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1ºAula
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula vocês serão capazes de:
• identificar as visões/concepções sobre surdez ao longo da história;
• conceituar deficiência e diferença;
• compreender o conceito de cultura e identidade próprias da comunidade surda;
• entender o processo de aquisição de uma língua natural: a LIBRAS.
Concepções sobre surdez e sua 
língua natural
Olá amigos! Nesta aula estaremos abordando os 
conceitos sobre surdez, ao longo dos tempos históricos 
e como as pessoas surdas eram vistas e entendidas pela 
sociedade. Entenderemos, também, como chegaram ao 
uso de uma língua gestual: a LIBRAS.
Atualmente, somos bombardeados por 
informações a respeito das pessoas surdas, da língua de 
sinais, das deficiências em geral e da inclusão; porém, 
será que realmente temos estas pessoas incluídas em 
nossa sociedade? As vemos com olhos diferentes das 
sociedades antigas?
Todos os conflitos que existiram acerca da aceitação 
dos surdos na sociedade estimularam um ambiente de 
pesquisas e mudanças para esta comunidade que hoje 
ainda luta por reconhecimento. 
Iniciaremos, então, atentos aos objetivos, além das 
seções de estudo desenvolvidas no decorrer desta aula.
Tenham um ótimo período de estudo!
Bons estudos!
6Libras - Língua Brasileira de Sinais
1 – As concepções sobre surdez
2 – Movimento educacional pelo reconhecimento às 
diferenças: identidade e cultura surda
3 – LIBRAS: um processo de lutas pelo direito linguístico
Pessoal, vamos iniciar nossa leitura e mergulhar no 
“mundo dos surdos”? Tenham um ótimo estudo!
Seções de estudo
1 – As concepções sobre a surdez
Na Antiguidade, a estética e a oratória eram muito 
valorizados pelo povo Grego. Ou seja, para uma sociedade 
que crescia em meio a guerras, o preparo físico e a perfeição 
do corpo eram importantes para formar exércitos invencíveis. 
Assim também a oratória (capacidade argumentativa) era 
necessária para uma boa articulação política.
Sabemos que estes valores gregos influenciaram toda 
a constituição do mundo ocidental, da nossa sociedade. 
Portanto, desde os primórdios as pessoas que não se 
encaixavam nos padrões exigidos para a sobrevivência 
eram isoladas ou mortas, consideradas um fardo para a 
comunidade.
 Com isso, os surdos não eram considerados seres 
humanos competentes, por não conseguirem interagir ou 
transmitir conhecimento através da fala. Os sinais não eram 
aceitos como forma de comunicação, como língua, mas 
como gestos primitivos, comparados aos movimentos de 
animais. Portanto, quem não ouvia e não falava também não 
produzia pensamento (Quadros, 2006, p. 68).
Segundo Santana e Bergamo (2005, p.2), os surdos 
sempre foram “historicamente estigmatizados, considerados 
de menor valor social, pois não possuíam a característica 
eminentemente humana: a linguagem oral e suas virtudes 
cognitivas”.
Observamos, então, que, além de todas as pessoas que 
tinham alguma deficiência, os surdos não eram tratados 
como uma pessoa normal. Naquela época, o indivíduo 
que não se encaixava nos padrões considerados normais, 
era isolado ou abandonado pela sociedade. Analisando 
estes fatos, percebemos que o surdo foi, por muito tempo, 
considerado humanamente inferior. 
Quando uma criança nascia com problemas físicos ou 
algumas doenças crônicas, eram consideradas “defeituosas” 
pelo povo da Grécia Antiga e jogadas do alto de um 
penhasco. Isto acontecia principalmente na cidade de 
Esparta, onde as pessoas cultivavam uma estética quase que 
perfeita e não queriam ninguém fora do padrão (Sassaki, 
1997, p. 52). 
Para manter a perfeita padronização do povo grego, os 
familiares de crianças que nasciam com deficiências tomavam 
as mais extremas atitudes. Sobre isso, Lane e Philip (1984, p. 
16) revelam:
A infortunada criança era prontamente 
asfi xiada ou tinha sua garganta cortada ou 
era lançada de um precipício para dentro das 
ondas. Era uma traição poupar uma criatura de 
quem a nação nada poderia esperar. (Lane e 
Philip, “The deaf experience”, 1984, p. 16)
Em Roma, as pessoas acreditavam que os surdos eram 
incapazes porque não falavam nem escutavam. Já no Egito, as 
pessoas com surdez eram consideradas divinas e adoradas pelo 
povo, mediavam o contato com os deuses e os Faraós.
Dentro deste contexto histórico, destacamos o 
entendimento das pessoas ditas normais em relação ao 
indivíduo surdo: estes seres que não ouviam eram defeituosos, 
sua orelha era defeituosa, o corpo não era completo e a mente 
não era desenvolvida. Então, não poderiam ser “educados” 
nem contribuir para o desenvolvimento social.
Nesse período, não se tem nenhum registro sobre a 
utilização de sinais ou qualquer outro meio de comunicação 
entre surdos. Nessa época, acreditavam que a língua oral 
era o único instrumento para a linguagem e formação do 
pensamento. Desse modo, a fala se tornou o foco para o 
trabalho que girou em torno de uma perspectiva clínica, ou 
seja, a preocupação se dava na busca da recuperação dos 
surdos. Eram pessoas que necessitavam de cura. Esta era 
uma visão clínico-terapêutica: tratamento e cura do defeito.
<http://www.webartigos.com/articles/3639/1/Historico-Da-Educacao-Dos-Surdos/
pagina1.html>.
Na Idade Média, a Igreja Católica exercia sua máxima 
influência e pregava que a alma do surdo não poderia ser 
imortal, já que ele não poderia proferir os sacramentos. 
Segundo Aristóteles, a linguagem era uma característica 
eminentemente humana e os surdos, por não desenvolverem 
linguagem, não seriam humanos. No fim da Idade Média, 
alguns pedagogos eram destinados a ensinar os surdos a falar, 
ler e escrever, com o objetivo de receber a herança da família 
e ter direito ao casamento. Surgem aí, os primeiros indícios de 
que o surdo poderia se comunicar através de sinais.
Na Idade Moderna, algumas figuras sociais e ilustres 
da época, foram as primeiras formadoras de opinião em 
relação à educação de surdos. Propunham a possibilidade de 
ensino através de gestos/sinais, embora não abandonassem a 
abordagem clínica dentro dos abrigos e asilos. Dentro deste 
contexto, destacamos Pedro Ponce de Leon, monge beneditino 
responsável por tutorear crianças surdas, filhas de aristocratas 
na Espanha e Girolamo Cardano, médico italiano cujo filho 
nasceu surdo.
Com isso, várias crenças médicas, religiosas e até 
filosóficas perderam um pouco da força, pois Pedro Ponce de 
Leon mostrou que os surdos poderiam desenvolver linguagem, 
compreender significados e aprender ofícios. A ele foram 
creditados os títulos de primeiro professor de surdos e o de 
criador do alfabeto manual que utilizamos até os dias de hoje. 
7
Esta abordagem gestual na educação de surdos foi 
difundida em toda a Europa, chegando ao Brasil no século 
XVI. 
Todavia, as práticas oralistas 
ganharam força e divulgação. Em 1880, 
em um evento que reuniu representantes 
educacionais de vários países, o Congresso 
de Milão, o oralismo foi oficialmente 
instituído como método para educação 
dos surdos. Aqui, estes sujeitos foram 
proibidos de usar sua própria língua de 
sinais e obrigados a falar.
Devido ao estigma de deficiência e inferioridade gerado 
pela visão clínica e a impossibilidade de utilizar uma língua de 
sinais, o sujeito surdo não só perdeu muito em sua educação 
formal como também em suas relações sociais e oportunidades 
no trabalho. 
Estavam tolhidos de usar sua língua natural, 
impossibilitando-os uma real interação com os não surdos 
e sua divisão em guetos; não possuíram uma escolarização 
adequada, impossibilitando-os o acesso ao mercado de 
trabalho; foram enquadrados em uma “minoria que necessita 
cuidados especiais”. 
Todo este histórico de conflitos fez com que as pessoas 
surdas se reunissem, formando comunidades e desenvolvessem 
formas de resistências às políticas públicas voltadas a elas. Esta 
luta iniciou-se nos espaços escolares reservados, especialmente, 
para pessoas surdas como escolas especiais e associações de 
surdos.
Porém, na década de 1980, estes movimentos das 
comunidadessurdas despertaram o interesse de uma parte da 
sociedade: as Universidades. Os temas que envolviam a surdez 
fomentaram pesquisas, que foram divulgadas, discutidas e, até 
hoje, são abarcadas pelas políticas para implementação dos 
espaços escolares e públicos, com o intuito de incluir o sujeito 
surdo.
<http://en.wikipedia.
org/wiki/Pedro_Ponce_
de_Le%C3%B3n>
2 – Movimento educacional pelo 
reconhecimento às diferenças: 
identidade e cultura surda
Desde a década de 1980, vários estudos e pesquisas 
foram realizados a fim de nortear e garantir a qualidade e 
permanência na educação dos surdos no Brasil.
Abandonando a visão clínica sobre a surdez e adotando 
uma visão sócio-cultural, muitos estudos se preocuparam 
em reconhecer uma identidade e uma cultura próprias da 
comunidade surda. Neste momento, o surdo começa a ser 
“pensado” a partir de suas interações sociais, sua realidade 
linguística e, consequentemente, sua visão de mundo, diferente 
dos não surdos.
Conforme Perlin (2010, p. 51), narrar os surdos sob a 
ótica dos Estudos Culturais permite a aproximação do “ser 
surdo”, pois negam a padronização universalista permitindo a 
aproximação do sujeito surdo sem suposições já construídas a 
seu respeito.
 Abaixo veremos alguns conceitos que facilitarão nosso 
entendimento acerca das discussões sobre cultura, identidade 
e diferença que embasam os estudos sobre surdez:
Cultura surda
Na área da surdez encontra-se geralmente o termo 
“cultura” como referência à língua (de sinais), às estratégias 
sociais e aos mecanismos compensatórios que os surdos 
realizam para agir no/sobre o mundo, como o despertador 
que vibra, a campainha que aciona a luz, o uso de fax em vez 
de telefone, o tipo de piada que se conta e outros (Santana & 
Bergamo, 2005, p. 9).
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o 
mundo e de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e 
habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que 
contribuem para a definição das identidades surdas e das 
comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as 
ideias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo 
(Strobel, 2008, p. 24). Sobre esta definição de cultura e 
identidade surda, Perlin (2006, p. 4) comenta:
[...] As identidades surdas são construídas 
dentro das representações possíveis da cultura 
surda, elas moldam-se de acordo com maior 
ou menor receptividade cultural assumida 
pelo sujeito. E dentro dessa receptividade 
cultural, também surge aquela luta política 
ou consciência oposicional pela qual o 
individuo representa a si mesmo, se defende 
da homogeneização, dos aspectos que o 
tornam corpo menos habitável, da sensação de 
invalidez, de inclusão entre os defi cientes, de 
menos valia social (Perlin, 2006, p. 4).
Padden e Humphires (2000, p. 5) apud Strobel (2008, p. 
5) estabeleceram uma definição de cultura:
[...] uma cultura é um conjunto de 
comportamentos apreendidos de um grupo de 
pessoas que possuem sua própria língua, valores, 
regras de comportamento e tradições (Padden e 
Humphires , 2000, p. 5).
Então entendemos que a comunidade surda de fato 
não é só de sujeitos surdos, há também sujeitos ouvintes – 
membros de família, intérpretes, professores, amigos e outros 
– que participam em compartilham os mesmos interesses em 
comuns em uma determinada localização.
Identidade surda
Constitui-se no interior da cultura surda e está em 
situação de dependência, de necessidade do outro surdo. As 
identidades surdas são adquiridas através das experiências 
visuais e são multifacetadas, fragmentadas (diante das regras 
impostas pela cultura ouvinte), em constante mudança. Não 
encontramos uma identidade foco (Perlin, 2010, p. 54). A 
autora destaca, ainda que:
[...] a identidade surda não está fora da 
pessoa surda, em algum lugar que possa ser 
perseguida. As identidades surdas estão nos 
sujeitos surdos e se constituem de diferentes 
formas e a partir de diferentes representações 
e concepções. Como fi cam as identidades 
surdas dentro das diversas concepções de 
8Libras - Língua Brasileira de Sinais
sujeitos surdos existentes na sociedade? Para 
esta pergunta há uma diversidade de caminhos 
a percorrer em busca de refl exões (PERLIN, 
2010, p. 39).
Segundo Silva (1998, p. 58), “a identidade cultural 
ou social é o conjunto dessas características pelas quais os 
grupos sociais se definem como grupos: aquilo que eles são, 
entretanto, é inseparável daquilo que eles não são, daquelas 
características que os fazem diferentes de outros grupos”.
Diferença
Saindo das modalidades tradicionais de educação de 
surdos que trabalham com a ‘normalidade’ ou ‘métodos 
clínicos’ ou que usam outros ‘métodos de regulação’, entramos 
na modalidade da diferença.
Fundamentar a educação de surdos nesta teorização 
cultural contemporânea sobre a identidade e a diferença parece 
ser o caminho hoje, segundo Perlin & Strobel (2006, p. 28)
Conceito
Diferença: Refere-se às diferenças culturais nos diversos grupos 
sociais. Por diferença entende-se a diferença mesma não contendo 
aspectos da mesmidade que posições iluministas pregam para atingir 
a perfeição (Perlin & Strobel, 2006, p. 28).
A modalidade da ‘diferença’ se fundamenta na subjetivação 
cultural. Ele surge no momento que os surdos atingem sua 
identidade, através da diferença cultural, surge no espaço pós-
colonial. Neste espaço não mais há a sujeição ao que é do 
ouvinte, não ocorre mais a hibridação, ocorre a aprendizagem 
nativa própria do surdo.
É uma modalidade querida e sonhada pelo povo surdo, 
visto que a luta atual dos surdos é pela constituição da 
subjetividade ao jeito surdo de ser.
Nessa perspectiva, observamos uma atitude Surda, ou 
seja, as pessoas Surdas não querem mais ser vistas como 
Deficientes Auditivos ou DA, o que implica uma visão 
negativa da surdez. A atitude surda está em ser membro de 
uma comunidade, aceitar e ser aceito como membro desta 
cultura surda, isso quer dizer ter atitudes como sujeito de sua 
história, ser uma pessoa que não escuta, ser pessoa política, 
lutar pelos direitos de cidadania, pelo respeito da sua cultura 
e aceitação das diferenças linguísticas e culturais; usar a língua 
de sinais como meio natural de comunicação.
Assim, essa comunidade tem mostrado que não aceita 
mais ser tratada como inferior ou atrasada. Os surdos têm se 
unido e com isso formado lideranças que estão enaltecendo 
a história dos surdos na construção de um povo forte, com 
interesses compartilhados e, sobretudo, com uma língua 
própria, uma identidade própria que busca o direito de ser 
respeitada.
E esta cultura de respeito às diferenças será possível a 
partir de uma cultura educacional que forme cidadãos para 
tal fim.
Como diz Skliar (2010, p. 29), a escola é: 
Um território de investigação educacional e 
de proposições políticas que, através de um 
conjunto de concepções linguísticas, culturais, 
comunitárias e de identidades, defi nem uma 
particular aproximaçã e não uma apropriação 
com os conhecimentos e com os discursos 
sobre a surdez e sobre o mundo dos surdos.
3 – LIBRAS: um processo de lutas pelo 
direito linguístico
A sigla LIBRAS significa Língua Brasileira de Sinais e, 
reconhecidamente, é a língua natural para comunicação das 
pessoas surdas brasileiras.
O status de língua é dado às línguas de sinais por 
atenderem à uma estrutura gramatical própria, em seu níveis 
linguísticos fonológico, morfológico, semântico e sintático. 
A diferença desta língua é sua modalidade: gestual-visual e 
não oral-auditiva, como a Língua Portuguesa. Porém, como 
em qualquer língua, a LIBRAS também apresenta diferenças 
regionais. Portanto, observamos suas variações em cada 
unidade federativa nacional. 
Conferir à língua de sinais o estatuto de língua não 
tem apenas repercussões linguísticas e cognitivas, tem 
repercussões também sociais. Ser normal implica ter língua, 
e se a anormalidade é a ausência de língua e de tudo o que 
ela representa (comunicação, pensamento, aprendizagem 
etc.), a partirdo momento em que se configura a língua de 
sinais como língua do surdo, o estatuto do que é normal 
também muda. Ou seja, a língua de sinais acaba por oferecer 
uma possibilidade de legitimação do surdo como “sujeito de 
linguagem”. Ela é capaz de transformar a “anormalidade” em 
diferença, em normalidade.
Assim, a Libras se apresenta como um sistema linguístico 
de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades 
de pessoas surdas do Brasil. Está no “olho do furacão” 
das discussões educacionais e sociais para a legitimação da 
comunidade surda. 
Devido a um processo de lutas pela conquista dos 
múltiplos direitos da comunidade surda, a LIBRAS – Língua 
Brasileira de Sinais – foi reconhecida no Brasil, amparada pela 
Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002. Esta conquista evidenciou 
a participação efetiva das pessoas surdas nos espaços de 
cidadania como escola, sociedade, igrejas e outros, resultando 
como principal indicativo de independência. 
A perspectiva inclusiva da educação também contribuiu 
para o reconhecimento da importância da Língua Brasileira de 
Sinais - LIBRAS no âmbito escolar. A conquista da disciplina 
nas Universidades e Faculdades mediante a Lei, regulamentada 
pelo Decreto nº 5.626, foi uma grande abertura para os estudos 
sobre surdez.
Conforme Skliar (2010, p. 52):
 
A língua de sinais constitui o elemento 
identifi catório dos surdos, e o fato de constituir-
se em comunidade signifi ca que compartilham 
e conhecem os usos e normas de uso da mesma 
língua, já que interagem cotidianamente em um 
processo comunicativo efi caz e efi ciente. Isto 
é, desenvolveram as competências linguísticas 
e comunicativa - e cognitiva - por meio do uso 
da língua de sinais própria de cada comunidade 
de surdos.
9
Contudo, a comunidade surda é considerada uma minoria 
linguística dentro de um país onde a grande maioria dos cidadãos 
faz uso de uma língua oral, a Língua Portuguesa. Assim, na 
qualidade de minoria linguística, reivindicam o reconhecimento 
oficial da LIBRAS como um direito, justificado pela denúncia 
da não comunicação entre surdos e ouvintes, pois os ouvintes 
não são fluentes em LIBRAS e os surdos não são fluentes em 
Língua Portuguesa, seja oral ou escrita.
Segundo a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos:
Artigo 1.º
1. Esta Declaração entende por comunidade linguística toda a sociedade 
humana que, radicada historicamente num determinado espaço 
territorial, reconhecido ou não, se identifica como povo e desenvolveu 
uma língua comum como meio de comunicação natural e de coesão 
cultural entre os seus membros. A denominação língua própria de 
um território refere-se ao idioma da comunidade historicamente 
estabelecida neste espaço.
2. Esta Declaração parte do princípio de que os direitos linguísticos são 
simultaneamente individuais e colectivos, e adopta como referência 
da plenitude dos direitos linguísticos, o caso de uma comunidade 
linguística histórica no respectivo espaço territorial, entendendo-se este 
não apenas como a área geográfica onde esta comunidade vive, mas 
também como um espaço social e funcional indispensável ao pleno 
desenvolvimento da língua. É com base nesta premissa que se podem 
estabelecer, em termos de uma progressão ou continuidade, os direitos 
que correspondem aos grupos linguísticos mencionados no ponto 
5 deste artigo e os das pessoas que vivem fora do território da sua 
comunidade (Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, 1996, p. 4).
Conforme Quadros (2009, p. 10-11), outros aspectos da 
Declaração são observados:
a) Todos os seres humanos têm direito de identificarem-se 
com uma língua materna e de serem aceitos e respeitados por 
isso.
b) Todos têm o direito de aprender a língua materna 
completamente, nas suas formas oral (quando fisiologicamente 
possível) e escrita (pressupondo que a minoria linguística seja 
educada na sua língua materna).
c) Todos têm o direito de usar sua língua materna em 
todas as situações oficiais (inclusive na escola).
d) Qualquer mudança que ocorra na língua materna deve 
ser voluntária e nunca imposta.
A LIBRAS é a língua de sinais que se constituiu 
naturalmente na comunidade surda brasileira. O Surdo, como 
usuário natural da língua, deve estar presente na comunidade, 
escola, universidades, no trabalho, para que todos possam 
identificar-se positivamente e desenvolver a utilização da língua 
de sinais da forma mais natural possível. As festas, os jogos, 
os campeonatos, as sedes organizadas por surdos são formas 
de interação social e linguística, que garantirão a formação 
da comunidade surda brasileira com uma língua própria 
(QUADROS, 2009, p. 11).
Sabemos que, por força de lei, a LIBRAS é reconhecida 
no Brasil, porém, acontece a efetiva comunicação com seus 
contemporâneos? Aos surdos é dado todo o tipo de informação 
às quais tem direito? Na língua natural à que tem direito?
As comunidades surdas, muitas vezes, encontram-se 
alheias às realidades da atividade social, por não serem atendidos 
de acordo com suas necessidades e não terem efetivados seus 
direitos à informação, a inclusão social, e consequentemente, 
à prática do ensino, mas, algumas comunidades surdas e seus 
familiares, continuam unidos lutando por uma boa educação.
Dentre as várias modificações e questionamentos que 
a sociedade tem experimentado, mediante as discussões 
contemporâneas e tendo a educação dos surdos como alvo, 
a importância da LIBRAS e a diferença se apresentam em 
destaque diante das afirmações e reconstruções sociais 
vigentes.
Isto porque excluir a língua e as emoções da comunidade 
surda é mostrar que a inclusão às vezes está embasada em 
muitos preconceitos relativos à comunidade surda. O 
estereótipo da comunidade surda começa dentro da própria 
família, que não quer a surdez daquela criança e a encaminha 
para uma escola, para que ela seja incluída junto de crianças 
ouvintes.Conforme cita BOTELHO. (2002, p.26):
O estigma e o preconceito fazem parte do 
nosso mundo mental e atitudinal, tendo em 
vista que pertencemos a categorias - mulheres, 
negros, analfabetos, políticos, professores, 
judeus, velhos, repetentes na escola, pós-
graduados, estrangeiros, desempregados - que 
são recebidas com pouca ou muita ressalva por 
um grupo determinado. Não importa a qual 
grupo pertençamos, mas sim a qual queremos 
pertencer, e é direito de cada indivíduo 
escolher o lugar na sociedade a que melhor se 
adapte.).
Deduzimos, então, que o sujeito surdo tem o direito 
de escolher seu lugar social e como se dará esta interação/
comunicação com os demais cidadãos brasileiros.
 A comunicação é um fator de interação onde predomina 
a língua, no caso da comunidade surda, a língua de sinais. É 
através da língua que trocamos ideias relacionamo-nos um 
com outro, a partir disso quebramos barreiras e solidificamos 
a inclusão.
Portanto, falar com as mãos identifica o ser Surdo 
e aprender uma língua de sinais e, através dela, aprender 
conceitos e significados, demonstra um indivíduo que percebe 
o mundo, principalmente, pela visão, mesmo vivenciando as 
experiências em um universo de sons e oralidade. Isso é o que 
os torna diferentes e não necessariamente deficientes (Felipe, 
2007, p. 110).
Voltamos, assim, à nossa fala inicial sobre diferença 
cultural e de constituição de identidade, fechando um ciclo 
coeso entre cultura, identidade e diferença: o sujeito surdo se 
constitui através de experiências visuais, por meio da língua de 
sinais (LIBRAS), adotando um paradigma de vida conforme 
suas diferenças.
Como cidadãos sociais, aspirantes a uma sociedade 
inclusiva, precisamos nos atentar para a importância do 
reconhecimento e difusão da LIBRAS em nosso país, afinal, 
conforme cita (Amaral,1993,p.27):
[...] a dificuldade de ser surdo numa sociedade 
que teima em generalizar os seus próprios 
padrões a todos sem o respeito e a atenção 
devidos à diferença. E a diferença entre 
um surdo e um ouvinte reside tão só na 
10Libras - Língua Brasileira de Sinais
ausência ou existênciado sentido da audição, 
respectivamente; e desta pequena diferença 
resulta que os que são surdos não ouvem, logo 
não têm acesso à língua oral; se quisermos 
especifi car melhor acrescentaremos que a 
língua oral não pode ser a língua natural 
do surdo profundo porque a privação ou 
danifi cação do órgão da audição não lhe 
permite a apreensão.
Retomando a aula
Chegamos ao fi m de nossa primeira aula!
Que tal relembrarmos alguns pontos principais?
1 – As concepções sobre surdez
Na primeira seção fizemos a leitura sobre as concepções 
que existiam, desde a Antiguidade, sobre a surdez. O 
entendimento da sociedade sobre o que era o ser surdo, a 
crença de que havia necessidade de cura para um corpo 
defeituoso adotando, assim, uma visão clínico-terapêutica. 
O preconceito, os maus tratos e a desconsideração como ser 
humano até a idade Contemporânea. Vimos o contexto de 
opressão, molde dos primeiros passos para uma educação 
de surdos através das instituições religiosas e clérigos, onde 
destacamos as figuras de Pedro Ponce de Léon e Michel de 
L’Epéé. Na idade Moderna, a divulgação de pesquisas e o 
envolvimento da esfera universitária, o pensamento começou 
a mudar: o surdo passaria a ser visto como um sujeito social, 
fomentando, assim, uma mudança de concepção: visão sócio-
antropológica da surdez.
2 – Movimento educacional pelo reconhecimento 
às diferenças: identidade e cultura surda
O contato com os termos que estão definindo os estudos 
sobre surdez, nos dias atuais. Cultura, Identidade e Diferença, 
conceitos delineadores da política voltada ao atendimento 
das pessoas surdas brasileiras e defendidos pela comunidade 
surda como meio de reconhecimento social.
3 – LIBRAS: um processo de lutas pelo direito 
linguístico
Aprendemos sobre o significados da LIBRAS e suas 
implicações como língua natural dos surdos. O reconhecimento 
da LIBRAS no Brasil, lei nº 10.436/2002, através dos 
movimentos e da luta engajada das comunidades surdas. 
Apesar da força da lei e dos direitos linguísticos, os problemas 
atitudinais da sociedade estão refletindo no processo de 
inclusão e escolarização do sujeito surdo. É necessária a 
reflexão sobre a construção de uma sociedade que tenha 
uma cultura de aceitação às diferenças, contribuindo para o 
desenvolvimento pleno e democrático do cidadão surdo.
• Declaração dos Direitos Linguísticos. Disponível em: http://
www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/legislacao/declaracao_
universal_direitos_linguisticos.pdf 
Vale a pena acessar
QUADROS, Ronice. Educação de surdos: a aquisição da 
linguagem, Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
SKLIAR, Carlos. A Surdez – Um Olhar Sobre as 
Diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2010.
Vale a pena
Vale a pena ler
Minhas anotações

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