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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ECONOMIA NO SETOR PÚBLICO ÍCONES ORGANIZADORES DEFINIÇÃO: é utilizado ao definir conceitos e significados. v SAIBA MAIS: aprofundamento de ideias, curiosidades, links de sites e tex- tos complementares. c REFLEXÃO: momento para refletir sobre as questões apresentadas e apro- fundar pontos relevantes. EXEMPLO: utilizado no momento em que exemplifica conteúdo ou ideias. Módulo I Unidade 1 - Atribuições econômicas do Governo ............ 5 1.1 Estado na condição de agente preponderante na economia 5 1.2 Estado e Governo .........................................................5 1.3Estado ............................................................................5 1.4 Governo ........................................................................5 1.5 Administração Pública ................................................6 1.6 Setor Público ................................................................6 1.6.1 Funções do Estado ............................................. 7 1.7 Necessidade de intervenção do Estado ..................... 7 1.7.1 Falhas de mercado ............................................. 8 1.8 Atividades fiscal e financeira do Estado .................... 9 1.8.1 Política Fiscal ..................................................... 9 1.8.2 Política tributária ................................................ 9 1.8.3 Política orçamentária ......................................... 9 1.8.4 Receitas Públicas ............................................... 9 1.8.5 Receita Efetiva ..................................................10 1.8.6 Receita Não-Efetiva ..........................................10 1.8.7 Receita Originária .............................................10 1.8.8Receita Derivada ................................................10 1.9 Despesa Pública ..................................................10 Unidade 2. O Estado na economia ..................................12 2.1 Histórico da intervenção estatal na economia ........12 Módulo II Unidade 3. Os gastos do setor público ...........................14 3.1 Classificação das Despesas Públicas ......................14 3.2 Aspectos relacionados ao crescimento dos Gastos Públicos 16 Sumário Unidade 4. Receitas tributárias do setor público ...........19 4.1 Sistema Tributário Brasileiro .....................................19 4.2 Composição das Receitas Tributárias ......................20 Módulo III • Unidade 5. Políticas de Estado 24 5.1 Ação reguladora do Estado .......................................24 5.2 Ação estabilizadora do Estado .................................25 5.3 Ação distributiva do Estado ......................................25 Unidade 6. A dívida pública .............................................27 6.1 Perfil da dívida pública no Brasil ...............................27 6.2 Relação entre déficit e dívida pública .......................29 Unidade 7. Política fiscal e distribuição de renda ..........30 7.1 Fatores ligados à política fiscal do governo ............30 7.2 Influência dos impostos diretos e indiretos .............30 7.3 Efeitos redistributivos do imposto sobre a renda ....31 Referências ......................................................... 33 5 Módulo 01: Módulo I Unidade 1 - Atribuições econômicas do Governo 1.1 Estado na condição de agente preponderante na economia 1.2 Estado e Governo Para se estudar a economia do setor público, primeiro faz-se necessário co- nhecer alguns conceitos importantes, antes mesmos do próprio conceito de Setor Público. O conceito de Estado, Governo e Administração Pública, são alguns deles. 1.3Estado Na Constituição Brasileira de 1988, no artigo 1º diz que o Brasil é uma federação em forma de re- pública composta de Estados e Municípios e o Distrito Federal, além de ser uma democracia estrutura- da nos fundamento da soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e do pluralismo político. Assim, é formado o Estado brasileiro. Mas o que vem a ser Estado? Segundo Matias-Pereira (2008, p. 28)1 o conceito de Estado causa diversas im- precisões na ciência política, resultando em confusão com as diversas definições existentes na literatura. Assim, confundir Estado com governo, com Estado-nação ou país, com regimes políticos ou sistema econômico não é raro. Estado para Azambuja (2001, p. 10 citado por MATIAS-PEREIRA, 2008, p. 29) “é a organização político-jurídica de uma sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e território determinado”. Então, percebe-se que o conceito de Estado necessariamente está imbricado ao conceito de so- ciedade, quando sua existência origina-se da necessidade de realizar o bem comum, logo, para aqueles que compõem o Estado, o povo. Para Höfling (2001, p.31)2 pode-se definir “Estado como o conjunto de instituições permanentes – como órgãos legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um bloco monolítico necessa- riamente – que possibilitam a ação do governo [...]”. Pode-se definir Estado, portanto, como a reunião de elementos fundamentais, tais como: a) território, b) povo, c) poder político (o exercício da soberania). 1.4 Governo É comum encontrar na literatura a afirmação de que governo é o gerente do Estado. É aquele cons- tituído de poder, derivado da sociedade, para administrar o Estado em seu mais alto nível, perante a 1 MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações governamentais. São Paulo: Atlas, 2008, p. 28. 2 HÖFLING, E. M.Estado e Políticas (Públicas) Sociais.Caderno CEDES vol.21 nº.55 Campinas, Nov. 2001.Disponível em:<http://www.scielo. br/scielo.php?pid=s0101-32622001000300003&script=sci_arttext>. Acesso em 10 jun.2012. 6 Módulo 01: sociedade e a comunidade internacional. Ou, como discorre Höfling(2001, p. 31) Governo pode ser visto “[...] como o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período”. 1.5 Administração Pública Administração pública pode ser entendida como o aparato público e governa- mental a serviço do Estado, gerenciado pelo governo com o propósito de planejar, executar e controlar os serviços públicos destinados à sociedade. Conforme Ruas (2000), “Administração Pública consiste em um conjunto de agências e de servidores profissionais, mantidos com recursos públicos e encarregados da decisão e implementação das normas necessárias ao bem-estar social e das ações necessárias à gestão da coisa pública”. White (1950, p.8 citado por MATIAS-PEREIRA, 2012, p.10) nos ensina que administração pública abrange todas as operações que têm por propósito a realização ou cumprimento dos desígnios públi- cos. E, Matias-Pereira (2012, p.10), ainda ressalta que a administração pública pode ser percebida como a estrutura do poder executivo, que tem a missão de coordenar e implementar as políticas públicas. 1.6 Setor Público De acordo com o glossário da Câmara dos Deputados, Setor Público é a “ex- pressão que designa o conjunto de órgãos, entidades e empresas estatais perten- centes a uma determinada esfera do Governo”. Como se pode perceber, o conceito de Setor Público é muito próximo do con- ceito de Administração Pública, a não ser pelo fato de que, ainda que o setor público faça parte da ad- ministração pública, seu conceito é mais preciso e restrito, se observarmos o que diz Silva (109, p. 102): O setor público abrange a administração direta, as autarquias e as fundações das três esfe- ras de governo (federal, estadual e municipal) e suas respectivas empresas estatais, o Banco Central e o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). O conceito de setor público, para fins de apuração dos indicadores de dívidapública, considera as instituições públicas não financeiras, bem como os fundos públicos que não possuem características de intermediários financeiros, isto é, aqueles cujas fontes de recursos advêm de contribuições fiscais ou parafis- cais, além da empresa Itaipu Binacional. SILVA (2009, pág. 102). Assim, tem-se a definição de Setor Público que é o foco de nosso estudo até aqui. Considerando que o setor público é dirigido pelo Governo, ou seja, pelo gerente do Estado, é possível tirarmos duas conclusões: a) O Estado é agente preponderante na economia, pois detém total poder sobre as políticas eco- nômicas e de regulação, com vista a promover o bem comum; e b) Uma vez tendo a supremacia na esfera econômica, o Governo pode, através do setor público, afetar e ser afetado pela sociedade. Bem, agora que já definimos alguns conceitos importantes, podemos dar continuidade ao estudo 7 Módulo 01: de nosso assunto principal, a Economia do Setor Público. 1.6.1 Funções do Estado O Estado tem classicamente três funções: a) alocativa, b) redistributiva ou distributiva, e c) esta- bilizadora. As três funções isoladamente não causam o impacto efetivo desejado nas políticas econômicas adotadas pelo governo, porém, quando combinadas são altamente propagadoras de externalidades positivas3. a)Função alocativa Longo (1993, p. 17) explica que esta função tem a finalidade de prover os bens públicos através do processo de uso dos recursos totais da economia, considerados entre os bens públicos e privados, sendo o público o que detém a atenção maior do governo. Esses bens públicos são aqueles em que o mercado não consegue ou não tem interesse de oferecer, dado a ineficiência do sistema de preço em induzir sua produção em quantidade ótima. Como exemplo clássico tem-se a defesa nacional, em que qualquer um pode usufruir dela sem a exclusão de outros. b)Função redistributiva Em qualquer país a distribuição da renda pessoal pode determinar o nível de desenvolvimento das pessoas que lá residem. Para isso, o governo precisa estar atento ao quão justo a distribuição desta renda está sendo feita e desenvolver meios para que esta seja redistribuída de forma equitativa. Em síntese, esta é a atribuição da função redistributiva. c)Função estabilizadora Esta função tem como principal papel, utilizando a política orçamentária, manter a estabilidade da economia por meio do pleno emprego, razoável estabilidade do nível de preço, da balança pagamentos e uma taxa adequada de crescimento econômico. 1.7 Necessidade de intervenção do Estado “A Economia antes de 1930, era desprovida da participação do Estado, no que se refere à alocação dos recursos econômicos necessários para a geração da produção nacional, e desenvolvimento das instituições econômicas do país.” (SOUSA, 1982. P. 6). Contudo, a crise de 1929, surgida nos Estados Unidos e em grande parte disseminada pelo mundo afora, causando grandes incertezas nas economias de outros países, fez com que a teoria econômica fosse, em boa parte e, por muitos economistas, repensada. A visão dos economistas clássicos4e depois dos neoclássicos era de que o próprio mercado seria 3 Alfred Marshall foi o primeiro a introduzir a expressão economias externas, publicado em seu livro Princípios de Economia em 1890. Po- de-se conceituar externalidades como sendo o impacto positivo ou negativo que a produção ou consumo de um serviço ou bem causa na satisfação de outra pessoa. 4 Economistas clássicos são os assim chamados devido ao pensamentoeconômicos destes, em que o mercado é totalmente eficiente para promover o equilíbrio econômico a longo prazo, assim, as crises econômicas se auto ajustariam devido ao mecanismo de pre- ços. Os principais economistas clássicos são: Adam Smith, Jean-Baptiste Say, Thomas Malthus, Davis Ricardo, John Stuart Mill, Johann 8 Módulo 01: capaz de resolver a crise instaurada na economia mundial, baseada no conceito de equilíbrio do merca- do, conforme a teoria dos preços. Surge, então, nessa época, diversas críticas à teoria clássica e, entre elas a que mais ecoou foi a crítica de Keynes ao modo de se enxergar a crise econômica que assolava o mundo. Em seu célebre livro, Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (General theoryofemployment, interestand Money), Maynard Keynes questionava diversas doutrinas econômicas e mesmo algumas teorias já consagra- das por grandes economistas, como o próprio Adam Smith e David Ricardo. As teorias de Keynes cau- saram enorme furor na comunidade acadêmica da época por ser de valiosa contribuição à ciência econômica em diversos campos, alterando drasticamente o pensamento vigente. Uma delas é a de que a economia não poderia assentar-se apenas no “laissez-faire”5 mas buscar, por meio da intervenção estatal, o pleno emprego na economia, uma vez que o mercado por si só, não poderia prover tal situação. Segundo Keynes, a intervenção do Estado na economia não comprometeria o sistema capitalista de produção, como alguns propagavam na época, mas contribuiria para o aperfeiçoamento do sistema, dado que o livre mercado, e assim, movido pelo sistema de preços não era totalmente eficiente para suprir todas as necessidades da sociedade. Em outras palavras, existem falhas no mercado que cau- sam distorções de proporções gigantescas, provocando as crises econômicas como a de 1929, não sendo racional manter a expectativa de que apenas os mecanismos de demanda e oferta do mercado estancariam ,no longo prazo, as crises econômicas. Segundo Keynes, “a longo prazo estaremos todos mortos”. 1.7.1 Falhas de mercado O conceito de falha de mercado pode ser entendido como o não funcionamento normal do merca- do, fazendo com que o sistema de preços não proporcione aos agentes econômicos (pessoas, famílias e empresas), a quantidade ótima de produtos e serviços disponíveis. Daí ser importante a intervenção do governo para corrigir as falhas provocadas no mercado. Segundo Longo (1993. p. 30), pode-se enumerar os tipos de falhas de mercado em três categorias: “1. os bens públicos puros e “mistos” em que não há rivalidade (defesa, educação, saúde etc.); 2. os bens privados, caracterizados por sua produtividade sujeita a economias de escala (ou indivisibilida- de), tais como as empresas de utilidade pública (água, luz, gás etc.); e finalmente 3. os bens de pro- priedade comum cujo consumo não permite exclusão, tais como recursos naturais exauríveis (pesca, petróleo etc.)”. Para os três casos de bens relacionados, a distribuição eficiente não ocorre quando somente o mercado tiver esta atribuição. Faz-se necessário a intervenção total ou parcial do governo para que a produção atinja o nível ótimo e atenda as demandas da sociedade. Heinrich vonThünen e Anne Robert Jacques Turgot. 5 Laissez-faire é uma expressão francesa cunhada no século XVIII, que fazia referência à ideologia econômica, no período do Iluminismo, que consistia na existência do livre comércio nas trocas comerciais internacionais, defendidas por Montesquieu, e com isso tudo se acer- taria na economia pelas forças do próprio mercado. Essa visão foi compartilhada pelos economistas clássicos e neoclássicos. 9 Módulo 01: 1.8 Atividades fiscal e financeira do Estado 1.8.1 Política Fiscal Política fiscal: instrumentos que o governo usa para arrecadar tributos e controlar suas despesas, por meio da manipulação da estrutura e alíquotas de impostos, para estimular os gastos de consumo do setor privado. (VASCONCELLOS E GARCIA, 2006, p. 91). A política fiscal está classicamente dividida em duas outras políticas com objetivos bem definidos, no setor público: a política tributária e a política orçamentária. 1.8.2 Política tributária Esta política é o instrumento do governo para captar os recursos necessários ao atendimento das funções da administração pública, em todos os níveis de governo (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). 1.8.3 Política orçamentária Política orçamentária se refere estritamente aos gastos,ou melhor, ao uso dos recursos captados pela política tributária e aplicados nas diversas finalidades do Estado, com vista a atender as deman- das sociais. Pode-se considerar, portanto, que a sociedade é quem financia toda a estrutura da administração pública. 1.8.4 Receitas Públicas O Manual Técnico de Orçamento 2012, da Secretaria de Orçamento Federal, assim define receita pública; “disponibilidades de recursos financeiros que ingressam durante o exercício e constituem ele- mento novo para o patrimônio público. Instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, a receita orçamentária é fonte de recursos utilizada pelo Estado em programas e ações cuja finalidade precípua é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade” (MTO, 2012. p. 18). Todo ingresso de recursos financeiros aos cofres públicos é classificado como receitas, quando efetivadas ao patrimônio do estado. Estas podem ser classificadas em: a) Receita Efetiva; e b) Receita Não-Efetiva. 1.8.5 Receita Efetiva São as que integram o Patrimônio como elemento novo, aumentando-o sem, no entanto, gerar obrigação, reserva ou reinvindicações de terceiros, como as gerados por meio de tributos (receitas tributárias). 10 Módulo 01: 1.8.6 Receita Não-Efetiva Aquelas geradas pela mutação patrimonial, ou seja, arrecadada em função da troca de elementos patrimoniais por recursos financeiros, como cobrança de dívida ativa, alienação de bens, amortização de empréstimos concedidos etc. As receitas ainda podem ter mais duas classificações: (i) receitas originárias; e (ii) receitas deriva- das. 1.8.7 Receita Originária Estas receitas são oriundas das transações das empresas do Estado, semelhante à atividade de empresas privadas. 1.8.8Receita Derivada Devido ao poder de coerção legalmente instituído ao Estado, originam-se as receitas decorrentes da arrecadação de impostos, taxas, contribuição de melhoria, contribuições parafiscais e as penas pe- cuniárias (multas e confiscos). 1.9 Despesa Pública A despesa pública é todo o dispêndio de recurso que o Estado utiliza para manter o custeio do funcionamento e a manutenção de toda a administração pública, como consequência, os próprios ser- viços públicos. Podem ser classificadas Silva (2007, p. 22) nos esclarece que as despesas são constituídas em três naturezas, a saber: “Econômica: por corresponder à aplicação de determinada quantia em dinheiro público. Jurídica: por fazer parte do orçamento, depende de autorização para seu efetivo gasto com as atribuições e funções governamentais. Política: devido às Despesas Públicas representarem a distribuição e o emprego das receitas para custeio de diferentes setores da Administração Pública, e para os investimentos no setor privado”. Tanto as receitas como as despesas, são elementos essenciais na composição do orçamento pú- blico da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Dica: Para saber mais sobre as definições discutidas veja: GIACOMONI, James. Orçamento Público. 15ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. GIAMBIAGI, Fábio e ALÉM, Ana. Finanças Públicas. 3ªed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 3ª reimpressão. 11 Módulo 01: 12 Módulo 01: Unidade 2. O Estado na economia 2.1 Histórico da intervenção estatal na economia Pode-se estudar a participação do Estado na economia brasileira considerando dois momentos, antes de 1930 e após este período. Até meados do século XVIII, praticamente não havia interferências consideráveis na insipiente eco- nomia do Brasil, da época. A metrópole, Portugal, não manifestava grandes interesses por aqui devido ao fato de que, ainda, não se havia encontrado metais preciosos. Porém, a partir da descoberta de ouro em terras brasileiras, as coisas mudaram, tendo o interesse muito maior por parte da coroa portuguesa sobre sua colônia. Esse interesse foi tão importante que a família real portuguesa escolheu abrigar-se da guerra contra Napoleão, no Brasil, o que culminou com a criação do primeiro Banco do Brasil em 1808, além de medidas regulatórias, fixação e isenção de tarifas, bem como incentivos fiscais que variavam conforme a necessidade, e da política influente da coroa inglesa6. Nos primeiros anos da República, a principal atividade econômica era a agricultura e, mais preci- samente, a cafeicultura que se estendia basicamente pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Como essa atividade era estratégica para o governo, pois garantia os ganhos dos impostos para os estados produtores, além da renda dos senhores do café. Para garantir essa situação livre de turbulências econômicas, em 1906 foi instituído, pelo governo federal, o convênio de Taubaté, que ga- rantia preços mínimos para os produtores e controlava a produção. Apesar de o setor industrial ainda ser muito acanhado, o governo adotou algumas medidas para salvaguardar a produção local, conforme explica Giambiagi e Além (2008 p. 66): Quanto à indústria, esta era ainda muito incipiente, com 70% da produção manufatureira sendo composta por têxteis, vestuário e alimentos em 1919. Apesar do processo de industrialização ainda não ser uma prioridade da política econômica, já havia a adoção de tarifas de importa- ção com o objetivo de proteger a produção manufatureira local. O Estado tinha também uma atuação importante nos setores de infraestrutura, onde as externalidades justificavam os in- vestimentos estatais nas atividades portuária, de navegação e saneamento. Ainda, nesse período o Estado interveio na economia para garantir a rentabilidade mínima ao capital estrangeiro, nos investimentos efetuados principalmente no setor de transportes, fato que não surtiu os efeitos esperados pelos investidores ao longo do tempo, culminando em estatizações do setor de trans- porte e desmobilizando o interesse dos estrangeiros ao Brasil. Após os anos 30, o Estado utilizou-se de várias formas de intervenção na economia para equilibrar as contas nacionais, devido ao período de crise mundial que ocorreu na época7. Se por um lado as exportações ficaram comprometidas, as dificuldades de importar não eram diferentes. Essas dificuldades levou o governo a direcionar seus investimentos para o setor industrial, dando grande impulso na economia com vistas a reduzir a dependência externa. Para isso, vários instrumentos regulatórios foram utilizados, passando do controle de preços básicos, limites para a taxa de juros, criação de autarquias, proteção à indústria local, controle de câmbio. 6 Nessa época a Inglaterra detinha grande influência sobre a política portuguesa e suas colônias. 7 Devido à quebra da bolsa de Nova York, as principais economias entraram em depressão, este fato ocasionou em grandes problemas para a economia brasileira que dependia muito do mercado internacional. 13 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos Nas décadas seguintes, o Estado mostrou-se cada vez mais interventor da economia, uma vez que o setor privado não assumia a liderança para promover os investimentos necessários ao desenvolvi- mento industrial brasileiro. Com a criação de empresas estratégicas como a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN e a Com- panhia Vale do Rio Doce – CVRD, ambas em 1942, e outras, dá-se o grande impulso ao parque industrial nacional brasileiro. Alguns anos depois, o Estado percebeu que devia ampliar seus investimentos em áreas estratégi- cas para a economia brasileira, mas que o modelo de financiamento não atendia plenamente as neces- sidades prementes na época. Foi quando se criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico - BNDE8. Nessa esteira foram criadas outras empresas para dar suporte aos planos de governo, como a Petrobras em 1953. Em fins da década de 1950, o então Presidente Juscelino Kubitschek propõe seu Plano de Metas, que pretendia desenvolver o país em diversas áreas importantes ao desenvolvimento industrial. Se- tores como energia e transporte seriam de responsabilidade do Estado a sua ampliação para atender a demanda da indústriacrescente no país. Mais uma vez o Estado tomou a frente do planejamento e implantação de projetos que movimentariam a economia de forma drástica. Após os anos de ouro de JK, em que muito se avançou com o Plano de Metas, pois se pretendia fazer em 5 anos o que se faria em 50, o país já não era mais um país somente agrário, mas um país também industrializado. Nas décadas de 1960 e 1970, o Estado mais uma vez direciona os investimentos estratégicos do país, com a formulação de planos de desenvolvimento que tinham por objetivo revitalizar a estrutura industrial, buscando o desenvolvimento em setores considerados “chaves” para o país. Com isso,criou- -se estatais para atuarem de forma direta na economia ou se estatizou empresas, como do setor de telefonia, por exemplo. Ainda, na década de 1970, foi elaborado o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND, que tinha como objetivo promover o desenvolvimento dos setores de insumos básicos e de bens de ca- pital. As ações do governo nesse período forçou o endividamento do país, conforme discorre Giambiagi e Além (2008, p. 71): O II PND representou o auge da intervenção pública através das empresas estatais e também se consti- tuiu no início da crise do setor produtivo estatal. À desaceleração do crescimento decorrente do primeiro choque do petróleo (1973), o governo brasileiro respondeu com o lançamento de um ousado programa de investimentos estatais. Isto significou inicialmente um aumento expressivo do valor importado e, conse- quentemente, da necessidade de geração de divisas, o que foi viabilizado pelo aumento do endividamento externo do Brasil. Os anos seguintes, décadas de 1980 e 1990, foram marcados por momentos difíceis na economia brasileira. A inflação crônica que o Brasil experimentava nos anos 80 e a ineficiência do setor público nos anos 90, fato decorrente, também, dessa inflação, forçou uma mudança significativa da forma como o Estado deveria atuar na economia. Um Estado regulador era preferível a um interventor ou mesmo um Estado empresário, como ocorrera nos anos 70. Atualmente, o papel do Estado na economia brasileira está muito mais centrado nas políticas es- tratégicas do que nas ações, fazendo com que a busca pela produtividade seja do setor produtivo (setor 8 Somente no governo de Fernando Henrique Cardoso é que passa a ter o “S” de Social ficando BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. 14 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos privado) e a regulação seja do setor público. 15 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos Módulo II Unidade 3. Os gastos do setor público Os gastos do setor público, também conhecidos como despesas públicas, se dão por meio de lei. No Brasil, dos art. 165 ao 169, da Constituição Federal de 1988, tratam da forma como o Estado pode gastar os recursos públicos. Estabelece as diretrizes e as finalidades para se recorrer ao gasto, rema- nejamento, exclusão e aumento de recursos públicos por parte do ente público. E, na Lei nº 4.320 de 1964, estabelece detalhadamente como deve ser o orçamento público. No Art. 2° diz que: “A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos aos princípios de uni- dade universalidade e anualidade”. Portanto, pode-se observar que os gastos do setor público são regidos por força de lei e com sis- temática desenvolvida, prevista em todo arcabouço legal brasileiro. Para efetuar as políticas públicas e desenvolvimento de projetos para a sociedade, o governo de- senvolve a atividade de finanças pública, arrecadando recursos via tributação como visto anteriormen- te e, com planejamento das necessidades, elabora o documento que conterá os valores necessários para a realização do que foi planejado, em um período previamente estabelecido, geralmente um ano. Os gastos públicos podem se originar da administração direta e indireta, considerando, também, as autarquias e fundações, bem como as estatais. As despesas públicas são tipificadas na Lei nº 4.320 de 1964, em: (i) orçamentárias e, (ii) extra-orçamentárias. Despesa orçamentáriaé aquela incluída na lei orçamentária anual, e mais as oriundas de créditos adicionais, subdivididos em: (i) suplementares, (ii) especiais e, (iii) extraordinários, abertos durante o exercício financeiro (ano corrente). Despesa extra-orçamentáriaé aquela que não consta na lei orçamentária anual, sendo as diversas saídas de numerários, de pagamento ou recolhimento de depósitos, pagamentos de restos a pagar, resgate de operações de crédito por antecipação de receita e saída de recursos transitórios. 3.1 Classificação das Despesas Públicas No Brasil os gastos públicos são previstos em lei e organizado por um orçamento público que classifica os diversos tipos de despesas. Santos (2007) explica que: [...] o verbo orçar significa avaliar, estimar e, por extensão, planejar. Assim, quando elaboramos um orça- mento estamos, na verdade, realizando uma estimativa, um planejamento das ações que pretendemos realizar com base em um determinado montante de recursos disponíveis. Para Kohama (2000), citado por Santos, (2007) o orçamento é a previsão de receitas e a fixação das despesas para um determinado período de tempo, geralmente um ano, sendo uma peça fundamen- tal da administração das finanças do Estado e de Contabilidade Pública. A classificação é a chave estrutural para a organização consciente e racional do orçamento do Governo (JESSE BURKHEAD, 1971, p. 145). Conforme classifica o Manual Técnico de Orçamento (2013, p. 50) a despesa pública é classificada em 16 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos duas: a) Despesas correntes:são as que não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital. b) Despesas de Capital: as que contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital. As despesas classificadas como correntes, podem ser entendidas como os gastos fixos, que ser- vem para manter a máquina administrativa em funcionamento, sem as quais não poderia (a adminis- tração pública) funcionar. Nelas estão as despesas com pessoal, material de consumo, manutenção e encargos de pagamento de dívida pública. Por sua vez, as despesas de capital, são as destinadas ao investimento que o governo realiza em obras públicas, instalações e bens permanentes. Ainda, no conjunto de despesas públicas, mecanismos de controle foram instituídos para melhor acompanhar a execução dos gastos públicos e melhorar sua execução em termos qualitativos. Foram elas a classificação Institucional, que organiza a distribuição do orçamento por órgãos, vinculada à estrutura funcional de cada um dos Poderes da Federação. Como nos ensina Giacomoni (2009, p. 90), a finalidade da classificação Institucional, [...] é evidenciar as unidades administrativas responsáveis pela execução da despesa, isto é, os órgãos que gastam os recursos de conformidade com a programação orçamentária. A classificação funcional, formada por funções e subfunções que tem como finalidade mostrar, a partir de sua classificação, como foram gastos os recursos públicos utilizados pelo governo, por área. Esta classificação foi instituída pela Portaria nº 42 , de 14 de abril de 1999, pelo Ministério do Orça- mento e Gestão (MOG), e é composta de um rol de funções e subfunções prefixadas, que servem como agregadores dos gastos públicos por área de ação do governamental nos três níveis de Governo (MTO, 2013, p. 34). As ações do governo são, ainda, estruturadas por programas visando a realização dos principais objetivos estratégicos constantes no Plano Plurianual (PPA)9, em período estipulado de quatro anos. A partir de 2012, A Lei do PPA 2012-2015 foi elaborada com base em diretrizes oriundas do Programa de Governo. Dentre essas diretrizes, destaca-se a Visão Estratégica, que indica em termos gerais o País almejado em um horizonte de longo prazoe estabelece, ainda, os Macrodesafios para o alcance dessa nova realidade de País. (MTO, 2013, p.36). As novas diretrizes para o PPA 2012-2015 contemplam os Programas Temáticos e de Programas de Gestão, Manutenção e Serviços ao Estado, são eles: • Programa Temático:aquele que expressa e orienta a ação governamental para a entrega de bens e serviços à sociedade; • Programa de Gestão, Manutenção e Serviços ao Estado: aquele que expressa e orienta as ações 9 Plano Plurianual (PPA) é o instrumento de planejamento que estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da Admi- nistração Pública Federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continua- da, conforme disposto no artigo 165 da Constituição Federal de 1988. PPA 2012 – 2015: Orientações para Elaboração do Plano Plurianual 2012 – 2015, p. 10). Disponível em: 17 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos destinadas ao apoio, à gestão e à manutenção da atuação governamental. Dentro da nova estrutura programática encontra-se, ainda, a Ação que é uma: “Operação da qual resultam produtos (bens ou serviços) que contribuem para atender ao obje- tivo de um programa. Incluem-se também no conceito de ação as transferências obrigatórias ou voluntárias a outros entes da Federação e a pessoas físicas e jurídicas, na forma de subsí- dios, subvenções, auxílios, contribuições, entre outros, e os financiamentos. (MTO, 2013, p.37). A cada Ação Orçamentária podem-se atribuir três categorias: a) atividade, b) projeto, c) operação especial. ATIVIDADE: Instrumento de programação utilizado para alcançar o objetivo de um programa, en- volvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto ou serviço necessário à manutenção da ação de Governo. PROJETO: Instrumento de programação utilizado para alcançar o objetivo de um programa, envol- vendo um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação de governo. OPERAÇÃO ESPECIAL: Despesas que não contribuem para a manutenção, expansão ou aperfei- çoamento das ações de governo, das quais não resulta um produto e não geram contraprestação direta sob a forma de bens ou serviços. Como integrante novo da classificação programática das despesas, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MP, a partir de 2013, inseriu a figura do Plano Orçamentário – PO, que é [...] uma identificação orçamentária, de caráter gerencial (não constante na LOA10), vinculada à ação orçamen- tária, que tem por finalidade permitir que tanto a elaboração do orçamento quanto o acompanhamento físico e financeiro da execução ocorram num nível mais detalhado do que o do subtítulo (localizador de gasto) da ação. Assim, a macro estrutura das despesas do governo são apresentadas, tendo a obrigatoriedade da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO ser aprovada no Congresso Nacional, bem com a Lei de Orça- mento Anual – LOA, que vislumbram todos os gastos necessários para as necessidades planejadas para o próximo exercício. 3.2 Aspectos relacionados ao crescimento dos Gastos Públicos Os gastos públicos podem aumentar em determinados períodos, decorrentes de mudanças ocorri- das na economia de um país. Essa constatação é conhecida como a Lei de Wagner que, conforme es- clarece Sandroni(2012) diz, [...]o desenvolvimento industrial provoca um aumento da participação das despesas públicas na renda nacional [...]11. Porém, apesar de ser considerada uma lei não é totalmente 10 Lei Orçamentária Anual. 11 Esta Lei se daria em três situações, segundo Sandroni (2012): 1) um aumento relativo dos custos com administração pública,a garantia da lei e da ordem e os elementos reguladores numa sociedade que se industrializa; 2) bens e serviços oferecidos pelo Estado nas áreas de cultura e bem-estar teriam uma elasticidade na renda da demanda maior do que a unidade. Assim, na medida em que a renda aumentasse a demanda por tais bens e serviços aumentaria mais do que proporcionalmente, 18 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos absoluta quando se compara países. Há que se considerar as particularidades de cada economia e sua estrutura antes de determinar a validade da Lei de Wagner. O entendimento do conceito de gastos públicos e gastos governamentais são de extrema impor- tância para se entender corretamente como se dá o aumento das despesas. Consideram-se gastos governamentais apenas as despesas realizadas pelas unidades que compõem a administração governamental direta e parte da indireta. Dessa forma, seriam en- globados neste conceito apenas os gastos realizados pelas esferas do governo mais autar- quias e fundações. Trata-se dos gastos de manutenção dos serviços públicos. Já os gastos públicos englobam em sua totalidade, além dos gastos governamentais, as despesas do go- verno com suas atividades econômicas produtivas, incluindo aí as empresas estatais. (MA- RIOTTI, 2012). No Brasil,é possível verificar a constatação da Lei de Wagner se comparar a variação do PIB com a variação dos gastos públicos conforme gráfico 1. As despesas que mais estão crescendo são nas rubricas pessoal e encargos pessoais, seguida de outras despesas correntes, especificamente com benefícios previdenciários, conforme tabela 1. Tabela 1. Gastos Públicos de 200 a 2011 em valores atualizados de 2011. 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 DESPESAS CORRENTES 633,39 674,27 685,74 632,35 662,02 736,74 880,79 900,36 862,15 946,30 985,98 1.019,24 Pessoal e Encargos Sociais 147,56 150,24 151,74 130,08 134,65 133,65 149,52 156,60 160,27 181,85 188,47 187,11 Juros e Encargos da Dívida 98,39 121,24 111,76 108,22 111,98 127,64 211,11 186,47 131,65 146,26 136,13 134,48 Outras Despesas Correntes 387,44 402,78 422,24 394,04 415,40 475,44 520,17 557,29 570,22 618,19 661,38 697,66 Transferências a Estados, DF e Municípios 130,67 137,37 148,78 132,09 139,02 167,24 177,17 191,86 206,99 202,79 220,29 187,65 Benefícios Previdenciários² 163,95 171,84 177,14 178,67 185,15 202,44 225,90 236,18 233,52 256,70 274,12 281,21 Demais Despesas Correntes 92,83 93,57 96,33 83,29 91,23 105,75 117,09 129,25 129,71 158,70 166,97 228,80 DESPESAS DE CAPITAL 165,74 205,83 202,29 180,26 156,65 125,60 233,51 214,00 295,68 388,69 254,50 190,55 Investimentos 25,59 33,47 20,48 10,63 16,36 24,61 27,37 45,20 43,23 53,77 59,28 49,62 Inversões Financeiras 28,93 46,94 42,34 38,61 32,49 31,01 37,24 39,76 47,91 38,84 38,88 40,46 Amortização da Dívida² 111,22 125,42 139,47 131,03 107,80 69,98 168,90 129,04 204,54 296,08 156,35 100,48 SUBTOTAL 799,13 880,10 888,02 812,61 818,68 862,34 1.114,29 1.114,36 1.157,82 1.334,99 1.240,48 1.209,80 Amortização da Dívida - Refinanciamento 762,50 505,13 476,94 624,40 548,66 710,20 526,30 498,08 331,84 311,83 415,25 491,63 Refinanciamento da Dívida Mobiliária 745,28 483,59 463,04 610,09 537,27 704,12 520,84 497,85 330,09 307,07 412,51 479,78 Refinanciamento da Dívida Contratual 17,22 21,54 13,91 14,31 11,39 6,08 5,46 0,23 1,75 4,76 2,74 11,85 TOTAL 1.561,63 1.385,23 1.364,97 1.437,01 1.367,34 1.572,53 1.640,59 1.612,44 1.489,67 1.646,82 1.655,73 1.701,42 GRUPO DE DESPESA DESPESA EXECUTADA em R$ Fonte: SIAFI - STN/CCONT/GEINC. Elaborada pelo autor. pressionando os gastos públicos;3) a industrialização seria acompanhada pela formação de oligopólios e monopólios, os quais exigiriam um grau maior de controle estatal, o que significaria também um aumento das despesas correspondentes. (SANDRONI, 2012, http://sandroni.com.br/?p=231). 19 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos Gráfico 1. Gasto Público no Brasil e o crescimento do PIB – 1990 a 2011. Fonte: Banco Mundial/Tesouro Nacional. Elaborado pelo autor. Gráfico 2. Gasto com funcionalismo federal de 2000 a 2010. 20 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos Unidade 4. Receitas tributárias do setor público Para que ocorra o gasto autorizado pelo orçamento anual, é preciso inicialmente contabilizar as receitas públicas, oriundas, em grande parte, da arrecadação de tributos. Conforme a Lei nº 4.320 de 1964, no art. 9º diz: “Tributo é a receita derivada instituída pelas entidades de direito público, compreendendo os impostos, as taxas e contribuições nos termos da constituição e das leis vigentes em matéria financeira, destinando-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou especificas exerci- das por essas entidades”. 4.1 Sistema Tributário Brasileiro Por tributo, entende-se toda prestação pecuniária compulsória em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada – art.3º do CTN (PORTAL TRIBUTÁRIO, 2012). Um Sistema Tributário é um conjunto de tributos instituídos legalmente, com a finalidade de captar recursos para financiar as atividades de um Estado com os seus gastos em educação, saúde, seguran- ça, saneamento, moradia e outros. O Sistema Tributário Brasileiro está estrutura em: impostos, taxas e contribuição de melhoria, além das contribuições especiais, as chamadas parafiscais. No Brasil a prerrogativa de tributar está vinculada aos três níveis de governo, Federal, Estadual (Distrital) e Municipal. Segundo o Portal Tributário, nos termos do artigo 145 da nossa Constituição Federal e do artigo 5º do CTN, tributos são: a. Impostos. b. Taxas, cobradas em razão do exercício do poder de policia ou pela utilização, efetiva ou poten- cial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos á sua disposição. c. Contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. Discorre, ainda que juridicamente, no Brasil, entende-se que as contribuições parafiscais ou es- peciais integram o sistema tributário nacional, já que a nossa Constituição Federal ressalva quanto à exigibilidade da contribuição sindical (art. 80, inciso IV, CF), das contribuições previ- denciárias (artigo 201 CF), sociais (artigo 149 CF), para a seguridade social (artigo 195 CF) e para o PIS — Programa de Integração Social e PASEP — Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (artigo 239 CF), (PORTAL TRIBUTÁRIO, 2012). Como contribuições especiais têm-se, ainda, as exigidas a favor da OAB, CREA, CRC, CRM e outros órgãos reguladores do exercício de atividades profissionais (PORTAL TRIBUTÁRIO, 2012). Os empréstimos compulsórios são regulados como tributos, conforme artigo 148 da CF o qual se insere no Capítulo I – Do Sistema Tributário Nacional (PORTAL TRIBUTÁRIO, 2012). 21 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos 4.2 Composição das Receitas Tributárias As receitas tributárias atualmente estão divididas em diversos tributos federais, estaduais (distri- tais) e municipais, conforme lista disponibilizada pelo portal tributário. Lista de tributos (impostos, contribuições, taxas, contribuições de melhoria) existentes no Brasil: elaborada por Portal Tributário. www.portaltributario.com.br 1. Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante – AFRMM - Lei 10.893/2004 2. Contribuição á Direção de Portos e Costas (DPC) - Lei 5.461/1968 3. Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT - Lei 10.168/2000 4. Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), também chamado “Salário Educação” - Decreto 6.003/2006 5. Contribuição ao Funrural 6. Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) - Lei 2.613/1955 7. Contribuição ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT) 8. Contribuição ao Serviço Brasileiro de Apoio a Pequena Empresa (Sebrae) - Lei 8.029/1990 9. Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Comercial (SENAC) - Decreto-Lei 8.621/1946 10. Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado dos Transportes (SENAT) - Lei 8.706/1993 11. Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI) - Lei 4.048/1942 12. Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Rural (SENAR) - Lei 8.315/1991 13. Contribuição ao Serviço Social da Indústria (SESI) - Lei 9.403/1946 14. Contribuição ao Serviço Social do Comércio (SESC) - Lei 9.853/1946 15. Contribuição ao Serviço Social do Cooperativismo (SESCOOP) - art. 9, I, da MP 1.715-2/1998 16. Contribuição ao Serviço Social dos Transportes (SEST) - Lei 8.706/1993 17. Contribuição Confederativa Laboral (dos empregados) 18. Contribuição Confederativa Patronal (das empresas) 19. Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE Combustíveis - Lei 10.336/2001 20. Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE Remessas Exterior - Lei 10.168/2000 21. Contribuição para a Assistência Social e Educacional aos Atletas Profissionais - FAAP - Decreto 6.297/2007 22. Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública - Emenda Constitucional 39/2002 23. Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional – CONDECINE - art. 32 da Medida Provisória 2228-1/2001 e Lei 10.454/2002 24. Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública - art. 32 da Lei 11.652/2008. 25. Contribuição Sindical Laboral (não se confunde com a Contribuição Confederativa Laboral, vide 22 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos comentários sobre a Contribuição Sindical Patronal) 26. Contribuição Sindical Patronal (não se confunde com a Contribuição Confederativa Patronal, já que a Contribuição Sindical Patronal é obrigatória, pelo artigo 578 da CLT, e a Confederativa foi instituída pelo art. 8, inciso IV, da Constituição Federal e é obrigatória em função da assembléia do Sindicato que a instituir para seus associados, independentemente da contribuição prevista na CLT) 27. Contribuição Social Adicional para Reposição das Perdas Inflacionárias do FGTS - Lei Comple- mentar 110/2001 28. Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) 29. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) 30. Contribuições aos Órgãos de Fiscalização Profissional (OAB, CRC, CREA, CRECI, CORE, etc.) 31. Contribuições de Melhoria: asfalto, calçamento, esgoto, rede de água, rede de esgoto, etc. 32. Fundo Aeroviário (FAER) - Decreto Lei 1.305/1974 33. Fundo de Combate à Pobreza - art. 82 da EC 31/2000 34. Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL) - Lei 5.070/1966 com novas disposi- ções da Lei 9.472/1997 35. Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) 36. Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) - art. 6 da Lei 9.998/2000 37. Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização (Fun- daf) - art.6 do Decreto-Lei 1.437/1975 e art. 10 da IN SRF 180/2002 38. Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel) - Lei 10.052/2000 39. Imposto s/Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) 40. Imposto sobre a Exportação (IE) 41. Imposto sobre a Importação (II) 42. Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) 43. Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) 44. Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) 45. Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR - pessoa física e jurídica) 46. Imposto sobre Operações de Crédito (IOF) 47. Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) 48. Impostosobre Transmissão Bens Inter-Vivos (ITBI) 49. Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) 50. INSS Autônomos e Empresários 51. INSS Empregados 52. INSS Patronal 53. IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) 23 Módulo 02 Licitações e Contratos Administrativos 54. Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Públi- co (PASEP) 55. Taxa de Autorização do Trabalho Estrangeiro 56. Taxa de Avaliação in loco das Instituições de Educação e Cursos de Graduação - Lei 10.870/2004 57. Taxa de Avaliação da Conformidade - Lei 12.545/2011 - art. 13 58. Taxa de Classificação, Inspeção e Fiscalização de produtos animais e vegetais ou de consumo nas atividades agropecuárias - Decreto-Lei 1.899/1981 59. Taxa de Coleta de Lixo 60. Taxa de Combate a Incêndios 61. Taxa de Conservação e Limpeza Pública 62. Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA - Lei 10.165/2000 63. Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos - Lei 10.357/2001, art. 16 64. Taxa de Emissão de Documentos (níveis municipais, estaduais e federais) 65. Taxa de Fiscalização da Aviação Civil - TFAC - Lei 11.292/2006 66. Taxa de Fiscalização da Agência Nacional de Águas – ANA - art. 13 e 14 da MP 437/2008 67. Taxa de Fiscalização CVM (Comissão de Valores Mobiliários) - Lei 7.940/1989 68. Taxa de Fiscalização de Sorteios, Brindes ou Concursos - art. 50 da MP 2.158-35/2001 69. Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária Lei 9.782/1999, art. 23 70. Taxa de Fiscalização dos Produtos Controlados pelo Exército Brasileiro - TFPC - Lei 10.834/2003 71. Taxa de Fiscalização dos Mercados de Seguro e Resseguro, de Capitalização e de Previdência Complementar Aberta - art. 48 a 59 da Lei 12.249/2010 72. Taxa de Licenciamento Anual de Veículo - art. 130 da Lei 9.503/1997 73. Taxa de Licenciamento, Controle e Fiscalização de Materiais Nucleares e Radioativos e suas instalações - Lei 9.765/1998 74. Taxa de Licenciamento para Funcionamento e Alvará Municipal 75. Taxa de Pesquisa Mineral DNPM - Portaria Ministerial 503/1999 76. Taxa de Serviços Administrativos – TSA – Zona Franca de Manaus - Lei 9.960/2000 77. Taxa de Serviços Metrológicos - art. 11 da Lei 9.933/1999 78. Taxas ao Conselho Nacional de Petróleo (CNP) 79. Taxa de Outorga e Fiscalização - Energia Elétrica - art. 11, inciso I, e artigos 12 e 13, da Lei 9.427/1996 80. Taxa de Outorga - Rádios Comunitárias - art. 24 da Lei 9.612/1998 e nos art. 7 e 42 do Decreto 2.615/1998 81. Taxa de Outorga - Serviços de Transportes Terrestres e Aquaviários - art. 77, incisos II e III, a art. 97, IV, da Lei 10.233/2001 82. Taxas de Saúde Suplementar - ANS - Lei 9.961/2000, art. 18 24 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos 83. Taxa de Utilização do SISCOMEX - art. 13 da IN 680/2006 84. Taxa de Utilização do MERCANTE - Decreto 5.324/2004 85. Taxas do Registro do Comércio (Juntas Comerciais) 86. Taxas Processuais do Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE - art. 23 da Lei 12.529/2011 Dica: Para saber mais veja os sites: Impostômetro - www.impostometro.com.br Brasil.gov - www.brasil.gov.br/sobre/economia/impostos FIEP - www.fiepr.org.br/sombradoimposto De olho no imposto - www.deolhonoimposto.org.br 25 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos Módulo III Unidade 5. Políticas de Estado 5.1 Ação reguladora do Estado No Brasil, no fim da década de 1980, iniciou-se com maior intensidade um processo de desesta- tização, tentando retirar o Estado de setores eminentemente privados devido a sua característica. As- sim, deixando para a iniciativa privada a possibilidade de exploração de setores puramente produtivos ou de atividades e serviços que poderiam, também, serem desenvolvidos por outros que não somente o governo. Mas somente em meados de 1995 em diante é que vão se intensificar as ações do Estado em direção a regulamentação de fato. A desestatização foi estabelecida de quatro formas distintas, classificadas como: a) concessão, b) permissão, c) privatizações, e d) terceirizações. Com isso, várias mudanças estruturais ocorreram, delimitando a participação do Estado na eco- nomia brasileira. Uma das maiores mudanças foi a criação das agências reguladoras e a regulação da infraestrutura, com a eliminação de alguns monopólios, separação de atividades no mesmo setor, e leis que pudessem reger o funcionamento dos setores. Assim, o Estado se posicionaria como agente regulador da economia e não produtor, fomentando o investimento e equilíbrio do mercado via concorrência e proteção do consumidor. 5.2 Ação estabilizadora do Estado A partir da década de 60, o Brasil começa a se destacar, também, por sua inflação, chegando a 40% nas décadas de 1960 e 1970. Nos anos de 1980, muitos planos econômicos foram criados e implemen- tados com o propósito de combater a inflação e estabilizar a economia, mas infelizmente não foram alcançados os resultados esperados, mantendo-se a alta inflacionária e comprometendo as ações go- vernamentais em investimentos e políticas públicas eficientes. Em meados da década de 1990, a situação estava agravada sensivelmente, comprometendo for- temente toda a capacidade do Estado brasileiro de promover as condições necessárias ao desenvolvi- mento econômico que pudesse atender a sociedade em níveis básicos. Então, no governo de Itamar Franco dá-se início àimplementação do Plano Real, que tinha como foco controlar a inflação e criar as condições adequadas ao desenvolvimento econômico, e retomar a 26 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos atividade de formular as políticas públicas necessárias e urgentes que o país historicamente carecia. 5.3 Ação distributiva do Estado Após o efetivo controle da inflação, havia a necessidade de se corrigir as distorções sociais que as décadas de alta inflação e baixo crescimento econômico proporcionaram à sociedade brasileira. Até então, o nível de pobreza era muito alto, e o país não podia manter esta situação, algo deveria ser feito, ou a ideia de desenvolvimento não avançaria. Gráfico 3. Nível de pobreza no Brasil em percentual da população Para isto, o uso de políticas distributivas seria essencial em forma de programas e políticas públi- cas voltadas ao combate à pobreza e inserção social, como osprogramas Bolsa Família12, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação entre outros, sendo o Bolsa Família o de maior destaque devido ao quantitativo de famílias atendidas e seu nível gastos. 12 O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o País. O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria (BSM), que tem como foco de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais, e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos. www.mds.gov.br 27 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos Gráfico 4. Quantidade de famílias atendidas pelo programa Bolsa Família em 2011. Dica: Para saber mais veja: O papel das políticas públicas no desenvolvimento local e na transformação da realidade – http://www.fit.br/home/link/texto/politicas_publicas.pdf. Economia do Setor Público – Carlos Alberto Longo e Roberto LuisTroster, 28 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos Unidade 6. A dívida pública Medeiros (2009, p. 81) propõe que o endividamento público é um instrumento fundamental para a distribuição intertemporal ótima das políticas públicas. É por meio dele que a provisão dos bens públi- cos pode ser temporalmente dissociada da arrecadação dos recursos para lhe fazer face. O endividamento público pode ser em nível federal, estadual ou municipal. Portanto, o endividamento público é necessário para que os governos possam programar seus projetos estratégicos e suas políticas sociais e de desenvolvimento. 6.1 Perfil da dívida pública no Brasil Dívida pública é a dívida que governo contraijunto a entidades ou pessoas para financiar seus gastos que ultrapassam a arrecadação tributária e para promover os projetos e políticas econômicas de interesse do Estado. Os governos podem financiar seus gastos por meio da; a) arrecadação, b) emissão de moeda, e c) venda de títulos públicos. O conceito de Dívida Pública Federal, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional é: A Dívida Pública Federal (DPF) refere-se a todas as dívidas contraídas pelo governo federal para financiamento do seu déficit orçamentário, nele incluído o refinanciamento da própria dívida, e para outras operações com finalidades específicas, definidas em lei. É possível classificar a DPF de acordo com os instrumentos usados para captação de recursos e pela moeda na qual ocorre o pagamento de seus fluxos. Em relação à captação de recursos, esta pode ocorrer por emissão de títulos públicos (sendo por essa razão classificada como mobiliária), ou por contratos, firmados principalmente com organismos multilaterais (sendo esta dívida classificada como contratual). Já sobre a moeda usada para fazer face a seus pagamentos, a dívida é classificada como interna quando os pagamentos são realizadas na moeda corrente em circulação no país, no caso brasi- leiro o real, ou externa, quando os pagamentos são feitos em moeda estrangeira, normalmente o dólar norte-americano. Atualmente, toda a Dívida Pública Federal em circulação no mercado nacional é paga em real e captada por meio da emissão de títulos públicos, sendo por essa ra- zão definida como Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi). Já a Dívida Pública Federal existente no mercado internacional é paga em dólar norte-americano e tem sido captada tanto por meio da emissão de títulos quanto por contratos, sendo por isso definida como Dívida Pública Federal externa (DPFe). (MEDEIROS ET ALL, 2009, p. 102)13. Ainda, segundo Medeiros, é importante, porém, compreender o conceito de dívida líquida. Este conceito é mais comumente utilizado para fins de acompanhamento da sustentabilidade fiscal de um país. No caso do Brasil, por exemplo, a DLSP é o indicador de dívida considerado pelo governo federal como referência para fins de decisões de política econômica. (MEDEIROS, 2009, p. 102). Considera-se a dívida líquida como aquela que não esteja somada com os juros decorrentes da própria dívida. Portanto, quando se fala em endividamento público, é importante observar qual o con- ceito utilizado para expressar os valores da dívida. 13 Para efeito de didático nos atemos, apenas, a dívida do setor público federal. 29 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos Gráfico 5. Dívida Federal Interna Brasileira Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional. Gráfico elabora do pelo autor. É possível verificar no gráfico 5, que a dívida pública interna federal explodiu nos últimos 18 anos, chegando a maio de 2012 em R$ 1,85 trilhões. Já a dívida externa aparece com US$ 298 bilhões até maio de 2012, conforme relatório do IBGE sobre a dívida pública federal. O tamanho da dívida pública de um país, bem como seu gerenciamento, pode determinar, no mer- cado, a confiança que os credores e investidores internacionais têm em relação ao país devedor. Quanto maior a desconfiança dos credores, baseada na composição e porte da dívida externa e também interna, maior a dificuldade em se obter créditos internacionais. Essa situação pode compro- meter, além dos compromissos externos, a continuidade de políticas econômicas estabelecidas pelo governo para o desenvolvimento do país. Usualmente, os governos, agências de risco e organizações internacionais, adotam o conceito de dívida líquida para fazerem suas projeções ou planejamento econômico-financeiro, e sua conceituação pode ser entendida como: A dívida líquida do setor público (DLSP) envolve a consolidação de obrigações e ativos financei- ros de todo o setor público, não financeiro por definição, o que compreende a administração direta, as autarquias e as fundações do governo federal, dos governos estaduais e municipais, além do Bacen e das estatais do setor produtivo – exceto a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras) desde maio de 2009. (GOBETTI, 2010, p. 10)14. Porém, muitas são as divergências quanto ao uso dos dois conceitos, devido à discussão relativa à metodologia utilizada para o cálculo e abrangência da dívida. Essa divergência conceitual e metodológica, por vezes, ocasionou distorções no cálculo da dívida e da relação dela como o produto interno bruto, sendo verificado percentual de déficits absurdamente altos em algum momento e enormemente baixos em outro, sendo que em ambos havia equívocos na leitura da dívida quanto ao seu conceito correto. 14 Referência extraída do texto para discussão 1514, Dívida Líquida e Dívida Bruta: uma abordagem integrada para analisar a trajetória e o custo do endividamento Brasileiro. Autores: Sérgio WulffGobetti e Bernardo PattaSchettini. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea. Brasília, 2010, p. 10. 30 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos feito pelo setor público o superávit primário, ou seja, que se faça economia para cumprir os compro- missos da dívida pública. O déficit nominal ou total representa a necessidade de financiamento do setor público – NFSP, que é utilizado para sinalizar ao governo as necessidades de recursos para dar continuidade às suas atividades. Portanto, para se financiar a dívida pública, como foi percebido, é necessário atrair cada vez mais financiadores que estejam dispostos a bancar os gastos do governo, e isso se dá via remuneração pelos juros atrelados aos empréstimos financeiros, ou aos títulos vendidos com promessa de resgate em determinada data. Caso a dívida continue aumentando, a necessidade por mais recursos também irá aumentar, fazendo com que a despesa seja sempre maior que as receitas, provocando, assim, os déficits públicos. Dica: Para saber mais sobre as definições discutidas veja: Secretaria do Tesouro Nacional – www.stn.fazenda.gov.br Banco Central do Brasil – www.bacen.gov.br 31 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos Unidade 7. Política fiscal e distribuição de renda 7.1 Fatores ligados à política fiscal do governo A política fiscal, como dito anteriormente, é um instrumentos que o governo usa para arrecadar tri- butos e controlar suas despesas, por meio da manipulação da estrutura e alíquotas de impostos, para estimular os gastos de consumo do setor privado. (VASCONCELLOS E GARCIA, 2006, p. 91). Assim, o uso de tal política é essencial para se promover o desenvolvimento de um país. Criar as condições necessárias ao desenvolvimento passa, necessariamente, por investimentos públicos e privados. Sendo em maior parte os investimentos públicos, que necessitarão de compromissos finan- ceiros. Quando os governos não conseguem arcar com os investimentos públicos, somente com a arre- cadação tributária existente, lançaram mão de empréstimos e emissões de títulos para fazer frente aos compromissos estabelecidos. Portanto, existe um paradoxo quando se utiliza a política fiscal para buscar o desenvolvimento, por meio de investimentos em infraestrutura e aparelhos públicos, uma vez que quanto maior os gastos governamentais, mais arrecadação será necessário, ou a necessidade de se contrair dívidas. Se o conceito de desenvolvimento é o de maior bem-estar possível da população e, para isso é necessário cada vez mais aumento de renda per capita, a política fiscal adotada por um determinado governo pode comprometer este bem-estar. Pois, aumenta-se a arrecadação, logo se diminui a renda disponível da população economicamente ativa que, por consequência, diminui sua condição de bem- -estar. Ainda em relação à política fiscal, caso haja exageros nos gastos do governo, é possível, como consequência, o aumento das pressões inflacionárias, corroborando com a perda do poder de compra da sociedade, impactando mais uma vez na diminuição do bem-estar. 7.2 Influência dos impostos diretos eindiretos Para se falar em impostos, primeiro é necessário conhecer conceitualmente os tipos de impostos. Existem dois tipos de impostos quando a forma de cobrança: a) os diretos e b) os indiretos. Impostos diretos:é aquele em que o pagamento é feito diretamente pelo contribuinte de fato; isto é, quem faz o pagamento é a mesma pessoa que suporta seu ônus. Exemplos: IR, IPTU, IPVA e ITR. Impostos indiretos:é aquele em que o valor do tributo está incluso no preço da mercadoria ou serviço adquirido pelo consumidor final, sendo o comerciante, industrial ou prestador de serviço meros repassadores destes valores aos cofres públicos. Exemplos: ISS, ICMS e COFINS. A influência dos tributos na política fiscal é enorme, e seu impacto sobre a renda das pessoas também. O governo adota a política fiscal para arrecadar os recursos necessários, mas também para gastar esses recursos, que muitas vezes não chega aos cofres públicos, mas são direcionados em for- ma de subsídios ou reduções de alíquotas para setores produtivos ou consumidores. Quando o governo quer aumentar as atividades econômicas (“aquecer a economia”), utiliza de política fiscal expansionista via aumento de despesa (aumenta os gastos diretamente), ou via redução de tributos possibilitando o aumento da renda das famílias e empresas, passando para elas a possibi- 32 Módulo 03 Licitações e Contratos Administrativos lidade do aumento dos gastos, pelo mercado. 7.3 Efeitos redistributivos do imposto sobre a renda Com o propósito de equilibrara distribuição da renda, o governo pode adotar uma política de redis- tribuição utilizando-se da política fiscal via tributos. A isenção tributária vinculada a produtos de primeira necessidade, e mesmo sobre remédios e outros produtos e serviços importantes para a sociedade, em especial para as camadas menos favore- cidas, é um exemplo de como o imposto é determinante sobre o nível de renda. A redistribuição da renda tem como objetivo principal a melhoria da qualidade de vida das pessoas e a garantia do acesso a produtos e serviços básicos necessários a qualquer cidadão. Daí ser possível observar que muitas vezes, a política redistributiva também apresenta um viés alocativo, quando da escolha de setores ou classes sociais que se beneficiarão das medidas de política fiscal a partir da cobrança de impostos. cas. 3ªed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 3ª reimpressão. GOBETTI, Sérgio Wulff; SCHETTINI, Bernardo Patta. Dívida líquida e dívida bruta: uma abor- dagem integrada para analisar a trajetória e o custo do endividamento brasileiro. Brasília. Ipea, 2010. GONZAGA DE SOUSA, Luis. Ensaios de Econo- mia. 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