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Trabalho Filosofia do Direito hanah arendt

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais
Faculdade de Direito
Trabalho de Filosofia do Direito II
Reflexões sobre o filme Hannah Arendt de Margarethe von Trotta
Glauber da Matta Souza
Matrícula nº 2012.2.0551511
Como intuito de atender ao objetivo enunciado, preliminarmente tem-se de esclarecer a controvérsia politico-teórica no pensamento de Hanna Arendt, a referida controvérsia que Hannah Arendt traz, sobretudo para o estudo do pensamento moral passa, pela afirmação de que o mal é algo banal, ou pode ser algo banal.
A concepção de Arendt, que se tornou mais aprofundada na análise do julgamento de Eichmann foi a de que o governo nazista era uma organização burocrática, uma maquina estruturada para desenvolver a realização de tarefas atribuídas a indivíduos, mesmo que esses fossem homens de família, o intento foi o de dirimir a responsabilidade em procedimentos de extermínio. 
Essa concepção por si só não gera em relação à sociedade nenhum desconforto, não é um entendimento errado de todo na visão da sociedade, mas a conclusão do pensamento esse sim causa a estranheza e mesmo a ira da sociedade, o sentimento de vingança e a necessidade de ter alguém a quem dirigir a culpa, alguém para materializar a monstruosidade perpetrada, não permite a aceitação da sociedade da conclusão de que Eichmann é nesse sistema é apenas uma ferramenta, que não era capaz de desenvolver um ato doloso, apenas auxiliava na burocrática maquina do mal. 
A concepção controversa de Arendt é evidente, mas pode ser ainda melhor ilustrada na comparação da figura de Eichmann com a de Pôncio Pilatos, essa construção de que aquela era a nova ordem e que não havia outra escolha a não ser seguir as ordens do Führer, já que suas ordens eram a lei e um seguidor das leis, não poderia mais nada fazer a não ser obedece-las sob o risco de receber a sanção que do descumprimento advém.
A Sociedade anseia por justiça, mesmo sem saber o que seria essa tal entidade, a visão da sociedade, principalmente da sociedade judaica, era de que uma punição era devida e a máxima punição deveria ser estabelecida, isso significa que nada menos que a pena capital seria o justo.
É preciso que para configuração do ponto de vista da sociedade, ressaltar que o trabalho burocrático de Eichmann, coordenou a perseguição, o sequestro e a deportação de judeus, marcados para morrer nos campos de concentração e ele sabia do destino dos prisioneiros. 
Essa narrativa compõe uma síntese do que na visão da sociedade não poderia de forma alguma ser perdoado, a ideia explicitada por Arendt de forma mais que translucida se sintetizou em seu pós-escrito “ele simplesmente nunca percebeu o que estava fazendo”. Essa frase é o oposto diametral do que a sociedade compreendia como o certo e o justo. Como não poderia ele não saber? 
O Estado por sua vez não diferencia-se em muito da visão da sociedade, entretanto um enorme adendo precisa ser feito, a sociedade buscava por justiça ao seu modo e o Estado buscava por justificar, materializar a justiça através de seus feitos administrativos e jurisdicionais, o julgamento de Eichmann foi o centro de uma discussão muito mais ampla, mas para o que se pede aqui cabe ressaltar que o papel do Estado e sua posição era de realizar a justiça, fosse ela qual fosse, indiferente a sua concepção, indiferente a sua forma, mas pública e com caráter satisfativo. 
O comportamento do Estado de Israel no trato do julgamento foi alvo de inúmeras críticas de Arendt, essas críticas, foram feitas, por exemplo, à acusação, que para Arendt tivera por base aquilo que os judeus sofreram e não o que Eichmann fez; os conceitos jurídicos segundo a autora também foram distorcidos e o julgamento perdeu assim o seu significado. 
Desta forma se faz necessário compreender que os conceitos de onde vão se edificar a argumentação de Arendt, o já desenvolvido mal como radical, que ocorreria no exercício da dominação totalitária, é a alienação da ação humana, fazendo os seres humanos superficiais e descartáveis, o que se pode ver claramente no holocausto. 
Já a banalidade do mal, essa se desenvolve no desenrolar do julgamento de Eichmann é a ideia que se clarifica para a autora ao longo do julgamento e do estudo do caso é a tese da banalidade do mal, como sendo este um mal burocrático, que é superficial, mas que pode causar o genocídio, e os maiores crimes de lesa humanidade em razão de levar a incapacidade de pensar das pessoas. 
Eichmann é este exemplo, um homem que se estudado nada teria a oferecer, sua história não é grandiosa, não é um monstro como o Estado de Israel politicamente necessitava apresentar, não era um líder, mas apenas um seguidor. Quando uma nova ordem se instaura e os conceitos, já não tão claros de mau e bom, de bem e de mal se confundem, as pessoas se tornam objetos, ferramentas, não só os judeus como vitimas, foram objetificados, os alemães como Eichmann foram instrumentalizados. 
Com isso se pode sinteticamente concluir que a controvérsia causada pelo posicionamento de Arendt, se dá pelo enfoque que a autora deu, vendo como sua obrigação enquanto filósofa de pensar o ocorrido percebeu o que lhe pareceu notório, que não havia monstruosidade no acusado, que este estava sendo usado como um troféu, para que se ergue-se uma espécie de orgulho no Estado de Israel baseado na vingança travestida de justiça, a sociedade por fatores como a manipulação, a dor, a tentação da vingança entre outros, não tinha como distinguir o que acontecia. 
Para Arendt o povo judeu e do mundo perplexo com a barbárie ocorrida, creditaram a Eichmann a representação do Regime Nazista como um todo, um homem insignificante e mera engrenagem na maquina do mal constituída.
 A banalidade está em tornar um ser humano uma peça de uma engrenagem, onde nem ele mesmo consegue perceber que o todo é uma distorção dos valores que ele tem consigo, como seus, já o mal radical é o resultado dessa banalidade é quando o ser humano é tratado como um objeto ele é despido de sua humanidade, o que se retrata no pré-falado horror que Eichmann sentiu ao ver as execuções e nelas se compadeceu com os carrascos, este homem teria sido despido de seus valores e se tornado um autômato seguidor das ordens do regime, peça então institucionalizadora da banalidade do mal.

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