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Universidade Luterana do Brasil Conflitos nas escolas Tutora Paula Costa • O que é que se entende por conflito nas escolas? • É possível abordar-se o conflito nas escolas como se aborda o conflito noutros contextos de vida (família, estádio de futebol, rua…) ? • O conflito na Escola pode ser abordado como uma problemática eminentemente relacional? • Ou o conflito na Escola é uma problemática que se afirma como uma questão relacional, ainda que tenha que ser entendida como uma questão pedagógica ? • • Pode-se discutir o conflito na Escola ignorando as seguintes questões: – O que é educar ? – Qual é a finalidade da escola ? – Qual o estatuto dos professores ? – Qual o estatuto dos alunos ? – Qual o estatuto do patrimônio curricular ? • A visão negativista do conflito • A visão angelical do conflito • A visão crítico-reflexiva do conflito Conflitos em sala: o que abordar • O conflito é entendido, sobretudo, como um fenômeno relacional; • O conflito na Escola é lido, sempre, de forma negativa, linear e como a expressão de fenômenos exteriores à Escola • Atribui-se a origem dos conflitos no seio da Escola às famílias, às comunidades e à sociedade em que vivem os alunos; • A violência no seio das famílias, o alcoolismo, a toxidependência, a demissão educativa dos pais ou a ausência de valores e de figuras de referência são causas de carácter doméstico que visam explicar os conflitos na Escola; • A permissividade educativa, a pobreza e a exclusão social, o desemprego dos pais, a marginalização social ou a banalização da violência são causas de natureza social que se invocam para justificar os conflitos. • “Talvez a educação que os alunos recebem em casa seja uma das causas principais” (G.S.) • “…Penso que as famílias têm uma grande parte da responsabilidade, pelo pouco acompanhamento que dão aos filhos e pela própria educação que lhes proporcionam” (M. S.) • “A escola não tem qualquer responsabilidade, o problema é mesmo de alguns alunos e da educação que recebem em casa” (C.A.) • “A comunicação social, nomeadamente a televisão, também contribui decisivamente para que vivamos uma «cultura de violência». E a Escola acaba por reflectir isso, porque ele é um espelho da sociedade” (F.S.); • “E não falo apenas de armas, mas de modelos de comportamentos retirados da televisão. Os desenhos animados, por exemplo, são mais agressivos hoje em dia” (R.H.) • Nesta perspectiva não se problematizam nem se interpelam as escolas como contextos passíveis de criar e sustentar situações conflituais, por via de opções relacionadas quer com decisões de natureza organizacional, quer com decisões vinculadas aos domínios da gestão curricular e didáctica. • Os conflitos resolvem-se desde que os professores estejam dispostos a reconhecer os interesses, as necessidades e as mundivivências dos seus alunos. • Há conflito quando os professores não querem ou não sabem reconhecer aqueles interesses, necessidades e mundivivências. • O conflito é entendido como algo indesejável, sobretudo porque exprime a incapacidade dos professores estabelecerem relações significativas com os seus alunos • É uma perspectiva que tende a valorizar a capacidade de intervenção dos professores face aos conflitos, em função da sua disponibilidade pessoal para com os seus alunos. • É uma perspectiva que, ao contrário da anterior, tende a subvalorizar os constrangimentos exteriores aos contextos escolares como factores a ter em conta quando se enfrentam conflitos na sala de aula. • São narrativas que tendem a atribuir aos professores a responsabilidade pela resolução dos problemas de indisciplina escolar. • Os problemas sociais, as questões organizacionais, a mobilização e gestão dos recursos tendem a passar para um segundo plano. • Autoridade, afecto e disponibilidade para investir em acções que visam contrariar os conflitos são as propriedades mais valorizadas por esta perspectiva que enfatiza, acima de tudo, as qualidades e importância dos professores. “A Ana [professora] (…) conheceu uma criança que todos consideravam violenta, hóspede quase permanente de um quarto escuro, onde cumpria longas horas de castigo. Porém nem o negro isolamento domava a juvenil fúria. (…) A Ana depressa se apercebeu daquele ciclo vicioso. Poucos dias decorridos, aproveitando um momento de distracção da endiabrada rapariga, prendeu-a nos seus braços. (…) Tremeu quando a Ana a beijou na face. (…). Algumas idas e vindas depois, o íman do afecto prendeu-a definitivamente. A pedagogia do abraço vencera a da punição” J. Pacheco • Esta visão do conflito expressa o reconhecimento de que numa relação pedagógica nos encontramos perante actores com poderes diferentes, interesses distintos e posicionamentos sócio-culturais diversos na e face à Escola; • Piaget atribui-lhe um papel decisivo como fator potencializador do desenvolvimento cognitivo dos sujeitos; • Philippe Meirieu atribui-lhe um lugar central como factor a considerar na gestão do processo de ensino-aprendizagem, através da valorização da noção momento pedagógico. O aluno resiste à ação educativa que o professor pretende exercer O aluno resiste à acção educativa que o professor pretende exercer Reconhecimento e aceitação, por parte do professor, da resistência do aluno: o ponto partida de um trabalho pedagógico que visa superar a resistência do aluno face à acção educativa do professor O aluno resiste à acção educativa que o professor pretende exercer MOMENTO PEDAGÓGICO Reconhecimento e aceitação, por parte do professor, da resistência do aluno: o ponto partida de um trabalho pedagógico que visa superar a resistência do aluno face à acção educativa do professor Momento pedagógico e trabalho do professor Momento pedagógico e trabalho do professor Não se pretende superar a resistência dos alunos pela via autoritária ou da manipulação Momento pedagógico e trabalho do professor Não se pretende superar a resistência dos alunos pela via autoritária ou da manipulação Utilização de dispositivos repressivos ou excludentes Demissão Remoção abusiva e excessiva de obstáculos Caricaturização do saber Momento pedagógico e trabalho do professor Não se pretende superar a resistência dos alunos pela via autoritária ou da manipulação Mais do que exercer o poder, o professor deve reconhecer o poder que os alunos exercem sobre a sua acção educativa Utilização de dispositivos repressivos ou excludentes Demissão Remoção abusiva e excessiva de obstáculos Caricaturização do saber Momento pedagógico e trabalho do professor Não se pretende superar a resistência dos alunos pela via autoritária ou da manipulação Mais do que exercer o poder, o professor deve reconhecer o poder que os alunos exercem sobre a sua acção educativa Utilização de dispositivos repressivos ou excludentes Demissão Remoção abusiva e excessiva de obstáculos Caricaturização do saber Reconhecer os obstáculos que o seu discurso contém Buscar novos exemplos Multiplicar reformulações inventivas Oferecer pontos de apoio que permita aos alunos os meios para produzirem acções inteligentes • Caracteriza-se por promover leituras acerca dos conflitos na Escola que tendem a desenvolver uma compreensão mais contextualizada, sistémica e sustentada sobre este fenómeno. • É uma visão que aborda os conflitos na Escola, de forma criteriosa, tentando compreendê-la para além das suas evidências. • É uma abordagem que não ilude o peso dos factores de natureza social e cultural na afirmação dos conflitos, embora não os aborde nem como factores isolados, nem como factores que se transformam em razões que se utilizam para afirmar a impossibilidade de intervenções consequentes. • Os factores de natureza social e cultural são entendidos como factores a gerir em articulação com medidas de natureza pedagógica que não se confinam, apenas, a medidas de carácter remediativo ou preventivo. Nesta perspectiva reconhece-se as inúmeras tensões que, hoje, marcam e atravessama missão e a vida das escolas que não são ignoradas nem iludidas pela abordagem crítico-reflexiva; Há uma consciência nítida que, hoje, vivemos nas escolas num período que Canário designa como um «tempo de incertezas»”. • Um período marcado pela • globalização económica e a afirmação • de um «capitalismo de casino»; • Um período marcado pelo declínio dos Estados Nacionais; • Um período marcado pela precarização das relações laborais e do emprego. • As promessas que sustentavam a Escola são postas em causa; • Os diplomas desvalorizam-se como instrumentos de mobilidade social; • A Escola passa a assumir funções como instrumento de regulação do amortecimento da conflitualidade social, deixando de ser parte da solução para se começar a reconhecer que também faz parte do problema; • De uma Escola elitista a Escola confronta-se, hoje, com o facto de ser uma Escola de massas elitizada e com as dificuldades de se afirmar como uma Escola culturalmente democrática • As respostas a construir, para responder aos conflitos na Escola, são sempre precárias e exigem: – por um lado, que se repensem os sentidos e o significado dos projectos de intervenção educativa que têm lugar nas escolas; – por outro, um maior envolvimento institucional, bem como o desenvolvimento de sinergias consequentes com instituições exteriores às escolas. • As respostas daqueles que perfilham de uma visão negativista do conflito confinam-se, apenas: – à reivindicação da reposição da autoridade dos professores como solução para o conflito, sem discutir os sentidos dessa autoridade e o modo como esta é exercida; – à responsabilização de outros actores, exteriores à Escola, como resposta decisiva à resolução dos conflitos que têm lugar nas escolas. • As respostas daqueles que perfilham de uma visão angelical do conflito tendem a entender os professores como seres todos poderosos com respostas prontas e soluções para todos os problemas. • A visão crítico-reflexiva do conflito tende a entendê-lo como um desafio inevitável que se coloca a professores e a alunos quando estamos perante um grupo de pessoas com interesses, vivências e formas de entender o mundo distintas, bem como estatutos e papéis diferentes no âmbito da sala de aula. • É uma visão que assenta numa concepção de Escola em função da qual a heterogeneidade dos alunos não é um problema, mas uma propriedade a ter em conta. • Uma visão em que se recusa a possibilidade de ensinar tudo a todos como se de um só se tratasse. • Na visão crítico-reflexiva o conflito é um desafio que obriga os professores a problematizar: – os objectivos e as modalidades de organização e as modalidades de gestão do processo de ensino- aprendizagem; – os tipos de relacionamento que, neste âmbito, se estabelecem entre todos os envolvidos neste processo.
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