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RECURSO ESPECIAL Nº 1 322 964 RS

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DIREITO CIVIL
Alunos: 
Descrição:
Análise de caso
RECURSO ESPECIAL Nº 1.322.964 – RS
1 Descrição do caso
1.1 Quais são as partes envolvidas?
Souza Cruz Ltda X Maria Regina Braun Vescovi e outros.
1.2 Qual o tipo de ação, número do processo e Estado de origem?
Recurso Especial, nº 1.322.964, Rio Grande do Sul.
1.3 Qual o órgão julgador?
STJ.
1.4 Quais foram os fatos que geraram a controvérsia jurídica?
Omissão e deficiência da fundamentação do acórdão recorrido no que se refere aos seguintes pontos: a) a natureza do defeito do produto fabricado pela recorrente; b) a não incidência dos arts. 154 e 1.060, CC/16; c) a ausência de prova do nexo de causalidade entre o consumo do cigarro e as enfermidades desenvolvidas pelo recorrido; e d) a inexistência de norma legal que impusesse à recorrente a obrigação de divulgar advertências à época dos fatos no período em que o tabagismo foi adquirido.
1.5 Qual o pedido e a respectiva fundamentação?
Preliminarmente: alega a nulidade do acórdão por violação dos arts. 130, 131, 165, 368, 334, III, 398, 458, II, 463 e 535, I e II, todos do CPC/73.
Alega ofensa ao contraditório e violão dos arts. 130, 131, 368 e 398 do CPC/73, ao argumento de que o Tribunal de origem fundamentou sua decisão em dados obtidos unilateralmente em páginas da internet.
Defende que foi violado o art. 334,III, CPC/73, ante a ausência de prova de que os cigarros consumidos pelo falecido eram fabricados pela empresa ré.
Mérito: aponta violação dos arts. 186, 188 e 927, CC/02 e do art. 1º da Lei nº 9.294/1996, tendo em vista a licitude de suas atividades comerciais.
Assevera a inaplicabilidade dos arts. 8º, 12, §1º, II e §3º, II e III, e ainda dos arts. 36 e 37, CDC, haja vista a inexistência de defeito no produto e de publicidade enganosa.
Defende que não poderia ser condenada por suposta culpa ou dolo por não informar os efeitos do cigarro, pois tais danos são de conhecimento público e notório. Alega que antes do advento do CDC inexistiria o dever jurídico específico de divulgar a existência de tais riscos na extensão exigida pelo Tribunal de origem. Aponta, nesse sentido, violação dos arts. 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, 4º, III, 6º, III, 9º, 10, 30, 31, 118, todos do CDC e negativa de vigência das Leis nº 9.294/96 e nº 10.167/00.
Com base nos arts. 334, I, do CPC/73, 1.886 do CC/02, e 12, §3º, III, do CDC, assevera a existência de culpa exclusiva da vítima e a assunção do risco de produzir o resultado danoso pelo fumante.
Afirma que não ficou comprovado o nexo de causalidade entre o consumo de cigarros e a doença do falecido, em consequente violação dos arts. 186 e 403, CC/02.
Por fim, invoca a existência de dissídio jurisprudencial com julgados de outros Tribunais e desta Corte Superior (REsp 886.347/RS e REsp1.113.804/RS).
Pleiteia a prevalência do decidido nos acórdãos paradigmas no que tange ao reconhecimento: a) da licitude da atividade desenvolvida pela ré; b) da ausência de defeito no produto; c) da notoriedade dos riscos associados ao consumo de cigarros; d) da ausência de publicidade enganosa; e) da culpa exclusiva do consumidor que, no exercício de seu livre arbítrio, assume os riscos da periculosidade inerente ao cigarro; e f) da ausência de nexo de causalidade direto e imediato entre o consumo de cigarros e a doença alegada.
1.6 Quem é o relator?
Sr. Ministro Relator Ricardo Villas Bôas Cueva.
1.7 Quem é o condutor do voto vencedor?
O Sr. Ministro Relator Ricardo Villas Bôas Cueva.
2 Fundamentos normativos
2.1 Quais as normas jurídicas mencionadas pelas partes e pelos julgadores para a solução do caso? Havia outras normas relevantes que não foram mencionadas?
A configuração da responsabilidade objetiva nas relações de consumo prescinde do elemento culpa, mas não dispensa (i) a comprovação do dano, (ii) a identificação da autoria, com a necessária descrição da conduta do fornecedor que violou um dever jurídico subjacente de segurança ou informação e (iii) a demonstração do nexo causal.
No que se refere à responsabilidade civil por danos relacionados ao tabagismo, é inviável imputar a morte de fumante exclusiva e diretamente a determinada empresa fabricante de cigarros, pois o desenvolvimento de uma doença associada ao tabagismo não é instantâneo e normalmente decorre do uso excessivo e duradouro ao longo de todo um período, associado a outros fatores, inclusive de natureza genética.
2.2 Qual a controvérsia jurídica?
Determinar se a empresa fabricante de cigarros possui responsabilidade civil objetiva pelos danos morais decorrentes da morte de fumante, na hipótese de diagnóstico da doença vascular tromboangeíte obliterante.
Controvérsias jurídicas do mérito: (i) periculosidade inerente do cigarro; (ii) licitude da atividade econômica explorada pela indústria tabagista, possuindo previsão legal e constitucional; (iii) impossibilidade de aplicação retroativa dos parâmetros atuais da legislação consumerista a fatos pretéritos; (iv) necessidade de contextualização histórico-social da boa-fé objetiva; (v) livre-arbítrio do indivíduo ao decidir iniciar ou persistir no consumo do cigarro; e (vi) imprescindibilidade da comprovação concreta do nexo causal entre os danos e o tabagismo, sob o prisma da necessariedade, sendo insuficientes referências genéricas à probabilidade estatística ou à literatura médica.
3 Mapeamento dos argumentos
3.1 Quais os principais argumentos da decisão?
Inviável rever as conclusões do Tribunal estadual quanto à configuração do dano e ao diagnóstico clínico do falecido diante da necessidade de revolvimento do conjunto fático-probatório, procedimento vedado nos termos da Súmula nº 7/STJ. 8. Na hipótese, não há como afirmar que os produto(s) consumido(s) pelo falecido ao longo de aproximadamente 3 (três) décadas foram efetivamente aqueles produzidos ou comercializados pela recorrente. Prova negativa de impossível elaboração. 
No caso, não houve a comprovação do nexo causal, sob o prisma da necessariedade, pois o acórdão consignou que a doença associada ao tabagismo não foi a causa imediata do evento morte e que o paciente possuía outros hábitos de risco, além de reconhecer que a literatura médica não é unânime quanto à tese de que a tromboangeíte obliterante se manifesta exclusivamente em fumantes. 
Não há como acolher a responsabilidade civil por uma genérica violação do dever de informação diante da alteração dos paradigmas legais e do fato de que o fumante optou por prosseguir no consumo do cigarro em período no qual já havia a divulgação ostensiva dos malefícios do tabagismo e após ter sido especificamente alertado pelos médicos a respeito os efeitos da droga em seu organismo, conforme expresso no acórdão recorrido. 
Aquele que, por livre e espontânea vontade, inicia-se no consumo de cigarros, propagando tal hábito durante certo período de tempo, não pode, doravante, pretender atribuir a responsabilidade de sua conduta a um dos fabricantes do produto, que exerce atividade lícita e regulamentada pelo Poder Público. Tese análoga à firmada por esta Corte Superior acerca da responsabilidade civil das empresas fabricantes de bebidas alcóolicas.
3.2 Houve voto vencido? Em caso afirmativo, quais os principais argumentos?
Não, a decisão foi unânime.
4 Resultado
4.1 Qual o resultado do caso? 
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido, por unanimidade, para restabelecer a sentença de primeiro grau que julgou improcedente a demanda indenizatória.
4.2 Qual foi o placar? 
5x0.
4.3 Qual a relevância do julgamento para o direito?
As decisões dos tribunais superiores servem para diminuir o número de divergências e acelerar decisões. A sistemática dos recursos repetitivos e as súmulas dos tribunais superiores são essenciais para adequar o direito à nova fase trazida pela reforma do CPC, que privilegia a segurança jurídica, a estabilidade das decisões das cortes e a pacificação dos temas controvertidos.
5 Avaliação Crítica
5.1 Você concorda com a decisão?
Sim. Inclusive esta é a corrente majoritária em relação a responsabilidadecivil da indústria tabagista no Brasil, onde diz que esta não é responsável de fato no que diz respeito aos pedidos reparatórios.
O primeiro ponto analisado é a questão do livre arbítrio, que condiciona as escolhas, no caso, de forma consciente. Dessa forma, a ação de iniciar e continuar o fumo, apesar das substâncias presentes no mesmo, é pela vontade do consumidor. Assim, o livre arbítrio se torna uma excludente de responsabilidade.
Outra questão vem do Artigo 12 do Código do Consumidor (1990) que considera o cigarro um produto defeituoso, já que se espera um risco decorrente do uso. No entanto, não pode ser considerado defeito pois é de conhecimento geral que o produto causa riscos à saúde. É um produto de periculosidade inerente, o usuário antes mesmo do uso escolhe utilizar o produto mesmo sabendo das prováveis consequências.
Há também o fato de que o fabricante de cigarros exerce atividade licita, e apesar do que diz o artigo 967 do CC (2002), a atitude do usuário também é uma excludente de responsabilidade e rompe o nexo de causalidade entre a indústria tabagista e o dano em si, já que faz uma escolha entre “o risco e o prazer”. E, é impossível definir que foi o cigarro exclusivamente que trouxe a doença, que pode ser originada pela soma de diversos fatores ligados ao estilo de vida da pessoa.
Por conseguinte, entende-se que os consumidores dos produtos da indústria tabagista devem arcar “sozinhos” com os males advindos do consumo, sem direito a procedência de pedidos reparatórios já que não se pode atribuir culpa exclusiva, e os efeitos nocivos da prática não podem ser imputados aos fabricantes.
5.2 Aponte eventuais críticas que podem ser feitas ao julgado.
Existe uma corrente minoritária é apresentada doutrinariamente pelo jurista Flávio Tartuce e nela, há a defesa ao cabimento de indenização por parte da indústria tabagista aos consumidores.
Tal corrente fundamenta-se, principalmente, na Teoria do Risco Concorrente, ou seja, o consumidor assume os riscos sobre sua saúde a partir do momento em que ele opta por adquirir e utilizar o cigarro. Mas, ao mesmo tempo, as empresas de tabaco também assumem um risco quando passam a desenvolver atividades e/ou produtos que, por sua natureza, implicam em riscos a outrem.
Ainda em relação ao cabimento da indenização existe a questão do nexo de causalidade entre o cigarro e o dano causado e em relação a isso é aplicado a responsabilidade objetiva do Código de Defesa do Consumidor, o fato de produto perigoso ser produto defeituoso sendo o cigarro, então, um produto defeituoso. Além disso, pode-se trazer os laudos médicos e testemunhas para testificarem sobre as marcas utilizadas pelos consumidores e pelas doenças advindas do uso do cigarro, como por exemplo a Buerguer.
Há ainda a questão da licitude e do exercício regular da empresa, em que o art.927, parágrafo único, do Código Civil reitera a responsabilidade por atos lícitos. Aliado a tal, aparece o livre-arbítrio que na realidade pós-moderna não existe em totalidade, existindo, na verdade, uma tendência a intervenção estatal com vistas a proteção dos vulneráveis e dos valores fundamentais. A respeito disso, vale ressaltar, que a boa-fé objetiva não supera esses valores, como a tutela da saúde, constante do art.6º da CF/1988.
Por fim, sobre a culpa exclusiva da vítima, o argumento é inócuo quanto aos fumantes passivos que são consumidores equiparados, ou seja, não há como responsabilizar por algo que nem indiretamente eles quiseram.
Dessa maneira, entende-se que a culpa não pode ficar toda sobre o fumante, pois a empresa tabagista tem um risco proveito, devendo ambos serem analisados caso a caso na realidade fática, sendo a indenização fixada de acordo com os riscos assumidos por cada um e dependendo da ciência ou não e da assunção dos riscos, de acordo com a informação e a época vivida.

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