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Artigo Politica Externa Brasileira: A Integração Sul-Americana na Política Externa de FHC


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A Integração Sul-Americana na Política Externa de FHC
Aluna: Manuela Ferreira dos Santos
Professor: 
RI7 - PEB
Resumo: Neste artigo será analisado o papel do governo de Fernando Henrique Cardoso no contexto internacional, observando especificamente como se deu a política externa do Brasil neste período. Suas relações com os demais países vizinhos e o contexto do país na integração sul-americana, buscando demonstrar como as medidas políticas e econômicas adotadas por FHC influenciaram no papel do Brasil no cenário internacional e a mudança de postura que ele adotou, suas consequências positivas e negativas, assim como o seu modelo de gestão modificou a visão que o mundo têm sobre o Brasil.
Palavras-chave: Fernando Henrique Cardoso, Brasil, política externa.
Abstract: This article will analyze the role of the government of Fernando Henrique Cardoso in the international context, observing specifically how Brazil 's foreign policy was given in this period. Its relations with the other neighboring countries and the context of the country in South American integration, trying to demonstrate how the political and economic measures adopted by FHC influenced the role of Brazil in the international scenario and the change of position that it adopted, its positive and Negative, as well as its management model has changed the world's view on Brazil.
Key words: Fernando Henrique Cardoso, Brazil, foreign policy.
Introdução
Até 1988, as políticas protecionistas eram vistas como a melhor alternativa, ligadas à ideia de autonomia pela distância, tal conceito foi idealizado por Tullo Vigevani e Marcelo Fernandes de Oliveira, e visa observar as ações políticas com características semelhantes e, ao colocá-las em tais categorias, visando facilitar a análise das ações dos governantes e diferenciá-las no contexto internacional, o conceito de autonomia pela distância especificamente, tem como características, ações políticas que buscam o desenvolvimento do mercado externo, preservando a soberania do Estado. (GIOMETTI, 2011).
Ao analisar o processo de redefinição da política externa brasileira no período FHC (1995 a 1998 e 1999 a 2002). A hipótese principal é a de que uma certa mudança teve início no governo Collor de Mello, continuou com hesitações no governo Itamar Franco e foi aprofundado durante os dois mandatos de FHC, que ao longo dos oito anos de governo buscou-se substituir a agenda reativa da política externa brasileira, dominada pela lógica da autonomia pela distância, que prevaleceu na maior parte do período da Guerra Fria, por uma agenda internacional proativa, determinada pela lógica da autonomia pela integração, está por sua vez, tem como lógica a ampliação do poder de controle do país sobre o seu destino, e enfrentar seus problemas através da elaboração de normas e pautas de conduta da gestão da ordem mundial, colaborando na formulação e funcionamento dos regimes internacionais. (OLIVEIRA; VIGEVANI, 2005).
De acordo com a nova perspectiva do governo, o país passou a resolver melhor seus problemas internos. Assim, participando ativamente na organização e na regulamentação das relações internacionais, nas mais diversas áreas, a diplomacia brasileira contribuiria para o estabelecimento de um ambiente favorável ao seu desenvolvimento econômico, objetivo que foi o ponto central da ação externa do Brasil durante a maior parte do século XX. (GIOMETTI, 2011).
2 A MUDANÇA NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
Durante os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso, o país sofreu uma grande mudança em sua política externa, saindo de uma lógica passiva aonde se encontrava como apenas mais um na plateia, agora, buscava seu próprio protagonismo na cena internacional através da lógica de autonomia pela integração. Tal mudança na forma como o Brasil passou a enxergar e interagir com o cenário internacional foi importante para que pudesse integrar o país no contexto externo, como cita Menezes (2010), “a autonomia hoje, não significa mais ‘distância’ dos temas polêmicos para resguardar o país de alinhamentos indesejáveis. Ao contrário, a autonomia se traduz por ‘participação’, por um desejo de influenciar a agenda aberta, com a capacidade de ver os rumos da ordem internacional com perspectivas originais”.
Essa mudança de postura se deve muito ao momento pelo qual o mundo estava passando, em meados da Guerra Fria, o objetivo era atrair os elementos capazes de contribuir com o desenvolvimento econômico do país, bem como inseri-lo na nova ordem globalizada. De acordo com Lima (2003), três frentes foram priorizadas na elaboração dos objetivos da “autonomia pela integração”: adesão aos regimes internacionais, a reconstrução de uma agenda positiva e madura com os Estados Unidos e as demais potências e a valorização do espaço sul-americano. No discurso de posse, em 1º de janeiro de 1995[footnoteRef:1], Cardoso sublinhou as novas diretrizes das relações internacionais do país, entre as quais a de “atualizar nosso discurso e nossa ação externa, levando em conta as mudanças no sistema internacional e o novo consenso interno em relação aos nossos objetivos”. [1: Discurso de posse, 1º. janeiro. 1995. Disponível em www.planalto.gov.br] 
No início da década de 90 a imagem do Brasil estava prejudicada pela dívida externa e pelo processo inflacionário, esses problemas que vinham desde o governo de Sarney mostravam a fragilidade da economia brasileira. Somente a partir de 1993 quando ouve acordo com os credores que o país voltou ao mercado financeiro internacional, o que foi um avanço para que o pudesse haver uma retomada da confiança externa na economia brasileira. A entrada em vigor do Plano Real [footnoteRef:2] reduziu drasticamente a inflação e estabilizou a economia, sendo uma peça importante na eleição de FHC em 1994, onde nas palavras do próprio presidente, “essas ações na área econômica contribuíram para a construção de uma nova imagem internacional, ‘o Brasil de país caloteiro, passou a ser parceiro respeitável’” (CARDOSO, 2006, p.633). A estabilização da economia internamente e a negociação da dívida externa foram fatores fundamentais para que o país pudesse voltar a ter relações “saudáveis” no contexto internacional, como afirma Lima: [2: O Plano Real foi um plano econômico, desenvolvido e aplicado no Brasil durante o governo de Itamar Franco. Desenvolvido em 30 de junho de 1994, tinha como principal objetivo à redução e o controle da inflação. Elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso.] 
A reconstrução da imagem internacional do Brasil como um país responsável, estável e confiável, se inscreve na estratégia da credibilidade. Nessa estratégia a busca pela credibilidade Internacional vincula a política externa à política interna, pondo seu foco de fora para dentro. A globalização é encarada como parâmetro supremo no cenário internacional e “seus benefícios só podem ser alcançados pelas reformas internas que expandam a economia de mercado e promovam a concorrência internacional” (LIMA, 2005).
A busca pelo reconhecimento internacional e retomada da confiança no Brasil, tratavam-se apenas dos primeiros passos em direção a algo muito maior, para Fernando Henrique o país necessitava de mudanças na forma como se relacionava internacionalmente, tanto em relação aos seus parceiros comerciais, quanto em relação as políticas externas utilizadas até então. A busca por autonomia era um dos principais objetivos na implementação das novas medidas relacionais, ou seja, a defesa e ampliação dos espações de liberdade do Estado na ordem internacional e a capacidade do país de tomar decisões por vontade própria para defender seus interesses e fazer frente de forma conjunta com os demais países a situações que venham a ocorrer dentro e fora de suas próprias fronteiras (MENEZES, 2010). FHC enxergava que a participação do Brasil de forma ativa na formulação de normas e regras internacionais poderia trazer ao país um papel de protagonista e a independência em certos aspectos para que o mesmo pudesse tomar decisõesque tivessem como prioridade o benefício próprio e de suas relações no contexto internacional. Um exemplo foi a mudança nas relações com os Estados Unidos, até então um dos principais parceiros comercias do Brasil, foram marcadas por uma postura moderada, procurando manter a credibilidade e evitando possíveis atritos com a superpotência, de forma que fosse possível a descaracterização do perfil terceiro-mundista do Brasil.
3 O ESPAÇO SUL-AMERICANO
A valorização do espaço sul-americano esteve entre os objetivos da política externa do governo de FHC, o objetivo era o de consolidar o Mercosul[footnoteRef:3] para, no momento seguinte, negociar com os demais países da região a formação de uma área de livre comércio, tornando-se a base para organizar o espaço na América do Sul (MENEZES, 2010). Cardoso apontava que era necessária uma união dos interesses sul-americanos em frente aos interesses dos demais, visto que por muito os países latino-americanos tiveram um papel secundário na cena internacional, e serviram quase sempre como “auxilio” as necessidades das superpotências. Através de uma participação mais ativa no Mercosul, o Brasil passou aos poucos a ser reconhecido como tendo um papel de liderança no grupo, principalmente após a Cúpula de 2000, realizada em Brasília, onde a iniciática de Cardoso foi vista contra a vontade do Itamaraty. A reunião de presidentes foi um marco para a política externa brasileira, o significado desse encontro reforçava o paradigma da América do Sul na agenda externa do País. Essa ênfase nas relações visando formar um espaço sul-americano integrado é assim incorporada a política externa brasileira como mais uma de suas frentes, no documento final da Reunião, intitulado Comunicado de Brasília[footnoteRef:4], a Reunião significava a promoção de vínculos mais estreitos com os demais países da América do Sul, consolidando um espaço onde o Brasil, pelas dimensões econômicas, territoriais, demográficas, entre outras, tinha mais condições de exercer o papel de coordenador (MENEZES, 2010). [3: O Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi criado em 26/03/1991 com a assinatura do Tratado de Assunção no Paraguai. Os membros deste bloco econômico da América do Sul são os seguintes países: Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela.] [4: Publicado na revista Política Externa, vol. 9, n. 2, set/out/nov. 2000, p. 125-135.] 
Para o Brasil, o maior desgaste da diplomacia brasileira na região se deu em função da defesa do terceiro mandato do presidente Alberto Fujimori do Peru, em 2000. Distorcendo o princípio histórico da diplomacia do país, que evitava interferir em problemas internos estrangeiros, o Brasil mobilizou outros países da região em defesa da legitimidade do mandato de Fujimori, que meses depois, sob fortes acusações de corrupção e violação dos direitos humanos, renunciou e partiu para o exílio no Japão. Esse posicionamento brasileiro gerou certa indisposição com os demais vizinhos na época, visto que o erro do Brasil foi ter se colocado como árbitro no jogo político de países vizinhos. No entanto no âmbito regional a política externa da gestão de Fernando Henrique Cardoso teve sucesso ao atuar como mediadora do conflito fronteiriço entre Peru-Equador em 1996, afirma Menezes (2010).
3 O LEGADO
Entre os resultados das mudanças favoráveis ao Brasil nos mandatos de FHC podemos citar: a confiabilidade despertada pelo país no exterior, possibilitando a atração de investimentos externos diretos, significativamente importantes para o sucesso da estabilidade macroeconômica; o apoio de organismos multilaterais e de governos de países desenvolvidos em momentos de ameaça de crise financeira e econômica, como a crise cambial de 1999. No âmbito do Mercosul e América do Sul, o governo de Cardoso consolidou uma política brasileira que se tornou referência, onde embora por um lado, possa significar que haja alguma perda de autonomia, por outro, o Mercosul aumentou a capacidade de atuação do país de modo mais ativo e participativo na elaboração de regimes e normas internacionais de importância essencial para o Brasil (OLIVEIRA; VIGEVANI, 2005). A preocupação por ter um consenso entre os países do Mercosul foi importante e depois da reunião em de Brasília, para a busca de um espaço integrado na América do Sul.
Embora o governo de Fernando Henrique Cardoso tenha conquistado um espaço maior para o Brasil no cenário internacional, os avanços da política de “autonomia pela integração” a longo prazo, não foram suficientes para impedir a deterioração da posição internacional da América do Sul e também do Brasil, expressa nas baixas taxas de crescimento. Deve-se atribuir ao governo FHC o esforço no sentido de buscar colocar o país em maior destaque, o estreitamento nas relações com os países vizinhos e a elaboração de novas estratégias comerciais. Pode-se dizer que a política externa exercida no período de seu governo foi importante para tirar o Brasil do papel de coadjuvante, e colocá-lo como um ator importante no contexto sul-americano, mas não tão importante no contexto mundial, ao menos não no período de seu governo.
4 REFERÊNCIAS
CARDOSO, Fernando Henrique. A política externa do Brasil no início de um novo século. Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília, 2001, p.11.
GIOMETTI, Analúcia Bueno dos Reis. Os diferentes tipos de autonomias nas ações políticas do cenário internacional. MundoEMar, 2011. Disponível em: www.mundoemar.blogspot.com.br
LIMA, M. R. S. (1990) A Economia política da Política Externa Brasileira: Uma proposta de análise. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, n.12, jul/dez p.7-28.
MENEZES, Roberto Goulart. A liderança brasileira no marco da integração sul-americana. (Programa de Pós-Graduação em Ciência política) Universidade de São Paulo. São Paulo, 2010.
OLIVEIRA, Marcelo F. de; VIGEVANI, Tullo. Política externa no período FHC: a busca de autonomia pela integração. Tempo Soc. vlo.15, n.2. São Paulo, 2003.