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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA SERRA GAÚCHA CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA DISCIPLINA DE DOENÇAS PARASITÁRIAS BABESIOSE, TRIPANOSSOMOSE E TRICOMONOSE Professora: Diane A. Lima BABESIOSE Doença causada por protozoário intraeritrocitário e transmitida por carrapatos. Apresenta grande impacto econômico na produção nacional de bovinos. Perdas relacionadas à queda na produção (carne e leite), à mortalidade de animais e aos custos com tratamento e controle do agente e seus vetores. Nome popular: Tristeza parasitária bovina (TPB) ESPÉCIES: Babesia bigemina Babesia bovis Babesia canis Babesia caballi Babesia equi (Theileria equi) LOCALIZAÇÃO: hemácias DESCRIÇÃO: Parasitas intraeritrocitários de animais domésticos e silvestres; Primeiro protozoário reconhecidamente transmitido por um artrópode (carrapato); Babesias grandes (>3 µm) e pequenas (<3 µm); Formato de pêra => piriforme => conhecidos como piroplasmas. Protozoários Filo: Apicomplexa Classe: Piroplasmasida Família: Babesidae Diane Lima BABESIOSE Diane Lima DESCRIÇÃO: BABESIOSE Espécie Morfologia Babesia bigemina Grandes (4-5 µm) e pleomórficas. Formato de pêra com corpos unidos por ângulo agudo. Babesia bovis Pequenas (1,2 – 2,4 µm) e pleomórficas. Geralmente apresentam corpos únicos arredondados, mas pode apresentar- se com um par de corpos pririformes. Babesia canis Grandes (4-5 µm), piriformes, pontiagudas em uma extremidade e arredondadas na outra. Babesia caballi Mais comum em formato piriforme, grandes (2-5 µm), presentes em pares, unidos na extremidade posterior com ângulo agudo. Babesia equi (Theileria equi) Relativamente pequenas (2-3 µm) redondas ou piriformes. Formam uma “cruz de malta” característica com quatro organismos. Diane Lima MORFOLOGIA: BABESIOSE Babesia bigemina Babesia bovis Babesia canis Babesia caballi Babesia equi (Theileria equi) Diane Lima HOSPEDEIROS E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA BABESIOSE Espécie Hospedeiros intermediários Hospedeiros definitivos Distribuição geográfica Babesia bigemina Bovinos e búfalos Rhipicephalus microplus Austrália, África, Américas do Norte, Central e do Sul, Ásia e sul da Europa. Babesia bovis Bovinos, búfalos e veados Rhipicephalus microplus Austrália, África, Américas Central e do Sul, Ásia e sul da Europa. Babesia canis Caninos Rhipicephalus sanguineus Sul da Europa, África, Ásia, EUA, América Central e do Sul. Babesia caballi Equinos e jumentos Dermacentor nitens Europa, Ásia, África, América Central e do Sul, sul dos EUA e Austrália. Babesia equi (Theileria equi) Equinos e jumentos Rhipicephalus microplus Amblyomma cajennense Américas do Norte, Central e do Sul, Ásia, África e Europa Continental. Diane Lima VETORES BABESIOSE Rhipicephalus microplus (Bovinos e equinos) Dermacentor nitens (Equinos) Amblyomma cajennense (Equinos) Rhipicephalus sanguineus (Caninos) Diane Lima CICLO BIOLÓGICO: BABESIOSE A. O carrapato ingere os merozoítos e os gamontes presentes no sangue do hospedeiro. B. Os merozoítos são destruídos no intestino do carrapato. Já os gamontes se diferenciam em gametas masculinos e femininos e iniciam a reprodução sexuada (gametogonia). C. O produto da fusão dos gametas é chamado de oocineto. D. O oocineto penetra nas células do tubo digestivo do carrapato e nelas se multiplica por divisão binária ou múltipla, originando os esporocinetos. E. As células infectadas se rompem e liberam os esporocinetos => esses atingem os ovários e, a partir destes, os ovos e larvas (transmissão transovariana). F. Os esporocinetos também podem atingir as glândulas salivares => por reprodução assexuada (esporogonia) dão origem aos esporozoítos (formas infectantes para os hospedeiros vertebrados). G. O carrapato inocula os esporozoítos ao sugar o sangue dos animais. H. Os esporozoítos penetram nas hemácias do animal => transformam-se em trofozoítos e dividem-se assexuadamente, por divisão binária, formando merozoítos. A célula se rompe e os merozoítos são liberados e penetram em novas hemácias, reiniciando a multiplicação. I. Uma pequena porcentagem dos merozoítos não se divide e se transforma em gamontes esféricos, que, ao serem ingeridos pelo carrapato vetor, iniciarão o ciclo sexuado. Diane Lima CICLO BIOLÓGICO: BABESIOSE Diane Lima PATOGENIA: BABESIOSE Hemólise intra e extravascular => febre, anemia, anorexia e hemoglobinemia; Casos mais graves => icterícia e hemoglobinúria; A gravidade das manifestações clínicas: patogenicidade da espécie ou cepa de babesia (B. bovis mais patogênica); intensidade da infecção; resposta imune; idade do hospedeiro. Diane Lima PATOGENIA: BABESIOSE Além da destruição das hemácias, que causa anemia, observam-se lesões em outros órgãos. No baço: Filtração de hemácias parasitadas e não parasitadas (porém marcadas com antígenos das babesias) => ocorre aumento do órgão (esplenomegalia); destruição das hemácias não parasitadas => intensifica a anemia hemolítica (passa a ter um caráter autoimune). Hemoglobinemia => hemoglobinúria Nos rins: hemoglobinúria (capacidade de absorver a hemoglobina é ultrapassada). Na circulação sanguínea: Desordens circulatórias com a liberação de peptídeos vasoativos => provocam vasodilatação, aumento de permeabilidade dos vasos e estase circulatória. Babesiose cerebral bovina => obstrução dos capilares cerebrais => sintomatologia nervosa. Diane Lima BABESIOSE SINAIS CLÍNICOS => BOVINOS Bezerros => relativamente resistentes à infecção; Animais mais velhos => quadros mais graves; Febre alta (41,5° C); Anorexia e atonia ruminal; Isolamento, prostração (“tristeza”) e inquietação; Dispneia, taquicardia; Palidez de mucosas, fraqueza (sinais de anemia); Icterícia e urina cor de “coca cola” (hemoglobinúria); Incoordenação, opistótono, convulsões; Mortalidade => até 50% Após início da febre => quadro clínico dura cerca de uma semana; Sobreviventes => emagrecimento importante; Recuperação lenta; Queda produção leiteira e abortos; Diane Lima BABESIOSE SINAIS CLÍNICOS => BOVINOS Diane Lima BABESIOSE SINAIS CLÍNICOS => BOVINOS Diane Lima BABESIOSE LESÕES => BOVINOS Antoniassi et al., 2009 Diane Lima BABESIOSE SINAIS CLÍNICOS => CANINOS E EQUINOS Filhotes são mais gravemente afetados Palidez de mucosas, fraqueza, prostração (sinais de anemia); Dispneia, taquicardia; Polidipsia; Hipertermia; Inapetência; Emagrecimento Petéquias, equimoses => gengivas ou abdome; Hemólise grave => Icterícia e urina cor de “coca cola” (hemoglobinúria); Alterações locomotores, paresia e convulsões; Diane Lima BABESIOSE SINAIS CLÍNICOS => EQUINOS Diane Lima BABESIOSE EPIDEMIOLOGIA Bovinos e equinos jovens são menos suscetíveis à infecção que animais mais velhos; Em áreas endêmicas, bovinos jovens adquirem a infecção passivamente (através do colostro) => infecção transitória => resposta imune ativa => permanecem portadores por muitos meses; Regiões com alto desafio por carrapatos infectados => manutenção da imunidade do hospedeiro => estabilidade endêmica; Regiões com poucos carrapatos infectados => estado imune da população é baixo. Se aumentar subitamente o número de carrapatos infectados => incidência de doença clínica => instabilidade endêmica; Bovinos => surtos eventuais em áreas endêmicas estão relacionados a situações de estresse elevado, como parto ou presença de outra enfermidade. Diane Lima BABESIOSE DIAGNÓSTICO Esfregaço sanguíneo corados com Giemsa Ocorrência de falso-negativo; Testes sorológicos => detecção de anticorpos específicos Diagnóstico molecular => PCR => DNA do parasita Alta sensibilidade e especificidade Diane Lima BABESIOSE TRATAMENTO Uso de babesicidas: Imidocarb; Diminazeno; Amicarbalida; Tratamento sintomático e de suporte: Transfusão sanguínea; Fluidoterapia; Polivitamínicos; Boa nutrição. Diane Lima BABESIOSE PREVENÇÃOE CONTROLE Bovinos em áreas endêmicas => imunidade passiva via colostro e imunidade ativa via exposição repetida à infecção; Introdução de animais provenientes de áreas não endêmicas => observação durante os primeiros meses e tratamento; Controle dos vetores (carrapatos) => pulverização ou banhos regulares com acaricidas; Há relatos de resistência genética à várias drogas; Realizar o biocarrapaticidograma em propriedades com o problema; TRIPANOSSOMOSE Doença causada por protozoários parasitas unicelulares pertencentes ao gênero Trypanosoma; Maior importância em bovinos e equinos. Diane Lima ESPÉCIES: Trypanosoma brucei Trypanosoma evansi Trypanosoma congolense Trypanosoma vivax Trypanosoma equiperdum LOCALIZAÇÃO: sangue DESCRIÇÃO: Pleomórficos Longos e delgados a curtos e robustos Flagelo curto ou inexistente Móveis Protozários Filo: Euglenozoa Classe: Kinetoplastea Família: Trypanosomatidae TRIPANOSSOMOSE Diane Lima TRIPANOSSOMOSE Espécie Hospedeiro Vetor Distribuição geográfica Trypanosoma brucei Equinos, bovinos, cães e gatos Stomoxys sp. e tabanídeos. África Trypanosoma evansi* Equinos, jumentos, camelos, bovinos, caprinos, suínos, cães e outros Stomoxys sp. e tabanídeos. África, América Central e do Sul, partes da Ásia Trypanosoma congolense Bovinos, ovelhas, cavalos e suínos Stomoxys sp. e tabanídeos. África Trypanosoma vivax* Bovinos, ovinos, caprinos, camelos e equinos. Stomoxys sp. e tabanídeos. África, América Central e do Sul, Índia Trypanosoma equiperdum* Equinos Transmissão direta através do coito América do Sul *Espécies de importância para a pecuária brasileira. Diane Lima VETORES TRIPANOSSOMOSE Mosca-do-estábulo Stomoxys calcitrans Mutuca-de-cavalo Tabanus bovinus Diane Lima CICLO BIOLÓGICO: TRIPANOSSOMOSE => Os tripanossomas são transferidos mecanicamente de um mamífero a outro por insetos hematófagos (Tabanidae e Stomoxydinae); => Pode ocorrer também a transmissão artificial, por meio de agulhas contaminadas com sangue infectado. => T. evansi: o morcego hematófago do gênero Desmodus é relatado como transmissor desse parasito. Diane Lima PATOGENIA: TRIPANOSSOMOSE Aumento linfoide e esplenomegalia => Hiperplasia de plasmócitos => hipergamaglobulemia (principalmente IgM); Exaustão de órgãos linfoides => Supressão da resposta imune a outros antígenos (ex. bactérias e vacinas); Anemia => proporcional ao grau de parasitemia Causada por hemólise extravascular => baço e fígado; Proliferação intensa de macrófagos ativados => destruição de hemácias, leucócitos, plaquetas e células hematopoiéticas => anemia, leucopenia e trombocitopenia; Degeneração celular e infiltrados inflamatórios => músculo esquelético e SNC Diane Lima EPIDEMIOLOGIA TRIPANOSSOMOSE Depende de três fatores: Distribuição dos vetores; Virulência do parasita; Sistema imune do hospedeiro; Estações chuvosas => proliferação de moscas hematófagas => prevalência da doença; Espécies de importância para pecuária brasileira: • Trypanosoma evansi => causa a doença “Mal das Cadeiras” em equinos; • Trypanosoma vivax => causa “Nagana dos Bovinos”; • Trypanosoma equiperdum => “Sífilis do Cavalo” ou “Durina”; Diane Lima SINAIS CLÍNICOS TRIPANOSSOMOSE “Mal das Cadeiras” (Trypanosoma evansi) • Hipertermia; • Palidez de mucosas e letargia (anemia); • Perda da condição corporal; • Prostração; • Edema do abdome ventral e genitália; • Hemorragias; • Abortos; • Sinais neurológicos: andar cambaleante, incoordenação motora, pressão da cabeça contra objetos, paralisias; • Mortalidade. Diane Lima SINAIS CLÍNICOS TRIPANOSSOMOSE “Nagana dos bovinos” (Trypanosoma vivax ) • Imunodepressão; • Hipertermia; • Hemorragias; • Palidez de mucosas; • Letargia; • Fraqueza; • Diarreia; • Emagrecimento; • Aborto; • Animais morrem em 5 semanas. Diane Lima SINAIS CLÍNICOS TRIPANOSSOMOSE “Durina” dos equinos (Trypanosoma equiperdum ) • Febre; • Edema da genitália e glândulas mamárias; • Erupções cutâneas; • Edema nas articulações dos jarretes; • SNC: incoordenação e paralisia principalmente dos membros posteriores; Diane Lima DIAGNÓSTICO: História clínica; Teste parasitológico => detecção do tripanossoma no sangue => esfregaço sanguíneo Fase crônica => diminui parasitemia => falso negativo; Testes sorológicos => imunofluorescência e ELISA Teste molecular => PCR TRIPANOSSOMOSE TRATAMENTO: Tratamento sintomático / suporte e uso de tripanocidas; Diminazeno; Isometamídio; Brometo de homídio; Brometo de piritídeo; Diane Lima PREVENÇÃO E CONTROLE Uso de quimioprofiláticos; Brometo de homídio e brometo de piritídeo; Controle dos vetores; Drogas pour on; Armadilhas com inseticidas. TRIPANOSSOMOSE TRICOMONOSE Enfermidade causada por protozoário; Não letal, porém responsável por perdas reprodutivas em bovinos. Diane Lima ESPÉCIE: Trichomonas foetus LOCALIZAÇÃO: trato genital dos bovinos (prepúcio e útero) DESCRIÇÃO: Piriforme; Um núcleo; Três flagelos anteriores e um posterior; Móveis. HOSPEDEIROS: bovinos DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA: cosmopolita Filo: Parabasalia Classe: Trichomonadea Família: Trichomonadidae TRICOMONOSE Diane Lima CICLO BIOLÓGICO: TRICOMONOSE Diane Lima PATOGENIA: TRICOMONOSE No touro: Pequenos nódulos no prepúcio e pênis logo após a infecção Animais com infecções crônicas => ausência de lesões Na vaca: Inicialmente => vaginite => invasão da cérvix e útero; Placentite, aborto, secreção uterina, piometra. Diane Lima SINAIS CLÍNICOS TRICOMONOSE Aborto precoce; Ciclos estrais irregulares; Secreção uterina purulenta; Touros => assintomáticos; Diane Lima EPIDEMIOLOGIA TRICOMONOSE Touros => infecção permanente; Parasitas no útero => eliminados para vagina a cada 2-3 dias antes do estro; Doença autolimitante, porém vacas permanecem portadoras DIAGNÓSTICO História clínica => aborto precoce (entre 1 a 16 semanas de gestação, retornos repetidos ao estro ou ciclos irregulares); Detecção do parasita em fetos abortados, lavado prepucial ou secreção vaginal e uterina; Eliminação intermitente do agente => falso negativo => coleta do material em dias alternados. Diane Lima TRATAMENTO TRICOMONOSE PREVENÇÃO E CONTROLE Tratamento sintomático Repouso sexual por 3 meses => doença autolimitante em vacas; Touros => descarte Inseminação artificial com sêmen de doadores negativos; Caso opte pelo retorno da monta natural: Testar touros; Descartar vacas recuperadas; diane.lima@fsg.edu.br
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