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INSUFICIÊNCIA CARDÍACA 1. DEFINIÇÃO A insuficiência cardíaca é a incapacidade do coração em se adequar sua ejeção às necessidades metabólicas do organismo ou fazê-la somente através de elevadas pressões de enchimento. Em outras palavras, é quando o coração torna-se incapaz de distribuir sangue para todo o restante do organismo devido a algum problema existente anteriormente que gere um quadro de insuficiência cardíaca. O coração é o órgão central do sistema circulatório e bombeia cerca de 6 mil litros de sangue todos os dias para a circulação sistêmica e bate cerca de 40 milhões de vezes por ano. As doenças cardíacas são a principal causa de morte no mundo e a insuficiência cardíaca ocorre a partir da existência de uma dessas cardiopatias que acometem muitas pessoas pelo mundo. Como já dito, a ICC aparece como evolução final de varias doenças como HAS, valvopatias e IAM, além de estresses hemodinâmicos súbitos como fluidos, IAM extenso e oclusões provocadas por êmbolos e trombos formados na circulação. O prognóstico de ICC é muito complicado e a complicação apresenta evolução progressiva o que dificulta muito o tratamento dos doentes com ICC. 2. ANATOMIA DO CORAÇÃO O coração é um vaso sanguíneo central que possui estruturas especializadas que permitem exercer sua função de bomba com eficácia e permite a distribuição correta de sangue pelo organismo. As principais estruturas que garantem a fluidez correta do sangue pelo ciclo cardíaco são as quatro valvas cardíacas, subdivididas em valvas átrio ventriculares e valvas semilunares. As valvas atrioventriculares encontram-se entre o átrio e o ventrículo como o próprio nome já diz: a valva TRICÚSPIDE encontra-se entre o AD e o VD, enquanto a valva MITRAL encontra-se entre o AE e o VE do coração. As outras duas valvas existentes são denominadas de valvas SEMILUNARES e encontram-se nas artérias de saída do coração: no lado direito, na artéria pulmonar encontra-se a valva semilunar pulmonar e no lado esquerdo, na artéria aorta encontra-se a valva aórtica. Essas valvas são fundamentais para evitar o refluxo de sangue entre as cavidades cardíacas, garantindo a correta fluidez do ciclo cardíaco, problemas nessas valvas podem ser um ponto de inicio para ICC. Outra estrutura importante presente no coração são as artérias coronárias responsáveis por drenar o sangue ao próprio musculo do coração para que ele obtenha nutrientes suficientes para realizar os movimentos de contração e relaxamento cardíaco. O sangue entra pelo óstio das coronárias localizado na parte ascendente da artéria aorta logo abaixo da valva aórtica e entra no momento de diástole cardíaca em que a valva permanece fechada. A artéria coronária esquerda corre lateral e ventralmente entre a raiz do tronco pulmonar e o átrio esquerdo, se ramificando conforme percorre o musculo cardíaco. A ARTÉRIA DESCENDENTE anterior é responsável por irrigar a parede do VE e 2/3 do septo interventricular e a ARTÉRIA CIRCUNFLEXA irriga a parede lateral do VE. A artéria coronária direita geralmente dominante irriga toda a parede do VD e região póstero-basal do VE, além de 1/3 posterior do septo interventricular. 3. FISIOLOGIA CARDÍACA O coração assim como todo órgão possui células musculares na sua estrutura subdivididas em dois tipos: as células contráteis denominadas de miócitos que fazem a função mecânica da contração cardíaca. As outras células musculares são denominadas de células condutoras que possuem o objetivo de distribuir rapidamente os potenciais de ação para todo o musculo cardíaco, são células marca-passo e auto- despolarizantes. As principais células condutoras são o NÓ SINOATRIAL (SA) que gera potenciais de ação espontaneamente como se fosse um marca-passo e em condições fisiológicas normais é o único tecido capaz de gerar PA. A outra célula importante no processo de condução é o NÓ ATRIOVENTRICULAR (AV) responsável por diminuir a velocidade de condução e garantir que os ventrículos tenham tempo suficiente para relaxar e se encher de sangue antes da nova contração já que conduções rápidas no AV podem levar a diminuição do volume diastólico final, do volume sistólico e consequentemente do débito cardíaco. Existem células responsáveis por distribuir o PA para regiões mais afastadas do nó SA e AV do coração, permitindo que o coração se contraia como uma unidade geral. Essas estruturas são o Feixe de Hiss e as Fibras de Purkinje que se apresentam como vias de baixa resistência e condução extremamente rápida. Portanto, o sistema de condução cardíaco inicia-se no nó sinoatrial, percorre os feixes internodais, chega ao nó atrioventricular, percorre os feixes penetrantes, atinge o Feixe de Hiss e por fim as Fibras de Purkinje mais nas extremidades. As velocidades de condução são maiores nos feixes de Hiss e Purkinje, intermediaria nos feixes internodais atriais e ventriculares e menores no nó atrioventricular. Problemas no sistema de condução são detectados pelo ECG e levam a distúrbios no ciclo cardíaco que podem ocasionar complicações graves como o ICC. OBS: POTENCIAL DE AÇÃO NO CICLO CARDÍACO O musculo cardíaco, em termos de contração dos miócitos apresenta um caminho do PA diferente dos músculos esqueléticos em geral pela presença de uma FASE DE PLATÔ. Assim como todo musculo, a despolarização se inicia com a abertura dos canais de sódio que permitem a despolarização e passagem do PA gerado pelas células do SA e percorrido célula a célula pelo sistema de condução. A polaridade da membrana é elevada e a célula começa a se despolarizar, nesse instante se abrem os canais de cálcio voltagem dependentes nos túbulos T responsáveis por garantir a entrada de cálcio no interior da célula e promover a contração cardíaca a partir de uma série de mecanismos em cadeia. Quando a despolarização atinge o pico, ocorre a abertura de canais de potássio transitórios que diminuem a polaridade da célula cardíaca alguns mV, essa fase é denominada de fase 1 em que os canais de sódio se fecham. Nesse momento, ocorre a FASE de PLATÔ ou fase 2 em que os canais de cálcio se abrem e evitam a rápida repolarização causada pela abertura dos canais de potássio voltagem dependentes, a partir desse momento, a célula encontra-se em período refratário absoluto por algum tempo, é por isso que o tempo de diástole do coração é maior que o tempo de sístole, garantindo que o ventrículo tenha tempo para expulsar o sangue e relaxar, e as coronárias abastecerem o musculo cardíaco pelo sangue que retorna para as paredes da aorta ascendente. Por fim, na fase 3 ocorre a repolarização rápida, os canais de cálcio se fecham e mais canais potássio voltagem dependentes se abrem permitindo a repolarização da célula, retorno ao potencial de repouso cardíaco e preparando para o inicio de um novo ciclo cardíaco. E a fase 4 corresponde ao potencial de repouso em que a célula encontra-se relaxada com o potencial de membrana em torno de – 90 mV. OBS: POTENCIAL DE AÇÃO NAS CÉLULAS CONDUTORAS As células condutoras localizadas especificamente no coração apresentam um PA totalmente diferente das células contráteis cardíacas, esqueléticas e lisas. Por serem células marca-passo e gerarem PA para todo o musculo cardíaco, essas células apresentam particularidades interessantes. Inicialmente, apresenta um potencial de membrana menos negativo do que as células contráteis devido a presença de canais lentos de cálcio denominados de canais IFUNNY que não permitem que essas células possuam potencial de repouso e logo, já iniciem um ciclo se despolarizando. Ocorre a fase de despolarização rápida com a abertura dos canais de sódio assim como toda célula muscular, denominada de fase 0 em que a célulaalcança o limiar de despolarização. E existe uma fase 3 de repolarização com a abertura dos canais de potássio voltagem dependentes que permitem retornar ao potencial de “repouso” negativo a partir do fechamento dos canais de sódio voltagem dependentes. CONCEITOS DO CICLO CARDÍACO 1. PRÉ-CARGA: é a força ou carga exercida pelo miocárdio no final da diástole, ou seja, toda a força gerada pelo estiramento das fibras musculares ao máximo estresse da parede do ventrículo quando está cheio de sangue. 2. PÓS-CARGA: é a resistência ou pressão que os ventrículos têm que exercer para ejetar o volume sanguíneo para as artérias, ou seja, é a dificuldade enfrentada pelo ventrículo durante o processo de ejeção e o fator que mais interfere na pós-carga é a resistência vascular periférica, quanto mais resistente os vasos, mais força o ventrículo tem de fazer para ejetar o sangue. 3. DÉBITO CARDÍACO: é uma medida absoluta da quantidade de sangue bombeado pelo coração por minuto, sendo determinado pela seguinte formula: DC = FC x VS (em pessoas normais, cerca de 5L/min são ejetados em uma frequência de 70 bpm x 70 ml). 4. FRAÇÃO DE EJEÇÃO: é uma medida relativa que evidencia a porcentagem de sangue que foi ejetado pelo coração após o fim da sístole a partir da divisão do volume sistólico (diferença entre o volume sistólico final e o volume diastólico final) e o volume diastólico final: FE = VS/VDF. Todos esses conceitos são fundamentais no entendimento do ciclo cardíaco e essenciais para o diagnostico de ICC e detecção da causa dessa complicação cardíaca. 4. HISTOLOGIA CARDÍACA O coração apresenta três camadas que compõe esse órgão: o endocárdio, o miocárdio e o epicárdio. Denominado de musculo estriado cardíaco apresenta estrias transversais e apresenta mais de um núcleo por célula, geralmente dois núcleos. Histologicamente, apresenta estruturas especificas como desmossomos e gap junctions associadas aos discos intercalares que permitem a condução do PA célula a célula no miocárdio. É por isso que no Nó AV, devido a menor quantidade de gap junctions e discos intercalares que as demais células condutoras, ocorrem à diminuição da velocidade de condução do PA. Toda estrutura cardíaca está intimamente relacionada a função cardíaca e transmissão de impulso nervoso pelo coração, garantindo a eficácia no funcionamento desse órgão. 5. MECANISMOS REGULATÓRIOS Existem mecanismos regulatórios que como o próprio nome já diz, são mecanismos ativados para regular a função cardíaca quando esta se encontra prejudicada ou quando a carga de trabalho aumenta excessivamente de modo a manter a pressão e a perfusão sanguínea. 1. LEI DE FRANK-STARLING A lei de Frank-Starling é um mecanismo regulatório que relaciona a força com a tensão provocada pelo aumento do volume sanguíneo que chega ao ventrículo e o estiramento das fibras contráteis. Ou seja, quanto maior o volume sanguíneo que chega ao coração durante a diástole pelo retorno venoso, maior é a dilatação do coração e maior o estiramento das fibras. Esse aumento do estiramento das fibras aumenta a formação de pontes cruzadas funcionantes nos sarcômero que consequentemente aumentam a contratilidade das cavidades ventriculares garantindo a ejeção de todo o volume do retorno venoso. 2. ADAPTAÇÕES MIOCÁRDICAS As adaptações miocárdicas geralmente estão associadas à remodelação ventricular, sendo uma resposta compensatória do miocárdio ao aumento do trabalho mecânico, podendo ocorrer hipertrofia com ou sem dilatação da câmara cardíaca. A. HIPERTROFIA CONCÊNTRICA: Ocorre quando os sarcômero se depositam de maneira paralela ao maior eixo das células aumentando a pressão cardíaca. Embora considerada compensatória, a HVE é um precursor que pode levar maior morbimortalidade cardiovascular. Em concordância com essas observações, diversas evidências clínicas e epidemiológicas demonstraram que a HVE é um importante fator de risco para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca (IC) sistólica e diastólica. Além da massa miocárdica, a geometria ventricular também influencia o desenvolvimento de IC. Nesse contexto, a hipertrofia concêntrica corresponde ao padrão geométrico que tem sido mais associado à progressão para IC. Em outras palavras, a hipertrofia concêntrica é um tipo de adaptação compensatória do organismo que altera a disposição das fibras estriadas do musculo cardíaco, essa alteração promove alterações de pressão principalmente nas cavidades ventriculares podendo prejudicar os movimentos de diástole e sístole, levando a um quadro de ICC. B. HIPERTROFIA EXCÊNTRICA OU DE VOLUME: Como o próprio nome já diz, a hipertrofia excêntrica corresponde à hipertrofia com dilatação do cardiomiocitos, também é considerada uma adaptação compensatória do coração. No entanto, o aumento de volume pode prejudicar principalmente a força de tensão nas fibras e consequentemente prejudicar a força de contração que envia o sangue para as artérias e dessa forma, levar a um quadro patológico de ICC já que a expansão do coração faz com que as fibras se estendam menos e menor a tensão gerada. Ambas as hipertrofias citadas, ainda que consideradas adaptações compensatórias possam levar a um quadro patológico de insuficiência cardíaca e causar problemas vasculares sistêmicos. OBS: HIPERTROFIAS FISIOLÓGICAS Existem casos em que ocorre hipertrofia do coração de maneira fisiológica e é revertida com o passar do tempo, principalmente em situações de exercícios físicos. Em exercícios aeróbicos ocorre a hipertrofia de carga volumétrica ou excêntrica, ou seja, mais sangue chega e sai do coração para atender as necessidades metabólicas dos tecidos, ocorre o aumento da densidade capilar e uma diminuição da FC de repouso e da pressão arterial. Em exercícios estáticos ocorre uma hipertrofia de pressão ou concêntrica que parece mais provável estar associado a alterações deletérias. 3. ATIVAÇÃO DE SISTEMAS NEUROHUMORAIS: Ocorre a liberação de norepinefrina pelos nervos cardíacos adrenérgicos do sistema nervoso autônomo provocando o aumento da FC, da contratilidade miocárdica e da resistência vascular. Ocorre também a ativação do sistema RENINA- ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA: quando a pressão arterial cai (no caso da pressão sistólica, para 100 mm Hg ou menos), os rins liberam a enzima renina na corrente sanguínea. A renina se divide o angiotensinogênio, uma grande proteína que circula na corrente sanguínea. Uma parte é a angiotensina I. A angiotensina I, que se mantém relativamente inativa, é dividida em partes pela enzima de conversão da angiotensina (ECA). Uma parte é a angiotensina II, um hormônio que é muito ativo. A angiotensina II faz com que as paredes musculares das pequenas artérias (arteríolas) se contraiam, aumentando a pressão arterial. A angiotensina II também provoca a liberação do hormônio aldosterona pelas glândulas adrenais e da vasopressina (hormônio antidiurético) pela hipófise. A aldosterona e a vasopressina fazem com que os rins retenham sódio (sal). A aldosterona também faz com que os rins excretem potássio. O aumento de sódio faz com que a água seja retida, aumentando, assim, o volume de sangue e a pressão arterial. 6. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA A insuficiência cardíaca ou ICC é uma complicação resultante de outras cardiopatias como Doença coronariana, hipertensão arterial, cardiomiopatias, cardiopatia alcoólica, miocardites, doença valvas, cardiopatias congênitas, doença pericárdica, arritmias e drogas. A. CLASSIFICAÇÃO: A ICC pode ser classificada de diferentes maneiras conforme diferentes critérios como o tempo da doença, a fração de ejeção, o debito cardíaco e a morfologia. 1. CRONOLOGIA: Conformea cronologia podemos classificar a ICC em AGUDA que ocorre geralmente de maneira rápida e possuem um péssimo prognóstico resultado de um IAM extenso, miocardite, arritmia grave, trauma cardíaco e oclusão valvar. A ICC CRÔNICA é resultado de um processo lento e gradativo que permite um prognóstico mais fácil e de maneira mais eficaz que a aguda, tendo o paciente a possibilidade de sobreviver por longos períodos mesmo com a complicação. 2. FRAÇÃO DE EJEÇÃO: Em um quadro de ICC pode ocorrer ou não problemas na quantidade de sangue ejetado pelo coração para a circulação sistêmica, também denominado de fração de ejeção. Quando ocorre problemas na ejeção e a FE chega a ser menor que 45%, ou seja, a quantidade de sangue ejetado é menor que 45% da quantidade total presente no fim da diástole, dizemos que existe um IC com fração de ejeção reduzida ou sistólica, sendo a principal causa doenças que afetam as células contráteis como o IAM. Pode ocorrer, também, um quadro de IC em que não se apresenta fração de ejeção reduzida, mas sim preservada, denominamos esse quadro de IC com fração de ejeção preservada ou diastólica. Nesse caso de IC diastólica ocorre um déficit no relaxamento do ventrículo associado a altas pressões de enchimento, mesmo que o debito cardíaco permaneça relativamente preservado. O coração torna-se incapaz de aumentar sua produtividade em resposta a aumentos nas exigências metabólicas dos tecidos periféricos e qualquer aumento na pressão de enchimento é imediatamente encaminhado para a circulação pulmonar provocando um edema pulmonar. A HAS é a etiologia subadjacente mais comum, em outras palavras, o aumento da pressão de enchimento proporcionado pela necessidade de mais sangue aos tecidos durante um exercício físico promove uma sobrecarga ao coração com IC diastólica que possuem dificuldades no relaxamento dos miócitos e não consegue aumentar a produtividade para ejetar toda aquela quantidade de sangue “extra” necessário e o sangue que não é ejetado acaba sendo levado para a circulação pulmonar, provocando uma sobrecarga no pulmão caracterizando um edema. É como se o coração fosse transbordando com tanto sangue que chega já que ele não consegue acompanhar o ritmo e apenas manter aquela fração de ejeção normal. A causa de IC diastólica pode ser fibrose miocárdica provocada por cardiopatias isquêmicas, amiloidose cardíaca, sarcoidose, pericardite restritiva e senilidade. 3. DÉBITO CARDÍACO A dinâmica do coração ou o debito cardíaco que representa nada mais, nada menos que a quantidade de sangue bombeada pelo coração durante um determinado intervalo de tempo pode ou não sofrer alterações durante um quadro de IC. O debito cardíaco pode ser diminuído em razão de problemas na bomba cardíaca ou obstrução na chegada do sangue. Ou o debito cardíaco pode ser normal ou aumentado em que o coração não supre as necessidades do organismo ou por aumento da demanda metabólica ou por fístulas arteriovenosas como em casos de anemia grave, tireotoxicose e cirrose hepática. 4. MORFOLOGIA A forma de IC pode variar, sendo classificada em IC esquerda ou direita dependendo do local em que ocorre a complicação. A classificação de uma IC é somatória, ou seja, uma IC pode ser AGUDA, DIASTÓLICA, COM ALTO DÉBITO CARDÍACO E ESQUERDA. Portanto, a classificação não é excludente e todas as formas são utilizadas para determinar o nome da IC, o local, o tempo decorrente e as características. 7. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA ESQUERDA Como o próprio nome já diz, esse tipo de insuficiência provoca uma congestão, ou seja, um acumulo de sangue em determinadas regiões do lado esquerdo do coração, tanto átrio como ventrículo. O termo congestão é definido quando ocorre o acumulo de sangue resultado de algum problema no retorno venoso do sangue ou pode ser fruto de um quadro de IC, trombose ou embolia que impedem o fluxo normal do sangue para determinadas regiões. As causas para esse tipo de insuficiência pode ser uma doença cardíaca isquêmica como IAM que provocou perda de funcionalidade dos miócitos devido a processos de fibroses e necroses, pode ser causado por um quadro de HAS em que o coração não consegue bombear todo o sangue para fora das cavidades cardíacas devido a elevada pressão nas artérias. Doenças valvares na aórtica e mitrais podem promover alterações no fluxo do sangue e retorno para cavidades ventriculares ou atriais provocando o aumento de sangue no coração e doenças no miocárdio. Os efeitos provocados por esse tipo de insuficiência podem ser inúmeros como congestão na circulação pulmonar, ou seja, o coração fica transbordado de sangue e não consegue ejetá-lo do coração suficientemente e isso faz com que a pressão nas cavidades do lado esquerdo seja muito elevada e o sangue proveniente da circulação pulmonar não consiga fluir para essas cavidades e permaneça ali. Outro efeito é a estase do sangue nas cavidades cardíacas esquerdas devido ao mau funcionamento dos miócitos, ou das valvas, ou do aumento excessivo da pressão arterial impedindo que o sangue seja ejetado corretamente, provocando, além disso, uma hipoperfusão (pouco sangue) dos tecidos, levando a disfunção orgânica. No coração esse tipo de IC provoca anormalidades na estrutura cardíaca tanto no tamanho, como causando calcificações e estenoses, hipertrofia de miócitos e fibrose além de distúrbios no ritmo e trombose. A dilatação ventricular provoca uma sobrecarga atrial, e consequentemente uma dilatação atrial provocando focos anômalos, fibrilação atrial, estase e por fim, a formação de trombos. No pulmão, promove a formação de edemas e congestão que fazem com que o pulmão fique úmido, ocorre ainda edema perivascular e intersticial, expansão dos septos alveolares por edema e acumulo de liquido nos espaços alveolares. Ocorre o extravasamento dos eritrócitos presentes nos espaços alveolares que são fagocitados por macrófagos. Onde ocorreu um extravasamento de sangue, como um hematoma. As hemácias são fagocitadas por macrófagos que liberam o ferro, e este se acumula como HEMOSSIDERINA no citoplasma destes. Na insuficiência cardíaca esquerda, há aumento da pressão nos capilares do pulmão e extravasamento de hemácias para os alvéolos. Estas são fagocitadas por macrófagos, que ficam abarrotados de HEMOSSIDERINA e são conhecidos como células do vício cardíaco. A HEMOSSIDERINA é representada na imagem por grânulos marrom ou vermelho escuro devido à presença do ferro associado aos macrófagos. Observa-se no Raios-X a presença de fluido na região pulmonar que representa o acumulo de sangue no pulmão devido a uma insuficiência cardíaca congestiva representado pelas partes brancas espalhadas como se fossem manchas. Outros órgãos também são afetados com o quadro de insuficiência cardíaca como os RINS que assim como todo o sistema tecidual recebe menos sangue do coração e com isso, os rins ativam o sistema RAA que promove a retenção de sal e agua no organismo, aumentando a volemia sanguínea. Essa volemia faz com que o retorno venoso seja maior e o coração está insuficiente e não suporta esse volume sanguíneo, com isso, ocorre o represamento e estase do sangue no coração, provocando congestão e edema cardíaco e pulmonar. A hipoperfusão renal faz com que uma menor quantidade de componentes nitrogenados como a uréia seja liberado, promovendo uma intoxicação por componentes nitrogenados no sangue devido ao aumento da concentração desses compostos. E por fim, o cérebro pode ser afetado devido a diminuição do suprimento sanguíneo provocando um quadro de isquemia e hipóxia levando ao retardo, demência e até ao coma. 8. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA DIREITA A insuficiência cardíaca congestivadireita é semelhante a ICC que ocorre do lado esquerdo, no entanto, apresenta algumas características que são perceptíveis no diagnostico dessa complicação. A causa mais comum de ICC direita é justamente a ICC esquerda que prejudica a alteração de todas as cavidades do coração por uma reação em cadeia iniciada nas cavidades esquerdas. Uma característica principal dessa ICC direita é o que se denomina de COR PULMONALE que é o aumento do ventrículo direito provocado pela pneumopatia, o qual provoca hipertensão pulmonar arterial, sucedida por insuficiência ventricular direita. Em outras palavras, uma ICC esquerda promove a congestão cardíaca e pulmonar devido as grandes pressões em que as cavidades cardíacas esquerdas são submetidas evitando que o sangue entre por completo no coração. O pulmão congestionado aumenta a pressão interna nesse órgão e na artéria pulmonar, levando a um quadro de hipertensão pulmonar arterial, como a cavidade ventricular direita não consegue superar essa pressão, o sangue não passa para a artéria já que o ventrículo apresenta menor pressão do que a artéria pulmonar e se acumula naquela região ventricular, gerando uma congestão e ICC ventricular direita. Outros problemas pulmonares como doenças parenquimatosas do pulmão, distúrbios que afetam a vasculatura pulmonar como hipertensão pulmonar primária, tromboembolismo pulmonar recorrente e distúrbios que produzem hipóxia com vasoconstrição associada são as principais causas das pneumopatias. Em casos extremos pode ocorrer o abaulamento do septo ventricular à esquerda podendo causar disfunção ventricular esquerda. A ICC congestiva direita pode provocar problemas no fígado e no sistema portal levando a congestão dos vasos hepáticas e portais pode produzir alterações patológicas no fígado, no baço e no intestino. O individuo apresenta um quadro de HEPATOMEGALIA congestiva em que a congestão é mais proeminente em torno das veias centrolobulares, que mostram descoloração marrom-avermelhada e regiões periféricas mais pálidas, às vezes gordurosas (fígado noz-moscada). Quando a insuficiência cardíaca do lado esquerdo também está presente, na maioria dos casos, a hipóxia central grave produz necrose centrolobular, e se em tempo prolongado pode levar a fibrose e cirrose cardíaca. A hipertensão portal produz esplenomegalia congestiva, progredindo para um quadro de congestão crônica e edema da parede intestinal. Os espaços pleural, pericárdico e peritoneal são bastante afetados em decorrência do acumulo de liquido nesses locais gerando grandes derrames pleurais que podem causar áreas de atelectasia que é o colapso parcial ou total do pulmão. A transdução de fluido para a cavidade peritoneal pode gerar ainda um quadro grava de ascite, que é o acumulo de liquido em cavidades determinados pelo exame clinico através das manobras de percussão e piparote. Os tecidos subcutâneos também são afetados principalmente com edemas nos membros inferiores (sinal de Cacifo) e anasarca que é o edema generalizado e em grandes proporções. 9. DIAGNÓSTICO O diagnostico de insuficiência cardíaca pode ser realizada de varias formas a partir da clinica, de imagens e raios-x, via laboratorial, entre outros. O diagnostico laboratorial é útil nas emergências para diferenciar dispneia cardiogênica das demais causas e também é um marcador prognostico de IC a partir do valor de BNP no organismo. O BNP (Brain natriuretic peptide) é um neurohormônio secretado pelos ventrículos em resposta à expansão de volume e sobrecarga de pressão. Seus níveis estão correlacionados com medidas hemodinâmicas, tais como: pressão átrio direito, pressão capilar pulmonar e a pressão diastólica final do ventrículo esquerdo. Os níveis normais de BNP variam de 0 a 70 pg/ml. Interpretações do resultado devem incluir considerações sobre idade e sexo, sendo os maiores valores no sexo feminino e quanto maior a idade. Os valores também estão elevados nos pacientes com insuficiência renal acima de 100 pg/ml. Outro marcador de IC é o NT-próBNP que é um marcador ainda muito recente liberado de forma inativa juntamente com o BNP pelos ventrículos. E o ECG é um marco importante no diagnostico laboratorial de ICC apresentando quadro de taquicardia sinusal, arritmias e sobrecarga ventricular. OBS: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Um diagnostico diferencial é a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo do Adulto que possui um inicio mais agudo, com som estertores difusos no pulmão, sem B3 e aumento do trabalho respiratório, a radiografia de tórax apresenta infiltrados alveolares bilaterais. As principais causas de SDRA são sepse, pneumonia, aspiração de conteúdo gástrico, hemotransfusão, overdose e trauma. 10. PROGNÓSTICO O prognostico do paciente varia conforme a idade, os níveis elevados de BNP, a hiponantremia (redução da concentração de sódio no plasma sanguíneo por excesso de agua ou volemia), a classe funcional, a fração de ejeção, anemia, insuficiência renal, doença coronariana, B3 e QRS maior que 120 ms. Em geral, em IC agudas o prognostico é bastante complicado, em IC crônicas o prognostico é mais fácil devido ao avanço gradual da complicação, no entanto, são inúmeros os critérios que devem ser analisados, assim como as cardiopatias ou pneumopatias que levaram ao quadro de insuficiência. Existe uma classificação funcional denominada de NYHA ou critérios da New York Heart Association que classificam os pacientes conforme o risco e associam a sobrevida deles. 11. TRATAMENTO O tratamento de IC pode ser realizado de varias maneiras conforme as varias causas que antecederam o problema: - Farmacologia - Controle de comorbidades (DM e HAS) - Dieta hipossódica (2 a 3 gramas por dia) - Restrição hídrica - Parar tabagismo - Limitar o consumo de álcool - Exercícios físicos (classes I a III) - Imunização contra influenza e pneumococo.
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