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Tireoide Introdução A glândula tireoide é um dos maiores órgãos endócrinos e está localizada abaixo da laringe, ocupando as regiões laterais e anterior da traqueia. Sua forma é de dois lobos laterais unidos por um istmo de parênquima glandular e cobertos por músculos. A glândula recebe inervação simpática e parassimpática, irrigação sanguínea das artérias tireóideas e drenagem sanguínea das veias tireóideas. Histologicamente, a tireoide é composta de folículos fechados formados por células foliculares tireoidianas de epitélio cúbico e delimitadas por um lúmen repleto de coloide. O coloide é constituído de tireoglobulina a qual possui os hormônios tireoidianos (tri-iodotirosina e tiroxina). A tireoide também contém células C, que secretam o hormônio calcitonina. Esquema representativo histológico da tireoide Síntese dos Hormônios Inicialmente é necessário a ingestão de iodo pelo individuo o qual é absorvido pelo trato gastrointestinal para o sangue e enviado para a tireoide. Para entrar na tireoide o iodeto é bombeado por meio de uma bomba de sódio-iodo de transporte ativo secundário que cotransporta um íon iodeto junto com dois íons sódio para a tireoide. A energia da reação é derivada do gradiente de sódio que é favorecido por uma bomba de sódio-potássio ATPase, portanto, na bomba de sódio-iodo o sódio fornece a energia, carreando consigo o iodeto. Esta captação de iodeto é totalmente influenciada pelo TSH, o qual estimula a atividade da bomba de iodeto. O iodeto é transportado para o folículo por meio de uma molécula cotransportadora de íons cloreto-iodeto, a pendrina. Nos folículos, o retículo endoplasmático e o aparelho de Golgi sintetizam a tireoglobulina, uma proteína com cerca de 70 aminoácidos de tirosina com afinidade ao iodo. Antes do iodeto se ligar à tireoglobulina, é necessária sua oxidação para torna-lo capaz de se combinar com as moléculas de tirosina. Essa oxidação ocorre pela enzima peroxidase e por moléculas de peróxido de hidrogênio. Depois da oxidação, ocorre a iodização das tirosinas, promovendo a chamada organificação da tireoglobulina. Inicialmente a tirosina é iodada para monoiodotirosina e di-iodotirosina. Para a formação de tiroxina (T4) é necessário a união de duas moléculas de di- iodotirosina; já para a formação de tri- iodotirosina (T3) é necessário a união de uma molécula de di-iodotirosina e outra de monoiodotirosina. Vale ressaltar que todos estes hormônios estão ainda ligados à molécula de tireoglobulina, a qual vai ficar armazenada nos folículos da tireoide. Secreção dos Hormônios A secreção dos hormônios tireoidianos ocorre pela clivagem do T3 e T4 presentes na tireoglobulina. Para isso, as células da tireoide emitem pseudópodes que formam vesículas pinocíticas na célula e lisossomos se fundem a elas para formarem vesículas digestivas. Estas vesículas digestivas possuem proteases que vão clivar a tireoglobulina, promovendo a liberação de T3, T4, monoiodotirosina e di-iodotirosina. Os hormônios T3 e T4 serão liberados na corrente sanguínea e as moléculas de monoiodotirosina e di- iodotirosina vão perder seu iodo por meio da enzima deiodinase e serão reciclados de volta à glândula. Transporte dos Hormônios Ao serem secretados, os hormônios tireoidianos são encontrados em pequena fração na forma livre e em grande fração ligados a proteínas transportadoras. As principais transportadoras são: a globulina de ligação de tiroxina (TBG), a TTR ou conhecida anteriormente como pré- albumina de ligação de tiroxina, a albumina e as lipoproteínas. O transporte por meio de proteínas plasmáticas é extremamente importante para liberar os hormônios de forma lenta no organismo. Vale ressaltar que, em decorrência das afinidades com as proteínas plasmáticas, a tiroxina vai ser liberada bem mais lentamente (metade a cada seis dias) enquanto a tri-iodotironina vai ser liberada de maneira mais rápida (metade em um dia). Mecanismo de Ação Os hormônios tireoidianos são lipossolúveis, podendo atravessar a bicamada lipídica e se ligar a receptores presentes no núcleo das células. Quando os receptores são ativados, eles iniciam a transcrição de DNA em RNA e depois ocorre a tradução de mRNA para síntese de proteínas que promoverão a resposta final do hormônio. Transcrição de Genes O principal efeito dos hormônios tireoidianos é ativar a transcrição de genes, aumentando assim a síntese de proteínas estruturais, enzimas, proteínas transportadoras, etc. Com isso, ocorrerá um aumento generalizado da atividade funcional de todo o organismo. Vale ressaltar que a maior parte da tiroxina secretada pela tireoide é convertida em T3, pois este tem afinidade maior pelos receptores. Metabolismo Os hormônios tireoidianos aumentam a atividade metabólica basal de quase todos os tecidos corporais, aumentando a velocidade de utilização dos alimentos para a produção de energia. O crescimento de jovens e os processos mentais também são estimulados. As mitocôndrias também aumentam em tamanho e número e sua atividade é estimulada, aumentando a formação de ATP e a atividade celular. A enzima Na+-K+-ATPase tem sua atividade aumentada, potencializando o transporte de sódio e potássio, aumentando a utilização de energia e a quantidade de calor produzido pelo organismo. Crescimento Os hormônios tireoidianos são essenciais para o crescimento e para a maturação dos tecidos (principalmente o tecido nervoso). Crianças com hipotireoidismo possuem atrasos na maturação óssea e no fechamento das epífises. No desenvolvimento fetal, estes hormônios são essenciais para o tecido nervoso. O déficit de hormônios tireoidianos nesse momento causa danos permanentes no desenvolvimento neurológico, atingindo o córtex cerebral, o gânglio basal, a cóclea e o cerebelo. Desse modo, é realizado o teste do pezinho nos neonatos, onde uma gota de sangue é obtida do calcanhar do recém- nascido para avaliar a concentração de TSH no sangue, indicando a possibilidade de hipotireoidismo. Carboidratos No metabolismo de carboidratos, os hormônios tireoidianos vão aumentar a captação de glicose pelas células, aumentar a glicólise e a gliconeogênese e aumentar a absorção de carboidratos pelo trato gastrointestinal. Além disso, aumentam a secreção de insulina e potencializam sua ação. Lipídeos No metabolismo de gorduras, os hormônios tireoidianos vão promover a mobilização de lipídeos do tecido adiposo, reduzindo os acúmulos de gordura. Desse modo, vão aumentar a concentração de ácidos graxos livres no plasma e acelerar sua oxidação nas células. No fígado, eles vão reduzir as concentrações de colesterol e outros lipídeos no plasma para aumentar a concentração de ácidos graxos livres. A redução do colesterol se deve porque a bile vai estar o secretando constantemente, havendo sua perda nas fezes. Uma quantidade muito elevada de hormônio tireoidiano reduz o peso corporal, mas também aumenta o apetite. Circulação O aumento do metabolismo causa utilização mais rápida de oxigênio e alta liberação de metabólitos, levando à vasodilatação e ao aumento do fluxo sanguíneo e do débito cardíaco. O aumento da utilização de oxigênio eleva a frequência e a profundidade da respiração. Os hormônios tireoidianos também causam aumento da frequência cardíaca, mas quando sua secreção está elevada ocorre diminuição na força do músculo cardíaco em decorrência do catabolismo proteico excessivo. Trato Digestório Os hormônios tireoidianos aumentam a produção de secreções digestivas, a motilidade gastrointestinal e o apetite do indivíduo. O hipertireoidismo pode causar diarreia, enquanto o hipotireoidismo pode causar constipação (“intestino preso”). Sistema Nervoso Os hormônios tireoidianos aumentam a velocidade da atividade cerebral. Indivíduos com hipertireoidismo podem apresentar nervosismo, ansiedade,cansaço constante (por causa da alta excitação nas sinapses) e sono dificultado. Já indivíduos com hipotireoidismo possuem sonolência extrema. Músculos Pequenos aumentos dos hormônios tireoidianos fazem que o músculo contraia fortemente, porém no hipertireoidismo, os músculos são enfraquecidos devido ao excesso do catabolismo proteico e podem apresentar um tremor leve, pois as atividades das sinapses neuronais que controlam o tônus muscular na medula espinal estão aumentadas. Já no hipotireoidismo, os músculos estão vagarosos e relaxando lentamente. Glândulas Os hormônios tireoidianos aumentam a secreção das glândulas endócrinas, assim como aumentam as necessidades teciduais pelos hormônios. Por exemplo: o metabolismo da glicose é aumentado, assim como a secreção de insulina pelo pâncreas. Regulação da Secreção O TSH da hipófise é o principal regulador da secreção tireoidiana, o qual é responsável por: aumentar a secreção de T3 e T4; aumentar a proteólise da tireoglobulina; aumentar a eficiência da bomba de iodeto; aumentar a iodização da tirosina; aumentar a atividade e a quantidade das células da tireoide. A secreção do TSH, por sua vez, é regulada pelo TRH do hipotálamo. A regulação pelo TSH ocorre da seguinte maneira: o TSH é enviado para a tireoide, se liga a receptores na superfície da membrana, ativa a enzima adenilil ciclase, a qual leva a formação de cAMP. O cAMP vai ativar enzimas proteinocinases que vão fosforilar várias moléculas, aumentando a secreção dos hormônios. Regulação as Secreção Tireoidiana A regulação também pode ocorrer por modulação fisiológica de duas maneiras. A primeira maneira é pela exposição do animal ao frio. Isso porque o frio causa excitação dos centros hipotalâmicos de controle da temperatura corporal, levando à secreção dos hormônios tireoidianos para aumentar o metabolismo e aumentar a temperatura do corpo. A segunda maneira é por reações emocionais (agitação e ansiedade), as quais reduzem a secreção de TSH, pois esses estados aumentam o metabolismo e a temperatura corporal, portanto são inibidos para manter a homeostase. Vale ressaltar que a elevação dos hormônios tireoidianos reduz a secreção do TSH por feedback negativo. Hipertireoidismo O hipertireoidismo ocorre quando os níveis de hormônios tireoidianos estão mais altos que o normal. Na maioria dos casos o tamanho da tireoide aumenta e cada célula aumenta sua secreção por muitas vezes. A sua forma mais comum ocorre quando um tipo de anticorpos (imunoglobulinas estimulantes da tireoide) se forma contra o receptor de TSH, se ligando ao seu receptor presente na tireoide, estimulando assim a constante secreção de T3 e T4. Outra forma de ocorrer é por um adenoma no tecido da tireoide, que vai resultar em altas secreções. Seus sintomas são correlacionados ao alto grau de metabolismo e calor exercido pelos hormônios tireoidianos: alta excitabilidade, intolerância ao calor, perda de peso, diarreia, fraqueza muscular (pelo excesso do catabolismo proteico), tremor muscular (pela alta atividade das sinapses neuronais que controlam o tônus muscular), nervosismo e fadiga. O tratamento mais direto para essa doença é a remoção cirúrgica da tireoide. Outro método é a injeção de iodeto radioativo a fim de destruir a maior parte das células secretoras da tireoide. Hipotireoidismo O hipotireoidismo ocorre quando os níveis de hormônios tireoidianos estão mais baixos que o normal. Suas causas são por autoimunidade contra a tireoide ou por aumento da glândula (bócio coloide endêmico ou bócio coloide atóxico idiopático). O bócio coloide endêmico é caracterizado por quantidades insuficientes de iodo na tireoide. A falta de iodo vai impedir a produção de T3 e T4, com isso o feedback negativo vai estimular a produção de TSH pela hipófise e este TSH vai estimular a tireoide a secretar altas quantias de tireoglobulina, aumentando o tamanho da glândula. O bócio coloide atóxico idiopático ocorre por tireoidite (inflamação na tireoide), que leva ao aumento da secreção de TSH e ao crescimento das glândulas. Além disso, o bócio pode ser causado por: deficiência na captação de iodeto; deficiência na enzima peroxidase; deficiência da conjugação de tirosinas iodadas na tireoglobulina; deficiência na enzima deiodinase. Seus sintomas estão correlacionados com o baixo metabolismo do indivíduo: fadiga e sonolência, lentidão muscular, redução da frequência cardíaca, do débito cardíaco e do volume sanguíneo, aumento de peso, lentidão mental, etc. Pode ocorrer aterosclerose pelo aumento da concentração sanguínea de colesterol (ocasionada pela redução de sua excreção hepática na bile). Seu tratamento é mais fácil que o do hipertireoidismo, devendo apenas ingerir oralmente comprimidos de tiroxina.
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