Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Negociação e Gestão de Conflitos Alexandre Fernando de Almeida e Ricardo Alves 2 SUMÁRIO 1 O QUE É NEGOCIAÇÃO ............................................................................ 3 2 COMO FAZER UMA NEGOCIAÇÃO ......................................................... 17 3 APLICAÇÕES DA NEGOCIAÇÃO .............................................................. 26 4 CONCEITO DE CONFLITO ....................................................................... 43 5 CONFLITOS ............................................................................................ 52 6 POR QUE GERENCIAR CONFLITOS? ........................................................ 63 3 1 O QUE É NEGOCIAÇÃO A todo instante, estamos executando um processo de negociação. Fazemos isso sem nos darmos conta de sua complexidade. Praticamente a executamos de forma intuitiva, até mesmo mecânica, ao comprarmos um produto no supermercado, ao barganharmos um desconto na feira, ao dizermos “sim” ou “não” para nossos amigos, filhos e/ou alunos. Porém, no mundo corporativo, negociar tem um caráter estratégico, e por isso se faz necessário entender a dinâmica e os processos envolvidos. 1.1 A tríade da negociação Do ponto de vista teórico, os autores que serviram de referência para o desenvolvimento deste material (SPERBER, 1982; WANDERLEY, 1998; MARTINELLI e GHISI, 2006; BAZERMAN e MALHOTRA, 2009; WEISS, 2018) são unânimes em afirmar que antes de qualquer movimento a ser executado em um processo de negociação, o negociador precisa se planejar. Num processo de negociação sempre haverá o negociador, o negociador oponente e o objetivo que se deseja alcançar. Neste material, essas três variáveis serão denominadas como “Tríade do processo de negociação”, para que seja possível avaliar a negociação a partir do ponto de vista do negociador, de seu oponente e dos objetivos que cada lado possui. Os autores deste material resolveram denominar o processo de negociação de “Tríade do processo de negociação” por conta das ações que geram impactos de forma Negociador Negociador Oponente Objetivo 4 sistêmica, e é preciso analisá-los de forma aprofundada para que não se caia no senso comum. 1.2 As fases da negociação O único consenso que se pode obter para descrever o processo de negociação é o planejamento. A partir daí, cada autor desenvolve suas teorias a respeito das fases que compõem esse processo. Como a maioria dessas fases pode parecer similar, mudando apenas o seu nome, para este material será utilizado o conceito básico apontado por Wanderley (1998, p. 127), o qual define o antes e o depois desse processo: Momentos da Negociação Etapas da Negociação Antes da reunião de Negociação Preparações Reunião de Negociação Abertura; Exploração; Apresentação; Clarificação; e Ação Final Após a reunião de Negociação Controle e avaliação Fonte: Wanderley (1998, p. 127) Figura 1.1 – Etapas da Negociação. De acordo com o autor antes da reunião de negociação, será preciso desenvolver um pré-projeto, no qual o negociador deve se questionar a respeito da importância dessa negociação; do quanto em termos de tempo e material humano será empregado nesse processo; e quais serão as consequências se não for possível chegar a um acordo. Além disso, Wanderley (1998, p. 129) afirma que “é preciso ver a situação por três ópticas distintas: a nossa, a do outro lado e a de um observador neutro”, o que segundo ele é uma forma que o negociador tem de se colocar nesses três papéis. Outro ponto importante no processo de antecipação e que é possível encontrar nos trabalhos de Wanderley (1998); Martinelli e Ghisi (2006); Bazerman e Malhotra (2009); Weiss (2018), é a relevância em relação à criatividade na hora de desenvolver sua estratégia de negociação. 5 Para o processo seguinte à reunião de negociação e suas etapas, será preciso analisá- las separadamente. Em relação à abertura, Wanderley (1998, p.140) define como “o coração, as emoções e o relacionamento, e isso significa gerar confiança e criar um clima construtivo, e não defensivo, tornando as pessoas receptivas, prontas para ouvir e prestar informações relevantes”. Já para a etapa de exploração pode-se afirmar que é o processo de coleta de informações, para que se tenha uma compreensão melhor sobre o seu oponente. Nessa etapa, é preciso agir como um repórter. Alguns fatos relevantes que devem ser levantados: os fatos conhecidos a respeito do negociador oponente, para descobrir o padrão de resposta do outro; pressupostos a respeito do negociador oponente, ou seja, quem de fato ele é, não assumindo isso como um fato, mas como um ponto de partida; e por último, como repórter, poderá encontrar fatos desconhecidos que surgiram no nosso processo de pesquisa. Esses fatos podem ser padrões que até mesmo seu oponente desconhece, mas que os números ou os resultados obtidos por ele em outras negociações evidenciam. Para a etapa de apresentação, alguns fatores devem ser levados em consideração, como se pode ver no Quadro 1.1: Quadro 1.1 – Fatores relevantes à apresentação Linguagem A forma como falamos; o ritmo que usamos; o tom de voz; a utilização de metáforas, parábolas ou analogias; todas essas variáveis podem produzir uma impressão positiva. A utilização de palavras difíceis pode causar impressões negativas, dependendo do público que estiver ouvindo. Canais sensoriais Os seres humanos possuem três categorias de sentido: visual, auditiva e cinestésica. É preciso saber dosar as palavras em uma negociação, com a apresentação de um gráfico, para simplificar o entendimento do que se pretende passar ao negociador oponente. Por mais que o negociador sinta-se à vontade em ficar falando, é preciso 6 atender os três sentidos. Leve algo impresso para que aquele que se sinta mais à vontade em pegar o material e ler também seja atendido. Coerência e Racionalidade Apresente sua mensagem ao negociador oponente de forma lógica, com um princípio, um meio e um fim, de forma conectada. Isso causará uma boa impressão. Dessa forma, não incorrerá no erro de desdizerem o que pode gerar perda em sua credibilidade. Iceberg Comportamental Deve-se levar em conta percepções, expectativas, emoções, desejos, crenças, valores, necessidades, e metaprogramas definidos por Wanderley (1998, p. 52) como “programas mentais interiores que usamos para decidir em que devemos prestar atenção e a forma como organizamos e processamos informações”. Soluções e benefícios Ao desenvolver uma proposta, considere as características, soluções e benefícios, ou seja, “não me ofereçam roupas, ofereçam-me uma aparência bonita e atraente” (WANDERLEY, 1998, p.145). Procure ser firme, mas evite grosseria. Não use frases como: “Para começo de conversa...”, “Minha oferta inicial é...”, “Eu acho que y é um bom preço”. Fonte: dados adaptados de Wanderley (1998). Em relação à clarificação, consiste na compreensão da resposta à sua proposta, podendo haver uma concordância, uma aceitação, dúvidas a respeito, objeções, impasse e até uma contraproposta. Nesse momento é que se devem fazer as argumentações e contra argumentações. Ação final é o fechamento do acordo em si. Esse acordo deve ser bom para ambas às partes, e deve gerar um comprometimento formal e legítimo, que atenda as necessidades do negociador e do negociador oponente. Apesar do termo “ação final” 7 pressupor o final do processo, é preciso lembrar que o final mesmo só ocorrerá quando de fato o acordo for implementado. Após a reunião de negociação, há uma única etapa que talvez seja uma das mais importantes, que é o controle da avaliação. É nesse momento, quando a negociação já foi implementada, que todos os itens firmadosserão avaliados e verificados, se estão sendo cumpridos, e caso haja desvios, deve-se tomar as providências necessárias para corrigi-las, sejam elas administrativas, legais, ou até mesmo renegociações. 1.3 Modelos de negociação Quanto aos modelos de negociação, cada autor pesquisado classifica-os, ou dá o nome que melhor lhe convém, dificultando assim a construção de um referencial teórico consistente e replicável. Porém, um trabalho desenvolvido pelo Portal Educação (2019) faz uma descrição bem interessante ao classificar os tipos de negociação em: Classificação quanto à divisão do objeto: Essa classificação leva em conta a possibilidade, ou não, de as partes compartilharem o objeto do negócio a ser realizado. Aqui temos os seguintes tipos de negociação: Distributiva e Integrativa. Distributiva Negociação Distributiva é aquela em que as partes manifestam interesses opostos em relação ao objeto da negociação, como por exemplo, duas partes que visam aos mesmos bens de uma herança. Outro exemplo pode ser dado em relação ao tempo de execução de uma consultoria empresarial para realização de um contrato, no qual o cliente e o consultor, ao discutirem o fator tempo, terão que acordar sobre o prazo de entrega, de modo que se o consultor consegue mais tempo para entregar o contrato pronto, o cliente “perde tempo” na concretização de seus negócios comerciais. Em ambos os casos, a negociação é dita distributiva porque haverá a distribuição do objeto das negociações entre as partes, de modo que, em sendo maior a fração de um, menor será a fração do outro. Além disso, nesse tipo de negociação cada uma das partes tenta levar o máximo de vantagem na distribuição do objeto, pois, naturalmente, pretende levar a maior fração possível. 8 Integrativa A negociação integrativa trata-se daquela negociação realizada em torno de vários objetos, ou de vários pontos de debates, onde os negociadores, nesse caso, nem merecem ser chamados de oponentes, pois a intenção aqui será a somatória de interesses e não a divisão deles. Temos como exemplo o caso em que dois empresários parceiros, para conquistarem um cliente, precisam somar forças operacionais e intelectuais, de modo que ao tratarem de aspectos instrumentais, ou seja, sobre quem vai fazer o quê, quando e de que forma, os interesses mútuos [de conquistar o cliente] deverão levar prioridade sobre os interesses individuais; assim eles deverão integrar seus empenhos a fim de obterem mais retorno financeiro. Aqui, ao inverso da negociação distributiva, não vale a regra de que quanto mais um lado ganha, menos o outro leva. Classificação quanto à concorrência das partes Essa classificação considera levar em conta a possibilidade, ou não, de as partes se disporem a alcançar ganhos mútuos, em detrimento dos exclusivos ganhos próprios. Aqui temos os seguintes tipos de negociação: Adversarial e Cooperativa (ou Colaborativa). Adversarial A negociação adversarial é aquela negociação em que as partes lançam mão de meios competitivos para alcançarem seus objetivos, pois empreendem os trabalhos como verdadeiros inimigos que lutam para ficar com os lucros da batalha. Esse tipo de negociação não é saudável, pois, como consequência, pode gerar o fim da relação entre as partes. As partes aqui procuram satisfazer os seus interesses por meio de soluções que visem a ganhos unilaterais, ou seja, procuram estabelecer soluções do tipo ganha/perde – onde se um ganha, o outro perde. Cooperativa ou Colaborativa A Negociação Cooperativa, também denominada de Colaborativa, é aquela em que as partes lançam mão de meios análogos e pacíficos para resolverem suas pendências. As partes aqui procuram satisfazer os seus interesses por meio de soluções que visem a ganhos mútuos, ou seja, procuram estabelecer soluções do tipo ganha/ganha ou ainda justa e satisfatória para todos os envolvidos. 9 Classificação quanto à comunicação das partes Essa classificação observa a possibilidade, ou não, de as partes realizarem a negociação sem qualquer auxílio de terceiros não interessados no objeto da negociação, ou seja, por meio de uma comunicação diretamente feita entre elas. Aqui temos os seguintes tipos de negociação: Direta e Indireta. Direta Negociação Direta é aquela em que os próprios interessados no objeto do negócio, ou do litígio, empreendem os trabalhos em prol de um acordo, contrato, ajuste ou composição dos interesses divergentes ou convergentes; ou seja, aqui a negociação não sofre qualquer intervenção de terceiros não interessados, como por exemplo, de um mediador. Esse tipo de negociação é a mais tradicional, porém, em certos casos não é a mais indicada, principalmente quando há muita tensão entre as partes em conflito. Indireta Temos como Negociação Indireta aquela em que as partes interessadas no objeto do negócio, ou da contenda, não se comunicam diretamente na hora de tentarem o ajuste de seus interesses. Nesse caso, sempre há a participação de terceiros auxiliares, como por exemplo, o mediador, que deverá auxiliar as partes em suas tentativas de composição do litígio. Classificação quanto à reciprocidade dos ganhos A presente classificação pondera o quanto de vantagem uma parte leva, ou não, sobre a outra parte, ou seja, os tipos de negociações dessa classificação verificam se as partes buscam resultados recíprocos e equivalentes ou se a intenção delas é de auferirem os resultados isoladamente. Aqui temos os seguintes tipos de negociação: Ganha-Ganha, Ganha-Perde e Perde-Perde. Ganha-Ganha As negociações do tipo ganha-ganha são aquelas em que as partes, imbuídas de uma disposição para, igualmente, reconhecer o direito ou as necessidades de suas partes adversas, buscam, de fato, resultados equânimes dentro daquilo que é permitido pela realidade da negociação. Também conhecido por solução win-win, a negociação ganha-ganha, é constituída por trocas recíprocas e eficazes, visa à satisfação das partes 10 envolvidas, ainda que uma delas tenha tido melhores condições que a outra, ou, diante da situações adversas, tenha alcançado o menor prejuízo possível. É também por isso que dizemos que o procedimento ganha-ganha não deve ser considerado sob o ponto de vista utópico de condições impossíveis, ideais ou mesmo inexistente, mas deve sim se basear em condições atingíveis e situações realistas, onde todos possam se sentir relativamente, ou igualmente, vencedores. Logo, um resultado ganha-ganha geralmente deriva de acordos negociais com a menor perda possível para ambos os lados, o que até pode ser dado sob condições adversas ou até mesmo desconfortáveis. Para isso, faz-se necessário que as partes ajam com parceria, tomando ciência e compreendendo o problema umas das outras, pois, dessa forma, elas acabam colocando-se no lugar uma da outra, e por consequência, ampliam o leque de possibilidades de realizar concessões inteligentes e verdadeiras, sempre em prol de um bom acordo. [...] Ganha-Perde A negociação do tipo ganha-perde implica o pensamento de que se uma parte ganha, a outra tem que perder. Pois bem, é isso mesmo o que ocorre aqui, pois a ansiedade e falta de parceria ou desinteresse pela continuidade do relacionamento havido entre aqueles que negociam transformam o ato numa verdadeira batalha negocial, onde só o “ganhar” interessa às partes. Quem lança mão desse tipo de negociação, com olhos apenas para a vitória, acima de qualquer outra possibilidade, geralmente age por meio de técnicas ardis, estatísticas inventadas, informações falsas, táticas maculadas por más intenções e por artifícios tendentes a burlar o processo. Para tanto, pode intentar condutas que visem às seguintes situações ou resultados para com o outro que é visto como oponente: a) imprimir-lhe um sentimento ilusório deganho; b) criar-lhe expectativas ilusórias ou inalcançáveis; c) fragilizar-lhe em seu lado psicoemocional; d) afligir-lhe a confiança. O negociador que inicia uma rodada de negociação para ganhar sob qualquer circunstância geralmente consegue que só a parte oposta faça concessões interessantes, enquanto, de sua parte, inexiste reciprocidade. [...] Ao final, o resultado é único: só um lado sente que obteve ganhos reais; só um lado fica com a nítida percepção de dever cumprido; só um lado sente 11 satisfação pelo trabalho executado; pois só um lado alcançou seus interesses. Perde-Perde A negociação perde-perde é aquela em que os todos os lados que negociam buscam a vitória acima de tudo. Aqui os negociadores traçam objetivos injustos e nada equânimes, agem com inflexibilidade, não promovem concessões, afastam-se das trocas, evitam procurar saber o que a outra parte gostaria de obter, enfim, todos só pensam em si mesmos. Dada a implacável insensibilidade de uns para com os outros negociados, todos relutam em não abrirem mão de suas vontades de ganhar, ganhar e ganhar. Com isso, o resultado é óbvio: nenhuma das partes que negocia se sente satisfeita; todos percebem que não obtiveram êxito; pois ninguém alcançou seus objetivos. Autonegociação Também conhecida por negociação unilateral consiste em toda e qualquer negociação consigo mesmo, ou seja, pode ser traduzida num processo que envolve uma decisão tomada por uma só parte. A fim de ilustrar o que é uma autonegociação, podemos citar, por exemplo, o fato de uma pessoa definir as suas prioridades diárias, organizar a sua agenda ou tomar decisões sem o auxílio de qualquer outro agente. (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013) Dessas classificações, apenas a que trata da reciprocidade dos ganhos é possível encontrar ressonância nos autores Sperber (1982), Wanderley (1998), Martinelli e Ghisi (2006), Bazerman e Malhotra (2009), Weiss (2018), os quais apontam o processo ganha-ganha com maior ênfase em suas pesquisas, pois visa atender ambas as partes envolvidas. 1.4 Estilos de negociadores Pode-se afirmar que o estilo de um negociador compreende todas aquelas características estáveis de uma pessoa. Mudar de estilo é algo profundamente difícil e duvidoso. Na prática, o estilo de um negociador é tudo aquilo que o leva a atingir seus objetivos e superar barreiras (WANDERLEY, 1998). Mas como é necessário enquadrar tais estilos, para melhor entendê-los, pode-se classificá-los como: estilo catalisador; 12 estilo apoiador; estilo analítico; e estilo controlador. O Quadro 1.2 faz um resumo dessas características: Quadro 1.2 – Estilos de negociadores Apoiador Catalisador Analítico Controlador Informal- condescendente. Cordial, ponderado e paciente, agradável e moderado. Gosta de dar apoio às pessoas. É leal e de confiança. Quando desenvolvido pelo lado negativo, o apoiador é dissimulado, perde tempo e evita conflitos, agrada em demasia, o que diz muitas vezes não é o que realmente pensa, e tem dificuldades de dizer “não”. A principal necessidade deste estilo é a associação, pertencer e fazer parte do grupo. Dominante- Informal. Está mais voltado e atento para as outras pessoas e suas opiniões ou impactos que causam. Quando desenvolvido pelo lado positivo, é otimista, entusiasta, autoestimulante, persuasivo, emotivo e confiante. Quando desenvolvido pelo lado negativo, é superficial, exclusivista, impulsivo, difícil de crer e inconstante. A principal necessidade deste estilo é o reconhecimento e a necessidade com menor importância relativa à É Formal- Condescendente. Toma suas decisões com os elementos que tem dentro de si, sem buscar apoio em outras pessoas. Quando desenvolvido pelo lado positivo, é precioso, caprichoso, organizado, sério, cuidadoso, com elevados padrões e alta capacidade crítica. Quando desenvolvido pelo lado negativo, é detalhista, teimoso, maçante, evasivo, esconde o jogo e não revela as informações relevantes que possui. Sua principal necessidade é a realização e o É Dominante- Formal. Assume riscos calculados, dá mais importância aos resultados e controle. Quando desenvolvido positivamente, este estilo é direto, objetivo, rápido, enérgico, autoconfiante, exigente, eficiente, decidido e responsável. Quando desenvolvido pelo lado negativo, é intolerante, arrogante, prepotente, impaciente, insensível, adepto do “doa a quem doer”. Tem baixa competência interpessoal. Sua principal necessidade é a 13 segurança. reconhecimento. realização. Fonte: dados adaptados de Wanderley (1998, p.106-108). 1.5 Oportunidades e riscos de negociação Influenciar pessoas não é um processo simples, tampouco impossível. O bom influenciador não é aquele que faz ajustes às suas propostas, mas aquele que consegue fechar a negociação sem ter que ajustá-las em nada (BAZERMAN; MALHOTRA, 2009). Dessa forma, o processo de defesa de uma negociação deve mirar as possíveis oportunidades de suprir uma demanda ou cobrir um possível risco. Assim ficarão claras para o negociador oponente as oportunidades e os riscos, se porventura a negociação se efetive ou não. Os autores Bazerman e Malhotra (2009, p.206-223) elencam oito estratégias para identificar oportunidades e responder ao risco de ter um resultado negativo em uma negociação. Elas foram colocadas no Quadro 1.3 de forma resumida. Quadro 1.3 – Estratégias para identificar oportunidades e responder ao risco 1º Enfatize as perdas potenciais da outra parte em vez dos ganhos potenciais. As pessoas estão mais propensas em “evitar perdas do que somar ganhos”. Isso significa que os tomadores de decisão irão optar por atitudes que as evitem. 2º Desagregue os ganhos e agregue as perdas. Se existe a possibilidade de fazer concessões, não as faça todas de uma vez. Se você tem boas notícias, tente dividir a informação em partes menores que darão a outra parte mais chances para sorrir. 3º Aplique a técnica da “Porta na Cara”. O negociador faz uma proposta exorbitante a um negociador oponente, e devido a sua negativa, logo na sequência faz outra proposta, menos contundente, mas que se tivesse feito logo no início 14 teria sido rechaçada. Dessa forma, o negociador oponente sente que houve uma concessão por parte do negociador e a taxa de aceitação do acordo aumenta. 4º Aplique a técnica “Pé na Porta”. Nessa situação, o negociador conhece a intenção do negociador oponente, mas faz questão de apresentar uma solução extrema, como: um cliente que entra para comprar um carro popular, e o vendedor lhe mostra um de luxo primeiro, e assim que essa opção foi rechaçada, o vendedor mostra o carro popular e até sugere um teste drive. Dessa maneira, o comprador se sentirá comprometido com a opção e a possibilidade de que compre o carro popular aumenta. 5º Alavanque a força da Justificativa. Em uma negociação, não deixe que sua oferta “fale por si”; forneça uma justificativa para a sua exigência, e depois, conte uma história que legitime a sua justificativa. 6º Alavanque o poder da Prova Social. Uma roteirista de comerciais veiculados pela TV, como os da Polishop, testou duas frases: a) Os operadores estão aguardando, por favor, ligue agora; b) Se os operadores estiverem ocupados, por favor, tente novamente. Após a veiculação da frase “b” os números de ligações subiram muito. Isso ocorre porque na frase “a” fica a impressão de que os operadores estão lá parados, pois ninguém liga. Já na “b” é o contrário, muitos estão ligando, porque você ainda não ligou? Esse fenômeno é descrito pelos psicólogoscomo o poder da prova social. Isso porque sempre que existe ambiguidade ou incerteza olhamos para o comportamento de 15 pessoas semelhantes para obter orientação. 7º Faça concessões unilaterais simbólicas. Pesquisas sobre confiança e reciprocidade sugerem que as pessoas que recebem presentes e concessões costumam ser insensíveis (não ligam), quanto ao grau de custo incorrido pelo cedente (por quem comprou o presente); desse modo, mesmo uma concessão de baixo custo (ou seja, algo “simbólico”) pode ser o suficiente para induzir a reciprocidade, a submissão ou a concordância. Por exemplo, se tiver que fazer uma reunião, concorde em marcá-la no horário e local que for mais conveniente para a outra pessoa. Dessa forma, ficará evidente que já houve uma concessão da sua parte e a probabilidade de que o outro se sentirá compelido a retribuir de forma substancial, será maior. 8º Use pontos de referência para que suas ofertas e exigências pareçam mais razoáveis. Ao efetuar a compra de um carro no valor de 30 mil reais, se o vendedor lhe oferecer tapetes por 100 reais e uma proteção para a pintura por 200 reais, provavelmente você irá aceitar, pois de imediato tais valores lhe parecerão baixos. Porém, se um vendedor de tapete para o carro aparecer na porta da sua casa, vendendo-o pelo mesmo valor, provavelmente você baterá a porta na cara dele. Em outras palavras, mesmo quando o valor do negócio é idêntico, os negociadores tendem a achá- lo mais ou menos atraente dependendo de como ele é apresentado, com o que é comparado e quanto de pechincha ele representa. Fonte: dados adaptados de Bazerman e Malhotra (2009, p. 206-223). 16 Conclusão Num processo de negociação sempre haverá: o negociador, o negociador oponente e o objetivo que se deseja alcançar. Neste material, essas três variáveis juntas são denominadas como a “Tríade do processo de negociação”, para que seja possível avaliar a negociação a partir do ponto de vista do negociador, de seu oponente e dos objetivos que cada lado possui. Além disso, é preciso conhecer as fases de uma negociação, as características da maioria dos negociadores, os modelos de negociação e o processo de identificação de oportunidades num processo de negociação. REFERÊNCIAS BAZERMANN, Max H.; MALHOTRA, Deepak. O gênio da negociação: as melhores estratégias para superar os obstáculos e alcançar excelentes resultados. Tradução de Natalie Gerhardt. Rio de Janeiro: Rocco, 2009. MARTINELLI, Dante Pinheiro; GHISI, Flávia Angeli (org.). Negociação: aplicações práticas de uma abordagem sistêmica. São Paulo: Saraiva, 2006. PORTAL EDUCAÇÃO. Tipos de negociação. Portal Educação, 2 maio 2013. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/tipos-de- negociacao/47052>. Acesso em: 27 maio 2019. SPERBER, Philip. A ciência das negociações. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1982. WANDERLEY, José Augusto. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. 24. ed. São Paulo: Gente, 1998. WEISS, Jeff. Negociações eficazes: tome a iniciativa; gerencie conflitos; chegue ao sim. Tradução Roberto Grey. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/tipos-de-negociacao/47052 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/tipos-de-negociacao/47052 17 2 COMO FAZER UMA NEGOCIAÇÃO Já foi dito no bloco anterior que há consenso, entre os autores de referência, em apenas um quesito da negociação: o processo de planejamento. O que será apresentado agora é como desenvolver esse planejamento, levando-se em conta os pormenores desse processo, sem perder o foco nos modelos, nos estilos dos negociadores, nas oportunidades, e na “Tríade” sugerida. 2.1 Planejamento da negociação Alguns fatores estratégicos no preparo do planejamento das negociações devem ser levados em consideração. Para ilustrar melhor esse processo, Sperber (1982, p. 17-28) enumera quatro situações que não podem ser deixadas de lado, como: I. “Os motivos do sucesso nas negociações”: nessa parte, todo negociador deve ter consciência de “cinco fatores fundamentais dos acordos proveitosos”: a. Atenda as necessidades psicológicas do oponente ou de seu representante. b. Apresente soluções para a resolução dos problemas do seu oponente, de forma que isso gere empatia e concessões a você. c. Se o oponente apresentar outras soluções, que você ache absurdas, “procure fazê-lo acreditar que esse objetivo ou solução prevaleceram, mesmo que tal não tenha acontecido, de modo que você consiga as concessões desejadas”. d. Apresente por meio de argumentação um determinado problema, caso seu acordo não seja aceito. Deixe o oponente acreditar que só conseguirá uma resolução por meio do acordo que está sendo alinhavado por você. e. Lembre-se sempre de que só se chegará a um acordo, quando uma das partes fizer uma concessão final, após se convencer ou ser convencida 18 de que a outra parte não fará mais nenhuma concessão. Leve a outra parte a acreditar que você não fará mais concessão alguma. II. “Conceitos mal compreendidos e mal aplicados com relação ao sucesso nas negociações”: geralmente, no mundo dos negócios, os acordos são divididos em dois lados “nós” e “eles”. Isso é aceito tanto nas indústrias como no meio militar. Porém, Sperber (1982, p.20) argumenta que o “comportamento cooperativista” desde o início das conversações tende a gerar confiança e a estabelecer um relacionamento benéfico, a ambas às partes, enquanto se for demonstrado um comportamento competitivo, tenderá a provocar suspeitas mútuas e oposição. Sperber (1982, p.21) conclui seu raciocínio afirmando que “o seu comportamento incentivará o comportamento desejado e a atitude propícia na outra pessoa”. III. “Compreensão dos motivos comerciais que levam à negociação”: de antemão os negociadores já precisam saber por que se sentaram numa mesa para negociar. O objetivo já deve estar claro. Porém, o que se determina como objetivo podemos chamar de solução ideal. Por ser “ideal”, nem sempre é possível atingi-lo. Dessa forma, o negociador que está tentando vender um projeto deve estar munido de todas as ferramentas e opções que possam persuadir o negociador oponente, imaginando até soluções improváveis, com o intuito de não sair da mesa de negociação sem um acordo firmado. IV. “A pesquisa da outra parte”: Primeiro: conheça a empresa e os negociadores oponentes, antes de se sentar a uma mesa para negociar. Isso lhe dará subsídios como: histórico passado dos acordos firmados por essa empresa e as características do negociador oponente. Segundo: pesquise o material impresso dessa empresa, o que lhe dará uma pista a respeito da linha de produtos, e até mesmo de sua situação financeira – caso seja uma empresa de capital aberto, você terá acesso ao seu balanço comercial, pois essa empresa é obrigada a publicá-lo em jornais. 19 2.2 Etapas da negociação Basicamente, temos quatro etapas no processo de negociação, que são: o planejamento que alguns autores determinam como “fase de preparação”; a abertura propriamente dita do processo, onde ocorre a troca de informações de ambas as partes; a negociação; e o encerramento dessa negociação. Os autores Sperber (1982), Wanderley (1998), Martinelli e Ghisi (2006), Bazerman e Malhotra (2009), e Weiss (2018) podem divergir em termos de títulos dessas fases, mas basicamente os pontos defendidos por todos são os mesmos. Wanderley (1998, p.31) apresenta um “Modelo Integrado de Negociação – MIN”, o qual é bem interessante e elucida melhor o processo: 1º Cenário 2º Cenário 3º Cenário Fonte: adaptado de Wanderley (1998, p.31). Segundo o autor, a primeiraárea corresponde à “Realidade pessoal dos negociadores” que se encontra dentro do primeiro cenário, onde esse negociador manifesta seu comportamento, suas necessidades internas e externas, expectativas e crenças, e o seu desejo de obter sucesso na negociação. Relacionamento Interpessoal Processo de Negociação Realidade pessoal dos Negociadores Conhecimento do Negócio/Assunto Os Cenários das Negociações 1º, 2º 3º. 20 A segunda área corresponde aos “Cenários da negociação”, que são três: onde o primeiro corresponde às pessoas que estão envolvidas na negociação; o segundo aos personagens que estão nos bastidores; e o terceiro se refere às variáveis sociais e macroeconômicas. Em situações onde as negociações ocorram em âmbito internacional, o autor sugere que se adicionem aspectos referentes à cultura do país, para serem pesquisados de antemão. A terceira área, denominada de “Conhecimento do negócio ou do assunto”, nada mais é que saber exatamente tudo sobre o objetivo da negociação. Sem isso, não é possível definir o que é um bom ou mau acordo. A quarta área compreende o “Relacionamento Interpessoal”: ter um bom relacionamento com o negociador oponente garantirá que conflitos futuros não surjam, principalmente se essa negociação demandar diversos encontros. Na quinta área está o “Processo de Negociação” propriamente dito. É uma forma de imaginar o caminho que será percorrido até o final do processo. Pode-se elencar variáveis possíveis de ocorrerem e já se imaginar soluções a elas que gerem benefícios a ambos os envolvidos, evitando a estagnação e não fechamento do acordo. 2.3 Vencendo objeções nas negociações “Ao dar início ao processo de preparação, é possível que você já tenha feito uma série de suposições sobre o desenrolar da negociação, muitas de caráter negativo” (WEISS, 2018, p. 33). Pode haver a desconfiança da sua parte, de que a outra parte só aceite uma opção, ou que será um processo muito difícil essa negociação. Esse tipo de postura é perigoso e pode tolher sua criatividade. Por conta disso, o negociador deverá prestar atenção nas suposições que faz. As “pressuposições negativas habituais se enquadram em duas categorias: julgamentos prematuros sobre a outra parte e suposições relativas à negociação de modo mais geral”. No decorrer de sua preparação, faça uma recapitulação de processos passados e suas suposições que se confirmaram erradas. Por aí já dá para ter uma ideia do que é real e do que é pura ficção. 21 Mude de posição. Não é errado mudar de posição; errado é permanecer nela, mesmo quando os fatos lhe dizem o contrário. Aproveite que já elencou suas suposições a respeito dessa negociação, e teste a possibilidade de muitas delas serem apenas julgamento de sua parte. Mesmo porque dificilmente o negociador terá acesso a informações que o restante desconheça, ou seja, é pouco provável que algo que deprecie uma empresa ou instituição já não seja de conhecimento público. Se não é de conhecimento público, pode não haver nada que macule a imagem dessa instituição e que possa ser usado contra ela num processo crítico de negociação. “Procure surpreender a si mesmo”. No decorrer das negociações, busque fatos que ponham por terra suas suposições a respeito do negociador oponente. Isso pode lhe tirar a imagem de inflexível. Também passará a imagem de que as razões do negociador oponente estão sendo levadas em consideração. Sobre o comportamento do negociador, Weiss (2018, p. 38) afirma que as mudanças de suposições podem de fato ajudá-lo, mas que ainda assim o negociador pode se deparar com a confirmação de algumas delas, e ter que lidar de forma positiva ou favorável com essas suposições que se tornaram fato, sem perder o foco de seu objetivo. Veja o Quadro 2.1, desenvolvido por Weiss (1998, p.38), para exemplificar algumas suposições que foram feitas e constatadas, e qual deveria ser a abordagem adotada. Quadro 2.1 ‒ Mudando suas suposições sobre a negociação Limitante Favorável Temos interesses opostos, portanto, nenhum de nós conseguirá obter o que quer. Apesar de haver conflito entre alguns interesses, há outros em comum ou apenas um pouco diferentes. Essas negociações são sempre litigiosas. Não há outra maneira de lidar com elas a não ser barganhando, e finalmente, cedendo. Há muitas maneiras de negociar, e com um pouco de disciplina, posso abrir caminho para uma negociação mais cooperativa. A outra parte toma decisões ruins. Como todo mundo, a outra parte 22 defenderá o que acredita ser seu maior interesse. Eu deveria me comportar tão mal quanto ele. Eu deveria colocar em prática aquilo que nos faz avançar no caminho certo, a despeito de como a outra parte se comporta. Não temos escolha a não ser concordar com essa solução. Há sempre outras opções, e nada é definitivo até que eu concorde com a proposta. É impossível lidar com essa gente. Por meio da abordagem e das ferramentas certas, é possível entender quais são as motivações da outra parte e construir um acordo que funcione. Fonte: Weiss (2018, p. 38). Por mais que seja necessário rever as nossas suposições sobre o negociador oponente, é fato que algumas delas irão ser verdadeiras, pois corroboram com alguma atitude do passado já experimentado por você ou outro negociador, quando fizeram negócio com essa empresa ou negociador. 2.4 Linguagem verbal e não verbal nas negociações Podemos definir linguagem verbal como aquele processo que gera um fato, como a escrita e a fala. Sabemos exatamente o que está sendo dito, pois podemos ler e escutar. Já a linguagem não verbal pode estar implícita no tom dessa fala e também nos gestos do interlocutor que a transmite. Nesse caso, é bom estudar alguns conceitos interessantes, como: a paralinguagem (que resumidamente está associada ao tom de voz, a altura com que se fala uma frase, aos sussurros e suspiros no meio de uma explanação etc.), os gestos, as posturas, as expressões faciais, e os movimentos dos olhos etc. para poder decifrar a linguagem não verbal. São justamente esses atos que delatam um mentiroso, ou alguém que esteja sendo dissimulado. Esse assunto também será abordado no bloco que trata da gestão de conflitos. De acordo com Portella (2004): 23 A porcentagem de comunicação não verbal na transmissão de qualquer mensagem é muito elevada. Os elementos não verbais da comunicação social são responsáveis por aproximadamente 65% do total das mensagens enviadas e recebidas. Assim, apenas 35% do significado de uma conversa corresponderiam às palavras pronunciadas, sendo que 65% das mensagens seriam comunicados por meio não verbal. Logo, o negociador que não sabe decodificar mensagens não verbais está perdendo 65% do que é comunicado; sendo assim, este além de perder grande parte da comunicação, deixa de aproveitar oportunidades importantes para fazer bons negócios, bem como facilitar esse processo complexo. Em contrapartida, o negociador que sabe decodificar mensagens não verbais pode negociar de forma mais eficaz, bem como empregar tais estratégias para facilitar o processo de negociação. Como se pode notar na pesquisa apresentada por Portella (2004), apenas 35% do que se fala é absorvido pelo ouvinte, e talvez o que o negociador queira de fato está implícito naqueles 65% restantes que o negociador oponente não se deu conta. É justamente aí – segundo o ditado popular – “onde mora o perigo”. É como se assinasse um contrato e não se lesse antes. O risco é enorme! 2.5 Dicas para a negociação eficaz Segundo Weiss (2018, p.31) aponta, antes de entrar numa sala de negociação, é preciso preparo: “o melhor negociador é aquele que está bem preparado”. Essa preparação tem de ser feita com antecedência. Weiss (2018) ainda dá algumas dicas importantes: Questionesuas suposições sobre a negociação a ser feita; Descubra o que você deseja de fato nessa negociação e por quê – e o que a outra parte deseja e a razão; Estimule a sua própria criatividade em relação às suas opções; Pense em parâmetros objetivos para aplicar a essas opções; Avalie qual é sua melhor alternativa (e a da outra parte); Planeje como será sua comunicação com a outra parte; 24 Construa uma base bem-sucedida para sua negociação, aproximando-se com antecedência dos desejos da outra parte. Atentar-se a essas dicas lhe trará vantagem numa mesa de negociação, e possibilitará controlar o processo e delinear seu desfecho. Conclusão Neste bloco, estudamos os fatores estratégicos no preparo do planejamento das negociações e suas nuances. Estudamos as quatro etapas no processo de negociação, que são: o planejamento que alguns autores determinam como “fase de preparação”; a abertura propriamente dita do processo, onde ocorre a troca de informações de ambas as partes; a negociação; e o encerramento dessa negociação. Descobrimos que as nossas suposições podem ser uma barreira no processo de negociação, pois estão repletas de julgamentos, além de analisarmos algumas questões sobre a linguagem verbal e não verbal implícita num processo de negociação. REFERÊNCIAS BAZERMANN, Max H.; MALHOTRA, Deepak. O gênio da negociação: as melhores estratégias para superar os obstáculos e alcançar excelentes resultados. Tradução de Natalie Gerhardt. Rio de Janeiro: Rocco, 2009. MARTINELLI, Dante Pinheiro; GHISI, Flávia Angeli (org.). Negociação: aplicações práticas de uma abordagem sistêmica. São Paulo: Saraiva, 2006. PORTELLA, Mônica. Decifrando a comunicação não verbal. Instituto MVC Soluções em Educação Corporativa. São Paulo, 2 jun. 2004. Disponível em <http://www.institutomvc.com.br/artigos/post/decifrando-a-comunicacao-nao- verbal>. Acesso em: 7 jun.2019. SPERBER, Philip. A ciência das negociações. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1982. http://www.institutomvc.com.br/artigos/post/decifrando-a-comunicacao-nao-verbal http://www.institutomvc.com.br/artigos/post/decifrando-a-comunicacao-nao-verbal 25 WANDERLEY, José Augusto. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. 24. ed. São Paulo: Gente, 1998. WEISS, Jeff. Negociações eficazes: tome a iniciativa; gerencie conflitos; chegue ao sim. Tradução Roberto Grey. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. 26 3 APLICAÇÕES DA NEGOCIAÇÃO Neste bloco, iremos estudar as aplicações das negociações no âmbito das empresas familiares, e constatar o que Bazerman e Malhotra (2009) afirma ser um processo muito delicado, pois envolve questões além daquilo que está sendo negociado. Além disso, será abordado o processo de negociação de compra e venda; em uma relação entre o superior e seu funcionário; e também entre o funcionário e o empregador, e o que as novas regras da lei trabalhista mudaram nesse contexto. Por último, abordaremos as negociações em âmbito internacional. 3.1 Negociações em empresas familiares O processo de negociação não é simples entre duas pessoas, que por vezes não concordam com um determinado assunto. Imagine se essas pessoas forem da mesma família e gestores de uma empresa, e tiverem que decidir algo que venha a afetar uma terceira parte que também é parente. É bem provável que isso cause um estremecimento nas relações, e se não for gerido de maneira adequada, pode levar até a falência. Quando se imagina uma negociação ideal, pensa-se naquela situação em que os negociadores irão sentar juntos em uma mesa de negociação, expor suas propostas e chegar ao melhor acordo, que atenda ambas as partes. Numa empresa familiar, isso não ocorre, pois quando dois irmãos, ou primos, ou pai e filho sentam para negociar algum acordo, sempre surgem questões mal resolvidas do passado à mesa. Ou porque um não cedeu em determinado momento, em detrimento do outro e agora espera a reciprocidade, ou, em casos mais graves, por conta de brigas que ocorreram e que agora, no momento em que uma parte precisa ceder, ela não o faz. As disputas nessas organizações se dão porque quase sempre o diretor de um determinado departamento é um ente da família, e muitas vezes, não tem capacidades técnicas para exercer essa função, o que pode gerar discussões intermináveis. Uma solução para esse ponto é a profissionalização da gestão da 27 empresa, exigir conhecimento técnico para assumir determinado cargo. Caso não seja possível suprir essa demanda com um dos familiares, o dono deve contratar um profissional de mercado para assumir a função. Tudo isso pode parecer muito negativo, mas também tem o lado bom nessa história. Em momentos de disputa entre familiares, é sempre bom buscar um moderador em quem ambos confiam, para expor a situação. Por vezes, os resultados são muito bons, porque há de fato uma preocupação entre os envolvidos. Afinal, são familiares. 3.1.1 A sucessão nas empresas familiares Muitas vezes, os filhos ou netos não são treinados para assumirem a gestão de uma empresa e por isso não conseguem negociar com os fornecedores, por não haver nenhum traquejo para tal. Essa deficiência se torna mais visível num momento de sucessão, em que o patriarca deixa a organização e quem assume é a próxima geração. Nesses casos, os processos de negociação podem ser prejudicados sobremaneira, visto que os novos negociadores não conhecem direito como ocorrem as negociações. Para sanar essa deficiência, é bom que os patriarcas da família, ou a geração que está no poder atualmente, prepare seus sucessores, para que no futuro possam assumir a empresa. Essa preparação pode ser técnica, estimulando a busca de conhecimento, ou até mesmo fazendo com que seus sucessores trabalhem na empresa e passem por diversas funções para entenderem o processo. 3.2 Negociação de compra e venda de imóvel ou empresas Imagine um processo de venda de um imóvel ou de uma empresa. O atual proprietário e vendedor pode ter uma relação sentimental com o bem, pois pode ser o resultado de um investimento de anos, ou a família toda pode ter morado ou trabalhado lá. Então, como primeira sugestão, não entre nesse processo com a mentalidade de que se alguém ganha, o outro terá que perder. Uma maneira de se desligar dessa predisposição ao lema “ganhar ou perder” é usar a racionalidade. Faça uma avaliação independente do imóvel ou da empresa, e compare 28 com o preço que está sendo pedido. Essa é uma maneira de ainda assim conseguir ser sensível ao que está sendo pedido como valor, mas sem nunca perder o foco de se fazer um bom negócio. Ao entrar nesse processo de negociação, é sempre bom ter conhecimento de seus traços de personalidade, pois com certeza irão aparecer. Se o comprador ou vendedor não possuem muita paciência, será preciso trabalhar nisso, ou a negociação poderá ser inviabilizada. Ambas as partes possuem um ponto crítico, e têm pleno domínio sobre ele. Porém, esses pontos são cegos entre os dois, ou seja, dificilmente um contará para o outro. Mas se uma das partes reconhecer o ponto crítico um do outro, talvez a negociação fique mais fácil, como por exemplo, o vendedor só fará negócio com o comprador se parte do pagamento for à vista, pois precisa pagar algumas dívidas. Por outro lado, o comprador não tem intenção de fazer um pagamento à vista se não tiver um desconto substancial. Veja que não são pontos críticos tão distantes de uma solução, quanto parece. Mas ainda possuem um ponto cego: qual é o valor mínimo para a venda? E qual é o valor máximo que o comprador pagará? Para responder a esses dois questionamentos, é preciso ter em mente que num processo de compra e venda de uma empresa, por exemplo, não é só o valor que pode impactar a operação.Essa empresa possui maquinários/ativos, têm produtos registrados/patenteados, que precisam ser licenciados, talvez o imóvel seja alugado, ou seja, esse contrato entre as partes negociadoras poderá conter diversas cláusulas que também deverão ser negociadas por seus advogados. Os advogados envolvidos no processo não irão negociar o seu acordo de compra e venda, irão apenas resguardar legalmente que ele não seja um acordo ruim para uma das partes. 3.3 Negociação com superiores – “chefes” De acordo com Abrantes (2011), o grande problema em se negociar com superiores/ “chefes” é que o processo é por vezes procrastinado por anos, até que o funcionário não aguenta mais e está em seu limite, e quando o faz não se lembra dos motivos reais 29 de estar assim tão desgastado. A primeira dica é que se tenha bom senso. Ter senso crítico é um diferencial bom, mas tem limites. Seja flexível ao sentar para negociar com seu supervisor ou chefe, tenha bem claro quais são seus objetivos. Busque convergência, ou seja, um ponto comum a ambos que possa ser vantajoso. Isso significa dizer que: sabendo qual é a lógica do supervisor ou chefe, tente se aproximar dela. Para ser mais específico: seu supervisor ou chefe está afirmando que precisa de você no comando do seu antigo projeto visto que seu desempenho era excelente, e é exatamente isso que você não quer, por questões de desgaste. Mostre a ele que o bom desempenho que obteve no projeto anterior será replicado nesse novo projeto e que trará melhores resultados para a empresa. Além disso, Abrantes (2011) aponta que o negociador precisa ser “humilde” e não menosprezar a situação e a pessoa do supervisor ou chefe. A flexibilidade exigida para essa situação é válida na medida em que há argumentação entre as partes. Os supervisores ou chefes da atualidade não esperam encontrar um funcionário que diz amém a tudo. Eles querem pessoas que se envolvam de fato com o trabalho e com o desenvolvimento da empresa. 3.4 Negociações com funcionários Após a aprovação da reforma trabalhista em 2017, este tópico sobre “negociação entre patrão e funcionário” veio à tona com mais força. Até então, o empregado se candidatava a uma vaga e se submetia ao processo seletivo. Caso seu perfil fosse aprovado, era contratado, registrado, e tinha por lei, diversos direitos garantidos. Com a aprovação da reforma, muitos fatores poderão ser negociados entre as partes. Segundo Fagundez (2017), o que passará a valer agora será a negociação entre as partes envolvidas, desde que o funcionário ganhe acima de 11 mil reais. De acordo com o autor, essa prerrogativa não se aplica a quem receberá salários inferiores a esse teto, ficando a cargo do sindicato a negociação de valores para a categoria. Nessas condições, o funcionário terá que ter pleno conhecimento de sua capacidade para manter-se empregado. Por vezes, terá que atuar como pessoa jurídica, como por exemplo, Microempreendedor Individual (MEI), abrindo empresa para prestar serviço. 30 Para tal, precisará saber vender de forma atraente o que sabe, o que domina, ou seja, seu conhecimento. Segundo Cavallini (2017), os pontos que irão mudar na lei são estes descritos no Quadro 3.1: Quadro 3.1 – As novas regras da lei trabalhista Regra Atual Nova Regra Férias As férias de 30 dias podem ser fracionadas em até dois períodos, sendo que um deles não pode ser inferior a 10 dias. Há possibilidade de 1/3 de o período ser pago em forma de abono. As férias poderão ser fracionadas em até três períodos, mediante negociação, contanto que um dos períodos seja de pelo menos 15 dias corridos. Jornada A jornada é limitada a 8 horas diárias, 44 horas semanais e 220 horas mensais, podendo haver até 2 horas extras por dia. A jornada diária poderá ser de 12 horas com 36 horas de descanso, respeitando o limite de 44 horas semanais (ou 48 horas, com as horas extras) e 220 horas mensais. Tempo na empresa A CLT considera serviço efetivo o período em que o empregado está à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens. Não são consideradas dentro da jornada de trabalho as atividades no âmbito da empresa como descanso, estudo, alimentação, interação entre colegas, higiene pessoal e troca de uniforme. Descanso O trabalhador que exerce a jornada padrão de 8 horas diárias tem direito a no mínimo uma hora e a no máximo duas horas O intervalo dentro da jornada de trabalho poderá ser negociado, desde que tenha pelo menos 30 minutos. Além http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 31 de intervalo para repouso ou alimentação. disso, se o empregador não conceder intervalo mínimo para almoço ou concedê-lo parcialmente, a indenização será de 50% do valor da hora normal de trabalho apenas sobre o tempo não concedido em vez de todo o tempo de intervalo devido. Remuneração A remuneração por produtividade não pode ser inferior à diária correspondente ao piso da categoria ou salário mínimo. Comissões, gratificações, percentagens, gorjetas e prêmios integram os salários. O pagamento do piso ou salário mínimo não será obrigatório na remuneração por produção. Além disso, trabalhadores e empresas poderão negociar todas as formas de remuneração, que não precisam fazer parte do salário. Plano de cargos e salários O plano de cargos e salários precisa ser homologado no Ministério do Trabalho e constar do contrato de trabalho. O plano de carreira poderá ser negociado entre patrões e trabalhadores sem necessidade de homologação nem registro em contrato, podendo ser mudado constantemente. Transporte O tempo de deslocamento no transporte oferecido pela empresa para ir e vir do trabalho, cuja localidade é de difícil acesso ou não servida de transporte público é contabilizado como jornada de trabalho. O tempo despendido até o local de trabalho e o retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de trabalho. Trabalho A legislação atual não contempla O trabalhador poderá ser pago 32 intermitente (por período) essa modalidade de trabalho. por período trabalhado, recebendo pelas horas ou diárias. Ele terá direito a férias, FGTS, previdência e 13º salário proporcionais. No contrato, deverá estar estabelecido o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao valor do salário mínimo por hora ou à remuneração dos demais empregados que exerçam a mesma função. O empregado deverá ser convocado com, no mínimo, três dias corridos de antecedência. No período de inatividade, pode prestar serviços a outros contratantes. Trabalho remoto (home office) A legislação não contempla essa modalidade de trabalho. Tudo o que o trabalhador usar em casa será formalizado com o patrão via contrato, como equipamentos e gastos com energia e internet, e o controle do trabalho será feito por tarefa. Trabalho parcial A CLT prevê jornada máxima de 25 horas por semana, sendo proibidas as horas extras. O trabalhador tem direito a férias proporcionais de no máximo 18 dias e não pode vender dias de A duração pode ser de até 30 horas semanais, sem possibilidade de horas extras semanais, ou de 26 horas semanais ou menos, com até 6 horas extras, pagas com http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 33 férias. acréscimo de 50%. Um terço do período de férias pode ser pago em dinheiro. Negociação Convenções e acordos coletivos podem estabelecer condições de trabalho diferentes das previstas na legislação apenas se conferirem ao trabalhador um patamar superior ao que estiver previsto na lei. Convenções e acordoscoletivos poderão prevalecer sobre a legislação. Assim, os sindicatos e as empresas podem negociar condições de trabalho diferentes das previstas em lei, mas não necessariamente num patamar melhor para os trabalhadores. Em negociações sobre redução de salários ou de jornada, deverá haver cláusula prevendo a proteção dos empregados contra demissão durante o prazo de vigência do acordo. Esses acordos não precisarão prever contrapartidas para um item negociado. Acordos individualizados de livre negociação para empregados com instrução de nível superior e salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do INSS (R$ 5.531,31) prevalecerão sobre o coletivo. Prazo de validade das As cláusulas dos acordos e convenções coletivas de trabalho O que for negociado não precisará ser incorporado ao 34 normas coletivas integram os contratos individuais de trabalho e só podem ser modificados ou suprimidos por novas negociações coletivas. Passado o período de vigência, permanecem valendo até que sejam feitos novos acordos ou convenções coletivas. contrato de trabalho. Os sindicatos e as empresas poderão dispor livremente sobre os prazos de validade dos acordos e convenções coletivas, bem como sobre a manutenção ou não dos direitos ali previstos quando expirados os períodos de vigência. Em caso de expiração da validade, novas negociações terão de ser feitas. Representação A Constituição assegura a eleição de um representante dos trabalhadores nas empresas com mais de 200 empregados, mas não há regulamentação sobre isso. Esse delegado sindical tem todos os direitos de um trabalhador comum e estabilidade de dois anos. Os trabalhadores poderão escolher 3 funcionários que os representarão em empresas com no mínimo 200 funcionários na negociação com os patrões. Os representantes não precisam ser sindicalizados. Os sindicatos continuarão atuando apenas nos acordos e nas convenções coletivas. Demissão Quando o trabalhador pede demissão ou é demitido por justa causa, ele não tem direito à multa de 40% sobre o saldo do FGTS nem à retirada do fundo. Em relação ao aviso prévio, a empresa pode avisar o trabalhador sobre a demissão com 30 dias de antecedência ou pagar o salário referente ao mês O contrato de trabalho poderá ser extinto de comum acordo, com pagamento de metade do aviso prévio e metade da multa de 40% sobre o saldo do FGTS. O empregado poderá ainda movimentar até 80% do valor depositado pela empresa na conta do FGTS, mas não terá direito ao seguro-desemprego. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 35 sem que o funcionário precise trabalhar. Danos Morais Os juízes estipulam o valor em ações envolvendo danos morais. A proposta impõe limitações ao valor a ser pleiteado pelo trabalhador, estabelecendo um teto para alguns pedidos de indenização. Ofensas graves cometidas por empregadores devem ser de no máximo 50 vezes o último salário contratual do ofendido. Contribuição Sindical A contribuição é obrigatória. O pagamento é feito uma vez ao ano, por meio do desconto equivalente a um dia de salário do trabalhador. A contribuição sindical será opcional. Terceirização O presidente Michel Temer sancionou o projeto de lei que permite a terceirização para atividades-fim. Haverá uma quarentena de 18 meses que impede que a empresa demita o trabalhador efetivo para recontratá-lo como terceirizado. O texto prevê ainda que o terceirizado deverá ter as mesmas condições de trabalho dos efetivos, como atendimento em ambulatório, alimentação, segurança, transporte, capacitação e qualidade de equipamentos. Gravidez Mulheres grávidas ou lactantes estão proibidas de trabalhar em lugares com condições insalubres. É permitido o trabalho de mulheres grávidas em ambientes considerados 36 Não há limite de tempo para avisar a empresa sobre a gravidez. insalubres, desde que a empresa apresente atestado médico que garanta que não há risco ao bebê nem à mãe. Mulheres demitidas têm até 30 dias para informar a empresa sobre a gravidez. Banco de Horas O excesso de horas em um dia de trabalho pode ser compensado em outro dia, desde que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas. Há também um limite de 10 horas diárias. O banco de horas pode ser pactuado por acordo individual escrito, desde que a compensação se realize no mesmo mês. Rescisão Contratual A homologação da rescisão contratual deve ser feita em sindicatos. A homologação da rescisão do contrato de trabalho pode ser feita na empresa, na presença dos advogados do empregador e do funcionário – que pode ter assistência do sindicato. Ações na Justiça O trabalhador pode faltar até três audiências judiciais. Os honorários referentes a perícias são pagos pela União. Além disso, quem entra com ação não tem nenhum custo. O trabalhador será obrigado a comparecer às audiências na Justiça do Trabalho, e caso perca a ação, arcará com o custo do processo. Para os chamados honorários de sucumbência, devidos aos advogados da parte vencedora, quem perder a causa terá de pagar entre 5% e 15% do valor 37 da sentença. O trabalhador que tiver acesso à Justiça gratuita também estará sujeito ao pagamento de honorários de perícias se tiver obtido créditos em outros processos capazes de suportar a despesa. Caso contrário, a União arcará com os custos. Da mesma forma, terá de pagar os honorários da parte vencedora em caso de perda da ação. Além disso, o advogado terá que definir exatamente o que ele está pedindo, ou seja, o valor da causa na ação. Haverá ainda punições para quem agir com má-fé, com multa de 1% a 10% da causa, além de indenização para a parte contrária. É considerada de má-fé a pessoa que alterar a verdade dos fatos, usar o processo para objetivo ilegal, gerar resistência injustificada ao andamento do processo, entre outros. Caso o empregado assine a rescisão contratual, fica impedido de questioná-la posteriormente na Justiça 38 trabalhista. Além disso, fica limitado a oito anos o prazo para andamento das ações. Se até lá a ação não tiver sido julgada ou concluída, o processo será extinto. Multa A empresa está sujeita à multa de um salário mínimo regional, por empregado não registrado, acrescido de igual valor em cada reincidência. A multa para empregador que mantém empregado não registrado é de R$ 3.000,00 por empregado, que cai para R$ 800,00 para microempresas ou empresa de pequeno porte. Fonte: Cavallini (2017). As regras que devem ser levadas em conta num processo de negociação entre funcionários e patrões são as apresentadas acima. Conhecendo-as a fundo, será mais fácil chegar a um acordo. A despeito das opiniões contra ou a favor da lei de “flexibilização” nas regras trabalhistas, o mercado ainda não conseguiu de fato notar o efeito prático dessa medida, visto que desde a época de sua publicação o país está num processo de crise, em que o que cresce é o desemprego. 3.5 Negociações Internacionais As negociações internacionais das quais o Brasil faz parte são: ALADI (Associação Latino-Americana de Integração); MERCOSUL (Mercado Comum do Sul); Negociações Internacionais de Serviços; Negociações Internacionais de Investimentos; Negociações Internacionais de Compras Governamentais; Barreiras Comerciais; OMC (Organização Mundial do Comércio); SGP (Sistema Geral de Preferência); e o SGPC (Sistema Global de Preferência Comercial). Todas essasnegociações das quais o Brasil faz parte, ou foram firmadas por acordos bilaterais entre o Brasil e mais um país, ou foram firmadas em grupo. As regras básicas para todos os acordos firmados no âmbito internacional são determinadas pela OMC, a qual visa a um comércio justo e transparente entre os países envolvidos. Seus 39 princípios podem ser encontrados no site do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços: 1. Não Discriminação É o princípio básico da OMC. Está contido no Art. I e no Art. III do GATT 1994 no que diz respeito a bens e no Art. II e Art. XVII do Acordo de Serviços. Estes artigos estabelecem os princípios da nação mais favorecida (Art. I) e o princípio do tratamento nacional (Art.III). Pelo princípio da nação mais favorecida, um país é obrigado a estender aos demais membros qualquer vantagem ou privilégio concedido a um dos membros; já o princípio do tratamento nacional impede o tratamento diferenciado de produtos nacionais e importados, quando o objetivo for discriminar o produto importado desfavorecendo a competição com o produto nacional. 2. Previsibilidade Os operadores do comércio exterior precisam de previsibilidade de normas e do acesso aos mercados tanto na exportação quanto na importação para poderem desenvolver suas atividades. Para garantir essa previsibilidade, o pilar básico é a consolidação dos compromissos tarifários para bens e das listas de ofertas em serviços, além das disciplinas em outras áreas da OMC, como TRIPS, TRIMS, Barreiras Técnicas e SPS que visam impedir o uso abusivo dos países para restringir o comércio. 3. Concorrência Leal A OMC tenta garantir não só um comércio mais aberto, mas também um comércio justo, coibindo práticas comerciais desleais como o dumping e os subsídios, que distorcem as condições de comércio entre os países. O GATT já tratava desses princípios nos Art. VI e XVI, porém esses mecanismos só puderam ser realmente implementados após os Acordos de Antidumping e Acordo de Subsídios terem definido as práticas de dumping e de subsídios e previsto as medidas cabíveis para combater o dano advindo dessas práticas. 40 4. Proibição de Restrições Quantitativas O Art. XI do GATT 1994 impede o uso de restrições quantitativas (proibições e quotas) como meio de proteção. O único meio de proteção admitido é a tarifa, por ser o mais transparente. As quotas tarifárias são uma situação especial e podem ser utilizadas desde que estejam previstas nas listas de compromissos dos países. 5. Tratamento Especial e Diferenciado para Países em Desenvolvimento Este princípio está contido no Art. XXVIII bis e na Parte IV do GATT 1994. Pelo Art. XXVIII bis do GATT 1994, os países desenvolvidos abrem mão da reciprocidade nas negociações tarifárias (reciprocidade menos que total). Já a Parte IV do GATT 1994 lista uma série de medidas mais favoráveis aos países em desenvolvimento que os países desenvolvidos deveriam implementar. Além disso, os Acordos da OMC em geral listam medidas de tratamento mais favorável para países em desenvolvimento. (BRASIL, 2007) Conclusão O processo de negociação não é simples entre duas pessoas, que por vezes não concordam com um determinado assunto. Imagine se essas pessoas forem da mesma família e gestores de uma empresa, e tiverem que decidir algo que venha afetar uma terceira parte que também é parente. É bem provável que isso cause um estremecimento nas relações, e se não for gerido de maneira adequada, pode levar até a falência. Muitas vezes, os filhos ou netos não são treinados para assumir a gestão de uma empresa e por isso não conseguem negociar com os fornecedores, por não haver nenhum traquejo para tal. Essa deficiência se torna mais visível, num momento de sucessão, no qual o patriarca deixa a organização e quem assume é a próxima geração. Imagine um processo de venda de um imóvel ou de uma empresa. O atual proprietário e vendedor pode ter uma relação sentimental com o bem, pois pode ser o resultado de um investimento de anos, ou a família toda pode ter morado ou trabalhado lá. Isso 41 pode dificultar a negociação. Outro ponto que deve ser levado em conta são os pontos cegos: ambas as partes possuem um ponto crítico, e tem pleno domínio sobre ele. Porém esses pontos são cegos entre os dois, ou seja, dificilmente um contará para o outro. Mas, se uma das partes reconhecer o ponto crítico um do outro, talvez a negociação fique mais fácil, como por exemplo, o vendedor só fará negócio com o comprador se parte do pagamento for à vista, pois ele precisa pagar algumas dívidas. Numa negociação com seu chefe, seja flexível ao sentar para negociar com seu supervisor ou chefe, tenha bem claro quais são seus objetivos. Num processo de busca de uma nova oportunidade, conheça as regras que devem ser levadas em conta num processo de negociação entre funcionários e patrões. Conhecendo-as a fundo será mais fácil chegar a um acordo. No âmbito internacional, o princípio básico é conhecer os acordos que o Brasil já possui e seguir os princípios. REFERÊNCIAS ABRANTES, Talita. Aprenda a negociar com seu chefe, sem entrar numa saia justa. Carreira Você S/A, São Paulo, 18 jan. 2011. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/carreira/aprenda-a-negociar-com-seu-chefe-sem-entrar- numa-saia-justa/>. Acesso em: 9 jun. 2019. BRASIL. Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Princípios. Brasília, DF: OMC, 26 mar. 2007. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/negociacoes- internacionais/1886-omc-principios>. Acesso em: 9 jun. 2019. FAGUNDEZ, Ingrid. Reforma trabalhista: como mudam as negociações entre patrões e empregados. BBC News, São Paulo, 11 jul. 2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-40566802>. Acesso em: 9 jun. 2019. CAVALLINI, Marta. Reforma trabalhista é aprovada no senado; confira o que muda na lei. Portal G1, 11 jul. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/reforma-trabalhista-e-aprovada-no-senado- confira-o-que-muda-na-lei.ghtml>. Acesso em: 9 jun. 2019. https://exame.abril.com.br/carreira/aprenda-a-negociar-com-seu-chefe-sem-entrar-numa-saia-justa/ https://exame.abril.com.br/carreira/aprenda-a-negociar-com-seu-chefe-sem-entrar-numa-saia-justa/ http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/negociacoes-internacionais/1886-omc-principios http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/negociacoes-internacionais/1886-omc-principios https://www.bbc.com/portuguese/brasil-40566802 https://g1.globo.com/economia/noticia/reforma-trabalhista-e-aprovada-no-senado-confira-o-que-muda-na-lei.ghtml https://g1.globo.com/economia/noticia/reforma-trabalhista-e-aprovada-no-senado-confira-o-que-muda-na-lei.ghtml 42 BAZERMANN, Max H.; MALHOTRA, Deepak. O gênio da negociação: as melhores estratégias para superar os obstáculos e alcançar excelentes resultados. Tradução de Natalie Gerhardt. Rio de Janeiro: Rocco, 2009. CHIAVENATTO, Idalberto. Treinamento e desenvolvimento de recursos humanos: como incrementar talentos na empresa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004. 43 4 CONCEITO DE CONFLITO Neste bloco, você terá a oportunidade de conhecer os conceitos básicos de um conflito, como surge, por que aparece, seu desenrolar, seus tipos e como remediá-lo. 4.1 Por que é importante saber sobre o conflito? Como o mundo dos negócios está cada vez mais acelerado, as oportunidades de conflito se multiplicam. O ditado popular diz: “os conflitos crescem mais que sabão em pó na máquina de lavar!”. Aprender a desarmar e aceitar situações e pessoas que geram conflitos é essencial para quem quer ser um bom gestor. Não se pode trabalhar de forma eficaz com os outros com “os punhos cerrados”. O mundo é competitivo,mas isso não significa passar o tempo num ringue de boxe. Há conflito por toda parte. As emoções dominam e a razão esfria. Cada vez mais é importante uma excelente comunicação. Se no mundo real a comunicação já está muito comprometida, falar, escrever, ler e interpretar, muitas vezes, é a maior fonte de conflito entre as pessoas. No mundo virtual então, há fake news, notícias fragmentadas, autores desconhecidos, plataforma de intrigas, e uma reputação construída por toda uma vida pode ser destruída em segundos. Anônimos, do dia para noite, se transformam em celebridades. Tudo aparece, cresce e desaparece em questão de segundos, num piscar de olhos, em nível mundial. 4.1.1 Fundamentos do conflito Entender o conflito – com suas causas e efeitos – é fundamental para o sucesso pessoal e profissional. “Onde há pessoas, há conflito”. A própria pessoa já pode ser uma fonte de conflito. 44 Um diferencial gerencial marcante é a habilidade que o gestor tem para lidar com pessoas; mesmo em situações difíceis, conseguir cooperação e comprometimento com o trabalho. Portanto, saber lidar e até tirar proveito de conflitos é uma habilidade que tem que ser aprimorada a cada instante em muitos campos da vida. 4.1.2 O que é conflito? Conflito vem do latim “conflictus”. Reflete um combate entre duas coisas, um embate entre uma pessoa e um grupo, confronto entre grupos opostos que divergem entre si. Resumindo, é um combate entre duas forças em confrontação. Alguns autores apresentam o conceito de que o conflito começa quando uma das partes entende que a outra a aferrou de forma negativa. Esse processo engloba três características: o conflito precisa ser percebido; tem que existir uma interação; e tem que haver incompatibilidade entre as partes. Outros autores definem conflito como uma ação oposta ou competitiva; ação ou estado antagônico (como ideias, interesses ou pessoas divergentes); esforço resultante de necessidades, impulsos, desejos ou procura incompatíveis; encontros hostis. Conflito é, basicamente, a existência de competição ou de opções incompatíveis. Chiavenatto (2004) apresenta o conceito de que o conflito acontece quando as diferenças são somadas a uma interferência deliberada de uma das partes envolvidas, ou seja, quando um dos elementos tenta alcançar seus próprios objetivos que são interligados a outra parte, que interfere na busca por essas metas. Uma outra abordagem conceitua que o conflito nos tempos atuais é inevitável e sempre evidente. Segundo essa abordagem, uma empresa precisa que no processo de crescimento é necessário compreender e lidar com as divergências entre os seus membros e parceiros externos. 45 4.1.3 A tríade do conflito Considerando-se que em situações de conflito sempre haverá uma pessoa, ou grupos de pessoas em confrontação, tem-se a denominada “Tríade da situação de conflito”. Na apresentação deste material, as situações no campo de batalha serão descritas visto que geram impacto nas relações e nos resultados que influem diretamente na vida das pessoas e da empresa. 4.2 As fases do conflito As situações de conflito envolvem vários níveis e graus de envolvimento racional, emocional e de intensidade entre os participantes, e podem ser descritas como: Fase do conflito suportável: embora de baixa intensidade, as preocupações e disputas diárias ocorrem na maior parte do tempo. É a chamada “irritação” ou “estresse” do dia a dia. Essas pequenas irritações, se não forem mantidas sob controle e se acumularem, poderão tornar a situação pior, gerando maiores problemas. O elemento crítico aqui são as pessoas. Pense no motorista que fica preso no trânsito por horas ouvindo buzinas de todos os lados sem poder fazer nada. É impossível imaginar quando uma pessoa vai atingir seu limite. Cada um tem seu grau de resistência, paciência, jeito de ser, tolerância e reage diferente a cada situação. Mesmo acostumado à determinada situação de confrontação, uma “explosão” pode de repente vir à tona. O que há pouco foi aceito e Pessoas ou grupos de pessoas Pessoas ou grupos de pessoas Situações de confrontação Campo de combate 46 tolerado pode virar um problema ou um conflito, e sem que se espere pode tomar grandes proporções. Competição inerente: envolve defender interesses próprios de conseguir algo ou de vencer. O desejo de conquistar faz parte das necessidades das pessoas. Perder resulta em sentimento de fracasso. Uma pequena discussão, muitas vezes sobre futilidades, torna-se um problema porque as partes não conseguem separar as pessoas da situação. Resolver não é o objetivo, vencer sim. De ambos os lados, haverá resistências quanto às tentativas feitas para se evitar o conflito. As pessoas continuam sendo o problema. Se não se resolve uma situação de conflito, a pessoa é parte direta do conflito. Batalhas mundiais: o foco passa da vontade de vencer para o desejo de conquistar. Se for preciso, eliminar a outra parte ou punir os outros é um fator marcante de motivação. Líderes surgem no grupo, tornam-se seu porta-voz e convencem a maioria com a perda de uma visão geral das consequências. A lógica, a razão, a ética e outros valores são perfeitamente ineficazes para dissuadir os outros. Prolongar o conflito, mesmo quando se chega a um acordo não importa, pois a luta é conseguir manter seus próprios objetivos e conquistas. 4.3 Tipos de conflitos Para resolução dos conflitos, é importante identificar algumas situações de atrito, suas formas e como ocorrem: Conflito pessoal: relacionada à própria pessoa, reflete como ela lida com suas frustrações, desejos, inquietações em contraste com o que pensa de si mesma e como realmente age. Resulta em um abismo entre o que a pessoa diz e o que ela faz. Conflito interpessoal: ocorre quando uma pessoa se comporta em determinada situação e reage de forma diferente. Em outras palavras, sozinha a pessoa faria ou aceitaria algo que diante de um grupo fará ou 47 terá reação de forma totalmente contrária ao que ela mesma faria ou que o grupo espera. Aplicável também a grupos. Conflito empresarial: envolve princípios e valores da própria empresa. É resultado da busca de seus objetivos muitas vezes diante de situações externas que influem diretamente na empresa. Conflito interno e externo: Burbridge e Burbridge (2012) classificam esses dois tipos de conflito assim: o Interno: geralmente, ocorre entre departamentos ou unidades de negócios. Por exemplo, o departamento de vendas precisa atingir suas metas e o departamento de finanças não aprova o cliente. As partes supostamente fazem parte da mesma empresa, mas a confrontação mesmo que velada existe. o Externo: há quando o conflito ocorre com outra empresa, com o concorrente, com o governo, ou até mesmo com indivíduos. Onde há pessoas, há emoções e nem sempre a racionalidade faz parte do jogo. Níveis de gravidade do conflito: para Chiavenato (2004), deve-se considerar também o fator gravidade da seguinte forma: o Conflito latente: o conflito é sentido e compreendido pelos participantes, pois fica claro que o objetivo da pessoa é diferente dos objetivos dos outros. Nesse caso, existe a possibilidade de interferências ou bloqueios. o Conflito velado: resulta em função da raiva, medo, inveja, desconfiança e descrédito entre as partes. O conflito é apenas sentido, não manifestado com clareza. o Conflito aberto: expressado através de comportamento ativo ou passivo por pelo menos uma pessoa de maneira que são expostas claramente as razões do conflito, verdadeiras ou não. 48 “O conflito é inevitável, o administrador precisa conhecer a respeito de suas possíveis soluções ou resoluções. A solução de um conflito passa quase sempre pelo exame das condições
Compartilhar