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NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER: • Os principais conceitos de Competência; • As dimensões da competência; • As competências individuais e as competências organizacionais. INTRODUÇÃO Vislumbramos, nos últimos anos, movimentos que buscam novas formas de gerenciar a complexidade e as múltiplas interligações no ambiente empresarial. Surgem, assim, outros conceitos e modelos de gerenciamento, que objetivam aproveitar ao máximo o potencial de cada pessoa no desenvolvimento das atividades profissionais, propiciando condições mais favoráveis de desenvolvimento e crescimento das organizações. Entre estes diversos modelos, merece destaque, tanto no mundo acadêmico, quanto empresarial, o modelo de “Gestão por Competências”. Em essência, trata-se da construção de estratégias de atuação junto às pessoas para gerar maior envolvimento, comprometimento, respeito, auto responsabilidade e, consequentemente, competência em todo o sistema organizacional. O modelo de gestão por competência é um instrumento poderoso de gestão por permitir o alinhamento estratégico da gestão de pessoas com a estratégia da organização. O valor central desse modelo consiste, prioritariamente, na possibilidade de articular as competências organizacionais, grupais, individuais e gerenciais, agregando valor ao patrimônio da organização e mantendo sua vantagem competitiva. É necessária a permanente busca pela excelência organizacional e, para tal, deve-se lembrar que é através de um adequado programa de gestão de pessoas que quaisquer modelos de gestão se efetivam. Nunca é demais reforçar que todo gestor é um gestor de pessoas e que, ao assumir cargos de direção, deve ter uma visão sistêmica interna e externa, agir estrategicamente dentro de padrões éticos e, principalmente, ter a capacidade de desenvolver as competências individuais e de suas equipes, tornando-as a base de uma competência organizacional de excelência. Vamos, então, conhecer mais profundamente as características de uma Gestão por Competências. Bons estudos! GESTÃO POR COMPETÊNCIAS A grande questão que se coloca diante das organizações contemporâneas diz respeito a alcançar vantagem competitiva. Os desafios se apresentam de diferentes formas e exigem que as empresas tenham domínio tecnológico, estruturas enxutas, processos bem desenhados, alta compreensão do mercado de atuação, entre outros importantes aspectos. Entretanto, cabe destacar que há um elemento central e determinante para que se tenha êxito em todos os demais aspectos: o fator humano! Empresas de alto desempenho só atingem esta vantagem competitiva quando alcançam excelência em seu corpo funcional, ou seja, possuem profissionais altamente competentes. Gestão por competências é, portanto, construir um modelo de gestão que prestigia a competência, tanto individual, quanto coletiva. Neste capítulo vamos estudar, inicialmente, os principais conceitos de competência que foram sendo concebidos ao longo dos últimos cinquenta anos. Após isso, vamos aprofundar os estudos buscando entender as dimensões da competência, sejam individuais ou organizacionais. CONCEITOS DE COMPETÊNCIA Pensando em termos de linguagem organizacional, o termo competência designa a capacidade de uma pessoa realizar determinado trabalho. A utilização do termo competência dentro desse contexto fez com que várias conotações fossem empregadas, com destaque para duas vertentes do termo: a norte-americana e a francesa. Importante observar que estes conceitos iniciais surgem há quase 50 anos e que, mesmo sofrendo algumas variações, sustentam os conceitos contemporâneos. Mas voltando às duas vertentes, na primeira, a partir de alguns autores norte-americanos, entre eles Boyatzis (1982) e McClelland (1973), conforme citam Carbone et al. (2009), entendem e aplicam a competência como um grande estoque de qualificações, tais como conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA), que tornam a pessoa apta para exercer determinados trabalhos e a desempenhar determinadas funções. A segunda vertente representa, principalmente, os autores franceses, entre eles, LeBoterf (1995) e Zarifian (1996), que fazem uso do termo competência como as realizações da pessoa dentro de um determinado contexto, ou seja, aquilo que é produzido ou realizado por ela no trabalho. Portanto, partindo dessas duas vertentes e conforme ideias de Carbone et al. (2009), a competência é entendida não apenas como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, mas também como um conjunto de realizações e desempenhos desenvolvidos por uma pessoa em um determinado contexto. Assim, a competência é o resultado da mobilização da pessoa com a combinação de recursos e insumos, agregando valores econômicos e sociais às pessoas e às organizações (ver infográfico deste capítulo). No sentido de ampliar o conhecimento sobre os conceitos atribuídos ao termo competência ao longo das últimas décadas, o quadro a seguir apresenta outras definições: AUTOR CONCEITO Parry (1996, p.48) “Um agrupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes correlacionadas, que afeta parte considerável da atividade de alguém, que se relaciona com o desempenho, que pode ser medido segundo padrões preestabelecidos, e que pode ser melhorado por meio de treinamento e desenvolvimento.” Magalhães et al. (1997, p.14) “Conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências que credenciam um profissional a exercer determinada função.” Davis (2000, p.1, 15) “As competências descrevem de forma holística a aplicação de habilidades, conhecimentos, habilidades de comunicação no ambiente de trabalho [...]. São essenciais para uma participação mais efetiva e para incrementar padrões competitivos. Focaliza-se na capacitação e aplicação de conhecimentos e habilidades de forma integrada no ambiente de trabalho.” Zarifian (2001, p.66) “A competência profissional é uma combinação de conhecimentos, de saber-fazer, de experiências e comportamentos que se exerce em um contexto preciso. Ela é constatada quando de sua utilização em situação profissional a partir da qual é passível de avaliação. Compete, então, à empresa identificá-la, avaliá-la, validá-la e fazê-la evoluir.” Fonte: adaptado de Bitencourt (2004) Em uma concepção mais recente, mas cada vez mais direcionada à diferenciação que determinada organização pode alcançar na comparação com seus concorrentes, Williams (2017) aponta que as empresas precisam reconhecer e atuar fortemente no aperfeiçoamento de suas competências distintivas. Segundo o autor, uma competência distintiva é algo que uma empresa pode produzir, fazer ou executar melhor que seus concorrentes. Desta forma, percebe-se que as competências, independente da dimensão que é estudada, seja individual, coletiva ou organizacional, deverá sempre ser compreendida como o exercício da excelência. Ser competente é reunir condições, circunstâncias e capacidades superiores àquelas encontradas na concorrência. A seguir, vamos compreender melhor as dimensões da competência. AS DIMENSÕES DA COMPETÊNCIA Muitos são os conceitos e as concepções inseridas no ambiente empresarial acerca da noção e da forma como a competência pode ser analisada, seja por meio de qualificação, performance, desempenho e objetivos ou tantos outros sinônimos. O importante a ser dito é que as definições, nem sempre homogêneas, abrem um leque de opções que vai além da dimensão pessoal de competência. Conforme Moscovici (2004), é possível analisar a competência sob dois prismas: competência técnica e competência interpessoal, sendo ambas essenciais para o desenvolvimento e o gerenciamento do capital humano. Para trabalhar em equipe e construir um bom relacionamento no ambiente de trabalho é preciso muito mais do que competência técnica, é preciso ter uma nova percepção sobre as pessoas,essa é a competência interpessoal. Com relação à primeira, são os conhecimentos e as técnicas que asseguram um desempenho adequado e de qualidade. Quanto à segunda, o que garante um bom desempenho é a habilidade de lidar, eficazmente, com as relações interpessoais, de acordo com a necessidade e a situação. Portanto, é fundamental a importância das competências técnica e interpessoal no desenvolvimento das pessoas e das equipes nas organizações, buscando a vantagem competitiva. Conforme Williams (2017), pesquisas recentes, como as desenvolvidas pelo professor de negócios da Universidade de Stanford, Jeffrey Pfeffer, o que separa as empresas que possuem alto desempenho das suas concorrentes é a forma como elas tratam suas forças de trabalho. Em outras palavras, a maneira ou o seu estilo de gestão. Ainda referindo resultados da pesquisa do professor Pfeffer, Williams (2017) destaca: Os gestores das empresas de alto desempenho usavam ideias como segurança no emprego, contratação seletiva, equipes autogeridas e descentralização, alta remuneração dependente do desempenho da empresa, amplo treinamento, distinções de status reduzidas (entre gestores e funcionários) e amplo compartilhamento de informações financeiras para atingir desempenho financeiro que foi, em média, 40% superior ao de outras empresas. (WILLIAMS, 2017, p.19). Foram duas décadas de pesquisa deste professor, realizadas em 92 empresas, que sustentam estas e outras importantes conclusões, entre elas a que aponta um aumento médio em torno de 20% no desempenho das empresas que adotaram práticas de gestão que valorizam as pessoas e se preocupam em desenvolver suas competências, tanto na dimensão técnica quanto na interpessoal. Além de compreendermos estas duas dimensões das competências, que focam no indivíduo, cabe estudar ainda como as competências individuais contribuem para o desenvolvimento das competências organizacionais. Este é o foco do próximo tópico. COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS As competências pessoais ou individuais englobam atributos, habilidades e comportamentos para o desempenho de determinada função ou tarefa, enquanto as competências organizacionais são definidas por processos, sistemas e práticas que capacitam uma organização a transformar capacidades pessoais em competências para a própria organização. Sob a perspectiva do desempenho no trabalho, Borges-Andrade (2006) afirma que é possível definir competência individual como uma série de combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes. Assim, conforme dissemos anteriormente, a competência individual é o resultado da mobilização do colaborador, da combinação de recursos ou dimensões interdependentes (conhecimentos, habilidades e atitudes) e da aplicação desses recursos ao trabalho. Ao abordar as competências individuais Ruas, Antonello e Boff (2005) também fazem referência às competências gerenciais e, para os autores, as competências são gerenciais quando a pessoa transfere conhecimentos, habilidades e atitudes que são capazes de mobilizar e integrar recursos para produzir e agregar valor à organização. Em última análise, as competências gerenciais advêm das competências individuais praticadas pelos gestores nas suas atividades cotidianas. Vários autores se dedicaram às tipologias de competências gerenciais. Schein (1996 apud Hanashiro et al., 2012) defende quatro grupos de competências gerenciais: motivação e valores; capacidade e aptidões analíticas; aptidões interpessoais e de grupo; e capacidade e habilidade para lidar com a emoção. Os estudiosos Spencer e Spencer (1993 apud Hanashiro et al., 2012) destacaram um maior número de competências gerenciais: impacto e influência; orientação para resultados; cooperação e espírito de equipe; pensamento analítico; iniciativa; desenvolvimento de pessoas; confiança pessoal; compreensão interpessoal; comando/assertividade; busca de informações; liderança; pensamento conceitual; desenvolvimento organizacional; desenvolvimento de relacionamentos; adotar ordens e conhecimento técnico. Referente ao conceito de competências organizacionais, Silva (2005) afirma que foi introduzido pelos teóricos da administração na década de 1990 e diz respeito a como as informações são exploradas nos seus aspectos internos e externos que impactam o negócio e agregam valor ao cliente. Hanashiro et al. (2012) realizaram um estudo aprofundado sobre as competências organizacionais, identificadas por diversos autores, e concluíram que existem muitos pontos em comum, destacando as palavras-chave unânimes entre os pensadores: combinação/integração de habilidades; recursos; atividades; processos; valores e rotinas organizacionais; geração de valor para clientes; fonte de vantagem competitiva; difícil de ser copiado por concorrentes; formadas gradualmente ao longo do tempo. Ainda apresentam um conceito baseado nos aspectos essenciais comuns aos autores estudados. A competência organizacional é o resultado de uma combinação estratégica de recursos, habilidades e processos organizacionais, os quais são orientados e integrados para o atendimento de uma ou mais necessidades de clientes; e que, em virtude de suas propriedades únicas, contribui de forma relevante para a geração de valor e para a formação de vantagem competitiva sustentável. Ruas, Antonello e Boff (2005) afirmam que a integração organizacional das habilidades e tecnologias é uma condição primordial das competências essenciais, sendo pouco provável que esta se sustente em algumas pessoas ou grupos da organização. Para que essa integração ocorra, é necessário seguir um processo que inicia pelo levantamento das informações relacionadas à intenção estratégica da empresa, ou seja, direcionamento estratégico, missão e visão de futuro, identificando as competências essenciais para depois desdobrar essas competências em coletivas, sendo o último passo o desdobramento das competências grupais em individuais. Portanto, mapear competências não envolve identificar as pessoas que as possuem, mas sim identificar se a organização possui competência organizacional instalada e, a partir desse ponto, decidir quais são as competências pessoais necessárias para sustentar a organização no mercado no qual está inserida. REFERÊNCIAS BITENCOURT, C. Gestão contemporânea de pessoas: novas práticas, conceitos tradicionais. Porto Alegre: Bookman, 2004. BORGES-ANDRADE, J. E.; ABBAD, G. da S.; MOURÃO, L. Treinamento, desenvolvimento e educação em organizações e trabalho: fundamentos para a gestão de pessoas. Porto Alegre: Artmed, 2006. CARBONE, P. P. et al. Gestão por competências e gestão do conhecimento. 2.ed. São Paulo: Ed. da FGV, 2009. HANASHIRO, D. M. M.; TEIXEIRA, M. L. M.; ZACCAR, L. M. Gestão do fator humano: uma visão baseada em stakeholders. São Paulo: Saraiva, 2012. MOSCOVICI, F. Equipes dão certo: a multiplicação do talento humano. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. RUAS, R.; ANTONELLO, C.; BOFF, L. H. Os novos horizontes da gestão: aprendizagem organizacional e competências. Porto Alegre: Bookman, 2005. SILVA, M. de O. Gestão de pessoas através do sistema de competências – estratégias, processos, desempenho e remuneração: fundamentos e aplicação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. WILLIAMS, Chuck. ADM: Princípios de administração. 2.ed. São Paulo, SP: Cengage, 2017.
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