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1 Resumo – Prova Maternidade (por Duda) Fases clínicas do parto Parturição O parto é caracterizado por contrações das fi- bras miometriais, responsáveis por causar a dila- tação cervical e a expulsão do feto. Antes do início dessas contrações, o útero sofre modificações fi- siológicas e bioquímicas locais, além do aumento da frequência de contrações indolores (de Brax- ton Hicks), até o verdadeiro trabalho de parto ser deflagrado. A quiescência é a primeira fase. Ela é caracte- rizada por relativa resposta a agentes que deter- minam a contractilidade uterina. Inicia-se com a implantação do zigoto e perdura por quase toda a gestação. Apresenta apenas poucas contrações, que não modificam a estrutura cervical nem cau- sam dilatação do colo uterino. A segunda fase chama-se ativação e é a res- ponsável por preparar o útero e o canal cervical para o trabalho de parto (6 a 8 semanas). Resulta em algumas modificações cervicais e na descida do fundo uterino. A estimulação é dividida em dilatação, expul- são e dequitação. Seu fenômeno mais importante são as contrações uterinas efetivas, que, para adequado trabalho de parto, devem possuir fre- quência regular de 2 a 5 contrações a cada 10 mi- nutos, intensidade entre 20 e 60mmHg e duração de 30 a 90 segundos. A última e quarta fase é a involução, consis- tindo no retorno ao estado pré-gravídico (após de- quitação). Ocorre contração persistente que pro- move a involução uterina. Fases clínicas do parto A dilatação inicia-se com as primeiras contra- ções dolorosas, que causam a modificação da cérvix, e termina com a dilatação completa do colo uterino (10 cm). A modificação da cérvix cau- sada por esse estágio consiste em dois processos distintos: o esvaecimento cervical e a dilatação propriamente dita. Em primíparas, ocorre primeiro o esvaecimento cervical de cima para baixo se- guida da dilatação do orifício externo. Já em mul- típaras, esses eventos ocorrem simultaneamente. O esvaecimento ou apagamento do canal cer- vical é a incorporação do colo à cavidade uterina, que resulta na formação de um degrau ao centro da abóbada cervical. Esse é um processo ativo que culmina de alterações químicas, como a fra- gmentação e redisposição das fibras de colágeno e a alteração na concentração de glicosaminogli- canas. Próximo ao termo, há aumento do infiltrado in- flamatório no canal cervical, causando mudanças locais que promovem a maturação cervical e a lise das fibras de colágeno. A progesterona possui ação anti-inflamatória, o que pode ter relação com seu efeito inibidor sobre o esvaecimento cer- vical. Desse mesmo modo, drogas antiprogeste- rona, como a RU-486, causam esvaecimento cer- vical em qualquer época da gestação. A dilatação do orifício externo do colo busca ampliar o canal de parto e completar a continui- dade entre útero e vagina. Conforme a dilatação cervical progride, cria-se um espaço entre o polo cefálico e as membranas ovulares, a bolsa das águas. 2 Essa bolsa é uma coleção de líquido amniótico com função de auxiliar as contrações uterinas no deslocamento do istmo. Ela se forma no polo in- ferior do ovo no decorrer do trabalho de parto e sua rotura causa saída parcial do líquido quando há pelo menos 6 cm de dilatação (rotura opor- tuna). Sua rotura pode ser ainda precoce (no início do trabalho de parto, com menos de 6 cm) ou tar- dia (8 cm ou mais de dilatação). É chamado de nascimento de feto empelicado quando há rotura contemporânea à expulsão do feto. Quando ocorre rotura das membranas ovula- res antes do trabalho de parto é chamada de am- niorrexe prematura – o termo “bolsa rota” está er- rado, pois a bolsa das águas forma-se apenas du- rante o trabalho de parto. A dilatação é compreendida em uma fase la- tente e um fase ativa. Na fase latente, ocorrem contrações mais eficazes, porém sem determinar modificações significativas na dilatação cervical. Esse período dura cerca de 8 horas, sendo que a evolução e a duração da dilatação dependem das modificações que ocorrem nas duas semanas que precedem o parto. É considerada prolongada se superior a 20 horas em primíparas e 14 horas em multíparas. A fase ativa tem início com 4 centímetros de di- latação cervical, durando cerca de 6 horas em pri- míparas e 3 horas em multíparas. Ela é subdividida em 3 estágios: na aceleração, a velocidade de di- latação começa a se modificar e a curva sobre; na dilatação ou aceleração máxima, ela passa de 2 a 3 centímetros para 8 a 9; e a desaceleração pre- cede a dilatação completa. Diagnóstico do trabalho de parto: contrações uterinas com pelo menos 2 a cada 10 minutos, mí- nimo de 2 centímetros de dilatação e presença de esvaecimento e/ou modificações progressivas do colo uterino. Na expulsão, o feto é expelido do útero pelo canal de parto em decorrência tanto das contra- ções uterinas quanto das contrações voluntárias dos músculos abdominais (puxos). Nela ocorre a maioria dos fenômenos mecânicos do parto. O ca- nal de parto está formado quando o canal cervical totalmente dilatado e a vagina são uma única ca- vidade. Inicia-se com a dilatação completa e ter- mina com a saída do feto. Com a dilatação completada, o útero encon- tra-se imobilizado pela ação de contenção dos li- gamentos largos lateralmente, do redondo supe- riormente e do uterossacro posteriormente. A re- sultante da força das contrações miometriais con- verge sobre o orifício interno do colo uterino, con- tra o qual a apresentação fetal é impelida. A descida do polo cefálico descreve uma curva logarítmica, possuindo uma fase pélvica e uma perineal. Na primeira, há dilatação completa do colo uterino e apresentação acima do plano +3 de De Lee. Na segunda, a cabeça encontra-se ro- dada e em plano inferior ao +3 de De Lee. A duração da expulsão é determinada pela proporção cefalopélvica e pela eficiência contrátil 3 do útero e da musculatura abdominal. Dura cerca de 30 minutos em multíparas e 60 minutos em pri- míparas. É considerado prolongado se superior a 3 horas com analgesia e a 2 horas sem em primí- paras e se superior a 2 hora com e 1 hora sem analgesia em multíparas. A dequitação, também chamada de secunda- mento ou dequitadura, é o período em que o útero expele a placenta e as membranas após o nasci- mento do feto. Após o deslocamento de seu leito uterino, em virtude do menor volume uterino após a expulsão fetal e das contrações uterinas vigoro- sas e indolores, a placenta desce através do canal de parto e é expelida pela rima vulvar. No deslocamento central, que é mais fre- quente, a primeira face a ser visualizada na rima é a fetal. Caso haja sangramento, esse ocorre pos- terior à expulsão da placenta. Já no deslocamento marginal ou periférico, menos comum, a primeira face a ser visualizada é a materna, havendo esco- amento de sangue antes da total expulsão. Ocorre de 10 minutos a 1 hora após o parto, sendo fisiológico até no máximo de 20 a 30 minu- tos, acontecendo em 80% dos casos nos primeiros 10 minutos. A primeira hora pós-parto, indevidamente chamada de 4º período de Greenberg, ocorre imediatamente após a dequitação, sendo a pri- meira hora do puerpério. Compreende a estabili- zação dos sinais vitais maternos e a hemostasia uterina. Apresenta eventos de miotamponamento e de trombotamponamento, indiferença mioute- rina e contração uterina fixa que a segue. A diminuição do volume uterino causa angula- ção das artérias e consequente diminuição da perfusão uterina. A contração do útero (ligaduras vivas ou globo vivo de Pinard) gera oclusão dos vasos miometriais, caracterizando o miotampona- mento. O trombotamponamento é a segunda linha de defesa contra hemorragia e consiste na forma- ção nos grandes vasos placentários. Chama-se indiferença miouterina o estado de contração e relaxamento das fibras miometriais na primeira hora pós-parto. Isso permite o enchi- mento e o esvaziamento de sangue no interior do útero. A hemostasia depende do trombotampo- namento. Esse estado pode ser prolongado em grandes multíparas ou em caso de distensão ex- cessiva do útero, como gestações múltiplas, fetos macrossômicos e polidrâmnio. A contração uterina fixa ocorre com o fim desse período, cerca de 1 hora depois. O aumento do tônus mantém a hemostasia pós-parto, le- vando ao retorno do útero ao estado pré-graví- dico. --------------------------------------------------- Mecanismo do parto É o conjunto de movimentos e fenômenos ati- vos e passivos do feto durante sua passagem pelo canal de parto. Ele depende da relação entre as características de forma e tamanho da pelve ma- terna e as do produto conceptual. As contrações uterinas são a força motriz do trabalho de parto. As apresentações cefálicas fletidas com varie- dade de posição anterior são as mais comuns e as com melhores características para a progressão do mecanismo de parto. Os outros tipos de apre- sentação fetal são considerados anômalos, pois são causas de parto distócico, no qual há bloqueio físico à passagem do feto pela bacia. Entretanto, eles não são necessariamente impedimento para o parto vaginal. A distocia pode ser resultante de mais de um fator (contrações, bacia e feto), desse modo, a apresentação fetal é limitante, mas nem sempre determinante de um parto de difícil pro- gressão. A situação longitudinal é a única condição pos- sível de descrever o mecanismo de parto. Situa- ções transversais e todas as apresentações cór- micas impossibilitam o parto vaginal, sendo ne- cessário outro tipo de abordagem. 4 Relações útero-fetais Atitude Depende da disposição dos membros e da co- luna vertebral. Na maioria das vezes, há flexão ge- neralizada durante toda gestação e parto, ge- rando aspecto oval com extremidades cefálica e pélvica. Em situações anômalas, pode haver ex- tensão da coluna vertebral com deflexão do polo cefálico, gerando apresentações defletidas de 1º, 2º e 3º grau. A ausência persistente de flexão de to- dos os membros é anormal e pode indicar sofri- mento fetal grave por perda de tônus muscular. Situação É a relação entre o maior eixo da cavidade ute- rina e o maior eixo fetal. Existem três possibilida- des: longitudinal, transversal e oblíqua. Apresentação É a região fetal que ocupa a área do estreito superior (1ª passagem óssea materna) e nela vai se insinuar. Para existir apresentação, o volume da região fetal deve ser capaz de encontrar obstá- culo na sua passagem pelo canal pelvigenital. Em virtude disso, não há apresentação antes do 6º mês gestacional, uma vez que o diâmetro é muito inferior ao da bacia. Com situação longitudinal, existem as apre- sentações cefálica e pélvica. Já com situação transversal, têm-se as apresentações córmica (dorso anterior ou posterior) e dorsal1 (superior ou inferior). Na gestação a termo, a situação longitu- dinal é muito mais frequente. Denomina-se procidência ou prolapso quando uma parte fetal menor, como um membro, se an- tepõe à apresentação durante o trabalho de parto. A laterocidência, ou apresentação composta, por sua vez é quando a pequena parte fetal desce ao lado e junto a um dos polos fetais. A atitude fisiológica da cabeça fetal é flexio- nada, com o mento aconchegado ao esterno, que compreende a apresentação cefálica fletida, de vértice ou de occipício. Entretanto, a cabeça pode estar em extensão ou defletida, determinada em graus variados: 1 Extremamente mais raras. o 1º grau de deflexão: bregma como ponto de referência fetal no centro da área do estreito superior (apresentação de bregma). o 2º grau de deflexão: glabela como ponto de referência fetal (apresentação de fronte). o 3º grau de deflexão: mento como ponto de referência fetal (apresentação de face). Nas apresentações pélvicas, a atitude fisioló- gica do polo pélvico (apresentação pélvica com- pleta) é com as coxas fletidas e aconchegadas no abdome e com as pernas fletidas junto a elas. Existem ainda: o Modo de nádegas (ou agripina): membros in- feriores estirados e rebatidos de encontro à parede ventral do feto. o Modo de joelhos ou de pés: pequenas partes fetais não são capazes de comprimir o colo uterino durante o trabalho de parto – são pro- cidências, procúbitos. Posição e variedade de posição A posição fetal é a relação do dorso fetal com o lado materno, podendo ser esquerda (1ª posi- ção) ou direita (2ª posição). A finalidade em deter- minar a posição fetal é buscar a melhor localiza- ção para a ausculta cardíaca fetal durante o traba- lho de parto, que costuma ser ipsilateral ao seu lado do dorso. A exceção são as apresentações cefálicas defletidas em 3º grau, nas quais os bati- mentos são mais nítidos na face anterior do tronco do concepto. 5 São utilizadas 3 letras como nomenclatura de- finidora de apresentação, posição e variedade de posição fetais. A primeira letra2 diz respeito ao ponto de referência da apresentação fetal, a se- gunda3 refere-se ao lado materno para o qual está voltado o ponto de referência fetal (posição) e a terceira4 é a variedade de posição, ou seja, con- forme o feto esteja voltado para o ponto de refe- rência óssea da bacia materna (rotação do feto). Apresentação Ponto de reparo Ponto de referência Linha de orientação Cefálica fletida Fontanela lambdoide Occipício S. sagital Cefálica defle- tida de 1º grau Ângulo poste- rior da fonta- nela bregmá- tica Bregma S. sagitome- tópica Cefálica defle- tida de 2º grau Raiz do nariz ou glabela Naso S. metópica Cefálica defle- tida de 3º grau Mento Mento Linha facial Pélvica Cóccix Sacro S. interglúteo O toque vaginal durante o trabalho de parto busca identificar a variedade de posição, que con- siste na relação entre pontos de reparo5 maternos e fetais. Para determinar corretamente a varie- dade de posição, é necessário diferenciar a fonta- nela lambdoide (Y) e a fontanela bregmática (lo- sango). 2 O (occipício), B (bregma), N (naso), M (mento), S (sacro) ou A (acrômio). 3 D (direita) ou E (Esquerda), a última sendo geralmente mais frequente. Apresentação cefálica fletida Em termos gerais, divide-se o mecanismo de parto em 6 tempos. Essa divisão é puramente di- dática, uma vez que esses tempos se sobrepõem continuamente. Insinuação É a passagem do maior diâmetro da parte fetal apresentada pelo estreito superior. Nas apresen- tações cefálicas, o maior diâmetro é o biparietal, enquanto nas pélvicas é o bitrocantérico. Na mai- oria das mulheres, quando a parte fetal apresen- tada está insinuada, o ponto de referência ósseo fetal está no nível das espinhas isquiáticas mater- nas (plano 0 de De Lee ou 3º plano de Hodge). São exceções as mulheres com pelve muito rasa ou muito profunda. A presença de insinuação indica que o estreito superior é adequado à passagem do feto. Nessas apresentações, ela varia conforme o tipo de bacia, porém em 60% das vezes o feto orienta-se de tal forma a direcionar a sutura sagital no diâmetro transverso. A cabeça fetal inicia em atitude indiferente ou semifletida, oferecendo o diâmetro occipitofrontal 4 A (anterior – eminência ileopectínea), T (transversa – extre- midade do plano transverso), P (posterior ou púbis – sinostose sacroilíaca) ou S (sacro – materno). 5 Pontos de reparo são acidentes ósseos reais; pontos de refe- rência são convenções para nomear os pontos de reparo. 6 (cerca de 12cm). Com o prosseguimento das con- trações, há exagero da flexão, oferecendo diâme- tros menores, como suboccipitofrontal (10,5 cm) e o suboccipitobregmático (9,5 cm). Desse modo, a articulação entre a cabeça e a coluna cervical fun- cional como alavanca (Teoria de Zweifel). Em pri- migestas, a insinuação ocorre 15 dias antes do parto. Em multíparas, ela pode ocorrer a qualquer momento, desde antes do trabalho de parto até após a dilatação completa. Assinclitismo e sinclitismo A articulação da cabeça com a coluna vertebral do feto é bastante móvel, permitindo também o movimento de flexão lateral do polo cefálico. Du- rante a insinuação, um dos ossos parietais atra- vessará o estreito superior antes do outro. No assinclitismo posterior (A), a sutura sagital se aproxima da pube e o parietal posterior desce até ultrapassar o promontório materno (obliquidade Litzmann). No anterior (C), a sutura sagital está mais próxima do sacro e o parietal anterior encon- tra-se mais baixo (obliquidade de Näegele). Durante o trabalho de parto, há um momento (“ali- nhamento”) em que o parietal insinuado ultra- passa o ponto de referência da bacia óssea e, com o aumento da área abaixo do estreito superior, é possível mover lateralmente o polo cefálico. Isso traz a sutura sagital à mesma distância entre o pú- bis e o promontório, e a cabeça fica em sinclitismo (B) nesse momento. Em jovens primíparas, a cabeça fetal mostra-se mais frequentemente em assinclitismo posterior em decorrência das contrações uterinas e da prensa abdominal. Com a progressão fetal, há mu- danças sucessivas de assinclitismo posterior a an- terior, facilitando a descida. Nas multíparas com musculatura abdominal flácida, o útero perma- nece em anteroversão, favorecendo o assincli- tismo anterior. Moderados graus de assinclitismo são normais durante o trabalho de parto vaginal. Em casos de desproporção cefalopélvica, ele é acentuado du- rante todo o período de descida e pode impedir a rotação interna, causando distocia de rotação. São mecanismos de insinuação a flexão, o assin- clitismo e o cavalgamento. Esse último visa dimi- nuir as dimensões do polo cefálico: os maciços frontal e occipital se locam por baixo dos parietais e a borda interna de um deles se sobrepõe à outra. Descida Também chamada de progressão, a descida é o 2º tempo do mecanismo de parto e trata-se da passagem do polo cefálico do estreito superior para o inferior. Enquanto a descida está ocor- rendo, a insinuação pode não ter ocorrido ainda e a rotação está acontecendo concomitantemente. O esquema de De Lee é composto de planos ditos em centímetros a partir das espinhas isquiáticas: insinuada no plano 0 e baixa em +4 ou +5, já aflo- rando na vulva. O canal de parto possui a forma de “J”. Em pri- míparas, a descida não ocorre até a cervicodilata- ção completa, mesmo que a insinuação possa ocorrer antes do desencadeamento do trabalho de parto. Multíparas, por sua vez, apresentam usu- almente a descida antes da insinuação. Um ou mais fatores podem contribuir com a descida, sendo eles a contração uterina, a contra- ção dos músculos abdominais, a pressão do lí- quido amniótico e a extensão do ovoide fetal. Rotação interna Tem por objetivo coincidir o diâmetro antero- posterior com o maior diâmetro da bacia materna, isso porque no estreito superior o maior diâmetro é o transverso e no inferior é o anteroposterior. Durante a descida, há rotação para colocar o polo cefálico sob o púbis, realizando o movimento de espira. Desse modo, a sutura sagital fica orientada na direção do maior diâmetro do estreito inferior, isto é, o anteroposterior. 7 A rotação normalmente traz o ponto de refe- rência fetal para frente, junto ao púbis (rotação an- terior ou púbica). Excepcionalmente, roda-o para trás (rotação posterior ou sacra), sendo mais co- mum em variedades de posição anterior. Isso faz com que o ponto de referência fetal fique na re- gião sacral da bacia materna, tornando o despren- dimento cefálico mais difícil e moroso. Nas apresentações cefálicas fletidas, há maior flexão da cabeça fetal no sentido anteroposterior e da coluna vertebral lateralmente. A importância da integridade dos músculos perineais se prova pela maior incidência de variedades e rotações posteriores em multíparas. Com exceção de fetos muito pequenos, a rota- ção interna é essencial para que ocorra ultimação do parto. Os principais fatores que impedem a ocorrência de rotação interna são contrações de baixa intensidade, ausência de flexão cefálica e fe- tos grandes. A analgesia peridural diminui a força da musculatura abdominal e relaxa a musculatura pélvica, predispondo às rotações incompletas. Desprendimento cefálico Ocorre com a descida final da cabeça fetal em posição occipitopúbica. Como o polo cefálico está em flexão, é necessário que ocorra movimento de deflexão ou extensão da cabeça para ocorrer ex- teriorização do maciço frontal. Dessa forma, o di- âmetro suboccipitobregmático (9,5 cm) ocupa o diâmetro anteroposterior do estreito inferior e a fronte do feto rechaça o cóccix, aumentando esse diâmetro de 9 para 11 cm, o que se denomina re- tropulsão coccígea. Por meio de duas forças antagônicas (contra- ção uterina e resistência perineal), o feto é impul- sionado para baixo e para fora do canal de parto. Ao vencer tal resistência, a cabeça fetal desfere movimento abrupto de extensão. Ocorre, por- tanto, a exteriorização do bregma, da fronte, do nariz e do mento do feto, sucessivamente. O desprendimento cefálico em posição occipi- tossacra é lento, podendo necessitar auxílio do fórcipe. A flexão cefálica acentua-se para que haja desprendimento do occipício com posterior de- flexão do polo cefálico na direção do dorso ma- terno, o que resulta no desprendimento do ma- ciço frontofacial . Rotação externa Também chamada de “movimento de restitui- ção”, faz com que o occipício se volte para o lado materno que ocupava no interior do canal de parto. A sutura sagital apresenta-se em sentido transversal ao fim desse tempo e as espáduas ro- dam, trazendo o diâmetro biacromial para o diâ- metro anteroposterior do estreito inferior. Desprendimento do ovoide córmico Trata-se da exteriorização das cinturas esca- pular e pélvica do feto. Após a rotação das espá- duas, o ombro anterior fixa-se no subpúbis e des- prende-se por movimento de abaixamento. De- pois, o ombro posterior desprende-se por movi- mento de elevação e completa-se a expulsão da cintura escapular. Após isso, o resto do ovoide é prontamente expelido, sem maior resistência. Apresentação cefálica defletida A apresentação cefálica fletida ocorre em 95,5% das gestantes. Com o exame interno, isto é, toque vaginal com a cérvix dilatada, é possível identificar apresentações pélvicas e defletidas, que possuem superfície mais macia e irregular. Em caso de colo uterino impérvio, o uso de ultras- sonografia é imprescindível. 8 Apresentações cefálicas defletidas geral- mente derivam de cefálicas fletidas, sendo que a cabeça de semiflexão não evolui para flexão (pressão axial) quando há impedimento à descida do occipício. Causas disso são bacias viciadas, contração ineficiente, anomalias de conformação da cabeça fetal e modificações na forma uterina (fundo desviado). As apresentações defletidas de 3º grau são mais frequentes e derivam de variações occipito- posteriores. Um determinado grau de deflexão pode evoluir para um grau maior à medida que as contrações se sucedem. Cefálica defletida de 1o grau Etiologia: é desconhecida. São fatores de risco a multiparidade, desproporção cefalopélvica, bra- quicefalia fetal, bacias muito amplas e feto pe- queno. Diagnóstico: realizado intraparto por meio do toque vaginal, através da identificação da linha de orientação sagitometópica e da fontanela breg- mática. O diagnóstico diferencial é feito om as va- riedades occipitoposteriores, nas quais se identifi- cam a lambda e a linha sagital. Mecanismo de parto: o diâmetro anteroposte- rior de insinuação é o occipitofrontal (12 cm). Dessa forma, há acentuado grau de moldagem cefálica e essas apresentações solicitam intensa- mente da vagina, que pode lacerar devido à dis- tensão. A cabeça desprende-se em dois tempos, primeiro flete e libera o occipício e depois deflete e libera a fronte e a face. Existem maiores riscos para a gestante e o feto, logo, deve-se estar pre- parado para o parto por via abdominal. É uma apresentação relativamente frequente, possuindo chance de evolução para parto vaginal, desde que a bacia seja ginecoide e a vitalidade fe- tal esteja assegurada. Recomenda-se evitar o parto vaginal instrumentalizado e o uso indiscrimi- nado de ocitócitos. Cefálica defletida de 2o grau Etiologia: possui os mesmos fatores de risco que as de 1º grau, acrescendo-se feto volumoso, pequeno ou morto, dolicocefalia, polidrâmnio e placenta prévia. A não ser em fetos muito peque- nos ou macerados, são apresentações extrema- mente raras. Não é possível sua evolução para o parto vaginal, que, para ocorrer, a apresentação deve ser transitória, evoluindo para fletida ou de- fletida de 1º ou 3º grau. O parto é distócico na quase totalidade dos casos. Diagnóstico: feito por meio do toque vaginal, através da identificação da sutura metópica (linha de orientação) e da glabela ou raiz do nariz (ponto de referência). Mecanismo de parto: trata-se da apresenta- ção cefálica que apresenta o maior diâmetro, o occipitomentoniano, de 13 a 13,5 cm, logo, não é capaz de realizar a insinuação do polo cefálico. É mais provável que a apresentação evolua para as formas fletidas ou defletida de 3º grau do que para um mecanismo próprio dessa apresentação. A rotação é custosa e muitas vezes a cabeça fetal permanece em variedade transversa. O hipomó- clio (alavanca) é representado pela glabela locali- zada abaixo da sínfise púbica. Cefálica defletida de 3o grau Etiologia: possivelmente relacionadas a fato- res que predisponham à extensão e/ou impeçam a flexão cervical, como hidrocefalia acentuada, tu- mores cervicais anteriores, excesso de líquido amniótico e rotura intempestiva das membranas 9 ovulares. Dos fatores materno, o mais importante é a multiparidade, pois a flacidez da musculatura abdominal faz com que o dorso fetal fique pen- dente. Diagnóstico: realizado por meio do toque va- ginal, através da identificação da linha facial (linha de orientação) e do mento (ponto de referência). Na maioria das vezes, a variedade é mentoanterior (60%), sendo que as posteriores e transversas cos- tumam evoluir para mentoanterior. Mecanismo de parto: a insinuação ocorre por um aumento da deflexão e, conforme progride, a deflexão aumenta e ocorre substituição do diâ- metro mentoretrobregmático (anteroposterior) pelo submentobregmático. Com a menor exten- são dos diâmetros insinuados, o parto costuma não apresentar dificuldades. As variedades mentoanteriores possuem descida curta, pois representa apenas a altura da sínfise púbica, uma vez que o mento está sob ela. Nas mentoposteriores, é necessário que ocorra rota- ção complementar de descida (90°). Isso porque a distância entre mento e manúbrio é menor que al- tura do sacro, logo, a cabeça não pode descer sem rodar, por mais que se distenda o pescoço, sem rotação não há ultimação do parto. A rotação interna busca trazer o mento para frente e, ao seu término, o diâmetro submentobregmá- tico está coincidindo com o diâmetro anteropos- terior do estreito inferior. Por fim, a cabeça roda externamente e o mento retorna para o lado de antes. Fenômenos plásticos do polo cefálico Consistem no cavalgamento ósseo e na bossa se- rossanguínea. O primeiro é importante na insinua- ção e na descida, enquanto o segundo é conse- quente ao mecanismo de parto e tem valor no di- agnóstico de parto distócico. Cavalgamento ósseo do polo cefálico Objetiva reduzir os diâmetros cefálicos, uma por- ção se ajusta abaixo da outra, sendo mais fre- quente os ossos frontal e occipital sob os parietais e um parietal sob o outro. A craniossinostrose (fu- são precoce dos ossos) causa impossibilidade de ocorrência desse fenômeno, podendo impedir o parto vaginal. Bossa serossanguínea Forma-se por transudação dos vasos presentes entre a derme e o periósteo do crânio ou da face fetal, com instalação de infiltração local decor- rente da pressão negativa no centro do canal va- ginal. Para que a pressão interfira na filtração plas- mática, a bolsa das águas precisa estar rota. Localiza-se no vértice da apresentação fetal. Quanto mais prolongado for o trabalho de parto, maior será a bossa. O diagnóstico diferencial é feito com cefaloematoma, causado pela rotura de vasos e extravasamento sanguíneo entre o pe- riósteo e o osso craniano. Apresentações pélvicas A ocorrência dessas apresentações é inversa- mente proporcional à idade gestacional. O parto pélvico por via vaginal é pouco frequente, ocor- rendo em casos de feto malformado ou morto, preferência da gestante e fase avançada de tra- balho de parto na admissão. Existem 3 tipos: o Completa: 5 a 10%, flexão generalizada. o No modo de nádegas, agripina: 50 a 70%. o Incompleta: 10 a 40%, um ou ambas as co- xas estendidas, com um ou ambos os joe- lhos ou pés no estreito superior. Deve-se investigar, na admissão, a presença de fator predisponente para evitar complicações inerentes a esses fatores. É de difícil identificação no exame de palpação, sendo necessário ultras- som complementar para confirmação. Opta-se por cesárea eletiva geralmente, a fim de diminuir da- nos durante trabalho de parto e parto. Todavia, essa opção também reduz as chances de versão cefálica espontânea, que pode ocorrer até após 40 semanas em 20% dos casos. São algumas regras para a decisão pela via va- ginal o peso do concepto de 2,5 a 3,499 kg e a 10 idade gestacional superior a 36 semanas. É o parto das dificuldades crescentes, pois apresenta cintos de distocia (cintura pélvica, cintura escapu- lar e cabeça fetal) com diâmetros cada vez maio- res. A cabeça não sofre compressões por tempo su- ficiente para haver moldagem óssea. Versão cefálica externa A manobra de modificação de apresentação fetal córmica ou pélvica para cefálica apresenta sucesso em 2/3 dos casos, reduzindo a taxa de ce- sárea de 83 para 37%. Ela é recomendada em apresentações pélvicas após o termo (37 sema- nas), o mais próximo do parto possível, até o início do trabalho de parto. Não é necessário utilizar to- colíticos. Contraindicações: gestação múltipla, pre- sença de oligâmnio, alteração da vitalidade fetal, restrição do crescimento fetal, presença de pla- centa prévia e malformações uterinas. Cuidados antes e durante o procedimento: certificar-se da apresentação fetal (US), avaliar a vitalidade fetal, localizar inserção placentária (evi- tar manipulação), garantir que não há vício pélvico, suspender o procedimento se a paciente tiver dor intensa, sangramento genital ou houver grande resistência, monitorar o feto durante a manobra e realizar o procedimento em ambiente hospitalar capacitado para parto de urgência (complicação). Realiza-se elevação delicada do polo pélvico e apreensão dos dois polos, reforçando a flexão ce- fálica. Então desloca-se a pelve fetal para cima e a cabeça para baixo. De uma a duas horas depois, faz-se avaliação da vitalidade fetal e pode ser dada alta hospitalar. Se realizada no início do tra- balho de parto, faz-se a amniotomia, se a altura da apresentação assim o permitir, pois facilita o pro- cesso de insinuação do polo cefálico. Mecanismo de parto Os tempos diferem das apresentações cefáli- cas devido à ordem de desprendimento das ex- tremidades fetais: insinuação, descida e rotação do polo pélvico, desprendimento das espáduas e desprendimento da cabeça. Durante a insinuação, o diâmetro bitrocantérico ocupa um dos oblíquos do estreito superior e o diâmetro sacrotibial (pél- vicas completas) ou sacropúbico (agripinas) ocupa o diâmetro oblíquo perpendicular. O ponto de referência fetal é o sacro e a linha de orienta- ção é o sulco interglúteo. A rotação interna é sempre de 45°, sendo que o diâmetro bitrocantérico vai de 12 a 9,5 cm por acomodação dos tecidos moles, ocupando o diâ- metro anteroposterior do estreito inferior. Desta forma, o hipomóclio dessas apresentações é a re- gião imediatamente acima da crista ilíaca. O qua- dril anterior se desprende primeiro e, em seguida, o posterior. Quando o parto é assistido, o diâmetro biacro- mial insinua-se em um dos diâmetros oblíquos e os braços desprendem-se junto ao tórax. No parto não assistido, o tronco pende por ação da gravi- dade e ocorre rotação e consequente desprendi- mento do diâmetro biacromial alinhado ao diâme- tro transverso da bacia materna. Nas apresentações pélvicas, a cabeça se apre- senta fletida. A rotação interna loca o suboccipício por baixo da pube, ele então rechaça o cóccix pela região frontal e desprende-se (na ordem: mento, face e fronte). Assistência ao parto pélvico Nas primíparas, recomenda-se fazer episioto- mia tardiamente. Se o polo pélvico chegar à vulva, não se tem necessariamente as condições para um parto vaginal, pois o colo poderá estar com di- latação menor que a total, o que é frequente nas pélvicas incompletas. Estando a cabeça fletida e os braços juntos ao tórax, o feto nasce bem e não são necessárias manobras assistenciais. A manobra recomendada para o sucesso da expulsão fetal é a de Thiessen, impedindo o des- prendimento da pelve por 2 ou 3 contrações (pressionar o períneo). O aumento da pressão in- terna promove dilatação completa da cérvix e condensação do ovoide fetal. Com a realização 11 em seguida de episiotomia, expulsão fetal ocorre em bloco. - Manobra de Bracht Adota-se atitude passiva, sem executar tração al- guma, apenas orientando o feto. Uma vez o polo pélvico expulso, as mãos do parteiro abarcam-no, com os últimos 4 dedos aplicados sobre a região sacrococcígea de cada lado da coluna vertebral e os polegares mantendo as coxas aconchegadas. Nessa posição, soergue-se o feto em torno do pú- bis da mãe. Isso evita a extensão dos braços. No momento oportuno, faz-se a alça no cordão. Por último, o feto é rebatido progressivamente so- bre o abdome da mãe e a cabeça também se des- prende de modo espontâneo. Nas apresentações pélvicas de nádegas, é reali- zada a manobra de Pinard, que as transforma em pélvica completa. Nela, toma-se a perna fetal an- terior, imprimindo os dedos indicador e médio na face posterior do joelho fetal e o polegar na face anterior da coxa, realizando compressão do cavo poplíteo. Há flexão da perna, alcançando-se o pé. - Anormalidades do MdP nas a. pélvicas Jamais tracionar o feto, de forma a impedir ou mi- nimizar as deflexões que dificultariam sua expul- são. Caso já existam, deve-se corrigi-las. As prin- cipais anormalidades são a rotação de dorso, na qual a cabeça acompanha e deflete, e a deflexão dos braços. Nessa última, há aumento da extensão do diâme- tro biacromial e os braços somam seu volume ao da cabeça derradeira, tornando impossível a sa- ída, a não ser às custas de manobras especiais. Isso ocorre por assistências defeituosas, trações excessivas e/ou contração uterina deficiente. Na deflexão da cabeça derradeira, a cabeça de- flete, impacta sobre o promontório materno e não há possibilidade de descer e desprender-se, a menos que haja rotação complementar de des- cida. - Manobras para desprendimento das espáduas As espáduas costumam desprender-se com faci- lidade no parto pélvico se for mantida a posição fisiológica de flexão. A deflexão das espáduas ocorre quase sempre pela tração do feto por ma- nobra intempestiva. - Manobra CLÁSSICA: usada em casos de resistência do desprendimento com os braços flexionados. Faz-se a apreensão de um dos bra- ços fetais (anterior ou poste- rior), aplicando-se os dedos indicador e médio no úmero e o polegar na axila, tracio- nando o braço pela face an- terior do tórax fetal. - Manobra de DEVENTER-MÜLLER: baseia-se em movimentos pendulares de abaixamento e eleva- ção do corpo fetal para encaixar o ombro anterior no subpúbis e desprendê-lo em seguida com au- xílio digital. A elevação seguinte possibilita expul- são do ombro posterior. - Manobra de PAJOT: indicada em caso deflexão dos braços combinada a deslocamento para face anterior ou posterior da cabeça fetal. 12 - Desprendimento das espáduas nas ROTAÇÕES POSTERIORES DO DORSO: nessas situações, não se recomendam as manobras em que se realizam rotação axial do feto. Deve-se apreender os mem- bros inferiores do feto com uma das mãos, abai- xando-se o tronco fetal para facilitar o acesso an- terior ao canal vaginal com a outra mão. - Manobras para desprendimento da cabeça O desprendimento cefálico é o tempo mais difícil e arriscado do mecanismo de parto pélvico, sendo causa frequente de asfixia perinatal. A manobra mais utilizada é a de Bracht. - Manobra de LIVERPOOL: deve-se pender o corpo fetal por 20 segundos, até que o polo cefá- lico desça e seja possível visualizar a raiz da nuca. Depois, segura-se o feto pelos pés e traciona-se o corpo fetal, direcionando para o ventre materno. Desse modo, ocorre desprendimento cefálico. - Manobra de McROBERTS: recomendada em ca- sos de distocia biacromial. Consiste em realizar hi- perflexão da coxa materna, de forma a aumentar a amplitude dos estreitos médio e inferior da ba- cia. - Manobra de MAURICEAU: apreende-se o corpo fetal com uma das mãos sobre o dorso e os dedos indicador e médio locados em torno da região cervical. A outra mão é posicionada no ventre fe- tal, com os dedos indicador e médio na base da língua. Nessa disposição, realiza-se tração delicada por meio da flexão do tronco do feto para baixo e traz- se o mento de encontro ao esterno. Uma vez visu- alizado o couro cabeludo, deve-se levantar o corpo fetal em direção ao ventre materno para ocorrer desprendimento cefálico. Manobra de CHAMPETIER-RIBES: indicada para casos em que o polo cefálico ultrapassou o es- treito superior. São necessários dois auxiliares, além do obstetra. O 1º auxiliar realiza compressão abdominal suprapúbica, no sentido do estreito in- ferior, enquanto o 2º segura o feto pelos pés, rea- lizando leve tração, e o obstetra apreende o feto como na manobra de Mauriceau. Depois, o 2º auxiliar eleva o corpo do feto, direcionando sua face lateral para o ventre materno, e o obstetra imprime pressão na base late- ral do crânio de baixo para cima. Desse modo, há indução de assinclitismo poste- rior – parietal encaixa na porção côncava da curvatura do sacro. Em se- guida, faz-se o exato oposto, causando desloca- mento do parietal anterior para o subpúbis. Apresentações córmicas Derivam de situação transversa, isto é, o maior eixo fetal é perpendicular ao maior eixo materno. Apresentam as variedades dorsoanterior, poste- rior, superior e inferior. São apresentações com baixa incidência, ocor- rendo em cerca de 0,3% das gestações, mais fre- quentes conforme menor for a idade gestacional. Possuem os mesmos fatores predisponentes que as pélvicas, sendo os de maior prevalência a mul- tiparidade, a prematuridade e a rotura prematura das membranas ovulares. 13 É comum a presença de pequenas partes fe- tais no colo uterino e vagina. O prolapso de cordão é acidente frequente, uma vez que a parte fetal não ocupa todo o estreito superior. No exame interno com o colo uterino pérvio, toca-se o gradeado costal e uma das espáduas fetais. Na palpação abdominal, observa-se os po- los cefálico e pélvico paralelos e situados um em cada fossa ilíaca. Nomenclatura Classifica as variações das apresentações cór- micas com três letras. A primeira é sempre A (de acrômio), a segunda indica o lado do acrômio fetal (D de direito, E de esquerdo) e a terceira indica a orientação do dorso (A de anterior, P de posterior). Mecanismo de parto O parto é inerentemente distócico. Na maior parte das vezes, ocorre encravamento fetal. Por via vaginal, se o feto já não estiver morto, o óbito é inexorável. São complicações no parto dessas apresenta- ções prolapso de cordão, asfixia neonatal, hiper- tonia, atonia, rotura uterina, endometrite e óbito materno. Em caso de feto vivo, a indicação de ce- sárea é mandatória. A versão interna pélvica é re- servada para feto morto. --------------------------------------------------- Assistência ao Trabalho de parto O trabalho de parto é um processo fisiológico que tem por objetivo expulsar o feto da cavidade uterina. A preparação para o parto tem início no pré-natal, com a abordagem psicológica do casal e de toda a família do concepto. Desse modo, vá- rios focos de ansiedade podem ser dirimidos an- 6 Só é liberado pelo bebê ao nascimento ou se ele passa por al- gum estresse/sofrimento durante a vida uterina. tes que se inicie o trabalho de parto e o parto pro- priamente dito. Gestantes devem ser informadas sobre todos os procedimentos que irão enfrentar. Diagnóstico de trabalho de parto Uma das definições mais difundidas é “a pre- sença de contrações uterinas rítmicas capazes de promover a dilatação e o esvaecimento cervical”. Outra é “a presença de contrações uterinas doloro- sas acompanhadas de perda de tampão mucoso (rolha de Schröeder), rotura precoce de membranas e/ou esvaecimento cervical”. Avaliação inicial da parturiente Os cuidados iniciais dispensados à parturiente envolvem a anamnese dirigida à verificação da existência de doença prévia ou diagnosticada du- rante o pré-natal, o exame físico inicial e a avalia- ção da vitalidade fetal. Deve-se realizar aborda- gem quanto à possibilidade de colonização pelo estreptococo do grupo B, com profilaxia necessá- ria em casos positivos e com risco potencial. Exame físico inicial Consiste no exame físico geral materno, com verificação da pressão arterial, frequência cardí- aca, temperatura e peso; no exame físico especial e no exame físico obstétrico. Nesse último se ava- liam o padrão das contrações uterinas, a palpação obstétrica, o exame vaginal e a vitalidade fetal. Seu principal objetivo é avaliar o feto, o canal de parto e a dinâmica uterina. A avaliação vaginal deverá ter por meta averi- guar as seguintes condições: o Integridade das membranas ovulares: em caso de rotura, é importante observar as ca- racterísticas do líquido amniótico (presença ou não de mecônio6); em caso de membrana íntegra, deve-se proceder a amnioscopia para visualização indireta do líquido amnió- tico e exclusão de presença de mecônio. o Sangramento vaginal: presença, quantidade. o Colo uterino: dilatação cervical (0 a 10 cm), esvaecimento cervical, tipo de apresentação, variedade de posição 7e altura em relação aos planos de De Lee. 7 Relação entre o ponto de referência materno e o ponto de re- ferência fetal. 14 o Pelve materna: pelvimetria. Cardiotocografia na admissão Não traz benefício ao prognóstico fetal e asso- cia-se a um maior número de cesáreas, não sendo recomendada. Exames laboratoriais É feito o tipo sanguíneo ABO e fator Rh para profilaxia anti-D no pós-parto. O teste rápido para HIV é realizado em gestantes sem rastreamento adequado prévio. Se positivo, deverá ser iniciada a profilaxia da eventual transmissão vertical com antirretroviral. Só há confirmação ou exclusão do diagnóstico após o nascimento. Preparo da paciente Não há evidências de que a utilização de ene- mas e de tricotomia perineal seja benéfica. Assistência ao 1o período Atividades como andar e sentar-se em cadeira confortável são associadas a maior conforto da paciente durante o período de dilatação. Postura da parturiente No trabalho de parto, a posição em decúbito lateral associa-se a um melhor padrão de condi- ções uterinas. Ou seja, proporciona contrações com menor frequência e de maior intensidade. Analgesia Deve respeitar o limiar da dor, que é individual, sempre buscando o conforto à parturiente. Controle materno Os sinais vitais (FC, PA e TAx) devem ser avali- ados a cada 4 horas em gestantes de baixo risco. Casos em que se observa rotura de membranas podem necessitar de avaliações de temperatura e frequência cardíaca a intervalos menores. Síndromes hipertensivas exigem avaliação da PA com maior frequência. Pacientes com DM ne- cessitam de controle por meio de glicemia capilar, para se evitar tanto a hipo quanto a hiperglicemia durante o trabalho de parto. Alimentos e fluidos intravenosos A justificativa para o jejum está na demora do esvaziamento gástrico, que é peculiar nas gestan- tes. Desse modo, faz-se pausa alimentar durante o trabalho de parto, garantindo por meio de flui- dos intravenosos que a paciente receba aporte calórico adequado. Em caso de sensação de fome causando desconforto à parturiente, pode-se ofe- recer alimento que produzam poucos resíduos, como líquidos adocicados, gelatinas e sorvetes de fruta. As manutenções rotineiras de acesso venoso deverão ocorrer apenas quando se fizerem ne- cessárias: casos de administração de antibióticos, induções de trabalho de parto, trabalhos de parto prolongados e quando se utiliza analgesia. Assistência obstétrica Faz-se constante avaliação clínica da parturi- ente e dá-se especial atenção às contrações ute- rinas, à dilatação do colo uterino, à descida da apresentação fetal, à condição das membranas ovulares e à monitorização da frequência cardíaca fetal. O partograma possui itens básicos comuns a todos eles: avaliação das contrações uterinas (fre- quência e intensidade), avaliação da frequência cardíaca fetal e registro da dilatação cervical, da altura da apresentação e do uso de ocitócitos. - Contração uterina Avaliada de forma não invasiva por palpação ab- dominal ou tocodinamômetro externo, esse úl- timo método registrando principalmente a sua frequência. A análise quantitativa pode ser feita via introdução de cateter intra-amniótico de pres- são intrauterina. Todavia, exceto em casos como obesidade materna, não há evidências de ser um método superior aos não invasivos. - Toque vaginal Pode fornecer informações sobre a dilatação do colo uterino, condição das membranas ovulares, tipo de apresentação, variedade de posição e descida na apresentação fetal. - Descida da apresentação Em geral, acompanha a dilatação cervical. A ava- liação da progressão da apresentação possibilita 15 que se diagnostiquem situações como a despro- porção cefalopélvica. - Condição das membranas ovulares Se rotas, a verificação conduzirá o obstetra a to- mar medidas e cuidados necessários para evitar ou diagnosticar a presença de infecção ovular. Existe eventual benefício da amniotomia com a fi- nalidade de diminuir o tempo da fase ativa do tra- balho de parto. Sua realização deve ser retardada em algumas situações, tais quais apresentações pélvicas, fetos prematuros e oligâmnio, e cuidado adicional deve ser tomado em casos de polidrâm- nio e apresentação alta por haver considerável risco de prolapso de cordão. Deve-se proceder a amniotomia no final da con- tração uterina, na parte superior da bolsa das águas. É necessário realizar esvaziamento gradual da cavidade uterina e proceder a monitorização fetal a fim de identificar sinais de compressões fu- niculares (desaceleração umbilical intraparto). Em pacientes com sorologias positivas para hepatites B ou C ou HIV não deve ser realizada, com intuito de minimizar o risco de transmissão vertical. - Prolapso de cordão A procidência ou procúbito de cordão umbilical é a presença do funículo à frente da apresentação, desde que com membranas íntegras. Após a rotura dessas, é prolapso de cordão, evento mais frequente em casos de apresentação fetal não cefálica, prematuridade, gestação múlti- pla e polidrâmnio. Também está relacionado a procedimentos obstétricos: amniotomia, amniofu- são e aplicação de fórcipe. A manifestação mais comum é por meio de desa- celerações variáveis de repetição ou bradicar- dia. No toque vaginal, é fácil tocar o cordão pro- lapsado. Após o diagnóstico, deve-se realizar ce- sárea imediata e evitar, via toque vaginal, que a apresentação fetal promova compressão do cor- dão umbilical. - Monitorização fetal intraparto Os métodos mais utilizados são a ausculta inter- mitente dos batimentos cardíacos fetais com so- nar Doppler e cardiotocografia. A ausculta deve compreender a duração da contração e o minuto que a sucede, a fim de identificar desacelerações que forem mais frequentes nesse período. O es- tetoscópio de Pinard não é adequado durante as contrações uterinas. A monitorização contínua da frequência cardíaca fetal em gestações de baixo risco não possui benefícios evidentes. Já em ges- tações de alto risco de sofrimento fetal, diminui as convulsões no período neonatal. - Cardiotocografia intraparto Tem por objetivo identificar fetos que apresentam sofrimento fetal, evitando-se assim possíveis da- nos cerebrais e o óbito fetal. A desaceleração in- traparto é a queda transitória da frequência cardí- aca fetal motivada por contrações uterinas. Deca- lagem é o tempo entre o início da contração e o início da desaceleração – essas podendo ser pre- coces, tardias ou variáveis. - Desacelerações precoces Pela compressão da cabeça fetal secundária às contrações, há aumento da PIC, diminuindo o FS cerebral e, consequentemente, a oxigenação fetal. Isso estimula o centro vagal, que diminui a frequência cardíaca fetal, concomitante à diminui- ção local da pressão parcial de O2 (pO2). Na desaceleração precoce, a queda da fre- quência cardíaca fetal é coincidente à contração uterina ou com decalagem menor que 15 s. É co- mumente observada no período expulsivo (inclu- sive de partos distócico) e raramente ocorre com membranas íntegras, exceto em casos de oligâm- nio extremo. - Desacelerações tardias São causadas por hipoxemia fetal em decorrên- cia da diminuição do FS placentário em feto de baixa reserva de oxigênio. A pressão de O2 basal fetal é de 23 a 30 mmHg, valor suficiente para se manter acima de 18mmHg nas contrações, mo- mento em que se atinge nível crítico de oxigênio. Fetos com baixa reserva de O2 não suportam a re- dução do fluxo sanguíneo durante as contrações, atingindo pO2 inferior a 16-18 mmHg, que esti- mula o centro vagal e causa diminuição da fre- quência cardíaca. Por resposta à hipoxemia, desa- celerações tardias podem ser precedidas por ta- quicardia inicial devido a uma resposta simpática, gerando vasoconstrição em determinadas regi- ões para proteção de órgãos nobres. 16 Associam-se à diminuição do pH fetal e à maior morbidade e mortalidade fetal. Quanto mais fre- quentes forem as desacelerações, maior o risco de acidose fetal. - Desacelerações variáveis ou umbilicais São recorrentes e não apresentam relação tem- poral fixa com as contrações. Seu início e término são abruptos. Elas são precedidas ou seguidas por pequenas acelerações resultantes de compres- são transitória do cordão umbilical (compressão da veia umbilical), chamadas acelerações-om- bro. A oclusão dos vasos umbilicais causa aumento da resistência periférica, que, por reflexo, estimula os barorreceptores, diminuindo da frequência cardí- aca fetal. Desse modo, há diminuição de oxigênio e aumento de CO2, causando acidose fetal mista na dependência da frequência e da duração dos episódios de compressão. Assistência ao 2o período Nesse período, a dilatação do colo uterino está completa. A descida da apresentação fetal pro- move a compressão do períneo, em especial os músculos levantadores do ânus, proporcionando sensação semelhante ao desejo de defecar. No 2º período, as contrações se tornam mais frequentes (5 contrações a cada 10 min) e com maior intensidade e duração. O mais importante é garantir que durante todo o período expulsivo não haja sofrimento fetal, condição avaliada pela mo- nitorização contínua da FC fetal. O segundo perí- odo é mais longo quando usada analgesia. Tricotomia Preconizada apenas na região a ser incisada, o mais próximo possível do momento da incisão. Posição da parturiente Recomenda-se a posição de Laborie-Duncan, que visa favorecer a gravidade, minimizar os ris- cos de compressão da aorta e da veia cava inferior e facilitar a progressão fetal. Também favorece a ampliação dos diâmetros anteroposteriores do estreito médio e do estreito inferior. Força expulsiva Os esforços expulsivos (puxos) só devem ser encorajados quando a dilatação cervical é com- pleta (período expulsivo). Caso se observem de- sacelerações durante as contrações, é necessário que ocorra recuperação da FC fetal para níveis normais quando houver retorno ao tônus uterino. Após a inspiração profunda, deve-se realizar puxo por cerca de 10 segundos, concomitante- mente à contração uterina. Normalmente, é pos- sível a realização de 3 puxos a cada contração. Controle da vitalidade fetal É comum a observação de desacelerações precoces. Por isso, preconiza-se a ausculta fetal a cada 5 min, mais fácil de ser realizado por meio de cardiotocografia contínua. Preparação para o parto Inclui assepsia de monte púbico, sulcos geni- tocrurais e terços superiores da face interna da coxa, além das regiões vulvar, vaginal e anal. Após, faz-se a colocação de campos esterilizados. Cuidados no parto Proteção do períneo Deve-se exercer pressão na região perineal, levando-a de encontro à apresentação fetal, sem realização de episiotomia. Além disso, deve-se apoiar o polo cefálico a fim de evitar lesões peri- neais, com o objetivo de promover desprendi- mento lento do polo cefálico. Episiotomia e perineotomia O objetivo da episiotomia é evitar alterações estruturais do assoalho pélvico, sejam elas lesões musculares, decorrentes da compressão pelo polo cefálico, ou perineais, por ocasião da passa- gem do feto. É preconizada na maioria dos casos, com exceção daqueles de grandes multíparas, nos quais seja evidente que a lesão muscular e perineal já tenha se instalado em parto anterior. A escolha do momento certo para executá-la busca evitar sangramento desnecessário (episio- tomia precoce) e evitar que seja realizada quando os danos ao assoalho pélvico já se instalaram (epi- siotomia tardia). Esse momento compreende 17 aquele no qual o polo cefálico puder ser visuali- zado, durante as contrações. - Técnica lateral Praticamente abandonada por relacionar-se a maiores frequências de feixes musculares lesa- dos e de sangramento. - Perineotomia Apesar das aparentes vantagens, só deve ser in- dicada quando se observa que o tamanho do feto e a distância entre a fúrcula vaginal e o ânus são suficientes para que não ocorram lacerações pe- rineais de 3º e 4º graus. Em casos que não for pos- sível ter certeza, deve-se realizar episiotomia me- diolateral. - Episiotomia mediolateral Abrange pele, mucosa vaginal, aponeurose su- perficial do períneo e as fibras dos músculos bul- boesponjoso e transverso superficial do períneo. Característica E. mediolateral Perineotomia Sutura reparadora Média dificuldade Fácil Lesão muscular Maior Menor Dor no pós-parto Maior Menor Resultado estético Pior Melhor Risco de lac. anais Menor Maior Desprendimento do polo cefálico Deve ser lento e gradual. Para tanto, é neces- sário controlar a saída do polo cefálico com uma das mãos espalmada e apoiada no períneo e a ou- tra favorecendo sua flexão. Manobra adicionais, como de Kristeller e Olshausen, são proscritas de- vido a um maior risco de traumatismos maternos e fetais. Após completar-se, deve ser verificada a pre- sença de circulares cervicais, desfeitas passando- se a alça de cordão pelo polo cefálico ou pelos ombros. Se dificultada por circulares muito justas, faz-se a secção do cordão umbilical entre duas pinças. Aspiração de líquido amniótico na faringe Por muitos anos foi prática rotineira na atenção do recém-nascido de parto vaginal ou cesárea, devido à possibilidade de limpar as vias aéreas e com isso facilitar a entrada de ar pela traqueia, prevenir a aspiração de muco, sangue e líquido meconial e promover estimulação tátil e, assim, o processo de respiração. Uma das principais preocupações quando se está diante de líquido amniótico meconial é a ocorrência da Síndrome de Aspiração Meconial. A aspiração de oro e nasofaringe não a previne. Os protocolos de conduta precisam ser revistos e esse procedimento não deve ser realizado rotinei- ramente. Desprendimento do biacromial e do tronco O desprendimento das espáduas deve ser lento. Para tanto, o obstetra posiciona suas mãos espalmadas sobre os parietais fetais e realiza a tração do polo cefálico para baixo, com liberação do ombro anterior e, em seguida, traciona-o para cima, conseguindo a liberação do posterior. De- pois, o obstetra dirige uma de suas mãos pelo dorso fetal até conseguir apreender os maléolos do recém-nascido. Clampeamento do cordão umbilical Ocorre depois de um intervalo de 1 minuto após o parto. Sabe-se, porém, que o clampea- mento tardio (média de 94 segundos) do cordão faz com que o recém-nascido receba quantidade adicional de sangue oriundo da placenta. Seu be- nefício mostra-se por uma maior reserva de ferro aos 6 meses de vida. Após o clampeamento, faz-se nova ligadura de alça de cordão, da qual se obtém amostra de san- gue para avaliação das condições de nascimento (pH e déficit de bases da artéria umbilical), deter- minação de tipo sanguíneo ABO e fator Rh. A avaliação do pH busca verificar a relação en- tre as alterações da vitalidade fetal, tanto no perí- odo anteparto como no intraparto, e o estado aci- 18 dobásico fetal, padrão ouro no diagnóstico do so- frimento fetal. A verificação da existência de áci- dos no nascimento assume papel nos processos legais. Assistência ao 3o período Após o clampeamento, a atenção é dirigida à dequitação. Não devem ser realizadas manobras para promover o deslocamento da placenta de forma rápida. O tempo necessário para a dequita- ção é muito variável, sendo em média 5 minutos e havendo maior incidência de complicações he- morrágicas se maior que 30 minutos. Deve-se ob- servar de forma atenta a existência de sangra- mento abundante. Se ocorrer, realizar manejo ativo do 3º período, que pode incluir a extração manual da placenta. Os sinais de descolamento da placenta são a elevação do fundo uterino em 2 a 3 cm com des- vio para a direita (sinal de Schröeder), a forma dis- coide e globosa do útero quando avaliado em sentido anteroposterior (sinal de Calkins), a não transmissão da tração do cordão à mão que palpa o fundo do útero (sinal de Fabre), a ausência de propagação da percussão do fundo do útero até o cordão umbilical (sinal de Strassmann) e a ele- vação do útero por meio de palpação abdominal não acompanhada da movimentação do cordão umbilical (sinal de Küstner). Na expulsão da placenta, notam-se a descida progressiva do cordão umbilical (sinal de Ahlfeld) com rotação deste (sinal de Hochenbichler), a sensação de peso retal conhecida como sinal da placenta (sinal de Calman ou sinal de Mickulicz- Radecki) e, ao toque vaginal, a identificação da presença de placenta em fórnice vaginal posterior (sinal de Garber). Assim que a placenta se apresenta no introito vaginal, solicita-se à mulher que exerça pequena pressão abdominal para sua completa expulsão. Nesse momento, rodasse a placenta para que o desprendimento das membranas seja completo (manobra de Jacobs). Ao término da dequitação, deve-se revisar o canal departo em busca de lacerações (suturadas junto à episiotomia). Em paciente com antece- dente de cesárea, faz-se revisão do segmento uterino a fim de afastar hipótese de rotura da ci- catriz de cesárea. Reparação de lacerações no canal de parto e epi- siorrafia Lacerações cervicais devem ser suturadas com fio absorvível de curta duração com pontos simples. Lesões vaginais, por sua vez, com pontos simples ou contínuos, dependendo de sua exten- são, também com fio absorvível de curta duração. A episiorrafia se inicia com a sutura da mucosa vaginal com pontos contínuos ancorados e, em seguida, realiza-se sutura dos músculos e da pele do períneo, com pontos separados. Puerpério imediato O puerpério imediato compreende a primeira hora após o parto e tem importância no que con- cerne à observação de eventuais hemorragias. Habitualmente, a infusão da ocitocina iniciada após a dequitação e o próprio mecanismo fisioló- gico da retração uterina (globo de segurança de Pinard) são suficientes para conter o sangramento do leito placentário. Caso ocorra sangramento excessivo, realiza-se infusão mais rápida (20 unidades de 500 ml nas primeiras 6 horas após a dequitação é o normal) ou medidas adicionais. --------------------------------------------------- Indicações de cesárea Na apresentação pélvica, a preferência quase global é o parto abdominal. Os fatores que expli- cam o aumento na taxa de cesáreas são: o Diminuição da prole; 19 o Aumento da idade média das nulíparas (maiores riscos para o pós-operatório); o Uso da monitorização eletrônica intraparto, que, se comparada à ausculta intermitente, aumenta a probabilidade de cesárea, ape- sar de ter ciência dos altos índices de falsos positivos desse método propedêutico fetal; o Apresentação pélvica – cesárea quase na totalidade; o Aumento dos casos de indução de parto ocasiona incremento nos riscos para o parto operatório; o Aumento na prevalência da obesidade (fa- tor de risco para cesárea); o Medicina defensiva, o Cesáreas eletivas para preservação do as- soalho pélvico. Absolutas Placenta prévia parcial ou total Placenta acreta: fixação profunda à pa- rede uterina Malformações genitais: atresias e septo vaginal Tumorações prévias: miomas prévios, câncer cervical invasivo DCP com feto vivo Relativas maternas Cardiopatias específicas: síndrome de Marfan com dilatação da aorta; doença coronariana instável Pneumopatias específicas: hipertensão pulmonar grave, s. de Güillan-Barré Dissecação aórtica Condições associadas à elevação da PIC História de fístula retovaginal. Relativas fetais Sofrimento fetal Prolapso de cordão Apresentação pélvica ou córmica Gemelidade com 1º feto não cefálico Gemelidade monoamniótica Macrossomia Malformações fetais específicas: mielo- meningocele, hidrocefalia com macrocra- nia, etc. Herpes genital ativo HIV com CV superior a 1000 cópias. Relativas maternofetais Cesárea prévia Deslocamento prematuro de placenta com feto vivo Placenta prévia marginal Placenta baixa distando menos de 2 cm do orifício interno do colo. --------------------------------------------------- Partograma É a representação gráfica do trabalho de parto que possibilita acompanhar sua evolução, docu- mentar alterações e indicar a tomada de condutas apropriadas para a correção dos desvios, evitando intervenções desnecessárias. A curva de dilatação cervical assume aspecto ascendente, Possui menor velocidade de dilata- ção inicialmente, correspondendo a sua fase la- tente. A partir de 4 cm de dilatação, há aumento espontâneo da velocidade de dilatação, o que compreende à fase ativa. Durante a fase latente, a conduta é expectante. Em muitas mulheres, esse período dura mais que 20h. A administração de ocitócitos deve ser evi- tada, pois aumenta o risco de cesárea, vide o colo ainda desfavorável ao parto. Quando a dilatação atinge ou cruza a linha de alerta, há necessidade de melhor observação clí- nica. Ao atingir a linha de ação, intervenção mé- dica é necessária, o que não necessariamente im- plica em conduta cirúrgica. 20 No eixo das abscissas (x), cada divisória corres- ponde a 1 hora. No eixo das ordenadas (y), cada divisória corresponde a 1 cm, tanto para a descida como para a dilatação. O início do registro gráfico é feito quando a par- turiente estiver em fase ativa do trabalho de parto, isto é, apresentando de 2 a 3 contrações em 10 mi- nutos e com dilatação cervical mínima de 3 a 4 centímetros. Os toques vaginais devem ser realizados a cada 2 horas e deles devem-se anotar: dilatação cervical, altura da apresentação, variedade de po- sição e condições da bolsa das águas e do líquido amniótico. Com a bolsa rompida, a dilatação é anotada com um triângulo e a apresentação e va- riedade de posição com uma elipse, com um Y in- dicado a posição da lambda. Também devem ser registrados o padrão das contrações e dos bati- mentos cardíacos fetais, a infusão de líquidos e fármacos e o uso de analgesia. A linha de alerta é traçada 1h após a dilatação cervical inicial e, em paralelo, a linha de ação 4h após, isso desde que em fase ativa (pelo menos 1 cm/h de dilatação). As principais características de um parto nor- mal são: Início espontâneo Apresentação cefálica de vértice, única Gravidez a termo (37 a 42) Nenhuma intervenção artificial Inferior a 12 h em primíparas e inferior a 8 horas em multíparas 21 Evolução normal A velocidade de dilatação deve ser igual ou maior que 1 cm/h. A marcação da dilatação deve perma- necer à esquerda da linha de alerta. A curva de dilatação à direita da linha de alerta é indicativo de parto prolongado. Quando essa está à direita da linha de ação é necessário tomar decisão para eliminar a causa da demora. Erro de construção 22 Diagnósticos do partograma A identificação das distócias é feita pela observação das curvas de dilatação cervical e de descida da apresentação expressas no partograma. As distócias de cada período funcional do parto são: Fase ativa: na progressão da cervicodilatação o Fase ativa prolongada o Parada secundária de dilatação o Parto precipitado Fase pélvica: distúrbios na descida da apresentação o Período pélvico prolongado o Parada secundária da descida Fase ativa prolongada: a dilatação do colo uterino ocorre lentamente, em velocidade menor que 1 cm/h (Figura 42.14). Essa distocia geralmente decorre da hipocinesia uterina e a correção se fará com ocitócitos e ruptura artificial das membranas. São técnicas de humanização que podem ser empregadas a fim de estimular a produção de ocitocina, atividade física (“bola”), deambulação e banho em banheira morna ou chuveiro. Parada secundária de dilatação: é diagnosticada por dois toques sucessivos, com intervalo de 2 h ou mais, estando a mulher em trabalho de parto ativo. Há associação frequente com sofrimento fetal. A causa principal é a desproporção cefalopélvica absoluta (tamanho de polo cefálico maior que a bacia) ou relativa 23 (posições anômalas: defletidas, transversas, posteriores). Na DCP absoluta, a conduta preconizada é a ce- sárea. Na DCP relativa, lança-se mão de deambulação, rotura artificial membranas e analgesia peridural. Parto precipitado: também chamado de taquitócico, é diagnosticado quando a dilatação cervical e a descida/expulsão do feto ocorrem em um período de 4 h ou menos. O útero é hipercinético e pode ocorrer sofrimento fetal. Pode ser espontâneo (primíparas) ou consequente à administração inadequada de ocitó- citos (iatrogênico). Nesse último, devem-se suspender ocitócitos, realiza vigilância dos bcf e revisar canal de parto. 24 Período pélvico prolongado: manifesta-se no partograma pela descida da apresentação excessiva- mente lenta, embora a dilatação esteja completa. Essa distocia costuma estar relacionada com contratili- dade uterina deficiente e a sua correção é obtida pela administração de ocitócicos e pela ruptura artificial da bolsa das águas. Pode estar indicado o uso do fórceps, respeitadas as condições de praticabilidade. Parada secundária da descida: É diagnosticada por dois toques sucessivos com intervalo de 1 h ou mais, desde que a dilatação do colo esteja completa, evidenciando apresentação mantida. É frequente nesse 25 tipo de distocia a desproporção cefalopélvica. A incidência de cesárea é elevada. Na DCP absoluta, a con- duta preconizada é a cesárea. Na DCP relativa, lança-se mão de fórcipe de alívio, vácuo-extrator e fórcipe de rotação, a depender da altura da apresentação e respeitadas as condições de praticabilidade. Diante de incerteza, a imagem abaixo é uma proposta de conduta no parto espontâneo para prevenir a 1ª cesariana. No 2º período do parto, pode-se suspeitar de falta de progressão (descida ou rotação) quando a sua duração excede 3 h na nulípara ou 2 h na multípara.
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