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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS - AULA 3

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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 
DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Andrew Traumann 
 
 
 
CONVERSA INICIAL 
 
Na aula de hoje abordaremos dois momentos muito importantes que 
precedem a II Guerra Mundial. O período entre guerras (1919-1939) é marcado 
por turbulências políticas decorrentes da situação econômica da Alemanha e 
do governo impopular da República de Weimar, atingido por tentativas de golpe 
tanto pela esquerda quanto pela direita e também pela Crise de 29 que causará 
um cataclismo na economia mundial permitindo, devido a desilusão com o 
liberalismo, a ascensão de regimes autoritários no mundo todo, entre eles o 
nazismo que com sua ideologia racista e expansionista arrastou o mundo para 
o maior conflito da História. 
Segundo o historiador britânico Eric Hobsbawm, é impossível 
compreender a Segunda Guerra Mundial sem entender previamente o que 
ocorreu no cenário internacional no chamado Período Entre Guerras (décadas 
de 1920 e 1930). É nessas décadas que se darão a ascensão do regime 
Fascista na Itália, Nazista na Alemanha, Franquista na Espanha e Salazarista 
em Portugal, só para ficar em alguns exemplos. O terremoto econômico que 
sacudiu o mundo em 1929, levou a uma onda de autoritarismo e protecionismo 
em todo o globo. O liberalismo, desacreditado até a década de 1980, daria 
lugar a economias e governos centralizados, substituição de importações e 
nacionalismos exacerbados e beligerantes. 
Devemos buscar compreender este período, portanto, com base em dois 
eventos: o Tratado de Versalhes que imputava toda a culpa da I Guerra 
Mundial a Alemanha, endividando-a e consequentemente afundando-a em 
terrível crise econômica e a Crise de 29, que atingirá toda a economia global, 
desde países exportadores de frutas tropicais até as Grandes Potências e fez 
com que o socialismo soviético fosse visto pela primeira vez como uma 
alternativa ao sistema capitalista. 
 
TEMA 1 – A ALEMANHA PÓS PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 
 
A Alemanha do pós-Guerra encontrava-se em uma situação bastante 
difícil. Pela primeira vez, a Alemanha vivia sob um regime republicano e liberal, 
mas em circunstâncias bastante adversas. O fato de a República de Weimar, 
que sucedera ao Império Alemão após a renúncia de Guilherme II, ter assinado 
 
 
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a rendição na Primeira Guerra e o Tratado de Versalhes – que fez com que a 
Alemanha perdesse território, população e assumisse uma dívida impagável – 
fez com que o liberalismo tivesse vida curta naquele país. O sentimento de 
humilhação pelo Tratado de Versalhes se aprofundou com a ocupação 
francesa do Vale do Ruhr, o centro industrial alemão. O principal problema era 
que a França no intento de deixar a Alemanha permanentemente enfraquecida 
queria receber suas indenizações devidas em espécie e não em mercadorias 
ou renda de exportação e para isso invadiu a Alemanha. 
A comunidade internacional se mobilizou e exigiu a retirada da França, 
que aliás não conseguira seu intento, uma vez que os trabalhadores alemães 
pacificamente resistiram a trabalhar para os franceses. A situação econômica 
era trágica: a inflação chegara a inacreditáveis 29.500% ao mês e um dólar 
valia 4 bilhões de marcos alemães. Famílias inteiras viam a poupança de uma 
vida toda desaparecer, corroída pela inflação. 
 Desde o princípio de seu governo o presidente Friedrich Ebert foi 
questionado tanto pela esquerda quanto pela direita alemãs. Já em 1916, Karl 
Liebknecht e Rosa Luxemburgo haviam fundado a Spartakusbund ou Liga 
Espártaco em homenagem ao famoso líder de uma rebelião escrava na Roma 
Antiga. A Spartakusbund tentou uma tomada de poder em Berlim, mas foi 
detida pelos Freikorps (“corpos livres”, milícias de extrema direita apoiadas 
extra oficialmente pelo governo para eliminar seus inimigos). Os Freikorps 
assassinaram a tiros Liebknecht e Luxemburgo a mando de Ebert. Apesar das 
tentativas de tomada do poder, o comunismo na Alemanha tinha apoio apenas 
em camadas específicas da sociedade como o operariado e alguns 
intelectuais. Na verdade, naquele momento o único discurso que poderia reunir 
os alemães seria o discurso nacionalista da revanche sobre o que aconteceu 
em Versalhes. E este discurso estava com a direita. 
 
 
TEMA 2 – A CRIAÇÃO DO FASCISMO E DO NAZISMO 
 
O jovem Adolf Hitler, que participara na I Guerra Mundial e que se 
sentira extremamente frustrado com a rendição da Alemanha, passa a 
frequentar as reuniões do recém fundado Partido Nacional Socialista dos 
Trabalhadores Alemães, e logo se torna um de seus principais líderes. Assim 
 
 
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como fizera Mussolini, que organizara uma Marcha sobre Roma em 28 de 
outubro em 1922 e com ascendera ao poder na Itália, Hitler tentou o mesmo: 
na manhã de 8 de novembro de 1923 ele e mais um grupo de seguidores 
tentaram um golpe que ficou conhecido como o Putsch da Cervejaria. A ideia 
era marchar da Cervejaria para o palácio do governo, pois fora negociado que 
o governador da Baviera Gustav Von Kahr lhe cederia o poder. No entanto, no 
último momento Kahr voltou atrás e decidiu confrontar os nazistas. Vários 
foram mortos ou feridos em enfrentamento com as forças do governo. Hitler 
fugiu durante o tiroteio, mas acabou preso em sua casa. Em seu julgamento 
em 01 de abril 1924, Hitler obteve permissão para fazer sua própria defesa. 
Naquele momento nascia o Hitler orador. Em sua defesa Hitler justificou 
a tentativa de golpe expressando todo o ressentimento do povo alemão com o 
que ocorrera com o país nos últimos anos. Seu discurso foi tão impressionante 
que sua pena foi reduzida de 5 anos para 9 meses. No período em que 
permaneceu na cadeia Hitler escreveu a obra síntese do Nazismo: “Mein 
Kempf”, ou “Minha Luta”, onde destila seu ódio contra os judeus, o 
bolchevismo, o liberalismo e a República e proclama uma “luta de raças” na 
qual, numa visão distorcida das teoria darwinista a raça ariana dominaria as 
demais. Daquele momento em diante, contudo Hitler desistiria de chegar ao 
poder por meio de golpes. Decidira que ascenderia pelas vias legais e só então 
lá do alto do poder chutaria a escada da democracia e a destruiria por dentro. 
 
TEMA 3 – A CRISE DE 29 
 
A crise econômica por sua vez teria os EUA como epicentro. No início do 
século XX, os EUA já eram o maior exportador do mundo, o segundo maior 
importador e responsável por 42% da produção mundial. O período que 
antecede a Primeira Guerra Mundial foi um período de grande imigração 
europeia para o continente americano. No entanto, a partir de 1915, os EUA 
passam a restringir a entrada de novos imigrantes. Se entre 1900 e 1914, 
quinze milhões de imigrantes haviam entrado no país, em 1930 foram apenas 
750 mil. Tal redução ocorreu devida a uma onda de protecionismo que se 
espalhou pelo globo. 
Os EUA pouco haviam sido afetados pela Primeira Guerra Mundial e 
assim, sua produção se manteve a mesma do pré-guerra. No entanto, o 
 
 
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mesmo não se dava com seus parceiros comerciais. Naquele momento a 
Europa se dividia entre países arruinados, incapazes de importar nos mesmos 
níveis de antes da guerra e aqueles que, já começando a se reerguer, 
estabelecem um plano de substituição de importações. O que ocorre em 
seguida é bastante lógico: a oferta é muito maior que a demanda. E o mesmo 
ocorre internamente, com o aumento da produção não sendo acompanhado 
por aumentos salariais, o que estagnava o consumo interno. Além de salários 
congelados, não se geravam novos postos de trabalho. 
A concentração de renda também era um problema: 50% do capital 
estava nas mãos de 200 empresas. O governo começou então uma campanha 
de expansão do crédito para a compra de automóveis e casas e os bancos 
passam a incentivar em seu portfólio de serviços o investimento em ações. 
Títulos de empresas passam a serem vistos como patrimônio pessoal e a 
especulação faz com que seus preços ficassem sem lastro,ou seja, eram 
cotados a preços irreais, muito acima de seu valor. Em suma, todos queriam 
vender, mas ninguém queria comprar. Na ânsia de vender e se monetarizar, 
acionistas passaram a baixar seus preços de venda. Hoje em qualquer 
movimento semelhante e o pregão seria interrompido. Em outubro de 1929, as 
negociações prosseguiram com o preço dos papéis despencando 
progressivamente até não valerem praticamente nada. 
Com a estagnação do consumo as empresas começam a demitir. As 
demissões levam a inadimplência daqueles que haviam contraído 
empréstimos. Além disso, as pessoas passam a utilizar o dinheiro de suas 
poupanças, e os investidores deixam de investir, o que vai deixando bancos e 
empresas sem capital para trabalhar. Os bancos reduzem o crédito. É uma 
bola de neve: nos EUA o número de desempregados chega 13 milhões. Entre 
1929 e 1933 cento e dez mil falências são decretadas e mil hipotecas eram 
executadas por dia no país. O PIB cai pela metade, e os salários caem 60 por 
cento. A diminuição na demanda industrial afeta também os países produtores 
de matérias-primas. Com a queda na produção automobilística, a produção de 
borracha nos países em desenvolvimento é praticamente paralisada. A 
diminuição na venda de roupas levava tanto a demissões nas empresas quanto 
nas lavouras de algodão dos países produtores. 
O Brasil sofreu bastante com a Crise, pois o café representava 72% da 
sua produção e de repente tal produto não tinha mais demanda: aliás, nem o 
 
 
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café, nem o cacau e nem a banana, três dos principais produtos da pauta 
brasileira, classificada por alguns economistas como “economia de 
sobremesa”. De 1929 até quase o final da Segunda Guerra Mundial, o Brasil 
queimou café em seus portos ou o usou como substituto do carvão nas 
locomotivas para impulsionar sua valorização. O Brasil, foi portanto duplamente 
afetado: pela natureza de sua pauta de exportação (considerada pelo mercado 
internacional como de produtos supérfluos) e porque seu maior parceiro 
comercial, os EUA reduziram drasticamente suas importações. 
Na Europa, a situação era ainda mais dramática: com a Crise, os EUA 
cujos empréstimos financiavam a recuperação alemã (e aproveitavam a sua 
mão de obra barata) simplesmente retiraram seus investimentos dos bancos 
europeus. A paralisação da cadeia produtiva levou a uma taxa de desemprego 
de 23% na Grã-Bretanha, de 27% nos EUA e de 44% na Alemanha. Naquela 
época menos de 60% dos britânicos tinham acesso ao seguro desemprego. 
Conforme a Crise se prolongava mais dramática ficava a situação dos 
desempregados, cujas economias se esvaíam levando famílias inteiras as 
emblemáticas filas do pão e da sopa. 
O economista britânico John Maynard Keynes terá então suas ideias 
aplicadas em todo o mundo, mas mais surpreendentemente nos EUA. Para 
Keynes, uma sociedade baseada no consumo necessita do pleno emprego e 
de boa distribuição de renda. O auto intitulado médico do capitalismo, dizia que 
o desemprego era socialmente explosivo e que cabia ao Estado gerar 
empregos por meio da construção de obras para gerar empregos onde a 
iniciativa privada não podia ou não queria investir. A ideia era quebrar o ciclo 
vicioso de demissões e queda no consumo gerado justamente pela queda do 
poder de compra do desempregado. 
O plano ficou conhecido como New Deal e aliviou muito a crise 
econômica norte-americana: o desemprego caiu para 1 por cento apenas, 
graças a construção de 77 mil pontes, 285 aeroportos, usinas, estradas, 
escolas e hospitais. 
O restante do mundo também aceitou a ideia da maior intervenção do 
Estado para gerar empregos e reaquecer a economia. Muitos destes países, no 
entanto, não passaram apenas por mudanças econômicas, mas também 
políticas. Na América Latina houve 12 mudanças de governo no início da 
década de 1930. Dez delas por meio de golpes militares. Houve uma guinada à 
 
 
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direita em todo o mundo. Diante das incertezas causadas pela Crise, as 
massas pareciam se sentirem confortadas com a ideia de um governo forte, 
centralizador e paternalista, que os protegesse tanto do liberalismo 
representado pelas grandes transnacionais que poderiam acabar com a 
pequena indústria local, como do comunismo e suas ideias ateístas e de fim da 
propriedade privada. 
 
TEMA 4 – A ASCENSÃO DO FASCISMO ITALIANO 
 
A Crise de 1929 representou um tempo de incertezas e instabilidade 
política e econômica. Representou também um retorno ao nacionalismo de 
antes da Primeira Guerra Mundial. Os problemas econômicos fragilizaram a 
democracia onde esta era recente e frágil. Para muitos, desacostumados com 
os trâmites tradicionais da democracia, tal regime era demasiado lento para a 
resolução de problemas urgentes que afligiam suas nações. Estes regimes que 
ascenderam ao poder na Europa e em várias outras partes do mundo 
souberam usar de forma muito eficiente a propaganda para canalizar essas 
emoções, utilizando-se de símbolos e ritos presentes no inconsciente de cada 
nação. Economicamente, houve grande cooperação entre Estado e 
empresariado em que este último foi bastante beneficiado pelos projetos de 
infraestrutura e rearmamento do primeiro, aceitando pequenas concessões na 
área trabalhista para evitar eventuais levantes de caráter comunista. 
O objetivo declarado de Benito Mussolini era sepultar a herança das 
revoluções de 1789 e 1917, ou seja, era antiliberal e antimarxista. Para os 
fascistas, o uso da razão valorizado pelo liberalismo clássico levava à dúvida e 
ao debate e este fragmentava a Nação, portanto deveria ser combatido. O povo 
deveria permitir que Il Duce, O Líder, pensasse por eles. A livre concorrência 
evidentemente também levava a competição e ao conflito, portanto o Estado 
deveria ser o principal ator econômico. Da mesma forma, a luta de classes 
apregoada pelo marxismo também era uma forma de dividir o país e deveria 
ser combatida. A proposta de Mussolini para os trabalhadores era de que eles 
deveriam se unir em prol da Nação Italiana e que seriam feitas reformas para o 
seu bem-estar sem necessidade de revolução. O slogan do partido resumia 
bem essa forma de pensar: “Um Líder, um partido, uma vontade”. Sua principal 
base de apoio era a classe média baixa, que esperava um Estado que as 
 
 
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protegesse do grande capital e da revolução proletária, além de possuir um 
caráter de conservadorismo cristão. 
Mussolini surge dentro de um contexto muito complexo para a Itália: o 
país havia se retirado da Tríplice Aliança na I Guerra em troca de colônias na 
África e de algumas partes da Áustria e tais promessas não foram cumpridas. 
Mesmo não tendo participado do conflito, a situação econômica não era 
diferente da dos demais países: fome, desemprego, inflação e greves. 
Movimentos trabalhistas ocupavam fábricas e camponeses ocupavam terras. 
Tais movimentos, apesar de desordenados (tanto as fábricas quanto as terras 
eram desocupadas em poucos dias), levou a uma sensação de insegurança e 
medo nas classes média e alta e Mussolini soube explorar este medo. Funda o 
Partido Fascista em 1919 e reúne uma milícia chamada de Camisas Negras 
formada por veteranos da Primeira Guerra Mundial e jovens em geral dispostos 
a invadir sindicatos e agredir seus membros. Os sindicatos, por sua vez 
também formaram sua milícia, os Camisas Vermelhas. Os constantes 
confrontos aumentaram a sensação de que a Itália estava à beira de uma 
guerra civil entre a classe média/alta conservadora (apoiada pela Igreja). 
 Motivado pelo apoio recebido, em 1922, Mussolini dá uma cartada 
ousada (na verdade um blefe) que acaba funcionando: exige que o Rei Vítor 
Emanuel III lhe ceda o poder ou o tomaria pela força com seus vinte mil 
Camisas Negras. Alguns conselheiros do rei, na verdade simpatizantes do 
fascismo, convencem Vitor Emanuel III a ceder sob a alegação que o 
enfrentamento causaria um “banho de sangue” e Benito Mussolinié alçado ao 
posto de Primeiro-Ministro. Uma vez no poder, dissolve o Parlamento, 
persegue adversários políticos, controla os sindicatos e suspende direitos 
constitucionais como a liberdade de expressão e de associação. 
Para melhorar a situação econômica do país tomou medidas 
nacionalistas demagógicas fechando vários setores da economia a importação 
sob a alegação de valorizar os produtos nacionais. Sem concorrentes, contudo 
tais produtores aproveitaram para aumentar os preços causando insatisfação 
geral. Para contê-la o Partido Fascista se utilizou da propaganda que repetia o 
tempo todo como a situação na Itália estava melhor sob o governo fascista. 
Com resultados nada impressionantes na economia, não é de surpreender que 
Mussolini não tenha obtido na Itália o mesmo grau de adoração e de 
obediência que Hitler tinha na Alemanha. Talvez seu maior legado seja o 
 
 
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Tratado de Latrão de 1929 que finalmente resolveu com a Igreja a questão dos 
Estados Pontifícios (ou Questão Romana como era conhecida) na qual a Santa 
Sé reconhece Roma como capital da Itália, renuncia aos Estados Pontifícios e 
aceita que sua soberania se limite ao Estado do Vaticano com apenas 0,44 km 
quadrados. Em troca a Igreja recebeu uma indenização de 750 bilhões de liras 
,o status de religião oficial do país, a proibição do divórcio, o foro privilegiado 
para clérigos e a promoção pelo Estado do ensino do catolicismo nas escolas. 
 
TEMA 5 – A CHEGADA DO NAZISMO AO PODER NA ALEMANHA 
 
Adolf Hitler (1889-1945) nasceu em Linz, na Áustria. Pintor frustrado, 
viveu de empregos temporários e de uma pensão para órfãos dos 19 aos 21 
anos. Justamente ao chegar nessa idade recebe herança de uma tia o que o 
permite mais alguns anos de ociosidade, acordando tarde e frequentando 
teatros e óperas a noite. Rejeitado duas vezes pela Academia de Artes de 
Viena, o então jovem Hitler tem sua vida mudada pela Primeira Guerra 
Mundial. O conflito lhe dá uma razão para viver. Condecorado com a Cruz de 
Ferro por duas vezes, Hitler se vê extremamente frustrado com a rendição 
alemã e com a subsequente humilhação em Versalhes. 
Em 1920, Hitler se une ao recém fundado Partido Nacional Socialista 
dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista), onde logo se torna sua principal 
liderança. Apesar do nome, o partido compreendia o socialismo de uma forma 
completamente distinta do que se entende como socialismo hoje. Nutrindo ódio 
pelo marxismo e pela luta de classes, para os nazistas a palavra “socialismo” 
remetia ao coletivismo, a união dos alemães em contraposição ao 
individualismo tipicamente liberal. O Nazismo era frontalmente contra a ideia de 
igualdade proposta pelo socialismo. Trata-se de uma ideologia baseada na 
ideia de hierarquia racial, nacional, militar etc. Além disso, de forma similar ao 
fascismo, o nazismo também propunha a aniquilação das vontades individuais 
em prol da pátria. 
A ideologia nazista estava baseada nos três R’s: 
Reich (Reino): retorno aos tempos gloriosos do Sacro Império Romano 
Germânico tanto em poderio quanto em extensão. 
Raum (espaço): baseado nas ideias do geopolítico alemão Friedrich 
Ratzel, que dizia que “um Estado deve ser do tamanho da sua capacidade de 
 
 
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organização”, ou seja que um Estado tem o direito de se expandir 
territorialmente mesmo à custa de outros povos, para que se desenvolvesse 
plenamente com base na “superioridade” da raça dominante. 
Rasse (raça): o conceito de raça é a chave para se compreender o 
pensamento de Hitler. Para ele, o mundo era dividido em uma pirâmide de 
raças nas quais os arianos ocupavam o topo. No meio da pirâmide estavam 
povos como árabes, latinos e eslavos que poderiam servir como mão de obra 
escrava para os arianos. Na base da pirâmide encontravam-se os indesejáveis, 
que deveriam ser exterminados como judeus, negros, homossexuais, ciganos e 
Testemunhas de Jeová. Também estavam passíveis de extermínio deficientes 
físicos e mentais, chamados pelos nazistas de “vidas indignas de serem 
vividas”. 
E por que tais ideias que hoje nos soam repulsivas tiveram aceitação 
não só na Alemanha, mas em várias partes do mundo? A resposta é o 
“carimbo” da ciência. No início do século XX surgia uma pseudo ciência 
chamada Eugenia (bem nascer) criada pelo primo de Charles Darwin, Francis 
Galton. Inspirado em Gregor Mendel, mas subvertendo suas ideias de que a 
miscigenação era algo bom para a espécie humana, Galton passa a pensar a 
espécie humana da mesma forma que muitos criadores de cavalos, ou seja, o 
aprimoramento da “raça” por meio de cruzamentos apropriados e a proibição 
de cruzamentos indesejados. Nos EUA a Eugenia se tornou política pública em 
29 Estados, que aprovaram leis de esterilização em massa de negros, judeus, 
hispânicos, alcoólatras, mendigos. O nazismo se apropriou dessas ideias, mas 
a levou a um novo patamar de perversidade: ao invés de esterilizar (o que já 
seria uma violação em si), o extermínio puro e simples dos ditos “inferiores”. 
Para Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler o nazismo poderia 
ser definido como “biologia aplicada”. Com a propaganda martelando a mente 
dos alemães e a garantia de que tais ideias eram “cientificamente 
comprovadas” as esterilizações e mais tarde a matança passa a ser vista como 
a dedetização de uma “praga” dentro da sociedade, um ato que a faria melhor 
no futuro. 
Os judeus em especial eram vistos como o oposto de tudo que havia de 
positivo na sociedade alemã: eram os criadores do marxismo, do pacifismo, do 
liberalismo, da psicanálise, enfim de tudo aquilo que contrariava a “lei do mais 
forte” proposta pelo nazismo. O povo judeu, já havia sofrido perseguições 
 
 
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durante a Inquisição e fora proibido de exercer determinadas profissões como a 
de médico, restando-lhes o comércio, a ourivesaria e o trabalho que mais atraía 
o ódio da população alemã, a agiotagem. Tal ocupação facilitou e muito a 
construção da imagem do judeu como parasita social, que lucrava em cima da 
desgraça do povo alemão. No entanto, na Alemanha nazista a situação dos 
judeus era pior do que na Europa do século XVI: afinal naquela época o judeu 
ainda tinha como se salvar das perseguições por meio da conversão ao 
cristianismo; como o antissemitismo nazista não era baseado em crenças, mas 
em características biológicas, estes não tinham como se defender. 
Em 1938, a perseguição se tornaria oficial. O embaixador alemão em 
Londres foi morto por um jovem judeu. Tal incidente foi o pretexto para a Noite 
dos Cristais, em que sinagogas foram saqueadas, propriedades de judeus 
confiscadas e estes passaram a viver em uma espécie de apartheid em relação 
aos alemães sendo proibidos de frequentar as mesmas escolas, clubes e de se 
casar com estes. 
Com a Crise de 1929, o Partido Nazista começa sua ascensão ao poder. 
Nas eleições de 1930, o Partido Nazista obtém mais de seis milhões de votos 
em comparação com oitocentos mil dois anos antes. Em 1932, obtiveram 37% 
dos votos e 230 cadeiras no Parlamento. Franz Von Papen que pouco antes 
havia renunciado ao cargo de chanceler, admirava Hitler e o via como um dique 
de contenção ao comunismo. Assim, convence o presidente Paul Von 
Hindenburg a nomear Adolf Hitler como chanceler, medida que teve apoio de 
industriais e latifundiários. 
Em fevereiro de 1933, Hitler adotando como pretexto um incêndio ao 
Reichstag (parlamento) realizado por um andarilho holandês que se dizia 
comunista, pressiona Hindenburg a suspender os direitos civis sob a alegação 
de que a Alemanha estava sob ataque. Hitler aproveita para cassar mandatos 
de políticos de esquerda e assim consolidar a maioria no Parlamento para o 
seu partido. Em março Hitler consegue a aprovação de uma lei que lhe dava 
plenos poderes tornando-se assim um ditador por meios democráticos como 
concebera quase dez anos antes. 
A vida sob o nazismo era regida pela propaganda.Hitler dizia que as 
massas eram femininas, se orientam pela emoção e pela palavra falada e que 
slogans simples deveriam ser constantemente repetidos para que a mensagem 
entrasse em seus corações como golpes de aríetes. Todas as associações, 
 
 
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clubes e escolas estavam sob o controle do partido. O currículo escolar foi 
adaptado a ideologia nazista. Economicamente, o Estado Alemão se aliou aos 
oligopólios e aplicou receitas keynesianas que eliminaram o desemprego. A 
aliança com a indústria transformara a Alemanha numa máquina de guerra. A 
Igreja Católica, mais preocupada com o comunismo, também apoiou Hitler. Em 
meados da década de 1930, a Alemanha havia eliminado o desemprego e 
recuperado o vigor militar e industrial. Por meio de gigantescas paradas 
militares, amplamente divulgadas pelo mundo em filmes e fotografias, a 
Alemanha se mostrava pronta para a revanche. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
FEST, Joachim. Hitler. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,2006. 
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o Breve Século XX (1914-1991) 
São Paulo: Cia das Letras, 2000. 
MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2008. 
PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: Uma História Concisa. São Paulo: 
Martins Fontes, 1999. 
 
 
 
 
 
	Conversa inicial
	REFERÊNCIAS

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