta da 
Atenção Básica adstrito à sua residência, 
quando a coleta não for realizada naquele 
local. 
TESTE DO PEZINHO: 
Esse exame de triagem neonatal utiliza 
amostras de sangue do RN para detectar 
anomalias metabólicas de forma precoce, 
identificando casos de hipotireoidismo 
congênito, fenilcetonúria, hemoglobinopatias 
(ex.: anemia falciforme), fibrose cística, 
hiperplasia adrenal congênita e deficiência 
de biotinidase. Sua realização deve ocorrer o 
mais rapidamente possível, de preferência 
entre o 3º e o 5º dia de vida do bebê. 
A coleta do material a ser analisado acontece 
nos pontos de atendimento da Atenção 
Básica em Saúde, podendo também, em 
alguns estados, ocorrer nas maternidades, 
casas de parto e comunidades indígenas. No 
entanto, independentemente do local 
escolhido para a realização da triagem 
biológica, esta deve ser registrada e 
informada nos sistemas do SUS. 
 Deve ser considerada como uma condição 
de exceção toda coleta realizada após o 28º 
dia de vida, mesmo que não recomendada, 
por se tratar de um exame fora do período 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
neonatal. As condições presentes nessa 
ressalva incluem a dificuldade de acesso em 
aldeias indígenas e populações do campo e 
da floresta, questões culturais e casos de 
negligência. 
Crianças que não tenham realizado o teste 
no período neonatal devem ser avaliadas 
pelo serviço médico para orientação e 
investigação diagnóstica específica, caso 
necessário. Essa busca será considerada 
com a finalidade de um diagnóstico tardio e, 
nessas condições, a criança detectada se 
beneficiará com o acesso ao tratamento e 
acompanhamento especializado e, 
consequentemente, a uma melhor qualidade 
de vida. 
Caso os pais se recuse a realizar a coleta, o 
profissional responsável deve orientá-los 
acerca dos riscos atrelados a essa decisão, 
e o ocorrido deve ser documentado com a 
assinatura dos responsáveis. 
PROCEDIMENTO DE COLETA E ENTREGA DOS 
RESULTADOS: 
O primeiro passo para a coleta da amostra 
de cada criança consiste na lavagem das 
mãos e colocação de luvas de procedimento. 
O profissional deve então posicionar a 
criança de modo que o calcanhar se 
mantenha abaixo do nível do coração 
(favorece a circulação para os pés da 
criança). O acompanhante deve ficar de pé, 
segurando o RN, enquanto o realizador está 
sentado de frente para o bebê. 
Realiza-se a assepsia do calcanhar com 
algodão ou gaze embebida suavemente em 
álcool 70%, massageando bem o local para 
aumentar o fluxo sanguíneo (região deve 
ficar avermelhada). 
A punção deve ser feita com lancetas 
próprias para a coleta de sangue periférico, 
e o local deve ser escolhido de forma 
adequada, sempre nas laterais plantares da 
região do calcanhar. O profissional deve 
segurar o pé da criança de forma a imobilizá-
lo, mas mantendo a circulação no local. 
 
Ao puncionar o local, deve-se aguardar a 
formação de uma grande gota de sangue, 
desprezada num algodão, pois pode conter 
outros fluidos teciduais capazes de modificar 
os resultados. Com a nova gota formada, 
encostar o verso do papel filtro no pé do 
bebê, movendo o primeiro em movimentos 
circulares até que as áreas demarcadas para 
coleta sejam preenchidas (só levantar o pé 
do bebê nesse ponto. Não é necessário que 
os limites do sangue coincidam com os 
limites dos círculos impressos no papel-filtro. 
Esse processo deve ser repetido em todos 
os pontos de coleta, jamais retornando a um 
círculo incompleto. 
 
Se o fluxo de sangue for interrompido, o 
profissional de saúde deve fazer uma nova 
massagem na região, comprimindo-a com 
algodão para remover o tampão de fibrina. 
Caso ainda assim não seja possível retornar 
a coleta, uma nova punção deve ser 
realizada. 
É necessário fazer a verificação imediata da 
qualidade da amostra, colocando o papel 
filtro contra a luz. Todo o círculo deverá ter 
um aspecto translúcido na região molhada 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
com o sangue, que deverá estar espalhado 
de forma homogênea. O RN não pode ser 
dispensado até que se assegure a coleta 
correta. Após o término do procedimento, a 
criança deve ser deitada, e seu calcanhar é 
levemente pressionado para estancar o 
sangramento, podendo ser feito um curativo 
no local. 
Após a coleta e a verificação, as amostras 
serão secas em temperatura ambiente e 
enviadas para o laboratório, onde será feita 
a análise. Entre a realização do exame e o 
transporte não devem se passar mais do que 
dois dias, porem o uso de refrigeradores 
pode ser empregado em casos excepcionais 
(coleta no fim de semana ou em locais 
isolados). 
Todos os resultados deverão ser entregues 
às famílias o mais breve possível, assim que 
a Unidade de Coleta os receba do 
Laboratório Especializado, fisicamente ou 
por meio eletrônico. Como esse momento 
traz ansiedade para a família, é necessário 
informar claramente a conformidade da 
amostra com os parâmetrosanalisados, 
propondo estratégias de conformação e 
acompanhamento em caso de retorno 
sugestivo para determinada doença. 
DOENÇAS INVESTIGADAS: 
FENILCETONÚRIA: 
A fenilcetonúria é um dos erros inatos do 
metabolismo, com padrão de herança 
autossômico recessivo. O defeito metabólico 
gerado, frequentemente causado pela 
enzima Fenilalanina Hidroxilase, leva ao 
acúmulo do aminoácido Fenilalanina (FAL) 
no sangue e ao aumento da excreção 
urinária de Ácido Fenilpirúvico. Foi a primeira 
doença genética a ter tratamento 
estabelecido com terapêutica dietética 
específica. 
Sem a triagem precoce e o início de 
tratamento antes do 3º mês de vida, a 
criança afetada pela Fenilcetonúria 
apresenta quadro clínico clássico, 
caracterizado por atraso global do 
desenvolvimento neuropsicomotor, 
deficiência mental, comportamento agitado 
ou padrão autista, convulsões, alterações 
eletroencefalográficas e odor característico 
na urina. 
Recomenda-se que a coleta seja feita 
somente após 48 horas do nascimento, pois, 
para que o aumento da FAL possa ser 
detectado, é fundamental que a criança 
tenha ingerido uma quantidade suficiente de 
proteína. 
O tratamento consiste basicamente em uma 
dieta com baixo teor de FAL, mantendo-se os 
níveis adequados desse aminoácido para 
permitir o crescimento e desenvolvimento 
normais do indivíduo. 
HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO: 
O Hipotireoidismo Congênito (HC) é causado 
pela incapacidade da glândula tireoide do 
recém-nascido em produzir quantidades 
adequadas de hormônios tireoidianos, que 
resulta numa redução generalizada dos 
processos metabólicos. 
O quadro de manifestações clínicas inclui 
hipotonia muscular, dificuldades 
respiratórias, cianose, icterícia prolongada, 
constipação, bradicardia, anemia, 
sonolência excessiva, choro rouco, hérnia 
umbilical, alargamento de fontanelas, sopro 
cardíaco, dificuldade na alimentação com 
deficiente crescimento pôndero-estatural, 
atraso na dentição, retardo na maturação 
óssea, pele seca e sem elasticidade, atraso 
de desenvolvimento neuropsicomotor e 
retardo mental. 
O tratamento da doença consiste na 
reposição dos hormônios deficitários, 
reposição de levotiroxina sódica, sal sódico 
do isômero sintético da Tiroxina (T4). Sua 
utilização produz a normalização do estado 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
metabólico que se encontra deficiente no 
hipotireoidismo. 
DOENÇA FALCIFORME E DEMAIS 
HEMOGLOBULINEMIAS: 
A Doença Falciforme (DF) é uma afecção 
genética com padrão de herança 
autossômico recessivo, causada por um 
defeito na estrutura da hemoglobina, que 
leva as hemácias a assumirem forma de lua 
minguante, quando expostas a determinadas 
condições, como febre alta, baixa tensão de 
oxigênio ou infecções. As alterações 
genéticas nessa proteína (hemoglobina) são 
transmitidas de geração em geração. 
O paciente afetado apresenta as seguintes 
alterações clínicas: anemia hemolítica, 
crises vaso-oclusivas, crises de dor, 
insuficiência renal progressiva, acidente 
vascular cerebral, maior susceptibilidade a 
infecções e sequestro esplênico. Podem 
ocorrer também alterações no 
desenvolvimento neurológico, com provável 
etiologia vaso-oclusiva de sistema nervoso 
central. 
FIBROSE CÍSTICA: 
A fibrose cística (FC) é uma doença 
hereditária grave determinada por um padrão 
de herança autossômico recessivo e afeta 
principalmente os pulmões e o pâncreas, que 
são obstruídos pelo aumento da viscosidade 
do muco (favorece infecções respiratórias 
crônicas e má nutrição). Muitas crianças com 
FC não apresentam nenhum sinal ou 
sintoma da doença ao nascimento. Isso pode 
perdurar por semanas, meses ou mesmo 
anos. 
O curso clínico da doença se caracteriza por 
períodos de remissão e períodos de 
exacerbação, com aumento da frequência e 
gravidade das exacerbações com o passar 
do tempo. Sintomas mais graves e 
complicações incluem a desnutrição, o 
diabetes, a insuficiência hepática e a 
osteoporose. No trato gênito urinário, 
observa-se puberdade tardia, azoospermia 
em até 95% dos homens, e infertilidade em 
20% das mulheres. 
O exame confirmatório dos casos suspeitos 
é a dosagem de cloretos no “Teste de Suor”. 
A quantidade anormal de sal nas secreções 
corporais, especialmente no pulmão e no 
pâncreas, leva a uma perda pelo suor, fato 
que é característico da doença em bebês e 
crianças maiores. 
O tratamento do paciente com Fibrose 
Cística consiste em acompanhamento 
médico regular, suporte dietético, utilização 
de enzimas pancreáticas, suplementação 
vitamínica (vitaminas A, D, E, K) e 
fisioterapia respiratória. 
HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA: 
A Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) 
engloba um conjunto de síndromes 
transmitidas de forma autossômica 
recessiva, que se caracterizam por 
diferentes deficiências enzimáticas na 
síntese dos esteroides adrenais. 
As manifestações clínicas na HAC 
dependem da enzima envolvida e do grau de 
deficiência enzimática (total ou parcial). A 
apresentação clínica pode se expressar por 
insuficiência glicocorticoide, insuficiência 
mineralocorticoide, excesso de andrógenos 
ou ainda por insuficiência de andrógenos. 
DEFICIÊNCIA DE BIOTINIDASE: 
A Deficiência de Biotinidase (DBT) é uma 
doença metabólica hereditária na qual há um 
defeito no metabolismo da biotina. Como 
consequência, ocorre uma depleção da 
biotina endógena devido a uma incapacidade 
do organismo fazer a sua reciclagem ou de 
usar a biotina ligada à proteína fornecida 
pela dieta. 
Clinicamente, manifesta-se a partir da sétima 
semana de vida, com distúrbios neurológicos 
e cutâneos, tais como crises epiléticas, 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
hipotonia, microcefalia, atraso do 
desenvolvimento neuropsicomotor, alopecia 
e dermatite eczematoide. Nos pacientes com 
diagnóstico tardio observam-se distúrbios 
visuais, auditivos, assim como atraso motor 
e de linguagem. 
O tratamento medicamentoso é muito 
simples, de baixo custo e consiste na 
utilização de biotina em doses diárias, de 
acordo com a subclassificação da deficiência 
de biotina, baseada em testes quantitativos. 
TESTE DO OLINHO: 
O teste do olhinho, também chamado de 
Teste do Reflexo Vermelho (TRV) é um 
exame simples, rápido, indolor e de baixo 
custo realizado em recém-nascidos, cujo 
objetivo é a detecção precoce de problemas 
oculares congênitos que comprometem a 
transparência dos meios oculares e que 
podem impedir o desenvolvimento visual 
adequado. 
Inicialmente esse método era utilizado para 
avaliar a simetria de fixação binocular e 
identificar estrabismo. A observação do 
reflexo vermelho da retina indica que as 
estruturas oculares internas estão 
transparentes. A opacidade desses meios 
pode causar leucocoria (pupila branca) ou 
perda do reflexo. 
A realização desse teste não deve substituir 
a consulta oftalmológica a qual todo bebê 
deve ser submetido em seu primeiro ano de 
vida, pois ele não é suficiente para assegurar 
a saúde ocular plena da criança. 
O TRV é realizado com o oftalmoscópio 
direto, cuja luz projetada nos olhos, 
atravessa as estruturas transparentes, 
atinge a retina e se reflete, causando o 
aparecimento do reflexo vermelho 
observado nas pupilas (semelhante ao que 
ocorre em fotos tiradas com flash). Esse tom 
é atribuído à vascularização da retina e do 
coroide e ao epitélio pigmentado. Na 
presença de opacidade dos meios oculares 
no eixo visual, esse reflexo estará ausente 
ou diminuído. 
Durante o teste, a sala em penumbra facilita 
a observação dos reflexos, não havendo a 
necessidade de dilatação das pupilas com 
colírios. O oftalmoscópio deve ser 
posicionado a uma distância de 50 cm a um 
metro dos olhos do recém-nascido (cerca de 
um braço esticado). Em seguida, localizam-
se os olhos da criança através do orifício do 
equipamento e iluminam-sesuas pupilas. 
Observa-se então, o reflexo vermelho em 
cada uma delas, avaliando-se sua presença 
ou ausência e na presença, comparar a 
intensidade e simetria entre os olhos. 
No resultado do TRV consideram-se três 
respostas possíveis: reflexo presente, 
ausente ou duvidoso, este último quando há 
assimetria evidente ou suspeita do reflexo 
alterado, sendo um resultado duvidoso até 
por não se saber qual é o reflexo do olho 
normal. 
 
Reflexos vermelhos presentes e simétricos em 
ambos os olhos (normal) 
 
Leucoria no olho direito 
 
Reflexo vermelho duvidoso por assimetria, mais 
brilhante no olho esquerdo (estrábico) 
Se o reflexo for ausente em um ou ambos os 
olhos ou duvidoso, a criança deverá ser 
encaminhada ao oftalmologista para ao 
exame oftalmológico completo de modo a 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
elucidar o diagnóstico e assegurar a conduta 
necessária. 
As principais causas de TRV alterado são a 
catarata congênita, glaucoma congênito, 
retinoblastoma, leucoma, inflamações 
intraoculares da retina e vítreo, retinopatia da 
prematuridade (ROP) no estágio 5, 
descolamento de retina, vascularização fetal 
persistente e hemorragia vítrea. Também 
podem alterar o reflexo vermelho produzindo 
assimetria entre os olhos a presença de 
estrabismo, anisometropia (erros de refração 
distintos entre os olhos), altas ametropias, 
luxações de cristalino e malformações como 
o coloboma de polo posterior. 
O teste do reflexo vermelho é realizado pelo 
pediatra na maternidade, antes da alta do 
recém-nascido. Embora todos tivessem que 
ser submetidos ao teste, se não for possível, 
deve-se realizá-lo o mais breve ainda no 
primeiro mês de vida. Recomenda-se ainda 
que o teste seja repetido durante as visitas 
pediátricas regulares, e toda vez que se 
suspeitar de alguma anomalia ocular. Filhos 
de ais com doenças oculares de caráter 
hereditário ou de mães acometidas por 
doenças infecciosas na gestação devem 
tanto realizar o “teste do olhinho” como 
também ser encaminhados para avaliação 
oftalmológica. 
TESTE DO CORAÇÃOZINHO: 
O teste do coraçãozinho, denominação 
popular para o teste da oximetria de pulso, 
busca averiguar a presença de cardiopatias 
congênitas críticas (afetam 1 ou 2:1000 RN), 
que podem evoluir rapidamente para 
choque, hipóxia e óbito precoce caso não 
diagnosticada precocemente. 
Essas doenças podem ser causadas por 
fluxo pulmonar ou sistêmico dependente do 
canal arterial, ou por transposição das 
grandes artérias. 
Na maioria das Unidades Neonatais, a alta 
hospitalar é realizada entre 36 e 48 horas de 
vida, período no qual a manifestação clínica 
desses acometimentos pode não ter 
ocorrido, com ausculta normal. 
O diagnóstico precoce é fundamental, pois 
pode evitar choque, acidose, parada 
cardíaca ou agravo neurológico antes do 
tratamento da cardiopatia. Idealmente, esse 
rastreamento seria realizado por meio de 
ecocardiograma com mapeamento de fluxo 
em cores, seja no período fetal ou pós-natal, 
porém ele é inacessível para triagem em 
amplo espectro. 
No grupo dessas cardiopatias ocorre uma 
mistura de sangue entre as circulações 
sistêmica e pulmonar, o que acarreta uma 
redução da saturação periférica de O2. Neste 
sentindo, a aferição da oximetria de pulso de 
forma rotineira em recém-nascidos 
aparentemente saudáveis nascidos a termo 
tem mostrado uma elevada sensibilidade e 
especificidade para detecção precoce destas 
doenças. 
A oximetria deve ser aferida no membro 
superior direito e em um dos membros 
inferiores. Para que essa medição seja 
adequada, é necessário que o recém-
nascido esteja com as extremidades 
aquecidas e o monitor evidencie uma onda 
de traçado homogêneo. 
Os resultados esperados são a saturação 
periférica maior ou igual a 95% em ambas as 
medidas e diferença menor que 3% entre o 
membro superior direito e membro inferior. 
Caso os resultados sejam diferentes desse 
padrão, o teste deve ser refeito após uma 
hora. Se ainda se mantiverem deturpados, o 
RN deve ser submetido a um 
eletrocardiograma nas próximas 24h. 
Este teste apresenta sensibilidade de 75% e 
especificidade de 99%, logo não descarta a 
necessidade de realização de exame físico 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
minucioso e detalhado em todo recém-
nascido, antes da alta hospitalar. 
 
TESTE DA ORELHINHA: 
A prevalência da deficiência auditiva varia de 
um a seis neonatos para cada mil nascidos 
vivos, número considerado elevado quando 
comparado a outras doenças passíveis de 
triagem na infância, como fenilcetonúria 
(1:10.000), e anemia falciforme (2:10.000). 
São diversos os fatores de risco para o 
desenvolvimento de disfunções auditivas no 
período neonatal, como infecções 
congênitas, Apgar entre 0 e 4 no 1º minuto, 
anomalias craniofaciais, uso de medicações 
ototóxicas, permanência na UTI por mais de 
5 dias e antecedentes familiares de surdez 
permanente desde a infância. 
A Triagem Auditiva Neonatal (TAN) tem por 
finalidade a identificação de forma mais 
precocemente possível da deficiência 
auditiva nos neonatos e lactentes. Consiste 
no teste de medidas fisiológicas e 
eletrofisiológicas da audição, com o objetivo 
de encaminhar os infantes para diagnóstico 
dessa deficiência, e propor intervenções 
adequadas à criança e sua família. 
Esse teste deve ser realizado no primeiro 
mês de vida do infante (preferencialmente 
após 24 a 48h do nascimento), 
independentemente da presença de fatores 
de risco. Ele é organizado em duas etapas, 
teste e reteste, ambos indolores e não 
invasivos, realizados por fonoaudiólogos em 
3 a 5 minutos, sendo possível aplica-lo 
mesmo durante o sono da criança. 
Um pequeno fone é acoplado na orelha do 
RN, gerando estímulos sonoros que 
mostram como o ouvido do recém-nascido 
reage aos sons. Dois resultados podem ser 
extraídos desse exame: se o ouvido do bebê 
responder aos sinais propostos, ele 
apresenta audição normal e deve iniciar a 
fala em torno de 1 ano de vida e ser capaz 
de construir frases simples aos 2 anos. Caso 
isso não aconteça, é indicado realizar uma 
nova avaliação da audição, e o bebê deve 
ser enviado o para um acompanhamento que 
inclui a realização de outros exames para 
esclarecer se o problema é temporário ou 
permanente. 
 
TESTE DA LINGUINHA: 
O teste da linguinha é um exame 
padronizado que possibilita diagnosticar e 
indicar o tratamento precoce das limitações 
dos movimentos da língua causadas pela 
anquiloglossia (língua presa) que podem 
comprometer as funções exercidas pela 
língua: sugar, engolir, mastigar e falar. 
Esse teste deve ser realizado por um 
profissional da área da saúde qualificado, 
como por exemplo, o fonoaudiólogo. Ele 
deve elevar a língua do bebê para verificar 
se está presa, e também observar o bebê 
chorando e sugando. O exame não tem 
contraindicações e deve ser feito 
precocemente, por volta de 48h após o 
nascimento. Recomenda-se que a avaliação 
do frênulo da língua seja inicialmente 
realizada na maternidade. A avaliação 
precoce é ideal para que os bebês sejam 
diagnosticados e tratados com sucesso, 
evitando maiores complicações. 
Existem graus variados de língua presa, por 
isso a importância de haver um teste que 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
leva em consideração os aspectos 
anatômicos e funcionais para fazer um 
diagnóstico preciso e indicar a necessidade 
da realização do “pique no frênulo lingual”. 
 
Para posicionar adequadamente o bebê, é 
solicitado que a mãe ou responsável apoie a 
nuca da criança no espaço entre o braço e o 
antebraço, segurando as mãos desta. Para 
elevar a língua é utilizada uma manobra 
específica onde são introduzidos os dedos 
indicadores enluvados embaixo da língua, 
pelas margens laterais, evitando abrir 
demais a boca doRN. Se o escore dos sinais 
observados for superior a 7, um reteste deve 
ser feito após 30 dias, momento no qual será 
definida a real necessidade de intervenção 
cirúrgica. 
ADAPTAÇÕES CARDIOPULMONARES DO RECÉM-
NASCIDO: 
O sistema cardiovascular fetal é planejado 
de modo a suprir as necessidades pré-natais 
e a permitir modificações após o nascimento 
para estabelecer a circulação neonatal. 
A boa respiração do recém-nascido é 
dependente das mudanças circulatórias 
normais ao nascimento, que resultam na 
oxigenação do sangue nos pulmões quando 
cessa a corrente sanguínea vinda da 
placenta. Os pulmões pré-natais não fazem 
trocas gasosas e os vasos pulmonares estão 
contraídos. As três estruturas vasculares 
mais importantes na circulação de transição 
são: o ducto venoso, o forame oval e o ducto 
arterial. 
CIRCULAÇÃO FETAL: 
O sangue altamente oxigenado e rico em 
nutrientes retorna da placenta por meio da 
veia umbilical. Ao se aproximar do fígado, 
cerca da metade do sangue sob alta pressão 
passa diretamente para o ducto venoso (DV), 
um vaso fetal que comunica a veia umbilical 
com a veia cava inferior (VCI). A outra 
metade do sangue da veia umbilical flui para 
os sinusoides hepáticos e entra na VCI 
através das veias hepáticas. 
 
A circulação do sangue através do DV é 
regulada por um esfíncter próximo à veia 
umbilical. Quando o esfíncter se relaxa, 
passa mais sangue por esse ducto. Quando 
o esfíncter se contrai, mais sangue é 
direcionado para a veia porta e sinusoides 
hepáticos e menos para o DV. Embora um 
esfíncter anatômico tenha sido descrito no 
ducto venoso, sua presença não é 
universalmente aceita. Entretanto, acredita-
se que exista um esfíncter fisiológico que 
impede a sobrecarga do coração, quando o 
fluxo na veia umbilical é alto, por exemplo, 
durante as contrações uterinas. 
Após um pequeno trajeto na VCI, o sangue 
entra no átrio direito do coração. Como a VCI 
contém sangue pobremente oxigenado vindo 
dos membros inferiores, do abdome e da 
pelve, o sangue que chega ao átrio direito 
não é tão bem oxigenado quanto o que vem 
da veia umbilical, mas ainda apresenta alto 
teor de O2. 
A maior parte do sangue da VCI é 
direcionado pela borda inferior do septo 
secundário, a crista dividens, através do 
forame oval, para o átrio esquerdo. Nesse 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
local, ele se mistura com uma quantidade de 
sangue relativamente pequena e fracamente 
oxigenada que está retornando dos pulmões 
pelas veias pulmonares. Os pulmões fetais 
extraem oxigênio do sangue, em vez de 
provê-lo. O sangue passa, então, do átrio 
esquerdo para o ventrículo esquerdo e deixa, 
assim, o coração através da aorta 
ascendente. 
As artérias para o coração, cabeça, pescoço 
e membros superiores recebem sangue bem 
oxigenado. A pequena quantidade de 
sangue bem oxigenado da VCI que sobra no 
átrio direito se mistura ao sangue pouco 
oxigenado da VCS e do seio coronariano e 
passa para o ventrículo direito. Esse sangue, 
com um conteúdo médio de oxigênio, deixa 
o coração através do tronco pulmonar. 
Cerca de 10% do sangue vai aos pulmões, 
mas a maior parte dele passa através do 
ducto arterial para a aorta descendente e vai 
para o corpo fetal, retornando para a 
placenta através das artérias umbilicais. O 
DA protege os pulmões da sobrecarga 
circulatória e permite que o ventrículo direito 
se fortaleça em preparação para a sua total 
capacidade funcional após o nascimento. 
Por causa da alta resistência vascular 
pulmonar na vida fetal, a circulação pulmonar 
é baixa. 
Somente um pequeno volume de sangue da 
aorta ascendente (cerca de 10% do débito 
cardíaco) entra na aorta descendente. 
Aproximadamente 65% do sangue na aorta 
descendente passam para as artérias 
umbilicais e retornam para a placenta para a 
reoxigenação. Os 35% restantes suprem as 
vísceras e a parte inferior do corpo (sangue 
menos oxigenado). 
 
MODIFICAÇÕES PARA A CIRCULAÇÃO NEONATAL: 
Ao nascer, ocorrem importantes mudanças 
circulatórias quando é cessada a ação da 
placenta, e os pulmões do neonato se 
expandem, iniciando seu funcionamento. 
Logo que o bebê nasce, o forame oval, o DA, 
o DV e os vasos umbilicais não são mais 
necessários. O esfíncter do DV se contrai de 
tal forma que todo o sangue que entra no 
fígado passa através dos sinusoides 
hepáticos. O fechamento da circulação 
placentária causa uma queda imediata da 
pressão sanguínea na veia cava inferior e no 
átrio direito. 
O processo de aporte de gases pelos 
pulmões está associado a queda expressiva 
da resistência vascular local, ao aumento 
acentuado da circulação sanguínea 
pulmonar, e ao adelgaçamento progressivo 
das artérias da região (decorrente do 
estriamento provocado pela dilatação dos 
pulmões). 
Em virtude do aumento da circulação 
sanguínea, a pressão no átrio esquerdo 
torna-se então mais alta do que no átrio 
direito, fechando o forame oval por 
pressionar a sua válvula contra o septum 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
secundum. Todo o sangue do ventrículo 
direito flui agora para o tronco pulmonar. 
Como a resistência vascular pulmonar é 
mais baixa do que a resistência vascular 
sistêmica, o fluxo sanguíneo no DA se 
inverte, passando da aorta para o tronco 
pulmonar. 
Como o ventrículo direito trabalhava mais 
ativamente durante o desenvolvimento fetal, 
suas paredes são mais espessas no RN, 
porém essa dinâmica é alterada tão logo o 
primeiro mês de vida se completa, pois agora 
é o ventrículo esquerdo o mais ativo, 
atrofiando a musculatura do lado menos 
usado. 
O DA se contrai ao nascimento, mas há 
frequentemente um pequeno desvio de 
sangue, utilizando essa via, da aorta para o 
tronco pulmonar por 24 a 48 horas em um 
bebê normal a termo. Ao final das 24 horas, 
20% dos ductos estão funcionalmente 
fechados, 82% em 48 horas e 100% em 96 
horas. O oxigênio é o fator mais importante 
no controle do fechamento do ducto arterial 
em bebês a termo. 
O fechamento do DA parece ser mediado 
pela bradicinina, uma substância liberada 
pelos pulmões durante a sua distensão 
inicial. A bradicinina tem potentes efeitos 
contráteis na musculatura lisa. A ação dessa 
substância parece estar na dependência do 
alto teor de oxigênio do sangue aórtico 
resultante da aeração dos pulmões ao 
nascimento. Quando a PO2 do sangue que 
passa através do DA alcança 
aproximadamente 50 mmHg, a parede do 
ducto se contrai. Os mecanismos pelos quais 
o oxigênio causa a constrição ductal não são 
ainda compreendidos. Os efeitos do oxigênio 
no músculo liso ductal podem ser diretos ou 
mediados por seus efeitos na secreção de 
prostaglandina E2 (PGE2). O fator β de 
crescimento transformante P (TGF-p) 
provavelmente está envolvido no 
fechamento anatômico do DA após o 
nascimento. 
Durante a vida fetal, a abertura do DA é 
controlada pelo baixo teor de oxigênio no 
sangue que atravessa esse dueto e por 
produção de prostaglandinas (PG) 
endógenas que atuam no músculo liso de 
sua parede, causando o seu relaxamento. A 
hipóxia e outras influências ainda mal 
definidas causam a produção local de PGE2 
e prostaciclina, que mantêm o DA aberto. 
As artérias umbilicais contraem-se ao 
nascimento, impedindo a perda de sangue 
do bebê. O cordão umbilical não é ligado por 
um minuto ou mais, de modo que o fluxo 
sanguíneo continua através das veias 
umbilicais, transferindo o sangue fetal da 
placenta para o bebê. A mudança do padrão 
circulatório fetal para o padrão adulto não 
ocorre repentinamente. Algumas alterações 
ocorrem com a primeira respiração, outras 
têm lugar após horas e dias. Durante a fase 
de transição, pode haver um fluxo da direita 
para a esquerda através do forame oval. O 
fechamento das estruturas necessárias a 
circulação fetal é, inicialmente, uma 
alteraçãofuncional. Mais tarde, o 
fechamento anatômico resulta da 
proliferação de tecidos epitelial e fibroso. 
 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
DERIVAÇÕES DAS ESTRUTURAS VASCULARES 
FETAIS: 
Em virtude da alteração da circulação fetal 
para a neonatal, algumas estruturas 
anteriormente funcionais passam a não ser 
mais necessárias. Nesse contexto, após 
alguns meses, surgem as seguintes 
modificações: 
 Veia umbilical e ligamento redondo: a 
veia umbilical permanece patente por um 
período considerável após o nascimento, 
podendo ser empregada para a 
realização de transfusões no período 
neonatal. Mesmo em adultos esse vaso 
pode manter-se viável, uma vez que a 
porção intra-abdominal da veia umbilical 
se torna o ligamento redondo do fígado, 
ligado ao ramo esquerdo da veia porta; 
 Ducto Venoso e Ligamento Venoso: o DV 
transforma-se no ligamento venoso, que 
perpassa o fígado desde o ramo 
esquerdo da veia porta até a VCI, à qual 
é conectado; 
 Artéria Umbilicais e Ligamentos 
Abdominais: a maior porção do segmento 
intra-abdominal das artérias umbilicais se 
torna os ligamentos umbilicais mediais, 
ao passo que a região proximal destes 
vasos persiste como as artérias vesicais 
superiores, que suprem a bexiga urinária; 
 
 Forame e Fossa Oval: o forame oval 
geralmente se fecha fisiologicamente 
com o nascimento, porém o fechamento 
anatômico se dá no terceiro mês e resulta 
da proliferação de tecidos e da fusão do 
septum primum com a margem esquerda 
do septum secundum, compondo o 
assoalho da fossa oval. A borda inferior 
do septum secundum forma uma prega 
arredondada, a margem da fossa oval (L. 
limbus fossae ovalis) que marca o limite 
inicial do forame oval. Há, 
frequentemente, uma impressão em 
forma de lua crescente no lado esquerdo 
do septo interatrial, que indica o local 
original do forame oval; 
 
 Ducto Arterial e Ligamento Arterial: 
normalmente, o fechamento funcional do 
DA é completado nos primeiros dias após 
o nascimento. O fechamento anatômico 
dessa estrutura e a formação do 
ligamento arterial normalmente ocorrem 
até a 12a semana. Esse ligamento denso 
e curto vai da artéria pulmonar esquerda 
ao arco da aorta, auxiliando o suporte 
desse esquema vascular. 
 
 
A ASFIXIA PERINATAL: 
A asfixia perinatal refere-se a injúrias 
causadas ao RN decorrentes de condições 
durante a primeira e segunda etapas do 
trabalho de parto que comprometem a troca 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
gasosa para o bebê, causando hipoxemia e 
hipercapenia fetal. 
Sua identificação se dá por meio da acidose 
fetal, mensurada no sangue arterial do 
cordão umbilical. O pH sanguíneo que define 
a asfixia não é o principal determinante de 
lesões cerebrais, uma vez que mesmo com 
pH inferior a 7,0 a probabilidade de 
comprometimento no cérebro é baixa. 
A asfixia perinatal acomete 
aproximadamente 1 a 1,5% dos nascidos 
vivos em países desenvolvidos, sendo 
inversamente proporcional à IG e ao peso ao 
nascer. Esse quadro é responsável por cerca 
de 20% dos óbitos no período neonatal, 
número que pode aumentar para 50% ao 
considerarem-se os natimortos. A incidência 
mais elevada é observada em recém-
nascidos de mães diabéticas ou toxêmicas, 
naqueles com restrição do crescimento 
intrauterino, apresentação pélvica e recém-
nascidos pós-termo. 
Em recém-nascidos a termo, a asfixia pode 
ocorrer no período pré-parto ou durante o 
parto, em decorrência diminuição das trocas 
gasosas através da placenta, o que leva a 
inadequação no suprimento de oxigênio e na 
remoção de dióxido de carbono e hidrogênio 
(H+) do feto. Esse quadro também pode 
ocorrer no período pós-parto, geralmente 
secundária a anormalidades pulmonares, 
cardiovasculares ou neurológicas. 
Dentre os fatores que aumentam o risco de 
desenvolvimento da asfixia perinatal 
incluem-se: 
 Disfunções na oxigenação materna; 
 Diminuição do fluxo sanguíneo materno 
em direção à placenta; 
 Redução do fluxo placentário para o feto; 
 Troca gasosa prejudicada, seja a nível 
placentário ou nos tecidos fetais; 
 Aumento da demanda fetal por O2; 
As possíveis etiologias para hipóxia (redução 
de oxigênio) e isquemia (restrição de fluxo 
sanguíneo) podem ser múltiplas, incluindo: 
 Fatores maternos: hipertensão, 
hipotensão, infecções, hipóxia decorrente 
de doenças pulmonares ou cardíacas, 
diabetes, doenças vasculares e 
exposição à cocaína; 
 Fatores placentários: implantação 
anormal (acretismo placentário), 
descolamento, infarto e fibrose da 
placenta; 
 Ruptura uterina; 
 Disfunções e acidentes com o cordão 
umbilical (prolapso, nó verdadeiro, 
anormalidades vasculares e 
compressões); 
 Fatores fetais: anemia, infecções, 
cardiomiopatia, hidropsia, insuficiência 
cardíaca/circulatória grave; 
 Fatores neonatais: hipertensão 
persistente do recém-nascido, 
cardiomiopatias, doença congênita 
cianótica do coração, e outras 
modalidades de choque (cardiogênico ou 
séptico) neonatal. 
A respeito da fisiopatologia da asfixia 
perinatal e de suas complicações, alguns 
eventos comuns durante o curso do trabalho 
de parto fazem com que a maior parte dos 
RN apresente baixas reserva de oxigênio, 
como a redução do fluxo sanguíneo 
placentário decorrente das contrações 
uterinas, desidratação e alcalose (resultado 
da hiperventilação) materna, a consequente 
diminuição na liberação de O2 para o feto, e 
o aumento generalizado do consumo de 
oxigênio pelo binômio mãe-filho. 
A hipóxia-isquemia causa uma série de 
modificações bioquímicas e fisiológicas, a 
saber: 
 Em quadros de asfixia leve, há elevação 
transitória sucedida por diminuição da 
FC, elevação moderada na pressão 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
arterial, crescimento na pressão venosa 
central e nenhuma alteração no débito 
cardíaco. Essas alterações são 
acompanhadas por redistribuição do DC 
em proporção aumentada para o 
encéfalo, coração e glândulas 
suprarrenais (fenômeno denominado 
reflexo do mergulho). Quando o grau de 
asfixia é grave, mas ainda de duração 
breve, esses desvios não ocorrem, 
culminando no padrão de lesões típicas 
no núcleo subcortical e no tronco 
encefálico; 
 Na asfixia prolongada, pode haver perda 
na autorregulação da pressão ou na 
vasorreatividade ao CO2. Esse 
acometimento pode levar a outras 
perturbações no fluxo sanguíneo 
cerebral, principalmente quando há 
envolvimento cardiovascular com 
hipotensão e/ou diminuição no débito 
cardíaco. A diminuição no fluxo 
sanguíneo cerebral resulta em 
metabolismo anaeróbico e eventual falha 
energética celular, em virtude do 
aumento na utilização de glucose pelo 
encéfalo e queda na concentração de 
glicogênio, fosfocreatina e ATP. A asfixia 
prolongada normalmente resulta em 
lesão difusa às estruturas corticais e 
subcorticais, com maior prejuízo para as 
populações neuronais particularmente 
suscetíveis a quadros de hipóxia e 
isquemia; 
 As disfunções celulares se dão em 
virtude da redução da fosforilação 
oxidativa e da produção de ATP. Esse 
déficit energético afeta o funcionamento 
da bomba de íons, causando acúmulo de 
Na+, Cl-, H2O e Ca2+ intracelular, e K+ 
extracelular, além de neurotransmissores 
excitatórios. Esses prejuízos podem 
ocorrer durante os agravos iniciais da 
hipóxia-isquemia, ou se manifestarem de 
forma secundária, entre 6 e 24 horas 
após o episódio. A morte celular pode ser 
imediata ou tardia, promovida por 
necrose ou apoptose. 
o A morte imediata (necrose) de 
neurônios pode ocorrer por sobrecarga 
osmótica de sódio e cálcio intracelular 
resultante de defeitos na bomba 
iônica, ou na falha da regulação de 
neurotransmissores excitatórios que 
atuam na manutenção dos níveis de 
íons; 
o A morte neuronal tardia (apoptose) 
ocorre de forma secundária à ativaçãodescontrolada de enzimas e segundos 
mensageiros no interior da célula (a 
maioria deles dependente de algum 
dos íons em concentração elevada), 
perturbação no transporte de elétrons 
no ciclo respiratório das mitocôndrias, 
produção de radicais livres e óxido 
nítrico (citotóxicos) e depleção das 
reservas energéticas; 
o Caso o tecido previamente isquêmico 
sofra reperfusão, os danos causados 
podem ser ainda maiores, uma vez 
que esse processo pode causar a 
formação excessiva de espécies 
reativas de oxigênio, sobrecarregando 
os mecanismos endógenos de limpeza 
e causando prejuízos aos lipídios, 
proteínas e ácidos nucleicos celulares, 
bem como à barreia hematoencefálica. 
Todo esse mecanismo pode causar 
um influxo de neutrófilos que, juntos à 
micróglia ativada, liberam citocinas 
inflamatórias e tóxicas. 
Sobre os possíveis desfechos em crianças 
com asfixia perinatal, a frequência de 
sequelas no desenvolvimento 
neuropsicomotor na infância e de 30%. 
Sobreviventes desse quadro tem risco de 
desenvolvimento de paralisia cerebral (PC) 
variando entre 5 a 10%, comparado a 0,2% 
na população geral. Nota-se que a maior 
parte das PC não é relacionada à asfixia, e a 
maior parte dos casos de asfixia perinatal 
não causa PC. 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
O prognóstico específico dependerá da 
gravidade da encefalopatia desenvolvida, se 
houveram ou não convulsões e dos 
resultados de exames de imagem e de 
eletroencefalogramas. 
Os estágios clínicos de Sarnat para a 
encefalopatia por hipóxia-isquemia auxiliam 
o profissional de saúde a determinar as 
possíveis complicações: 
 Estágio 1 (encefalopatia leve): 98% a 
100% dos RN terão desfecho neurológico 
normal, pois os impactos ao tecido 
neuronal são brandos. A mortalidade 
nesse grupo é de menos de 1%; 
 Estágio 2 (encefalopatia moderada) 20 a 
37% dos afetados morrem ou manifestam 
desenvolvimento neurológico anormal. 
Exames de imagem e a avaliação da 
ocorrência de convulsões podem ajudar a 
refinar esse prognóstico. Esse grupo se 
beneficia das medidas de hipotermia 
terapêutica; 
 Estágio 3 (encefalopatia grave): há maior 
chance de morte, inclusive ocasionada 
pela retirada de aparelhos de suporte de 
vida quando houverem evidências de 
lesões graves com prognóstico sombrio. 
Os sobreviventes podem ter uma ou mais 
deficiências graves no desenvolvimento 
neurológico, como PC, deficiência 
intelectual, deficiência visual ou epilepsia. 
A ocorrência de convulsões aumenta o risco 
de PC do recém-nascido em 50 a 70 vezes. 
A mortalidade e morbidade a longo prazo são 
mais elevadas para as convulsões que se 
iniciam dentro de 12 horas após o 
nascimento, são eletrográficas (vistas no 
EEG) ou são frequentes. 
ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS DO RECÉM-
NASCIDO: 
A pele tem função vital no período neonatal, 
pois fornece uma barreira protetora que 
auxilia na prevenção de infecções, facilita a 
termorregulação e ajuda a controlar a perda 
hídrica insensível e o equilíbrio eletrolítico, 
além de permitir a sensação tátil e a 
colaborar na proteção contra toxinas. 
As três camadas principais da pele são a 
epiderme, a derme e a camada subcutânea. 
A epiderme é a camada mais externa que 
constitui a primeira linha de proteção contra 
lesões. Exerce uma função de barreira 
crucial, conservando calor e líquido e 
conferindo proteção contra infecções e 
toxinas ambientais. Seu desenvolvimento 
estrutural geralmente está completo com 24 
semanas de gestação, mas a função de 
barreira da epiderme só se completa após o 
nascimento. A maturação demora 
tipicamente 2 a 4 semanas após a exposição 
ao ambiente extrauterino. A epiderme 
compõe-se principalmente de queratinócitos, 
que amadurecem formando o estrato córneo. 
A derme é composta de colágeno e fibras de 
elastina que conferem elasticidade e 
conectam a derme com a epiderme. Vasos 
sanguíneos, nervos, glândulas sudoríparas e 
folículos pilosos são outros componentes 
essenciais desse estrato. A camada 
subcutânea, composta por tecido conjuntivo 
adiposo, confere isolamento, proteção e 
armazenamento calórico. 
RN prematuros apresentam menos camadas 
de estrato córneo do que um indivíduo 
nascido a termo, condição evidenciada pelo 
aspecto rosado e translúcido da cútis desses 
neonatos. 
A inspeção e a avaliação diárias de todas as 
superfícies cutâneas são parte essencial dos 
cuidados com a pele do neonato, permitindo 
diagnóstico e intervenções precoces em 
caso de lesões ou outras alterações 
dermatológicas. Ferramentas próprias para a 
avaliação da pele podem ser empregadas, 
geralmente investigando a presença de 
eritema, ressecamento e feridas. 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
 
Lesões de pele encontradas no exame físico 
do RN podem ser congênitas ou adquiridas 
no período perinatal. Podem ainda 
representar condições transitórias 
(referentes à fisiologia da maturação da pele) 
ou permanentes. Embora a maioria das 
dermatoses neonatais compreenda 
erupções momentâneas ou lesões de pele 
benignas (como o eritema tóxico), podem 
também ser o sintoma de infecções graves 
(por exemplo, herpes simples neonatal) ou 
doenças genéticas (epidermólise bolhosa). 
Alguns fatores de risco para o 
desenvolvimento desses quadros são a 
prematuridade, o uso de equipamentos de 
monitorização e fitas adesivas, a presença 
de edema, a imobilidade (lesões por 
pressão), o uso de medicamentos e a 
exposição a dispositivos capazes de gerar 
lesões térmicas. 
A limpeza do RN deve ser feita com cautela, 
pois esse é um momento propício para o 
desenvolvimento de feridas e demais 
complicações dermatológicas. O primeiro 
banho deve ser dado entre 2 a 4 horas após 
a internação, após a estabilização da 
temperatura, de modo a evitar hipotermia. O 
ambiente deve estar aquecido, e os 
sabonetes devem ser suaves e não alcalino, 
sem perfumes e corantes. A frequência 
preferível é não mais do que 2 ou 3 banhos 
por semana. 
A prevalência de doenças de pele no período 
neonatal varia entre 40 a 99%, dependendo 
do local de realização dos estudos. Os 
acometimentos mais comuns são: 
 Eritema tóxico: é uma lesão cutânea 
transitória comum (20 a 60% dos RN) 
marcada pela erupção de pápulas, 
máculas ou vesículas benignas, 
assintomáticas e autolimitadas. As lesões 
se iniciam entre 24 e 72 horas de vida, 
sendo caracterizadas pelas lesões 
supracitadas, circundadas por um halo 
eritematoso de 1 a 2 cm. Ainda que seja 
mais comum no tronco, pode acometer 
toda a pele, com exceção de palmas e 
plantas. A etiologia é desconhecida e são 
sugeridos fatores ambientais, irritação 
mecânica e química. Como o 
desaparecimento é espontâneo é 
necessário apenas assegurar a mãe 
quanto a benignidade da erupção; 
 
 Angiomas planos (nevos 
telangiectásicos): são originados da 
dilatação vascular superficial excessiva, 
criando uma zona vermelha na pele. 
Existem diversos acometimentos dentro 
dessa classificação, como: 
o Mancha salmão: ocorre em 50 a 70% 
dos RN de pele branca, caracterizada 
por manchas róseas de limite 
indefinido, desaparecendo ao 
pressionar o local. É mais frequente 
na região occipital e na glabela, 
recebendo os nomes de “bicada da 
cegonha” ou “beijo dos anjos”. Sua 
coloração se torna mais intensa com 
o choro e o esforço, pois é causada 
por imaturidade vascular. Sua 
evolução é marcada por melhora 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
gradativa até o desaparecimento 
total, entre o 1º e o 3º ano de vida; 
 
o Mancha vinho do Porto: é uma lesão 
permanente decorrente de 
malformação dos capilares. 
Caracteriza-se por mancha de 
coloração vinhosa intensa e 
homogênea que não se altera pelo 
esforço. Sua localização é frequente 
na face, geralmente de forma isolada 
e unilateral, mas também podem 
indicara ocorrência de uma síndrome 
extracutânea. 
 
 Melanose pustulosa transitória neonatal: 
representa uma dermatose benigna e 
autolimitada que acomete somente 1 a 
4% dos RN, mais observada em crianças 
com a pele mais retinta. As lesões são 
presentes ao nascimento, representadas 
por pústulas vesiculosas de poucos 
milímetros que podem acometer todo o 
corpo, não se esquivando das regiões 
palmar e plantar. Em seguida, essas 
lesões se rompem, liberando um corante 
descamativo que evolui para manchas 
hipercrômicas, o que auxilia no 
diagnóstico. Na dúvida, a coleta de 
material da pústula indicará a presença 
de acúmulo de neutrófilos e escassos 
eosinófilos e a cultura para bactérias será 
negativa. Não requer tratamento já que a 
melhora é espontânea, sem lesões 
residuais; 
 
 Mílio/Cisto de milia: são pápulas de 
aspecto perolado observadas em 50% 
dos RN, localizadas principalmente na 
região frontal ou no mento, mas podendo 
ser encontradas em outros pontos. 
Consistem em cistos de inclusão 
epidérmica, próximo a folículos 
pilosebáceos, persistindo por semanas 
ou meses sem que seja necessário 
tratamento; 
 
 Miliária: observada principalmente em 
regiões de clima quente, em RN em 
estado febril ou colocados em 
incubadoras, pois é causada por 
obstrução das glândulas sudoríparas. 
Devido à sua etiologia, apresenta piora 
em situações de estresse térmico e 
roupas justas. Na miliária cristalina, a 
obstrução é causada por detritos de 
queratinócitos, formando vesículas 
superficiais de 1 a 2 mm de diâmetro sem 
eritema. Localiza-se principalmente na 
face, cabeça, pescoço e tronco superior, 
manifestando-se nos primeiros dias de 
vida. Na miliária rubra, a obstrução é mais 
profunda, na derme, resultando em 
pequenas pápulas avermelhadas pelo 
processo inflamatório. Sua aparição é 
mais tardia, depois da primeira semana 
de vida. Na miliária rubra (também 
chamada de brotoeja), o nível da 
obstrução é superficial, extracórneo. 
Manifesta-se por vesículas superficiais, 
transparentes, de 1 a 2mm de diâmetro, 
sem atividade inflamatória ao redor, 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
contendo exclusivamente suor. 
Localizam-se na região cervical, nas 
axilas e no tronco. O tratamento consiste 
em evitar o aquecimento, utilizando 
roupas adequadas ao clima; 
 
 Bolhas de sucção: caracterizadas por 
bolhas individuais ou erosões no dorso 
das mãos e dedos, oriundas dos 
movimentos de sucção exercidos na vida 
intrauterina; 
 
 Manchas mongólicas: frequente em toda 
a população da América Latina, acomete 
10% dos brancos, 40% dos latinos, 80% 
dos negros e 90% dos orientais. 
Caracteriza-se por manchas de 
coloração marrom azulada ou arroxeada 
localizadas principalmente na região 
lombosacral, mas pode afetar também o 
tronco e as extremidades. O tamanho 
pode variar de poucos a vários 
centímetros, e tende a desaparecer com 
o passar dos anos. Sua causa é um 
defeito na migração dos melanócitos da 
crista neural para a derme durante o 
desenvolvimento embrionário, causando 
sua acumulação nessa última região. 
Pelo caráter auto-involutivo não 
necessitam de tratamento; 
 
 Impetigo: é uma infecção bacteriana 
superficial da pele muito comum e 
altamente contagiosa, vista mais 
frequentemente em áreas úmidas da 
pele, como área das fraldas, virilha, axilas 
e dobras do pescoço. Inicia-se 
geralmente ao redor de 2 a 3 dias de vida, 
sob a forma de lesões superficiais 
vesiculares, pustulosas ou bolhosas, 
sobre base eritematosa, que se rompem 
facilmente, formando crostas. A 
incidência de impetigo nas unidades de 
cuidados neonatais é um excelente 
indicador da qualidade da prevenção de 
infecções de uma maneira geral. O 
tratamento será tópico ou sistêmico 
dependendo do estado clínico do RN. 
Considerando-se que os agentes 
etiológicos mais frequentes, recomenda-
se o uso de unguento ou creme de 
mupirocina a 2% nas lesões. Deve-se 
evitar o contato do medicamento com os 
olhos; 
 
 Verniz caseoso: o feto é revestido por 
uma película de gordura protetora no 
terceiro trimestre de gestação, 
protegendo o concepto contra a abrasão 
do líquido amniótico, permitindo o 
desenvolvimento adequado da pele. Ao 
nascimento, fica evidente a presença 
dessa camada, branca e graxenta, que 
facilita a passagem pelo canal do parto. 
O verniz confere ainda um sistema de 
defesa poderoso, além de conferir 
barreira mecânica contra bactérias. Isso 
ocorre pois algumas das suas proteínas 
constituintes são peptídeos 
antimicrobianos e citocinas (Il-1a, IL-1b e 
IL-6). A quantidade e distribuição corporal 
dessa substância varia com a IG, a via de 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
parto, a raça e o contato com mecônio. O 
verniz representa uma importante ajuda 
para a transição entre o meio 
extremamente hidratado e de alta 
pressão hidrostática do útero, para o 
meio extrauterino, que é seco e de baixa 
pressão. O ressecamento lento do estrato 
córneo é necessário para a proteólise da 
filagrina e produção do fator de 
hidratação natural. Nesse contexto, o 
verniz caseoso não deve ser removido 
nas primeiras horas de vida (exceto se 
houver risco de transmissão de doenças 
maternas), aguardando o momento do 
banho. 
 
A ICTERÍCIA NEONAATAL: 
A icterícia é um dos problemas neonatais 
mais comuns, secundária a níveis de 
bilirrubina indireta (BI) superiores a 1,5mg/dL 
ou de bilirrubina direta (BD) maior que 
1,5mg/dL, desde que esta represente mais 
que 10% do valor de bilirrubina total (BT). A 
coloração amarelada da pele, principal 
indício clínico desse acometimento, torna-se 
presente quando os níveis sanguíneos desse 
pigmento se mantêm entre e 5 a 7 mg/dL. 
A icterícia pode estar presente ao 
nascimento ou aparecer em qualquer 
momento do período neonatal, dependendo 
da etiologia. Ela geralmente fica visível em 
progressão cefalocaudal, com início na face 
e avanço para o abdome e depois até os pés, 
à medida que os níveis séricos aumentam. A 
pressão sobre a pele pode revelar a 
progressão anatômica do quadro. 
A bilirrubina é formada a partir do 
metabolismo do heme pigmento, resultante 
da remoção de hemácias envelhecidas e do 
catabolismo da mioglobina, proteínas e 
enzimas hepáticos. Esse pigmento, sob ação 
da enzima heme oxigenase, produz uma 
molécula de CO excretada pelos pulmões, 
uma molécula de biliverdina e uma molécula 
de ferro incorporada às reservas do 
organismo. 
A biliverdina, já no sistema retículo-
endotelial, sofre a ação da biliverdina 
redutase e se transforma em bilirrubina 
nativa (IX Bilirrubina), que por sua vez se liga 
à albumina plasmática. O conjunto 
bilirrubina-albumina atinge o fígado, sendo 
que apenas a bilirrubina atravessa a 
membrana dos hepatócitos ligando-se a uma 
proteína denominada ligandina. No retículo 
endoplasmático liso do hepatócito a 
bilirrubina é conjugada com o ácido 
glicurônico pela ação da enzima UDP-
glicuronil-transferase, em 2 passos, 
formando primeiro monoglicuronato, depois 
diglicuronato, que é a forma predominante. 
Esse processo torna a bilirrubina conjugada 
e hidrossolúvel, podendo ser excretada para 
os canalículos biliares. Através das vias 
biliares, atinge a luz intestinal e, sob a ação 
das bactérias da flora local, é transformada 
em urobilinogênio, o qual ou é reabsorvido e 
excretado pelas vias urinárias ou é 
transformado em estercobilinogênio e 
eliminado pelas fezes. Uma pequena parcela 
dos glucurônides de bilirrubina que atingem 
a luz intestinal pode ser hidrolisada e retorna 
à forma de bilirrubina nativa e ácido 
glucurônico. Essa bilirrubina, novamente não 
conjugada, atravessa a mucosa intestinal e 
retorna à circulação, constituindo-se no 
chamado ciclo entero-hepático. 
Júlia Figueirêdo – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
 
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