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RoteiroAula3-FilosofiaeSociologiadoDireito-29-08-2022

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ROTEIRO AULA 3 – FILOSOFIA E SOCIOLOGIA DO DIREITO – 29/08/2022
Ordem Jurídica/Sistema Jurídico: É a dimensão hierárquica das normas, ou seja, regras e
princípios do direito de um Estado, dotado de unidade, coerência e completude. 
1) Sistema Romano Germânico – Sistema adotado no Brasil e Baseado precipuamente na lei
escrita.
Denominado Civil Law, foi desenvolvido pelo Imperador Justiniano em 530 A.C. 
2) Sistema Common Law – Adotado em Países Anglo Saxãos (Reino Unido, Estado Unidos da
América, Canadá, Austrália etc.). Baseado nos costumes e jurisprudência prevalecendo sobre a
lei.
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Integração da Norma Jurídica
É fato que o julgador não pode se excusar de julgar o caso concreto sob a alegação da existência
de lacunas na norma (Art.140 CPC). Para tanto, utiliza-se das técnicas integrativas previstas em
lei.
Nesse sentido, o ordenamento jurídico Brasileiro, a teor do que dispõe o Art. 4º da Lei de
Introdução ao Direito Brasileiro possibilita em caráter subsidiário, a utilização da analogia,
costumes e princípios gerais. 
Nesse sentido, necessário considerar que: 
Equidade não é método de integração da norma : Consiste na adaptação da regra existente
à situação concreta, observados os critérios de justiça. 
Ex: Art.390 da CLT o qual estabelece que as mulheres podem pegar peso de até 20 quilos para o
trabalho contínuo e 25 quilos para o trabalho ocasional. 
Obs: a equidade, somente será utilizada quando a lei permitir de maneira expressa. (§ único do
Art. 140 do CPC). Exemplo: Arbitragem. (lei 9.307/94, Art.2º) Art.480 do CC 
Analogia: Consiste em método de interpretação jurídica utilizado quando, diante da ausência de
previsão, aplica-se um dispositivo legal que regula caso idêntico. 
Exemplo 1: Prevê o artigo 128 do código penal que aborto só é permitido em casos
excepcionais e que seja feito por médico. Entretanto, caso seja feito por parteira, e em caso de
estupro, poderá ser utilizado a analogia. (Analogia in bonam partem)
Exemplo 2: A lei penal estipula prisão temporária para o crime de associação criminosa.
Entretanto, esse tipo de prisão não se aplica ao crime de organização criminosa, apesar desse
tipo penal ser mais grave. (Analogia in malam partem)
Costumes: Trata-se do uso reiterado, da repetição constante e uniforme de
determinado ato social com a convicção de obrigatoriedade prática.
Podem ser: 
1) Secundum Legem: Decorre de imposição legal.
Exemplo 1) Na hipótese prevista no §2º do art. 445, do Código Civil, que ao tratar dos
vícios redibitórios prevê que: Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia
por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos
locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras
disciplinando a matéria. 
Exemplo 2) Art. 13 do CC - Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição
do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou
contrariar os bons costumes. 
Exemplo 3) Art. 569 do cc - O locatário é obrigado: II - a pagar pontualmente o aluguel
nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar; 
2) Praeter Legem: é o costume que está além da lei, aquele que se utiliza para suprir a
omissão legislativa, para complementar a lei. Diz respeito à uma situação que não está
nem proibida, nem permitida pelo ordenamento jurídico. 
Exemplo1: Prática da emissão do cheque pós datado (Súmula 370 do STJ)
Exemplo 2: O título de crédito em branco ou com omissões pode ser preenchido pelo
credor de boa fé antes da sua cobrança (Súmula 387 do STF) 
Exemplo3: Pagamento de uma dívida, apesar de prescrita. (obrigação natural)
3) Contra legem: São costumes difundidos em sociedade, contudo, contrário a lei
vigente
Exemplo1: O fato de não se respeitar o prazo máximo de 15 minutos para atendimentos
em bancos nos municípios como o de Salvador onde há lei nesse sentido (5.978/01) não
retira a eficácia normativa. Da mesma forma, a lei das filas em Cuiabá (lei 4.069/01)
que limita o tempo de espera em 20 minutos 
Exemplo 2: O fato de todos jogarem no bicho não retira o seu caráter de ilicitude,
especificamente de contravenção penal. (lei 3.688/41)
Princípios Gerais do Direito: São enunciados normativos que orientam a compreensão
do ordenamento jurídico no tocante à elaboração, aplicação, integração, alteração ou
supressão das normas. Representam o núcleo do sistema legal. 
Os princípios possuem tríplice função: 
Informadora para o legislador;
Normativa para os casos de lacunas; 
Interpretadora como critério de orientação para o intérprete e para a
magistratura.
Abaixo os princípios que são comuns aos ramos do direito: 
São eles:
Princípio do Devido Processo Legal; (Art. 5º, LIV)
Princípio do Direito de Ação; (Art. 5º, XXXV)
Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa; e (Art. 5º, LV)
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. (Art 1º, III)
Conforme já estudado, os princípios gerais do Direito, além de possuírem função informa va e
interpreta va, ainda possuem função norma va nas hipóteses de integração da norma.
(Art.4º da lei 4657)
Dentre os princípios estudados, merece destaque aquele que estabelece a inafastabilidade da
tutela jurisdicional previsto no Art.5º, inciso XXXV. (Art. 5º, inciso XXXV da CF – a lei não
excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaçada de direito) 
Contudo, a aplicação do referido princípio vem sendo mi gado com a difusão dos meios
alterna vos de solução de conflitos. 
Trata-se de formas/caminhos alterna vos para a solução de conflitos que não sejam realizados
pela via da jurisdição estatal. 
1.0 - CATEGORIAS 
1.1 – Autotutela 
Trata-se da forma mais primi va de solução de conflitos onde uma pessoa impõe sobre a outra
suas razões (exercício arbitrário das próprias razões). No popular “fazer jus ça com as próprias
mãos”. 
 1.2 – Autocomposição 
Pela autocomposição, a solução dos conflitos é encontrado pelas próprias partes com ou sem a
intervenção de terceiros. 
1.2 – Heterocomposição 
Trata-se de solução de conflitos que se dá através de imposição realizada por terceiro. 
2.0 - AUTOTUTELA E SUAS ESPÉCIES 
O ordenamento jurídico admite como exceção. 
Ex: 
 Legí ma defesa no Direito Penal que é tratado inclusive como excludente da ilicitude –
Art. 23 do CP
 Desforço Imediato que representa a legí ma defesa da posse contra esbulho e
turbação – Art. 1.210, §1º do CC
 Homologação do Penhor legal – Art. 1467 do CC que possibilita aos donos de pousada,
hotéis de reterem jóias, dinheiro e bens como garan a de pagamento das despesas. 
Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção:
I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou
dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou 
estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito;
II - o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver 
guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas.
 Cumprimento de obrigações de fazer em caráter de urgência – Art. 249, § único do CC
 Cumprimento de obrigação de não fazer em caráter de urgência – Art. 251, § único do
CC
 Direito de Greve no Direito do Trabalho – Lei 7783/89. 
Apesar do permissivo legal para a prá ca da autotutela, o mesmo não se mostra absoluto, mas
sim em caráter excepcional conforme se depreende do Art. 10 da lei 7783/89 ao fazer
referência às a vidades essenciais. 
Nas a vidades abaixo relacionadas, o direito de greve é atenuado e por consequência o direito
a autotutela: 
I – Captação e abastecimento de água, produção e distribuição de energia, gás e combus vel 
II – Distribuição e comercialização de alimentos e medicamentos 
III– Atendimento médico e hospitalar 
IV – Serviços funerários 
V – Transporte Cole vo 
VI – Tratamento de esgoto e coleta de lixo 
VII – Processamento de dados de serviços essenciais 
VIII – Uso e guarda de materiais nucleares 
IX – Telecomunicação 
X – Controle de tráfego e navegação aérea 
XI – Compensação Bancária 
XII – Perícia INSS 
XIII – Perícia jus ça Estadual 
XIV – Perícia jus ça Federal 
XV – A vidade Portuária 
2.0 – AUTOCOMPOSIÇÃO 
2.1 – Espécie “Negociação”
Como já sabemos, Hans Kelsen, grande expoente do jusposi vo, propôs a organização
das normas jurídicas de forma hierárquica conforme se demonstra através da pirâmide
abaixo. 
Ocorre que o monopólio da tutela jurisdicional por parte do Estado entra em declínio na idade
contemporânea diante do seguinte cenário: 
1) Excesso de judicialização de conflitos
2) Necessidade de se garan r um tempo razoável na duração dos processos
3) Morosidade do processo legisla vo diante do dinamismo das relações sociais
Nesse contexto, surgem os meios alterna vos de solução de conflitos onde se destaca por
exemplo a negociação.
A negociação cole va exerce reflexos econômicos principalmente quando se trata de despesas
rela vas ao contrato de trabalho. 
Sua importância mostrou-se significa va no período da pandemia do COVID-19 com a
necessidade de revisão das condições estabelecidas nos contratos de trabalho.
Certo é que, com o advento da reforma trabalhista (lei 13.467/2017) a hierarquia das normas
trabalhistas sofreu profunda modificação privilegiando a autonomia privada em face do
Estado. 
Conforme poderá se constatar adiante, procurou-se conferir maior autonomia privada às
relações de trabalho em detrimento à intervenção estatal. 
Vejamos: 
1º – CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 1988 – Arts 7º, 8º , 9º 
2º – ACORDO COLETIVO DE TRABALHO – Art. 620 da CLT 
3º – CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO – Art. 611-A da CLT 
4º - LEIS (dentre elas, a CLT – Consolidação das Leis Trabalhista.
Conforme prevê o Art. 611 da CLT, a convenção cole va de trabalho é o instrumento
norma vo celebrado entre Sindicato profissional e Sindicato representante da categoria
econômica. 
Já o §1º do Art. 611 da CLT define o acordo cole vo de trabalho como o instrumento
norma vo celebrado entre Sindicato profissional e empresa ou grupo de empresas. 
Portanto, nota-se que o alcance das normas previstas na convenção cole va de trabalho é
mais abrangente do que aquelas previstas nos acordos cole vos. Entretanto, as normas
previstas em ACT são mais específicas. Exatamente por este mo vo é que o previsto em ACT
prevalece sobre o previsto em CCT a teor do que dispõe o Art. 620 da CLT. 
Cumpre ressaltar, que a CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas estabelece limites para a 
negociação cole va ao prever um rol de direito cuja negociação prevalecerá sobre o disposto 
em lei. 
São eles: 
I – Pacto quanto a jornada de trabalho, respeitado o limite cons tucional 
II – Banco de Horas 
III – Intervalo Intrajornada, respeito o mínimo de 30 minutos para jornadas superiores a seis 
horas 
IV – Plano de carreira e cargos e salários 
V – Regulamento empresarial 
VI – Teletrabalho, sobreaviso, jornada intermitente 
VII – Representante dos trabalhadores no local de trabalho 
VIII – Remuneração por produção 
IX – Controle da jornada de trabalho 
X – Troca do dia de Feriado 
XI – Enquadramento do grau de insalubridade 
XII – Prêmio em bens ou serviços
XIII – Prorrogação da jornada de trabalho em área insalubre sem autorização do ministério do 
trabalho 
XIV – Par cipação nos lucros e resultados 
XV – Programa do seguro desemprego 
3.0 – SEGURANÇA CONFERIDA ÀS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 
A fim de buscar a intervenção mínima do Estado nas normas convencionadas, o §1º do Art.
611 – A estabelece que na análise da CCT ou ACT deverão ser verificar apenas o
preenchimento dos requisitos essenciais do negócio jurídico previstos no Art. 104 do CC, quais
sejam: agente capaz, objeto ilícito, forma prescrita ou não defesa em lei. 
Nesse sen do, a falta de indicação de cláusulas de contrapar da em instrumento cole vo não
invalida o referido instrumento, pois não se trata de vício jurídico. (§2º do Art. 611-A da CLT)
Entretanto, no caso de ser julgado procedente ação anulatória (li sconsórcio necessário dos
sindicatos signatários - §5º do Art. 611-A da CLT) de cláusula que contenha contrapar da, esta
deverá ser igualmente anulada, sem repe ção de indébito. (§4º do Art. 611-A da CLT). 
 Caso seja pactuado em ACT ou CCT cláusula de redução de salário ou carga horária, deverá ser
assegurado o vínculo emprega cio pelo prazo correspondente da duração da redução. (§3º do
Art. 611-A da CLT).
3.0 – VIGÊNCIA DAS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS E RECUSA ÀS NEGOCIAÇÕES E SUAS
CONSEQUÊNCIAS 
Os instrumentos norma vos (ACT e CCT) tem prazo máximo de vigência de DOIS anos fixado
em lei conforme Art. 614, §3º da CLT, sendo vedado a ultra vidade. 
A ultra vidade, que significa a con nuidade de produção de efeitos além do prazo fixado de
vigência para o instrumento norma vo, é vedado pelo nosso ordenamento jurídico. 
Frustrada as negociações, as partes poderão eleger árbitros. 
Recusando-se qualquer das partes às negociações cole vas ou a arbitragem, as mesmas
poderão de comum acordo ajuizar dissídio cole vo na jus ça do trabalho. (Arts. 114, §§1º e 2§
da CF/88).

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