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Abordagem às principais queixas neurológicas Caroline Zanella ATM 2022/A 2 Realidade paulista: 1. Cefaleia 2. Epilepsia 3. Neuropatia periférica 4. Doença cerebrovascular 5. Psiquiátricos No nosso ambulatório: 1. Cefaleias 2. Lombalgia 3. Comprometimento cognitivo e demências 4. Doenças cerebrovasculares 5. Distúrbios do movimento O impacto da doença neurológica (GBD, 2016) AVC e migrânea são as 2 principais causas de incapacidade (estatística global). Anamnese · Identificação: idade, sexo, escolaridade, estado civil, naturalidade/procedência, lateralidade. · Procura-se a prevalência das doenças pela epidemiologia. · Queixa Principal: registrada conforme as palavras do paciente. · HDA: identifica o padrão da doença. Quando começou? Como iniciou? Abrupta? Frequência dos sintomas? Evolução da doença? Progressiva (demências, neoplasias)? Intermitente (enxaqueca, epilepsia – examina e pode estar normal)? · Evolução temporal da doença: · Precisar o início e a taxa de progressão dos sintomas. · Segundos: ruptura de aneurisma, AVC/AIT. · Minutos: crise epiléptica, síncope · Horas: crises de enxaqueca, meningite meningocócica · Dias: surto de esclerose múltipla, Sind Guillain-Barre · Semanas: miastenia gravis, encefalite autoimune · Meses: tumor de rápido crescimento · Anos: doença de Parkinson, doença de Alzheimer · Confirmação da história por terceiros. · História familiar. · Comorbidades clínicas. · Uso de fármacos e exposição a toxinas. O exame neurológico · Prioridade – identificar região provavelmente responsável pelo sintoma. · Pode ser delimitado a uma área específica ou pode ser multifocal. · Cabeça: · Estado mental, insight sobre a doença, linguagem · Exame do tamanho e reatividade pupilar, acuidade auditiva e visual. · Movimentação dos olhos, face e língua. · Membros superiores: · Exame dos braços estendidos (Mingazini – força, tremor, equilíbrio, volume muscular). · Teste index nariz. · RTP bicipital e tricipital (braquirradial e flexor dos dedos também). · Sensibilidade vibratória. · Membros inferiores: · Inspeção dos membros inferiores durante flexão e extensão ativa do quadril, joelhos e tornozelos. · Teste calcanhar-tornozelo (coordenação MMII). · RTP patelar e Aquileu. · RCP. · Sensibilidade vibratória. · Marcha O exame neurológico sumário · Funções corticais – avaliação de estado mental do paciente – avalia se o paciente tem dificuldades de comunicação, se é capaz de recordar e compreender eventos recentes e pregressos. · Mini exame do estado mental – rastreamento de função cognitiva. · Consciência. · Orientação. · Fala e linguagem. · Memória. · Base de informações. · Compreensão e discernimento. · Pensamento abstrato e cálculos. · O nível da consciência é um estado relativo do paciente de percepção acerca de si mesmo e do ambiente – vigília ao coma. · Nervos cranianos – exame mínimo – verificação do fundo de olho, campos visuais, tamanho e reatividade de pupilas, movimentos extraoculares e movimentos faciais. · NC I – olfatório – teste somente realizado quando houver queixa ou suspeita de doença em lobo frontal inferior – como um meningioma. · Paciente de olhos fechados – inalar odor leve, como café, e identificar o que é. · NC II – óptico: · Acuidade visual – com correção por óculos ou lentes – utilizando a tabela de Snellen. · Campos visuais – médico à frente do paciente, pedir para o paciente olhar para a face do médico e movimentar o próprio dedo para a periferia. – primeiro os dois quadrantes superiores, depois os inferiores. · Campimetria. · Fundo de olho. · NC III, IV e VI – óculomotor, troclear e abducente. · Tamanho e forma das pupilas, reação à luz e à convergência. · Movimentos extraoculares – seguindo a ponta do dedo para os quadrantes – realizar os movimentos devagar em planos horizontal e vertical. · Avaliar nistagmo em posição de 45 graus. · NC V – trigêmeo: · Sensibilidade nos três territórios do nervo – oftálmico, mandibular e maxilar. · Tato leve e temperatura. · NC VII – facial: · Assimetrias de face em repouso e aos movimentos espontâneos. · Levantar sobrancelhas, franzir a testa e fechar olhos. · Sorrir e inflar as bochechas. · Lesão de neurônio motor – fraqueza dos dois terços inferiores da face. · Lesão neurônio motor inferior – lesão em um lado inteiro da face. · NC VII – vestibulococlear: · Capacidade do paciente de ouvir – voz sussurrada. · Exame de condução aérea é realizado se primeiro teste alterado ou se houver queixa. · Rinne – condução óssea mastoide. · Weber – condução óssea fronte. · Avaliar contexto de tontura e perda de audição. · NC IX e X – glossofaríngeo e vago: · Posição e simetria do palato e da úvula. · Reflexo faríngeo. · NC XI – acessório espinal: · Verificar encolhimento de ombros – músculo trapézio. · Rotação da cabeça para cada lado, contra a resistência. · NC XII – hipoglosso: · Inspeção da língua – posição e protusão. · Exame motor mínimo: atrofia muscular e tônus dos membros. Força dos membros superiores – teste de pronação/desvio e força dos extensores dos punhos ou dedos. Força de membros inferiores – extensores dos dedos dos pés – pedir para paciente andar sobre calcanhares e sobre os dedos. · Aspecto – inspeção e palpação. · Fasciculaçoes e dor. · Movimentos involuntários em repouso ou em movimento. · Tônus muscular – resistência ao movimento passivo de um membro relaxado. · Membros superiores – pronação e supinação rápidas de antebraço, flexão e extensão de punho. · Membros inferiores – decúbito dorsal – elevação de joelhos rapidamente. · Hipotonia – distúrbios do neurônio motor ou de nervos periféricos. · Hipertonia: · Espasticidade – resistência ao movimento em determinado ângulo – doença do trato corticoepinhal. · Rigidez – resistência semelhante em todos os ângulos do movimento – doença extrapiramidal. · Paratonia – alterações flutuantes da resistência – vias do lobo frontal ou dificuldade normal em relaxar. · Parkisonismo – rigidez em roda denteada – interrupções abruptas na resistência. · Força - teste pronação/desvio. · Dois braços em extensão total, com olhos fechados – manter posição por 10 segundos. · Esforço de membros contra-resistência de diversos grupamentos musculares. · Reflexos: profundos e superficiais – exame mínimo: bicciptal, patelar e do calcâneo. · Reflexos de força muscular: · Bicciptal – C5 e C6. · Braquiorradial – C5 e C6. · Tricciptal – C7 e C8. · Patelar – L3 e L4. · Aquileu – S1 e S2 · Ausente, presente (mas diminuído), normoativo, exacerbado, clônus. · Reflexos cutâneos – reflexo cutâneo plantar – face lateral da planta do pé, começando perto do calcanhar e indo até o hálux. · O reflexo normal consiste na flexão plantar dos dedos. · Quando há lesão do neurônio motor superior, acima do nível de s1, temos a extensão do hálux + abertura em leque dos dedos – sinal de babinski. · Sensibilidade – exame mínimo: sentir toque leve e a temperatura de um objeto frio na parte distal de um dos membros. – manobra de romberg. · Tato leve. · Dor. · Temperatura. · Vibração – diapasão – falange distal do hálux. · Propriocepção – manobra de Romberg – permanecer com os pés próximos para manter o equilíbrio e fechar os olhos – se ocorrer perda de equilíbrio, temos uma resposta anormal. · Coordenação – exame mínimo: paciente em repouso e durante movimentos espontâneos – testar movimentos alternados e rápidos de mãos e pés e do dedo para o nariz. · Controle da velocidade e amplitude dos movimentos. · MS - Tap test, e MI – Bater pé no solo. · Teste índex-nariz ou calcanhar-joelho – teste de função cerebelar. · Marcha e equilíbrio – exame mínimo: observar paciente durante deambulação normal, depois sobre calcanhares e sobre pontas dos pés, ao longo de uma linha reta. · A marcha normal exige força, sensibilidade e coordenação. · Marcha parkinsoniana – postura encurvada e pequenos passos. · Ataxia – marcha instável, com base alargada. · Espasticidade – marcha em tesoura. · Escavante – batida dos pés no solo – doença de coluna posteriorou de nervos periféricos. · Apraxia – sem marcha – doença de lobo frontal. · Outros sinais: irritação meníngea? Alterações vestibulares? · Lasegue para investigação de lombalgia. O processo diagnóstico neurológico 1. Verificação dos sinais e sintomas através da anamnese e exame físico. 2. Interpretação dos sinais e sintomas a luz da anatomia e fisiologia (identidicação de estruturas envolvidas). 3. Diagnostico sindrômico: grupo de sinais e sintomas que nos remetem a uma doença. Exemplo: Síndrome demencial, Síndrome cortical, etc. 4. Diagnostico topográfico: se tem alteração de comportamento, desinibida, etc. é no córtex frontal. 5. Diagnostico etiológico: qual síndrome demencial afeta o córtex frontal? Pode ser um tumor, avc, trauma, infecção, doença degenerativa como a demência fronto-temporal. Cinco causas comuns de viés diagnóstico (Vickery et al., 2009) 1. Efeito de enquadramento 2. Efeito de ancoragem: se prende no diagnóstico e não solta mais 3. Heurística de disponibilidade: somos influenciados pelo número de diagnósticos que vimos na prática clínica, achamos que todo o mundo tem aquilo. 4. Erro de reconhecimento de padrões (heurística de representatividade): sempre que pensar em um diagnóstico, pensar no que é mais prevalente. 5. Confiança excessiva em testes complementares ou autoridades: o mais importante é a anamnese. Sinais e sintomas relacionados ao SNC · Fraqueza em hemidistribuição · Perda sensorial em hemidistribuição · Perda sensorial cruzada ou dissociada · Hiperreflexia: primeiro neurônio motor afetado · Espasticidade/hipertonia: 1º neurônio motor afetado · Movimentos involuntários anormais: coreia, tiques, por exemplo · Epilepsia: doença do córtex · Declínio cognitivo: doença do córtex · Sinais corticais: afasia, por exemplo · Irritação meníngea · Cefaleia · Sinais cruzados · Anormalidades pupilares · Perda visual: olho é considerado uma extensão no sistema nervoso · Sinais e sintomas esfincterianos: doenças medulares, por exemplo. Sinais e sintomas relacionados ao SNP · Dor · Fraqueza generalizada simétrica · Fraqueza muito focal · Perda sensorial em bota e luva: polineuropatia · Perda sensorial correspondente a um dermatomo ou território nervoso: neuralgia pós herpética · Hiporreflexia: cuidado, pois quando as lesões do SNC cronificam que os reflexos ficam vivos · Hipotonia · Atrofia muscular acentuada Caso 1: Homem de 57 anos procura atendimento na emergência devido a dificuldade de fala, desvio da comissura labial e perda de força no hemicorpo direito de início súbito. Nunca apresentou quadro semelhante anteriormente. Tem histórico de HAS, com má aderência medicamentosa e tabagismo. Ao exame neurológico apresenta desvio da comissura labial para a E, disartria moderada, hemiparesia proporcionada à direita. Demais aspectos do exame neurológico sem anormalidades. · Distúrbio central · Dx sindrômico: Síndrome piramidal (cortico-espinal) ou síndrome de primeiro neurônio motor. · Não é esperada uma síndrome cerebelar (alteração de coordenação) · É esperado em uma síndrome piramidal: marcha ceifante. · Hiperreflexia. · Sinal de Babinski. · Perda sensitiva ipsilateral à perda motora. · Dx topográfico: trato corticoespinhal esquerdo. · Dx etiológico: avc isquêmico ou hemorrágico? Caso 2 Homem de 40 anos, apresentando quadro de fraqueza iniciada nos MMII, associada a parestesias, de início distal e progressão ascendente no decorrer de 3 dias, passando a afetar também os MMSS. Ao exame neurológico, força grau 3/5 (não apresenta contra-resistência), nos MMII, predomínio distal, com arreflexia global e hipoestasia em bota e luva. Reflexo cutâneo plantar flexor bilateral. · Doença periférica · Dx sindrômico: Síndrome do segundo neurônio motor + Síndrome sensitiva periférica = paralisia flácida ascendente. · Dx topográfico: polineuropatia (vários nervos afetados de maneira difusa) (que evolui rápido e vai subindo = guillain barré) · Sist nervoso periférico: raiz (afeta um dermátomo), plexo, nervo, músculos (que não causa alteração sensitiva) · Dx etiológico: Síndrome de Guillain-Barré – etiologia inflamatória.
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