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Resumo: GONÇALVES, Williams e MIYAMOTO, Shiguenoli. Os militares na política externa brasileira.

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TEXTO 6: Os Militares na Política Externa Brasileira: 1964-1984
Autores: Williams da Silva Gonçalves e Shiguenoli Miyamoto
1. Introdução 
- Política externa e processo decisório 
O autor começa falando um pouco sobre o que é política externa e como o processo decisório a influencia. Para ele, a PE é o instrumento que o Estado vai utilizar para se relacionar com os demais países e para satisfazer seus objetivos. 
As particularidades de cada país e como se dá o processo decisório interno, se o regime é democrático ou não e se possuem órgãos especializados como diplomacia e forças armadas, vão trazer a originalidade de cada PE.
Como o professor já afirmou em aula e próprio texto também, para esses objetivos serem alcançados não depende somente do Estado em questão mas também dos demais Estados do Sistema Internacional. Isso não será diferente durante o período da ditadura, existem linhas gerais para a PE que os militares pensaram (com suas nuances de acordo com cada pessoa que estava no topo do comando do país) mas que muitas vezes vão ser impedidas, influenciadas, adaptadas devido a recepção que os demais países tiveram, principalmente com relação aos EUA. 
O processo decisório é muito influenciado pelo regime que o Estado se encontra, democrático ou autoritário. No regime democrático há a participação dos diversos setores da sociedade com seus diversos interesses influenciando e pressionando a PE para determinado rumo (opinião pública), devido a disputa interna de interesses a PE dificilmente iria agradar somente um lado de forma absoluta. “Os objetivos nacionais assim apurados aproximam as posições de todos que, intensa ou episodicamente, participam do processo.” ( p. 212) 
Já em regimes autoritários, processo decisório passa por um círculo muito pequeno de pessoas. Essas pessoas que detém o poder causam uma forte ideologização e a opinião pública não existe devido a censura. Nesse sentido, o autor afirma que esse abismo entre os objetivos dos poderosos e a realidade social faz com que uma crise externa se transforme rapidamente em crise interna. A ditadura é um exemplo. A crise do petróleo de 1973 e do regime Bretton Woods que vai atingiu em cheio o Brasil e provocou uma crise interna que foi o pontapé para o fim do regime.
Citações:
“A política externa é uma das dimensões da vida do Estado. E por meio dela que o Estado se relaciona com os demais Estados, projetando sua imagem e explorando as possibilidades que se oferecem à satisfação das necessidades da nação.” (p. 211)
“Nos regimes autoritários o processo decisório desenrola num espaço exíguo. Há mais forte ideologização dos atores e tende a prevalecer a posição das forças que detêm o monopólio do poder de Estado. A falta de representação e a censura impedem a influência da opinião pública. Nos regimes fechados, os objetivos nacionais emanam diretamente dos que manipulam as rédeas do poder, os quais sobrepõem sua percepção e seus interesses exclusivos aos interesses gerais da nação.” (p. 213)
	- Os militares e a política externa brasileira 
O golpe de 1964 deu início a um novo comportamento das forças armadas, estas agora passam a exercer o poder de estado e não mais se contentam com poder moderador. 
Segundo o autor, a grande diferença desse golpe foi seu caráter calculista. Os militares criaram um programa para por fim a tensão entre capital e trabalho e desenvolver o país da forma que ELES julgavam ser a melhor. Dentro desse programa estava também mudanças profundas na política externa. 
Para a nova PE, o grande teórico da época foi Golbery do Couto e Silva com o livro Geopolítica do Brasil. O grande objetivo era fazer do Brasil uma grande potência mundial.
Objetivos teóricos gerais:
1. Base teórica: geopolítica germânica e norte-americana, influência realista de Morgenthau
2. Ideologia: visão da bipolar do mundo, anticomunismo profundamente rígido 
3. Brasil sendo projetado para o cenário mundial e exercendo supremacia continental 
Em relação aos EUA, Golbery pensava da seguinte forma: “Seu projeto geopolítico objetivava inserir positivamente o Brasil na estratégia de defesa do Ocidente” (p.214) 
Fazer os EUA (o Ocidente como um todo) enxergarem a grande importância do Brasil na luta contra o comunismo. Assim, os EUA teriam de ajudar a economia brasileira e preencher a carências de defesa do país. Tendo certeza que o Atlântico Sul estaria protegido do comunismo com a ajuda do Brasil. 
Rejeição a qualquer possibilidade fora do eixo ocidental (ciência, democracia e cristianismo) seja comunismo ou os países não-alinhados. 
Brasil não estava completamente sujeito aos EUA mas, claramente, tinha de dar preferência ao aliado. A originalidade de Golbery é demonstrar os ganhos geopolíticos que os EUA poderia ter com o Brasil equipado militarmente e inserido em um projeto desenvolvimentista. 
O projeto foi levado a cabo até que as possibilidades fossem esgotadas com a crise econômica internacional. 
Citações:
“Para o historiador Hélio Silva, o movimento de 64 marcou o fim do papel tradicional de poder moderador dos militares e inaugurou uma nova fase, em que estes passaram a exercer efetivamente o poder de Estado6” (p. 213)
“Por outro lado, o que diferenciou esse golpe das intervenções armadas anteriores foi o seu caráter calculista.” (p. 213) 
“Seu projeto geopolítico objetivava inserir positivamente o Brasil na estratégia de defesa do Ocidente.” (p.214) (em referência a Golbery Silva da EGN) 
“A marca registrada dessa reflexão era a rigidez que imputava à bipolarização do sistema internacional. Sob essa ótica maniqueísta, rejeitava a possibilidade de uma opção fora do Ocidente (ciência, democracia e cristianismo) e do mundo comunista (totalitarismo e ateísmo). O bloco afro-asiático e os não-alinhados nada mais representavam do que opções ainda hesitantes pelo comunismo.” (p. 214) 
2. Governo Castelo Branco: a vitória dos círculos concêntricos (1964 – 1967) 
É uma forte guinada a mudança da política externa independente praticada por Goulart para a política externa que será aplicada pelos militares. Um dos motivos para o golpe foi a intensa polarização que ocorreu no campo político e também em política externa, principalmente com relação a Cuba. 
Assim, o autor afirma que para a elaboração da política externa no primeiro governo militar houve um tom “acentuadamente emocional” e com o passar do tempo a racionalidade para a defesa do “interesse nacional” voltou. 
Dessa forma, no começo houve a reaproximação com os EUA com muitas declarações de fidelidade ao bloco capitalista, de reconhecimento da hegemonia estadunidense e de condenação a qualquer tipo de socialismo. 
As decisões governamentais passaram a serem tomadas pelo pequeno Conselho de Segurança Nacional. Nesse momento, começa aplicação da estratégia de “segurança e desenvolvimento”. Colocar a segurança como o foco e entender o papel do Brasil no cenário internacional, levando em conta que não possuindo artefato nuclear não poderia completamente independente como os países nuclearizados. Nesse sentido, a entrada do conceito de segurança coletiva é importante. O guarda-chuva nuclear norte-americano é essencial, ao mesmo tempo que se buscavam ajudar na defesa hemisférica. 
“A segurança coletiva era, pois indispensável, para se caminhar na direção do desenvolvimento.” (p. 217)
As forças armadas estavam indo na direção contrária a tendência mundial seguindo a lógica de acirramento da Guerra Fria sendo que naquele ano as potências estavam dialogando um pouco mais (Deténte). A visão de que a Guerra Fria havia chegado no terceiro mundo com Cuba e Vietnã. Logo, Castelo Branco rompeu relações com Cuba por ela gerar instabilidade na região. 
Círculos concêntricos é o conceito que Castelo Branco usou em seu discurso sobre a PE (olhar a primeira citação) 
Primeiro círculo concêntrico: América Latina: a estratégia do governo era se aproximar e fortalecer laços diplomáticos. O objetivo não foi bem-sucedido pois o país se recusou a participar do programa integracionistade escopo estritamente pan-americano causou desconfiança nos demais. Ademais, as suspeitas das intenções hegemônicas do Brasil, principalmente da Argentina e do Chile.
Apesar disso, houve entendimento com a Bolívia com a entrega de um trecho ferrovia em território boliviano e a solução do litígio do Acre. Além disso, houve sucesso na negociação diplomática com o Paraguai em relação a demarcação de fronteiras que a partir disso levaram a um aprofundamento das relações com o país. 
Segundo círculo concêntrico: Américas: Houve as aproximações das relações bilaterais entre Brasil e EUA. Brasil aderiu à Força Interamericana de Paz para a intervenção da guerra civil na República Dominicana (suposto levante comunista no país e EUA quis intervir) assumiu a liderança da intervenção na América Latina e enviou forças armadas para lá. 
O Brasil pediu pela reforma da Carta de Bogotá que rege a OEA para a criação de uma Força Interamericana de Paz permanente para evitar que os EUA ficassem fazendo intervenções unilaterais, contudo, isso não aconteceu porque os EUA preferiram resguardar o privilégio de decisão unilateral. 
 Apesar das diversas cartas trocadas entre Castelo Branco e Lyndon Johnson sobre a Guerra do Vietnã, o Brasil recusou o pedido de tropas pelos dos EUA e somente enviou mantimentos. 
Terceiro círculo concêntrico: Atlântico Sul e costa ocidental africana: Um grande medo dos militares era a instalação de regimes comunistas nessa região. Logo, se aproxima do regime de Salazar que queria manter seus império colonial. Seu apoio proporcionou maiores trocas comerciais entre ambos. 
Citações: 
“O interesse do Brasil coincide, em muitos casos, círculos concêntricos, com o da América Latina, do continente americano e da comunidade ocidental. Sendo independentes, não teremos medo de ser solidários. Dentro dessa independência e dessa solidariedade, a política exterior será ativa, atual e adaptada às condições de nosso tempo bem como aos problemas de nossos dias. Será esta a política externa da Revolução.”9 ( p. 216) (discurso do Castelo Branco)
3. Governo Costa e Silva: a diplomacia da prosperidade (1967 – 1969)
Com Costa e Silva houve uma flexibilização da política externa que desagradou os defensores da ortodoxia de Castelo Branco. A Aliança para o Progresso não agregou em nada ao país quando se esperava que ajudasse no crescimento econômico. Além disso, a decepção com o aumento do diálogo entre EUA e URSS. 
Os formuladores começam a perceber que o embate ideológico já não era tão forte, com a prevalência do comércio e fluxo de capitais. Enquanto os EUA, com seu viés realista, tiram proveito da relações com diversos regimes (China) para aumentar seu poder, o Brasil continua fielmente anticomunista. Logo, como afirma o autor, se desencantam com o mundo. “Essa pronunciada tendência à fragmentação dos blocos manifestava-se tanto no lado ocidental como no mundo do comunismo” (p. 221) 
Essa percepção das contradições do mundo (que estão detalhadas na p. 221 caso queira saber mais) leva a uma revisão dos rumos da política externa. 
Costa e Silva dá nome a nova política exterior de “diplomacia da prosperidade”. O grande foco será lidar com os problemas do desenvolvimento do país. A segurança passa ser produto do desenvolvimento e não mais o contrário. Vale ressaltar que é um projeto de desenvolvimento gerado pelo próprio país, sem ajuda externa. 
Identificaram os seguintes obstáculos para o desenvolvimento (as mais importantes) : 
1- Grandes potências tendo o monopólio da tecnologia e energia nuclear
2- Estrutura do comércio internacional favorável aos países desenvolvidos
3- Expansão do comunismo
4- Corporações multinacionais buscando dominar o mercado latino-americano 
Assim, Costa e Silva foca na afirmação da soberania e no desenvolvimento do país, segundo o texto. A elite brasileira passa a ter uma maior percepção do conflito Norte-Sul e menos Leste-Oeste. 
Então, há a percepção de que é preciso expandir a “base econômica do Estado” e uma maior atuação nos foros multilaterais. Nesse contexto, há a percepção de que a ONU estava em crise devido ao congelamento de poder e privilégios nos 5 grandes. 
Para conseguir seu posto de grande potência era preciso de uma “política internacional audaciosa” e superar entraves ao seu poder nacional. 
Tão audaciosa que se recusou a assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, por motivos de ser excludente em termos tecnológicos e o tratado não assegurar a paz mundial pois os países que já tinham iriam continuar com ela. Todavia, o Brasil assina o Tratado de Tlatelolco em 1967 em que se comprometia em não-proliferar o armamento nuclear mas sem deixar de investir na tecnologia nuclear. 
As relações com os EUA tenderam a esfriar, pois o Brasil estava insatisfeito com os resultados da cooperação no âmbito econômico e da defesa. Os EUA insatisfeitos com o recusa do TNP por parte do Brasil e controvérsias sobre quais produtos brasileiros iriam entrar no seu mercado. 
As relações com Portugal se mantiveram estreitas pelos mesmos motivos de Castelo Branco. 
Citações: 
“Estamos convencidos de que a solução do desenvolvimento condiciona em última análise a segurança interna e a própria paz internacional. A História nos ensina que um povo não poderá viver em um clima de segurança enquanto sufocado pelo subdesenvolvimento e inquieto pelo futuro. Não há tampouco lugar para a segurança coletiva em um mundo em que cada vez mais se acentua o contraste entre a riqueza de poucos e a pobreza de muitos” (p.221) (discurso de Costa e Silva) 
“Daremos, assim, prioridades aos problemas do desenvolvimento. A ação de meu Governo visará, em todos os planos bilaterais, ou multilaterais, à ampliação dos mercados externos, à obtenção de preços justos e estáveis para nossos produtos, à a atração de capitais e de ajuda técnica e – de particular importância – à cooperação necessária à rápida nuclearização pacífica do país. (...) Só nos poderá guiar o interesse nacional, fundamento permanente de uma política externa soberana.” (p. 221) (discurso de Costa e Silva) 
 
4. Governo Médici: a diplomacia do interesse nacional (1969 – 1974)
A política externa do governo Médici sofreu algumas alterações devido ao fato de ser outra pessoa no poder e ao elevado crescimento do PIB durante seu mandato (resultado da atuação de Costa e Silva vindo à tona), mas não foi nada absurdo. Logo, a PE seguiu a mesma linha geral da anterior. 
Médici entra após uma profunda crise político- ideológica nas forcas armadas como um “governo de união dos militares”. Nesse sentido ele tem carta branca para usar todos os meios para transformar o Brasil em potência. 
O alto crescimento do PIB (mais de 10%), causado pelo milagre econômico, aumentou a confiança do país de que estaria mais próximo de ser um país desenvolvido. 
Convencidos de que esse desenvolvimento se deu exclusivamente por fatores internos, leva a primeira alteração na política externa. Se antes o foco da “diplomacia da prosperidade” era nas relações multilaterais e a “diplomacia do interesse nacional” passou a focar nas relações bilaterais para alcançar seu objetivo. 
A consciência das elites é a de que a estrutura do sistema internacional era desfavorável aos subdesenvolvidos que se destacavam como o Brasil. 
Linhas de gerais da “diplomacia do interesse nacional”: 
1- A demanda por mudanças nas regras do sistema internacional e contra o congelamento e concentração de poder
2- À medida que um país cresce cabe um maior espaço de decisão no âmbito internacional e usá-lo em favor dos povos (como Brasil) que aspiram progresso
3- A manutenção do status quo não significa paz mundial. É preciso alterar o comércio internacional e a distribuição mundial do progresso científico e tecnológico. “Não há verdadeira paz sem desenvolvimento” 
4- Solidariedade com os países em desenvolvimento e busca-se se aproximar daqueles países que também estão na luta pelo progresso 
5- Deve-se cooperar com os países desenvolvidos
América Latina: 
O Brasil passoua se colocar como “potência ouvida no concerto dos fortes e respeitadas naquele dos fracos” (p. 225). Fato que causou desconfiança nos demais países da região, principalmente com a ideia de ocupação efetiva do território nacional (atuação na bacia Amazônica e na bacia do Prata). 
Porém, o grande ponto de tensão nas relações com a região foi a eleição de Salvador Allende em 1970 no Chile vista como uma grande ameaça a estabilidade na região. O Brasil ficou em estado de alerta com outros vizinhos que estavam instáveis como Uruguai e Bolívia.
O poder absoluto dos militares desde Costa Silva, passou transmitir a ideia de que o país queria fortemente assumir o poder hegemônico regional. O foco no bilateralismo e o milagre econômico também não ajudaram. 
Houve a denúncia da Operação Trinta Horas que o Brasil objetivava ocupar o Uruguai para que não caísse na oposição armada e realmente houve concentração de tropas na fronteira sul. Além disso, o governo militar foi acusado de participar no golpe da Bolívia de 1971, mudança que beneficiou o Brasil, e de participar no golpe chileno de 1973. 
Em contrapartida, o país se aproximou do Paraguai e em 1973 assinou o Tratado de Itaipu que viria a construir a usina hidrelétrica. 
Tal fato não foi visto com bom olhos pela Argentina e iniciou uma serie de atritos que só se resolveu 6 anos depois quando Brasil cedeu as demandas argentinas no projeto hidrelétrico. 
Âmbito extra-continental: 
A política externa passou a ser bastante agressiva devido aos seus objetivos econômicos.
Negociação de abertura de novos mercados para os produtos nacionais e maior aproximação de países produtores de tecnologia e matérias-primas necessárias para a indústria nacional. 
Abertura de embaixadas nos países do Oriente Médio, uma vez que o petróleo era essencial para a economia. Cooperação técnico-científica com Israel. 
Ademais, se aproximou dos países do continente africano buscando incrementar os canais de comércio para a penetração dos produtos brasileiros. Em termos estratégicos, o raciocínio de que o Atlântico Sul era crucial para a segurança do país. Nesse sentido, o Brasil manteve um bom relacionamento com Portugal, apesar de desgastado, e com a África do Sul, estigmatizada pela comunidade internacional devido ao apartheid. O pensamento de que os movimentos de libertação nacional e anti-apartheid faziam parte da expansão soviética continuou. 
Em 1970, o Brasil ampliou o limite do mar territorial para 200 milhas seguindo o raciocínio de proteger a área do Atlântico Sul e aumentar suas independência nacional. Alegou que queria proteger as reservas de petróleo e os interesses pesqueiros mas sofreu forte oposição dos EUA por acreditar ser uma política de poder e sofreu retaliações no comércio internacional. Ficava cada vez mais claro que o nacionalismo dos militares estava focado na independência e colocava a relação com EUA em bases mais realistas e competitivas. 
Citações: 
“... a ideia de que o Brasil, apoiado pelos Estados Unidos, talvez se aventurasse a praticar intervenções armadas com fins preventivos.” (p. 226)
“O ativismo dos militares brasileiros nesta e nas mobilizações anteriores teria sido movido pela estratégia de impedir a formalização de uma frente de Estados socialistas hostis ao Brasil.” (p.227) (referência aos golpes militares nos governos da região) 
5. Governo Geisel: o pragmatismo responsável (1974 – 1979) 
Geisel assumiu o governo em um contexto bem diferente do antecessor. O Brasil que estava otimista com o acelerado crescimento econômico, agora estava ameaçado pela crise no sistema internacional e pelo acirramento das contradições internas. Era o fim do “milagre”. Com esse cenário, Geisel deu início a uma liberalização controlada (lento retorno à democracia) em âmbito interno. 
O panorama externo a estabilidade e diálogo entre EUA e URSS começou a se desgastar o que refletiu em maiores tensões no aspecto Norte-Sul.
Os EUA perderam poder devido ao fracasso no Vietnã. Como resultado das guerras árabes-israelenes, o Terceiro Mundo passou a articular seus interesses comuns e a manipular os preços das matérias-primas importantes para as potências do Primeiro Mundo que provocou o primeiro choque do petróleo em 1973.
O choque atingiu em cheio o Brasil e forçou o governo militar a revisar sua estratégia de política internacional. De acordo com o texto, produzíamos somente 28% do petróleo utilizado e agregado a falta de acesso aos centros decisórios do sistema financeiro internacional, os juros da dívida externa aumentaram. 
Os estrategistas perceberam que o Brasil ainda estava longe de ser uma país do Primeiro mundo e que persistir no bilateralismo levaria a um futuro isolamento internacional. 
Dessa forma, o pragmatismo responsável de Geisel se baseava nos seguintes pontos:
1- Focar no multilateralismo e na aproximação com o Terceiro Mundo 
2- Reavaliar as alianças e demandar uma nova ordem econômica internacional mais justa na distribuição de riqueza 
3- Desvincular o interesse nacional do aspecto ideológico
A mudança de política externa era inevitável, porém alguns setores dos militares e dos civis que sustentavam o regime não a aceitaram por supostamente ser comunista. Todavia, eles também não eram capazes de apresentar uma alternativa razoável devido a rigidez ideológica.
Restabeleceu as relações diplomáticas com a República Popular da China, devido a uma aproximação com a diplomacia realista de Kissinger e ao discurso simbólico que a China fez em defesa do Terceiro Mundo na ONU. 
Reconheceu Guiné-Bissau e Angola como Estados independentes em 1974 e 1975, respectivamente. O que foi visto de forma positiva pelo Terceiro Mundo, principalmente com relação à Angola que formou um Estado socialista inspirado no marxismo e leninismo. Os países africanos passaram a ter uma visão nova sobre o Brasil, de que estaria “na linha de frente e na luta contra o apartheid” (p. 232). 
Além disso, o Brasil viu o estabelecimento das relações com Angola como uma oportunidade de ser o porta-voz dos interesses desses países sobre desenvolvimento e autonomia frente a Portugal que estava perdendo seu império. 
As relações do Brasil com o continente africano se solidificaram no aspecto ideológico e comercial. 
A decisão brasileira relação a Angola é de profunda importância, uma vez que esta se chocou com os EUA. Os norte-americanos apoiaram a solução pró-ocidental (FNLA) que perdeu e o Brasil apoiou a solução pró-soviética-cubana (MPLA). O Brasil precisava estar presente na região devido a possibilidade de um conflito entre a África do Sul (que ia até Namíbia) e Angola (capitalista x socialista). 
A choque entre o pragmatismo responsável e a política internacional dos EUA ficou cada vez mais forte. O Brasil estava em busca de independência e de satisfazer seus diversos interesse econômicos, usou sua liberdade para escolher aliados no continente africano e também no Oriente Médio, o que aumentou as exportações de manufaturados e equilibrou a balança de pagamentos. Por esse viés, passou a apoiar a criação do Estado da Palestina na ONU.
O país estava atrapalhando os interesses das empresas estadunidenses com as estatais e exportando armas para locais do interesse norte-americano, contudo, as relações entre ambos realmente azedou quando Geisel assinou o acordo de cooperação nuclear com a Alemanha em 1975. 
A assinatura desse acordo feria o ponto mais importante para a política externa dos EUA para região latina que era a perpetuação do seu poder hegemônico. O Brasil demonstrou que sua vontade de acessar a tecnologia nuclear não seria impedida pelo constrangimento das superpotências. Para o Estado, não conseguir autonomia tecnológica significava ficar condenado a um eterno subdesenvolvimento. 
A retaliação norte-americana só será realmente sentida em 1976 com a eleição de Jimmy Carter. A “política de direitos humanos” estadunidense atingia em cheio o governo Geisel ao fazer oposição aos regimes autoritários e pressionar pelo retorno ao estado de direito. Por essalinha, o senado estadunidense decidiu condicionar a ajuda militar ao Brasil a partir do relatório sobre a situação dos direitos humanos. 
Geisel reagiu as essas pressões externas como uma intervenção interna no país. Ademais, denunciou os acordos militares entre os dois países em 1977 que teve grande efeito simbólico da ruptura entre os dois países.
EUA e Brasil também tiveram atritos econômicos. Os norte-americanos passaram a dificultar a entrada de manufaturados brasileiros em seu mercado interno. Esse fato, somente levou o Brasil a se aproximar mais da Europa e do Japão. 
A diplomacia brasileira buscou estabelecer relações horizontais com seus parceiros e não relações verticais como o Primeiro Mundo praticava. No entanto, teve dificuldades com a América Latina devido a imagem que o Brasil projetou de querer ser hegemônico nos anos anteriores, sendo necessária habilidades diplomáticas e revisão de seus interesses. 
A fronteira ideológica ainda era válida para a região. A única preocupação era com relação à Cuba, já que o golpe no Chile eliminou qualquer possibilidade de socialismo na região. 
O governo militar precisava saber equilibrar a defesa das fronteiras com a cooperação com os demais vizinhos. 
Para a Argentina, o Brasil estaria querendo isolá-la devido as boas relações com a Bolívia e o Paraguai, além da recusa de permitir o país de participar do projeto de Itaipu. 
Geisel passou todo o mandato em negociação com a Argentina e o Paraguai na tentativa de equilibrar os interesses. Somente em 1979, com Figueiredo a negociações resultaram no Acordo Multilateral Corpus-Itaipu. 
Para o resto da região, houve encaminhamento para o multilateralismo. O consenso de que a ordem internacional precisava mudar para uma ordem menos opressiva e mais justa. O país se esforçou para resolver certos atritos para tentar realizar uma articulação regional. Por esse viés, em 1978 houve a assinatura do Tratado de Cooperação Multilateral na Amazônia, (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Brasil) para evitar a interferências externas na floresta amazônica.
Citações: 
“Queremos que a nossa linguagem no plano internacional, seja direta e simples, sem ambiguidades e subterfúgios. Queremos que o Governo brasileiro possa cumprir a vocação ecumênica de seu povo, aberto à comunicação desinibida e franca. Queremos explorar todas as vias do entendimento, por aceitarmos, fundamentalmente que a cooperação é mais eficaz do que o antagonismo e que o respeito mútuo é mais criador do que as ambições de preponderância. 
Nossa conduta, para alcançar esses objetivos, é pragmática e responsável. Pragmática, na medida em que buscamos a eficácia e estamos dispostos a procurar, onde quer que nos movam os interesses nacionais brasileiros, as áreas de convergência e as faixas de coincidência com os interesses nacionais de outros povos. Responsável, porque agiremos sempre na moldura do ético e exclusivamente em função de objetivos claramente identificados e aceitos pelo povo brasileiro”36 (p. 230) (discurso de Geisel) 
6. Governo Figueiredo: a política universalista (1979 – 1985) 
Governo de Figueiredo foi o último governo militar e tinha como dever realizar a etapa final da volta ao Estado de Direito e o compromisso com os ideais democráticos. Contudo, a redemocratização passou por algumas dificuldades devido a crise interna e a recessão externa.
Figueiredo não fez nenhuma grande mudança para a política externa, a única diferença é que a diplomacia deixou de ser tão secreta e passou a dialogar mais com o Congresso Nacional. 
A política externa foi chamada de universalista devido a adaptação à tendência à mundialização do sistema internacional. A ligação entre o Terceiro Mundo e o Ocidente, manutenção do diálogo com os dois lados. 
Os Estados da região foram prioridade da política internacional vigente, em especial a Argentina. Empenho em integrar a região com a Cooperação Amazônica e cooperação energética. 
As tensões entre Norte-Sul só se aprofundaram com a Guerra das Malvinas. O conflito deixou claro que os EUA não agiriam em favor da Argentina ou qualquer outro país da região que entrasse em conflito com outros países da OTAN. O continente só estava protegido contra ataques da URSS e seus aliados de acordo com o TIAR. 
O conflito também evidenciou quanto o Brasil estava incapaz de se defender por falta de equipamentos atuais e modernos e dependente do petróleo que dependia do sistema financeiro ocidental. O claro equívoco que foi o país priorizar por forças terrestres e não aeronavais. O ERRO que foi acreditar que os EUA estava protegendo o continente. 
Nesse sentido, o governo passou a defender a preservação da OEA e a importância de manter os EUA na organização para que eles respeitassem as diretrizes impostas por ela.
EUA:
Principalmente com a rebipolarização de Reagan em que se colocou ao lado da Inglaterra em relação as Malvinas e ameaçar a América Central de invasão militar. 
Além disso, a desqualificação política do Terceiro Mundo pelos EUA, os atritos econômicos e a questão nuclear contribuíram para que as relações entre ambos se mantivessem afastadas. 
Devido a isso, o Brasil focou nas relações com os vizinhos para tentar fazer frente a ofensiva de Reagan. 
O Estado tentou ajudar nas negociações entre Reino Unido e Argentina, se mantendo neutro, mas positivo a Argentina. A partir disso, a relações entre ambos melhoraram bastante, especialmente com a redemocratização na Argentina, e houve a percepção de diversos interesses em comum. Ambos perceberam que era preciso abandonar desavenças antigas e buscar o desenvolvimento da região. 
Em relação a América Central, procurou não intervir sobre as pressões que os EUA estavam fazendo e somente interviria se a solução daqueles países não viesse de dentro deles. A cautela do Brasil também se dava por ser exportador de armas para a região. 
O governo continuou e aprofundou a postura brasileira com relação ao continente africano. Aumentou a quantidade de embaixadas e Figueiredo viajou para o continente, sendo a primeira feita por um líder sul-americano. Com essa aproximação, o Brasil passou a se envolver mais nos problemas do continente.
O Estado solidificou relações com os países produtores de petróleo do Oriente Médio, também cliente da indústria bélica brasileira, em destaque Iraque e Irã. 
Em relação a Ásia, o Brasil aumentou o comércio e cooperação técnico-cientifica com a China e reafirmou as boas relações com o Japão. 
Uma maior aproximação com a Europa Ocidental e maior diálogo com a Europa Oriental.
Citações: 
“A marcha da redemocratização porém não foi linear. A crise econômica interna acentuada pelo quadro recessivo externo, atiçando a impaciência da sociedade pelas reformas, condicionou o surgimento de sérios percalços.” (p. 237)
7. Conclusão
Ao final do texto, o autor traz o questionamento de se realmente houver uma política externa específica dos governos militares ou se cada governo praticou uma política própria de acordo com as necessidades. 
Antes de responder a pergunta, ele realiza duas observações. A primeira é que para se avaliar o fracasso ou êxito da política externa a referência será a estratégia usada nas ações diplomáticas. A segunda é sobre as grandes potências moldarem o SI e os demais Estados, como o Brasil, adequarem suas estratégias para conseguir seus objetivos. 
O objetivo em comum durante todos os governos militares foi transformar o país em uma grande potência. Para o autor, as mudanças no Sistema Internacional causaram as alterações de cada governo, por questões de adequação. 
Contudo, o texto afirma que é possível visualizar dois grandes momentos diferentes, de Castelo Branco a Médici e de Geisel a Sarney. 
Castelo Branco a Médici: marcado pela forte ideologização com o conflito Leste-Oeste, boas relações com os EUA. 
“Por outras palavras, ambas as políticas externas situavam-se no mesmo quadro estratégico; ambas situavam o Brasil como um ator do campo ocidental. Seu objetivo era o mesmo: promovero desenvolvimento e bloquear o avanço do comunismo.” (p. 243) 
Geisel a Sarney: rompeu com ideologização do conflito de Guerra Fria, deslocamento do conflito Leste-Oeste para o Norte-Sul, desafiar as grandes potências do SI (EUA principalmente), articulação com o Terceiro Mundo pela democratização das RI e da distribuição de poder. 
Apesar de ter os mesmos objetivos que a Política Externa Independente (PEI), o cenário era bem diferente, pois passou a ser exportador de manufaturados, produtos agrícolas e expansão do setor de serviços. 
Referência:
GONÇALVES, Williams e MIYAMOTO, Shiguenoli. Os militares na política externa brasileira. Estudos Históricos, vol. 6, no. 12, pp. 211-246, 1993.

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