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ALOIMUNIZAÇÃO Rh E DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL CONCEITOS · DHP: destruição de Hm fetais anemia intraútero e hiperbilirrubinemia morbimortalidade perinatal · Aloimunização Rh: principal causa de DHP · Eritoblastose fetal: corresponde a uma pequena porcentagem dos casos de DHP, sendo forma mais grave da anemia da DHP INCIDÊNCIA · Raça branca: 15% é Rh-; possibilidade de incompatibilidade Rh do casal chega a 13% · Até 30% dos Rh- não se sensibilizam · Dos homens Rh+, 60% são heterozigotos · A possibilidade global de o feto ser Rh+ é 70% · A incompatibilidade ABO exercer proteção parcial contra a sensibilização Rh – as Hm incompatíveis pelo ABO são rapidamente eliminadas da circulação materna, antes que haja sensibilização pelo fator Rh · Quanto maior a quantidade de sangue que entra na circulação materna, maior o risco de aloimunização (>0,1mL 14%) · Risco na 1ª gestação: 7-8%; risco na 2ª gestação: 15-16% · Maior predominância de aloimunização na 1ª gestação em fetos do sexo masculino FISIOPATOLOGIA Fator Rh: · Os antígenos do sistema Rh são os que apresentam maior relação com aloimunização, principalmente o antígeno D. Existem variações do ag D, como a variante DU, mais fraca, que pode ser falsamente tipada como Rh-. A importância clínica é que eritrócitos DU+ podem estimular a produção de ac anti-D em indivíduos Rh-. Indivíduos Rh-/DU+ devem ser acompanhados como Rh+. · Com a crescente profilaxia anti-D, a aloimunização por outros antígenos têm ganhado importância - C, c, Lewis, Kell, Duffy, X, P, M, N, S (causam anemia grave) · Presente nas Hm fetais desde a 6ª semana após concepção e na vilosidade corial na 12ª-14ª semanas Aloimunização Rh: · Principal causa de DHP · Ocorre quando hemácias Rh+ (agD na superfície) entram na circulação sg da mulher Rh-, estimulando seu sistema imune a produzir ac anti-D. É possível nas seguintes situações: · Transfusão de sg incompatível: falhas na classificação; transfusão de urgência · Durante a gravidez: hemorragia feto-materna - principal causa de aloimunização. Mais comum e com maior volume no 3º tri. Está presente em 50% dos partos normais, antes ou após o parto. Ocorre devido a pequenas roturas de vasos placentários. Fatores de risco: doença hipertensiva da gestação, procedimentos invasivos (pp cordocentese), extração manual da placenta, aumento da IG · No parto: o risco aumenta com: cesárea, extração manual da placenta, hemorragias intraparto (descolamento prematuro, placenta prévia) e gravidez gemelar · Antes do nascimento, intraútero: muito rara, pois o sistema imune do feto é muito imaturo, geralmente incapaz de reconhecer ag e produzir ac. Teoricamente, ocorreria quando fetos Rh- recebessem sangue Rh+ da mãe pela transfusão transplacentária materno-fetal ou em gravidez gemelar de fetos com diferentes Rh. · Outros: abortamento (pp provocado) 1. Hemorragias transplacentárias 2. Hemácias fetais com Rh+ (antígeno D) entram na circulação materna, com sangue Rh- 3. Aloimunização: há uma estimulação à resposta imune primária, lenta (semanas), fraca, que leva à produção de anticorpos IgM, que não atravessam a placenta. O início da resposta primária depende da frequência e da quantidade de das hemácias Rh+ do feto que entraram na circulação materna. (0,1mL é suficiente) 4. Quando ocorre a 2ª exposição a Hm com antígeno, há resposta imune secundária, rápida (dias), forte, que leva à produção de IgG (atravessa a placenta). Doses de 0,01mL são suficientes para gerar resposta secundária. 5. Os anticorpos IgG anti-D atravessam a placenta, ligam-se às hemácias fetais Rh+ e produzem hemólise extravascular, primariamente no fígado e baço. CLÍNICA · Gestante: ausência de sinais e sintomas · Feto: o grau de hemólise e a gravidade da doença hemolítica são variáveis: · 50%: comprometimento leve; sobrevivência sem tto · 25%: boas condições ao final da gravidez, mas óbito ou distúrbios mentais graves após o nascimento · 25%: graus elevados de hemólise e desenvolvimento de hidropsia ASSISTÊNCIA À GESTANTE RH- Pré-natal · Anamnese: HP de transfusão e cirurgia, HGO (evolução e término das gestações anteriores, RN hidrópicos, natimortos ou neomortos; abortamentos; RN sem problemas, após alguns acometidos; recebimento de “vacina pós-parto” = Ig anti-D · Exames complementares: · Coombs indireto: verificar anticorpos anti-Rh no sangue materno. Enquanto ausentes, não existe risco para o feto. Se negativo, repetir mensal a partir de 20 semanas até o parto · Painel de Hm: identificar quais os ac presentes na circulação materna; solicitar após CI positivo; se anti-Rh presente, a aplicação de Ig não trará benefícios Parto: · Clampar a parte fetal do cordão umbilical logo após o desprendimento fetal · Não clampar a parte materna, deixando o sangue do cordão escoar livremente · Colher sangue do cordão umbilical e pesquisar GS/Rh, coombs indireto · Evitar extração manual da placenta · Administração de Ig anti-D até 72h após o parto PREVENÇÃO DA ALOIMUNIZAÇÃO Rh Método: · Imunoglobulina Rh: atóxica, supressão imune dirigida, sem efeitos sofre demais sistemas · Eficácia: 98,4-99% Mecanismos: · Destruição das Hm fetais ligadas a ac exógenos, antes que haja produção de ac endógenos. Essas Hm são as que serão direcionadas para a polpa vermelha do baço e sofrerão hemólise (mais provável) · Bloqueio ou ligação, no local antigênico, das Hm fetais Rh+ · Imunossupressão mediada por anticorpos Indicações: Pós-parto - Gestante Rh- - Parceiro Rh+ - RN Rh+ - CI negativo; CD negativo (cordão umbilical) - CI positivo se recebeu Ig na gestação ou se painel de Hm mostrar sensibilização por outro ag - Mesmo se laqueadura · Ig anti-D 250-300 mcg IM até 72h após o parto. · Doses mais altas: hemorragia transplacentária maciça 300mcg < 25mL 600mcg 25-49mL 900mcg 50-74mL · Para averiguar se dose foi adequada, utilizam-se testes quando há suspeita de hemorragias maiores: cesárea com extração manual de placenta, placenta prévia e descolamento prematuro de placenta. Teste da roseta: triagem; permite identificar Hm fetais no sangue materno Teste de Kleihauer: quantifica Hm fetais no sg materno (se + = dose insuficiente) Citometria de fluxo: quantifica Hm fetais no sg materno, com maior precisão Na gravidez - Gestante Rh- // Feto Rh+ ou desconhecido // CI negativo · Ig anti-D 300 mcg IM na 28ª semana e no pós-parto. - Pós sangramentos: abortamento, ameaça de abortamento, placenta prévia, gravidez ectópica ou molar · Ig anti-D 300 mcg IM – repetir a cada 12 semanas. - Pós procedimentos: amniocentese, biópsia de vilo corial, cordocentese, cirurgia fetal · Ig anti-D 300 mcg IM – repetir a cada 12 semanas ou em 6 semanas se realizar outra amniocentese. Pós transfusão incompatível - Mulher Rh- // CI negativo · Ig anti-D 10mcg/mL de sangue incompatível transfundido. ASSISTÊNCIA À GESTANTE IMUNIZADA · Gestante imunizada = presença de anticorpos anti-Rh no sangue de gestante Rh- Pré-natal: · Anamnese: HP transfusões/cirurgias; HGO: RN com icterícia + necessidade de tto; natimorto ou neomorto · Exames complementares · Painel de hemácias: identifica quais ac são responsáveis pela aloimunização; permite acompanhamento de acordo com a probabilidade de aquele ac provocar hemólise · Coombs indireto quantitativo: títulos > 1:8 indicam necessidade de estender a propedêutica (risco de desenvolvimento de hidropsia pelo feto; > 15 UI/mL necessidade de testes invasivos · Análise espectrofotométrica do LA: determina a quantidade de Bb no LA – avalia o grau de hemólise - Se títulos de ac em níveis críticos e RN anteriores sem problemas: realizar entre 28-29 semanas; se títulos ou história sugerem maior gravidade, realizar < 28-29 semanas. - Coleta de LA por amniocentese (riscos/complicações: punção hemorrágica, parto prematuro, descolamento prematuro de placenta, infecção, perda fetal, agravamento da DHP) - Interpretação: gráfico de Queenan (considera ≥ 14 semanas de gestação) Zona 4: fetos com risco de morte uterina. Necessitam de tto intraútero (transfusão) ou interrupção da gestação. Zona 3:fetos Rh+ comprometidos, moderada ou gravemente comprometidos. Requer avaliações seriadas a cada 1-2 semanas ou cordocentese para determinar gravidade da anemia Zona 2: inclui fetos Rh- e Rh+ leve ou moderadamente acometidos. Requer análises seriadas a cada 2-4 semanas, dependendo da clínica Zona 1: fetos Rh negativos, portanto, não comprometidos. Se após outra amniocentese o feto permanece nessa zona, é possível aguardar parto a termo. · Estudo do sangue fetal: coleta do sg fetal e determinação de tipo sg, Ht e teste de Coombs direto. - Cordocentese: coleta de sangue na veia umbilical. Requer habilidade e experiência. Oferece riscos: hemorragia de cordão, hematomas, bradicardia, TPPT, infecção, descolamento prematuro de placenta, aumento do risco de agravamento da DHP, perda fetal - Deve ser reservada a procedimentos terapêuticos (alto risco para agravamento da doença) · Avaliação não invasiva da anemia fetal: métodos que oferecem maior segurança. - Permitem diagnóstico da anemia fetal, antes do desenvolvimento da hidropsia (feto hidrópico responde pior ao tto). - Baseada nas alterações fisiopatológicas o feto sofre para compensar a anemia. Instalam-se segundo o grau da hemólise e da anemia. - Anemia fetal: déficir de Hb (Hb média-Hb fetal) > 2g Anemia leve Déficit de Hb < 2 - Aumento de DC - Diminuição da viscosidade sg (redução do Ht) Doppler estado hiperdinâmico fetal Anemia moderada Déficit de Hb > 5 - Produção extramedular de hemácias (fígado e baço) - Liberação para o sg de formas imaturas (eritroblastos) US aumento de fígado e baço (hematopoiese extramedular) Anemia grave Déficit de Hb > 7 - Hipoalbuminemia - Aumento da pressão na veia porta (obstrução de sinusoides hepáticos) - Perda de líquido para o espaço extravascular hidropsia (derrame abdominal, pleural e pericárdico) US visualização dos derrames, aumento da espessura placentária e do volume do LA Doppler venoso sobrecarga e insuficiência cardíaca Cardiotoco hipóxia miocárdica Cardiotocografia - Hipóxia fetal US - Sinais de hidropsia (derrames abdominal, pleural e pericárdico - Diâmetro da veia umbilical - Comprimento do fígado - Perímetro esplênico - Medida do diâmetro biventricular externo Dopplervelocimetria - Veia umbilical, Aorta torácica, Ducto venoso, Artéria esplênica, Artéria cerebral média - Mais usado: artéria cerebral média - Fácil execução, ampla disponibilidade, capacidade de detectar a anemia em estágios iniciais - Critérios: feto em repouso e apneia, ampliação da imagem o suficiente para visualizar, todo o trajeto do vaso, insonação com o ângulo o mais próximo de zero e sempre inferior a 30°), insonar o vaso próximo de sua origem, no polígono de Willis, delimitar o pico da velocidade sistólica manualmente, fazer 3 medidas e utilizar a maior delas. - Avalia a consequência hemodinâmica da anemia fetal (aumento da velocidade de fluxo) - Limitações: > 34 semanas, anemia após transfusão intrauterina, - Valor do pico da velocidade sistólica (PVS): método superior aos não invasivos para diagnóstico de anemia fetal. Tabela para determinar grau de anemia fetal Se anemia fetal moderada ou grave: transfusão intrauterina ou interrupção da gestação PVS > 1,5 múltiplos da velocidade mediana para a IG VPP 100% para anemia mod-grave · Associação de marcadores não invasivos: permite avaliar outros aspectos da fisiopatologia da anemia fetal e aumentar a acurácia diagnóstica. - < 2: VPN 100% feto sem anemia - > 3: VPP 100% feto com anemia moderada/grave cordocentese para transfusão intrauterina Conduta: · Assistência ao parto espontâneo a termo: a gravidez pode evoluir até o termo nas seguintes situações: - Feto Rh- e pai heterozigoto - Feto Rh+ com pouco comprometimento (títulos de ac abaixo dos níveis críticos, LA na zona inferior de Queenan, acompanhamento não invasivo mostrando baixa probabilidade de anemia) · Interrupção prematura da gravidez: em gestações > 34 semanas, com acompanhamento não invasivo e/ou espectrofotometria alterados. Pode ser usada corticoterapia para amadurecimento fetal. · Tratamento intrauterino: gestações < 34 semanas com fetos comprometidos – transfusão intraútero - Objetivo de reduzir anemia até que o feto atinja maturidade suficiente para o parto (Ht 50-55%) - Altas taxas de sobrevida, mesmo para fetos hidrópicos. - Recurso extremo para fetos gravemente comprometidos - Indicações: Ht fetal < 30% ou déficit de Hb > 5 - Tipo: intravascular – punção guiada por US da veia umbilical na inserção placentária do cordão ou inserção no abdome do feto. - Sangue: O-, lavado, concentrado, deleucotizado e irradiado. Volume = 18,2 + 13,4 x Hb pré TIU + 6 x IG (sem) - Intervalo: 2 transfusões em intervalo de 15 dias; transfusões 3-4 semanas até 34 semanas. Para fetos hidrópicos: 1ª transfusão deve elevar Ht para 25%; 2ª transfusão em 48h deve elevar para 35% e 3ª transfusão em 1 semana deve elevar para 50%) · Fenobarbital para maturação hepática - O RN com o fígado ainda imaturo não consegue conjugar Bb hiperbilirrubinemia kernicterus - Tto da hiperlirrubinemia: exsanguineotransfusão - Fenobarbital: administrado à mãe aumenta a capacidade de conjugação hepática fetal reduz necessidade de exsanguineotransfusão Gestante Rh-/DU+ Gestante Rh-/DU- Parceiro Rh+/desconhecido Cooms Indireto na 1ª consulta Positivo Negativo Gestante Rh- Parceiro Rh- Considera RH+ Fim da propedêutica Fim da propedêutica S/ risco de aloimunização Acompanhamento especializado Repetição mensal do CI a partir de 20 sem CI positivo Acompanhamento especializado CI negativo Profilaxia antenatal disponível Ig anti-D com 28 sem e até 72h após o parto se RN Rh+ Profilaxia antenatal indisponível Ig anti-D até 72h após parto se RN Rh+ e CI neg
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