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Aula 18
Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) -
Pós-Edital
Autor:
Michael Procopio
Aula 18
10 de Dezembro de 2020
 
 
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AULA 18 
DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL, CONTRA A 
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E CONTRA O SENTIMENTO 
RELIGIOSO E O RESPEITO AOS MORTOS 
 
SUMÁRIO 
SUMÁRIO ....................................................................................................................................... 1 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................................................... 3 
2. DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL .......................................................................... 3 
2.1 DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL ........................................................................... 3 
2.1.1 Da Violação Contra os Direitos Autorais ................................................................................. 4 
2.1.2 Da Ação Penal nos Crimes contra a Propriedade Intelectual ................................................. 8 
2.2 DOS CRIMES CONTRA O PRIVILÉGIO DA INVENÇÃO .............................................................................. 9 
2.3 DOS CRIMES CONTRA AS MARCAS DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO .............................................................. 9 
2.4 DOS CRIMES DE CONCORRÊNCIA DESLEAL ......................................................................................... 9 
3. 3 – DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ............................................................... 9 
3.1 ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE TRABALHO .............................................................................. 11 
3.2 ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO E BOICOTAGEM VIOLENTA ....................... 12 
3.3 ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO ........................................................................... 13 
3.4 PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU PERTURBAÇÃO DA ORDEM............................... 14 
3.5 PARALISAÇÃO DE TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO ........................................................................ 15 
3.6 INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA. SABOTAGEM ............................ 16 
3.7 FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA ............................................................ 17 
Michael Procopio
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3.8 FRUSTRAÇÃO DE LEI SOBRE A NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................................... 20 
3.9 EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM INFRAÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA ............................................... 21 
3.10 ALICIAMENTO PARA O FIM DE EMIGRAÇÃO ...................................................................................... 23 
3.11 ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL .......................... 
 24 
4. DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E O RESPEITO AOS MORTOS...................................... 25 
4.1 DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO ............................................................................. 25 
4.1.1 Ultraje a Culto e Impedimento ou Perturbação de Ato a Ele Relativo ................................. 26 
4.2 DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS .............................................................................. 27 
4.2.1 Impedimento ou Perturbação de Cerimônia Funerária ....................................................... 27 
4.2.2 Violação de Sepultura ........................................................................................................... 28 
4.2.3 Destruição, Subtração ou Ocultação de Cadáver ................................................................. 29 
4.2.4 Vilipêndio a Cadáver ............................................................................................................. 29 
5. QUESTÕES ......................................................................................................................... 30 
5.1 LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS ......................................................................................... 30 
5.2 GABARITO ................................................................................................................................ 43 
5.3 LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS ........................................................................................ 44 
6. DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA ....................................................................... 71 
7. RESUMO ............................................................................................................................ 85 
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................100 
 
 
 
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Nesta aula, estudaremos os crimes contra a propriedade imaterial, os crimes contra a organização do 
trabalho, contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos. 
Esta aula será composta pelos seguintes capítulos: 
 
 
 
Continuaremos, então, o estudo da Parte Especial do Código Penal, com o estudo do Título III, “Dos Crimes 
Contra a Propriedade Imaterial”, do Título IV, “Dos Crimes Contra a Organização do Trabalho”, e do Título 
V, denominado “Dos crimes contra o sentimento religioso e o respeito aos mortos”, título que foi dividido 
em dois tópicos, um correspondente aos crimes contra o sentimento religioso (Capítulo I) e outro para os 
crimes contra o respeito aos mortos (Capítulo II). 
Desejo uma aula que instigue a compreensão destes crimes, analisados na sequência do nosso Curso. Espero 
ter apresentado os temas aqui propostos de forma instigante, para que haja atenção e verdadeiro 
aprendizado. 
Se ainda não está seguindo, CONVIDO A SEGUIR O PERFIL PROFESSOR.PROCOPIO NO INSTAGRAM. Lá, 
haverá informações relevantes de aprovação de novas súmulas, alterações legislativas e tudo o que houver 
de atualização, de forma ágil e com contato direto. Use as redes sociais a favor dos seus estudos. 
 
2. DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL 
Os crimes contra a propriedade imaterial estão previstos no Título III da Parte Especial do Código Penal. 
 
2.1 DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL 
Os crimes contra a propriedade intelectual possuem hoje previsão limitada ao artigo 184 do Código Penal, 
enquanto o artigo 186 cuida da ação penal. “Dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual” é a denominação 
do Capítulo do Título III da Parte Especial (Dos Crimes Contra a Propriedade Imaterial). Anteriormente, 
abrangia também o crime de usurpação de nome ou pseudônimo alheio, que possuía previsão no artigo 185 
do Código Penal e foi revogado pela Lei 10.695/2003. 
 
Dos Crimes 
contra a 
Propriedade 
Imaterial
Dos Crimes 
Contra a 
Organização do 
Trabalho
Dos Crimes 
Contra o 
Sentimento 
Religioso e 
Contra o 
Respeito aos 
Mortos
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2.1.1 Da Violação Contra os Direitos Autorais 
O crime de violação contra os direitos autorais está previsto no artigo 184 do Código Penal: 
Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. 
§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, 
por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem 
autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou 
de quem os represente. 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa 
§ 2o Na mesmapena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, 
expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra 
intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista 
intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia 
de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem 
os represente. 
§ 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou 
qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la 
em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, 
direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou 
executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa 
§ 4o O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de 
autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro 
de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do 
copista, sem intuito de lucro direto ou indireto. 
Tutela-se a propriedade intelectual. O direito do autor ou direito autoral se refere ao conjunto de direitos 
atribuídos ao responsável pela criação de uma determinada obra. Abrange direitos materiais e morais. 
Os direitos conexos são aqueles referentes à execução, transmissão e reprodução da obra, incluído o direito 
de arena. Este último consiste na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a 
fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou 
processo, de espetáculo desportivo de que o indivíduo participe, conforme conceituação da Lei 9.615/98 
(Lei Pelé). 
O núcleo do tipo é “violar” (infringir, transgredir, desrespeitar), sendo o objeto material, aquele sobre o qual 
recai a conduta, tanto o direito do autor quando os direitos conexos. 
A expressão “direito do autor” torna o tipo penal do artigo 184, caput, do Código Penal uma norma penal 
em branco homogênea ou imprópria heterovitelina. Sua complementação é feita especialmente pela Lei 
9.610/98, além da própria Lei 9.615/98, acima citada. 
O Título III da Lei 9.610/98 é dedicado aos direitos do autor, enumerando-os em extenso rol. O Capítulo I de 
referido Título traz as disposições preliminares a respeito: 
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Art. 22. Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou. 
Art. 23. Os co-autores da obra intelectual exercerão, de comum acordo, os seus direitos, salvo 
convenção em contrário. 
O crime é comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do sujeito ativo para a sua configuração. 
Além disso, é de forma livre, sendo que a violação aos direitos do autor pode se dar de diferentes modos, 
não havendo maneiras específicas de sua prática. Pode ocorrer, por exemplo, por meio da reprodução da 
obra original ou a comercialização de edições da obra de forma não autorizada. 
O crime é doloso e plurissubsistente, razão pela qual admite a punição da tentativa. 
Sobre a perícia para a configuração do delito, o STF já considerou ser suficiente o exame externo do corpo 
de delito, com indicação dos autores cujos direitos foram violados: 
“RECURSO ESPECIAL – MATÉRIA FÁTICA – REVOLVIMENTO VERSUS ENQUADRAMENTO. São 
inconfundíveis o revolvimento dos elementos probatórios do processo e o enquadramento jurídico dos 
fatos constantes do acórdão impugnado por meio de recurso de natureza extraordinária. DIREITO 
AUTORAL – LAUDO. Desnecessário é o exame do conteúdo das peças apreendidas, sendo suficiente 
o do externo, bem como a indicação dos autores lesionados. DIREITO AUTORAL – VIOLAÇÃO – 
INSIGNIFICÂNCIA. Surge impróprio cogitar da atipicidade da conduta, sob o ângulo da insignificância, 
considerada a quantidade de material apreendido.” (HC 123037/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira 
Turma, Julgamento 04/10/2016). 
O STJ já fixou a tese, em julgamento de recurso representativo da controvérsia, não ser necessária sequer a 
identificação dos titulares dos direitos, entendendo suficiente a perícia por amostragem: 
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSAMENTO SOB O RITO DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 
RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. PERÍCIA SOBRE 
TODOS OS BENS APREENDIDOS. DESNECESSIDADE. ANÁLISE DOS ASPECTOS EXTERNOS DO 
MATERIAL APREENDIDO. SUFICIÊNCIA. IDENTIFICAÇÃO DOS TITULARES DOS DIREITOS AUTORAIS 
VIOLADOS. PRESCINDIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Recurso Especial processado sob o regime 
previsto no art. 543-C, § 2º, do CPC, c/c o art. 3º do CPP, e na Resolução n. 8/2008 do STJ. TESE: É 
suficiente, para a comprovação da materialidade do delito previsto no art. 184, § 2º, do Código 
Penal, a perícia realizada, por amostragem, sobre os aspectos externos do material apreendido, 
sendo desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou de quem os 
represente. (...)” (REsp 1485832/MG, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Terceira Seção, DJe 21/08/2015). 
 
Formas qualificadas 
Os parágrafos primeiro e segundo do artigo 184 do Código Penal preveem formas qualificadas do delito. Em 
ambos os dispositivos, exige-se o “intuito de lucro direto ou indireto”, razão pela qual as modalidades 
qualificadas podem ser classificadas como crimes mercenários. 
A forma qualificada do parágrafo primeiro incide se a violação consistir em reprodução total ou parcial, por 
qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma. Como dito, exige-
se o elemento subjetivo especial do tipo consistente no intuito de lucro direto ou indireto. Ademais, o tipo 
somente se configura se não houver autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do 
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produtor, conforme o caso, ou de quem os represente, mesmo porque se trata de direito disponível. A pena 
é de reclusão, de 2 a 4 anos, e multa. 
Já o parágrafo segundo prevê a qualificadora em que incorre quem distribui, vende, expõe à venda, aluga, 
introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma 
reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito 
do produtor de fonograma. Como já dito, exige-se o intuito de lucro direto ou indireto. Configura-se o crime 
se não houver a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. A pena também 
é de reclusão, de 2 a 4 anos, e multa. Esta primeira parte do parágrafo segundo consiste em forma especial 
de receptação. 
Também incide na forma qualificada do parágrafo segundo aquele que aluga original ou cópia de obra 
intelectual ou fonograma sem expressa autorização de quem de direito. Como já ressaltado, deve haver o 
intuito de lucro direito ou indireto. 
Não se abrange no tipo penal a conduta de quem aluga original de videofonograma, por falta de previsão 
na norma. Deste modo, teria havido a lacuna legislativa quanto ao aluguel (não a venda) de fitas VHS e de 
mídias de DVD e Blu-ray Disc, conforme bem exposto pelo Professor Cezar Bitencourt. Por exemplo, o agente 
aluga um DVD que é original, mas não tinha permissão de alugar. De todo modo, devemos registrar que o 
entendimento do eminente jurista é minoritário. 
O parágrafo terceiro prevê outra forma qualificada, cuja pena também é de reclusão, de 2 a 4 anos, e multa. 
Configura-se se a violação consistir no oferecimentoao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas 
ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la 
em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, sem autorização expressa, 
conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os 
represente. Exige-se, como nas demais modalidades qualificadas, o intuito de lucro, direto ou indireto. 
Referido dispositivo pune a chamada cyberpirataria, ou seja, a pirataria praticada por meio de recursos 
tecnológicos, como pelo envio de mensagens eletrônicos ou serviços de venda com download, por meio da 
internet. 
Sobre a incidência da forma qualificada prevista no parágrafo segundo do artigo 184, o Superior Tribunal de 
Justiça elaborou a Súmula 501, reconhecendo-a no caso de exposição à venda de CDs e DVDs falsificados, 
denominados popularmente de “piratas”: 
Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 
2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas. 
Em todas as suas formas, o crime do artigo 184 do Código Penal é material e plurissubsistente, admitindo a 
forma tentada. 
 
Especialidade 
A lei 12.663/12, conhecida como Lei FIFA, é especial em relação ao crime previsto no Código Penal. Com 
prazo fixado de vigência até o dia 31 de dezembro de 2014, é classificada como lei temporária em sentido 
estrito, razão pela qual continua a regular os crimes cometidos em referido lapso temporal. 
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Há, ainda, a especialidade dos crimes previstos na Lei 9.609/98, a qual dispõe sobre a proteção da 
propriedade intelectual de programa de computador, como já foi reconhecido no seguinte julgado do 
Supremo Tribunal Federal: 
“(...) II – A comercialização de mídias com filme ou músicas reproduzidas sem autorização do titular do 
direito autoral encontra tipificação no Código Penal. III – A Lei 9.609/1998 é norma específica, que 
tipifica a conduta de comercialização de mídias com programas de computador reproduzidos sem 
autorização do autor. IV – Habeas corpus não conhecido.” (STF, HC 136233/RS, Rel. Min. Ricardo 
Lewandowski, Segunda Turma, Julgamento 26/10/2016). 
 
Competência 
O Supremo Tribunal Federal reconheceu a repercussão geral da discussão sobre competência em caso de 
reprodução ilegal de CDs e DVDs, em caso de transnacionalidade do delito. Como não houve o julgamento 
até a disponibilização desta aula, recomendo o acompanhamento do caso: 
“DIREITO CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSO PENAL. REPRODUÇÃO ILEGAL DE CDS E DVDS. 
TRANSNACIONALIDADE DO DELITO. DEFINIÇÃO DE COMPETÊNCIA. MANIFESTAÇÃO PELA 
REPERCUSSÃO GERAL.” (RE 702362 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, Julgamento 06/09/2012). 
 
Exclusão do crime 
O parágrafo quarto do artigo 184 prevê que os parágrafos 1º, 2º e 3º não se aplicam quando 
se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em 
conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de 
obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito 
de lucro direto ou indireto. 
Deste modo, não há o crime nos casos de exceção ou limitação ao direito do autor e aos 
direitos conexos, conforme prevê a Lei 9.610/98. Os artigos 46, 47 e 48 cuidam das chamadas limitações aos 
direitos autorais: 
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: 
I - a reprodução: 
a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou 
periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos; 
b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas de qualquer natureza; 
c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob encomenda, quando 
realizada pelo proprietário do objeto encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles 
representada ou de seus herdeiros; 
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a 
reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em 
qualquer suporte para esses destinatários; 
II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que 
feita por este, sem intuito de lucro; 
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III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de 
qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, 
indicando-se o nome do autor e a origem da obra; 
IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada 
sua publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de quem as ministrou; 
V - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas e transmissão de rádio e 
televisão em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstração à clientela, desde que 
esses estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua utilização; 
VI - a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar ou, para fins 
exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de 
lucro; 
VII - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para produzir prova judiciária ou 
administrativa; 
VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer 
natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o 
objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem 
cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores. 
Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária 
nem lhe implicarem descrédito. 
Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas 
livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais. 
Também não se configura o delito com uma única cópia de obra intelectual ou fonograma, desde seja um 
único exemplar, para uso privado do indivíduo e desde que não exista o intuito de lucro direito ou indireto. 
 Segue o questionamento: e o caput? Exclui-se o crime na forma qualificada e se mantém na 
forma simples? 
Pela leitura literal do dispositivo, a exclusão do crime se refere apenas às formas qualificadas do delito. 
Entretanto, deve-se frisar que existe o entendimento de que as hipóteses de exclusão do delito, situação 
mais favorável, abrange todas as modalidades do crime de violação contra os direitos autorais. A analogia 
neste caso é cabível, por favorecer o réu, diminuindo a abrangência da norma penal incriminadora. 
 
2.1.2 Da Ação Penal nos Crimes contra a Propriedade Intelectual 
O artigo 186 cuida da ação penal nos casos dos crimes contra a propriedade intelectual, que, como vimos, 
atualmente se resumem, no Código Penal, às formas do crime de violação contra os direitos autorais: 
Art. 186. Procede-se mediante: 
I – queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184; 
II – ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1o e 2o do art. 184; 
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III – ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em desfavor de entidades de direito 
público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder 
Público; 
IV – ação penal pública condicionada à representação,nos crimes previstos no § 3o do art. 184. 
No caso da modalidade simples, prevista no caput do artigo 184, a ação penal é privada exclusiva. Nas 
formas qualificadas dos parágrafos primeiro e segundo, a ação penal é pública incondicionada, assim como 
nos casos em que a infração penal for cometida contra entidades de direito público, autarquia, empresa 
pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público. Por fim, a ação penal é 
pública condicionada à representação no caso da forma qualificada do parágrafo terceiro do artigo 184. 
 
2.2 DOS CRIMES CONTRA O PRIVILÉGIO DA INVENÇÃO 
Estavam previstos nos artigos 187 a 191 do Código Penal. Foram revogados pela Lei 9.279/96. 
 
2.3 DOS CRIMES CONTRA AS MARCAS DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO 
Eram os crimes tratados nos artigos 192 a 195 do Código Penal. Foram revogados pela Lei 9.279/96. 
 
2.4 DOS CRIMES DE CONCORRÊNCIA DESLEAL 
Com previsão original no artigo 196 do Código Penal, teve sua revogação levada a efeito pela Lei 9.279/96. 
 
3. 3 – DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 
O Título IV da Parte Especial do Código Penal se intitula “Dos Crimes Contra a Organização do Trabalho”. 
Nele, estão contidos os seguintes crimes: atentado contra a liberdade do trabalho; atentado contra a 
liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta; atentado contra a liberdade de associação; 
paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem; paralisação de trabalho de interesse 
coletivo; invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola e sabotagem; frustração de direito 
assegurado por lei trabalhista; frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho; aliciamento para o fim 
de emigração e aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional. 
Ao verificar a denominação dos crimes tratados no Título IV da Parte Especial do Código Penal, vale 
relembrar que a Constituição da República também faz referência ao termo “crimes contra a organização 
do trabalho”, ao dispor sobre a competência da Justiça Federal: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
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(...) 
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema 
financeiro e a ordem econômico-financeira; 
Deste modo, uma primeira leitura do Código Penal e do artigo 109, inciso VI, da Constituição, poderia indicar 
que os crimes contra a organização do trabalho, tratados nos artigos 197 a 207, seriam sempre julgados 
pelos Juízes Federais em primeiro grau de jurisdição. 
Entretanto, não é esta a interpretação do Supremo Tribunal Federal a respeito deste dispositivo da 
Constituição. Para a Corte, não é a denominação dada pela lei que definirá se o crime é ou não da 
competência da Justiça Comum Federal, e sim o fato de eles ofenderem os interesses coletivos do trabalho. 
Neste sentido, o seguinte precedente: 
“Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Recurso extraordinário no qual se alega que o 
Tribunal a quo violou o art. 109, incisos VI e IX, da CF. 3. Acórdão recorrido que reconhece a 
competência da Justiça estadual para julgamento do feito. 4. Decisão monocrática que nega 
seguimento a recurso extraordinário. 5. A interpretação do que seja crime contra a organização do 
trabalho, para o fim constitucional de determinar a competência, não se junge à capitulação do 
Código Penal. 6. O recurso extraordinário não é esclarecedor acerca do número de indígenas 
supostamente vítimas do delito tipificado no art. 207, §§ 1º e 2º do CP, havendo referência 
individualizada a apenas um silvícola. 7. Não se identificam, no caso concreto, disputas sobre direitos 
indígenas ou situação excepcional de crime contra a organização do trabalho. 8. Agravo regimental ao 
qual se nega provimento.” (STF, RE 449848 AgR, 30/10/2012). 
Na mesma linha, o Superior Tribunal de Justiça tem considerando que são federais os crimes que atinjam a 
organização geral do trabalho ou os direitos dos trabalhadores em âmbito coletivo, sendo os demais de 
competência da Justiça Comum Estadual: 
“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DIREITO PROCESSUAL PENAL. FRUSTRAÇÃO DE DIREITOS 
TRABALHISTAS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À ORGANIZAÇÃO GERAL DO TRABALHO OU A DIREITOS DOS 
TRABALHADORES CONSIDERADOS COLETIVAMENTE. INTERESSES INDIVIDUAIS DE TRABALHADORES. 
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. PRECEDENTES. 1. Compete à Justiça Federal processar e julgar 
os crimes contra a organização do trabalho, quando tenham por objeto a organização geral do 
trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados coletivamente (Súmula n. 115 do extinto 
Tribunal Federal de Recursos). 2. A infringência dos direitos individuais de trabalhadores, sem que 
configurada lesão ao sistema de órgãos e instituições destinadas a preservar a coletividade trabalhista, 
afasta a competência da Justiça Federal (AgRg no CC 64.067/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, 
TERCEIRA SEÇÃO, DJe 08/09/2008). 3. Conflito conhecido para declarar competente o JUÍZO DE 
DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DE BARUERI - SP.(RE 449848 AgR, 30/10/2012).” (STJ, CC 135924/SP, 
3ª Seção). 
Inclusive, há crimes de fora do Título IV que podem ofender a organização do trabalho como um 
todo, mesmo sem serem denominados crimes contra a organização do trabalho pelo legislador. 
É o que ocorre com o delito de redução à condição análoga à de escravo, previsto dentre os 
crimes contra a liberdade individual. 
 
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3.1 ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE TRABALHO 
O artigo 197 do Código Penal prevê o crime de atentado contra a liberdade de trabalho: 
Art. 197 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça: 
I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante 
certo período ou em determinados dias: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência; 
II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de 
atividade econômica: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
O núcleo do tipo é “constranger”, que significa coagir, tolher a liberdade, obrigar. A conduta recai sobre 
outrem, que pode ser qualquer pessoa. O sujeito ativo também pode ser qualquer indivíduo, razão pela qual 
o crime é classificado como comum. 
O constrangimento pode se dar por meio de: 
 Violência (vis corporalis). 
 Grave ameaça (vis compulsiva). 
O constrangimento deve se voltar a compelir o sujeito passivo a: 
 a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar 
durante certo período ou em determinados dias. Neste caso, a pena será detenção, de um mês a 
um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. Ou seja, havendo violência, deve-se 
aplicar a regra do cúmulo material das penas. 
 a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de 
atividade econômica. Neste caso, a pena é de detenção, de três meses a um ano, e multa, além da 
pena correspondente à violência. A lei também determina o uso do cúmulo material de penas se 
houver violência. 
É um crime especial em relação ao delito de constrangimento ilegal, sendo sua principal diferença o 
elemento subjetivo, consistentes na finalidade de atentar contra o trabalho alheio. 
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de constranger a vítima a alguma 
das formas de atentado ao trabalho acima descritas. 
O crime é material, apenas se consumando se o constrangimento surtir efeito, fazendo com que a vítima 
faça ou deixe de fazer algo, ou seja, quando há a efetiva limitação à liberdade de trabalho. O crime é material 
e, portanto, plurissubsistente, admitindo oconatus. 
A competência é, em regra, da Justiça Comum Estadual, só passando a ser da Justiça Comum Federal no 
caso de serem atingidos os direitos dos trabalhadores como um todo. 
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, se o fato de subsome ao tipo penal de atentado contra a 
liberdade do trabalho, não há a atração, por si só, da competência da Justiça Federal: 
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“AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. 
ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DO TRABALHO. CRIME CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO. 
INOCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. No caso dos autos, o movimento grevista 
instaurado por servidores municipais, promovendo desordem, e impedindo, mediante ameaças e 
utilização de força física, o ingresso de servidores no local de trabalho, bem como a retenção de 
equipamentos necessários à execução dos serviços, sobretudo os essenciais, não configura crime 
contra a organização do trabalho. 2. Para a caracterização do crime contra a organização do 
trabalho, o delito deve atingir a liberdade individual dos trabalhadores, como também a 
Organização do Trabalho e a Previdência, a ferir a própria dignidade da pessoa humana e colocar 
em risco a manutenção da Previdência Social e as Instituições Trabalhistas, evidenciando a 
ocorrência de prejuízo a bens, serviços ou interesses da União, conforme as hipóteses previstas no 
art. 109 da CF, o que não se verifica no caso vertente. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.” 
(STJ, AgRg no CC 62875/SP, Rel. Min. Og Fernandes, Terceira Seção, DJe 13/05/2009). 
 
3.2 ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO E 
BOICOTAGEM VIOLENTA 
O crime de atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta está previsto no 
artigo 198 do Código Penal: 
Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, 
ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
O núcleo do tipo, tal qual no crime de atentado contra a liberdade de trabalho, é o verbo “constranger”, que 
significa coagir, tolher a liberdade, obrigar. 
O constrangimento pode se dar por meio de: 
 Violência (vis corporalis). 
 Grave ameaça (vis compulsiva). 
O sujeito passivo é constrangido a: 
 Celebrar contrato de trabalho ou; 
 A não fornecer a outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola ou; 
 A não adquirir de outrem matéria prima ou produto industrial ou agrícola. 
O artigo 198 do Código Penal possui, portanto, duas partes: 
 
a) Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho 
O constrangimento, efetuado mediante violência ou grave ameaça, tem por fim levar a vítima a celebrar 
contrato de trabalho. Cuida-se de delito cometido contra a liberdade de trabalho. Sujeito passivo é aquele 
que sofre a coação, mediante violência ou grave ameaça. Há lacuna legislativa quanto ao constrangimento 
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efetuado para que não se celebre contrato de trabalho, o que não pode ser abrangido no tipo penal, sob 
pena de se admitir a analogia in malam partem. Resta, então, o crime subsidiário de constrangimento ilegal. 
 
b) Boicotagem violenta 
O constrangimento, por meio de violência ou grave ameaça, tem por finalidade fazer com que o sujeito 
passivo não forneça a outrem ou a não adquira matéria-prima ou produto industrial ou agrícola. O bem 
jurídico tutelado é a normalidade das relações de trabalho. O sujeito passivo é quem sofre a coação e de 
quem sofre a boicotagem. 
 
O elemento subjetivo, em ambas as figuras, é o dolo, que se traduz na vontade livre e consciente 
de constranger, alguém, mediante violência ou grave ameaça, a uma das hipóteses previstas no 
tipo. 
O crime é comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. É material, 
consumando-se quando o agente consegue constranger a vítima a uma das condutas previstas. 
É plurissubsistente, admitindo a tentativa. 
 
3.3 ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO 
O crime de atentado contra a liberdade de associação está tipificado no artigo 199 do Código Penal, com os 
seguintes termos: 
Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de 
participar de determinado sindicato ou associação profissional: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
O núcleo do tipo é “constranger”, que consiste na conduta de coagir, tolher a liberdade, obrigar, sendo que 
pode ser realizado mediante: 
 Violência (vis corporalis). 
 Grave ameaça (vis compulsiva). 
O constrangimento ou coação visa a que alguém participe ou deixe de participar de determinado sindicato 
ou associação principal. Tutela-se, portanto, a liberdade de associação e de filiação sindical. 
O crime é comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. O sujeito passivo é qualquer 
sujeito, trabalhador ou profissional, que possa ser compelido a integrar ou deixar de integrar a associação 
profissional ou determinado sindicato. 
O elemento subjetivo é o dolo, que é a vontade livre e consciente de constranger alguém, mediante violência 
ou grave ameaça, para que participe ou deixe de participar de associação profissional ou sindicato. 
O crime é material, exigindo o resultado naturalístico para sua consumação (que o sujeito participe ou deixe 
de participar da instituição). É, por isso, plurissubsistente, sendo admissível o conatus. 
 
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3.4 PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU 
PERTURBAÇÃO DA ORDEM 
O crime de paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem tem lugar no artigo 200 
do Código Penal: 
Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra 
pessoa ou contra coisa: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso 
de, pelo menos, três empregados. 
A greve e a suspensão do trabalho não são, por si sós, caracterizadoras do crime em comento, mesmo 
porque representam exercício de direito e, no caso da greve, um direito fundamental do trabalhador. O tipo 
se refere ao uso de violência contra a pessoa ou a coisa, razão pela qual o bem jurídico tutelado seria a 
regularidade das relações de trabalho. 
O tipo se consubstancia na conduta de participar de suspensão de trabalho (denominado lockout ou locaute) 
ou abandono coletivo de trabalho (que se traduz na greve). Deve haver violência contra a coisa ou contra a 
pessoa, que deve ser real, não abrangendo a chamada vis relativa, a grave ameaça. 
No abandono coletivo de trabalho, o crime é de concurso necessário, conforme dispõe o parágrafo único 
do artigo 200 do Código Penal. Exigem-se, no mínimo, três pessoas, podendo ser denominado 
plurissubjetivo. 
No caso da suspensão de trabalho (lockout), a lei não exige o número mínimo de empregadores. O crime 
seria, portanto, unissubjetivo ou de concurso eventual. Entretanto, a doutrina majoritária entende ser 
necessário também o número mínimo acima mencionado, em razão do verbo “participar”. Para esta 
corrente, só se exige que um dos três seja empregador. Deste modo, o delito seria plurissubjetivo, isto é, de 
concurso necessário. 
A violência é necessária para a consumação do crime, razão pela qual se classifica como material. Ademais, 
é plurissubsistente, sendo possível sua modalidade tentada, lesões corporais, dano). Dessa forma, há 
concursos material entre o delito em apreço eo ocasionado contra pessoa ou coisa”1. 
Luiz Régis Prado entende que a pena é aplicável “independentemente da correspondente à violência (v.g., 
homicídio, lesões corporais, dano). Mirabete exclui o crime de dano. Questão tormentosa e divergente. 
Entendendo que, no caso de contravenção penal de vias de fato, haverá absorção, sendo que a lesão 
corporal já implica em cúmulo de penas. Quanto à violência contra a coisa, entendendo que nem sempre 
implicará em destruição, inutilização ou deterioração de coisa alheia. Pode ser, inclusive, que haja uma 
deterioração insignificante (quebrou um cadeado de valor ínfimo), o que levaria à aplicação apenas da pena 
do artigo 200 do Código Penal. Por outro lado, se houver dano, com relevância da lesão, haverá cúmulo de 
penas pela regra expressa do preceito secundário do artigo 200 (“além da pena correspondente à 
violência”). 
 
1 PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Parte Geral e Parte Especial. 18ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 768. 
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O crime é doloso, não havendo previsão de forma culposa. É próprio, pois o sujeito ativo deve ser 
trabalhador ou empregador, qualidade que, exigida como elementar do tipo, se comunica aos demais 
coautores ou partícipes. 
Existe posição doutrinária de que a competência seria sempre da Justiça Federal, em razão de o abandono 
ou paralisação serem coletivos2. Não parece ser essa a linha do que entende o STF, para o qual não basta 
serem sujeitos determinados (dois ou oito empregados ou empregadores), mas a violação da organização 
do trabalho como um todo. Então, entendemos que depende do caso. 
 
3.5 PARALISAÇÃO DE TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO 
A paralisação de trabalho de interesse coletivo é tipificada no artigo 201 do Código Penal: 
Art. 201 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra 
pública ou serviço de interesse coletivo: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
Tutela-se, tal qual no delito do artigo 200 do Código Penal, a regularidade das relações de trabalho, 
especialmente as que envolvam obra pública ou serviço de interesse coletivo. 
Como já dito, a greve e a suspensão do trabalho não são, por si sós, caracterizadoras do crime em comento, 
mesmo porque representam exercício de direito e, no caso da greve, um direito fundamental do 
trabalhador. 
O tipo se consubstancia na conduta de participar de suspensão de trabalho 
(denominado lockout ou locaute) ou abandono coletivo de trabalho (que se traduz na 
greve). A suspensão ou o abandono deve causar a interrupção de obra pública ou 
serviço de interesse coletivo. 
Alberto Silva Franco e Cezar Roberto Bitencourt entendem que o delito foi revogado, 
em virtude da amplitude do direito de greve dado pela Constituição. Cuida-se, na 
conhecida classificação de José Afonso da Silva, de direito fundamental de eficácia contida, ou seja, que 
pode ser limitado pela lei, que pode reduzir sua eficácia. Entretanto, os autores entendem que sua 
configuração constitucional impede a configuração de crime pelo seu exercício, ainda que com interrupção 
de obra pública ou mesmo de serviço que se caracterize pelo interesse da coletividade. 
De todo modo, considerando que não há declaração de inconstitucionalidade do artigo 201 do Código Penal, 
bem como doutrinadores que entendem ser compatível com a Constituição, cumpre ressaltar que o crime 
está previsto em norma penal em branco. É a Lei nº 7.783/89 que dispõe sobre os serviços ou atividades 
essenciais, definindo-os: 
Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: 
I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e 
combustíveis; 
 
2 MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial, vol. II. 12 ed. São Paulo: MÉTODO, 2019, p. 664. 
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II - assistência médica e hospitalar; 
III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; 
IV - funerários; 
V - transporte coletivo; 
VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; 
VII - telecomunicações; 
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; 
IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; 
X - controle de tráfego aéreo; 
XI compensação bancária. 
O crime tem como elemento subjetivo o dolo, a vontade livre e consciente de participar de suspensão ou 
abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo. 
Cuida-se de crime próprio, pois o sujeito ativo deve ser empregado ou empregador, com atuação em obra 
pública ou serviço de interesse coletivo. O crime é material, sendo necessário o resultado naturalístico para 
sua consumação. Ademais, é plurissubsistente, admitindo a tentativa. 
 
3.6 INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU 
AGRÍCOLA. SABOTAGEM 
O crime de invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola e de sabotagem, que possui duas 
figuras distintas no mesmo tipo penal, encontra-se no artigo 202 do Código Penal: 
Art. 202 - Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir 
ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as 
coisas nele existentes ou delas dispor: 
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 
São duas figuras no mesmo tipo penal: 
 
Invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola 
A invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola consiste na conduta de invadir ou ocupar 
estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal 
do trabalho. Invadir significa ocupar de forma abusiva, usurpar, apoderar-se. Ocupar significa estar na posse 
de, dominar, submeter. 
O elemento subjetivo especial deve ser impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho. Impedir significa 
estorvar, obstruir, dificultar o curso de. Embaraçar consiste em perturbar, complicar, perturbar. 
 
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Sabotagem 
A modalidade de sabotagem consiste em danificar o estabelecimento industrial, comercial ou agrícola ou as 
coisas nele existentes ou delas dispor, com o fim de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho. 
Danificar é estragar, causar dano, avariar. Dispor tem o significar de desfazer-se das coisas, seja por meio de 
doação, alienação etc. 
O elemento subjetivo especial do tipo também deve ser impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, 
já analisado acima. 
 
O crime é doloso, sendo necessário, como visto em cada uma das figuras, o dolo específico de impedir ou 
embaraçar o curso normal do trabalho. O crime é comum, não exigindo qualidade específica do sujeito ativo. 
A modalidade de invasão se consuma com a invasão ou a ocupação do estabelecimento, enquanto a 
modalidade de sabotagem se consuma com a ocorrência de dano ou da efetiva disposição. Em ambos os 
casos, não é necessário que haja o impedimento ou o embaraço do curso normal do trabalho. 
O crime é comum. É, ainda, plurissubsistente, sendo possível a sua tentativa. 
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu sobre a competência, em regra, da Justiça Estadual para julgamento 
do crime do artigo 202 do Código Penal: 
“CONFLITO NEGATIVO DE COMPETENCIA. JUSTIÇA FEDERAL - JUSTIÇA ESTADUAL - LESÃO DE DIREITO 
INDIVIDUAL. I - COMPETENCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA JULGAR CRIME TIPIFICADO NO ART. 202, 
DO CODIGO PENAL, QUANDO OCORRER LESÃO A DIREITO INDIVIDUAL E NÃO A ORGANIZAÇÃO 
GERAL DO TRABALHO. II - CONFLITO CONHECIDO E DECLARADO COMPETENTE O SUSCITADO.” (STJ, 
CC 6429/SP, Rel. Min. Pedro Acioli,Terceira Seção, DJ 07/03/1994). 
 
3.7 FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA 
O artigo 203 do Código Penal prevê o crime de frustração de direito assegurado por lei trabalhista: 
Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: 
Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 
§ 1º Na mesma pena incorre quem: 
I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o 
desligamento do serviço em virtude de dívida; 
II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por meio da 
retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. 
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, 
indígena ou portadora de deficiência física ou mental. 
O núcleo do tipo é o verbo “frustrar”, que significa anular, impedir, iludir. A frustração pode se dar mediante: 
 Fraude: ardil, astúcia. 
 Violência: é a vis corporalis, a violência física. 
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A conduta recai sobre direito trabalhista, o que demonstra que o tipo penal depende de complementação 
normativa. É, portanto, lei penal em branco, por ser complementada pela legislação trabalhista. 
Percebam que não basta a frustração de direito trabalhista, ou toda reclamação trabalhista 
com julgamento favorável levaria a uma investigação criminal. É necessário que a frustação 
tenha ocorrido por meio de fraude ou violência. 
 
Formas equiparadas 
O parágrafo primeiro do artigo 203 do Código Penal prevê formas equiparadas, de modo que o agente 
incorre nas mesmas penas do caput. São as seguintes condutas: 
 
I - obrigar ou coagir alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para 
impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida. 
A conduta é utilizar-se de coação para que o indivíduo use mercadoria de determinado estabelecimento. A 
coação pode se dar por meio do emprego de violência ou grave ameaça. A finalidade especial é impedir que 
o sujeito passivo obtenha o desligamento do serviço. Entretanto, aqui o agente não chega a impedir a 
liberdade de locomoção do indivíduo, mas tem sua permanência no trabalho como finalidade de sua 
conduta. 
O crime é subsidiário em relação ao de redução à condição análoga à de escravo, sendo que, neste, o agente 
impede o sujeito de deixar o trabalho. Aqui, ele obriga ou coage à usar mercadorias do estabelecimento, 
como um meio de conseguir que a vítima não deixe o serviço. 
 
II - impedir alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por meio 
da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. 
Aqui a conduta é impedir alguém de se desligar do serviço, seja por meio de coação, seja por meio de 
retenção de documentos pessoais ou contratuais. O agente age por meio de constrangimento (por meio do 
emprego de violência ou grave ameaça) ou por meio da retenção dos documentos do sujeito passivo, 
buscando impedir que ele extinga a relação de trabalho. 
Se houver o efetivo impedimento de que a vítima se locomova, teremos um crime contra a liberdade 
individual, o de redução à condição análoga à de escravo. O delito do artigo 203, § 1º, II, é subsidiário, 
configurando se não houver a retenção da vítima por meio de coação física, retendo-a contra a sua vontade. 
 
O crime é doloso, comum, material, instantâneo e plurissubsistente. 
 
Forma majorada 
Há a causa de aumento, de um sexto a um terço, prevista no parágrafo segundo para o caso de a vítima ser 
menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. O maior 
desvalor da conduta se liga a algumas minorias ou ao fato de o sujeito passivo possuir menor possibilidade 
de resistência, o que demonstra serem tais vítimas mais vulneráveis à conduta do agente. 
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Também no caso do crime previsto no artigo 203 do Código Penal, a competência em regra 
é da Justiça Estadual, só passando o crime a ser federal se forem atingidos os direitos dos 
trabalhadores de forma coletiva: 
“PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. 1. 
FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA. AUSÊNCIA DE REGISTRO DO 
VÍNCULO EMPREGATÍCIO. CONDUTA QUE NÃO ATINGIU OS TRABALHADORES DE FORMA 
COLETIVA. AUSÊNCIA DE OFENSA A ÓRGÃO OU INSTITUTO DE PROTEÇÃO DOS TRABALHADORES. 
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 2. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Não tendo ficado 
demonstrada a prática de crime contra a organização geral do trabalho ou contra trabalhadores 
considerados coletivamente, mas apenas contra 14 (quatorze) funcionários que não estavam com seu 
vínculo empregatício registrado na Carteira de Trabalho, tem-se que não ficou demonstrada a 
competência da Justiça Federal no caso dos autos. 2. Agravo regimental improvido.” (STJ, AgRg no CC 
122280/SP, Rel. Des. Convocado Leopoldo de Arruda Raposo, Terceira Seção, DJe 11/03/2015). 
O STJ também já decidiu que, iniciada a execução de referido delito no território nacional, aplica-se a lei 
penal brasileira: 
“(...) Iniciada a execução dos crimes de redução à condição análoga à de escravo (artigo 149 do CP) e 
de frustração de direito assegurado na legislação trabalhista (artigo 203 do CP) dentro do território 
nacional, compete à Justiça brasileira processar e julgar os fatos, independentemente de 
condicionantes extraterritoriais. Inteligência dos artigos 5º e 6º do Código Penal, representativos do 
princípio da territorialidade e da teoria da ubiquidade, adotadas pelo ordenamento jurídico brasileiro 
para a definição do local do crime. (...)” (STJ, HC 386046/BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 
Sexta Turma, DJe 28/08/2018). 
Referida Corte também já decidiu ser necessária a análise das provas e dos fatos para verificar se o delito 
de frustração de direito assegurado por lei trabalhista se esgota ou não na infração penal de redução à 
condição análoga à de escravo, sendo por ela absorvido: 
“(...) 1. Para se verificar se a frustração de direitos assegurados por lei trabalhista e o aliciamento de 
trabalhadores de um local para o outro do território nacional teriam ou não se esgotado no crime 
tipificado no artigo 149 do Código Penal, seria indispensável averiguar o contexto em que as infrações 
foram cometidas, providência que é vedada na via eleita, pois demanda o revolvimento de matéria 
fático-probatória.(...)” (STJ, RHC 41003/PI, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 03/04/2014). 
Vale, neste ponto, relembrar sobre o crime de redução à condição análoga à de escravo, com as distinções 
entre os dois crimes: 
 
Redução à condição análoga à de escravo Frustração de direito assegurado por lei 
trabalhista 
Reduzir alguém a condição análoga à de 
escravo, quer submetendo-o a trabalhos 
forçados ou a jornada exaustiva, quer 
sujeitando-o a condições degradantes de 
Frustrar, mediante fraude ou violência, direito 
assegurado pela legislação do trabalho: 
 
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trabalho, quer restringindo, por qualquer 
meio, sua locomoção em razão de dívida 
contraída com o empregador ou preposto: 
 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, 
além da pena correspondente à violência. 
Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, 
além da pena correspondente à violência. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
 
I – cerceia o uso de qualquer meio de 
transporte por parte do trabalhador, com o fim 
de retê-lo no local de trabalho; 
II – mantém vigilância ostensiva no local de 
trabalho ou se apodera de documentos ou 
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de 
retê-lono local de trabalho. 
§ 1º Na mesma pena incorre quem: 
 
I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias 
de determinado estabelecimento, para 
impossibilitar o desligamento do serviço em 
virtude de dívida; 
II - impede alguém de se desligar de serviços de 
qualquer natureza, mediante coação ou por 
meio da retenção de seus documentos pessoais 
ou contratuais. 
 
3.8 FRUSTRAÇÃO DE LEI SOBRE A NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO 
O crime de frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho está previsto no artigo 204 do Código Penal: 
Art. 204 - Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à nacionalização do trabalho: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
O núcleo do tipo é o verbo “frustrar”, que significa anular, impedir, iludir. A frustração pode se dar mediante: 
 Fraude: ardil, astúcia. 
 Violência: é a vis corporalis, a violência física. 
A conduta recai sobre obrigação legal relativa à nacionalização do trabalho. Cuida-se, portanto, de norma 
penal em branco imprópria, pois seu complemento está em lei, e heterovitelina, por ser lei diversa do 
Código Penal. O complemento está nos artigos 352 a 371 da CLT, que são disposições sobre a quantidade 
mínima de brasileiros em determinadas empresas. Dada a extensão dos dispositivos, não haverá sua 
reprodução total, mas apenas do caput do artigo 352 para fins de exemplificação: 
Art. 352 - As empresas, individuais ou coletivas, que explorem serviços públicos dados em concessão, 
ou que exerçam atividades industriais ou comerciais, são obrigadas a manter, no quadro do seu 
pessoal, quando composto de 3 (três) ou mais empregados, uma proporção de brasileiros não inferior 
à estabelecida no presente Capítulo. 
É questionável ter havido ou não recepção do artigo 204 do Código Penal pela Constituição de 1988. Isto 
porque houve a garantia, em regra, de idênticos direitos aos brasileiros e estrangeiros, razão pela qual 
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alguns doutrinadores, como Júlio Fabbrini Mirabete, entendem que referida previsão legal não é compatível 
com as normas constitucionais. 
Cuida-se de crime comum, por não exigir nenhuma qualidade do sujeito ativo, nem mesmo que seja 
empregado ou empregador. É doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial, além de não admitir a 
modalidade culposa. É plurissubsistente, razão pela qual é possível a configuração da tentativa. É material, 
exigindo resultado naturalístico para sua consumação. É instantâneo, consumando-se com a frustração da 
obrigação legal, seja por meio de fraude, seja por meio de violência. 
 
3.9 EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM INFRAÇÃO DE DECISÃO 
ADMINISTRATIVA 
O crime de exercício de atividade com infração de decisão administrativa foi tipificado no artigo 205 do 
Código Penal: 
Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. 
A ação nuclear é exercer, que significa praticar, pôr em ação, desempenhar, realizar. A conduta se refere a 
atividade de que o agente foi impedido por decisão administrativa. 
O crime é doloso, não havendo previsão de modalidade culposa. É considerado, ainda, próprio, pois só pode 
ser praticado por quem foi proibido de exercer determinada atividade por decisão administrativa. 
Um exemplo é o profissional que teve sua habilitação ou autorização de exercício da profissão suspensa pelo 
respectivo conselho profissional. É o médico suspenso pelo Conselho de Medicina ou o advogado suspenso 
pela Ordem dos Advogados do Brasil. Ademais, podemos citar o exemplo da empresa de vigilância com 
autorização de atividade cassada pela Polícia Federal. 
A decisão deve ser administrativa. Ou seja, o agente deve exercer atividade de que foi 
suspenso administrativamente. Se a decisão de impedimento for judicial, pode-se configurar o 
crime do art. 330 (desobediência) ou o do 359 do CP (desobediência a decisão judicial sobre 
perda ou suspensão de direito): 
Desobediência 
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: 
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. 
(...) 
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito 
Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por 
decisão judicial: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. 
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Ainda que se trate de precedente não muito recente, vale a leitura do seguinte julgado do STF, em que se 
considerou competente a Justiça Federal, por envolver interesse de autarquia federal (Conselho Regional 
de Medicina), e que basta um ato de desobediência à decisão administrativa para a prática do crime: 
 “(...) 1. A conduta imputada ao paciente e pela qual foi condenado é exatamente a prevista no art. 
205 do Código Penal: "exercer atividade com infração de decisão administrativa". 2. Era competente 
a Justiça Federal para o processo e julgamento, por se tratar de crime, senão contra a organização 
do trabalho propriamente dita (art. 109, inc. VI, da C.F.), ao menos em detrimento de interesses de 
autarquia federal, como é o Conselho Regional de Medicina, que impusera ao réu a proibição de 
exercer a profissão (inc. IV do mesmo art. 109 da C.F.). 3. A conduta típica prevista no art. 205, por 
ser específica, exclui a do art. 282, que trata do exercício ilegal de medicina. E, no caso, o que houve 
foi o exercício da profissão, já obstado, anteriormente, por decisão administrativa, que vem a ser 
descumprida. 4. Também não se cogita da desobediência genérica a ordem legal de funcionário público 
(art. 330), pois não há simples ordem a ser cumprida, mas decisão administrativa de cassação de 
registro, que antes possibilitava o exercício da medicina, mas que com ela se tornou eficaz. 5. 
Igualmente não se trata da desobediência a decisão judicial, de que cogita o art. 359 do C.P. 6. Basta 
um ato de desobediência à decisão administrativa, para que se configure o delito em questão (art. 
205). (...)” (HC 74826/SP, Rel. Min. Sydney Sanches, Primeira Turma, Julgamento: 11/03/93) 
No seguinte julgado, este do STJ, considerou-se que o crime se configura com a prática habitual dos atos 
referentes à atividade que foi proibida por decisão administrativa: 
“(...) 1. Da leitura do tipo previsto no artigo 205 do Código Penal, percebe-se que o crime nele 
disposto caracteriza-se com a simples prática habitual de atos próprios da atividade que o agente se 
encontra impedido de exercer por força de decisão administrativa. 2. Ao contrário do que aventado 
nas razões do presente reclamo, o crime em análise não pressupõe a cassação do registro profissional 
do agente, mas apenas que este exerça atividade que estava impedido de praticar por conta de decisão 
administrativa. 3. Havendo nos autos a informação de que a recorrente estava impedida de exercer 
advocacia por força de decisão da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB que deferiu o cancelamento 
de sua inscrição, e não tendo o seu patrono anexado ao recurso ordinário em apreço qualquer 
documentação que evidencie que ela estaria apta a advogar quando da ocorrência dos fatos narrados 
na denúncia, não se pode falar em atipicidade da conduta que lhe foi imputada. (...)” (STJ, RHC 
29435/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 09/11/2011). 
De acordo com este último precedente e grande parte da doutrina, o exercício de atividade pressupõe a 
prática de um conjunto de atos, ou seja, uma habitualidade. Por isso, o crime é classificado como habitual. 
Por fim, cumpre anotar que o STJ já decidiu não se configurar o crime do artigo 205 do CP a conduta do 
sujeito de continuar exercendo a atividade de corretor de imóveis após o cancelamento de sua inscrição no 
respectivo conselho, por inadimplementodas anuidades: 
“(...) ATIVIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. A conduta do agente que exerce atividades 
de corretagem de imóveis após o cancelamento de sua inscrição no CRECI, por inadimplência das 
anuidades devidas, se amolda à contravenção penal prevista no art. 47 do Decreto-lei 3.688/1941, 
haja vista que permaneceu clandestinamente na profissão regulamentada, exercendo-a sem o 
preenchimento de condição legal a que está subordinado o seu exercício, qual seja, inscrição perante 
o órgão de fiscalização profissional. 2. Não há que se falar, no caso dos autos, de violação à decisão 
administrativa proibitiva do exercício de atividade e, consequentemente, no crime previsto no art. 
205 do CP, haja vista o disposto nos arts. 3º, 4º e 5º, da Resolução nº 761/2002, do Conselho Federal 
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de Corretores de Imóveis - COFECI, no sentido de que o pagamento do débito acarreta a restauração 
automática da inscrição no CRECI, e que "o cancelamento de inscrição por falta de pagamento [...] 
não representa punição disciplinar mas, sim, mero ato administrativo de saneamento 
cadastral".(...)” (STJ, CC 104924/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, DJe 19/04/2010). 
 
3.10 ALICIAMENTO PARA O FIM DE EMIGRAÇÃO 
O delito de aliciamento para o fim de emigração está previsto no artigo 206 do Código Penal: 
Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território estrangeiro. 
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. 
Recrutar significa atrair, alistar, arregimentar. A conduta envolve fraude, que é o engodo, o ardil, o artifício. 
Recai sobre trabalhadores. 
O elemento subjetivo é o dolo específico, já que há a exigência de finalidade específica de levar os 
trabalhadores para território estrangeiro. 
O delito é formal, não sendo necessária a ocorrência do resultado naturalístico para a sua consumação. 
Deste modo, a efetiva emigração dos trabalhadores é mero exaurimento do crime, sendo desnecessária 
para que o delito se consume. 
O tipo penal exige que a conduta recaia sobre trabalhadores. Surge, então, na doutrina, a controvérsia sobre 
o número mínimo de indivíduos como sujeito passivo para a configuração do crime, sendo que alguns 
defendem serem necessários três, enquanto outros entendem que bastam dois. 
O crime é plurissubsistente, sendo possível a tentativa. 
Neste caso, também há precedente do STJ no sentido de que a competência, em regra, é da Justiça Estadual, 
salvo se houver a violação dos direitos dos trabalhadores considerados coletivamente: 
“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIMINAL. CRIME CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO. LESÃO A 
DIREITO DOS TRABALHADORES COLETIVAMENTE CONSIDERADOS OU À ORGANIZAÇÃO GERAL DO 
TRABALHO. NÃO OCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA JUSTIÇA ESTADUAL. I. Hipótese em que a denúncia 
descreve a suposta prática do delito de aliciamento para o fim de emigração perpetrado contra 3 
(três) trabalhadores individualmente considerados. II. Compete à Justiça Federal o julgamento dos 
crimes contra a organização do trabalho desde que demonstrada a lesão a direito dos trabalhadores 
coletivamente considerados ou à organização geral do trabalho. III. Conflito conhecido para declarar 
a competência da Justiça Estadual.” (STJ, CC 107391/MG, Rel. Min. Gilson Dipp, Terceira Seção, DJe 
18/10/2010). 
 
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3.11 ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA OUTRO DO 
TERRITÓRIO NACIONAL 
O artigo 207 do Código Penal dispõe sobre o crime cujo nomen iuris é o de aliciamento de trabalhadores de 
um local para outro do território nacional: 
Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território 
nacional: 
Pena - detenção de um a três anos, e multa. 
§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, 
dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, 
ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. 
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, 
indígena ou portadora de deficiência física ou mental. 
A ação nuclear típica é a aliciar, que tem o significado de recrutar, envolver, atrair. Existe a discussão 
doutrinária se o aliciamento deve recair sobre um número mínimo de três trabalhadores ou se bastam dois. 
O crime é doloso, exigindo o elemento subjetivo especial do tipo consistente na finalidade de levar os 
trabalhadores de uma para outra localidade do território nacional. 
O crime é comum, por não exigir nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. Não se exige que os 
trabalhadores sejam efetivamente transportados de uma para outra localidade do território nacional, 
bastando o intento do agente. Portanto, é formal. É plurissubsistente, sendo possível a forma tentada. 
Alguns doutrinadores discutem se as localidades devem ser afastadas ou se deve haver prejuízo 
para a região. Realmente, o tipo penal, tal como redigido, não demonstra lesividade por si só. 
Pensem, nos dias atuais, se aliciar trabalhadores para leva-los a outra parte do território 
nacional configura, sem maiores exigências um crime. É de se notar que o crime do artigo 206 
exige fraude, que não é exigida aqui. De todo modo, em questões objetivas, a 
constitucionalidade deve ser presumida até declaração em contrário dos tribunais superiores. 
De todo modo, o entendimento pela validade da norma penal enxerga no tipo a proteção de determinadas 
regiões frente a outras, que, mais desenvolvidas, poderiam atrair toda a mão de obra. Ainda que isso possa 
ocorrer de modo natural e espontâneo, por escolha do trabalhador, o que se coibiria, de fato, seria a conduta 
do aliciador, que busca trabalhadores em uma região e os envia para outra. 
Em precedente já citado anteriormente, o STJ já decidiu que a eventual absorção do delito em estudo pelo 
crime de redução à condição análoga à de escravo demanda apreciação de cada caso, com revolvimento da 
matéria fático-probatória: 
“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO, 
FRUSTRAÇÃO DE DIREITO PREVISTO EM LEI TRABALHISTA, E ALICIAMENTO DE TRABALHADORES 
(ARTIGOS 149, CAPUT, 203, CAPUT, § 1º, INCISO I E § 2º, ARTIGO 207, §§ 1º E 2º, TODOS DO CÓDIGO 
PENAL). ALEGADA ABSORÇÃO DOS DELITOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 203 E 207 PELO ILÍCITO 
DISPOSTO NO ARTIGO 149 DO ESTATUTO REPRESSIVO. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DE MATÉRIA 
FÁTICO-PROBATÓRIA. 1. Para se verificar se a frustração de direitos assegurados por lei trabalhista e 
o aliciamento de trabalhadores de um local para o outro do território nacional teriam ou não se 
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esgotado no crime tipificado no artigo 149 do Código Penal, seria indispensável averiguar o contexto 
em que as infrações foram cometidas, providência que é vedada na via eleita, pois demanda o 
revolvimento de matéria fático-probatória. (...)”. 
 
Forma equiparada 
O parágrafo primeiro do artigo 207 prevê a modalidade equiparada ao caput. O tipo penal é o seguinte: 
recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante 
fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno 
ao local de origem. Neste caso, os trabalhadores são recrutados fora da localidade de execução do trabalho, 
em uma das seguintes situações: 
 Mediante fraude (ardil, engodo, artifício) ou 
 Mediante cobrança de qualquer quantia do trabalhador (exige-se o pagamento de um valor para 
ele trabalhar em outro local) ou 
 Não assegurando condições de seu retorno (é o que ocorre, por exemplo, ao se levar o trabalhador 
paraum local de difícil acesso, não servido por transporte público, e não permitir seu retorno no 
veículo do empregador, forçando-o a ficar). 
Na forma equiparada, fica bastante nítido o desvalor da conduta do agente, ao se praticar fraude contra o 
trabalhador, ao realizar cobrança indevida ou até mesmo por dificultar o retorno ao seu local de moradia. 
 
Forma majorada 
O artigo 207, em seu parágrafo terceiro, prevê uma forma majorada do delito, com indicação da fração de 
um sexto a um terço. Incide se a vítima for menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora 
de deficiência física ou mental. O desvalor maior da conduta se liga à vulnerabilidade maior, passageira ou 
perene, do sujeito passivo. 
 
4. DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E O 
RESPEITO AOS MORTOS 
O Título V da Parte Especial do Código Penal é denominado “Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso e o 
Respeito aos Mortos”, que possui dois Capítulos, o primeiro referente aos crimes contra o sentimento 
religioso e o segundo, relativo aos crimes contra o respeito aos mortos. 
 
4.1 DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO 
O Capítulo I do Título V da Parte Especial do Código Penal possui a denominação “Dos Crimes Contra o 
Sentimento Religioso”. Entretanto, abrange um único tipo penal, o de ultraje a culto e impedimento ou 
perturbação de ato a ele relativo, previsto no artigo 208 do Código Penal. 
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4.1.1 Ultraje a Culto e Impedimento ou Perturbação de Ato a Ele Relativo 
O crime de ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo está tipificado no artigo 208 
do Código Penal: 
Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou 
perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto 
religioso: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da 
correspondente à violência. 
Escarnecer significa zombar, tratar com escárnio. Impedir significa obstruir, tornar impraticável. Perturbar é 
estorvar, causar desordem, abalar. Vilipendiar é ultrajar (por palavras, gestos ou atos), aviltar, rebaixar, 
tratar com desprezo. 
As condutas incriminadas são: 
 Escarnecer de alguém publicamente por motivo de crença ou função religiosa. 
 Impedir cerimônia ou prática de culto religioso. 
 Perturbar cerimônia ou prática de culto religioso. 
 Vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. 
Na conduta de escarnecer e na de vilipendiar, exige-se que a ação do agente seja em público. O 
escarnecimento deve ter por motivo a crença religiosa ou a função religiosa da vítima, como sacerdote, 
pároco, pai de santo, pastor, rabino e outros. 
Cerimônia e culto religioso são expressões que abrangem os ritos e reuniões realizado no âmbito da religião, 
de forma geral. Ato ou objeto de culto religioso são quaisquer coisas, objetos ou rituais utilizados na prática 
religiosa, com significado para a crença do indivíduo. Pode ser um púlpito considerado sacro, uma imagem, 
uma pintura, uma pia batismal, dentre outros. 
O crime é comum, não exigindo qualquer qualidade específica do sujeito ativo. É doloso, não prevendo a 
possibilidade de punição a título de culpa. 
Por permitir o fracionamento do seu iter, é classificado como crime plurissubsistente. Por conseguinte, 
admite a modalidade tentada. É crime de forma livre, podendo ser realizado de qualquer forma, por gestos, 
palavras ou de forma indireta, como algazarra na porta do templo religioso com a finalidade de impedir que 
os fiéis escutem as palavras do seu sacerdote. 
Sobre a necessidade de o vilipêndio a objeto religioso, uma das formas de se praticar o delito, ocorrer em 
público, na presença de várias pessoas, vale a leitura do seguinte acórdão do Tribunal de Justiça do Estado 
de Minas Gerais: 
“Crimes de incêndio qualificado, corrupção de menores e ultraje a culto religioso. Inexistência de prova 
de que o menor tenha sido corrompido pelo acusado. Absolvição que se impõe. Vilipêndio a objeto 
religioso não praticado na presença de várias pessoas. Inexistência de publicidade. Delito não 
configurado. Recurso ministerial desprovido. Focos de incêndio que se restringiram aos limites do 
imóvel. Ausência de demonstração do perigo efetivo e concreto para um número indeterminado de 
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pessoas. Inexistência de risco ao patrimônio de terceiros. Não-configuração do delito de incêndio. 
Desclassificação para o delito de dano qualificado. Recurso defensivo provido.” (TJMG, Apelação 
Criminal 1.0183.04.076030-2/001, Relator(a): Des.(a) Reynaldo Ximenes Carneiro, 2ª CÂMARA 
CRIMINAL, julgamento em 09/11/2006, publicação da súmula em 28/11/2006) 
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, em antigo e emblemático julgado, já decidiu que, 
havendo divergências entre discípulos de um mesmo grupo religioso, não se configura, da parte de nenhum 
deles, o crime de ultraje a culto religioso: 
“ULTRAJE A CULTO E IMPEDIMENTO, OU PERTURBAÇÃO DE ATO A ELE RELATIVO. Projeções de 
divergências internas entre discípulos de um mesmo 'mestre', já falecido, no tocante à linha das 
pregações, não podem ser tidas, em princípio, como perturbação de cerimônia ou prática de culto 
religioso, notadamente quando o ' perturbador' era discípulo autorizado pelo 'mestre' a pregar no 
templo. Dificuldade de captação da verdade por meio de declarações de pessoas possuídas de 
fanatismo religioso ou sectárias. Aplicação do IN DUBIO PRO REO. Deram provimento, prejudica a 
preliminar.” (Apelação Crime Nº 284054251, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Alçada do RS, 
Relator: Paulo Claudio Tovo, Julgado em 22/11/1984) 
 
Forma majorada 
O parágrafo único do artigo 208 prevê a causa de aumento de pena de um terço no caso de o crime envolver 
violência. Além disso, determina-se a adoção do sistema do cúmulo material no caso de concurso entre o 
ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo e o crime relativo à violência, como o de 
lesões corporais. 
 
4.2 DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS 
O Capítulo II do Título V da Parte Especial do Código Penal, por sua vez, é chamado de “Dos Crimes Contra 
o Respeito aos Mortos”. Prevê os crimes de impedimento ou perturbação de cerimônia funerária; violação 
de sepultura; destruição, subtração ou ocultação de cadáver e, por fim, de vilipêndio a cadáver. Tutela-se a 
reverência ou o respeito dos vivos em relação aos mortos, não sendo o bem jurídico protegido o próprio 
morto. 
 
4.2.1 Impedimento ou Perturbação de Cerimônia Funerária 
O crime de impedimento ou perturbação de cerimônia funerária está previsto no artigo 209 do Código Penal: 
Art. 209 - Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da 
correspondente à violência. 
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Impedir significa obstruir, tornar impraticável. Perturbar significa estorvar, causar impedimento. O tipo 
penal é misto alternativo. Ambos os núcleos do tipo são condutas que devem recair sobre enterro ou 
cerimônia religiosa. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, sem qualidade específica. É doloso, não 
havendo previsão da punição da modalidade culposa. 
É plurissubsistente, sendo possível fracionar o seu iter criminis e, por conseguinte, admite-se o conatus, a 
sua forma tentada. É classificado como vago, por ter como sujeito passivo imediato uma entidade sem 
personalidade jurídica, a coletividade. 
Questiona-se se é preciso elemento

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