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Teorias da Evolução e Evolução Humana Capítulo 20 20.1 A origem da vida 664 20.1.1 Hipóteses sobre a origem da vida na Terra 664 20.2 As teorias da criação especial e da evolução 666 20.2.1 Darwin e a teoria da evolução por seleção natural 666 20.2.2 A teoria da evolução no século XX e suas releituras 669 20.2.3 As teorias da evolução no século XXI: em evolução 670 20.2.4 Depois da teoria da evolução por seleção natural, a da seleção sexual 670 20.3 Evolução social 671 20.3.1 Tipos de interação social 671 20.3.1.1 Altruísmo e seleção de parentesco 671 20.4 Evolução biológica, espécie e especiação 671 20.4.1 Conceito de evolução biológica e processo evolutivo 671 20.4.2 Espécie, especiação e mecanismos de isolamento reprodutivo 672 20.4.2.1 Espécie 672 20.4.2.2 Especiação e árvore filogenética 672 20.4.2.3 Mecanismos de isolamento reprodutivo e geográfico 673 20.5 Filogenias dos seres vivos 674 20.5.1 Inferência de filogenias e construção de árvores filogenéticas 674 20.5.1.1 Problemas e soluções na inferência de filogenias e na construção de árvores filogenéticas 675 20.6 A evolução ao longo dos registros fósseis 676 20.6.1 Evidências da evolução 676 20.6.2 Panorama da evolução ao longo da escala do tempo geológico 677 20.7 A evolução humana 679 20.7.1 Evolução morfológica 679 20.7.1.1 Classificação científica dos humanos 679 20.7.1.2 Reconstruindo a filogenia dos humanos e dos hominoides com base em evidências morfológicas 681 G e n é ti ca H u m a n a 6 6 2 Caso clínico C.R. era o penúltimo dos seis filhos de Roberto e Suzana, sendo que quatro eram meninas e dois eram meninos, mas nenhum tão travesso e turbulento quanto C.R. De- vido a esse comportamento, às vezes ficava de castigo, e, em uma ocasião, tentou quebrar as janelas do quarto no qual estava trancado. Costumava buscar atenção com an- siedade, queria elogios, e muitas vezes se sentia culpado por isso. Aos 8 anos, entrou na escola, onde também fazia de tudo para despertar atenção e surpresa: contava histó- rias tremendas sobre animais e plantas, falava de aves es- tranhas e dizia ser capaz de mudar a cor das flores. Pouco depois desse início escolar, sua mãe faleceu, C.R. chorou muito, sendo consolado por sua irmã mais velha; depois do enterro, os sentimentos dos filhos foram reprimidos, não podendo nem mesmo mencionar o nome da mãe, que morrera de câncer. A partir de então, seu pai fazia a vida da prole girar ao redor dele. Ainda havia certa ternura, mas sua falta de tato tornou os filhos temerosos e tensos. Na adolescência, C.R. era considerado “velho para sua idade”. Continuava ávido por agradar, mas ansioso por evitar sofrimentos; não gostava de esportes, todavia fazia longas caminhadas. Era considerado por seu pai como um jovem de nível intelectual abaixo da média, que só se in- teressava por cães, caçadas e captura de ratos. Ingressou no curso de medicina, frequentando-o durante dois anos, quando seu pai percebeu que ele não gostava do curso e sugeriu que fosse ser padre. Segundo C.R., os três anos em que teve vida eclesiástica foram os mais alegres de sua vida, pois tinha boa saúde e estava sempre animado. Depois de deixar o sacerdócio, e após uma longa e proveitosa viagem a regiões que lhe eram desconhecidas, C.R. casou-se e passou a se dedicar ao trabalho científico referente a essa viagem. Simultaneamente, começou a ter mal-estares frequentes, às vezes acompanhados de ecze- mas, inchaços e bolhas na pele. C.R. pensava que esses problemas poderiam ser devidos à vida agitada que leva- vam na capital. O casal mudou-se para o interior, onde teve vida metódica e solitária, já que, quando faziam ou recebiam visitas, C.R. tinha violentos calafrios e ataques de vômito. À medida que avançava em seu trabalho, sua saúde piorava, com uma sensação de medo, cólicas vio- lentas, dores de cabeça, tremores incontroláveis, sudore- se e perturbações nos batimentos cardíacos. Tornou-se melancólico e mal-humorado, apesar de ser gentil com todos. Além disso, tinha receio da repercussão da obra que estava escrevendo, pois contrariava algumas ideias filosóficas vigentes. Aproximadamente 20 anos depois de iniciar seu trabalho científico, C.R. não pôde comparecer ao lança- mento do livro, por estar de luto devido à morte do filho mais novo (o casal teve 10 filhos), mas também por terem voltado as dores gastrintestinais e os demais problemas de saúde que o deixavam prostrado e inativo. Ao procurar atendimento clínico, o próprio C.R., com mais de 50 anos, apresentou uma lista de seus males, sofridos durante 25 anos: “convulsões extremas diárias, flatulência noturna, vômitos ocasionais ou prolongados; vômitos precedidos por calafrios, badaladas ou zumbidos nos ouvidos, choro histérico, sensação de desfalecimen- to; urina copiosa de cor muito clara; foco e pontos pretos oculares e cansaço que levam aos sintomas neurológicos, como dores de cabeça, além disso, fico nervoso quando minha esposa me deixa só, tudo isso gerando falta de pro- dutividade no trabalho”. 20.7.2 Evolução molecular 681 20.7.2.1 Comparando cromossomos 681 20.7.2.2 Comparando sequências de DNA 683 20.7.2.3 Comparando sequências de proteínas 684 20.7.2.4 Comparando genomas 684 20.7.2.5 Reconstruindo a filogenia dos humanos e dos hominoides com base em análises moleculares 684 20.7.2.6 E quais são as diferenças genéticas que caracterizam separadamente os humanos e os chimpanzés? 685 20.7.3 Principais aspectos da evolução dos proto-hominoides 686 20.7.4 Os ancestrais dos humanos atuais 688 20.7.4.1 O possível ancestral hominíneo mais antigo: Sahelanthropus tchadensis 689 20.7.4.2 Ancestrais hominíneos antigos 689 20.7.4.3 Ancestrais hominíneos recentes: humanos antigos 691 20.7.4.4 Ancestrais hominíneos mais recentes: humanos atuais 691 20.7.4.5 Árvores filogenéticas dos humanos 693 20.7.4.6 Hipóteses sobre a origem do Homo sapiens 695 20.7.4.7 Os hominíneos nas Américas 695 20.7.5 Humanos em perspectiva 695 6 6 3 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a Na consulta, além de querer saber qual era verda- deiramente a sua doença, C.R. desejava saber se os três filhos que morreram (com 10 anos, 1 ano e meio e menos de 1 mês) poderiam ter doenças resultantes do fato de ele e sua esposa serem primos-irmãos. Fonte: Elaborado sobre dados de Desmond e Moore.1 Comentário Com base somente nos dados do Caso clínico, não é pos- sível efetuar-se o diagnóstico exato da doença de C.R. No entanto, alguns autores, como Sabbatini,2 por exemplo, relacionam várias hipóteses diagnósticas compatíveis com os sinais e sintomas apresentados pelo paciente: doença psicossomática, hipocondria, transtorno de ansie- dade, fobia social, transtorno de pânico com agorafobia, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno depressi- vo, deficiência de lactase intestinal, doença de Chagas, doença de Ménière ou uma combinação de doenças, como hipocondria + depressão + transtorno de pânico. A doença psicossomática é causada ou agravada por estresse psíquico, geralmente involuntário e inconscien- te, acompanhado de certas alterações do sistema nervoso vegetativo e envolvimento de diferentes sistemas orgâni- cos. Neste Caso clínico, há alterações do sistema nervo- so vegetativo e do sistema digestório, mas essa hipótese diagnóstica é bastante vaga. A hipocondria é o resultado da focalização compul- siva do pensamento e das preocupações no próprio esta- do de saúde, frequentemente acompanhada de sintomas que não podem ser atribuídos a uma doença orgânica es- pecífica. C.R. apresenta sintomas variados, não restritos a uma doença orgânica específica, mas mostra períodos em que seu foco não é primordialmente o próprio estado de saúde. O transtorno de ansiedade caracteriza-se por vários sintomas, alguns mostrados pelo paciente (preocupação, apreensão, tremores e/ou calafrios, taquicardia, náusea,retraimento social e inatividade), com envolvimento de outros sistemas orgânicos (no caso, sistema digestório). Esse transtorno subdivide-se em uma gama de variantes, como a fobia social, o transtorno de pânico com agorafo- bia e o transtorno obsessivo-compulsivo, cujas caracterís- ticas podem ser conferidas no Capítulo 16. Os transtornos depressivos (ver Cap. 16) também são compatíveis com alguns sintomas de C.R., sobretudo o transtorno distímico, cujos sintomas são bastante seme- lhantes a alguns dos apresentados pelo paciente: ansieda- de, culpa, reclusão social, depressão, inatividade, choro e abatimento geral. O fato de C.R. apresentar cólicas gastrintestinais e flatulência noturna fez surgir a hipótese diagnóstica de intolerância à lactose por deficiência/ausência de lacta- se intestinal, enzima que degrada o principal açúcar do leite (lactose), mas os sintomas referidos não estão res- tritos a esse distúrbio metabólico, podendo ocorrer em outras afecções. A doença de Chagas é causada por um parasita, o Tripanosoma cruzi, transmitido pela picada do “barbei- ro”, um inseto hematófago triatomídeo. A doença tem esse nome por ter sido descoberta por Carlos Chagas, um importante cientista biomédico brasileiro, que honrou o parasita com o nome de outro ícone da ciência nacional, Oswaldo Cruz. C.R. poderia ter contraído a doença ao ser picado por um “barbeiro” durante a longa viagem que fez antes de se casar, visto que apresenta alguns sinais e sintomas dessa doença: mal-estar constante, fraqueza, sensação de desmaio e morte, insônia, dores de cabeça, espasmos, tremores e convulsões, calafrios, vertigens e tonturas, manchas negras diante dos olhos, taquicardia, poliúria (urina abundante e de cor pálida), ataques vio- lentos de náusea, vômitos frequentes (em alguns casos se prolongando por dias ou semanas), flatulência noturna, zumbidos nos ouvidos, crises súbitas de eczema, inchaços em várias partes do corpo e bolhas na pele. A doença de Ménière atinge o sistema vestibular (que regula o equilíbrio corporal) e se caracteriza por ver- tigem, diminuição da audição, zumbidos, desconforto a sons intensos e mal-estar, sintomas também presentes no quadro clínico de C.R. Por ser dado a caçadas, talvez tivesse sofrido um trauma acústico, causado pelo disparo das armas de fogo quando jovem. No entanto, à vista de sua sintomatologia, C.R. tam- bém poderia ter uma combinação de doenças que se so- brepuseram ao longo da vida, como doença de Ménière + transtorno depressivo + transtorno de pânico com agora- fobia, ou hipocondria + doença de Chagas + fobia social, por exemplo. Quanto à indagação de C.R., sendo primo em primei- ro grau de sua esposa, tem 1/8 de seus genes em comum com ela, existindo a probabilidade de 1/16 de homozigose em sua prole. A morte das três crianças poderia ter causas diversas (gênicas, cromossômicas, epigenéticas ou am- bientais), mas, sem dúvida, a consaguinidade favorece o aumento na frequência de homozigotos recessivos para genes deletérios. G e n é ti ca H u m a n a 6 6 4 20.1 A origem da vida3-6 A vida surgiu no planeta Terra, talvez pela existência de uma atmosfera gasosa e água. O período exato em que se iniciou a vida na Terra é indeterminável, assim como a idade do planeta, porque já não há rochas do tempo de sua formação; as rochas mais antigas, localizadas na Groenlândia, datam de 3,8 bilhões de anos. Contu- do, por meio de datação radiométrica de meteoritos, estima-se que a Terra, nascida dos fragmentos rochosos que circundavam o Sol, tenha aproximadamente 4,6 bi- lhões de anos. Após um longo período de tempo em que nosso planeta cresceu de modo violento, sofrendo impactos constantes de meteoritos, fragmentações e aquecimen- to, houve uma confluência de condições que permitiram o surgimento da vida: temperatura certa, proximidade adequada do Sol, resfriamento e solidificação da super- fície externa, formando a crosta terrestre, e resfriamento e condensação do vapor de água liberado do interior do planeta, formando os oceanos. 20.1.1 Hipóteses sobre a origem da vida na Terra Surgiram algumas hipóteses sobre quando e como teria surgido o primeiro ser vivo da Terra nessas condições fí- sicas. O primeiro organismo dotado de vida, denominado forma primordial, teria surgido há cerca de 4 bilhões de anos – em um pequeno lago tépido com sais de amônia e fósforo, como sugeria Charles Darwin, no chamado cal- do ou sopa primordial em uma atmosfera sem oxigênio, como preconizavam independentemente A. Oparin na Rússia e J. B. S. Haldane na Inglaterra, ou em camadas de cristais de argila, como pensava A. G. Cairns-Smith –, mas não deixou vestígios, apenas evidências indiretas, que os cientistas procuram juntar, como se fossem peças de um quebra-cabeça ou pistas de um romance policial. Sete pistas para a origem da vida À maneira de um romance policial, Cairns-Smith7 re- sume, em sete pistas, a origem da vida. � Primeira pista – Só a informação genética pode evoluir por meio da seleção natural, porque só ela é transmitida, em longo prazo, de geração para geração. Se bem que esteja contida em um material genético, a informação genética em si não é substância, é forma; mas é uma espécie de forma que, sendo replicável, pode sobreviver além da própria substância. A evolução só pode começar se existir esse tipo de forma – quando existem condições para a réplica da informação genética. Essa primeira pista (da biologia) foi a mais im- portante, pois situou a questão e sugeriu uma res- posta, em traços gerais, ao problema de se saber como terão sido os primeiros organismos. Devem ter sido “genes despidos”, ou algo semelhante. � Segunda pista – O DNA é uma molécula suburbana, muito afastada do centro das vias bioquímicas atuais, o mesmo podendo ser dito quanto ao RNA. São moléculas difíceis de produ- zir; mesmo para fabricar apenas as suas unidades nucleotídicas a partir das mais simples moléculas bioquímicas são necessárias muitas etapas. Tudo isso sugere o aparecimento relativamente tardio para essas moléculas que atualmente têm um do- mínio incontestável. Essa segunda pista (da bioquímica) parecia estar em conflito com a primeira, que indicava a presença de um material genético operante desde o início. Mas a solução desse conflito seria o cami- nho a seguir. � Terceira pista – Para fazer um arco de pedras são necessários andaimes de um tipo que suporte as pedras antes de estarem todas em seu lugar e poderem sustentar umas às outras. Em uma cons- trução, é comum se utilizarem coisas que estarão ausentes da obra finalizada. Identicamente, na evolução, há coisas que podem ser subtraídas. Essa terceira pista (das técnicas de construção) aludia à eventualidade de um agente ausente, de um “andaime” primário – uma configuração de organismo mais primitiva no início da evolução. E surgiu como muito possível que esses organismos primitivos tivessem surgido de um material gené- tico completamente ausente da nossa bioquímica. � Quarta pista – Nenhuma das fibras de uma corda precisa estar esticada de uma extremida- de à outra, desde que estejam suficientemente entrelaçadas para se segurarem mutuamente pelos lados. As longas linhas de sucessão que nos ligam a antepassados distantes são como cordas de multifibras, no sentido de que o que é passado de uma geração a outra são coleções de genes “entrelaçados”, mas é possível acrescentar ou subtrair novas fibras (genes) sem afetar a conti- nuidade global. Essa pista (da natureza das cordas) sugeriu o modo de evolução de organismos com um mate- 6 6 5 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a Segundo a maioria dos pesquisadores, a forma pri- mordial surgiu na Terra, mas há quem defenda a hipóte- se da Panspermia, como McKay, por exemplo, segundo a qual a vida poderia ter-se originado sob a forma de um micróbio, em um local diferente, como outro planeta do nosso sistema solar, uma lua de Júpitere até mesmo outro sistema solar. Outra variante dessa hipótese, no caso de- fendida por Crick e Orgel, é a de que os micróbios funda- dores da Terra teriam sido enviados intencionalmente por seres extraterrestres dedicados a semear vida na galáxia. A partir do modelo de Oparin-Haldane, novas pes- quisas que envolviam observações e experimentos leva- ram à hipótese do Mundo de RNA, que propõe moléculas catalíticas de RNA como uma forma de transição entre a matéria inanimada e as primeiras células, precedendo, assim, o DNA e as proteínas na origem da vida. Outras evidências de que o RNA é antigo são, por exemplo, seu papel atual na replicação do DNA e no metabolismo ce- lular, executando as atividades catalíticas da síntese pro- teica; o envolvimento dos trifosfatos de ribonucleosídeos em quase todas as reações de transferência de energia na maioria das células; e a capacidade de estocar a informa- ção hereditária. No entanto, ainda não foi demonstrada a característica da autorreplicação no RNA, apesar de mui- tas pesquisas realizadas com essa finalidade. Atualmente, alguns pesquisadores consideram que o Mundo de RNA não surgiu como uma novidade em um lago tépido, mas sim como uma etapa tardia de uma li- nhagem evolutiva derivada de um sistema genético mais simples, que se originou em um sistema abiótico desor- denado. Mais informações podem ser encontradas em Dawkins,3 Fortey4 e Freeman e Herron.5 rial genético para outros com materiais genéticos totalmente diferentes. � Quinta pista – A maquinaria primitiva normal- mente é diferente da maquinaria moderna equi- valente. A máquina primitiva (de baixa tecnologia) tem de ser fácil de construir a partir de materiais imediatamente disponíveis, e simplesmente tem de funcionar. A máquina moderna (de alta tecnologia) tem de funcionar bem, mas não tem de ser fácil de montar; pode ser constituída de componentes espe- cializados que trabalham em colaboração. Essa pista (da história da tecnologia) acarretou a suspeita de que os primeiros organismos teriam sido muito diferentes dos organismos atuais, pro- vavelmente com materiais de construção também muito diferentes. � Sexta pista – Os cristais são construídos por eles mesmos, de um modo que poderia ser apro- priado aos materiais genéticos de “baixa tecnolo- gia”. As moléculas orgânicas apresentam sinais muito fracos de possuírem o autocontrole ade- quado, mas teriam descoberto uma forma de se empilharem, como em uma automontagem, sob certas condições: temperatura adequada, con- centração de moléculas suficientemente elevada, boa adesividade entre as moléculas, com forças reversíveis de ligação, não devendo existir à volta muitos tipos diferentes de moléculas. Essa pista (da química) mostrou a direção da pesquisa de materiais bioquímicos primitivos. � Sétima pista – A Terra fabrica argila perma- nentemente, com minúsculos cristais que crescem a partir de soluções aquosas resultantes da desa- gregação de rochas duras. Esses tipos de cristais inorgânicos parecem ser mais apropriados do que as moléculas orgânicas para constituir não só os genes primitivos, mas também outras estruturas de controle. O significado dessa pista (da geologia) depende de todas as outras. A ideia de que a argila, o mais terreno dos materiais, teria sido a matéria-prima da primeira vida não é nova – ele se encontra na Bíblia. O que é novo é a nossa compreensão de como é interessante, variado e complicado esse tipo de material, quando observado por meio de uma lente superpotente. Existem dois grandes ciclos que acionam a máquina de produzir argila: o ciclo da água, alimentado pelo Sol, e o ciclo do calor interno gerado pela Terra, transformando alguns depósitos de argila em temperaturas e pressões muito altas. A maioria dos minerais da argila é constituída de silicatos em camadas, com duas configurações fundamentais (caulinite e moscovite). Recapitulando, havia sete suspeitas em relação ao nosso antepassado mais remoto, as mais heréticas sendo a quarta e a quinta: (1) o nosso antepassa- do mais remoto foi um produto da Terra; (2) esse produto tinha capacidade de evoluir sob a ação da seleção natural e (3) seus componentes não eram muito interdependentes; (4) a transmissão genética proporcionou uma forma de transição para o sistema estruturado que conhecemos hoje; pelo menos um dos componentes atuais, o nucleotídeo, não poderia estar presente nos organismos mais primitivos; (5) os nossos antepassados mais remotos eram feitos de ma- teriais muito diferentes dos existentes nos organismos modernos, (6) mas as formas de vida mais simples evoluídas eram capazes de produzir os nossos compo- nentes bioquímicos atuais; e (7) o dióxido de carbono era a fonte original do fornecimento de carbono. G e n é ti ca H u m a n a 6 6 6 20.2 As teorias da criação especial e da evolução De onde surgiu a surpreendente variedade de organis- mos que vivem na Terra, inclusive os seres humanos? As opções mais frequentes de resposta costumam ser: � que a vida na Terra sempre existiu em sua forma atual, desde o início do tempo; ou � que a vida na Terra passou por evolução, isto é, de- senvolvimento dos organismos pelo qual passam gra- dualmente de um estado a outro, ao longo do tempo. Se a pergunta for relacionada diretamente com a ori- gem e o desenvolvimento dos seres humanos, as respos- tas mais frequentes são: � que Deus criou os seres humanos praticamente na forma presente, em algum momento dos últimos 10 mil anos; � que os seres humanos se desenvolveram ao longo de milhões de anos a partir de formas de vida mais sim- ples, mas Deus conduziu esse processo; ou � que os seres humanos se desenvolveram ao longo de milhões de anos a partir de formas de vida mais sim- ples, sem o papel de Deus nesse processo. As respostas a essas questões indicam duas tendên- cias ou proposições principais: o criacionismo e o evolu- cionismo. A fim de comprovar, ou não, a veracidade das duas proposições mencionadas, os cientistas estudaram os diversos campos da Biologia. Os paleontólogos exami- naram os vestígios fósseis, os naturalistas observaram as plantas e os animais em seus habitats, e os geólogos rea- lizaram os cálculos da idade do planeta e dos depósitos fósseis encontrados em suas camadas geológicas. A partir desses esforços de investigação, surgiram duas teorias a respeito da origem e evolução da vida, cada uma com variantes decorrentes de posicionamentos teó- ricos diferenciados. Por exemplo, Pigliucci8 menciona e analisa nove posições que vão desde a criação especial com a aceitação completa do que contém a Bíblia até a evolução materialista com base na ciência. De um lado, surgiu a teoria da criação especial, ou teoria fixista, que sustenta que as espécies foram criadas independente e recentemente, e não mudam com o passar do tempo. Essa teoria emergiu de uma leitura quase literal do Livro da Gênese, da Bíblia. Com o avanço do conhecimento científico, a teoria criacionista se tornou insuficiente para explicar as novas observações dos seres vivos ou fossilizados, de tal modo que lentamente, no século XVII, começaram a surgir as ideias que confluíram na teoria evolucionista, no século XIX. Assim, apareceu a teoria da evolução por sele- ção natural, também conhecida atualmente como teo- ria da descendência com modificações, que afirma que as espécies mudaram e continuam mudando ao longo do tempo, e se relacionam por descendência de um ances- tral comum. 20.2.1 Darwin e a teoria da evolução por seleção natural A partir de suas próprias ideias e das de alguns anteces- sores – como os naturalistas franceses Georges-Louis Leclerc de Buffon e Jean-Baptiste Lamarck, seu avô, o médico inglês Erasmus Darwin, e Thomas Robert Mal- thus, que preconizou o malthusianismo –, Charles Ro- bert Darwin (1809-1882) reuniu evidências de que o padrão da história da vida é diferente do proposto pela criação especial, e sistematizou suas ideias na teoriaevolucionista. Na verdade, Darwin (Fig. 20.1) desenvolveu sua teoria em 1838, com dados coletados durante uma via- gem de cinco anos no navio H.M.S. Beagle; no entanto, só a publicou 20 anos depois. Segundo o próprio pesqui- sador, apesar de considerar incompleto o seu trabalho, tornou-o conhecido porque Alfred Russell Wallace, outro naturalista que estudava o arquipélago malaio, chegou independentemente a conclusões semelhantes às suas so- bre a origem das espécies. Assim, seus amigos cientistas Charles Lyell e Joseph Dalton Hooker enviaram os ma- nuscritos de ambos os naturalistas à Sociedade Linneana de Londres em 1858, e, no ano seguinte, Darwin publicou seu livro, A origem das espécies. Figura 20.1 Charles Robert Darwin, aos 31 anos de idade, em aquarela de George Richmond (1840). Fonte: Ridley.6 6 6 7 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a Segundo Gould,9 o mundo ficou diferente a partir de Darwin, porque: 1. ele criou um dos mais importantes paradigmas da biologia moderna, o de que a evolução dos seres vi- vos se dá principalmente pela ação da seleção natural sobre variantes hereditárias; 2. analisou um mundo de fatos, tornando seus livros um notável repositório de informações sobre geolo- gia, zoologia e botânica; 3. revelou, em sua obra, o amor e o entusiasmo pela ati- vidade que exerceu ao longo de toda a sua vida. As teorias criacionista e evolucionista formulam di- ferentes princípios quanto à origem das espécies e sua possível modificação, à idade da Terra e ao surgimento da vida. A Tabela 20.1 mostra as principais diferenças entre ambas as teorias; há também características dessas duas teorias em Aspectos controversos do criacio- nismo e do evolucionismo. Na teoria evolucionista, o processo que explica a mu- dança das espécies e sua adaptação à vida é a seleção na- tural, assim conceituada por Darwin:10 Pode-se indagar ainda como é que as variedades, que eu denomino espécies nascentes, acabaram por se transformar em espécies verdadeiras e distintas […]; como se formam estes grupos de espécies que constituem o que se denomina gêneros distintos […]? Todos estes efeitos […] derivam de uma causa: a luta pela sobrevivência. Devido a esta luta, as variações […] tendem a preservar os indivíduos de uma espécie e transmitem-se comumente à descendência […]. Os descendentes terão, por si mesmos, em virtude dis- so, maior probabilidade de sobrevida […]. Dei a este preceito, em virtude do qual uma variação, por mí- nima que seja, se conserva e se perpetua, se for útil, a denominação de seleção natural […]. Freeman e Herron5 assim resumem os quatro postu- lados da teoria da evolução por seleção natural: 1. nas populações, os indivíduos são variáveis; 2. as variações entre os indivíduos são transmitidas, pelo menos parcialmente, dos genitores à prole; 3. em cada geração, alguns indivíduos são mais bem- -sucedidos do que outros na sobrevivência e na re- produção; e Tabela 20.1 Principais diferenças entre as teorias criacionista (teoria da criação especial) e evolucionista (teoria da descendência com modificações) Teoria criacionista Teoria evolucionista A Terra e a vida são recentes Terra: ! 6.000 anos Vida: ! 6.000 anos A Terra e a vida são antigas Terra: ! 4,6 bilhões de anos Vida: ! 3,5 bilhões de anos A criação especial não é um processo dependente do tempo A evolução é um processo dependente do tempo Cada espécie é criada separadamente As espécies originam-se de ancestrais comuns As espécies não mudam As espécies mudam ao longo do tempo Processo responsável por essa criação: ser planejador superior Processo responsável por essa evolução: seleção natural Fonte da teoria: Bíblia e religião Fonte da teoria: fatos observados e ciência Aceita explicações sobrenaturais para fatos naturais Não aceita explicações sobrenaturais para fatos naturais Não explica a presença de órgãos vestigiais (p. ex., o cóccix humano) Explica a presença de órgãos vestigiais; o cóccix é um osso remanescente da cauda do ancestral Não explica a diferença entre as formas fósseis e as formas atuais Explica a diferença entre as formas fósseis e as atuais, como mudanças evolutivas Explica as extinções de plantas e animais por uma série de dilúvios semelhantes ao evento bíblico de Noé Explica as extinções de plantas e animais como resultantes da ação da seleção natural Não explica a maior semelhança entre as formas vivas e fósseis da mesma região, do que entre as formas vivas de regiões diferentes Explica essa semelhança: as formas vivas se originaram, com modificações, de formas anteriores Não explica a existência de formas de transição entre as espécies anteriores e as descendentes Explica as formas de transição, com traços das espécies anteriores e traços das espécies atuais Não considera a ancestralidade comum Sustenta que as espécies não são independentes, mas relacionadas por descendência a partir de um ancestral compartilhado Não explica as homologias entre diferentes espécies A ancestralidade comum explica as homologias, por exemplo, entre os membros anteriores de diferentes vertebrados Não explica as homologias em nível molecular (p. ex., o código genético) Explica as homologias em nível molecular, como o código genético, que é idêntico em quase todos os organismos Não explica a adaptação (característica que aumenta a capacidade de sobrevivência e reprodução de um indivíduo em seu ambiente) A evolução, pela seleção natural, explica a adaptação Fonte: Dawkins,3 Freeman e Herron,5 Ridley6 e Darwin.11 G e n é ti ca H u m a n a 6 6 8 4. a sobrevivência e a reprodução dos indivíduos não são aleatórias; ao contrário, estão ligadas às varia- ções individuais, portanto os indivíduos com varia- ções mais favoráveis em sobrevivência e reprodução são selecionados naturalmente. A propósito da seleção natural, Futuyma12 refere que Charles Lyell a comparava à deusa hindu que tinha três faces: Shiva, a destruidora, Vishnu, a conservadora, e Brama, a criadora. Como Shiva, a seleção natural destrói os indivíduos não adaptados (assim, elimina os porta- dores de mutações prejudiciais quando não sobrevivem, nem se reproduzem); como Vishnu, tende a manter uma espécie em seu status quo (se o tamanho corporal médio tem vantagem em uma população, elimina os indivíduos Aspectos controversos do criacionismo e do evolucionismo Alguns autores, como Freeman e Herron,5 ressaltam os três principais componentes da controvérsia recor- rente em praticamente todas as discussões do criacio- nismo e do evolucionismo: (1) o segundo princípio da termodinâmica, (2) a origem da vida e (3) a chamada explosão do período Cambriano (geralmente associa- da à questão do registro fóssil incompleto), em que apareceram rapidamente muitos animais grandes e complexos. Essa tríade de componentes é paradigmá- tica do que é demasiadamente difícil para que os pes- quisadores expliquem ao público e do que é demasia- damente fácil para que os criacionistas o interpretem mal e utilizem em seu próprio favor. O segundo princípio da termodinâmica prediz uma redução da ordem no universo. Para o criacionis- mo, esse princípio deve ser rechaçado, uma vez que a evolução causa um aumento na ordem do universo; já para o evolucionismo, o referido princípio é compa- tível com a evolução, porque o aumento na ordem se limita a uma pequena porção do universo, ao mesmo tempo em que este, como um todo, aumenta a sua desordem. Sobre a origem da vida, para o criacionismo, a teoria evolucionista deve estar errada, visto que os evolucionistas não podem explicar a origem da vida, e deve existir um ato de criação direta por um ser sobre- natural. Para o evolucionismo, a origem da vida é um problema complexo com poucos indícios disponíveis, que pode ou não ser resolvido pela ciência, sem que isso influa na validade da teoria evolucionista ou que signifique a existência de seres sobrenaturais. Com respeito à explosão do períodoCambriano e ao registro fóssil incompleto, para o criacionismo o surgimento repentino de formas de vida no início desse período é prova da criação especial de todos os seres vivos por Deus; para o evolucionismo, a explo- são do Cambriano é um dos numerosos exemplos de mudanças relativamente rápidas, mas não milagrosas, que caracterizam a história da vida na Terra. Apesar das densas evidências a favor da teoria da descendência com modificações, a negação da evo- lução ainda persiste no meio científico, embora com maior frequência entre os religiosos e a população ge- ral. Na realidade, não há um debate científico; existe uma diversidade de controvérsias: religiosa, ideológi- ca, política e cultural. Darwin mostrava uma grande preocupação com o sentimento religioso, escrevendo, quase ao fim de A origem das espécies, que não via uma razão sequer para que suas opiniões ferissem o sentimento religioso de qualquer pessoa. Pigliucc8 apresenta a progressão cronológica das táticas criacionistas contra a evolução, iniciando com a controvérsia Huxley-Wilberforce (a evolução con- tradiz a Bíblia), nos anos 1860, e chegando às ideias de William Dembski e Michael Behe sobre a comple- xidade irredutível (o planejamento inteligente como alternativa à ciência naturalista), no século XXI. No último terço do século XIX, a controvérsia evolução-criação expandiu-se da Europa para os Estados Unidos, onde ainda permanece. No século XX, as mudanças políticas conservadoras, aliadas à ignorância pública em ciência e a crescente militân- cia política da Direita Religiosa, fizeram elevar-se o número de adeptos do criacionismo. Após a Primeira Guerra Mundial, os criacionistas extremistas conde- naram o ensino da teoria evolutiva, porque alegavam causar profundos problemas à sociedade. Muitas leis foram aprovadas contra o ensino do darwinismo. Pode-se dizer que, na década de 1920, os grupos fa- voráveis ao evolucionismo pertenciam aos círculos científicos, fora dos quais fermentava o sentimento antidarwinista. Como observam alguns autores, o século que viu o homem chegar à Lua, assistiu à invenção dos com- putadores e constatou a comunicação humana ilimi- tada pela internet também presencia o ressurgimento do irracionalismo e das superstições, das limitações ao livre pensamento científico, do uso das leis para encobrir ideias racistas, da enganosa educação cien- tífica nas escolas de onde sairão os futuros cidadãos. Essas considerações não são datadas, nem localizadas geograficamente, porque servem para todos os habi- tantes da Terra. 6 6 9 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a menores ou os maiores); como Brama, a seleção natural pode favorecer novas características, atuando como uma força criadora. Vários pesquisadores mencionam que, enquanto o fato da descendência com modificações foi aceito ime- diatamente pelos cientistas contemporâneos de Darwin, o processo da seleção natural não encontrou apoio até a década de 1930. Uma das causas era que a seleção natural depende de variação genética, e, quando a teoria da evo- lução foi divulgada, ninguém sabia genética, exceto Gre- gor Mendel, cujo trabalho sobre a herança em ervilhas- -de-jardim foi ignorado até 1900 (ver Cap. 5). 20.2.2 A teoria da evolução no século XX e suas releituras No século XX, a teoria da evolução por seleção natu- ral, agora com a denominação preferencial de teoria da descendência com modificações, passou por diferentes leituras, à medida que ocorriam novos conhecimentos em genética. Quando Darwin enunciou sua teoria, em 1859, não tinha ideia alguma sobre genética (não conhecia os genes e as mutações, nem seu modo de transmissão), mas essa lacuna pôde ser preenchida no início do século XX, com a redescoberta dos trabalhos de Gregor Mendel e o desen- volvimento da genética de populações, que fornece sub- sídios para se observar a seleção natural em ação. Ainda na primeira metade do século XX, os trabalhos sobre mu- tantes de Drosophila mostraram que pequenas mutações em um organismo podem ter consequências importantes em sua anatomia. Da aproximação da genética mendeliana e de popu- lações à seleção natural, com a contribuição de conhe- cimentos sobre botânica, citologia, embriologia, morfo- logia, paleontologia, sistemática e zoologia, resultou a teoria sintética da evolução, também denominada síntese moderna ou neodarwinismo, que pode ser assim enunciada: nas populações, as variações hereditá- rias, frutos de pequenas mutações, estão sob a ação da seleção natural, que modifica as frequências dos alelos nessas populações, conduzindo à maior adaptação dos seres vivos ao seu ambiente. Segundo a teoria sintética, além da seleção natu- ral e das mutações, outros fatores também contribuem para a evolução: variação no número e na estrutura dos cromossomos, recombinação genética, migração de grupos de indivíduos (ou fluxo gênico) e deriva gené- tica. Esses fatores são abordados nos Capítulos 4, 5 e 8 deste livro. Na segunda metade do século XX, inicialmente com os avanços da genética molecular e depois com as desco- bertas efetuadas pela genômica (ver Cap. 18), tornaram- -se necessárias algumas modificações na leitura da teoria sintética. Por exemplo, a seleção natural se aplicaria não somente ao organismo ou à espécie, como preconizavam Darwin e Wallace, respectivamente, mas também no ní- vel molecular, como sugeria Richard Dawkins. Outros pesquisadores, como Stephen Jay Gould e Douglas R. Taylor, defendiam uma seleção ativa simultaneamente em múltiplos níveis. A Tabela 20.2 resume as releituras da teoria de Darwin. Além disso, no final da década de 1960, surgiu a teo- ria neutralista da evolução molecular, formulada por Motoo Kimura, segundo a qual a maioria das substi- tuições nucleotídicas que se tornam fixadas nas popula- ções é neutra quanto à sua aptidão, e a evolução no nível das sequências de DNA ocorre por deriva genética. Os argumentos dessa teoria basearam-se em três observa- ções: (1) a evolução molecular tem uma taxa rápida; (2) essa taxa apresenta uma constância semelhante à de um relógio, sendo denominada, por isso, de relógio mole- cular; e (3) a taxa de evolução é mais rápida em regiões moleculares funcionalmente menos importantes. Essa teoria originou um debate entre neutralismo e selecionis- mo, isto é, sobre a importância relativa da deriva genética e da seleção positiva (seleção que preserva mutações fa- voráveis) na evolução molecular. Tabela 20.2 A teoria de Darwin e suas principais releituras Teoria Transmissão hereditária Unidade de variação Origem da variação Alvo de seleção Unidade de evolução Darwinismo Gêmulas transferidas do soma para as células sexuais Gêmula Aleatória + induzida no soma Indivíduo (ou o grupo) População de indivíduos Neodarwinismo da teoria sintética Transferência de genes da linhagem germinativa Genes da linhagem germinativa Mutação aleatória Indivíduo População de indivíduos Neodarwinismo molecular Replicação do DNA Sequência de DNA Mudanças aleatórias no DNA Indivíduo (mas também gene, grupo, espécie) Principalmente a população de indivíduos (mas também a população de alelos) Fonte: Adaptada de Jablonka e Lamb.13 G e n é ti ca H u m a n a 6 70 Na década de 1970, Niles Eldredge e Stephan Jay Gould propuseram a teoria do equilíbrio pontuado, segundo a qual haveria períodos de rápida mudança mor- fológica (especiação), intercalados a períodos de estabili- dade adaptativa (estase). Essa teoria divergia da teoria da evolução por seleção natural em um aspecto: enquanto Darwin sugeria que as modificações morfológicas ocorre- riam gradualmente, e atribuía o súbito aparecimento de novas espécies aos registros fósseis incompletos, que não mostravam as transições graduais entre as espécies, El- dredge e Gould sugeriam que toda a variação morfológica ocorreria durante os eventos súbitos de especiação, e fora desses eventos haveria estase.Estudos posteriores mostraram a existência de um padrão de especiação às vezes gradual, outras vezes pon- tual, existindo ainda um terceiro padrão, caracterizado por gradualismo e estase. Portanto, a evolução não mos- tra um único processo típico, mas vários modos de se pro- cessar ao longo do tempo. 20.2.3 As teorias da evolução no século XXI: em evolução Vários autores mencionam que as teorias da evolução com base na seleção natural ou na deriva genética con- tinuam evoluindo a cada acréscimo de um novo conheci- mento científico. Segundo Hartl e Clark,14 a teoria neutralista foi pro- posta no final da década de 1960, quando havia a ideia de que a maior parte do genoma teria a função de codificar proteínas, e os íntrons e outras sequências não codifi- cadoras não eram conhecidos. Atualmente, sabe-se que apenas uma pequena parte do genoma de mamíferos, por exemplo, codifica proteínas. A baixa densidade de regiões codificadoras permite que uma grande quantidade de mutações tenha pouco ou nenhum efeito no valor adapta- tivo, incluindo algumas mutações em íntrons, pseudoge- nes, DNA não codificador, etc. A teoria neutralista originou uma variante, a teoria quase-neutralista, que difere apenas por considerar mutações aproximadamente neutras, não totalmente neutras como preconiza a teoria neutralista, limitando-a a substituições nucleotídicas em regiões de DNA não co- dificador e a mutações silenciosas ou sinônimas (em que a substituição resulta em um códon sinônimo, que não altera o aminoácido) no DNA codificador. De acordo com Freeman e Herron,5 essa teoria expli- ca, hoje, o fato de que as mutações silenciosas são mais abundantes do que as mutações não silenciosas, mas não descarta a fixação de mutações por seleção positiva na evolução molecular de diferentes organismos, como as moscas-das-frutas e os primatas. Além disso, continuamente são obtidos dados genô- micos que poderão ser utilizados na avaliação da proposi- ção, da teoria neutralista, de que a seleção negativa (con- tra mutações deletérias) e a deriva genética predominam na maior parte da evolução molecular. Do mesmo modo que seus objetos de estudo, con- siderados em diferentes níveis, as teorias também con- tinuam evoluindo. Jablonka e Lamb,13 por exemplo, ex- põem suas ideias sobre a evolução em quatro dimensões: além do sistema genético que é a base da teoria sintética, consideram o sistema epigenético (no qual a informa- ção pode ser transmitida às células-filhas, sem envolver alteração nucleotídica do DNA) o sistema de herança comportamental e, entre os seres humanos, o sistema de herança simbólica, especialmente a linguagem e outras formas de comunicação simbólica, como fornecedores de variações sobre as quais a seleção natural pode atuar. 20.2.4 Depois da teoria da evolução por seleção natural, a da seleção sexual Em 1871, Darwin publicou A origem do homem e a sele- ção sexual, chamando a atenção dos evolucionistas para a questão do dimorfismo sexual, isto é, a diferença na for- ma ou no comportamento entre as fêmeas e os machos, e de como o sexo propicia uma explicação para esse dimor- fismo. Os indivíduos variam não apenas em seu sucesso para sobreviver e se reproduzir, mas também em seu sucesso na persuasão de indivíduos do sexo oposto para cruzarem. Darwin denominou seleção sexual o sucesso reprodutivo diferencial devido à variação entre os indiví- duos para conseguir parceiros. A seleção sexual atua de forma diferente entre os se- xos. Na espécie humana, em geral, as mães consomem mais energia e tempo em formar cada descendente e cuidar dele do que os pais, portanto, se considera que elas têm um investimento parental maior em cada des- cendente do que os pais. Por outro lado, o sucesso re- produtivo do genitor que investe mais (no caso, a mãe) é limitado frequentemente pelos recursos e pelo tempo disponível. Em compensação, o sucesso reprodutivo do genitor que investe menos (no caso, o pai) é limitado pelo número de parceiras. Entre os animais, quando a seleção sexual é forte contra um sexo e fraca contra o outro, pode-se predizer que os indivíduos do sexo submetido à forte seleção se- xual serão competitivos, enquanto os indivíduos do sexo submetido à fraca seleção sexual serão exigentes. Nesse caso, podem ocorrer duas situações: (1) realização de combate entre os indivíduos competitivos, cujo vencedor poderá cruzar com o indivíduo do outro sexo (é chamada seleção intrassexual, porque o combate envolve intera- ções entre membros de um único sexo); e (2) os indiví- duos competitivos chamam a atenção dos parceiros do outro sexo pelo canto, dança ou cores atrativas que de- monstram; os membros do sexo oposto então escolhem o indivíduo com a melhor apresentação (denominada se- leção intersexual, porque a escolha envolve a interação entre membros dos dois sexos). O sexo sob seleção fraca (considerado o sexo “exigen- te”) pode ter benefícios diretos e indiretos, como a obten- ção de alimentos de seus parceiros e genes melhores para seus descendentes, entre outros tipos de preferências. 6 71 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a Um terceiro tipo de competição entre os machos é o infanticídio, visto em alguns mamíferos, como os leões. Matando os filhotes de outros machos, os leões machos obtêm mais oportunidades de acasalamento. A teoria da seleção sexual foi desenvolvida para ex- plicar o dimorfismo sexual entre os animais, mas se apli- ca também às plantas, em que o sucesso reprodutivo é mais limitado pelo acesso aos polinizadores do que pela produção de sementes. Isso pode causar dimorfismo se- xual, em que as flores masculinas são mais vistosas do que as femininas. Entre os seres humanos, há indicações de que a se- leção sexual é mais forte nos homens do que nas mulhe- res. No entanto, não está claro se a seleção sexual ajuda a manter o dimorfismo sexual no tamanho corporal dos humanos. Os homens competem pelas parceiras, mas nem sempre vencem os de maior tamanho corporal. As mulheres são exigentes, existindo alguns dados de que têm uma leve preferência por homens mais altos. 20.3 Evolução social Em geral, as interações sociais trazem cooperação, mas também conflitos. Em qualquer interação social, o agente afeta o receptor da ação e a si próprio. Os custos e bene- fícios das interações sociais são medidos em termos de aptidão (número de prole sobrevivente). 20.3.1 Tipos de interação social De modo resumido, os tipos de interação social são apre- sentados na Tabela 20.3. Na cooperação ou mutualis- mo, ambos os participantes obtêm ganhos. O altruísmo resulta no sacrifício do agente em benefício do receptor. No egoísmo, ocorre o contrário: o agente é beneficiado e o receptor perde. No comportamento que resulta em pre- juízo para o agente e o receptor (despeito), há perda de aptidão para ambos. Esse último tipo é raro, pois um ale- lo que resulte em perda de aptidão para o agente e o re- ceptor seria eliminado rapidamente pela seleção natural. 20.3.1.1 Altruísmo e seleção de parentesco O altruísmo é um tipo de comportamento bastante co- mum, mas o próprio Darwin o considerava difícil de explicar pela ação da seleção natural. A solução que ele sugeriu foi a de que a seleção poderia favorecer caracte- rísticas que causassem uma diminuição da aptidão indi- vidual, se elas aumentassem a sobrevivência e o sucesso reprodutivo dos parentes próximos do indivíduo altruís- ta. Esse tipo de seleção foi, posteriormente, denominado seleção de parentesco, com base em ganhos indiretos na aptidão. A aptidão total de um indivíduo é denomina- da aptidão inclusiva, que comtém dois componentes: a aptidão direta, que resulta da reprodução individual, e a aptidão indireta, que resulta da reprodução adicional dos parentes possibilitada pelas ações desse indivíduo. O comportamento resultante em ganhos de aptidão indireta é favorecido pela seleção de parentesco. A partir de cálcu- los matemáticos, pode-se verificar queo altruísmo tem maior probabilidade de se propagar quando os benefícios para o receptor são grandes, o custo para o agente é baixo e os participantes são parentes próximos. O comportamento altruísta pode ser constatado nos avisos de alarme de aves e mamíferos, por exemplo. Além disso, Darwin havia reconhecido que os insetos sociais, como as abelhas, as vespas e as formigas, constituem um modelo de uma forma extrema de altruísmo reproduti- vo, pois muitas formigas e abelhas operárias jamais se reproduzem, sendo exclusivamente auxiliares do ninho de seus genitores. As formigas operárias, por exemplo, além de serem estéreis, diferem muito dos machos e das fêmeas férteis em sua forma do tórax, ausência de asas e, às vezes, de olhos, e no instinto. Entre as operárias, exis- tem diferentes castas, segundo suas funções específicas de auxiliares ou soldados. Existem várias hipóteses para explicar esse tipo extremo de altruísmo, que podem ser encontradas em Freeman e Herron5 e Ridley.6 Nas aves e nos mamíferos, cujos cuidados parentais são prolongados, podem surgir conflitos sobre os investi- mentos parentais. Por exemplo, em mamíferos, no con- flito do desmame, são frequentes os comportamentos agressivos e a evitação, ao final do período de amamen- tação. As mães ignoram ou rejeitam os filhotes quando tentam mamar, e a prole revida com gritos ou ataques às mães. Esse conflito é devido à assimetria de interesses adaptativos dos genitores e da prole. No início da lacta- ção, o benefício para a prole é elevado em relação ao custo para a genitora; à medida que a lactação continua, essa relação decresce, pois os filhotes crescem e necessitam de mais leite, o que aumenta o custo do cuidado, bem como se tornam mais aptos a encontrar seu alimento, o que re- duz o benefício. 20.4 Evolução biológica, espécie e especiação 20.4.1 Conceito de evolução biológica e processo evolutivo A evolução biológica foi conceituada, originalmente, como a descendência com modificações ou a mudança nas características de uma população ao longo do tempo. Tabela 20.3 Tipos de interações sociais O agente se beneficia O agente é prejudicado O receptor se beneficia Cooperativo Altruísta O receptor é prejudicado Egoísta Despeitado Fonte: Freeman e Herron.5 G e n é ti ca H u m a n a 6 72 Atualmente, esse termo refere-se às mudanças genéticas que ocorrem em populações de organismos ao longo do tempo. As mudanças genéticas correspondem, em última análise, às mudanças nas frequências dos alelos nessas populações. Devem ser salientados aqui dois aspectos desse con- ceito: (a) a evolução inclui somente mudanças genéticas e (b) ocorre em populações de organismos; portanto, um organismo individual não evolui, o que evolui é um conjunto alélico (ou pool gênico) comum a um grupo de organismos. Esse conceito é o que se encontra na maior parte da bibliografia consultada.5,15,16 Jablonka e Lamb,14 por outro lado, incluem também as variações epigenéti- cas, que podem sofrer evolução, mesmo que não haja en- volvimento das variações genéticas, e influir na formação de novas espécies. É importante destacar-se que a evolução biológica significa uma mudança orgânica ao longo das gerações, propiciando maior adaptação dos seres vivos ao ambiente em que vivem, mas não sendo sinônima de progresso ou aumento de complexidade morfofisiológica. O processo evolutivo ocorre em duas etapas. A primeira etapa é a da variação genética, que tem origem na mutação, que produz novos alelos, e na recombinação, que embaralha os alelos em novas combinações. Mutação e recombinação são aleatórias e produtoras contínuas de variação genética. A segunda etapa é o aumento e a di- minuição nas frequências de variantes genéticas. Sob a ação de fatores evolutivos (ver seção 20.2.2), alguns ale- los do conjunto alélico da população aumentam sua fre- quência, enquanto outros a diminuem, mudando a com- posição do pool gênico, consistindo em uma mudança evolutiva. A evolução também pode ser considerada em dois níveis: Macroevolução – Grande mudança evolutiva, ge- ralmente morfológica. Refere-se à evolução de diferen- ças entre populações, que garantem sua classificação em diferentes espécies, gêneros ou táxons mais elevados da classificação. Microevolução – Pequenas mudanças evolutivas intraespecíficas. Refere-se às mudanças nas frequências alélicas e na distribuição de características que ocorrem nas populações e nas espécies. 20.4.2 Espécie, especiação e mecanismos de isolamento reprodutivo 20.4.2.1 Espécie Embora pareça fácil conceituar espécie, é difícil o esta- belecimento de critérios para identificar quando é que as populações estão evoluindo independentemente. Fre- eman e Herron5 apresentam três conceitos de espécie, enfocando aspectos de morfologia (morfoespécie), isola- mento reprodutivo (conceito biológico) e grupos mono- filéticos (conceito filogenético), cada um com critérios di- ferentes para a determinação da evolução independente. Segundo o conceito biológico, devido a Ernst Mayr e amplamente utilizado, espécie é um grupo de organis- mos que se intercruzam, isolado reprodutivamente, na natureza, de todos os outros grupos desse tipo. Em outras palavras, os membros da mesma espécie têm o potencial biológico de trocar genes, e os membros de espécies di- ferentes não podem trocar genes, portanto, cada espécie evolui independentemente. A categoria taxonômica de espécie está situada den- tro da categoria de gênero, na classificação de Lineu, cria- dor, no século XVIII, do sistema de classificação científica dos seres vivos. A denominação latina de um organismo sempre inclui o nome do gênero (com inicial maiúscula) seguido do nome da espécie (sem maiúscula), grafados em itálico. Às vezes, há também o nome da subespécie, em minúsculas e itálico, seguindo-se ao nome da espécie. 20.4.2.2 Especiação e árvore filogenética A especiação é a formação de novas espécies, que pode ocorrer por transformação ou por divisão de conjuntos gênicos, processos ilustrados na Figura 20.2. Anagênese – É o processo de transformação de uma espécie em outra, devido a mudanças constantes nas frequências alélicas de uma espécie (espécie 1), que, ao longo do tempo, se transforma em outra espécie (espé- cie 2). Nesse processo de especiação, também conhecido como transformação filética, nunca há mais de uma es- pécie presente, mas o tempo exato para que a espécie 1 se transforme na espécie 2 é difícil de determinar. Cladogênese – É o processo de especiação em que uma espécie (na Fig. 20.2, a espécie 2) se divide, dan- do origem a duas espécies diferentes e independentes (espécies 3 e 4). As mudanças nas frequências alélicas devem ser tão importantes, que causam características biológicas que inicialmente dificultam e posteriormente impedem a troca de genes interespecífica. Denomina-se Fo rm a Estase Espécie 1 Espécie 1 Espécie 2 Espécie 3 Espécie 4 Tempo Cladogênese Anagênese Figura 20.2 Na evolução filética, ou anagênese, com o correr do tempo, uma espécie é transformada em outra. Durante todo a duração dessa transformação, só existe uma espécie. Na cladogênese, uma espécie se fragmenta em duas ou mais. Fonte: Klug e colaboradores.15 6 73 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a clado o conjunto de espécies descendentes de um an- cestral comum. Ao mesmo tempo e lugar em que o fluxo gênico é re- duzido ou eliminado entre as populações (isolamento ge- nético), pode ocorrer divergência, a ponto de os membros de uma população já não serem aptos a ter sucesso no cruzamento com os membros da outra. No momento em que essas populações atingem o isolamento reprodutivo total, já estão se tornando espécies diferentes. Na Figura 20.2 também é mostrada uma árvore fi- logenética, que é um diagrama das mudanças evolutivas que ocorrem ao longo do tempo. Em geral, essa árvore, também chamada árvore evolutiva ou cladograma, descreve o padrão ea cronologia dos eventos de diversifi- cação, bem como as relações de proximidade ou distância entre os organismos. Nessa figura, é ilustrada a história evolutiva de várias espécies hipotéticas de lagartos. Pode- -se observar que a espécie 1, durante algum tempo, não muda evolutivamente, caracterizando um período de es- tase evolutiva. Depois, ocorre anagênese e cladogênese. 20.4.2.3 Mecanismos de isolamento reprodutivo e geográfico Os mecanismos de isolamento reprodutivo são as barreiras biológicas que reduzem ou impedem o inter- cruzamento das populações. A Tabela 20.4 resume os principais mecanismos de isolamento reprodutivo pré e pós-zigóticos. Os mecanismos de isolamento pré-zigótico incluem também o isolamento geográfico ou ecológico e o isolamento temporal ou sazonal. Em geral, quando há isolamento geográfico, é facilitado o surgimento dos me- canismos de isolamento reprodutivo e genético, mas nem sempre isso acontece. Segundo a presença ou ausência de isolamento geográfico ou ecológico, existem dois modos princi- pais para a origem de novas espécies, a especiação alopá- trica e a especiação simpátrica. Especiação alopátrica – Corresponde à espe- ciação por cladogênese e está ilustrada na parte A da Figura 20.3. Esse tipo de especiação é iniciado quando uma barreira geográfica (p. ex., uma montanha ou um rio) divide uma população em dois ou mais grupos e im- pede o fluxo gênico entre os grupos isolados, causando divergência genética por meio de mecanismos de isola- mento reprodutivo (MIRs) pré e pós-zigótico. Se a bar- reira geográfica desaparecer ou se os indivíduos forem capazes de ultrapassá-la, ocorre um contato secundário entre as duas populações, com consequências variáveis: (1) se a diferenciação genética for limitada durante a se- paração das populações, os MIRs podem ser incompletos ou não desenvolvidos; haverá fluxo gênico entre as popu- lações, que continuarão constituindo uma só espécie; (2) a diferenciação genética durante a separação pode ter le- vado à formação de MIRs pré-zigóticos, portanto as duas populações constituem espécies diferentes. Durante a se- paração, também pode ocorrer alguma diferenciação ge- nética que ocasione incompatibilidade genômica e MIRs pós-zigóticos; nesse caso, a reprodução entre indivíduos de populações diferentes produzirá prole híbrida inviável ou estéril. Portanto, quando cada grupo populacional alcançar sua identidade genética, a mistura desses grupos pode re- sultar em seleção de melhores MIRs entre eles. Quando o fluxo gênico entre esses grupos não puder mais ocorrer, mesmo que ocupem a mesma região, a especiação estará completa. Especiação simpátrica – Corresponde à espe- ciação por anagênese, sendo mostrada na parte B da Fi- gura 20.3. Esse tipo de especiação ocorre sem que haja qualquer barreira geográfica ao fluxo gênico, e os MIRs evoluem dentro de uma única população. A população original divide-se em um ou mais grupos que ocupam di- ferentes regiões ecológicas, como habitats ou fontes ali- mentares especiais em uma única localidade geográfica. O aumento da diferenciação genética entre os grupos pos- sibilita a seleção de MIRs que, ao final, leva à especiação completa. A diferença entre esses modelos é a extensão da separação física envolvida na divergência genética ini- cial entre os grupos. Tabela 20.4 Mecanismos de isolamento reprodutivo Tipo Característica Pré-zigótico Impede a fertilização e a formação do zigoto Gamético ou fisiológico Gametas incompatíveis não se unem, ou os gametas não sobrevivem em sistema genital incompatível Mecânico A fertilização é restringida ou impedida por diferenças anatômicas sexuais (genitália nos animais, flores nas plantas) Comportamental (em animais) Populações isoladas por comportamentos reprodutivos diferentes e incompatíveis antes do acasalamento Geográfico ou ecológico Populações vivem na mesma região, mas ocupam habitats diferentes (os indivíduos não se encontram) Temporal ou sazonal Populações vivem na mesma região, mas sua reprodução ocorre em épocas diferentes Pós-zigótico Ocorre fertilização, com formação de zigoto híbrido inviável, ou fraco e estéril Inviabilidade Zigoto híbrido não sobrevive para a reprodução Esterilidade do híbrido Híbrido estéril porque as gônadas são anormais ou a meiose não se completa Esterilidade segregacional do híbrido Híbrido estéril devido à segregação anormal de cromossomos inteiros, fragmentos cromossômicos ou combinações de genes para os gametas Degradação do híbrido Híbridos da F1 são viáveis e férteis, mas a F2 é inviável ou estéril Fontes: Klug e colaboradores15 e Pierce.16 G e n é ti ca H u m a n a 6 74 A etapa inicial desse modo de especiação simpá- trica pode ser a existência de um polimorfismo na po- pulação; por exemplo, duas formas de uma espécie po- dem estar adaptadas a comer alimentos diferentes. Se os cruzamentos entre essas formas são desvantajosos, porque os híbridos têm baixo valor adaptativo, a sele- ção natural favorecerá o isolamento pré-zigótico entre as formas polimórficas. Outro modo de especiação simpátrica ocorre por po- liploidia, sendo comum em plantas. Os organismos poli- ploides têm mais de dois genomas (3n, 4n, etc.). Quando duas espécies diploides se hibridizam, produzindo prole híbrida 2n, a não disjunção em uma das proles híbridas produz um tetraploide 4n, geralmente fértil e isolado re- produtivamente das duas espécies parentais por diferen- ças no número de cromossomos. 20.5 Filogenias dos seres vivos A história evolutiva de um grupo de organismos consti- tui a sua filogenia, que é resumida graficamente pela árvore filogenética desse grupo (ver seção 20.4.3.2). Essa árvore registra a sequência em que as linhagens apareceram e a relação mais próxima ou mais distan- te entre os organismos descendentes e o seu ancestral comum. 20.5.1 Inferência de filogenias e construção de árvores filogenéticas O princípio básico da inferência de uma filogenia é o da medida da distância genética, em que os táxons (unida- des taxonômicas de classificação dos seres vivos) com relações mais próximas devem ter a maioria de suas ca- racterísticas em comum. Essas características abrangem desde a sequência nucleotídica de um determinado gene à presença ou à ausência de um elemento anatômico es- pecífico, em animais e plantas, e envolvem também o seu modo de desenvolvimento. Existem vários métodos de construção de árvores filogenéticas com base na distância genética, entre eles o método de agrupamento de pares não ponderados com base em médias aritméticas ou mé- todo da distância média (UPGMA, de unweighted pair group method using arithmetic averages) que, apesar de sua denominação extensa, é um método bastante simples e funciona bem em várias situações. As homologias são características moleculares, morfológicas e de desenvolvimento compartilhadas por duas ou mais espécies, que estavam presentes no seu an- cestral comum, embora possam não estar relacionadas à função. As homologias úteis para a inferência de filoge- nias são denominadas sinapomorfias, isto é, caracte- rísticas homólogas compartilhadas por certas espécies e derivadas de um ancestral comum. Todas as sinapomor- fias são características homólogas, mas nem todas as ca- racterísticas homólogas são sinapomorfias. Por exemplo, as homologias ancestrais são características que estavam Espécie A A B População original Surgimento de barreira geográfica ou ecológica entre as populações Aumento das diferenças genéticas Seleção de mecanismos de isolamento reprodutivo Especiação completada Grupos separados Contato secundário Espécie A Espécie B Espécie C Espécie D Nova região geográfica Espécie C Nova região ecológica Figura 20.3 A – Especiação alopátrica. B – Especiação simpátrica. 6 75 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a presentes no ancestral comum a um grupo de espécies (ao contrário das homologiasderivadas, que evoluíram em um grupo de espécies após o ancestral comum), mas em geral não são usadas como as sinapomorfias, porque podem induzir a inferências filogenéticas errôneas. Um exemplo de homologia ancestral é a encontrada nas aves, crocodilos e lagartos. As aves evoluíram asas e outras adaptações para o voo rapidamente, enquanto os croco- dilos e lagartos evoluíram lentamente, mantendo as ca- racterísticas de seus ancestrais reptilianos, como escamas e andar quadrúpede. Crocodilos e lagartos continuaram com aspectos semelhantes, quando comparados às aves, mas tal semelhança é uma homologia ancestral, presente no ancestral comum aos três grupos. Filogeneticamente, os crocodilos têm um ancestral comum mais recente com as aves do que com os lagartos, portanto crocodilos e aves mostram homologias derivadas. Uma árvore filogenética inferida segundo um agru- pamento de sinapomorfias é denominada cladograma e tem seus pontos de ramificação evolutiva identifica- dos pelas sinapomorfias, convencionalmente indicadas por barras transversais aos ramos do cladograma. A Figura 20.4 exemplifica um cladograma da evolução dos membros nos vertebrados, que são uma sinapomor- fia (portanto, uma homologia) que identifica as relações entre os tetrápodes (vertebrados dotados de quatro membros), classificados no grupo Tetrapoda. Outros exemplos de homologias são o coração de um humano e o de um chimpanzé, derivado de seu ancestral comum, e os ossos da orelha dos mamíferos e do crânio e da man- díbula dos répteis. 20.5.1.1 Problemas e soluções na inferência de filogenias e na construção de árvores filogenéticas A inferência de uma árvore filogenética pode ser proble- mática, devido a várias circunstâncias. Uma delas é o uso indevido de homologias que não constituam sinapomor- fias, como já abordado. Outras vezes, as espécies compartilham característi- cas que não derivaram de um ancestral comum, portanto não são homólogas, nem podem ser consideradas sinapo- morfias. Essas características moleculares e morfológicas são classificadas como homoplasias, que não devem ser confundidas com as homologias, sob pena de conduzirem a conclusões filogenéticas incorretas. Como exemplos de homoplasias, citam-se as asas dos morcegos (mamíferos) e das aves, que evoluíram independentemente de um an- cestral não alado. Saliente-se que as características homólogas sinapo- mórficas são devidas à ancestralidade comum e devem ter desenvolvimento embrionário semelhante, sendo condicionadas por alelos também similares. Por outro lado, as características homoplásicas evoluíram de an- Peixes pulmonados Rãs, salamandras Mamíferos Tartarugas Cobras, lagartos Crocodilos Aves Archosauria Sauria Reptília Tetrapoda Amniota 2º palato na boca Pescoço em forma de S, membros anteriores curtos, penas Crescimento determinado, troca de pele Orifício no crânio à frente da cavidade ocular Extensas modificações no esqueleto Pelagem, lactação Orifício no crânio abaixo da cavidade ocular Pele lisa, troca gasosa através da pele Ovo amniótico Membros Pulmões Ossos fusionados formam carapaça Figura 20.4 As sinapomorfias revelam as relações entre os tetrápodes. As características cuja descrição encontra-se junto a cada marca são sinapormofias compartilhadas pelas espécies descenden- tes, localizadas acima desse ponto. Por exemplo, as aves têm penas e outros traços derivados compartilhados que as identificam como aves. Entretanto, também têm quatro membros que as identificam como membro do grupo monofilético denominado Tetrapoda, ovos amnióticos que as identificam como membros do clado chamado Amniota, e assim por diante. Fonte: Freeman e Herron.5 G e n é ti ca H u m a n a 6 76 cestrais diferentes, portanto também devem ter alelos e desenvolvimento embrionário distintos. Para saber se uma característica semelhante em duas espécies é uma homologia ou uma homoplasia, retrocede-se ao seu ancestral comum mais recente. Se esse ancestral tiver a característica, as duas espécies descendentes a possuem por sua ascendência evolutiva comum, e a característica é uma homologia. Por outro lado, se o ancestral comum não a possuir, então essa característica evoluiu independentemenete nas duas es- pécies descendentes e é uma homoplasia. Então, resta diferenciar se a homologia é ancestral ou derivada, esta última sendo mais confiável na inferência de árvores fi- logenéticas. As semelhanças morfológicas que evoluem inde- pendentemente em diferentes espécies resultam de convergência evolutiva ou paralelismo, que ocorre quando a seleção natural favorece estruturas similares como recursos adaptativos a situações criadas por am- bientes semelhantes. Outros exemplos, além das asas dos morcegos e das aves, são as formas aerodinâmicas dos tubarões e das baleias e a localização dos olhos dos crocodilos e dos hipopótamos na parte superior do crâ- nio, não nas laterais. Em nível molecular, também são observados os mesmos tipos de semelhanças, quando duas espécies compartilham uma sequência de DNA idêntica não por ancestralidade comum, mas por ter ocorrido mutação reversa, ou reversão evolutiva, no ancestral mais re- cente de uma delas. Existem pelo menos dois enfoques para deduzir as correlações evolutivas e construir árvores filogenéticas. No primeiro enfoque, denominado abordagem ou mé- todo de distância, as relações evolutivas são deduzidas a partir do grau geral de semelhança entre os organismos. Em geral, são examinadas várias características fenotí- picas ou sequências gênicas desses organismos, que são, então, agrupados com base na similaridade geral. O se- gundo enfoque, denominado abordagem ou método da parcimônia, deduz as correlações filogenéticas com base no número mínimo de mudanças evolutivas ou de com- plexidade que devem ter ocorrido desde que os organis- mos considerados tiveram um ancestral em comum. Essa abordagem é conhecida também como método da máxi- ma parcimônia. Na inferência de uma filogenia, quando há descon- fiança de que uma característica seja homoplásica, não homóloga, os pesquisadores utilizam geralmente o méto- do da parcimônia. Tanto a convergência evolutiva como a reversão requerem mudanças evolutivas múltiplas, por- tanto é razoável considerar que a árvore que minimiza a quantidade total de mudanças evolutivas seja também a que minimiza a quantidade de homoplasias. Quando o método da parcimônia não basta, deve-se continuar a pesquisa, reanalisando os dados existentes, analisando novos dados, utilizando outros critérios ou métodos probabilísticos computadorizados (como o da máxima verossimilhança e o bayesiano de Monte Carlo) e avaliando o maior número possível de árvores filogené- ticas, a fim de ser escolhida a que melhor se adapte aos dados disponíveis. Mais informações sobre a inferência de filogenias, uso dos métodos probabilísticos menciona- dos e construção de árvores filogenéticas podem ser en- contradas em Freeman e Herron,5 Hartl e Clark,14 Klug e colaboradores15 e Pierce.16 20.6 A evolução ao longo dos registros fósseis 20.6.1 Evidências da evolução As hipóteses sobre a evolução fundamentam-se em qua- tro tipos de evidências: fósseis, datação dos fósseis, am- biente biológico e animais existentes atualmente. Fósseis – Consistem em restos de organismos existentes no passado, que são preservados em rochas sedimentares. De acordo com o método de formação, os fósseis consistem em: fósseis por compressão, quando uma estrutura deixa uma impressão no sedimento que está por baixo, como uma pegada na lama; modelos e moldes, quando os restos se decompõem depois de en- terrados no sedimento, com preenchimento posterior (modelos) ou espaços não preenchidos (moldes), pre- servando as informações sobre as superfícies internas e externas do organismo; fósseis permineralizados, em que minerais dissolvidos nos sedimentos são precipita- dos nas células; e restos intactos, que são muito raros. A durabilidade do organismo,seu enterramento em se- dimentos hidrossaturados e a ausência de oxigênio re- tardam sua decomposição. Em geral, conchas, cascos, ossos e dentes são as únicas estruturas preservadas ao longo do tempo, fornecendo indicações sobre esquele- to, dentição, tamanho e forma do indivíduo, músculos e nervos, modo de locomoção, dieta e ambiente; pegadas, fezes, tocas e substâncias químicas fósseis também se incluem entre os restos de atividades dos organismos. Atualmente, realizam-se estudos imunológicos e mole- culares dos fósseis. Datação dos fósseis – A idade dos fósseis é infor- mação essencial para o esclarecimento de suas relações e a construção de uma sequência evolutiva. Até fins do século XIX, sua datação era relativa (a partir das camadas da crosta terrestre, os fósseis mais profundos eram con- siderados os mais antigos), mas permitiu que os geólogos estabelecessem a escala geológica do tempo, que serviu de base para a datação absoluta dos fósseis (idade em anos dos depósitos fossilíferos), no século XX, por meio de técnicas estratigráficas e radiométricas modernas. Nas três últimas décadas do século XX, os paleontólogos des- cobriram fósseis aparentemente de cianobactérias e algas eucarióticas com cerca de 2 bilhões de anos; os geoquí- micos encontraram moléculas biológicas preservadas em rochas de 2,7 bilhões de anos e evidências sugestivas de vida com mais de 3,7 bilhões. 6 77 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a Ambiente biológico – Abrange outros fósseis de animais e vegetais, tipo de clima e de solo. Animais existentes atualmente – As compara- ções de características anatômicas, fisiológicas e outras dos grandes macacos atuais com as características do hu- mano atual possibilitam evidenciar-se a proximidade do parentesco de diferentes fósseis, pois, com certa reserva, se esses forem semelhantes a um animal vivo, serão an- cestrais ou parentes próximos do seu ancestral. 20.6.2 Panorama da evolução ao longo da escala do tempo geológico A Figura 20.5 reproduz o panorama da evolução, apre- sentado por Freeman e Herron,5 de acordo com os fósseis encontrados ao longo da escala do tempo geológico. Atualmente, a escala do tempo geológico está divi- dida em éons, eras, períodos e épocas, cuja datação absoluta se torna mais precisa à medida que as respecti- Cambriano Ordoviciano Siluriano Devoniano Carbonífero Mississipiano Pensilvaniano Permiano Os pântanos de turfa diminuem; partes da Antártida são florestadas Glaciação nos continentes do sul Acaba a formação de montanhas no leste da América do Norte Abundância de algas, diversidade de invertebrados marinhos Clima pouco conhecido Oceanos cobrem a maior parte da América do Norte Diversificação dos equinodermos (estrelas-do-mar, ouriços-do-mar) Clima frio; grandes geleiras em Gonduana Primeiras comunidades de plantas de terras altas (florestas perenes), irradiação dos peixes, aparecimento dos anfíbios Clima suave Elevam-se os Montes Cárpatos e os Urais Diversificação dos insetos, abundância de pântanos de turfa, abundância de tubarões, irradiação dos anfíbios Clima quente, pouca variação sazonal Elevam-se os Montes Apalaches Compõe-se o supercontinente de Pangea O supercontinente de Laurência ao norte e o de Gonduana ao sul O clima se aquece Primeiros seres com conchas 543 milhões de anos 495 439 408,5 353,7 290 251 Primeiras plantas terrestres Primeiros peixes mandibulados Primeiros insetos alados Primeiros tetrápodes (anfíbios) Diversificação de artrópodes Primeiros cordados Primeiros fungos zigomicetos Primeiros briozoários (o mais recente filo animal) Primeiros insetos Primeiras plantas com semente Primeiros répteis com características de mamíferos Primeiros vasos em plantas Primeiros répteis Primeiras samambaias, plantas vasculares, fungos ascomicetos A – A era Paleozoica ou “vida primitiva” Primeiros vertebrados (peixes ágnatos) Primeiros peixes ósseos Primeiros fungos basidiomicetos Expansão dos recifes de coral Forma-se o supercontinente de Gonduana Figura 20.5 Seleção de eventos das três eras (Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica) que constituem o éon Fanerozoico. Os dísticos cor- respondem a surgimento das primeiras formas de vida, denominações dos períodos ou das épocas de cada era, idades absolutas determinadas por datação radioativa, ambiente biológico, clima e eventos geológicos importantes. Os mapas apresentam as posições estimadas das principais massas terrestres. A – Era Paleozoica: irradiação dos animais no período Cambriano e extinção em massa no fim do Permiano. Cada traço na barra do tempo corresponde a aproximadamentre 12 milhões de anos. B – Era Mesozoica: chamada era ou idade dos répteis, começa depois da extinção ocorrida no Permiano e termina com a extinção dos dinossauros e outros grupos, na transição Cretáceo-Terciário. Cada traço na barra do tempo corresponde a aproximadamentre 7,5 milhões de anos. C – Era Cenozoica: chamada era ou idade dos mamíferos. Divide-se nos períodos Terciário (que abrange as épocas Paleo- ceno, Eoceno, Oligoceno, Mioceno e Plioceno) e Quaternário (que abrange as épocas Pleistoceno e Holoceno ou Recente). Cada traço na barra do tempo corresponde a aproximadamentre 2,8 milhões de anos. Fonte: Freeman e Herron.5 G e n é ti ca H u m a n a 6 78 vas técnicas também se tornam mais sofisticadas. O éon Fanerozoico (que significa vida visível) é a maior unidade do tempo geológico e abrange as eras Paleozoica, Meso- zoica e Cenozoica. Imediatamente antes do éon Fanerozoico, no período Pré-Cambriano da era Proterozoica (não representados na Fig. 20.5), já existiam fósseis de organismos mari- nhos, identificados como esponjas, cnidários e ctenóforos Triássico Jurássico Cretáceo QuaternárioTerciário Paleoceno Eoceno MiocenoOligoceno Plio- ceno 251 milhões de anos 160 144 100 65 Primeiros dinossauros As gimnospermas se tornam as plantas terrestres predominantes; desertos extensos; irradiações subsequentes à extinção do final do Permiano Clima muito quente O interior de Pangea é árido As gimnospermas continuam a predominar em terra O interior de Pangea é árido Irradiação das plantas com flores Clima quente Diversificação dos dinossauros A Índia se separa de Madagascar e se move para o norte; formam-se as Montanhas Rochosas Primeiros mamíferos Primeiras aves (Archeopteryx) Primeiras plantas com flores Primeiros mamíferos placentários 180206 B – A era Mesozoica ou “vida intermediária” Pangea começa a se desmembrar Clima suave, temperado Pangea está intacta 65 milhões de anos 23,8 5,2 1,8 Irradiação das ordens de mamíferos Irradiação das angiospermas e dos insetos polinizadores Forte tendência a secas na África e em outros continen- tes; formam-se as savanas Começa a formar-se gelo no Polo Sul Começo da formação da calota polar Antártica Glaciação global Os continentes estão quase em suas posições atuais Primeiros cavalos O mais antigo pólen de plantas da família das compostas Primeiros hominídeos Primeiros macacos antropoides 33,555,6 C – A era Cenozoica ou “vida recente” As Américas do Norte e do Sul unem-se por uma ponte terrestre Abre-se o Mar Vermelho Elevação da Serra Nevada Os Alpes e o Himalaia começam a se elevar Começa a colisão da Índia com a Eurásia Irradiação dos mamíferos que pastam Os continentes continuam a se afastar Clima quente A Austrália se desloca para o norte da Antártica Clima quente Figura 20.5 Continuação. Fonte: Freeman e Herron.5 6 79 T e o ria s d a E vo lu çã o e E vo lu çã o H u m a n a semelhantes às medusas atuais. Os primeiros espécimes foram encontrados na região montanhosa de Ediacara, no sul da Austrália, mas depois também foram achados em outros sítios arqueológicos. Da era Paleozoica, período Cambriano, foram des- cobertos muitos fósseis nos sítios de Burgess Shale (In- glaterra) e Chengjiang (China), correspondendo à maio- ria das espécies animais que existem hoje:
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