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METODOLOGIA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA Prezado Aluno. O material que apresentamos foi produzido por professores atuantes no Sis- tema Universidade Aberta do Brasil e cedido por sua respectiva Universida- de à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior – CA- PES, que o disponibilizou para uso das Universidades integradas ao sistema. Coordenação UAB/UESC O módulo a seguir foi reproduzido para o uso na disciplina Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura, referente ao semestre 2012.2 Coordenação de Letras UAB/UESC Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura Florianópolis - 2011 Nilcéa Lemos Pelandré Nelita Bortolotto Isabel de Oliveira e Silva Monguilhott Eliane Santana Dias Debus 6º Período Governo Federal Presidente da República: Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação: Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância: Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenador da Universidade Aberta do Brasil: Celso José da Costa Universidade Federal de Santa Catarina Reitor: Alvaro Toubes Prata Vice-Reitor: Carlos Alberto Justo da Silva Secretário de Educação a Distância: Cícero Barbosa Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Yara Maria Rauh Müller Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão: Débora Peres Menezes Pró-Reitor de Pós-Graduação: Maria Lúcia de Barros Camargo Pró-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social: Luiz Henrique Vieira da Silva Pró-Reitor de Infra-Estrutura: João Batista Furtuoso Pró-Reitor de Assuntos Estudantis: Cláudio José Amante Centro de Ciências da Educação: Wilson Schmidt Curso de Licenciatura Letras-Português na Modalidade a Distância Diretora Unidade de Ensino: Felício Wessling Margotti Chefe do Departamento: Zilma Gesser Nunes Coordenadoras de Curso: Roberta Pires de Oliveira e Zilma Gesser Nunes Coordenador de Tutoria: Renato Miguel Basso Coordenação Pedagógica: LANTEC/CED Coordenação de Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem: Hiperlab/CCE Comissão Editorial Tânia Regina Oliveira Ramos Izete Lehmkuhl Coelho Mary Elizabeth Cerutti Rizzati Equipe de Desenvolvimento de Materiais Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED Coordenação Geral: Andrea Lapa Coordenação Pedagógica: Roseli Zen Cerny Produção Gráfica e Hipermídia Design Gráfico e Editorial: Ana Clara Miranda Gern; Kelly Cristine Suzuki Coordenação: Thiago Rocha Oliveira, Laura Martins Rodrigues Adaptação do Projeto Gráfico: Laura Martins Rodrigues, Thiago Rocha Oliveira Diagramação: Karina Silveira, Talita Nunes Capa: Gustavo Barbosa Apocalypse de Mello Tratamento de Imagem: Karina Silveira, Talita Nunes, Thiago Rocha Oliveira Revisão gramatical: Daniela Piantola, Hellen Melo Pereira, Mirna Saidy Design Instrucional Coordenação: Vanessa Gonzaga Nunes Designer Instrucional: Maria Luiza Rosa Barbosa Copyright © 2011, Universidade Federal de Santa Catarina/LLV/CCE/UFSC Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Coordena- ção Acadêmica do Curso de Licenciatura em Letras-Português na Modalidade a Distância. Catalogação na fonte elaborada na DECTI da Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina. Ficha Catalográfica M593 Metodologia do ensino de língua portuguesa e literatura / Nilcéa Lemos Pelandré ...[et al.]. - Florianópolis : LLV/CCE/UFSC, 2011. 194 p. : il. Inclui bibliografia Licenciatura em Letras Português na Modalidade a Distância. ISBN 978-85-61482-29-9 1. Língua portuguesa – Estudo e ensino – Metodologia. 2. Litera- tura – Estudo e ensino – Metodologia. I. Pelandré, Nilcéa Lemos. CDD 806.90:37 Sumário Apresentação ...................................................................................... 9 Unidade A - A formação do professor e a constituição da disciplina língua portuguesa e literatura ................................13 A constituição da profissionalidade docente e da disciplina 1 Língua Portuguesa e Literatura .............................................................15 A organização das escolas e as linhas de pensamento 2 pedagógico no contexto do desenvolvimento das políticas educacionais vigentes ..............................................................25 2.1 Linhas do pensamento pedagógico no contexto do desenvolvimento das políticas educacionais vigentes .......................27 Diretrizes oficiais para o ensino de Língua Portuguesa e 3 Literatura .........................................................................................................33 3.1 Metodologia do ensino da Língua Portuguesa e Literatura .............43 3.2 A avaliação .........................................................................................................49 Considerações finais da Unidade A ............................................................52 Unidade B - A leitura na escola ...................................................53 O que é ser leitor?4 ........................................................................................55 O papel da escola na formação de leitores5 .........................................61 5.1 O papel do professor de Língua Portuguesa na formação de leitores ............................................................................................................62 Concepções de leitura6 ................................................................................69 6.1 O ensino da leitura ...........................................................................................70 Considerações finais da Unidade B.............................................................79 Unidade C - A leitura literária no espaço escolar .................81 A literatura e a sua função 7 .......................................................................83 7.1 O leitor de literatura .........................................................................................87 O ensino da literatura na escola: para além do que dizem 8 os documentos .............................................................................................93 8.1 Da biblioteca escolar a outros espaços de leitura literária...............102 O ensino da literatura no Ensino Fundamental e Médio: 9 estratégias metodológicas ....................................................................109 Poesia .........................................................................................................................109 Varal literário ............................................................................................................110 Exercício Dadaísta ..................................................................................................110 Limeriques ................................................................................................................111 Poesia visual .............................................................................................................112 Narrativa ....................................................................................................................112 O Romance ...............................................................................................................113 O Conto .....................................................................................................................114 O Miniconto .............................................................................................................114 Outras possibilidades ...........................................................................................115 Considerações finais da Unidade C .........................................................118 Unidade D - O processo da escrita na escola ..................... 119 O processo da escrita na escola10 .........................................................121 10.1 O texto e o envolvimento do aluno-escritor ......................................12210.2 Aprendizagem e desenvolvimento da linguagem escrita e autoria ..........................................................................................................125 10.3 Modelos de ensino na pedagogia da língua escrita: pontos de referência em discussão .......................................................132 10.4 Atos de ensino para quem se põe como aprendiz do ensinar.....145 10.5 Práticas discursivas no trabalho com textos na escola: as relações de interação no ensino e na aprendizagem ...............148 10.6 Voltando ao ponto inicial: locutor e interlocutor, partes integrantes do enunciado ........................................................................153 Considerações finais da Unidade D .........................................................157 Unidade E - Análise linguística e ensino de gramática ... 159 Análise linguística 11 ..................................................................................161 O ensino da gramática12 ..........................................................................173 Considerações finais da Unidade E .........................................................177 Referências ...................................................................................... 179 Crédito das imagens ................................................................... 188 Apresentação Caro estudante, É com imenso prazer que o recebemos na disciplina Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura. Escolhemos para iniciar o diálogo dos con- teúdos referentes a esta disciplina o poema “O menino que carregava água na peneira”, do poeta mato-grossense Manoel de Barros. Convidamos você à leitura do poema: O menino que carregava água na peneira Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água O mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito porque gostava de carregar água na peneira Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. Como todo texto literário, este se apresenta ao leitor aberto a múltiplas leitu- ras. Gostaríamos de aqui refletir sobre algumas imagens desencadeadas pelo poema e que, sob o nosso ponto de vista, dizem respeito diretamente à disci- plina que agora iniciamos. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo tudo ao mesmo tempo O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos. (BARROS, Manoel de. O menino que carregava água na peneira. In: ______. Exercícios de ser criança. São Paulo: Global, 2002.) O exercício da palavra escrita, do ato de produzir a escrita, configura-se na descoberta desse personagem menino-poeta de que as palavras estão abertas para o brincar e de que com elas é permitido dizer o indizível, realizar o inusi- tado, como pode-se constatar no verso: “Foi capaz de modificar a tarde botan- do uma chuva nela”. O ato da escrita literária, do ser e se fazer poeta, artífice da palavra, assim se anuncia pela metáfora da peneira que nunca se completa com seu conteúdo. A imagem poética da peneira, que deixa escorregar por suas fissuras o líquido, implicitamente traz à cena outro personagem: o leitor. Não carregaria tam- bém o leitor uma peneira impreenchível? Como podemos dar por encerrada a nossa cota de leitura? Assim como a escrita, a leitura é um ato de autoria, de criação e, podemos dizer, de recriação. Não exige o ato da leitura igualmente um exercício de despropósitos e “peraltagens”? Às duas imagens – a do escritor e a do leitor – aproximamos a do professor e seu exercício docente: a sensação de incompletude muitas vezes gerada pelo ato de ensinar. Por outro lado, os despropósitos e as “peraltagens”, acolhidas pelo ato de escrever e de ler, deveriam ser acolhidas também pelo ato de ensi- nar, pensando que o professor pode buscar outras formas de (re)apresentar o mundo aos alunos. Assim, o exercício de escrever, o exercício de ler e o exer- cício de ensinar se entrelaçam e se anunciam como imprescindíveis no ato de pensar o ensino da língua portuguesa e da literatura. Esta disciplina tem por objetivo discutir questões pedagógicas da profissiona- lidade docente de forma que você obtenha conhecimentos teórico-metodoló- gicos sobre aspectos que envolvem o processo de ensino e de aprendizagem da Língua Portuguesa no Ensino Fundamental e Médio e, assim, sinta-se capaci- tado para atuar profissionalmente de modo competente e efetivo na escola. Cabe, todavia, questionarmos: afinal, no espaço escolar, sendo estudantes de Curso de Licenciatura em Letras, como alcançamos o domínio desse conhe- cimento? E, na função de professores, como nos tornamos competentes na mediação pedagógica do que se ensina e do que é aprendido? Para responder a essas questões, este livro está organizado em cinco unidades que centralizam a discussão do nosso objeto de ensino, a linguagem verbal. Nessa direção, a Unidade A trata da formação do professor e da constitui- ção da disciplina Língua Portuguesa e Literatura, isto é, apresenta um breve histórico da constituição da profissionalidade docente e do ensino da Língua Portuguesa e Literatura e suas implicações no processo do ensinar e aprender. Referimo-nos, ainda nesta unidade, aos documentos oficiais que orientam a definição de objetivos, metodologias e avaliação. Na Unidade B, trazemos a discussão sobre o papel da escola e do professor de Língua Portuguesa na formação de leitores. Na Unidade C, ainda tematizando a leitura, continuamos a reflexão sobre a especificidade que está na leitura do texto literário e sua inserção no espaço de sala de aula do Ensino Fundamental e Médio. Na Unidade D, tratamos de questões que envolvem o processo de escrita e seu ensino na escola. E a Unidade E complementa este livro com re- flexões sobre a atividade de análise linguística e o ensino de gramática. Não foi nosso objetivo esgotar todas as questões relativas à Metodologia do En- sino de Língua Portuguesa e Literatura, mas sim abordar pontos que considera- mos fundamentais no exercício da docência que ensina a linguagem verbal. O diálogo continua! Seja crítico na sua leitura, relacionando suas vivências pessoais e docentes ao conteúdo exposto ao longo deste livro. As autoras. Unidade A A formação do professor e a constituição da disciplina língua portuguesa e literatura Interação professora e aluna Metodologia do Ensino 14 Nesta Unidade, refletimos sobre alguns aspectos da história da for- mação docente e da constituição da disciplina de Língua Portuguesa e suas implicações no processo de ensino e de aprendizagem. Apresenta- mos, em síntese, as linhas de pensamento pedagógico no contexto do de- senvolvimento das políticas educacionais em curso e as orientações dos documentos oficiais que norteiam a prática pedagógica na definição do objeto de estudo, dos objetivos da disciplina e da orientação metodológi- ca e da avaliação. Tendo isso em vista, os objetivos desta unidade são: Refletirsobre fatores que intervêm no processo de formação do Ӳ professor de Língua Portuguesa e Literatura. Compreender as relações entre a organização dos espaços esco- Ӳ lares e o desenvolvimento de práticas sociais de linguagem. Pensar o processo de ensino e aprendizagem de Língua Por- Ӳ tuguesa e Literatura considerando os documentos oficiais de referência e as teorias e os estudos científico-pedagógicos em circulação. Refletir sobre possibilidades de elaboração didática dos conhe- Ӳ cimentos científicos referentes aos processos de ensino e de aprendizagem da linguagem verbal. A Unidade está organizada em três capítulos: um capítulo sobre a constituição da profissionalidade docente e da disciplina (um breve histórico); outro capítulo sobre a organização do espaço escolar e as li- nhas do pensamento pedagógico no desenvolvimento das políticas edu- cacionais contemporâneas; e um terceiro capítulo sobre os processos de ensino de Língua Portuguesa e Literatura (os documentos oficiais de referência e a sistematização teórico-metodológica do ensino de Língua Portuguesa e Literatura, incluindo a avaliação). Capítulo 01A constituição da profissionalidade docente... 15 A constituição da profissionalidade docente e da disciplina Língua Portuguesa e Literatura Quando eu comecei na faculdade, eu tinha uma visão, trabalhava obser- vando o livro didático, era o meu limite. E a faculdade me fez enxergar além, assim oh!, pesquisar mais, ir à biblioteca, Internet, a questão dos textos reais, eu trabalhava muito com textos assim... qualquer texto para mim... quanto mais fáceis... Antigamente se tinha essa visão, por exem- plo, quando tu falaste da letra T [referindo-se a uma outra professora], procurava textos que tinha um monte de T, aquela coisa... eram textos de cartilha mesmo e eu comecei a enxergar outros. (S-br, Entrev. 3: 162-169. In: AGUIAR; PELANDRÉ, 2009, p. 132). Vivemos, ao final dos anos de 1970 e início da década de 1980, um forte movimento de democratização da sociedade, em que a luta dos educadores trouxe contribuições significativas para a educação e para o modo de se compreender a escola e o trabalho pedagógico. Essa luta colocou “em evidência as relações de determinação existentes entre a educação e a sociedade e a estreita vinculação entre a forma de organi- zação da sociedade, os objetivos da educação e a forma como a escola se organiza”, escreve a pesquisadora em educação, Professora Helena Costa de Lopes Freitas, em seu trabalho Formação de professores no Brasil: 10 anos de embate entre projetos de formação (FREITAS, 2002, p. 138). Os anos de 1980 marcaram, por sua vez, a ruptura com o pensa- mento mecanicista, que predominava até então, e novas concepções so- bre a formação do educador passaram a ser consideradas, ancoradas em perspectiva sócio-histórica (FREITAS, 2002). Pensamento mecanicista No pensamento mecanicista, herdado dos filósofos da Revolução Científica do século XVII, como Descartes, Bacon e Newton, “[…] o valor do novo homem que surge se encontra não mais na família ou linhagem, mas no prestígio resultante do seu esforço e capacidade de trabalho [...] e a ciência deixa de ser um saber contemplativo, formal e finalista para que, indissoluvelmente ligada à técni- ca, possa servir à nova classe [ao novo modo de produção – o capitalismo]”. A natureza e o próprio homem são comparados a uma máquina. As considerações a respeito do valor, da perfeição, do sentido e do fim são excluídas da ciência. (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 148). Discutiam-se, naquela época, as relações en- tre escola e sociedade, mais especificamente sobre como as formas de organização da sociedade tinham implicações na organização dos espaços escolares e no processo educacional desenvolvido. 1 Metodologia do Ensino 16 A perspectiva sócio-histórica ancora-se, dentre outras, na teoria de Vygotsky que aponta novos paradigmas para a compreensão do desen- volvimento humano. Essa teoria, fundamentada no materialismo histó- rico-dialético, contrapõe-se aos reducionismos das concepções empiris- ta, tecnicista e idealista, indicando perspectivas de superá-los. Vygotsky, em sua teoria social do desenvolvimento humano, compreende o sujeito como constituído e construído nas relações sociais, via linguagem. Ele afirma também que, na ontogênese, deve ser considerada não só a linha natural, biológica, mas também a linha cultural, social, histórica. Segun- do Vygotsky, o indivíduo, na condição de ser biológico e de ser sócio-his- tórico humano, por meio das relações sociais, pela mediação semiótica, constitui suas formas de ação e sua consciência (FREITAS, 1994). A publicação do livro Pedagogia do oprimido (2005), do grande educador brasileiro Paulo Freire, escrito nos anos de 1967 e 1968, quan- do de seu exílio no Chile, constitui também esse momento histórico de construção de novos olhares sobre a formação do professor. Frei- re discute uma nova concepção de educação, a partir da compreensão da realidade social e econômica dos educandos, e denuncia a educação bancária, caracterizada pelo aluno que chega à escola e recebe do pro- fessor o conteúdo como se fosse uma mercadoria. Figura 1 - Paulo Freire Paulo Freire (1921-1997) desenvolveu o conceito de “educação bancária” em seu livro Pedagogia do oprimido, publicado pela primeira vez no Brasil em 1970. Ele referia-se ao modelo tradicional de prática pedagógica em que o professor é tido como aquele que supostamente tudo sabe e o aluno nada sabe. Os conteúdos escolares são transmitidos passivamente aos alunos, ou seja, o professor deposita na cabeça “vazia” de seus alunos o conteúdo que eles não possuem, como alguém que deposita dinheiro em um banco. Essas concepções em que o professor não mais é visto como mero transmissor de conteúdo enfatizam, então, “[...] a necessidade de um profissional de caráter amplo, com pleno domínio e compreensão da re- alidade de seu tempo, com desenvolvimento da consciência crítica que lhe permita interferir e transformar as condições da escola, da educação e da sociedade” (FREITAS, 2002, p. 139), corroborando a importância dos processos de formação de professores nessa perspectiva. Há uma nova tradução da obra de Vygotsky feita por Paulo Bezerra (2001), a partir da edição em russo (VIGOTSKI, L.V. A cons- trução do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001), no entanto para a produção deste livro nos utilizamos da versão anterior, a de 1989. Ontogênese Ontogênese refere-se ao desenvolvimento do indi- víduo desde a fecundação até a maturidade para a reprodução (FERREIRA, 1988). Capítulo 01A constituição da profissionalidade docente... 17 As transformações concretas no campo da escola também se de- ram “[…] no sentido de buscar superar as dicotomias entre professores e especialistas, pedagogia e licenciaturas, especialistas e generalistas, pois a escola avançava para a democratização das relações de poder em seu interior e para a construção de novos projetos coletivos”; construindo, assim, “a concepção de profissional de educação que tem na docência e no trabalho pedagógico a sua particularidade e especificidade” (FREI- TAS, 2002, p. 139, grifos da autora). Com relação à formação do professor de Língua Portuguesa e Li- teratura, para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, a Lei no. 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional) reafirma a obrigatoriedade da formação em nível superior, razão pela qual se organizam, dentre outros programas de formação, os cursos na modalidade de EaD, dada a impossibilidade de oferta de cursos presen- ciais em todos os municípios brasileiros. No que diz respeito ao ensino da Língua Portuguesa, até os anos 1970 os estudos e pesquisas se faziam na área de conhecimento denomi- nada Didática, que se subdividia em Didática Geral e Didática Especial, que, por sua vez, desmembrava-se em Didática do Português. A propos- ta dessa disciplinaapontava para um ensino normativo, prescritivo, “um conjunto de normas, recursos e procedimentos que deveriam informar e orientar a prática dos professores”, de forma a poderem prescrever com mais eficácia as normas da língua, diz a professora, doutora e livre- docente em Educação Magda Becker Soares (1997, p. X). Figura 2 - Magda Soares Considerada uma das maiores pesquisadoras do ensino da Língua Portu- guesa de nosso país, é Professora Titular Emérita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do Centro de Alfa- betização, Leitura e Escrita – CEALE – da referida Faculdade. Ela é autora de várias obras de referência para o ensino da Língua Portuguesa. Destacamos aquelas que são consideradas clássicas: Linguagem e escola: uma perspectiva social, da Editora Ática; Letramento: um tema em três gêneros, da Editora Au- têntica; e Alfabetização e Letramento, da Editora Contexto. Lei no. 9394/1996: “Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal”. Os cursos de pedagogia formavam o professor para a sala de aula, orien- tadores educacionais, supervisores e adminis- tradores escolares; esses últimos nomeados de especialistas em educa- ção. Hoje, nos cursos de formação, essa divisão não existe mais. Os cursos de pedagogia formam profissionais para atuar na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Metodologia do Ensino 18 Assim como nos cursos de formação regular, Curso Normal e Cur- so de Letras, a disciplina de Língua Portuguesa foi tendo seu nome alte- rado também no Ensino Fundamental e Médio ao longo do tempo. Na década de 1960, época do antigo curso ginasial, era denominada Portu- guês, subdividida em Estudos de Língua e Estudos de Literatura, minis- trados inclusive por professores diferentes. Na década de 1970, passou a chamar-se Comunicação e Expressão, e dela não fazia parte a literatura, que passou a integrar o currículo do segundo grau, como estudo de his- tória literária e de autores e obras visando aos concursos vestibulares. Nos currículos atuais temos, no Ensino Fundamental, a disciplina de Língua Portuguesa, e a Literatura faz parte dela. Porém, persiste a tendência de se considerarem distintas a língua e a literatura e de o texto literário ser utilizado em sala de aula apenas como pretexto para aulas de leitura, interpretação e estudos gramaticais. Ainda há forte tendência em considerar a gramática normativa e prescritiva como conteúdo cen- tral das aulas de língua e compreender o ensino da literatura, quando objetivado, como o estudo para a caracterização de obras e autores. No Ensino Médio, no entanto, embora continue fazendo parte da disciplina de Língua Portuguesa, a “[...] literatura possui alguma auto- nomia de disciplina”, como afirmam Ramos e Corso (2010, p. 29). Es- tudar a língua é também estudar literatura e vice-versa, pois o objeto do ensino de Língua Portuguesa e Literatura é a linguagem verbal (a palavra, o texto, a linguagem em uso) nas suas múltiplas formas de ma- nifestação, incluindo a literária, nas diferentes esferas sociais. O processo de democratização da sociedade trouxe também a de- mocratização do acesso à escola. O número de alunos dobrou no ensino primário e triplicou no ensino secundário (SOARES, 1997, p. IX apud BATISTA, 1997, p. IX). A Lei nº. 5692/1971 (Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional – LDB) estendeu o ensino obrigatório de qua- tro para oito anos e ampliou o Ensino Médio, criando os cursos médios profissionalizantes. Até o advento da Lei nº. 5692/1971, denominava-se ensino primário o correspondente aos primeiros quatro anos do ensi- no formal; ensino ginasial ou secundário, os quatro anos seguintes, do primeiro ao quarto ano ginasial, considerado ensino secundário. Atual- As professoras Tânia Regina Oliveira Ramos e Gizelle Kaminsky Corso (2010), responsáveis pela disciplina Literatura e Ensi- no deste curso de Letras a distância, no livro que es- creveram sobre esse tema, discutem com clareza o modo como a literatura vem sendo ensinada e qual a compreensão que dela se tem. Retomaremos essa discussão na Unidade C deste livro. O processo de democra- tização da sociedade na área educacional, que acompanha os aconteci- mentos nacionais, trouxe igualmente a discussão das relações de poder no interior da escola, apontando para a cons- trução de novos projetos coletivos, tais como a elaboração de propostas curriculares de estados e municípios. Essas discus- sões provocaram avanços no sentido da democra- tização desses projetos educacionais, principal- mente em estados cujos governantes eleitos eram considerados de perfil centro-esquerda. Capítulo 01A constituição da profissionalidade docente... 19 mente, o ensino obrigatório é de nove anos, ampliado pela Lei 9394/1996 (nova LDB), que substituiu, entre outras, a Lei nº. 5692/1971. A escola, que até então servia quase que exclusivamente às camadas economicamente mais privilegiadas da sociedade, não consegue atender de forma adequada a esse novo contingente de alunos que a ela chega, pois os professores não foram preparados para esse trabalho. Começa- se a falar da crise da educação e do fracasso escolar. E os indicadores desse fracasso revelam-se principalmente no ensino de Português, pelo alto índice de repetência nos primeiros anos e a constatação de graves problemas de expressão escrita nas avaliações a que são submetidos os alunos concluintes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio nos exa- mes vestibulares e em concursos, nas provas de Língua Portuguesa. Esse primeiro fenômeno, intitulado crise e fracasso no ensino de Português, impulsionou a produção intelectual dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, multiplicando-se os estudos, as pesquisas e reflexões sobre a fa- lência desse ensino, que denunciam as deficiências das crianças e jovens na leitura e produção de textos escritos. Soares (1997) aponta ainda um segundo fenômeno que influenciou a produção intelectual sobre o ensino do Português: a reforma univer- sitária do final dos anos de 1960 extinguiu a disciplina Didática Espe- cial do Português, substituindo-a por Prática de Ensino de Português, passando a ser esta última uma área de conhecimento específico e in- dependente, cuja produção intelectual começou a ser definida por seus próprios princípios e pressupostos. A esse fenômeno, a referida autora acrescenta um terceiro, a chegada dos conhecimentos construídos no campo da Linguística, disciplina introduzida nos cursos de Letras nos anos de 1960, cujos efeitos no ensino da Língua Portuguesa começaram a se fazer sentir somente nos anos de 1980. A partir de então, inúmeras têm sido as publicações direcionadas a questões do ensino da Língua Portuguesa e Literatura e com essas obras e outras que julgamos representativas deste momento atual é que vimos dialogando, no intuito de trazer à reflexão propostas e alternativas me- todológicas sobre o que se ensina quando se ensina Língua Portuguesa e Literatura. A seguir, destacamos alguns exemplos de obras que tratam do ensino de português: Metodologia do Ensino 20 GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. Cascavel: Assoeste, 1984 GERALDI, J. W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991. GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. 2. ed. São Paulo, Martins Fontes, 1987. KLEIMAN, A. Os significados do letramento: uma nova perspec- tiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1985. KATO, M. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo: Ática, 1986. ROJO, R. (Org.). A prática de linguagemna sala de aula: pratican- do os PCNs. São Paulo-Campinas: EDUC; Mercado de Letras, 2000. SOARES, M. B. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1986. ____. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Au- têntica, 1998. ____. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003. Na década de 1990, as políticas educacionais tomam rumos um pouco diferentes daqueles em que se enfatizavam as relações de deter- minação entre a organização da sociedade e a da escola. Os debates não mais se fazem sobre as relações da escola com a sociedade, mas sim sobre os conteúdos escolares do ponto de vista das competências e habilidades a serem desenvolvidas na escola. Aos ideais dos educadores da década de 1980, de uma formação humana multilateral, sobrepõem-se políticas públicas neoliberais em que a qualidade da instrução e do conteúdo é condição para a melhoria do processo de acumulação do capital. Essas políticas traduzem-se, por exemplo, na criação de sistemas de avaliação, tais como SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educa- ção Básica; ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio; Provão – Exa- me Nacional de Cursos de Graduação; ANRESC – Avaliação Nacional Você pode ter acesso a to- das as avaliações via Portal do MEC <www.mec.gov. br>; pode, inclusive, verifi- car os resultados da escola onde atua ou pretende atuar como estagiário. Capítulo 01A constituição da profissionalidade docente... 21 do Rendimento Escolar, Prova Brasil, Provinha Brasil; IDEB – Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico; FUNDEF – Fundo de Manu- tenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, dentre outras medidas “que objetivam adequar o Brasil à nova ordem, bases para a reforma educativa que tem na avaliação a chave-mestra que abre caminho para todas as políticas: de formação, de financiamento, de descentralização e de gestão de recursos” (FREITAS, 2002, p. 142). Se por um lado as concepções que subjazem às políticas públicas reduzem o trabalho pedagógico a uma dimensão puramente racional, atribuindo valor excessivo aos dados estatísticos; por outro, impõem ao professor reflexões sobre o sentido da docência e sobre a importância de se manter em constante relação com a sociedade em que se insere. Assim, os professores muitas vezes são responsabilizados pelos baixos índices de desempenho de seus alunos e dos resultados gerais da insti- tuição escolar. Em decorrência, são impelidos a uma formação contínua com vistas à melhoria da eficácia do ensino. Figura 3 – Ângela Kleiman Angela Kleiman é professora e pesquisadora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Universidade de Campinas (UNICAMP/SP). Tem se destacado na produção de materiais bibliográficos sobre letramen- to e ensino da leitura e escrita, na perspectiva da formação docente. Dentre os livros por ela organizados, destacamos: Os significados do le- tramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita (1995); A formação do professor: perspectivas da linguística aplicada (2001); Le- tramento e formação do professor: práticas discursivas, representações e construção do saber (2005), publicados pela Mercado de Letras; e O ensino e a formação do professor: alfabetização de jovens e adultos, pela Artes Médicas Sul, em 2000. A formação profissional do professor do modo como vem se estru- turando – e se procurou sintetizar isso nos parágrafos anteriores – não tem conseguido fazer frente à questão da atribuição injusta de valores de desprestígio social à profissão. Como diz a professora Angela B. Klei- O Instituto Nacional de Es- tudos e Pesquisas Pedagó- gicas (INEP/MEC) criou em 21/05/2010, por meio de portaria, o Exame Nacio- nal de Ingresso na Carreira Docente. Esse exame estabelece padrões de referência para o ingresso de professores na Educa- ção Básica. Diz o texto à página 3: “Esses padrões ressaltam a importância da valorização do pro- fessor como alguém que necessita de conhecimen- tos e habilidades espe- cíficas para seu exercício profissional, os quais não podem ser substituídos por mera boa vontade ou desejo de trabalhar com crianças” (BRASIL, 2010). Metodologia do Ensino 22 man, docente e pesquisadora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da UNICAMP/SP: [...] a representação que a imprensa faz das capacidades de ler e escre- ver das professoras, geralmente baseada em fatos anedóticos, mostra suas falhas tanto em relação a práticas cotidianas de leitura e escrita [...] quanto em relação a práticas especializadas [...]. Além disso, ela é repre- sentada como não-leitora, não porque não leia, mas porque não tem familiaridade com a apreciação da literatura legítima (em oposição à li- teratura para as massas). (KLEIMAN, 2001, p. 43). Tal crítica fundamenta-se em concepção de língua cuja norma-pa- drão, variedade linguística de prestígio social, é a única aceita e na qual a leitura que se considera é, unicamente, a de textos literários. Estamos falando de questões de letramento. Assim, destacamos que a pesquisadora Vera Masagão Ribeiro, doutora em Educação pela PUC/SP e coordenadora da ONG Ação Educativa/SP, comprovou, em pesquisa realizada na cidade de São Paulo, que a classe dos professores tem capacidades de uso da escrita superiores aos resultados de outros grupos de profissionais liberais. Esse dado torna-se importante no sen- tido de contribuir para aumentar a confiança dos professores na sua capacidade de desenvolver práticas de letramento que lhe possibilitem melhor compreensão de seu contexto de trabalho e maior controle so- bre suas decisões (RIBEIRO, 1999). Referimo-nos aqui ao conceito de letramento como “[...] um conjunto de práticas sociais que usam a es- crita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos” (KLEIMAN, 1999, p. 19). Vale lembrarmos que esse conceito já foi mencionado no livro Linguística Textual, na página 65. A formação do profissional docente, quando compreendida como um fenômeno social, reveste-se de muita complexidade, pois a profissão não depende unicamente da vontade de cada ser e de suas experiências na área em que atua. Em vista disso, podemos dizer que o depoimen- to que inicia este capítulo é uma demonstração da atitude positiva da professora frente ao processo de formação e o modo como ele interfere na constituição da profissionalidade docente. Diz a professora: “[...]... A ONG Ação Educativa foi fundada em 1994 com a missão de promover os direitos educativos e da juventude, tendo em vista a justiça social, a democra- cia participativa e o desen- volvimento sustentável no Brasil. Disponível em <http://www.acaoeduca- tiva.org.br/portal/index. php?option=com_contex t&task+section&id+2&Ite mid+73 >. Acesso em: 12 ago. 2010. Capítulo 01A constituição da profissionalidade docente... 23 antigamente se tinha essa visão [...] a faculdade me fez enxergar além... [...] eu passei a enxergar outros [textos]”. Assim, toda a complexidade de que se reveste a história do ensino da Língua Portuguesa em nosso contexto educacional impõe, por con- seguinte, que os professores estejam em constante formação. As palavras da professora, postas em epígrafe, mais uma vez cor- roboram o que vimos apresentando. Quando a professora diz: “[...] eu trabalhava muito com textos assim... qualquer texto para mim... quanto mais fáceis... Antigamente se tinha essa visão, por exemplo, quando tu falaste da letra T [referindo-se a uma outra professora], procurava tex- tos que tinha um monte de T, aquela coisa... eram textos de cartilha [...]”, este seu posicionamento em relação ao trabalho com textos, de traba- lhar com “qualquer texto”, e “quanto mais fáceis [melhores]”, expõe que a professora desenvolvia um ensino em que os conteúdos valiam por si mesmos, um ensino marcado pela ênfase dada a aspectos superficiais da linguagem, em que o saber sobre a língua torna-se mais importante doque o domínio de seus usos. Os textos quando objetos de ensino eram de livros didáticos, não importando se eram ou não significativos aos alunos. Mas a situação narrada também aponta mudança. O ingresso no curso superior possibilitou, então, a essa professora “enxergar além”, comprovando a importância da formação continuada. Leia mais! Retome o livro de Linguística Textual, Unidade A, em que as autoras apresentam um panorama histórico da Linguística Textual. Releia tam- bém o de Literatura e Ensino, Unidades B e C. Atividade Reflita e troque ideias com seus colegas, tutores e professores Ӳ sobre as questões propostas a seguir. Anote suas ideias para ir cotejando-as com as leituras dos próximos capítulos. Figura 4 – Reflexão Metodologia do Ensino 24 O que é ensinar Língua Portuguesa e Literatura?• Que conhecimentos são necessários ao professor de Língua Por-• tuguesa e Literatura? Que capacidades lhe são requeridas? Que fatores intervêm nos modos de organização escolar e na • prática pedagógica dos professores? O que dizem os documentos que orientam essa prática de ensi-• no de Língua Portuguesa e Literatura? de Língua Portuguesa e Literatura? Afinal, qual é a função do professor de Língua Portuguesa e Li-• teratura? Reflexões sobre essas questões sugeridas serão desenvolvidas nos ca- pítulos que seguem, pois, como dissemos, a profissionalidade docente reveste-se de toda a complexidade que permeia a sociedade e, por ser um fenômeno social, requer que se compreenda o contexto de atua- ção do professor. Capítulo 02A organização das escolas e as linhas de pensamento pedagógico... 25 A organização das escolas e as linhas de pensamento pedagógico no contexto do desenvolvimento das políticas educacionais vigentes Nossas escolas hoje mantêm a organização que apresentavam desde o início de sua existência. Os alunos são agrupados, em geral, por faixa etária, distribuídos em turmas ou séries que por um período de tempo, em média quatro horas, ocupam as denominadas salas de aula, espaços físicos retangulares e com características idênticas (principalmente nas escolas públicas), mesmo tratando-se de comunidades culturais diver- sas. Os prédios escolares são construídos dentro de um mesmo padrão: salas de administração e corredores que dão acesso às salas de aula, as quais se distribuem uma após a outra. Nas salas de aula, os alunos sentam-se em carteiras, enfileiradas uma atrás da outra. O professor posiciona-se, em geral, à frente dos alu- nos, dirigindo-se a todos ao mesmo tempo, e em algumas situações faz perguntas a alunos em particular e os demais, quando desejam mani- festar-se, levantam o braço – sinal de pedir licença para fazer uso da palavra. São poucos os momentos em que se mudam os padrões de in- teração, o que faz com que a cultura escolar perpetue formas de comu- nicação bastante diferentes daquelas usadas fora da escola. São modos de uso da língua empregados apenas no ambiente escolar. O desenvolvimento dos meios de comunicação e as mudanças por que passa a sociedade tornam-na cada vez mais grafocêntrica, e o avan- ço dos recursos tecnológicos de comunicação (web, internet) impõem novos modos de uso da linguagem verbal, o que constitui desafio ao tra- balho docente no sentido de possibilitar que os alunos tenham acesso a esse conhecimento e possam assim participar das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita. Embora continuem persistindo modos de ensinar como aqueles que Paulo Freire denominava de educação bancária, em que o professor Sociedade Grafocêntrica Dizemos que uma so- ciedade é grafocêntrica quando nela a escrita desempenha papel im- portante; as atividades nas instâncias sociais são centradas na escri- ta, ou seja, a escrita faz parte das situações do cotidiano da maioria das pessoas. 2 Sugerimos, para enrique- cer seus conhecimentos sobre formas de interação em sala de aula, a leitura do seguinte livro: COX, Maria Inês Pagliarini; ASSIS-PETERSON, Ana An- tônia de (Orgs.). Cenas de sala de aula. Campinas: Mercado de Letras, 2001. Metodologia de Ensino 26 se julga o único conhecedor do assunto e o transmite/entrega aos alunos como se o saber fosse uma mercadoria, há outros em que os professores ousam mudar tal condição, como aqueles em cujas interações em sala de aula o professor se coloca como mediador, no processo de aprendiza- gem, entre o conhecimento que os alunos já possuem e o que precisa ser ensinado. Vygotsky fala da passagem necessária de conceitos cotidia- nos a conceitos científicos, aqueles que a escola necessariamente tem de ensinar, aumentando assim as experiências de linguagem dos alunos, promovendo sempre mais a inclusão social e provocando aprendizagem e desenvolvimento. Conceitos cotidianos e conceitos científicos – essas expressões são conceitos da teoria de Lev Vygotsky (1896-1934). Vygotsky conce- be o desenvolvimento humano a partir das relações sociais que se esta- belece no decorrer da vida. Ele atribui papel preponderante às relações sociais. A corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de sócio-histórica ou sociocultural. Segundo sua teoria, o pro- cesso de ensino e de aprendizagem constitui-se por meio de interações que vão se dando nos diversos contextos sociais, razão pela qual a sala de aula é lugar privilegiado para a sistematização do conhecimento e o professor passa a ocupar o papel de mediador na construção do saber. São conceitos-chave na teoria de Vygotsky: zona de desenvolvimento proximal e mediação. A zona de desenvolvimento proximal “é a distân- cia entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvol- vimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes” (VYGOTSKY, 1989). Infere-se deste conceito que há ensino quando a criança, através da mediação do professor, atinge um nível de compreensão e habilidade que não dominava completamente, apreen- dendo um novo conhecimento, ampliando suas estruturas cognitivas. Por conseguinte, a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. O outro conceito-chave, de mediação, diz respeito a toda relação do indivíduo com o mundo que é feita por meio de instrumentos técnicos – por exemplo, as ferramentas agrícolas, que transformam a natureza – e instrumentos simbólicos, como a lingua- Depois da tradução de 2001 do livro escrito por Vygotsky A construção do pensamento e da lingua- gem, por recomendação de Paulo Bezerra, nomeia- se zona de desenvolvimen- to imediato. Capítulo 02A organização das escolas e as linhas de pensamento pedagógico... 27 gem – que traz consigo conceitos consolidados da cultura à qual perten- ce o sujeito. Nesse processo de mediação e, portanto, de aprendizagem, tem-se a formação de conceitos científicos. Os conceitos cotidianos, ou espontâneos, são aqueles formados a partir de vivências, da observação do mundo; já os conceitos científicos estão relacionados à instrução in- tencional. Conceitos cotidianos e científicos influenciam-se reciproca- mente. Com relação ao aprendizado da escrita, por exemplo, ao adquirir esse conhecimento, o aluno adquire também capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento psicológico. Diferentes turmas de alunos terão diferentes modos de reagir a cada uma das formas de interação, o que aumenta a importância de se compreender na formação docente não apenas aspectos do domínio de conteúdos e habilidades específicas, mas também a constituição das in- terlocuções na sala de aula, da organização socioespacial do ambiente educativo. 2.1 Linhas do pensamento pedagógico no contexto do desenvolvimento das políticas educacionais vigentes A década de 1960 foi marcada por uma educação de perspectiva tecnicista, como já mencionamos. Posteriormente, foi influenciada por correntesteóricas de cunho comportamentalista e comunicacional, época em que prevaleceu a concepção de linguagem como instrumento de comunicação no ensino da Língua Portuguesa. A partir da década de 1970, as discussões e análises da educação brasileira, realizadas por intelectuais de campos do conhecimento como a Filosofia, a Sociolo- gia, a História e a Educação, passaram a incorporar aspectos políticos, econômicos, sociais e pedagógicos, com orientação da teoria socioló- gica dialético-marxista. No bojo dessas discussões, as ideias de Paulo Freire foram também de grande importância para as mudanças ocor- ridas na educação brasileira e de outros países. Além disso, reafirmando o que dissemos no capítulo anterior, outras perspectivas teóricas têm sido consideradas no ensino. São elas: o construtivismo piagetiano e a Metodologia de Ensino 28 psicogênese da linguagem escrita, desenvolvida por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986); a teoria sócio-histórica de Vygotsky e o desen- volvimento da escrita na criança, segundo estudos de Vygotsky, Luria e Leontiev (2001), dentre outros autores; as metodologias de ensino da língua segundo a pedagogia de Celestin Freinet (1997); e outros modos de ensinar, motivados também pelo conjunto de iniciativas estaduais e municipais, tais como a Constituição Brasileira de 1988, a Lei de Dire- trizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9394/96), os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e, em seguida, para o Ensino Médio, documentos relacionados com estudos e pesquisas aca- dêmicas sobre educação, alfabetização e ensino da Língua Portuguesa. No estado de Santa Catarina, a ancoragem metodológica está fortemente pautada em Vygotsky, Luria e Leontiev. Em vista disso, houve um processo de reorientação curricular embasado no pensamento histórico-cultural, e a partir dele a proposta curricular foi construída de forma democrática, com a participação de grupos de trabalho e estudos, envolvendo educa- dores da rede pública de ensino e professores de universidades como con- sultores. Esse processo resultou na elaboração de uma proposta curricular para o Estado, cuja primeira versão data de 1991, publicada em forma de caderno. A segunda edição da Proposta Curricular de Santa Catarina foi publicada em 1998 e constituiu-se de três volumes: As disciplinas curricu- lares, Os temas multidisciplinares e As disciplinas de formação para o magistério. Em 2003, houve outra atualização, e em 2005 foram publica- dos os Estudos Temáticos. Ressaltamos que processos semelhantes ocor- reram em outros estados e municípios brasileiros. Tecidas essas considerações, e tendo em vista a importância dos pensadores anteriormente mencionados, apresentamos uma pequena síntese, no quadro a seguir, com informações relevantes acerca de cada um desses estudiosos citados até aqui. Vygotsky, Lúria e Leontiev são teóricos da psicologia histórico-cultural que in- vestigaram o desenvolvi- mento da mente humana com base nos princípios do materialismo dialéti- co, de tradição filosófica marxista. Capítulo 02A organização das escolas e as linhas de pensamento pedagógico... 29 Pensadores relacionados a outras perspectivas teóricas Figura 5 - Emilia Ferreiro Emilia Ferreiro, psicolinguista argentina, com base na teoria genética de Piaget, desenvolveu pesquisas sobre como as crianças constroem o conhecimento no processo de aquisição da escrita, estabelecendo um marco no desenvolvimento de estudos sobre o processo de alfabeti- zação, no Brasil. São obras importantes desta autora: Alfabetização em processo (Cortez Editora e Editora Autores Associados, 2. ed., 1986) e Psicogênese da língua escrita, em coautoria com Ana Teberosky, publi- cado pela Artes Médicas, 1986. Figura 6 - Ana Teberosky Ana Teberosky, também argentina, doutora em psicologia e docente do Departamento de Psicologia Evolutiva e de Educação da Univer- sidade de Barcelona, é reconhecida por suas pesquisas sobre alfabe- tização. Além de Psicogênese da língua escrita, trabalho realizado em conjunto com Emilia Ferreiro, tem publicadas, dentre outras obras, Psi- copedagogia da linguagem escrita (Trajetória/UNICAMP, 1989), Apren- dendo a escrever (Ática, 1994) e Além da alfabetização, em coautoria com Tolchinsky, L. (Ática, 1995). Figura 7 - Lev Vygotsky Lev Vygotsky (1896-1934), como já mencionamos, explicou pela perspectiva do campo da psicologia a constituição histórico-social do desenvolvimento humano no processo de apropriação da cultura mediante a comunicação com outras pessoas, em que na mediação da linguagem os signos adquirem significado e sentido (VYGOTSKY, 1984, p. 59-65). Conheça algumas obras de Vygotsky: VYGOTSKY, L. V. Pensamento e linguagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fon- tes, 1991; VIGOTSKI, L. V. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001; VYGOTSKY, L. V. A formação social da mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991; VYGOTSKY, L. V.; LÚRIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 9. ed. São Paulo: Ícone, 2001. Figura 8 - Alexander Luria Alexander Luria (1902-1977) realizou estudos especialmente sobre as relações entre linguagem e desenvolvimento intelectual. Em suas pesquisas, juntamente com Vygotsky e Leontiev, desenvolve a tese de que os processos mentais são histórico-culturais em sua origem e de- monstra haver alterações fundamentais no modo de funcionamento psicológico dos sujeitos em decorrência de processos de alfabetiza- ção e escolarização e de mudanças nas formas de trabalho. Conheça algumas obras de Luria: LURIA, A. R. Desenvolvimento cognitivo: seus fundamentos culturais e so- ciais. São Paulo: Ícone, 1990; LURIA, A. R. Curso de psicologia geral, 4 v., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. Metodologia de Ensino 30 Pensadores relacionados a outras perspectivas teóricas Figura 9 - Alexis Leontiev Alexei Leontiev (1903-1979) desenvolveu o conceito de atividade, pesquisou os vínculos entre os processos da mente e a atividade hu- mana concreta. Explicou que na relação ativa do sujeito com o objeto, a atividade se concretiza por meio de ações, operações e tarefas, sus- citadas por necessidades e motivos. Para ele, uma atividade distingue- se de outra pelo seu objeto e se realiza nas ações dirigidas a este ob- jeto. Desse modo, a atividade humana não pode existir a não ser em forma de ações ou grupos de ações que lhes são correspondentes. A atividade laboral se manifesta em ações laborais, a atividade didática em ações de aprendizagem, a atividade de comunicação em ações de comunicação e assim por diante. (LEONTIEV, 1983). Conheça alguns trabalhos de Leontiev: LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Hori- zontes, 1978; LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvol- vimento da psique infantil. In: VYGOTSKY, L.V.; LÚRIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 9. ed. São Paulo: Ícone, 2001. Esta última é uma obra clássica dos três autores, Vygotsky, Luria e Leontiev. Figura 10 - Celestin Freinet Celestin Freinet (1896 -1966) desenvolveu uma pedagogia que tem como base a aprendizagem através da experiência real do aluno. As práticas de elaboração de jornal escolar, troca de correspondências, trabalhos em grupo, aula-passeio já eram defendidas por ele nos anos de 1920 (século passado). São obras deste autor os três volumes: Mé- todo Natural I: a aprendizagem da língua; Método Natural II: A aprendi- zagem do desenho; Método Natural III: A aprendizagem da escrita, todos publicados pela Editorial Estampa, Lisboa, 1997. Havemos de considerar, ainda, na história do desenvolvimento do processo educacional brasileiro, que a crescente urbanização da popu- lação brasileira tem trazido à escola número crescente de crianças de classes sociais desprivilegiadas e com cultura e variedades linguísticas distintas daquelas praticadas até então no ambiente escolar. Ademais, a ampliaçãoda obrigatoriedade do ensino para nove anos tem refor- çado essa situação. Esses fatores, aliados à divulgação pela mídia dos resultados das avaliações nacionais de alunos e cursos, sem uma análise das variáveis que interferem nesses dados, continuam perpetuando o fracasso da escola. Capítulo 02A organização das escolas e as linhas de pensamento pedagógico... 31 Assim como diferentes teorias filosófico-educacionais, as mudan- ças na sociedade têm repercussão na esfera educativa. Isso, evidente- mente, requer dos professores posicionamentos e reflexões diante do que se está atualizando ou mudando. Há sempre uma cobrança de tra- balho de qualidade, por parte da sociedade, e as políticas públicas, como já dissemos, ainda não chegaram em nível de resgatar a valorização do profissional da educação. Os salários continuam aquém do piso salarial de outras profissões e não tem havido estímulos à construção de ambien- tes de trabalho que favoreçam o desenvolvimento de projetos pedagó- gicos com continuidade, capazes de promover mudanças significativas na formação dos alunos. Por outro lado, há larga produção de material bibliográfico, tanto para professores como para alunos, e a maioria das escolas dispõe de internet, o que possibilita acessar a vasta produção de bibliografia digital. O ambiente virtual oferece ainda sites educativos, destinados exclusivamente a professores, portais institucionais, os quais possibilitam a atualização constante. Pensar no ensino de Língua Portuguesa e Literatura implica, por- tanto, considerar todas as questões mencionadas, levando em conta, so- bremaneira, o avanço tecnológico que vem propiciando novos modos de sentir, de ver e de pensar as realidades vivenciadas. A internet chegou às escolas e temos outro desafio: incorporá-la como ferramenta imprescin- dível de acesso à informação e à produção de conhecimento. Afinal, nesse meio encontram-se instrumentos básicos de trabalho, de desenvolvi- mento social, de participação política, além de possibilitar o domínio de competências capazes de proporcionar práticas de letramento contínuo, entendidas como atividades estruturantes do “pensamento-linguagem” e da cultura (SILVA, 2003, p. 13). O contexto cultural, econômico, científico e educacional impõe, por conseguinte, que a prática pedagógica incorpore, principalmente no que diz respeito ao ensino de Língua Portuguesa e Literatura, outros conceitos, tais como os de letramento e de gêneros do discurso. Como explicitado anteriormente, entendemos por letramento “[...] o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita” (SOARES, 1998, p. 47); e por gêneros do discurso, os tipos relativamente estáveis de enunciados (BAKHTIN, MEC, Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, Universidades e outras instituições. Metodologia de Ensino 32 2003, p. 262), ou seja, os enunciados orais e escritos, concretos e únicos proferidos pelos falantes de acordo com as condições específicas e as finalidades de cada atividade humana. Esses conceitos reafirmam, então, a palavra em uso, em sua condição concreta de existência. Leia mais! A internet na escola − Sobre as mudanças no modo de pensar, de aprender e de se relacionar com o conhecimento nesta era da informação, sugerimos a leitura de: RAMAL, Andréia Cecília. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002. SILVA, Ezequiel Theodoro (Org.). A leitura nos oceanos da Internet. São Paulo: Cortez, 2003. Atividade Você conhece a proposta curricular do seu Estado? E a do seu Ӳ município? Investigue o histórico de construção dessas pro- postas e socialize suas descobertas no seu grupo de estudo. Capítulo 03Diretrizes oficiais para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura 33 Diretrizes oficiais para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura Neste capítulo vamos tratar dos documentos que têm sido referên- cia para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura em nossas escolas. Eles visam a orientar gestores escolares e professores no planejamento das ações educacionais e atividades de sala de aula. O ensino público no Brasil, como já vimos, é regido por leis espe- cíficas. A lei mais importante, atualmente, é a Lei No 9.394, de 20 de de- zembro de 1996, denominada de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que estabelece da educação em todos os níveis. Ela institui os dois níveis de educação que temos hoje: a educação básica, formada pela educação infantil e pelo Ensino Fundamental e Médio; e a educação superior. Para atender aos princípios e objetivos estabelecidos nesta lei, o ar- tigo 9o da LDB estabelece que a União, os Estados e os Municípios devem elaborar, em cooperação, o Plano Nacional de Educação (PNE), para um período de 10 anos, estabelecendo metas para a década em questão. O PNE em vigor foi elaborado em 2001, com prazo até 2010. Destacamos que duas metas do PNE foram alcançadas nesse período: a implantação do Ensino Fundamental de 9 anos e o aprimoramento dos sistemas de informação e avaliação. No que concerne à avaliação, o MEC tem avaliado todos os sistemas de ensino, com exceção da Educação Infantil. Diversos estados e mu- nicípios também têm feito suas aferições. Destacamos o Índice de De- senvolvimento da Educação Básica (IDEB) que fornece um retrato da Educação no Brasil. Assim, sugerimos que você verifique os índices da Educação Básica em seu município, inclusive por escola, consultando o site <http://ideb.inep.gov.br>. Para saber mais sobre o PNE em vigor e quais metas foram atingidas ou não, consulte o site <http://www.revistaesco- la.abril.com.br/politicas- publicas/legislacao/ pne-plano-nacional-de- educacao-537431.shtml>. Em 2009, 59% das matrí- culas já foram feitas no novo sistema de seriação. A expectativa é que o índice de 2010 chegue a 100%. Esperam os espe- cialistas que com a garan- tia do ingresso na escola aos 6 anos as chances de a criança chegar aos 7 ou 8 anos sabendo ler e escre- ver sejam maiores do que antes. O grande desafio é garantir a qualidade do ensino. 3 Metodologia de Ensino 34 Para poder avaliar a qualidade do ensino no Brasil, foram criados a Prova Brasil e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que são exames complementares. Essas avaliações são diagnósticas e visam a orientar o ensino para que se tenha educação de mais qualidade, por meio de possíveis mudanças das políticas públicas e de paradigmas uti- lizados nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. A Prova Brasil é aplicada a cada dois anos, para quase todas as crianças e jovens matriculados na quarta e na oitava séries (quinto e nono ano). A primeira aplicação ocorreu em 2005, depois em 2007, e a última foi em 2009. Ela visa a medir as competências relacionadas à leitura e aos conhecimentos de matemática. Por serem instrumentos de avaliação de amplitude nacional, tanto a Prova Brasil quanto o Saeb exigem a construção de uma matriz de referência, para a elaboração e avaliação dos testes que lhes confiram transparência e legitimidade, informando aos envolvidos, professores e alunos, o que e como o ensino e a aprendizagem serão avaliados. Essas matrizes têm por referência os Parâmetros Curriculares Nacionais e, se- gundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), também foram consultados professores regentes de clas- se de diferentes redes de ensino municipal, estadual e privado. Hoje, portanto, são documentos de referência para o ensino da Língua Portuguesa o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), a Prova Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e os do- cumentos dos estados e municípios, que são as Propostas Curriculares Estaduais e Municipais. Dentre as Propostas Curriculares de interesse para esta disciplina de Metodologia do Ensino de Português e Literatura, destacamos aque- las cujos estadose municípios estão envolvidos no curso de EaD, Letras/ Português: Proposta Curricular de Santa Catarina, Diretrizes Curricula- res da Educação Básica do Paraná e Proposta Curricular – CBC (Con- teúdo Básico Comum) de Minas Gerais. Além das propostas estaduais, alguns municípios e a federação elaboraram seu Plano Municipal de Educação, e Pato Branco, no Paraná, é um deles. Matrizes são as referên- cias para a elaboração dos itens dos testes. Cada matriz de referência apre- senta tópicos ou descri- tores. Veja quais são os descritores que indicam as habilidades de Língua Portuguesa e Matemática a serem avaliadas acessan- do o site <http:/portal.mec. gov.br/dmdocuments/pro- va_brasil_matriz2.pdf>. A Prova Brasil avalia estu- dantes das escolas públi- cas, localizadas em áreas urbanas, com mais de 20 alunos na série. Para saber mais sobre a Prova Brasil, consulte o site <http:/ portal.mec.gov.br/dmdo- cuments/prova brasil_ma- triz2.pdf>. Para ter acesso aos docu- mentos referidos, acesse: Proposta Curricular de San- ta Catarina <http://www. sed.sc.gov.br/secretaria>; Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná <http://www.diaadiaedu cacao.pr.gov.br/diaadia/ diaadia/arquivos/File/ diretrizes_2009/out_2009/ lingua_portuguesa.pdf>; Proposta Curricular – CBC (Conteúdo Básico Comum) de Minas Gerais <http:// crv.educacao.mg.gov. br/sistema_crv/index. asp?token=0E79FA4E- C91E-4CEF-A2AF-50 A9030C9829&usr> e Plano Municipal de Educação, de Pato Branco, no Paraná <http://www.patobranco. pr.gov.br/secretarias 5aspx>. Capítulo 03Diretrizes oficiais para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura 35 No caso dos documentos que orientam o ensino de Língua Portu- guesa e Literatura no Ensino Fundamental e Médio, vamos destacar, de modo genérico, o que estabelecem os documentos com relação a obje- tivos, conteúdos, metodologias e formas de avaliação. Com relação aos objetivos de ensino, os Parâmetros Curriculares Nacionais para os anos finais do Ensino Fundamental estabelecem o seguinte: No trabalho com os conteúdos previstos nas diferentes práticas, a escola dever organizar um conjunto de atividades que possibilitem ao aluno desenvolver o domínio da expressão oral e escrita em situações de uso público da linguagem, levando em conta a situação de produção social e material do texto (lugar social do locutor em relação ao(s) destinatário(s); destinatário(s) e seu lugar social; finalidade ou intenção do autor; tempo e lugar material da produção e do suporte) e selecionar, a partir disso, os gêneros adequados para a produção do texto, operando sobre as di- mensões pragmática, semântica e gramatical. (BRASIL, 1998, p. 49). Esse objetivo mais amplo orienta, então, o estabelecimento dos ob- jetivos específicos quanto às diferentes modalidades da língua: oralida- de, escuta e leitura, produção oral e escrita de textos e análise linguística, todas considerando a linguagem em uso, ou seja, os diferentes gêneros discursivos que circulam nos diferentes campos da atividade humana. Esses objetivos sustentam-se na concepção de linguagem como for- ma de interação humana e a de aprendizagem na perspectiva vygotskya- na. Assim, Ao organizar o ensino, é fundamental que o professor tenha instrumen- tos para descrever a competência discursiva de seus alunos, no que diz respeito a: escuta, leitura e produção de textos, de tal forma que não planeje o trabalho em função de um aluno ideal para o ciclo, mui- tas vezes padronizado pelos manuais didáticos, sob pena de ensinar o que os alunos já sabem ou apresentar situações muito aquém de suas possibilidades e, dessa forma, não contribuir para o avanço necessário. Nessa perspectiva, pode-se dizer que a boa situação de aprendizagem é aquela que apresenta conteúdos novos ou possibilidades de aprofun- damento de conteúdos já tematizados, estando ancorada em conteú- dos já constituídos. Organizá-la requer que o professor tenha clareza das finalidades colocadas para o ensino e dos conhecimentos que precisam ser construídos para alcançá-las. (BRASIL, 1998, p. 48). Para ter acesso à íntegra dos textos dos PCNs, acesse o site <http://portal. mec.gov.br/seb/arquivos/ pdf/portugues.pdf>. Metodologia de Ensino 36 Vejamos o que diz a Proposta Curricular de Santa Catarina. A orientação teórica da Proposta Curricular de Santa Catarina tem por fundamento a psicologia histórico-cultural de Vygotsky e a concep- ção de linguagem de Bakhtin. A linguagem – sob o ponto de vista de suas múltiplas funções – é considerada uma prática social, ou seja, é acontecimento social, uma forma de interação. (BAKHTIN, 1990). Da mesma forma que os PCNs, essa proposta orienta-se com base na concepção interacionista da linguagem, portanto, pela teoria do dialo- gismo – Bakhtin (1990). As Diretrizes da Educação Básica do Paraná seguem a mesma orientação teórica da Proposta Curricular de Santa Catarina; vejamos: “O ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa visa aprimorar os co- nhecimentos lingüísticos e discursivos dos alunos, para que eles possam compreender os discursos que os cercam e terem condições de interagir com esses discursos” (PARANÁ, 2009, p. 50). Os documentos, de modo geral, consideram a escola um espaço de promoção do letramento do aluno. Nela, as práticas de uso da lín- gua se dão por meio de diferentes gêneros discursivos, com diferentes funções sociais. A Proposta Curricular de Minas Gerais, nas suas diretrizes peda- gógicas para o Ensino Fundamental do 6o ao 9o ano, estrutura-se com base nos mesmos fundamentos teóricos das propostas curriculares de Santa Catarina e do Paraná. Desse conjunto de diretrizes, destacamos as razões para ensinarmos Língua Portuguesa na escola expostas na Pro- posta Curricular de Minas Gerais: [...] ensinamos linguagem, não para “descobrir” o verdadeiro significado das palavras ou dos textos, nem para conhecer estruturas abstratas e regras de gramática, mas para construir sentidos, sempre negociados e compartilhados, em nossas interações. Nosso conceito de natureza e de sociedade, de realidade e de verdade, nossas teorias científicas e valores, enfim, a memória coletiva de nossa humanidade está depositada nos discursos que circulam na sociedade e nos textos que os materializam. Textos feitos de gestos, de formas, de cores, de sons e, sobretudo, de palavras de uma língua ou idioma particular. Assim, a primeira razão e sentido para aprender e ensinar a disciplina está no fato de considerar- mos a linguagem como constitutiva de nossa identidade como seres Para ler a Proposta Curri- cular de Santa Catarina, acesse: <http://www.sed. sc.gov.br/secretaria>. Leia o texto na íntegra, acessando: <http://www. diaadiaeducacao.pr.gov. br/diaadia/diaadia/arqui- vos/File/diretrizes_2009/ out_2009/lingua_ portuguesa.pdf> Para ler a Proposta Cur- ricular de Minas Gerais, acesse: <http://crv. educacao.mg.gov.br/ sistema_crv/index.asp?id_ projeto=27&id_objeto=388 77&tipo=ob&cp=000098&c p=&n1=&r>. Capítulo 03Diretrizes oficiais para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura 37 humanos, e a língua portuguesa como constitutiva de nossa identidade sociocultural. (MINAS GERAIS, 2006, p. 12). A linguagem é compreendida, nas propostas curriculares desses Es- tados, como prática social, como atividade discursiva por meio da qual os usuários se constituem sujeitos do discurso, desenvolvendo habilida- des sociocognitivas e apropriando-se de conhecimentos e de culturas necessárias à sua inserção no meio em que vivem. Consta na proposta de Minas Gerais: Ao se constituir e se realizar no espaço eu-tu-nós, sempre concreto e contextualizado, a linguagem nos constitui como sujeitos de discurso e nos posiciona, do ponto de vista político, social, cultural, ético e esté- tico, frente aos discursos que circulam na sociedade. A língua não é um todo homogêneo, mas um conjunto heterogêneo, múltiplo e mutável de variedades, com marcasde classes e posições sociais, de gêneros e etnias, de ideologias, éticas e estéticas determinadas. Nesse sentido, en- sinar e aprender linguagem significa defrontar-se com as marcas discur- sivas das diferentes identidades presentes nas variedades lingüísticas. Significa tornar essas variedades objeto de compreensão e apreciação, numa visão despida de preconceitos e atenta ao jogo de poder que se manifesta na linguagem e pela linguagem. Não podemos deixar de lembrar aqui as razões que devem nortear nosso papel como mediado- res das experiências dos alunos com a interlocução literária. O sentido do ensino e da aprendizagem impõe a ampliação de horizontes, de for- ma a reconhecer as dimensões estéticas e éticas da atividade humana de linguagem, só ela é capaz de tornar desejada a leitura de poemas e narrativas ficcionais. É essencial propiciar aos alunos a interlocução com o discurso literário que, confessando-se como ficção, nos dá o poder de experimentar o inusitado, de ver o cotidiano com os olhos da imagina- ção, proporcionando-nos compreensões mais profundas de nós mes- mos, dos outros e da vida. (MINAS GERAIS, 2006, p. 12). Os objetivos de ensino expressos nos diferentes documentos de re- ferência definem como objeto do ensino da Língua Portuguesa aquele por nós já mencionado: a linguagem em uso, ou seja, os textos orais e escritos que nós mesmos produzimos, que são produzidos por outros na sociedade de modo geral, os que circulam em nosso meio, aqueles dos quais fazemos uso para nos informar, para formar e partilhar opiniões, para nos orientar, para lazer, para informar alguém, para emitir opinião, para registrar nossas memórias, para expressar ideias e sentimentos, Metodologia de Ensino 38 para produzir cultura, enfim todas as formas de linguagem verbal que constituem nossa humanidade. Elegendo os diferentes textos, os quais materializam gêneros que são pro- duzidos nos diferentes campos da atividade humana, o conteúdo do ensino é a própria linguagem verbal, os recursos que ela oferece para que se pro- duzam esses gêneros, a sua gramática, como ela se estrutura para tornar possível a interação entre os falantes. Na língua têm-se, então, os estudos no eixo sintagmático, que tratam da combinação das palavras para for- mar sentenças; os estudos no eixo paradigmático, que tratam das palavras enquanto “unidades da língua que apresentam certa autonomia formal” (MARGOTTI, 2008); os estudos gramaticais de modo geral, conhecimentos e conceitos que possibilitam a descrição e a análise da língua sob diferentes abordagens (formal, funcional); os estudos sobre texto, textualidade e pa- drões de textualidade; os conhecimentos de sociolinguística, que possibili- tam compreender as relações entre as formas da língua e os diferentes gru- pos sociais que as utilizam; e conhecimentos sobre a linguagem literária. Certamente todos esses estudos científicos são importantes para o professor, que, ao deles se apropriar, será capaz de fazer a mediação en- tre os conhecimentos que os alunos já possuem e aqueles de que ainda necessitam ter o domínio para tornarem-se sempre mais capazes de ler e escrever de modo competente e adequado nas mais variadas situações em que a língua é requerida socialmente. Tais conhecimentos propi- ciarão ao professor avaliar o nível de conhecimento dos alunos no que diz respeito às diferentes modalidades da língua (a escuta, a leitura e a produção de textos orais e escritos), de tal forma que o processo de en- sino ancore-se em conteúdos já apreendidos e aprofunde-os ou avance na aprendizagem de novos conteúdos, segundo os objetivos de ensino e aprendizagem para dada situação. Em se tratando do ensino da linguagem em uso, os conteúdos serão trabalhados não em séries ordenadas por assuntos, mas sim, usando termos dos PCNs, de forma espiralada e progressiva. Podemos, portanto, sintetizar os objetivos do ensino de Língua Portuguesa e Literatura nos anos finais do Ensino Fundamental com o que dizem os PCNs (BRASIL, 1998, p.22): Capítulo 03Diretrizes oficiais para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura 39 O objeto de ensino e, portanto, de aprendizagem é o conhecimento lin- guístico e discursivo com o qual o sujeito opera ao participar das práti- cas sociais mediadas pela linguagem. Organizar situações de aprendiza- do, nessa perspectiva, supõe: planejar situações de interação nas quais esses conhecimentos sejam construídos e/ou tematizados; organizar atividades que procurem recriar na sala de aula situações enunciativas de outros espaços que não o escolar, considerando-se sua especifici- dade e a inevitável transposição didática que o conteúdo sofrerá; saber que a escola é um espaço de interação social onde práticas sociais de linguagem acontecem e se circunstanciam, assumindo características bastante específicas em função de sua finalidade: o ensino. Nessa perspectiva de ensino, na qual o professor é o interlocutor privilegiado nas situações de uso da linguagem, os PCNs enfatizam que o aluno dos anos finais do Ensino Fundamental é o jovem adolescente cujo processo de desenvolvimento caracteriza-se, dentre outros fatores, pela ampliação das formas de raciocínio, organização e representação, de expressão de observações e opiniões. Do mesmo modo, é caracte- rístico o desenvolvimento da capacidade de investigação, levantamento de hipóteses, abstração, análise e síntese na direção de raciocínio cada vez mais formal, o que traz a possibilidade de constituição de conceitos mais próximos dos científicos. É característico ainda dessa fase de de- senvolvimento um tipo de comportamento tomado de valores específi- cos dessa faixa de idade, os quais atuam como forma de identidade em relação ao lugar que esses jovens adolescentes ocupam na sociedade e nas relações que estabelecem com os adultos e seus pares. Tais valores se evidenciam, principalmente, no tipo de linguagem em que há a incor- poração e criação de modismos, uso de vocabulário específico, formas de expressão adotadas em função da atividade exercida – é o caso dos surfistas, esqueitistas, funkeiros, etc. –, caracterizadas como falas típicas de determinados grupos. Por essa razão, o trabalho com a linguagem, esta entendida como constitutiva e constituidora do sujeito, impõe que a reflexão seja uma constante, a fim de permitir o reconhecimento, pelo adolescente, da própria linguagem e de seu lugar no mundo, bem como a percepção das outras formas de organização do discurso, principal- mente daquelas dos textos escritos. A prática de reflexão sobre a língua – análise linguística –, atividade constante em todo o processo de ensino e aprendizagem, visa, então, ao Metodologia de Ensino 40 desenvolvimento da capacidade de o aluno produzir e interpretar tex- tos, na participação em práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita, de modo ético, crítico, criativo e democrático. Em se tratando de prática de análise linguística, no ensino dos anos iniciais, por exemplo, priorizamos atividades epilinguísticas em que a reflexão se volta para o uso, para o interior da própria atividade, como tomada de consciência da própria produção e interpretação. Já nos anos finais, em que se es- pera que os alunos tenham se apropriado de conhecimentos que lhes possibilitem produzir discursos orais e escritos, para responder às de- mandas das esferas de comunicação mais próximas de seu cotidiano, atividades metalinguísticas fazem-se necessárias para que o domínio de conhecimentos sobre a linguagem possibilite a expansão dos níveis de letramento escolar dos alunos. As atividades metalinguísticas são aque- las voltadas à descrição, sistematização e categorização dos elementos de que se compõe a língua. Em relação ao Ensino Médio, a LDB/5692/71 indicava que a língua portuguesa fosse ministrada em duas disciplinas assim nominadas: Lín- gua Portuguesa e Literatura, com ênfase na literatura brasileira. Os Parâ- metros Curriculares
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