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PÓS-GRADUAÇÃO DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR Fabrizio Vésica Desenvolvimento Profissional Docente Aparecida de Goiânia - Goiás Junho de 2015 1. Introdução Durante muitos anos a figura do professor consolidou-se tradicionalmente como a de detentor do conhecimento. Seu papel consistia essencialmente em transmitir esse conhecimento a seus alunos, que eram tidos como discípulos no sentido mais literal do termo latim “discipulus”, isto é, “aquele que recebe instrução de alguém”. Esse panorama, perceptível em todos os níveis da educação, atingiu seu ápice no ensino superior não só no Brasil, como também no resto do mundo. No entanto, a partir da década de 1990, uma série de mudanças sociais, consequentes da globalização e do notável progresso tecnológico, impulsionaram uma mudança radical no papel do professor. O objetivo desse texto é refletir sobre as características do professor no ensino superior no século XXI, desde seus saberes e competências até a sua forma de lidar com alunos, colegas e instituição de ensino. 2. O papel do professor no ensino superior do século XXI Vivemos um momento histórico que o professor e escritor austríaco Peter Drucker (Viena 1909 – Claremont 2005) definiu como a “Era da Informação”, cujas bases foram lançadas no fim do século XX e que, desde a década de 1990, caracteriza-se pelo crescimento constante e exponencial dos meios tecnológicos e, de consequência, pelo acesso sempre mais fácil e rápido à informação. Nesse novo contexto a obtenção do conhecimento não se dá exclusivamente nas escolas, faculdades, universidades, etc., pois os alunos chegam à sala de aula com uma bagagem de conhecimento que não pode e não deve ser desconsiderada. A informação, a comunicação, o conhecimento bruto, estão a disposição de quem quer obtê-los, e é inegável que isso acarreta uma série de transformações sociais que, segundo Ibernón (2009) se refletem também na educação, modificando profundamente os paradigmas de ensino e aprendizagem. Hoje a figura do professor universitário como “dono do saber” ou “detentor do conhecimento” perdeu seu sentido em prol de um novo papel de mediador, facilitador e motivador que orienta seus alunos na busca autônoma e consciente de informações visando a construção conjunta de um conhecimento sólido e útil. De extrema importância é o retrato do docente universitário atual traçado por Tardif (2002, apud GRILLO e GESSINGER, 2008), segundo o qual o professor deve possuir sim conhecimento específico, reciclado e atualizado, da matéria que ensina, mas também deve ser hábil em ensinar e fazer proveito da sua experiência profissional docente para desenvolver um saber prático. Nesse panorama o processo de ensino e aprendizagem assume as conotações sempre mais nítidas de uma parceria: não mais um caminho de mão única onde o conhecimento é meramente transmitido, mas uma dinâmica complexa que envolve o relacionamento interpessoal professor-aluno, professor-colegas, professor-instituição. Nessa dinâmica tanto o docente quanto o aluno são autores e produtores do conhecimento, pois ambos aprendem e amadurecem. Atitudes, comportamentos, ética e valores também são partes de suma relevância, em que se pese o valor do aprendizado não intencional, relatado por GIL: [...] os alunos aprendem muitas outras coisas além daquelas que os professores esperam que aprendam. [...] O que o professor ensina sem querer ensinar e o que os alunos aprendem sem querer aprender, por sua vez, pode representar o mais importante e permanente produto do processo ensino- aprendizagem. (2012, p. 58). Uma parceria, portanto, cujo êxito positivo não pode prescindir de um preparo adequado que, segundo Masetto (1992, p. 22), compreende desde o planejamento do curso até as próprias características do professor, passando pelas fases de definição do conteúdo, definição e aplicação de estratégias, acompanhamento do clima em sala de aula e processo de avaliação. Em tudo isso deve-se dar ao aluno a abertura necessária para que contribua ativamente em cada etapa do processo, sentindo-se valorizado e co-protagonista, enxergando sua relevância na construção do seu próprio conhecimento e no seu próprio amadurecimento enquanto pessoa. 3. Considerações finais À luz de tamanhas e tão significativas mudanças sociais e tecnológicas, é imprescindível que o profissional de docência no ensino superior reveja seu papel adequando-se aos novos paradigmas do processo de ensino e aprendizagem que a era da informação introduziu e consolidou. O professor no ensino superior do século XXI precisa aceitar e aplicar efetivamente o conceito de que saberes e competências se constroem em parceria com colegas, instituição de ensino e alunos e que sua figura de mediador e facilitador o reveste da responsabilidade de formar não apenas detentores de conhecimento, mas profissionais éticos, autônomos e conscientes do seu papel no contexto de atuação. Referências IBERNÓN, F. Formação permanente do professorado: novas tendências. São Paulo: Cortez, 2009. GRILLO, M. e GESSINGER, R. M. Construção da identidade profissional, saberes docentes e prática reflexiva. In: ______ et. al. A gestão da aula universitária na PUCRS. Porto Alegre: ediPUCRS, 2008. p. 35-42 Disponível em <http://www.pucrs.br/edipucrs/agestaodaaula.pdf>. Acesso em Acesso em 30 mai. 2015. GIL, A. C. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2012. GALERA, J. M.; BORSOI, B. T. “Ciência, tecnologia e cidadania: ‘um desafio no cotidiano do professor’”. Artigo. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Disponível em <http://www.ct.utfpr.edu.br/deptos/dacex/joscely/arquivos/lattes/ArtigoTecnologiaeInovacao. pdf>. Acesso em 30 mai. 2015. MASETTO, M. T. Aulas Vivas Tese (e Prática) de Livre Docência. São Paulo: MG Editores associados, 1992.
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